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RESENHA CRÍTICA DO FILME O FÍSICO

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UNIVERSIDADE DO EXTREMO SUL CATARINENSE – UNESC
ACADÊMICA THAYSE FARIAS BRUNEL
PROFESSORA LUCY CRISTINA OSTETTO
HISTÓRIA – LICENCIATURA – HISTÓRIA MEDIAVEL I
REFERÊNCIAS: O FÍSICO. Direção: Philipp Stölzl. Produção: Wolf Bauer; Nico Hofmann. Música: Ingo Frenzel. Alemanha: Universal Pictures, c2013. (150 min), widescreen, color. Produzido por UFA Cinema, Degeto Film, Beta Cinema. Baseado no livro The Physician de Noah Gordon.
LIBERA, Alan de. Introdução. In:_: A Filosofia Medieval. 3 ed. São Paulo. Loyola, 2011, p. 7 a 18.
MACEDO, José Rivair. Repensando A Idade Média no Ensino de História. In História na Sala de aula, conceitos, práticas e propostas. Editora Contexto. p. 109 a 125.
BASCHET, Jérôme. Por que se interessar pela Europa Medieval?. In: BASCHET, Jérôme. A Civilização Feudal: do ano 1000 à colonização da América. 4. ed. São Paulo: Globo, 2006. cap. Introdução, p. 18-46.
JUNIOR, Hilário Franco. O (pre)conceito de Idade Média. In:_. A Idade Média e o nascimento do Ocidente. São Paulo: Brasiliense, 1987. p. 17 a 25.
RESENHA CRÍTICA DO FILME “O FÍSICO”.
	
Criciúma, 2018.
O filme “O Físico” de autoria do diretor Philipp Stölzl aborda, através de imaginários correspondentes à Idade Média, a história do órfão Rob Cole, que após perder a mãe, é criado por um barbeiro local charlatão que realizava procedimentos cirúrgicos. Através de seu mestre barbeiro, Rob descobre a paixão pela medicina e pela possibilidade de salvar vidas. Através disso ele parte em uma aventura pela busca do conhecimento e do famoso grande mestre da medicina em uma escola na Arábia Saudita, contudo, devido as tensões religiosas, cristãos eram proibidos de atravessar o Oriente Médio, forçando Rob a manter a astúcia para ir atrás de seu sonho de obter o conhecimento.
	A obra em si destaca uma visão romantizada sobre a Idade Média numa perspectiva eurocentrada quando trata a grande maioria dos personagens com características europeias, inclusive em ambientes orientais que continham uma mescla racial e ao adotar diversos privilégios e conquistas apenas para o personagem principal, tratado como um mocinho oriundo da Inglaterra e mantido como herói em diversas cenas, além de ser enfatizado como um ser civilizado em meio ao caos mantido no Oriente Médio, portanto, o filme não encontra-se neutro na forma como aborda a época em que se quer retratar. 
	Existe, além da abordagem racial, a abordagem sexista ao tratar as mulheres , de forma generalizada, como incapazes de dotar conhecimento, como objeto de troca e com o papel de reprodutora inferior ao homem e assim apagando mulheres importantes nesse período.
Como abordado no texto A Filosofia Medieval, a escrita da realidade desse passado é visto a partir da perspectiva cristã ocidental devido à dificuldade de aceitar perspectivas de mundo não-cristãs, como a perspectiva árabe e judia, e pontos de vista de ocidentais. Tal fato é extremamente ressaltado no filme ao abordar um personagem principal cristão em meio a uma realidade cercada de costumes e morais cristãos, ao qual é atribuído valor de ordem quando comparado ao caos no mundo muçulmano e judeu, cercados de conflitos e guerras. Ao longo do filme tem-se a impressão de que Rob leva a ordem e a organização da Inglaterra para o Oriente, ao combater a “Peste Negra” e ganhar tão rapidamente méritos que nem mesmo seu Grande Mestre islamita alcançou.
Além disso, no texto de Alan de Libera é ressaltado o papel empregado aos medievais como completos ignorantes de temas importantes como a ciência e a filosofia, cercados pela barbárie e descaso com áreas tão profundas do conhecimento. No filme, a proposta de Alan é tratada quando o jovem Rob, analisando a região em que se encontra na Inglaterra, percebe o quão importante é sair desse espaço para buscar conhecimento em outro local pois ali não existe aproveitamento nenhum, visto que as pessoas atribuíam todos os saberes e certezas à igreja, uma instituição poderosa na época que alimentava o fanatismo e impossibilitava as pessoas de buscarem outras formas de verdade por ir contra a verdade do deus em que acreditavam.
No texto Por que se interessar pela Europa Ocidental? o autor Jérôme Baschet aborda os clichês de Idade Média e os explica como forma atrativa para a sociedade, construindo um folclore desse período cercado de imaginários. Essa forma imaginativa foi utilizada no filme ao abordar cenas de extrema pobreza generalizada, relações de poder, tratar o período de forma romântica e criando episódios de atos heroicos e cenas amorosas entre o personagem principal e Rebecca. Além disso, a Idade Média tratada no filme parte da visão iluminista, que a traduz como uma inversão ao mundo moderno, ou seja, um período de trevas em um milênio obscurantista, através do uso de pouca luz e utilização de cores escuras e apagadas em cenas que tratam a Europa medieval, reforçando todo o estereótipo de “Idade das Trevas”, carregando o que o autor chama de uma “desvalorização carregada pela Idade Média” (BASCHET 2006).
O texto de Baschet aborda também a noção de bárbaro, ou seja, a visão que os europeus tinham de outros povos, acreditando serem menos evoluídos e portadores de um caráter agressivo. No filme tal característica é enfatizada ao tratar os muçulmanos como povo desordeiro e agressivo, dotado de conflitos e intolerâncias, e, ao buscar tratar o povo judeu e a sua religião, adotando uma cena cômica, onde o personagem principal participa com estranheza da forma de adoração judaica e na tentativa de imita-los acaba tratando sua cultura e religião de forma inferior ao comum cristão. Enquanto a cultura do outro é tradada como inferior, o cristianismo toma papel de misericordioso ao adotar judeus no Oriente e salvador ao trabalhar na redenção da cultura árabe na Europa por parte de Rob, quando o mesmo leva para a Inglaterra o conhecimento e constrói uma nova identidade, considerada mais civilizada, porem com base no Ocidente.
Através de tais visões tem-se como base uma Idade Média que Hilário Franco Júnior trata como “Uma interrupção no progresso humano, inaugurado pelos gregos e romanos e retomado pelos homens do século XVI” (FRANCO JUNIOR p. 18. 1987), ou seja, o tratamento medieval é atribuído a visão anterior ao século XX que trata o medievo com olhos da época medieval, evitando anacronismos, análise que não foi utilizada ao decorrer da obra cinematográfica, por retratar a visão de um período de barbárie, ignorância e superstição.
Ao abordar deste período através de comparações do mundo atual, comete-se preconceitos, afinal, tem-se a ideia de que o medievo era uma época de atraso, quando na verdade, para a perspectiva dos próprios cidadãos medievais, estariam na modernidade pós-cristã.
Em suma, o filme em si não retrata fielmente a visão da época que se tem conhecimento atualmente, sendo considerado, portanto, um filme ficcional e não histórico, afinal, o mesmo trás as possibilidades para desconstruir o Oriente, mas ainda contém uma visão eurocentrada, como se tudo ocorresse bem para a Europa, enquanto o Ocidente vivia a desordem e a barbárie.
Em sala de aula, para tratar o universo medieval, convém adaptar as formas de linguagem, desprendendo-se exclusivamente da escrita, portanto o filme poderá servir como um recurso iconográfico com função didática, desde que seja feita uma discussão sobre o real e o imaginário da época em que foi produzido, tendo assim um aproveitamento nas aulas.
De acordo com José Rivair Macedo em Repensando a Idade Média no Ensino de História, o emprego de filmes e outras obras ficcionais, sugere aos alunos reflexões sobre as diversas temporalidades, ou seja, o confronto da época abordada e a época em que foi criado, sugerindo um tratamento crítico por parte dos mesmos.
	Atualmente o ensino de História se prende muito no uso de livros didáticos e textos, que se prendem em uma abordagem resumida, superficial e generalizada, determinando uma “colonização” do ensino pois, atualmente, ainda é tratada apenas regiões da Europa consideradas “puras”, ou seja, países do Lesteeuropeu. Tal visão deve ser superada, indo além da abordagem da parte ocidental da Europa, ou seja, países como França, Inglaterra, Alemanha e Itália, e trabalhando também com países escandinavos, eslavos e a Península Ibérica, para que assim se possa compreender nossas características herdadas.

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