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Fundamentos do Planejamento Estratégico Planejamento Estratégico Diretor Executivo DAVID LIRA STEPHEN BARROS Gerente Editorial CRISTIANE SILVEIRA CESAR DE OLIVEIRA Projeto Gráfico TIAGO DA ROCHA Autoria DAYANNA DOS SANTOS COSTA MACIEL AUTORIA Dayanna dos Santos Costa Maciel Olá! Sou formada em Administração pela Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), com Mestrado na mesma área pela Universidade Federal da Paraíba – este, com ênfase em Estratégia e Inovação. Também sou mestra em Gestão de Recursos Naturais (UFCG, 2014) com ênfase em Estratégia Ambiental focada em modelos e ferramentas de gestão nas empresas. Tenho experiência técnico-profissional no ensino da Administração, ministrando disciplinas como Planejamento Estratégico, Cultura organizacional e liderança, Administração de Recursos Materiais e Patrimoniais, entre outras em nível de graduação e pós-graduação. Sou apaixonada por gestão e planejamento, e lecionar esse conteúdo para mim consiste em emergir junto com os discentes em um universo de possibilidades de gestão, no qual a criatividade para traçar estratégias e analisar cenários torna-se o principal ingrediente presente no processo de ensino e aprendizagem, bem como da atuação dos futuros gestores em formação. Adoro transmitir meus conhecimentos e minha experiência de vida àqueles que estão iniciando em suas profissões. Por isso, fui convidada pela Editora Telesapiens a integrar seu elenco de autores independentes. Estou muito feliz em poder ajudar você nesta fase de muito estudo e trabalho. Conte comigo! ICONOGRÁFICOS Olá. Esses ícones irão aparecer em sua trilha de aprendizagem toda vez que: OBJETIVO: para o início do desenvolvimento de uma nova compe- tência; DEFINIÇÃO: houver necessidade de se apresentar um novo conceito; NOTA: quando forem necessários obser- vações ou comple- mentações para o seu conhecimento; IMPORTANTE: as observações escritas tiveram que ser priorizadas para você; EXPLICANDO MELHOR: algo precisa ser melhor explicado ou detalhado; VOCÊ SABIA? curiosidades e indagações lúdicas sobre o tema em estudo, se forem necessárias; SAIBA MAIS: textos, referências bibliográficas e links para aprofundamen- to do seu conheci- mento; REFLITA: se houver a neces- sidade de chamar a atenção sobre algo a ser refletido ou dis- cutido sobre; ACESSE: se for preciso aces- sar um ou mais sites para fazer download, assistir vídeos, ler textos, ouvir podcast; RESUMINDO: quando for preciso se fazer um resumo acumulativo das últi- mas abordagens; ATIVIDADES: quando alguma atividade de au- toaprendizagem for aplicada; TESTANDO: quando o desen- volvimento de uma competência for concluído e questões forem explicadas; SUMÁRIO Pensamento Estratégico nas Empresas: Evolução e Conceito 10 O que é Pensamento Estratégico? ..................................................................................... 10 Construção do Pensamento Estratégico nas Empresas: Origem e Evolução da Estratégia Empresarial .......................................................... 14 Afinal, o que é Estratégia? ........................................................................................................ 18 Perspectiva da Administração Estratégica .................................................................. 20 Relacionando Planejamento e Estratégia Empresarial ..............24 O que é Planejamento? ..............................................................................................................24 Elementos Básicos e Níveis do Planejamento ..........................................................28 Planejamento Estratégico .........................................................................................................32 Um Breve Escopo do Planejamento Estratégico .................................34 Escolas de Estratégia ................................................................................ 37 Escolas de Estratégia: Uma Visão Geral .........................................................................37 Escolas com Caráter Prescritivo ...........................................................................................43 Design (Estratégia como um Processo de Concepção) ..................43 Planejamento (Estratégia como um Processo Formal) e Posicionamento (Estratégia como um Processo Analítico) ...........45 Escolas com Caráter Descritivo ............................................................................................47 O Ambiente Organizacional e suas Implicações para a Estratégia ....................................................................................................... 53 Ambiente Organizacional: Visão Geral da Constituição ......................................55 Análise Externa: o Macro e o Microambiente das Organizações .................57 Análise Interna: Ambiente Interno .....................................................................................61 7 UNIDADE 01 Planejamento Estratégico 8 INTRODUÇÃO Você sabia que o pensamento estratégico é primordial para o sucesso? Nesse sentido, temos que, para ser bem-sucedido (na profissão, no amor, nos negócios etc.), é necessário pensar estrategicamente. Ops! Pare e pense um pouco, relembre uma situação na qual você considera ter obtido sucesso. Pensou? Agora relembre seus pensamentos ao longo dessa situação, neles você vai encontrar, com certeza, uma série de planos, projeções, previsões e vinculações de acontecimentos e conhecimentos. Pois bem! Podemos assim dizer que você já pensou estrategicamente. Nesse sentido, assim como você (pessoa física), as empresas e organizações (pessoas jurídicas) precisam pensar estrategicamente para serem bem-sucedidas no atingimento de seus diversos objetivos. Ou seja, elas devem ser capazes de projetar os efeitos de suas ações e ter visão de longo prazo criativa e orientada para a execução de objetivos. Entendeu? Ao longo desta unidade letiva, você vai mergulhar neste universo! O universo da estratégia organizacional! Planejamento Estratégico 9 OBJETIVOS Olá. Seja muito bem-vindo à Unidade 1. Nosso objetivo é auxiliar você no desenvolvimento das seguintes competências profissionais até o término desta etapa de estudos: 1. Entender o pensamento estratégico a partir de sua evolução e conceituação no contexto da administração de empresas. 2. Relacionar os conceitos de planejamento e estratégia empresarial, compreendendo os objetivos e planos inerentes aos níveis de gestão organizacional: estratégico, tático e operacional. 3. Discernir sobre as abordagens teóricas que explicam a formulação de estratégias. 4. Identificar os principais aspectos a serem considerados no ambiente organizacional para fins de elaboração de estratégias. Então? Preparado navegar no mar do conhecimento sobre estratégia? Alçar velas e boa viagem! Planejamento Estratégico 10 Pensamento Estratégico nas Empresas: Evolução e Conceito OBJETIVO: Ao final deste capítulo, você será capaz de entender como se constrói o pensamento estratégico no contexto empresarial. Isso é de suma importância para a sua atuação profissional, uma vez que a partir desse conhecimento você poderá conduzir pessoas e organizações a pensarem estrategicamente rumo ao alcance de objetivos. E então? Motivado para desenvolver esta competência? Então, vamos lá. Avante! O que é Pensamento Estratégico? Você já pensou ou pensa estrategicamente? Para responder essa pergunta e começar nossos estudos, vamos iniciar este capítulo entendendo, a priori, o que é pensamento estratégico. “Pensamento estratégico” consiste em um termo composto por duas palavras que nos convém definir: pensamento e estratégico. Vejamos: quando queremos conhecer o significado de uma palavra, em que podemos encontrá-lo de forma geralista e objetiva? No dicionário! Isso mesmo! Para tanto, em uma breve pesquisa no DicionárioOn-line de Português (2009-2020), encontramos os seguintes significados atribuídos para à palavra pensamento: Significado de Pensamento. Substantivo masculino. Ato de pensar, de tomar consciência, de refletir ou meditar. Faculdade de conceber, de combinar e comparar ideias; inteligência. Ato particular da mente; o resultado deste ato; reflexão. Modo de pensar; opinião, ponto de vista. Ato de meditar, de fantasiar; meditação, fantasia. Faculdade mental, do intelecto; ideia, mente, espírito. Ponto de vista que resulta da observação. Frase que traz consigo um ensinamento moral; máxima, sentença. Ação de representar mentalmente alguma coisa; ideia. Sentimento de cuidado, zelo, preocupação. Reunião das ideias ou dos conceitos que vigoraram ou fazem parte de uma determinada (DICIO, 2009-2020). Planejamento Estratégico 11 Nessa mesma fonte, a palavra estratégico é classificada como um adjetivo e tem seu significado diretamente vinculado à palavra estratégia. Nesse sentido, estratégico, segundo o Dicionário online de português (2009-2020), remete a algo pertencente ao âmbito da estratégia. Diante do exposto, para obtermos uma compreensão do que venha ser o pensamento estratégico, é necessário concebermos o significado de estratégia. Segundo o Dicionário On-line de Português (2009-2020), temos: Significado de Estratégia. Substantivo feminino. Meios desenvolvidos para conseguir alguma coisa. Forma ardilosa que se utiliza quando se quer obter alguma coisa. [Por Extensão] Habilidade, astúcia, esperteza: contornou a dificuldade com estratégia. Coordenação militar, política, econômica e moral feita com o intuito de defender uma nação de seus possíveis invasores. [Militar] Arte militar de planificações de guerra (DICIO, 2009-2020). Analisando conjuntamente os significados das palavras pensamento e estratégia, podemos resumir que a palavra pensamento remete a consciência, reflexão, concepção e combinação de ideias que representam mentalmente alguma coisa. Já estratégia refere-se aos meios para se conseguir algo. Diante dos significados dessas palavras, qual seria uma definição objetiva para o termo “pensamento estratégico”? Pense um pouco. Pensou? Então, vamos lá. DEFINIÇÃO: Pensamento estratégico: é a consciência, reflexão, concepção e/ou combinação de ideias que representam mentalmente os meios para se conseguir algo, atingir determinado objetivo. Então, pensar estrategicamente é criar uma representação mental dos meios que serão utilizados para atingir determinado objetivo. Essa representação mental envolve, portanto, a concepção, combinação e comparação de ideias e resulta na habilidade, astúcia ou esperteza de atingir objetivos. Planejamento Estratégico 12 Figura 1 – Pensamento estratégico Pensamento: consciência, reflexão, concep- ção e/ou combi- nação de ideias, representação mental. Pensamento estratégico Estratégia: meios para atingir fins. Fonte: Elaborada pela autora (2021). Diante dessa definição, temos que o pensamento estratégico faz parte do dia a dia da sociedade, por exemplo: quando uma dona de casa vai cozinhar para receber uma visita e pensa no prato que será servido, de forma consciente ela traça uma representação mental do prato e dos meios de que irá dispor para atingir o objetivo e ter o prato pronto na hora que a visita chegar (quais os ingredientes, que horas vai à feira fazer as compras, em que momento o prato irá ao forno etc.). A partir desse exemplo, temos que pensar estrategicamente é algo contextual. No caso da dona de casa, o contexto é o seu lar e suas relações sociais. De modo que, para fins de nossos estudos, é importante delimitarmos em qual contexto o termo pensamento estratégico é aplicado ao longo desta nossa viagem ao conhecimento. Pois bem, aqui o pensamento estratégico será estudado dentro do contexto das empresas e organizações. Ou seja, basicamente vamos estudar como as empresas e organizações representam ou devem representar os meios dos quais fazem ou devem fazer uso para atingir seus respectivos objetivos. DEFINIÇÃO: “Empresa é uma organização destinada à produção e/ou comercialização de bens e serviços, tendo como objetivo o lucro” (SANDRONI, 1999, p. 203) Planejamento Estratégico 13 Desse modo, antes de entramos nesse contexto, definimos primeiro o significado com que as palavras empresa/empresarial e organização/ organizacional são empregadas aqui. DEFINIÇÃO: Organização é qualquer entidade (com ou sem fins lucrativos) que possui, segundo Sandroni (1999), um conjunto de relações de ordem estrutural (direção, planejamento, operação e controle) que a mantém em funcionamento. Uma vez esclarecidas essas palavras importantes para o estudo do pensamento estratégico, temos que nas empresas, particularmente, o seu objetivo é o lucro, de modo que, de forma objetiva, o pensamento estratégico é o delineamento dos meios pelos quais a empresa busca garantir a obtenção de lucro. Já nas organizações, esse objetivo pode ser variado. Por exemplo, em uma entidade religiosa, cujo objetivo é a espiritualização de seus fiéis, o pensamento estratégico consiste nos meios que os membros dessa instituição irão utilizar para conduzir seus fiéis nesse sentido. Particularmente aqui, vamos tratar do pensamento estratégico no contexto empresarial, mas o que discutirmos aqui pode ser aplicado a qualquer tipo de organização (com ou sem fins lucrativos) com as devidas adaptações relacionadas aos objetivos dessas entidades. No contexto empresarial, a construção de um pensamento estra- tégico resulta no que conhecemos como a construção da estratégia empresarial. Para tanto, no subtópico a seguir vamos conhecer a origem e evolução da estratégia nas empresas. Planejamento Estratégico 14 Construção do Pensamento Estratégico nas Empresas: Origem e Evolução da Estratégia Empresarial Para entendemos de onde vem a estratégia empresarial, precisamos resgatar as raízes da utilização da palavra estratégia ao longo do tempo, quando o seu significado foi se modificando conforme a sua prática. VOCÊ SABIA? A estratégia nasceu de situações concorrenciais, especialmente no contexto das guerras, migrando para o contexto de jogos e de negócios. A esse fato podemos atribuir então a complexidade do conceito de estratégia, o qual, para ser compreendido e praticado, requer um pensamento sistêmico. A palavra estratégia tem suas raízes na Grécia Antiga, usada para definir a “obra” resultante das atribuições dos generais de guerra, comandantes de exército e da marinha: os chamados estrategos. Dessa aplicação da palavra, resultou a vinculação da estratégia, a organização e o emprego dos recursos, bem como a máxima de que o objetivo da estratégia é a vitória. Segundo Maximiano (2017), em seu contexto de origem a estratégia tem por significado o emprego dos recursos (tempo, treinamento, combatentes e equipamentos) com a finalidade de derrotar o oponente em uma situação de defesa e ataque. Ainda relacionado ao emprego da estratégia em combates históricos, temos que a estratégia pode ser atrelada às palavras esperteza e astúcia. Nesse sentido, destaca-se a figura do estrategista e seus respectivos interesses, de modo que esse, para atingir seus objetivos, busca surpreender ou enganar seu concorrente. Além das origens gregas, a estratégia como “arte de guerra” tem suas bases fundamentadas nos estudos do autor chinês Sun Tzu. Para Camargos e Dias (2003): Planejamento Estratégico 15 Um dos primeiros usos do termo estratégia foi feito há aproximadamente 3.000 anos pelo estrategista chinês Sun Tzu, que afirmava que “todos os homens podem ver as táticas pelas quais eu conquisto, mas o que ninguém consegue ver é a estratégia a partir da qual grandes vitórias são obtidas (CAMARGO; DIAS, 2003, p. 28). SAIBA MAIS: O livro A arte da guerra, de Sun Tzu, é considerado por muitos estudiosos como abíblia da estratégia, sendo utilizado amplamente no mundo dos negócios. Por consistir em uma obra seminal dos estudos de estratégia, este vem sendo publicado e editado por várias editoras ao longo dos anos. Sun Tzu traz para a base teórica da estratégia os princípios fundamentais sobre planejamento, doutrinação e comando, que são reconhecidos pela administração dos diferentes tipos de organização. Assim, podemos dizer que a utilização desses princípios, bem como a ampliação destes pela administração de empresas, deu origem à estratégia empresarial. IMPORTANTE: Atualmente, o termo estratégia é utilizado de forma geral para designar a escolha de meios com foco no alcance de objetivos. No contexto dos negócios, a estratégia não abrange só situações de concorrência, como destacado em suas origens, mas também de colaboração. Nesse sentido, empresas constituem parcerias estratégicas para, em conjunto, obterem vantagens. Planejamento Estratégico 16 A estratégia empresarial tem suas raízes práticas remetidas ao início do século XX, quando seu conceito e técnicas de aplicação chegaram às empresas, dando origem à administração estratégica (MAXIMIANO, 2019). A Figura 2 destaca a origem e alguns marcos da evolução da estratégia empresarial, uma vez que essa área de estudos vem sendo ampliada até os dias atuais. Figura 2 – Origem e evolução teórica e prática da estratégia empresarial Alfred Sloan (1934) Chandler (1962) Ansoff (1965) Porter (1980) -” O objetivo estratégico de uma empresa é obter retorno de capital”. - Atividades estratégicas devem ser separadas das atividades rotineiras. Primeiras aplicações sistemáticas Primeiras pesquisas de estratégia em- presarial - Existe rela- ção entre a estratégia e a estrutura da empresa. - Conceito de estratégia. Apresenta uma noção de um processo para formular objetivos e estratégias com base na análise de oportunidades do ambiente. - A estrutu- ra do setor empresarial (indústria) determina a estratégia da empresa. O processo de formulação da estratégia Estratégia competitiva. Continua... Fonte: Adaptada de Maximiano (2017). NOTA: Chandler foi considerado o primeiro pesquisador da estratégia empresarial. Em seu livro, lançado em 1962, denominado Estratégia e estrutura, o autor define estratégia como a determinação de metas e objetivos, adoção e alocação de recursos necessários para o atingimento dessas metas e objetivos (MAXIMIANO, 2017). Planejamento Estratégico 17 Na atualidade, a prática da estratégia nas empresas, bem como a teoria que sustenta seu ensino, pode ser analisada diante de quatro perspectivas, a saber: paradigma do mercado, visão com base em recursos, modelo de negócios e administração estratégica. Essas perspectivas têm suas respectivas essências apresentadas na Figura 3. Figura 3 – Quatro perspectivas sobre estratégia empresarial Paradigma do mercado Esta perspectiva (ou modelo), que se origina de eco- nomistas, enfatiza a ação das variáveis externas à empresa. Baseia-se na premissa de que o ambiente, ou seja, a organização ou estrutura do ramo de ne- gócios, é o fator principal na escolha que as empre- sas fazem das estratégias para serem competitivas, muito mais do que as decisões internas. Visão baseada em recursos Esta perspectiva enfatiza a ação das variáveis inter- nas à empresa. Nesse modelo, os recursos de todos os tipos são valorizados e mobilizados como princi- pais determinantes na formulação e implantação de estratégias organizacionais. Modelo de ne- gócios O modelo de negócios é uma das perspectivas mais recentes sobre a estratégia das empresas. É mais que um modelo – é uma ferramenta que faz a in- tegração sistêmica de muitas variáveis da empresa para transformá-las em guia de análise e decisão so- bre estratégia e competitividade. Administração estratégica Esta perspectiva também é instrumental e oferece um roteiro para o processo de planejar a estratégia, com base na análise swot. A estratégia é planejada e executada operacional e trabalho nas áreas fun- cionais. Os resultados da execução da estratégia são avaliados e o ciclo planejamento – execução-contro- le se repete. Fonte: Maximiano (2017, p. 321). Diante dos nossos objetivos de aprendizagem, que referem ao planejamento estratégico nas empresas, a abordagem que merece destaque é a da administração estratégica, a qual iremos detalhar mais Planejamento Estratégico 18 adiante. Antes de aprofundarmos nosso conhecimento nessa abordagem, é necessário concebermos um conceito de estratégia como norte, haja vista o conceito de estratégia não ser um consenso na literatura à qual se refere. Afinal, o que é Estratégia? No início deste capítulo, apresentamos um conceito preliminar de estratégia a partir do significado do termo presente no dicionário. Contudo, é necessário aprofundarmos nesse conceito incorporando aspectos inerentes à estratégia no contexto das empresas. Se você se dispor a pesquisar em livros e artigos acadêmicos, bem como questionar gestores e pesquisadores sobre o que é estratégia, vai chegar à conclusão de que não existe um conceito único para estratégia. Pois bem, afinal, como podemos conceituar estratégia a fim de continuarmos a nossa viagem no conhecimento a esse respeito? Vou responder de forma breve: embora existam vários conceitos para a palavra estratégia, estes apresentam alguns aspectos em comum os quais vamos descobrir analisando os conceitos de estratégia dispostos no Quadro 1. Quadro 1 – Conceitos de estratégia AUTOR/ANO CONCEITO DE ESTRATÉGIA LODI (1969) Estratégia é a mobilização de todos os recursos da empresa no âmbito nacional ou internacional visando atingir objetivos a longo prazo. Seu objetivo é permitir maior flexibilidade de resposta às contingências imprevisíveis.” HENDERSON (1989) A estratégia é um plano de ação que desenvolverá uma vantagem competitiva para o negócio e, também, é a colocação desse plano em prática. MICHEL (1990) A decisão sobre quais recursos devem ser adquiridos e usados para que se possa tirar proveito das oportunidades e minimizar fatores que ameaçam a consecução dos resultados desejados. MINTZBERG e QUINN (1991) É um modelo ou plano que integra os objetivos, as políticas e as ações sequenciais de uma organização, em um todo coeso. PORTER (1996) Estratégia competitiva é um arranjo de atividades dos seus concorrentes ou a execução dessas atividades de forma diferente, objetivando entregar um valor único ao mercado em que a empresa atua. Planejamento Estratégico 19 THOMPSON JR. e STRICKLAND III (2000) Conjunto de mudanças competitivas e abordagens comerciais que os gerentes executam para atingir o melhor desempenho da empresa. É o planejamento do jogo de gerência para reforçar a posição da organização no mercado, promover a satisfação dos clientes e atingir os objetivos de desempenho. WRIGHT, KROLL e PARNELL (2000) Planos da alta administração para alcançar resultados consistentes com a missão e os objetivos gerais da organização. MINTZBERG, AHLSTRAND e LAMPEL (2000) Plano para dirigir as ações para um futuro que se deseja moldar favoravelmente a quem o elabora. Fonte: Elaborado pela autora (2021). REFLITA: As diferentes percepções do que vem a ser estratégia implica diferentes posturas de quem a concebe e a coloca em prática. Nesse sentido, antes de você buscar traçar estratégias ou questionar a postura estratégica de um gestor, busque conhecer o que este entende por estratégia e reflita. Isso permitirá aprender mais sobre a relação da teoria e prática da estratégia. Saiba que os conceitos de estratégia são inúmeros. No Quadro 1, apenas listamos alguns identificados nos estudos relacionados à estratégia. Contudo, esses já nos dão uma noção da essência desse conceito. Ao analisarmos os conceitos aqui dispostos, podemos observar que todos apresentam sempre uma atividade,a qual vamos chamar de atividade estratégica e, por conseguinte, um ou mais objetivos resultantes dessas atividades. São atividades estratégicas presentes nesses conceitos: mobilização de recursos, planejamento de ações, execução de planos, decisão de aquisição de recursos, desenvolvimento e arranjo de atividades. Já como consequência dessas atividades estratégicas, ou seja, os objetivos estratégicos, temos: atingimento de objetivos de longo prazo, flexibilidade de resposta a contingências, vantagem competitiva, proveito de oportunidades, minimização de fatores que ameaçam resultados esperados e entrega de valor único ao mercado. Planejamento Estratégico 20 Veja só a quantidade de atividades e objetivos estratégicos que cabe em um conceito de estratégia! Pois é! Para darmos continuidade a nossos estudos, precisamos definir estratégia organizacional/empresarial de forma abrangente e que considere essas atividades e objetivos. Assim, para fins do nosso aprendizado ao longo desta viagem de conhecimento, vamos considerar o seguinte conceito para estratégia organizacional/ empresarial: é o planejamento, mobilização, organização e execução de recursos, planos e ações dentro das empresas, almejando que estas aproveitem oportunidades, atinjam objetivos de longo prazo e entreguem valor único ao mercado. DEFINIÇÃO: Estratégia empresarial é um processo que envolve planejamento, mobilização, organização e execução de recursos, planos e ações, que permitem à empresa aproveitar oportunidades, atingir objetivos de longo prazo e entregar valor único ao mercado. Prontinho! Agora que temos um conceito abrangente de estratégia, que remete ao dia a dia das empresas, podemos perceber que em tal conceito as atividades estratégicas remetem às funções de administração: planejamento, organização, direção ou liderança e controle. Assim, esse nosso conceito, remete à perspectiva da administração estratégica, a qual foi apresentada brevemente quando estudamos aqui sobre a evolução da estratégia empresarial. Desse modo, no tópico a seguir apreenderemos mais sobre essa perspectiva, uma vez que ela é quem guiará nossa viagem de conhecimento a partir daqui. Perspectiva da Administração Estratégica Segundo essa perspectiva, a estratégia empresarial é resultante de processos que, em andamento, requerem decisões a respeito do modelo de negócios, objetivos de desempenho, vantagem oriunda da competição no mercado de atuação, entre outras. Segundo Maximiano (2017): A administração estratégica compreende a implementação, o monitoramento de resultados da execução dos planos Planejamento Estratégico 21 estratégicos e ciclo de decisões. [...] Dentro da perspectiva da administração estratégica, encontramos as alternativas estratégicas propostas por diversos autores. As estratégias para esses autores, definem as possíveis direções para o modelo de negócios, em função dos desafios e das oportunidades do ambiente e sistemas internos (MAXIMIANO, 2017, p. 325-327). Considerando o disposto por Maximiano (2017), temos que a empresa pode adotar várias estratégias empresariais. A Figura 4 apresenta algumas dessas estratégias com base em alguns autores estudiosos de estratégia empresarial. Figura 4 – Estratégias empresariais Penetração de mercado Desenvolvimento de mercado Igor Anssof e as estraté- gias de crescimento Porter e as estratégias competitivas Milles e Snow e os padrões de adaptação de compor- tamento Desenvolvimento de produto Diversificação Diferenciação Liderança do custo Liderança do custo Foco Comportamento defensivo Comportamento prospec- tivo Comportamento analítico Comportamento de reação Fonte: Adaptada de Maximiano (2017). Em suma, temos que as empresas, entre outras formas, podem crescer por meio de estratégias resultantes, segundo Anssof, da exploração de produtos tradicionais em um mercado tradicional (penetração de mercado), exploração de novos mercados com produtos tradicionais (desenvolvimento de mercado), exploração de mercados tradicionais com produtos novos (desenvolvimento de produto) e, ainda, da exploração de novos mercados com novos produtos (diversificação). Já na perspectiva de Porter (2007), as empresas podem competir no mercado em que atuam utilizando-se de estratégias que as diferenciem Planejamento Estratégico 22 de seus concorrentes por meio de uma identidade própria de seus produtos e serviços (diferenciação), oferecendo um produto mais barato (liderança do custo) ou, ainda, escolhendo um nicho ou segmento de mercado e concentrar-se nele (foco). Por último, entre as estratégias que estamos conhecendo aqui, temos a que remete ao comportamento da empresa ante as contingências do ambiente de negócios. Nesse sentido, Miles e Snow afirmam que as empresas podem evitar grandes mudanças em sua estrutura, tecnologia e operação (comportamento defensivo), procurar novas oportunidades (comportamento prospectivo), atuar em dois mercados, sendo um estável e outro em processo de mudança (comportamento analítico), e/ou efetuar mudanças apenas quando forçadas por contingências mercadológicas (comportamento de reação). Agora que já temos uma noção de possíveis estratégias que uma empresa pode adotar dentro da perspectiva da administração estratégica, é importante lembrar que, conceitualmente, a estratégia empresarial remete a objetivos estratégicos, conforme já estudamos quando concebemos um conceito mais completo de estratégia. Portanto, na administração estratégica, esses objetivos remetem aos resultados que a empresa ou organização pretende realizar, de modo que, para realizar esses objetivos, esta deve ter em mente o processo de administração estratégica, o qual é representado pela Figura 5. Figura 5 – Processo formal de administração estratégica Inputs externos P la n e ja m e n to im p líc ito o u ex p líc ito Swot e outras análises Inputs externosS itu aç ão e st ra té g ic a (o n d e e st am o s h o je ?) D ire tr iz e s, o b je tiv o s, m e ta s (p ar a o n d e v am o s) Im p le m e n ta çã o e e xe cu çã o (a ca m in h o ) A va lia çã o (c o m o e st am o s in d o ?) Próximo ciclo Fonte: Adaptado de Maximiano (2017). Planejamento Estratégico 23 Observe que, no processo forma de estratégia, o planejamento é uma parte do processo. A fase inicial é o que chamamos de planejamento estratégico e que resulta da relação existente entre estratégia e pla- nejamento, assunto que vamos discutir mais adiante em nossos estudos. RESUMINDO: E então? Gostou do que mostramos? Aprendeu mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo, vamos resumir tudo o que vimos. Você deve ter aprendido que pensar estrategicamente consiste em criar uma representação mental dos meios que serão utilizados para atingir um determinado objetivo. Essa representação mental envolve, portanto, a concepção, combinação e comparação de ideias e resulta na habilidade, astúcia ou esperteza de atingir objetivos. A esse respeito, destacamos também o fato de que pensar estrategicamente é algo inerente às relações sociais e, portanto, remete a diferentes contextos. No contexto das empresas, pensar estrategicamente é traçar uma representação de estratégias empresariais. Então, definimos que estratégia empresarial é uma postura da empresa resultante do planejamento, mobilização, organização e execução de recursos, planos e ações, que permitem a esta aproveitar oportunidades, atingir objetivos de longo prazo e entregar valor único ao mercado. Até aqui, compreendemos que a construção do pensamento estratégico se deu inicialmente com insights do contexto de guerra e as situações de competição, avançando em conceito e prática na sua aplicação nos estudos de gestão e administração, sendo hoje compreendidoa partir de quatro perspectivas: paradigma de mercado, visão com base em recursos, modelo de negócios e administração estratégica. Planejamento Estratégico 24 Relacionando Planejamento e Estratégia Empresarial OBJETIVO: Ao final deste capítulo, você será capaz de conceber a relação existente entre planejamento e estratégia nas empresas. Aqui, você aprenderá os diversos níveis de planejamento empresarial, bem como será capaz de definir os elementos constituintes do planejamento estratégico. Esses conceitos irão norteá-lo quando, em sua prática profissional, for necessário analisar, criar ou até mesmo reconfigurar o planejamento estratégico de organizações. E então? Motivado para desenvolver esta competência? Então, vamos lá. Avante! O que é Planejamento? Vamos lá! Aqui, somos apresentados ao mundo das conjecturas, previsões, planos e metas, será? Bem, quando falamos de planejamento, qual a primeira coisa que vem à sua cabeça? Se eu pedir para, neste momento, você planejar mentalmente uma viagem, qual a primeira coisa que você vai pensar? Claro, o destino! E depois? Ah, é aí que vêm os recursos, não é? O que vou precisar para fazer a viagem, o tempo de viagem, analisar minhas condições atuais, prever como conseguir os recursos que não tenho, e por aí vai. Seja bem-vindo ao mundo do planejamento! No contexto das organizações, o planejamento segue esse raciocínio, mas, como as organizações são complexas por natureza (envolvem pessoas, ambiente e contingências empresariais, níveis de operação, hierarquia de atividades etc.), o planejamento nesse sentido também é complexo. Contudo, podemos seguir a mesma lógica da reflexão acima, começando pela definição de quem é a empresa e onde ela quer chegar (o destino da Planejamento Estratégico 25 viagem), passando pela definição de planos (o que, onde, como, quanto tempo) e implementação deles (viagem em si e chegada ao destino). Entendeu a lógica do planejamento? Mas, enfim, de um modo geral, o que é planejamento? DEFINIÇÃO: Planejamento é o processo consciente e sistemático de tomada de decisão sobre metas que um indivíduo, grupo ou unidade de trabalho buscarão atingir no futuro (BATEMAN; SNELL, 2010). Contudo, no contexto das organizações, esse conceito é ampliando. O planejamento é uma das funções da administração, assim como a organização, a direção e o controle. Para tanto, visando ao nosso aprendizado nos estudos, a partir daqui vamos assumir o seguinte conceito de planejamento fornecido por Sobral e Perci (2008, p. 132): “planejamento é a função da administração responsável pela definição dos objetivos da organização e pela concepção de planos que integram e coordenam suas atividades”. Prontinho! Agora temos um conceito de planejamento no âmbito das organizações. Ao analisarmos, podemos concluir que o planejamento nas empresas remete a estados futuros que essa empresa pode assumir, os quais são condicionados pela dupla atribuição do planejamento: definição de objetivos e concepção de planos. A Figura 6 ilustra a dupla atribuição do planejamento. Planejamento Estratégico 26 Figura 6 – A dupla atribuição do planejamento Planejamento Função administrativa Atribuições Futuro da organização Definição dos objetivos Concepção dos planos Resultados, pro- pósitos, intenções ou estados futuros que as organiza- ções pretendem alcançar. Guias que intera- gem e coordenam as atividades da organização de forma a alcançar os objetivos. Fonte: Adaptada de Sobral e Perci (2008). Como consequência das atribuições do planejamento nas organizações, temos que, para os administradores destas, o planejamento faz parte de suas atividades diárias, uma vez que é ele quem guia os rumos das decisões e ações dentro dessas organizações. Ainda, destacamos que, como uma das funções administrativas, o planejamento é a base que sustenta as demais. VOCÊ SABIA? A ausência de planejamento formal pode ser uma das causas que levam as empresas a fecharem as portas? Pois é! Mas como assim? O planejamento é a fonte que fornece aos indivíduos e à unidade de trabalho um mapa claro a ser seguido em suas atividades de modo que, sem esse mapa, os indivíduos e unidades podem estar caminhando em sentido contrário aos objetivos da organização. Por exemplo, sem um planejamento de custos, as unidades de trabalho podem estar gerando custos exorbitantes de operação de modo a contribuir para a redução dos lucros da empresa. Planejamento Estratégico 27 Pense um pouco: como seria possível organizar os recursos (tempo, dinheiro, mão de obra etc.) e a estrutura organizacional (áreas funcionais, setores, departamentos etc.) sem a existência de objetivos e planos? Como dirigir de forma eficaz os membros organizacionais sem ter clareza dos objetivos a serem alcançados? Como motivar pessoas sem saber o que é atribuição dela? Como controlar as atividades organizacionais sem o estabelecimento de objetivos ou parâmetros? Pensou? Acredito que nessa reflexão você acabou de perceber a importância do planejamento para as organizações, especialmente para as empresas cujo principal objetivo é a lucratividade. Nesse sentido, é fato que as organizações precisam planejar para enfrentar mudanças que ocorrem em seu ambiente, como economia, cultura, estilo de vida da sociedade, tecnologia etc. E o planejamento é atribuído ao gestor organizacional, que deve prever situações e ações futuras da organização como um jogador prevê os próximos passos em um jogo de xadrez. Figura 7 – Os administradores, assim como os praticantes do xadrez, devem se afastar da perspectiva operacional de apenas mover as peças, ou seja, os recursos, e se concentrar no futuro do jogo/organização Fonte: Pixabay O planejamento no contexto das organizações gera, nesse sentido, uma série de benefícios e vantagens, entre as quais se destacam: o fornecimento de senso de direção; promoção e integração de esforços Planejamento Estratégico 28 com um foco comum; maximização da eficiência por meio da otimização de esforços e recursos organizacionais; estabelecimento de prioridades e redução de desperdícios; redução do impacto do ambiente por meio do monitoramento e interpretação deste; definição de parâmetros de controle; geração de motivação e comprometimento e fornecimento de fundamento lógico para tomada de decisões consistentes. Elementos Básicos e Níveis do Planejamento Chegamos aqui compreendendo o que é planejamento. Agora é a hora de compreendermos brevemente os seus elementos básicos e os níveis em que o planejamento se dá dentro das organizações. Vamos começar pelos elementos, ou seja, vamos identificar os componentes que são fundamentais no planejamento organizacional. Para que o planejamento possa existir, é necessário considerar seus seguintes elementos constitutivos básicos: condições atuais (análise), tempo (fator condicionante), previsão (problemas), dados e informações (coleta) e planos (coordenação). O Quadro 2 apresenta em que consiste cada um desses elementos. Quadro 2 – Elementos do planejamento Elemento Aspectos relacionados Condições atuais - Identificação de necessidades de mudança por meio da análise dos objetivos e da rotina organizacional. - Reconhecer quando as condições atuais da organização requerem planejamento. Tempo - Abrangência e validade do planejamento (curto e longo prazo). - Planejamento de curto prazo: planejamento relacionado com o futuro mais próximo da organização (dia, mês e até um ano). - Planejamento de longo prazo: é geralmente estratégico, preocupa-se com a adequação e natureza dos objetivos organizacionais e a maneira com que são atingidos. Requer habilidade de antecipar o futuro e relacionar com o ambiente externo à organização. Planejamento Estratégico 29 Previsão - Predição de condições e eventos possíveis de ocorrer no futuro. - Uso de técnicas específicas e modelos de previsão(explanatórios ou estatísticos). - Tomar decisões com base em previsões. Dados e informações - Quantidade e qualidade dos dados disponíveis ao planejador. - Estabelecimento de fontes confiáveis de coleta. - Obtenção de dados e informações em tempo desejável e de forma organizada. - Custo de obtenção de informações. Planos - Coordenar a inter-relação entre planos, evitando conflitos de hierarquia. - Definição de planos x níveis organizacionais. Fonte: Adaptado de Kwasnicka (2005). Observe que esses elementos de uma forma ou de outra destacam a importância do planejamento vinculado aos níveis organizacionais. Pois bem, dessa vinculação surgem os diferentes tipos ou níveis de planejamento, a saber: estratégico, tático e operacional. Cada nível de planejamento remete a planos com finalidades distintas. DEFINIÇÃO: Planos são a tradução do planejamento em objetivos e descrição de formas de alocação de recursos e realização de atividades. Podemos tipificar os planos conforme o foco do planejamento, considerando a abrangência, horizonte temporal, grau de especificidade e permanência. Vejamos cada uma dessas tipologias: a. Quanto à abrangência: os planos podem ser de três tipos, os quais remetem aos níveis de planejamento organizacional – planos estratégicos, táticos ou operacionais. A Figura 8 relaciona os planos aos planejadores em cada nível organizacional. Planejamento Estratégico 30 Figura 8 – Planejamento por nível organizacional Nível estratégico Nível tático Nível operacional Adminis- tradores de topo Foco na organização como um todo Forte orientação externa Orientação de longo prazo Objetivos gerias e planos genéricos Gerentes Foco em unidades ou departamentos da organização Orientação de médio prazo Definem as principais ações a em- preender para cada unidade Supervisores de 1ª linha Foco em tarefas rotineiras Definem procedimentos e processos específicos Objetivos especificam os resultados esperados de grupos ou indivíduos Fonte: Sobral e Perci (2008, p. 135). No planejamento em nível estratégico (planeamento estratégico), os planos estratégicos remetem à organização como um todo e às decisões objetivos e estratégias que constituem a base sólida para os planejamentos existentes nos demais níveis. Nesse tipo de planejamento, os planos, assim como os objetivos, são generalistas e estão orientados ao ambiente externo da organização (fornecedores, concorrente, etc.). São exemplos de objetivos que norteiam planos estratégicos nas empresas: porcentagem de retorno sobre investimento e crescimento de receitas, definição de prazo para entrada em novos mercados etc. Quando partimos para o planejamento tático, o que é definido pelo planejador são os objetivos específicos de uma unidade, setor ou área funcional da organização, e estes remetem aos objetivos gerais definidos no planejamento estratégico. Em geral, os planos em nível tático são de médio prazo. Entendeu? É nesse tipo de planejamento que se definem os objetivos e cursos de ações necessários para que cada departamento, unidade, área funcional etc. contribua para o atingimento dos planos e objetivos estratégicos. São exemplos de objetivos que norteiam planos táticos nas empresas: aumento da participação no mercado de atuação em termos percentuais; aumento de produtividade ou redução de estoques; diminuição da rotatividade de funcionários, entre outros. Planejamento Estratégico 31 Por fim, temos o planejamento em nível operacional, que consiste no conjunto de planos de operação. Mas o que são planos de operação? Esses são os planos específicos do dia a dia, apresentam-se em forma de definição de processos e procedimentos requeridos nos níveis mais operacionais da organização, para que se sustentem os planos dos níveis superiores. Nesse nível, a orientação dos planos é de curto prazo e pode sofrer adaptações constantes quanto a oportunidades e desafios apresentados às organizações. São exemplos de objetivos que norteiam planos operacionais nas empresas: metas de vendas e valor monetário, nível de produção em unidades, estabelecimento de programas de treinamento etc. a. Quanto ao horizonte temporal: os planos podem ser de três tipos – de longo, médio e curto prazo. Os planos de longo prazo são definidos para desenvolvimento no tempo hábil de três ou mais anos; nos de médio prazo, esse tempo é de um a dois anos; e a curto prazo, esse tempo é um horizonte de um ano, meses ou dias. b. Quanto ao grau de especificidade: os planos podem ser gerais ou específicos. Os planos gerais têm como foco o objetivo final e não a forma com que este será alcançado. Essa forma é definhada pelos objetivos específicos, uma vez que este último define como, o quê e quando. c. Quanto à permanência: os planos podem ser tipificados em permanentes ou temporários. Nesse sentido, planos permanentes são traçados em situações predefinidas e de rotina, enquanto os temporários se extinguem quando os objetivos que os sustentam são realizados. São exemplos de planos permanentes normas e rotinas que detalham uma sequência de atividades operacionais da empresa. São exemplos de planos temporários os cronogramas de um projeto. Agora que você já consegue relacionar o planejamento à estratégia da empresa, acredito que tenha se dado conta de que o planejamento Planejamento Estratégico 32 estratégico é a base de todo o planejamento organizacional. Por esse motivo, a seguir vamos juntos traçar brevemente um escopo desse tipo de planejamento. Planejamento Estratégico Se você chegou até aqui, já consegue diferenciar o planejamento estratégico dos demais tipos de planejamento. Mas, afinal, o que é planejamento estratégico? Melhor, vamos pensar diferente... vamos iniciar com a indagação inversa: o que não é planejamento estratégico? Essa indagação inversa é fundamental para que você, atuando profissionalmente, não tenha distorções da definição prática do planejamento estratégico. Segundo Drucker (2000), é importante para o dirigente da empresa saber que planejamento estratégico não é: uma caixa de ideias nem um amontoado de técnicas; não é previsão; não opera com decisões futuras; e não é uma tentativa de minimizar o risco no formato de planos. Como assim? Até agora, estudamos que o planejamento envolve tudo isso, então por que agora temos que tudo isso não é planejamento estratégico? Vamos fazer uma analogia: suponhamos que o planejamento estratégico seja um suco de laranja. O suco de laranja envolve técnica para fazê-lo, açúcar e a laranja. Pois bem, você pode afirmar que a laranja ou a técnica é o próprio suco de laranja? A resposta é simples: não! Porque a laranja ou a técnica é uma coisa e o suco é outra. Entendeu? Assim, o planejamento não deve ser concebido puramente como previsão, projeção, predição, resolução de problemas ou plano, pois são coisas distintas, como a laranja e o suco! Para evitar essa confusão, o Quadro 3 apresenta uma definição para cada um desses “ingredientes” que se fazem presentes no planejamento estratégico. Planejamento Estratégico 33 Quadro 3 – O que não é planejamento estratégico O que não é planejamento? Definição Previsão Esforço para verificar quais serão os eventos que poderão ocorrer, com base no registro de uma série de probabilidades. Projeção Corresponde à situação em que o futuro tende a ser igual ao passado, em sua estrutura básica. Predição Corresponde à situação em que o futuro tende a ser diferente do passado, mas a empresa não tem nenhum controle sobre seu processo e desenvolvimento. Resolução de problemas Corresponde a aspectos imediatos que procuram tão somente a correção de certas descontinuidades e desajustes entre a empresa e as forças externas que lhe sejam potencialmente relevantes. Plano Documento formal que se constitui na consolidação das informações e atividades desenvolvidas no processo de planejamento;é o limite da formalização do planejamento, uma visão estática do planejamento. Fonte: Adaptado de Oliveira (2018). Agora que você sabe o que não se pode confundir com planejamento. Concebemos, então, uma definição para planejamento estratégico. DEFINIÇÃO: Planejamento estratégico é o processo contínuo e sistemático de conduzir a organização para o futuro, abrangendo conhecimento desse futuro, tomada de decisões atuais envolvidas em riscos, organização de atividades necessárias à execução das decisões tomadas e medição de resultados a partir do confronto destes com as expectativas alimentadas ao longo desse processo. Planejamento Estratégico 34 Vejamos que o planejamento tem sempre um pé no presente e outro no futuro da organização. Assim, o gestor deve buscar ter a visão mais clara possível desses cenários (atual e futuro). Quando o gestor foca apenas o cenário presente, podemos dizer que a organização que este dirige sofre de miopia estratégica. DEFINIÇÃO: Miopia estratégia é quando a empresa enxerga apenas seu dia a dia, ou seja, a parte operacional, focando seu planejamento a curto prazo, desprezando o planejamento de longo prazo. A miopia estratégica pode levar inclusive a algumas distorções de como a estratégia é percebida na empresa. Essas distorções podem se tornar equívocos que chegam, em alguns casos, a conduzir as empresas à falência. Um Breve Escopo do Planejamento Estratégico O planejamento estratégico, diante da definição apresentada, pode ser definido por um escopo que elenca seus elementos constituintes. São elementos essenciais que formam seu arcabouço: missão, cenário, objetivos e metas. A missão e os objetivos das empresas geralmente são declarados publicamente por estas, com o intuito de criar uma identidade empresarial e motivar a todos que dela fazem parte a colaborar com essa missão e os objetivos. DEFINIÇÃO: “Missão é referência básica à razão de ser da empresa, seu alvo existencial, para o qual convergem todas as ações” (CHIAVENATO; MATOS, 2009, p. 5). Planejamento Estratégico 35 Definição: “Objetivos estratégicos são a descrição clara, precisa e sucinta dos alvos a serem atingidos. São os indicadores das ações para se chegar aos resultados” (CHIAVENATO; MATOS, 2009, p. 5). Já quanto ao cenário do planejamento estratégico, podemos entendê-lo como o contexto situacional no qual o planejamento é traçado. O cenário é traçado a partir da identificação de tendências, ameaças e oportunidades advindas do ambiente organizacional. Por fim, temos as metas. Elas são um objetivo quantificado. Por exemplo: se o planejamento estratégico tem como objetivo entrar em novos mercados até 2026, uma meta possível para esses objetivos é entrar em um novo mercado a cada dois anos. Aqui, assumindo esse escopo básico do planejamento estratégico, podemos atribuir que o sucesso desse planejamento é intuitivamente condicionado, segundo assevera Chiavenato e Matos (2009): Definir a missão da empresa, identificando suas grandes áreas de atuação. Desenhar cenários com indicadores sobre tendências, ameaças e oportunidades. Formular os objetivos organizacionais para atender à missão. Estabelecer metas, em função de cada objetivo. Acompanhar e avaliar o cumprimento das metas. Promover as correções necessárias. Replanejar, revivendo o mesmo ciclo (CHIAVENATO; MATOS, 2009, p. 5). Planejamento Estratégico 36 RESUMINDO: E agora? Você já se sente capaz de vincular estratégia ao planejamento empresarial? Aprendeu mesmo a relação existente entre esses dois conceitos? Para garantir isso, vamos resumir o que apreendemos aqui. Virmos que o planejamento de uma organização consiste na função administrativa ou de gestão responsável pela definição dos objetivos organizacionais e planos que integram e coordenam suas atividades. Vimos também que, nos três níveis organizacionais (estratégico, tático e operacional), esse planejamento possui objetivos distintos, contudo, interligados. Ainda, destacamos que, independentemente de o planejamento ser estratégico, tático e operacional, este tem como elementos básicos a ser considerados: as condições atuais da organização, o tempo (horizonte temporal de planejamento), previsões, dados e informações e planos. Contudo, é no planejamento no nível organizacional mais alto que observamos claramente a relação existente entre planejamento e estratégia, ou seja, o que se define como planejamento estratégico. Conceituamos, então, planejamento estratégico como processo de conduzir a organização para o futuro, abrangendo conhecimento desse futuro, tomada de decisões atuais envolvidas em riscos, organização de atividades necessárias à execução das decisões tomadas e medição de resultados a partir do confronto destes com as expectativas alimentadas ao longo desse processo. Ou seja, o planejamento é o passo a passo que traduz a estratégia organizacional. Nesse sentido, o planejamento é parte do processo de implementação de estratégias e não deve ser confundido com os “ingredientes” que podem dele fazer parte (previsão, projeção, predição, resolução de problemas, planos etc.). Por último, apresentamos os elementos essenciais que formam o arcabouço do planejamento estratégico: missão, cenário, objetivos e metas, sendo o sucesso ou insucesso do planejamento atribuído à definição ou ao desenvolvimento desses elementos. Planejamento Estratégico 37 Escolas de Estratégia OBJETIVO: Ao final deste capítulo, você será capaz de diferenciar as diferentes abordagens teóricas que explicam a formulação de estratégias organizacionais. Saber diferenciar essas abordagens permitirá a você, no desenvolvimento de sua atividade profissional, saber formular estratégias a partir da abordagem que melhor se enquadra à realidade da organização. E então? Pronto para desenvolver essa habilidade? Então, vamos lá. Avante!. Escolas de Estratégia: Uma Visão Geral Olá! Lembra-se do conceito de estratégia empresarial? Pois bem, ele é a ponta do iceberg! Uma vez que a formulação de estratégias é um processo complexo, esse conceito requer uma série de definições adjacentes. REVISANDO: Estratégia empresarial é um processo que envolve planejamento, mobilização, organização e execução de recursos, planos e ações que permitem à empresa aproveitar oportunidades, atingir objetivos de longo prazo e entregar valor único ao mercado. Assim, a partir de agora, na realidade empresarial/organizacional, devemos conceber estratégia como um conceito que pode ser definido por cinco formas diferentes. Conforme dispõe Mintzberg (1987), daqui se considera que a estratégia requer uma série de definições e, devido à sua complexidade, ela pode ser definida como: plano, padrão, posição, perspectiva, truque ou manobra. Essas definições são apresentadas no Quadro 4 mais adiante. Planejamento Estratégico 38 Figura 9 – Os administradores devem conhecer a definição de estratégia, uma vez que o seu conceito é apenas a ponta do iceberg, denominado estratégia empresarial Fonte: Adaptado de Pixabay EXPLICANDO MELHOR: Conceito é uma unidade abstrata que consiste em uma combinação única de características. Os conceitos são representados por termos, que são designações verbais. No caso, o termo estratégia representa uma unidade abstrata criada a parir de uma combinação das características. Essas características é o que podemos chamar de definição. A definição descreve um conceito de modo a diferenciá-lo de outros conceitos associados. No caso da estratégia, seu conceito é complexo e possui mais de uma definição. Planejamento Estratégico 39 Quadro 4 – Definições de estratégia Estratégia como Definição Plano Direção, um guia ou curso de ação para o futuro, um caminho para se deslocar de um ponto (ou situação) a outro. Padrão Padrão consistente de comportamento da organização pretendido ou realizado ao longo do tempo. As organizaçõesdesenvolvem planos para seu futuro e extraem padrões de seu passado. Então, podemos dizer que existem estratégias organizacionais pretendidas e outras realizadas, ou ainda deliberadas ou emergentes. Posição Localização de determinados produtos ou marcas em determinados mercados. Perspectiva Maneira fundamental de uma organização fazer as coisas. Truque ou manobra Modo ou forma específica para enganar um oponente ou concorrente. Fonte: Adaptado de Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2000). DEFINIÇÃO: Estratégia deliberada é quando um padrão estratégico é predefinido e realizado, já a estratégia emergente ocorre quando o padrão realizado e observado não é expressamente o pretendido. Vamos analisar as definições de estratégia: é possível chegar a um consenso de uma única definição? Um consenso não é possível, já que a estratégia é tudo isso. Contudo, podemos elencar nessas definições as caraterísticas em comum de um modelo geral que define uma estratégia. Essas características são: envolvimento da organização e seu ambiente; essência complexa, busca pelo bem-estar geral da organização; envolvimento de questões de conteúdo e de processo; caráter de pretensão ou deliberação e expressão de processos de pensamento. Planejamento Estratégico 40 Além dessas características gerais da estratégia, estas, em prática, possuem vantagens e desvantagens no âmbito das empresas. Essas vantagens e desvantagens são apresentadas na Figura 10 atreladas a pressupostos presentes na literatura e na mente dos estrategistas a respeito dos papéis da estratégia nas empresas. Figura 10 – Pressupostos, vantagens e desvantagens da estratégia “Estratégia fixa a direção” Pressuposto Vantagem Desvantagem “Estratégia focaliza o esforço” “Estratégia define a orga- nização” “Estratégia provê cons- ciência” O principal papel da es- tratégia é mapear o curso de uma organização para que ela navegue coesa no seu ambiente. A estratégia provê sig- nificado, além de uma forma conveniente para se entender o que faz a organização. A estratégia promove a coordenação das ativi- dades. Sem a estratégia para focalizar os esforços, as pessoas puxam em direções diferentes, e sobrevivem o caos. A estratégia é como uma teoria: uma estrutura cognitiva para simplificar e explicar o mundo e, com isso, facilitar a ação. Fixar uma direção pode ocultar perigos advindos de outras direções Definir a organização com excesso de exatidão também pode significar defini-la com excesso de simplicidade, perdendo-se assim a rica complexidade do sistema. “Pensamento grupal” surge quando o esforço é exces- sivamente focalizado. Pode não haver visão periférica para abrir outras possibili- dades O excesso de consciência pode inibir a criatividade que surge de atos incons- cientes. Fonte: Adaptada de Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2000). Diante do exposto sobre a definição de estratégia e seu processo de formulação emergente ou deliberada, podemos concluir que ela é vital para as organizações tanto por sua presença ou como por sua ausência. Em sua ausência, a criação deliberada pode promover flexibilidade em uma organização, evitando que controles rígidos, formais e altamente conscientes levem a organização a perder a sua capacidade Planejamento Estratégico 41 de experimentação e inovação. Buscando então compreender o processo de formulação de estratégias é que a administração estratégica passou a ser também uma disciplina acadêmica, além de ser uma função administrativa das organizações. Como disciplina, a administração estratégica é detentora de estudos que enfatizam dois lados da formulação de estratégias: um é o lado reacional/prescritivo e o outro o emergente/descritivo. Desses estudos, surgem as escolas de estratégias prescritivas e descritivas, as quais são apresentadas brevemente no Quadro 5 e aprofundadas nos tópicos seguintes. Quadro 5 – Características das Escolas de Pensamento de formulação da estratégia Escola de Pensamen- to Visão do processo de formulação da estratégia Exemplos de autores Mensagem pretendida Mensagem realizada Prescritivas Design Processo de concepção Selznick, Ne- wman e Andrews Ajuste Pense Planeja- mento Processo formal Ansoff Formalize Programe Posiciona- mento Processo ana- lítico Porter, Schendel e Hatten Análise Calcule Descritivas Empreende- dorismo Processo visio- nário Schumpeter e Cole Visione/ vislumbre Preocupe- -se Cognitivo Processo mental Simon e March Crie Jogue Aprendi- zado Processo emer- gente Lindblom, Cyert, March, Weick, Quinn, Prahalad e Hamel Aprenda Jogue Poder Processo de negociação Allison (micro), Pfeffer, Salancik e Astley(macro) Promova Entesoure Cultural Processo social Rhenmam e Normann Combine Perpetue Ambiental Processo reativo Hannan, Free- man e Pugh et al. Reaja Capitule Configura- ção Processo de transformação Chandler, Mintzberg, Miller, Miles e Snow Integre, transforme Acumule Fonte: Carvalho e Laurindo (2007, p. 15). Planejamento Estratégico 42 Cada uma das escolas contribuiu para a elucidação do processo de formulação de estratégia, conforme apresenta o Quadro 6. Quadro 6 – Contribuições das Escolas de Pensamento de formulação da estratégia Escolas de Pensamento Contribuição no processo de formulação da estratégia Design Olhar para o futuro próximo, na busca de uma perspectiva estratégica. Planejamento Olhar para o futuro imediato, para programar a execução de uma estratégia definida. Posicionamento Olhar para o passado dentro de um horizonte definido, cuja análise contribui para a formulação da estratégia. Empreendedorismo Olhar para o futuro distante, na busca de uma visão única. Cognitivo O pensamento do formulador da estratégia está no centro do processo. Aprendizado Olhar para o detalhe, na busca das raízes dos fatos. Poder Olhar para os pontos escondidos dentro da organização. Cultural Olhar para o processo, dentro das perspectivas subjetivas das crenças. Ambiental Olhar para o processo como um todo, dentro da perspectiva do ambiente. Configuração Olhar para o processo de maneira mais ampla, perscrutando todos os aspectos. Fonte: Carvalho e Laurindo (2007, p. 16). Agora que você já conhece as Escolas de Pensamento que contribuíram para elucidar o processo de formulação de estratégia, faz-se necessário conhecer mais um pouco sobre a essência de cada escola, para que se possa na prática da administração estratégica identificar o processo pelo o qual a estratégia organizacional está sendo formulada. Nesse sentido, nos itens a seguir vamos conhecer como cada escola descreve ou prescreve o processo de formulação de estratégias organizacionais e suas respectivas premissas norteadoras. Planejamento Estratégico 43 Escolas com Caráter Prescritivo Para nossa melhor compreensão do processo de formulação de estratégia, vamos estudar um pouco mais sobre as escolas de caráter prescrito. Esse grupo de escolas de pensamento focam esclarecer como as estratégias devem ser formuladas, e não como, na prática organizacional, elas são formuladas. Enquadram-se nesse grupo a escola do design, a do planejamento e do posicionamento. Design (Estratégia como um Processo de Concepção) A escola do design considera a estratégia como a união entre qualificações da empresa e oportunidades advindas de seu ambiente organizacional externo, o qual é composto por mudanças advindas da sociedade, governo, economia, competitividade, fornecedores e mercado. Segundo essa escola, o processo de formulação de estratégia tem por objetivo a adequação das capacidades internas da organização e as possibilidades externas. O modelo de formulação da estratégia proposto por essa escola encontra-se representado na Figura 11. O que é a fase mais importante nesse modelo do processo de formulação da estratégia é a avaliação das situações interna e externada organização. Ela é permitirá identificar oportunidades e ameaças do ambiente organizacional externo e forças e fraquezas no ambiente organizacional interno, dando origem a várias alternativas de estratégia. Ainda no processo de formulação de estratégia, dois fatores são considerados importantes: os valores gerenciais e as responsabilidades sociais. DEFINIÇÃO: Valores gerenciais são crenças e preferências daqueles responsáveis por liderar a organização. Esses fatores influenciam no delineamento das estratégias, assim como as reponsabilidades sociais. Responsabilidades sociais referem-se à ética da sociedade na qual a organização opera e como ela é interpretada pelos executivos da organização. Planejamento Estratégico 44 Figura 11 – Modelo básico da Escola do design Avaliação externa Ameaças e oportunidades no ambiente. Fatores – chave de sucesso. Implementação da estratégia. Valores gerenciais. Responsabilida- de social. Avaliação e escolha da estratégia. Avaliação interna Forças e fraquezas da organização. Competências distintivas. Criação da estratégia Fonte: Adaptada de Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2000, p. 30). Essa escola apresenta as seguintes premissas sobre as estratégias e seu processo de formulação: 1. A formação da estratégia deve ser um processo deliberado de pensamento consciente; 2. A responsabilidade pelo controle do processo de formulação e pela percepção ambiental deve ser do estrategista, que, por sua vez, é o executivo principal da organização; 3. O modelo da formação de estratégia deve ser formal e de simples entendimento; 4. As estratégias devem ser únicas; 5. O processo de desenho da estratégia está completo quando as estratégias são formuladas como prescritivas; 6. As estratégias devem ser explícitas; 7. As estratégias só podem ser implementadas quando forem totalmente formuladas. Planejamento Estratégico 45 A Escola do Design recebeu críticas atreladas especialmente a seu caráter de prescrição e formalismo. As principais críticas a essa escola foram: a avaliação de pontos fortes e fracos desconsidera o aprendizado organizacional; a estrutura deve seguir a estratégia organizacional e por ela ser determinada; tornar explicita a estratégia inibe a flexibilidade dentro da organização; e, por fim, ao separar formulação e implementação, a escola separa o pensamento da ação, o que na prática não acontece. Planejamento (Estratégia como um Processo Formal) e Posicionamento (Estratégia como um Processo Analítico) A Escola do Planejamento tem o processo de formulação da estratégia como formal e constituído por estágios que devem ser minuciosamente detalhados em forma de listas de verificação e apoiado por técnicas específicas. Essa é a escola que deu origem ao planejamento estratégico, o qual é ensinado nos cursos de administração. Existem inúmeros modelos de planejamento estratégico presentes na literatura referente à administração estratégica. Inclusive, com o avançar desses estudos, você irá conhecer mais detalhes de modelos básicos. Por hora, aqui vamos conhecer o modelo básico que deu origem aos recentes modelos de planejamento estratégico aplicados nas empresas. O modelo básico que aqui nos referimos possui cinco estágios: 1. Fixação de objetivos; 2. Auditoria interna; 3. Auditoria externa; 4. Avaliação da estratégia; e 5. Operacionalização da estratégia. Em suma, é importante sabermos que em sua essência a Escola do Planejamento tem as seguintes premissas norteadoras, segundo Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2000): 1. As estratégias devem resultar de um processo controlado e consciente de planejamento formal, decomposto em etapas distintas, cada uma delineada por checklists e apoiada por técnicas; 2. A responsabilidade por todo o processo está, em princípio, com o executivo principal; na prática, a responsabilidade pela execução está com os planejadores; 3. As estratégias surgem prontas deste Planejamento Estratégico 46 processo, devendo ser explicitadas para que possam ser implementadas através da atenção detalhada a objetivos, orçamentos, programas e planos operacionais de vários tipos (MINTZBERG; AHLSTRAND; LAMPEL, 2000, p. 51-52). VOCÊ SABIA? A Escola do Planejamento, ao longo do tempo, sofreu avanços em relação à prescrição do processo de planejamento e à prática de suas premissas. Portanto, ao se filiar a essa escola para atuar na sua prática profissional, busque pesquisar e conhecer sobre os atuais modelos de planejamento estratégico e conhecer aplicações práticas no contexto atual das organizações. Outra escola que também prescreve o processo de formulação da estratégia é a Escola do Posicionamento. Essa escola é embasada nos estudos de Michael Porter, em 1980. Se você já tem algum conhecimento prévio sobre estratégia ou já leu algo a esse respeito antes de chegar aqui, acredito que já tenha visto algumas das proposições de Porter (cinco forças competitivas, estratégias genéricas e cadeia de valor) (1999). ACESSE: Caso queira conhecer mais sobre Michael Porter, acesse o site que dispõe de um breve resumo de suas contribuições para os estudos de estratégia clicando aqui. Nesse sentido, para esta escola, a formulação da estratégia empresarial tem as seguintes premissas resumidas segundo Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2000): 1. Estratégias são posições genéricas, especificamente comuns e identificáveis no mercado. 2.O mercado (o contexto) é econômico e competitivo. 3. O processo de formação de estratégia é. portanto, de seleção dessas posições genéricas com base em cálculos analíticos. 4. Os analistas desempenham um papel importante neste Planejamento Estratégico 47 processo, passando os resultados dos seus cálculos aos gerentes que oficialmente controlam as opções. 5.Assim, as estratégias saem deste processo totalmente desenvolvidas para serem articuladas e implementadas; de fato, a estrutura do mercado dirige as estratégias posicionais deliberadas, as quais dirigem a estrutura organizacional (MINTZBERG; AHLSTRAND; LAMPEL, 2000, p. 70). As contribuições de Porter com as conhecidas estratégias genéricas, cadeia de valor e 5 forças competitivas, serão foco dos nossos estudos nas unidades seguintes desta disciplina. Por enquanto, vamos nos ater a conhecer as premissas já apresentadas aqui. Escolas com Caráter Descritivo As escolas de caráter descritivo, diferentemente das escolas estudadas anteriormente, têm sua preocupação não em prescrever o comportamento estratégico ideal, mas, sim, em descrever de fato no dia a dia das organizações como as estratégias são implementadas. Como o foco deste nosso estudo é o planejamento estratégico advindo das abordagens prescritivas, não vamos detalhar as especificidades de cada uma dessas escolas. Contudo, para o seu futuro profissional, é importante que conheça as premissas de cada uma delas. O Quadro 7 apresenta resumidamente essas premissas. Planejamento Estratégico 48 Quadro 7 – Premissas das escolas de pensamento em estratégia com o caráter descritivo Escola de pen- samento Premissas Empreendedo- rismo (o empreen- dedor é o estrategista e líder) 1. A estratégia existe na mente do líder como perspectiva, especificamente um senso de direção a longo prazo, uma visão do futuro da organização. 2. O processo de formação da estratégia é, na melhor das hipóteses, semiconsciente, enraizado na experiência e na in- tuição do líder, quer ele conceba a estratégia ou a adote de outros e a interiorize em seu próprio comportamento. 3. O líder promove a visão de forma decidida e até mesmo obsessiva, mantendo controle pessoal da implementação para ser capaz de reformular aspectos específicos, caso ne- cessário. 4. A estratégia é maleável, podendo ser deliberada ou emer- gente. 5. A organização é uma estrutura simples, sensível às diretri- zes do líder empreendedor e estrategista.6. A estratégia empreendedora tende a assumir a forma de nicho, um ou mais bolsões de posição no mercado, protegi- dos contra as forças de concorrência direta. Cognitivo (estratégia na mente do estrategista) 1. A formação de estratégia é um processo cognitivo que tem lugar na mente do estrategista. 2. As estratégias emergem como perspectivas – na forma de conceitos, mapas, esquemas e molduras – que dão forma à maneira pela qual as pessoas lidam com informações vindas do ambiente. 3. Essas informações fluem por meio de todos os tipos de filtros deturpadores, antes de serem decodificadas pelos mapas cognitivos, ou são meramente interpretações de um mundo que existe somente em termos de como é percebido. 4. Como conceito, as estratégias são difíceis de realizar em primeiro lugar. Quando são realizadas, ficam consideravel- mente abaixo do ponto ótimo e, subsequentemente, são di- fíceis de mudar quando não mais são viáveis. Planejamento Estratégico 49 Aprendizado (difícil desti- nação entre o limite das etapas de for- mulação e im- plementação de estratégias) 1. A formação de estratégia precisa, acima de tudo, assumir a forma de um processo de aprendizado ao longo do tempo, no qual os limites entre formulação e implementação tor- nam-se indistinguíveis. 2. Embora o líder também deva aprender e, às vezes, poder ser o principal aprendiz, em geral é o sistema coletivo que aprende: na maior parte das organizações há muitos estrate- gistas em potencial. 3. Aprendizado procede de forma emergente. Isso significa que as estratégias podem surgir em todos os tipos de luga- res estranhos e de maneira incomum e elaboradas por qual- quer indivíduo que tenha capacidades e recursos para poder apreender. Uma vez reconhecidas, estas estratégias podem ser tornadas formalmente deliberadas. 4. Assim, o papel da liderança passa a ser de não preconce- ber estratégias deliberadas, mas de gerenciar o processo de aprendizado estratégico, pelo qual novas estratégias podem emergir. 5. As estratégias aparecem primeiro como padrões do pas- sado; mais tarde, talvez, como planos para o futuro e, na- turalmente, como perspectivas para guiar o comportamento geral. Poder (estratégia resulta da manobra de poder) 1. A formação de estratégia é moldada por poder e política, seja como um processo dentro da organização ou como o comportamento da própria organização em seu ambiente externo. 2. As estratégias resultantes desse processo tendem a ser emergentes e assumem mais a forma de posições e meios de iludir do que de perspectivas. 3. O poder micro (dentro da organização) vê a formação de estratégia como a interação, por meio de persuasão, barga- nha e, às vezes, confronto direto, na forma de jogos políticos, entre interesses estreitos e coalizões inconstantes. 4. O poder macro (fora da organização) vê a organização como promovendo seu próprio bem-estar por controle ou cooperação com outras organizações, por meio do uso de manobras estratégicas, bem como de estratégias coletivas em várias espécies de redes e alianças. Planejamento Estratégico 50 Cultural (a cultura como fonte de estratégias deliberadas) 1. A formação de estratégia é um processo de interação so- cial, com base nas crenças e nas interpretações comuns aos membros de uma organização. 2. Um indivíduo adquire essas crenças por meio de um pro- cesso de aculturação ou socialização, o qual é, em grande parte, tácito e não verbal, embora seja, às vezes, reforçado por uma doutrinação mais formal. 3. Os membros de uma organização podem descrever ape- nas parcialmente as crenças que sustentam sua cultura, ao passo que as origens e explicações podem permanecer obs- curas. 4. A estratégia assume a forma de uma perspectiva, acima de tudo, enraizada em intenções coletivas e refletidas nos padrões pelos quais os recursos ou capacidades da organi- zação são protegidos e usados para sua vantagem competi- tiva. Portanto, a estratégia é melhor descrita como deliberada (mesmo que não seja plenamente consciente). 5. A cultura e, em especial, a ideologia não encorajam tanto as mudanças estratégicas quanto à perpetuação da estraté- gia existente; na melhor das hipóteses, elas tendem a promo- ver mudanças de posição dentro da perspectiva estratégica global da organização. Ambiental (o ambiente determina a estratégia) 1. O ambiente é o agente central no processo de geração de estratégia, apresentando-se à organização como um conjun- to de forças gerais. 2. A organização deve responder às forças do ambiente na forma de estratégias implementadas, ou será “eliminada”. 3. A liderança torna-se um elemento passivo para fins de ler o ambiente e garantir uma adaptação adequada pela orga- nização. 4. As organizações acabam se agrupando em nichos distintos do tipo ecológico, posições nas quais permanecem até que os recursos se tornem escassos ou as condições demasiada- mente hostis. Então, elas morrem. Planejamento Estratégico 51 Configuração (a confi- guração estável das características empresariais dão origem a estratégias) 1. A organização pode ser descrita em termos de algum tipo de configuração estável de suas características: para um período distinguível de tempo, ela adota uma determinada forma de estrutura adequada a um determinado tipo de con- texto, o que faz com que ela se engaje em determinados comportamentos que dão origem a um determinado conjun- to de estratégias. 2. Períodos de estabilidade são ocasionalmente interrompi- dos por algum processo de transformação – um salto quân- tico para outra configuração. 3. Esses estados sucessivos de configuração e períodos de transformação podem se ordenar ao longo do tempo em se- quências padronizadas, por exemplo, descrevendo ciclos de vida de organizações. 4. A chave para a administração estratégica é sustentar a es- tabilidade ou, no mínimo, mudanças estratégicas adaptáveis, a maior parte do tempo. 5. O processo de geração de estratégia pode ser de concep- ção conceitual ou planejamento formal, análise sistemática ou visão estratégica, aprendizado cooperativo ou politica- gem competitiva. Focalizando cognição individual, socializa- ção coletiva ou a simples resposta às forças do ambiente; mas cada um deve ser encontrado em seu próprio tempo e contexto. 6. As estratégias resultantes assumem a forma de planos ou padrões, posições ou perspectivas ou meios de iludir; po- rém, mais uma vez, cada um a seu tempo e adequado à sua situação. Fonte: Adaptado de Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2000.) TESTANDO: Chegou o momento de testar seus conhecimentos sobre estratégia e sua definição. Corra lá no banco de questões e verifique se você já entendeu em essência o que é estratégia e como ela se apresenta nas diferentes escolas de pensamento. Mãos à obra! Planejamento Estratégico 52 Prontinho! Agora você já conhece a essência das escolas de pensamento de estratégia. Nesse sentido, já está mais claro em sua mente por que o conceito de estratégia é tão complexo. Isso porque cada uma dessas escolas contribuiu com uma definição para esse conceito. Cada escola, dentro de suas particularidades, mostra-nos a complexidade da teoria da estratégia, que é nada mais nada menos que resultado da complexidade da prática da estratégia no dia a dia das organizações. RESUMINDO: Gostou de entender mais sobre a formulação de estratégia no âmbito das organizações? Já é capaz de declarar com qual ou quais escola do pensamento você, na qualidade de estrategista, mais se identifica? Para garantirmos que você é capaz de diferenciar as abordagens teóricas que explicam a formulação de estratégias, em resumo vamos recordar o que virmos aqui. Primeiramente, aprendemos que o conceito é apenas a ponta que geralmente se vê do iceberg que é a estratégia, uma vez que tal conceito é composto por várias definições. Entre essas definições, destacamos a estratégia
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