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Apostila -Atualizada Final

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Prévia do material em texto

POLÍCIA CIVIL DE MINAS GERAIS 
ACADEMIA DE POLÍCIA CIVIL DE MINAS GERAIS 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS NO BRASIL 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Administração: Dra. Cinara Maria Moreira Liberal 
Belo Horizonte - 2022 
 
2 
 
 
RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS NO BRASIL 
 
 
 
Coordenação Geral 
Dra. Cinara Maria Moreira Liberal 
 
Subcoordenação Geral 
Dr. Marcelo Carvalho Ferreira 
 
Coordenação Didático-Pedagógica 
Rita Rosa Nobre Mizerani 
 
Coordenação Técnica 
Dr. Luiz Fernando da Silva Leitão 
 
 
Conteudistas: 
Isabella Franca Oliveira 
Nayara Ferreira de Souza Saraiva 
 
Produção do Material: 
Polícia Civil de Minas Gerais 
 
Revisão e Edição: 
Divisão Psicopedagógica - Academia de Polícia Civil de Minas Gerais 
 
 
 
 
 
Reprodução Proibida 
 
 
 
 
3 
 
SUMÁRIO 
 
UNIDADE 1 ............................................................................................................. 4 
1) REFLEXÕES INICIAIS ..................................................................................... 4 
2) CONCEITOS IMPORTANTES .......................................................................... 6 
3) QUESTÃO RACIAL NO BRASIL .................................................................... 14 
4) DADOS SOBRE RAÇA NO BRASIL............................................................... 20 
UNIDADE 2 ........................................................................................................... 28 
5) MARCOS LEGAIS ANTIRRACISMO .............................................................. 28 
6) CONDUTAS RELACIONADAS À RAÇA QUE SÃO CONSIDERADAS 
CRIMES NO BRASIL ............................................................................................ 36 
7) DIFERENCIAÇÃO ENTRE OS CRIMES DE RACISMO E DE INJÚRIA 
RACIAL ................................................................................................................. 48 
UNIDADE 3 ........................................................................................................... 52 
8) A IMPORTÂNCIA DE POLÍTICAS AFIRMATIVAS PARA IGUALDADE 
RACIAL ................................................................................................................. 52 
9) QUAIS PROVIDÊNCIAS DEVEM SER ADOTADAS EM CASO DE 
PRECONCEITO E DISCRIMINAÇÃO DECORRENTE DA RAÇA ........................ 57 
10) EQUIPAMENTOS EXISTENTES NA PROMOÇÃO DA IGUALDADE RACIAL60 
11) CONCLUSÃO ................................................................................................. 65 
REFERÊNCIAS ..................................................................................................... 66 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
4 
 
UNIDADE 1 
1) REFLEXÕES INICIAIS 
 
Neste curso, teremos a oportunidade de abordar aspectos importantes ao 
entendimento das relações étnico-raciais em nosso país. Ainda que a Lei nº 7.716, 
de 05 de janeiro de 1989, que define os crimes resultantes de preconceito de raça e 
cor, etnia, religião ou procedência nacional, tenha completado mais de 30 anos de 
existência, vivemos em uma nação que enfrenta um significativo cenário de 
desigualdade racial e de 
vulnerabilização da população negra. 
Segundo o Atlas da Violência, no ano 
de 2020, 76,2% das pessoas 
assassinadas em nosso país eram 
negras, sendo que, se contabilizarmos 
as pessoas negras mortas em uma 
década em nosso país, teremos um 
número que equivale à dizimação da 
população da cidade de Palmas, no 
Tocantins, de 405.811 pessoas 
Assim, primeiramente conheceremos conceitos-chave utilizados em nosso 
país quando nos referimos a pretos e 
pardos, como: raça, etnia, racismo, 
preconceito e discriminação racial. 
Ademais, discutiremos como a questão 
racial delineou-se no Brasil e porque trata-
se de uma temática que não deve ser 
exclusiva ao povo negro. Em seguida, por 
meio do estudo de dados estatísticos sobre 
raça no Brasil, compreenderemos alguns 
dos obstáculos que desafiam o princípio da 
igualdade para uma representativa parcela 
da nossa sociedade e a consequente violência que vitimiza a população negra. 
5 
 
Depois, perpassaremos por alguns marcos legais contra o racismo no Brasil. E, por 
fim, examinaremos o que diferencia o crime de racismo e de injúria racial, bem como 
algumas orientações quanto às providências a serem adotadas caso a pessoa sofra, 
presencie ou tome conhecimento de algum ato de racismo. 
Acreditamos que o conhecimento compartilhado nesta disciplina possa 
contribuir para o entendimento da questão social, que figura como pano de fundo 
para parcela significativa das violências praticadas em nosso país contra a 
população negra, bem como os aspectos legais envolvidos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
6 
 
2) CONCEITOS IMPORTANTES 
 
Antes de iniciarmos qualquer discussão acerca das relações étnico-raciais no 
Brasil, é importante que tenhamos em mente qual a definição desse conceito e 
também de outros relacionados. Para isso, utilizaremos, principalmente, as reflexões 
apresentadas pela professora Nilma Lino Gomes, no texto intitulado “Alguns termos 
e conceitos presentes no debate sobre relações raciais no Brasil: uma breve 
discussão”. Gomes (2005) dialoga com os movimentos sociais a fim de apresentar 
conceitos-chave utilizados em nosso país quando nos referimos a pretos e pardos. 
Lembrando que, conforme convencionado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e 
Estatística (IBGE), em nosso país categorizamos como negras pessoas que se 
autodeclaram pretas ou pardas. 
Para apresentar o conceito de identidade negra, a autora nos diz que a 
identidade de um modo geral não é algo inato, mas sim está relacionada com nossa 
interação com o mundo que nos cerca. Ela se 
expressa por meio de práticas linguísticas, 
tradições e comportamentos. Porém, alguns grupos 
de nossa sociedade segregados historicamente, 
como negros e índios, precisam enfatizar suas 
diferenças em relação aos demais indivíduos, a fim 
de fortalecerem sua própria identidade perante o 
grupo do qual fazem parte e para que sejam 
reconhecidos por toda a sociedade. A identidade 
negra delineia-se então desse modo. 
A construção da identidade do povo negro, 
assim como outros processos identitários, dá-se, 
gradativamente, sob a influência de fatores sociais, 
históricos e culturais diversos. Segundo Gomes (2005, p.43) "geralmente este 
processo se inicia na família e vai criando ramificações e desdobramentos a partir 
das outras relações que o sujeito estabelece". A autora ressalta o quanto pode ser 
difícil construir uma identidade positiva em uma sociedade que, desde muito cedo, 
ensina às pessoas negras que para ser aceito é preciso negar a si mesmo. 
7 
 
A utilização do termo raça pode 
assumir vários sentidos, a depender do 
contexto no qual é aplicado, quem fala e 
quando fala. Quando o Movimento Negro 
e especialistas da área, como sociólogos 
e psicólogos sociais, utilizam o conceito 
para dialogar sobre fenômenos como o 
racismo e a discriminação presentes na 
sociedade brasileira, o fazem baseando-
se na dimensão social e política do termo 
e não alicerçados na ideia de 
superioridade e inferioridade biológica, 
como originalmente era usada no século XIX. Ou seja, o conceito é utilizado para 
retratar e compreender a realidade das pessoas negras. (GOMES, 2010). 
Raças são, então, construções sociais, políticas e culturais que emergem nas 
relações sociais e de poder. Culturalmente e socialmente nós aprendemos a 
enxergar as raças, ou seja, aprendemos a perceber as diferenças, a comparar e a 
classificar a partir de características físicas, como afirma Gomes (2005). O problema 
está no fato de que aprendemos também a hierarquizá-las. 
O emprego do termo etnia faz-se por algumas pessoas que acreditam que a 
utilização do conceito de raça, mesmo em uma dimensão social e política, podesignificar aproximação à sua perspectiva biológica. O termo é utilizado para referir-se 
a um grupo de pessoas que têm certo tipo de consciência acerca de suas origens e 
interesses em comum. (GOMES, 2010) A identidade desse grupo define-se com 
base, então, por meio do compartilhamento de uma língua, de uma cultura, de 
tradições, de momentos históricos e territórios já habitados (BOBBIO, 1992 apud 
GOMES, 2010). Não se trata, assim, de um mero agrupamento de pessoas. 
(CASHMORE, 2000 apud GOMES, 2010). 
 
A aplicação da expressão étnico-
racial acaba significando que, para 
compreensão da realidade do negro em 
nossa sociedade é preciso considerar, além 
8 
 
da classificação racial pautada em características físicas, também a dimensão 
identitária. (GOMES, 2010). Assim, chamamos de relações étnico -raciais aquelas 
construídas - no processo histórico, social, político, econômico e cultural - em 
contextos nos quais a raça, em sua dimensão social e política, é utilizada como 
forma de demarcação das diferenças entre as pessoas. 
Conforme nos lembra Gomes (2010), para uma análise profunda das relações 
étnico-raciais é preciso ter em mente que os sujeitos vivem diferentes processos 
identitários, os quais interferem no modo como é construído seu pertencimento 
étnico-racial. Por exemplo, a identificação de uma criança negra com outras pessoas 
negras e com a cultura e história de seus antepassados pode ser influenciada pela 
maneira como a temática é trazida a ela, ou seja, como os aspectos étnico-raciais 
são vivenciados no dia-a-dia. 
Acerca do conceito de racismo, Gomes (2005) traz a seguinte definição: por 
um lado, trata-se de aversão, e até ódio, direcionado a pessoas nas quais se 
observa sinais de pertencimento racial, tais como cor de pele e tipo de cabelo, e, por 
outro lado, diz respeito a um conjunto de ideias de grupos que acreditam na 
existência de hierarquia entre as raças. 
O racismo pode ser individual e institucional. Na forma individual, ele pode 
atingir níveis de agressão de extrema violência, quando indivíduos cometem atos 
discriminatórios contra outros indivíduos. Como exemplo, podemos citar um 
episódio, veiculado na mídia, vivido por uma criança de 10 anos em uma praia no 
estado do Rio de Janeiro. Ela vestia uma fantasia de sereia para um ensaio 
fotográfico em um cenário do filme “A Pequena Sereia”, quando ouviu de um 
indivíduo a frase “Nunca vi sereia preta”. 
 
 
Fonte: https://catracalivre.com.br/cidadania/menina-sofre-injuria-racial-em-
praia-no-rj-nunca-vi-sereia-preta/ 
https://catracalivre.com.br/cidadania/menina-sofre-injuria-racial-em-praia-no-rj-nunca-vi-sereia-preta/
https://catracalivre.com.br/cidadania/menina-sofre-injuria-racial-em-praia-no-rj-nunca-vi-sereia-preta/
9 
 
Em sua forma institucional, o conceito de racismo diz respeito a práticas 
discriminatórias promovidas pelo Estado ou com seu apoio indireto, como o 
isolamento de negros em determinados bairros, como imagens estereotipadas de 
personagens negros em livros didáticos e divulgação de publicidade que retrata 
negros de maneira indevida (BORGES, MEDEIROS & D'ADESKY, 2002, apud 
GOMES, 2005). 
 
 
 
Faz-se importante acrescentar às reflexões de Gomes (2005) a perspectiva 
do racismo estrutural discutido por Silvio Almeida (2019). De acordo com o autor, o 
racismo estrutural aproxima-se do institucional na medida em que "as instituições 
são racistas porque a sociedade é racista" (ALMEIDA, 2019, P. 31). Ou seja, o 
conceito diz respeito à prática do racismo que decorre da própria estrutura social, a 
qual é consolidada nas relações políticas, econômicas, jurídicas e até cotidianas. 
Por exemplo, quando uma empresa, a despeito de seus atributos pessoais e 
profissionais, deixa de contratar uma mulher ou homem negros em razão da cor de 
sua pele, assim o faz reproduzindo uma ordem social. No entanto, segundo Almeida 
(2019), entender o fenômeno como estrutural não isenta os racistas de sua 
responsabilidade quanto a atos de intolerância praticados, pelo contrário, 
compreender que o racismo é parte de uma estrutura social e não um ato isolado 
torna todos ainda mais responsáveis pelo seu enfrentamento. 
Na prática, o racismo estrutural está presente no nosso cotidiano de muitas 
maneiras, como, por exemplo: 
10 
 
● quando, independente 
do seu nível de instrução, a 
remuneração da população 
negra é inferior ao valor pago à 
população branca; 
● quando não 
encontramos pessoas negras 
em cargos de liderança; 
● quando a população 
negra é a mais assassinada no 
país; 
● ao nos depararmos com 
uma escassez de produções 
culturais, cujo o papel de 
destaque é de uma pessoa 
negra, como em filmes e 
novelas; 
● no preconceito em 
relação às religiões de matriz 
africana; 
● em nosso círculo social, 
quando fazemos e/ou 
toleramos piadas de cunho 
racial ou utilizamos frases que 
inferiorizam os negros; ou 
● quando, automaticamente, um homem negro se torna sinônimo de perigo e 
acaba sendo vítima de violência. 
Entendendo, então, que o racismo é sofrido por quem não domina as 
posições de mando, não é possível afirmar a existência do racismo reverso, ou 
seja, não é razoável pensar que negros pratiquem racismo contra brancos, uma vez 
que as posições de privilégio em nossa sociedade são historicamente ocupadas por 
pessoas brancas. 
11 
 
Acerca dos demais conceitos, Gomes (2005) diferencia, ainda, preconceito e 
discriminação racial. 
O preconceito racial manifesta-se por meio de 
julgamento prévio e negativo de indivíduos que compõem um 
grupo étnico-racial. Trata-se de uma opinião formada sem 
conhecimento dos fatos ou sem qualquer ponderação, por isso 
ninguém gosta de assumir-se preconceituoso. É importante 
saber que nós não nascemos assim, o preconceito é 
aprendido socialmente. 
O conceito de discriminação racial, por sua vez, pode ser definido como a 
efetivação do preconceito racial e do racismo. Conforme nos ensina Gomes (2005, 
p.55), "enquanto o racismo e o preconceito encontram-se no âmbito das doutrinas e 
dos julgamentos, das concepções de mundo e das crenças, a discriminação é a 
adoção de práticas que os efetivam". Ela pode ser ainda diferenciada como direta e 
indireta, segundo Luciana Jaccoud e Nathalie Begin (2002 apud GOMES, 2005). 
A forma direta deriva de atos concretos de discriminação de uma pessoa, 
expressamente, em razão de sua cor - como no mencionado episódio de 
xingamento à criança de 10 anos no Rio de Janeiro -, enquanto a forma indireta 
resulta de políticas públicas ou práticas administrativas que, apesar de 
aparentemente neutras, possuem potencial discriminatório. Ela pode ser identificada 
"quando os resultados de determinados indicadores socioeconômicos são 
sistematicamente desfavoráveis para um subgrupo racialmente definido em face dos 
resultados médios da população” (GOMES, 2005, p. 56). 
 
 
 
 
 
 
 
Nós não 
nascemos 
preconceituosos! 
12 
 
Resumindo... 
 
 
Identidade: é expressa por meio de práticas linguísticas, tradições e comportamentos. É 
construída a partir da interação com o mundo que nos cerca. 
 
Raça: trata-se de um termo, construído a partir de um contexto social, político e cultural, 
que estabelece diferenças e classifica grupos humanos a partir de suas características 
físicas e, portanto, arbitrário. 
 
Etnia: refere-se a um grupo de pessoas que possui certo tipo de consciência acerca de suas 
origens e interesses em comum, compartilhando uma identidade. 
 
Racismo: trata-se da aversão, e até ódio, direcionado a pessoas nas quais se observa sinais 
de pertencimento racial, tais como cor de pele e tipo de cabelo, bem como trata-se de um 
conjunto de ideias de grupos que acreditam na existência de hierarquia entre as raças. 
 
Relações Étnico-Raciais: tratam-se daquelas relações construídas - no processo histórico, 
social, político, econômico e cultural - emcontextos nos quais a raça, em sua dimensão social 
e política, é utilizada como forma de demarcação das diferenças entre as pessoas. 
 
Discriminação racial: trata-se da adoção de práticas que efetivam o racismo e o 
preconceito racial. 
 
Preconceito racial: trata-se de uma opinião, formada sem conhecimento dos fatos ou sem 
qualquer ponderação, sobre indivíduos que compõem um grupo étnico-racial. 
13 
 
Veja outros conceitos importantes! 
 
 
 
Uma vez tendo repassado conceitos fundamentais à compreensão da 
questão racial em nosso país, partimos ao estudo do percurso histórico do tema até 
os dias de hoje. 
 
14 
 
3) QUESTÃO RACIAL NO BRASIL 
 
 
Para discutirmos a questão racial no Brasil é preciso voltar na história, a fim 
de compreender porque o contexto brasileiro de racismo, preconceito e 
discriminação está tão relacionado a acontecimentos que extrapolam sua geografia, 
bem como porque a discussão da temática racial não deve ser exclusiva ao povo 
negro. Trata-se de questão social, política e cultural de todos/as os/as brasileiros/as 
e também da comunidade internacional (GOMES, 2005). 
Dois fatos históricos importantes ocorridos no século XIX são responsáveis 
por trazer à tona a conceituação de raça e a prática do 
racismo, foram eles: a consolidação dos Estados Nacionais 
como forma primordial de ordenamento político e territorial - 
o que transparecia a emergência do capitalismo e de um 
sistema de classes que exigia reordenamento de grupos 
sociais -, e o imperialismo europeu que, a partir de sua 
expansão, pressupunha relações intensificadas da Europa 
com os outros povos. (HEILBORN et al, 2010). 
A partir desse momento, os países, caracterizados como Estados Nacionais, 
precisavam solidificar suas bases culturais, bases 
estas que deveriam cumprir o papel de criar nas 
pessoas um sentimento de pertença à nação. Ou 
seja, elas deveriam reconhecer-se como 
pertencentes a um mesmo grupo, com os mesmos 
costumes. E foi nesse contexto que o conceito de 
raça assumiu uma gama de significados, os quais 
caracterizavam uma noção de “raça nacional” 
(HEILBORN et al, 2010). 
No entanto, como nos lembram Heilborn et 
al (2010), unificar povos implicava no fato de dar à 
nação uma origem comum, ratificada na história, o 
que acabou por afastar para a periferia, ou até mesmo por expulsar dos territórios, 
aqueles grupos que não se enquadravam no modelo de história e tradições 
idealizado, fato que amplificou a ideia de que as raças europeias eram superiores às 
Estado-Nacional: também 
chamado de Estado-Nação, é 
constituído por um povo que 
partilha uma etnia e uma história 
comum e que busca controlar um 
território. É a forma de poder 
territorial que se impôs nas 
sociedades modernas a partir da 
revolução capitalista em 
substituição aos feudos e 
principalmente aos impérios 
antigos. (BRESSER-PEREIRA, 2017) 
Imperialismo: refere-se a 
um país hegemônico 
governando um outro 
território. 
15 
 
demais e deu força para teorias raciais que justificavam cientificamente tal 
superioridade. 
O que poderíamos chamar de colonização 
do “Novo Mundo” traz a marca do que significou 
para a população africana a utilização do conceito 
de raça como segregador e as severidades das 
práticas racistas aplicadas naquela época. O 
tráfico de negros para as Américas os associava à 
inferioridade da condição de escravizados. As 
pessoas negras eram comercializadas sob o 
pretexto de sua animalidade, 
uma vez que teorias que explicavam a hierarquização humana as 
classificavam como pertencentes a uma raça degenerada, fruto 
de um suposto cruzamento entre brancos e macacos, ou pela 
transformação causada pelo clima no escurecimento da pele. 
(HEILBORN et al, 2010). 
Desde a colonização das Américas, as discussões sobre o 
conceito de raça têm evoluído por campos diversos. Durante muitos anos o uso do 
termo, seja nas ciências, na política ou na sociedade, esteve ligado de um modo 
geral à dominação político-cultural de povo e de nações, como a exemplo do 
domínio nazista da Alemanha no contexto da Segunda Guerra Mundial (1939-1945). 
(GOMES, 2005). 
A ideia vigente era a de que a raça branca e 
ariana era superior às outras raças em termos 
biológicos, sociais e culturais. Muitas atrocidades 
foram cometidas em nome dessa suposta 
hierarquização das raças. Somente no final da 
Segunda Guerra Mundial as discussões assumiram 
definitivamente um viés político e sociológico. Criada 
pela Organização das Nações Unidas (ONU) para 
investigar as motivações raciais da guerra, a 
Organização das Nações Unidas para a Educação, a 
Ciência e a Cultura (UNESCO) introduziu no campo científico estudos que 
Colonização: trata-se da 
implantação de colônias 
em um território 
distante, sendo quase 
sempre uma 
consequência do 
imperalismo. (TOLLER, 
2007). 
Novo Mundo: 
como eram 
chamadas as 
Américas pelos 
colonizadores 
europeus. 
Segunda Guerra Mundial: 
conflito militar ocorrido entre 
os anos de 1939 e 1945 que 
resultou na morte de milhões 
de pessoas. Teve como causa 
principal o expansionismo 
territorial da Alemanha, a qual 
era governada por Adolf Hitler, 
líder do partido nazista. Este 
preconizava o ideal de uma 
raça biológica pura, ou seja, 
sem miscigenação, 
denominada ariana. 
16 
 
comprovaram a diversidade de culturas humanas, bem como a legitimidade da 
existência das mesmas. (HEILBORN et al, 2010). Falaremos sobre tais estudos mais 
adiante. 
A questão racial no país só passou a ser de alguma forma tematizada a partir 
do século XIX, às vésperas da abolição da escravização. 
No final do século esteve em voga no mundo o 
darwinismo racial, cujo principal expoente brasileiro era o 
médico Raimundo Nina Rodrigues. Segundo essa 
corrente teórica, as raças biológicas, por corresponderem 
a realidades diversas, não seriam passíveis de 
cruzamento, assim a miscigenação representaria a 
degradação humana (SCHWARCZ, 1998). Foi então que, 
a partir da associação com tal 
teoria, passou-se a incentivar, por meio da massiva 
imigração europeia, um branqueamento da população 
brasileira a fim de purificar e salvar o país até então 
constituído por uma maioria negra, indígena e mestiça 
(HEILBORN et al, 2010). 
Transcorrido o ápice do ideal de branqueamento da 
nação, na década de 1930 o mestiço converteu-se em 
ícone nacional. Passou-se, então, à valorização do sincretismo cultural, de produtos 
como o samba, a capoeira - a qual foi de ato criminoso à modalidade esportiva 
nacional em 1937 -, bem como a feijoada - considerada a partir de então prato típico 
da culinária brasileira. (SCHWARCZ, 1998). 
É nesse contexto que intelectuais começaram a propagar a ideia de uma 
harmonia entre grupos étnico-raciais, ou seja, uma "democracia racial". A obra de 
Gilberto Freire é um exemplo da produção da época. 
Em seu livro “Casa Grande & Senzala”, publicado no 
ano de 1933, o escritor pernambucano Gilberto Freire defende 
a predominância no Brasil de uma democracia social pautada 
em uma democracia racial. O livro aborda o cotidiano com 
manuscritos e documentos que descrevem os costumes e 
Darwinismo racial: 
Segundo essa corrente 
teórica, as raças 
biológicas, por 
corresponderem a 
realidades diversas, não 
seriam passíveis de 
cruzamento, assim a 
miscigenação 
representaria a 
degradação humana. 
Miscigenação: 
trata-se da 
mistura genética 
entre os 
diferentes grupos 
étnico-raciais. 
Democracia racial: 
ideia de harmonia 
entre os grupos 
étnico-raciais. 
 
17 
 
hábitos das pessoas durante a escravização e desloca, pela primeira vez, o foco da 
raça biológica para a raça social. (BASTOS, 1999). 
Para Freire, a miscigenação entre 
senhores e mulheres escravizadas - ocorrida 
durante a colonização -, podia ser tomada como 
prova da aceitação de uma raça pela outra e, 
assim, ela e a democracia podiam ser 
relacionadas. Ademais, segundoo escritor, os 
negros escravizados cristianizados e que 
frequentavam a casa-grande eram como parte 
da família e, nesse contexto, transmitiam suas 
próprias características culturais aos senhores. 
(BASTOS, 1999). 
Desse modo, ao longo das décadas, a 
negação do preconceito foi tamanha que era 
"como se as posições sociais desiguais fossem 
quase um desígnio da natureza, e atitudes 
racistas, minoritárias e excepcionais" (SCHWARCZ, 1998, p. 179). 
A partir dos anos de 1950 foram financiados pela UNESCO estudos acerca 
da suposta "democracia racial" no Brasil a qual poderia, inclusive, servir de modelo 
para outras partes do mundo. (SCHWARCZ, 1998). Vários especialistas foram 
contratados para investigar a realidade racial brasileira, entre eles Thales de 
Azevedo e Florestan Fernandes. Os chamados “ciclos de estudos da UNESCO” 
diferenciavam-se dos estudos anteriores, sobretudo, por desprezarem a concepção 
biologizada de raça, em voga no século XIX nos países da Europa e considerarem o 
termo como um construto social, histórico e político, como ressaltam Heilborn et al 
(2010). Passava a ser descortinada a verdadeira realidade enfrentada pela 
população negra no país. 
Com base no argumento de que no país prevaleceria a equidade racial, o 
escritor e pesquisador Thales de Azevedo (1975) realizou estudos que evidenciaram 
o racismo em diversos âmbitos, tais como no mundo do trabalho - eram relegadas 
aos negros as funções mais subalternas -, e nas relações sociais - não era permitido 
ao negro entrar em certos hotéis ou encenar peças teatrais em grandes teatros, por 
18 
 
exemplo. Assim, Azevedo (1975) acabou por concluir 
que, apesar de normas democráticas que asseguravam 
a punição de atos discriminatórios, como a Lei Afonso 
Arinos, havia na sociedade uma forte estereotipagem 
contra as pessoas negras, o que favorecia uma 
discriminação velada socialmente muito eficaz à 
manutenção do mito da “democracia racial". 
Também na contramão daqueles que afirmavam a equidade 
racial no brasil, o sociólogo Florestan Fernandes, em seu livro “O 
Negro no Mundo dos Brancos” (1972), ressaltou o peso do 
passado de escravização dos povos africanos no modo como a 
sociedade brasileira organizou-se anos depois. Para Florestan, 
enquanto dissimulava-se o preconceito racial, negando o racismo 
verdadeiramente praticado nos lares e instituições, a sociedade 
brasileira assistia ao aumento de privilégios econômicos, sociais e 
culturais dos brancos. (SCHWARCZ, 1998). 
Naquele contexto, sem emprego, renda ou 
escolarização, restava ao negro um lugar de 
subalternização. Junto com as décadas de 1970 e 
1980 vieram as contestações na política, na música 
e na literatura dos valores vigentes, bem como as 
análises das profundas desigualdades entre 
os negros e demais grupos raciais. 
(SCHWARCZ, 1998). Ficou evidenciada a 
discriminação racial que impactava 
cotidianamente no acesso à educação e ao 
lazer e na distribuição desigual de renda. O 
senso demográfico realizado na década de 
1960 comprovou, por exemplo, que a renda 
média da população branca era o dobro da 
renda do restante da população. 
(SCHWARCZ, 1998). A desigualdade racial 
podia ser percebida, ainda, nas práticas 
Estereótipo: 
trata-se de uma 
ideia 
preconcebida, de 
modo superficial, 
sobre algo ou 
alguém. 
Lei Afonso Arinos: Lei nº 
1390, de 3 de julho de 1951, 
que incluiu entre as 
contravenções penais a 
prática de atos resultantes 
de preconceitos de raça ou 
de cor. 
 
 
Subalternização = Interiorização 
19 
 
penais brasileiras. Pesquisa realizada pelo sociólogo Sergio Adorno constatou 
tratamento diferenciado conforme cor da pele, ou seja, o negro era considerado mais 
perigoso, sendo mais perseguido pela vigilância policial, enfrentando maiores 
obstáculos de acesso à justiça criminal, bem como recebendo tratamento penal mais 
rigoroso. (SCHWARCZ, 1998). 
O que se observa, então, é um país culturalmente diverso, com grande 
assimilação de traços culturais dos povos africanos colonizados, porém, bastante 
marcado por uma hierarquização social que promoveu, ao longo de séculos, a 
inferiorização da população negra. 
Pesquisas e estatísticas oficiais comprovam a lamentável existência do 
racismo em nossa sociedade, por mais que a sociedade insista em negá-lo. Os 
dados comprovam o abismo social entre negros e brancos quando comparadas as 
condições de vida, emprego, saúde, escolaridade e outros índices de 
desenvolvimento humano. (GOMES, 2005). A seguir, observaremos algumas 
informações que revelam a desigualdade socioeconômica que atinge a população 
negra no Brasil. 
 
20 
 
4) DADOS SOBRE RAÇA NO BRASIL 
 
Segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua 
(PNAD Contínua) do ano de 2019, pretos ou pardos 
correspondem a maioria da população brasileira, 
representando 56,2% dos habitantes. E essa representativa 
parcela da nossa sociedade convive diariamente com 
obstáculos, que desafiam o princípio da igualdade, resultantes 
de um duro processo histórico do qual tratamos na unidade 
anterior. 
Trata-se de exemplos claros da discriminação racial 
indireta, referida pela professora Nilma Lino Gomes 
(2005), que reverberam o racismo estrutural. 
De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e 
Estatísticas (IBGE), pretos ou pardos compõem a maior 
parte da força de trabalho do Brasil, porém, no ano de 
2018, eles somavam cerca de ⅔ dos desocupados 
(64,2%) e dos subutilizados (66,1%) na força de trabalho. 
E, mesmo se comparado aos vários níveis de instrução, 
as desvantagens desse grupo populacional se mantêm no 
mercado de trabalho. 
 
Fonte: IBGE, Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua 2018. 
Nota: Pessoas de 14 ou mais anos de idade. 
 
A participação de pretos ou pardos também é maior em se tratando do 
trabalho informal. Lembramos que a informalidade do trabalho pode expor o 
trabalhador à condições precárias de trabalho, além de dificultar o acesso aos 
direitos básicos, como aposentadoria e salário mínimo (IBGE, 2019b). No mesmo 
56,2% da população 
brasileira é preta ou 
parda 
 
Desocupados: pessoas que 
não exercem qualquer 
atividade remunerada. 
 
Subutilizados: pessoas 
desocupadas, que 
trabalham menos horas do 
que gostariam e aquelas 
que não procuram por 
emprego, mas gostariam de 
trabalhar. 
 
 
21 
 
ano de 2018, enquanto 
34,6% das pessoas 
ocupadas brancas 
estavam em ocupações 
informais, o percentual 
entre as pretas ou 
pardas atingiu 47,3%, 
segundo dados do 
IBGE. 
Se pararmos para observar a remuneração da 
população preta ou parda em nosso país, chegamos à 
conclusão que, independente do seu nível de instrução, 
ela é inferior ao valor pago à população branca, o qual é 
45% maior (IBGE, 2019b). E a 
situação de desigualdade se 
mantém em se tratando de 
cargos de chefia. Ainda 
segundo levantamento 
realizado no ano de 2018, 
apenas nas regiões Norte e 
Nordeste há uma maior 
proporção de pretos ou pardos 
em cargos de gerência (61,1%), 
nas demais há uma sub-
representatividade (29,9%). 
 
 
 
 
 
A remuneração paga 
à população branca é 
45% maior que 
àquela paga à 
população negra. 
22 
 
No que diz respeito à moradia em nosso país, pretos ou pardos compõem 
parcela prioritária da população que reside em condições precárias de saneamento 
básico, estando mais exposto a doenças: 
 
 
 
12,5% em locais sem coleta de lixo, contra 
6,0% da população branca; 17,9% sem 
abastecimento geral, contra 11,5% da 
população branca; 42,8% sem esgotamento 
sanitário por rede coletora ou pluvial, contra 
26,5% da população branca (IBGE, 2019b). 
 
 
 
Ao analisarmos os dados de 2018 do 
IBGE sobre educação, uma taxa de 
analfabetismo da população com 15 anos ou 
mais, de 9,1% para pretos ou pardos contra 
3,9% para brancos, caracteriza uma 
desigualdade das oportunidades tambémnesse campo. Sendo a situação mais grave 
para aqueles que residem no campo (20,7%). 
Ademais, a proporção de jovens brancos de 
18 a 24 anos de idade que frequentavam ou já 
haviam concluído o ensino superior (36,1%) é quase o dobro da observada entre 
aqueles pretos ou pardos (18,3%). 
23 
 
O levantamento de 2018 ainda revela que a proporção de 
pessoas pretas ou pardas de 18 a 24 anos de idade, com 
menos de 
11 anos 
de estudo 
e que não 
frequenta-
vam escola, foi de 28,8%, mas a 
proporção de pessoas brancas, 
na mesma situação, foi de 17,4%, 
bem menor. Acerca dessa mesma 
faixa etária, 55,6% de jovens 
pretos ou pardos puderam ser 
vistos cursando o ensino superior, 
contra a proporção de 78% de 
estudantes brancos. A diferença em 
relação a essa taxa pode ser 
explicada, justamente, pela parcela 
da população que não concluiu o 
ensino médio ou que precisou 
trabalhar. No ano de 2018, 61,8% 
desses estudantes que precisaram 
entrar no mercado de trabalho após 
a conclusão do ensino médio eram pretos ou pardos. 
A desigualdade racial denunciada pelos dados explicitados, por si só, já pode 
ser considerada uma violência racial, 
uma vez que, quando a sociedade 
nega e priva de oportunidades 
indivíduos, obedecendo a uma lógica 
racista, também perpetua um ato de 
violência. Trata-se da face simbólica 
de um fenômeno que constitui pano 
de fundo para a violência física 
55,6% de jovens negros 
cursaram o ensino 
superior, contra a 
proporção de 78% de 
jovens brancos 
24 
 
infligida a essa parcela da população brasileira. E se nos debruçarmos sobre os 
dados de violência fatal, chegaremos a conclusões 
alarmantes. 
A população preta e parda é a 
mais assassinada no país. Segundo 
dados do Atlas da Violência (IPEA, 
2021), no ano de 2019, os negros 
representaram 77% das vítimas de 
homicídios. Comparativamente, a taxa de violência letal contra pessoas negras foi 
162% maior se comparada à infligida às pessoas não negras. Ainda segundo o 
documento, publicado pelo Fórum Nacional de Segurança Pública no ano de 2021, 
entre os anos de 2009 e 2019 a redução dos homicídios foi muito maior entre a 
população não negra. Houve uma redução de 15,5% entre negros e 30,5 entre não 
negros. 
 
 
 
Fonte: IBGE, Atlas da Violência, 2021. 
 
Tal disparidade estatística, como já pudemos discutir, é um retrato da 
vulnerabilidade socioeconômica da população negra do país. Juntos, fatores como 
os índices de pobreza, a baixa escolarização, o desemprego, as deficiências de 
políticas específicas (IPEA, 2021), bem como a reprodução de estratégias baseadas 
em critérios raciais e em preconceitos sociais que tornam essa população o alvo 
preferencial das ações das instituições da justiça criminal, como a polícia, 
 
No ano de 2019, 77% das 
vítimas de homicídio 
eram negras. 
 
 
Não negros: 
amarelos, 
brancos e 
indígenas 
 
25 
 
(SINHORETTO, BATITUTTI MOTA, 2014 apud IPEA, 2021), reforçam o quadro 
discriminatório. 
Os dados não mentem. Se pararmos para uma breve análise, chegaremos à 
conclusão mais temida, no sentido que vivemos sim em uma sociedade racista, que 
a todos os anos assiste à perpetuação de práticas racistas e, consequente, à 
recorrência e ao aumento da violência às pessoas pretas e pardas de nosso país. O 
que podemos fazer em relação a essa triste realidade? Cabe a todos nós 
assumirmos uma posição antirracista, ou seja, contrária à perpetuação de práticas 
racistas que inviabilizam a cidadania de tantas pessoas. 
A escritora Djamila Ribeiro no livro "Pequeno Manual Antirracista", publicado 
no ano de 2019, oferece ao leitor uma importante perspectiva quanto a práticas 
norteadoras de uma conduta antirracista. Assim, entre outros aspectos, Ribeiro 
(2019) ressalta a necessidade de nos informarmos sobre o racismo praticado em 
nosso país e conversarmos sobre o tema na família, na comunidade e no trabalho, 
bem como refletirmos sobre o racismo que está internalizado em nós mesmos e que 
é expresso, por exemplo, na nossa tolerância a expressões racistas como "ela é 
negra, mas é bonita" ou "negro de alma branca". 
A seguir, conheceremos algumas leis que integram o rol de ações afirmativas 
no campo do Direito. Elas representam marcos legais nacionais e internacionais na 
coibição e punição do crime de racismo, e resultam da luta antirracista do 
Movimento Negro e dos demais grupos e organizações pela superação da 
desigualdade, que atinge historicamente o povo negro. 
26 
 
27 
 
 
 
 
 
 
 
28 
 
UNIDADE 2 
5) MARCOS LEGAIS ANTIRRACISMO 
 
Ninguém nasce odiando o outro pela cor de sua pele, ou por sua origem, ou 
sua religião. Para odiar as pessoas precisam aprender, e se elas aprendem 
a odiar, podem ser ensinadas a amar. 
Nelson Mandela, “O longo caminho para a liberdade”, 1994 
 
 
 Em 3 de julho de 1951, foi publicada a Lei n° 1.390, conhecida como Lei 
Afonso Arinos, a qual foi a primeira lei específica regulamentando a questão racial 
no Brasil e incluiu entre as contravenções penais a prática de atos resultantes de 
preconceitos de raça ou de cor. A referida lei foi inspirada num episódio de 
discriminação racial ocorrido em 1950, em um Hotel de São Paulo, sofrida por 
cidadã negra norte-americana, a bailarina Katherine Dunham, a qual, em excursão, 
foi impedida de se hospedar no Hotel Serrador. A imprensa brasileira não deu 
importância ao caso, mas a repercussão no exterior foi muito negativa. 
 
 De acordo com a citada lei, era considerada contravenção penal a recusa, por 
parte de estabelecimento comercial ou de ensino de qualquer natureza, de 
hospedar, servir, atender ou receber cliente, comprador ou aluno, por preconceito de 
raça ou de cor. 
 Como as condutas de racismo eram consideradas contravenções penais, as 
penalidades previstas na Lei eram muito baixas. Desta forma, durante os 37 anos de 
vigência da legislação, nenhuma pessoa foi presa em razão da prática de tais 
delitos, todavia, devemos ressaltar a importância da legislação, pois trouxe à tona o 
tema “racismo”, alertando a sociedade que racismo era crime. 
29 
 
 Em 1985, no dia 20 de dezembro, a Lei 1.390 foi alterada pela Lei 7.437, que 
incluiu, entre as contravenções penais, a prática de atos resultantes de preconceito 
de raça, de cor, de sexo ou de estado civil. 
Em 1988, foi promulgada a nossa Constituição Federal, a qual prevê que a 
República Federativa do Brasil constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem 
como um dos fundamentos a dignidade da pessoa humana. Um dos objetivos 
fundamentais trazido na Carta Magna é construir uma sociedade livre, justa e 
solidária e promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, 
idade e quaisquer outras formas de discriminação. 
 No artigo 4° da Constituição Federal há previsão de que a República 
Federativa do Brasil rege-se nas suas relações internacionais por diversos 
princípios, dentre eles o de repúdio ao racismo. Ademais, o art. 5º dispõe que todos 
são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos 
brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à 
liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, e prevê que a prática do 
racismo constitui crime inafiançável e imprescritível, sujeito à pena de reclusão, nos 
termos da lei. 
 No ano seguinte, em 5 de janeiro de 
1989, entrou em vigor a Lei nº 7.716, que 
define os crimes resultantes de preconceito de 
raça ou de cor. A lei estabelece penalidades 
para diversas situações de discriminação, 
inclusive práticas de incitação à discriminação 
ou preconceito, que serão estudadas a seguir. 
Portanto, essa é a lei que prevê o crime de 
racismo, isto é, a discriminação racial 
praticada contra uma coletividade e que 
tornou o racismo crime imprescritível e inafiançável. 
 A Lei nº 7.716/89 foi posteriormente alterada pela Lei n° 9.459, de1997, que 
acrescentou a punição à discriminação e à incitação à discriminação por etnia, 
religião ou procedência nacional. A Lei nº 9.459/1997 ainda criou a injúria racial, um 
tipo qualificado de injúria no Código Penal, que será estudado com mais detalhes 
posteriormente. 
http://www.planalto.gov.br/cciVil_03/LEIS/L7437.htm
http://legislacao.planalto.gov.br/legisla/legislacao.nsf/Viw_Identificacao/lei%207.716-1989?OpenDocument
http://legislacao.planalto.gov.br/legisla/legislacao.nsf/Viw_Identificacao/lei%207.716-1989?OpenDocument
30 
 
 Já no ano de 2003, a Lei 
nº 10.639 modificou a Lei de 
Diretrizes de Base da Educação, 
introduzindo a obrigatoriedade 
do ensino de história e cultura 
afro-brasileira e africana nas 
escolas de ensino fundamental e 
médio. O conteúdo programático 
acrescentou o estudo da História 
da África e dos Africanos, a luta 
dos negros no Brasil, a cultura 
negra brasileira e o negro na 
formação da sociedade 
nacional, resgatando a 
contribuição do povo negro nas áreas social, econômica e política pertinentes à 
História do Brasil. Além disso, foi incluído no calendário escolar o dia 20 de 
novembro como ‘Dia Nacional da Consciência Negra’. 
 
 No ano de 2009, o Ministério da Saúde publicou a Portaria nº 992, que 
instituiu a Política Nacional de Saúde Integral da População Negra. O objetivo geral 
da referida política é promover a saúde integral da população negra, priorizando a 
redução das desigualdades étnico-raciais, o combate ao racismo e à discriminação 
nas instituições e serviços do SUS. São algumas das diretrizes previstas na 
mencionada portaria: 
31 
 
 - a inclusão dos temas Racismo e Saúde da População Negra nos processos 
de formação e educação permanentes dos/as trabalhadores/ as da saúde e no 
exercício do controle social da saúde. 
 - o reconhecimento de saberes e práticas populares de saúde, incluindo 
aqueles preservados pelas religiões de matrizes africanas. 
 - o desenvolvimento de processos de informação, comunicação e educação, 
que desconstruam estigmas e preconceitos, fortaleçam uma identidade negra 
positiva e contribuam para a redução das vulnerabilidades. 
 Em 20 de julho de 2010, a Lei nº 12.288 instituiu o Estatuto da Igualdade 
Racial, “destinado a garantir à população negra a efetivação da igualdade de 
oportunidades, a defesa dos direitos étnicos individuais, coletivos e difusos e o 
combate à discriminação e às demais formas de intolerância étnica”. 
 O Estatuto trouxe diversos conceitos relacionados à temática, quais sejam: 
 I - discriminação racial ou étnico-racial: toda distinção, exclusão, restrição ou 
preferência baseada em raça, cor, descendência ou origem nacional ou étnica que 
tenha por objeto anular ou restringir o reconhecimento, gozo ou exercício, em 
igualdade de condições, de direitos humanos e liberdades fundamentais nos campos 
político, econômico, social, cultural ou em qualquer outro campo da vida pública ou 
privada; 
 II - desigualdade racial: toda situação injustificada de diferenciação de acesso 
e fruição de bens, serviços e oportunidades, nas esferas pública e privada, em 
virtude de raça, cor, descendência ou origem nacional ou étnica; 
 III - desigualdade de gênero e raça: assimetria existente no âmbito da 
sociedade que acentua a distância social entre mulheres negras e os demais 
segmentos sociais; 
 IV - população negra: o conjunto de pessoas que se autodeclaram pretas e 
pardas, conforme o quesito cor ou raça usado pela Fundação Instituto Brasileiro de 
Geografia e Estatística (IBGE), ou que adotam autodefinição análoga; 
 V - políticas públicas: as ações, iniciativas e programas adotados pelo Estado 
no cumprimento de suas atribuições institucionais; 
 VI - ações afirmativas: os programas e medidas especiais adotados pelo 
Estado e pela iniciativa privada para a correção das desigualdades raciais e para a 
promoção da igualdade de oportunidades. 
32 
 
 O Estatuto prevê que é dever do Estado e da sociedade garantir a igualdade 
de oportunidades, reconhecendo a todo cidadão brasileiro, independentemente da 
etnia ou da cor da pele, o direito à participação na comunidade, especialmente nas 
atividades políticas, econômicas, empresariais, educacionais, culturais e esportivas, 
defendendo sua dignidade e seus valores religiosos e culturais. 
 Esta lei é considerada o principal marco legal para o enfrentamento da 
discriminação racial e das desigualdades estruturais de raça aqui estudadas. Trata-
se de um instrumento para garantia dos direitos fundamentais desse segmento, 
especialmente no que diz respeito à saúde, educação, cultura, esporte e lazer, 
comunicação, participação, trabalho, liberdade de consciência e de crença; acesso à 
terra e à moradia; além dos temas da proteção, do acesso à justiça e à segurança. 
 O quadro abaixo, retirado da cartilha São Paulo contra o Racismo: Aspectos 
Legais e Ações Afirmativas, apresenta alguns direitos previstos no Estatuto: 
 
SAÚDE Art. 6o. O direito à saúde da população negra será 
garantido pelo poder público mediante políticas 
universais, sociais e econômicas destinadas à 
redução do risco de doenças e de outros agravos. 
EDUCAÇÃO Art. 11. Nos estabelecimentos de ensinos 
fundamental e médio, públicos e privados. É 
obrigatório o estudo da história geral da África e 
da história da população negra no Brasil, 
observado o disposto na Lei n° 9.394, de 20 de 
dezembro de 1996. 
CULTURA Art. 17. O poder público garantirá o 
reconhecimento das sociedades negras, clubes e 
outras formas de manifestação coletiva da 
população negra, com trajetória histórica 
comprovada, como patrimônio histórico e cultural, 
nos termos dos arts. 215 e 216 da Constituição 
Federal. 
ESPORTE E LAZER Art. 21. O poder público fomentará o pleno acesso 
da população negra às práticas desportivas, 
consolidando o esporte e o lazer como direitos 
sociais. 
ACESSO À TERRA Art. 27. O poder público elaborará e implementará 
políticas públicas capazes de promover o acesso 
da população negra à terra e às atividades 
produtivas no campo. 
MORADIA Art. 35. O poder público garantirá a 
implementação de políticas públicas para 
assegurar o direito à moradia adequada da 
população negra que vive em favelas, cortiços, 
áreas urbanas subutilizadas, degradadas ou em 
processo de degradação, a fim de reintegrá-las à 
dinâmica urbana e promover melhorias no 
ambiente e na qualidade de vida. 
33 
 
TRABALHO Art. 38. A implementação de políticas voltadas 
para a inclusão da população negra no mercado 
de trabalho será de responsabilidade do poder 
público, observando-se: 
- o instituído neste Estatuto; 
- os compromissos assumidos pelo Brasil ao 
ratificar a Convenção Internacional sobre a 
Eliminação de Todas as Formas de Discriminação 
Racial, de 1965; 
- os compromissos assumidos pelo Brasil ao 
ratificar a Convenção no 111, de 1958, da 
Organização Internacional do Trabalho(OIT), que 
trata da discriminação no emprego e na profissão; 
- os demais compromissos formalmente 
assumidos pelo Brasil perante a comunidade 
internacional 
MEIOS DE 
COMUNICAÇÃO 
Art. 43. A produção veiculada pelos órgãos de 
comunicação valorizará a herança cultural e a 
participação da população negra na história do 
País. 
Art. 44. Na produção de filmes e programas 
destinados à veiculação pelas emissoras de 
televisão e em salas cinematográficas, deverá ser 
adotada a prática de conferir oportunidades de 
emprego para atores, figurantes e técnicos negros, 
sendo vedada toda e qualquer discriminação de 
natureza política, ideológica, étnica ou artística. 
LIBERDADE DE 
CONSCIÊNCIA E 
DE CRENÇA E AO 
LIVRE EXERCÍCIO 
DOS CULTOS 
RELIGIOSOS 
Art. 23. É inviolável a liberdade de consciência e 
de crença, sendo assegurado o livre exercício dos 
cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a 
proteção aos locais de culto e a suas liturgias. 
Art. 24. O direito à liberdade de consciência e de 
crença e ao livre exercíciodos cultos religiosos de 
matriz africana compreende: 
- a prática de cultos, a celebração de reuniões 
relacionadas à religiosidade e a fundação e 
manutenção, por iniciativa privada, de lugares 
reservados para tais fins; 
- a celebração de festividades e cerimônias de 
acordo com preceitos das respectivas religiões; 
- a fundação e a manutenção, por iniciativa 
privada, de instituições beneficentes ligadas às 
respectivas convicções religiosas; 
- a produção, a comercialização, a aquisição e o 
uso de artigos e materiais religiosos adequados 
aos costumes e às práticas fundadas na 
respectiva religiosidade, ressalvadas as condutas 
vedadas por legislação específica; 
- a produção e a divulgação de publicações 
relacionadas ao exercício e à difusão das religiões 
de matriz africana; 
- a coleta de contribuições financeiras de pessoas 
naturais e jurídicas de natureza privada para a 
manutenção das atividades religiosas e sociais 
das respectivas religiões; 
- o acesso aos órgãos e aos meios de 
comunicação para divulgação das respectivas 
religiões; 
- a comunicação ao Ministério Público para 
abertura de ação penal em face de atitudes e 
34 
 
práticas de intolerância religiosa nos meios de 
comunicação e em quaisquer outros locais. 
SINAPIR 
 
 
Art. 47. É instituído o Sistema Nacional de 
Promoção da Igualdade Racial (Sinapir) como 
forma de organização e de articulação voltadas à 
implementação do conjunto de políticas e serviços 
destinados a superar as desigualdades étnicas 
existentes no País, prestados pelo poder público 
federal. 
Art. 50. Os Poderes Executivos estaduais, distrital 
e municipais, no âmbito das respectivas esferas 
de competência, poderão instituir conselhos de 
promoção da igualdade étnica, de caráter 
permanente e consultivo, compostos por igual 
número de representantes de órgãos e entidades 
públicas e de organizações da sociedade civil 
representativas da população negra. 
OUVIDORIAS 
PERMANENTES E 
ACESSO À JUSTIÇA 
E À SEGURANÇA 
Art. 54. O Estado adotará medidas para coibir atos 
de discriminação e preconceito praticados por 
servidores públicos em detrimento da população 
negra, observado, no que couber, o disposto na 
Lei no 7.716, de 5 de janeiro de 1989. 
Art. 55. Para a apreciação judicial das lesões e 
das ameaças de lesão aos interesses da 
população negra decorrentes de situações de 
desigualdade étnica, recorrer-se-á, entre outros 
instrumentos, à ação civil pública, disciplinada na 
Lei no 7.347, de 24 de julho de 1985. 
 
 O capítulo IV do Estatuto estabelece as instituições responsáveis pelo 
acolhimento de denúncias de discriminação racial e apresenta os mecanismos 
institucionais existentes que têm como finalidade assegurar a aplicação efetiva dos 
dispositivos previstos em lei. 
Art. 51. O poder público federal instituirá, na forma da lei e no âmbito dos 
Poderes Legislativo e Executivo, Ouvidorias Permanentes em Defesa da 
Igualdade Racial, para receber e encaminhar denúncias de preconceito e 
discriminação com base em etnia ou cor e acompanhar a implementação de 
medidas para a promoção da igualdade. 
Art. 52. É assegurado às vítimas de discriminação étnica o acesso aos 
órgãos de Ouvidoria Permanente, à Defensoria Pública, ao Ministério 
Público e ao Poder Judiciário, em todas as suas instâncias, para a garantia 
do cumprimento de seus direitos. 
Parágrafo único. O Estado assegurará atenção às mulheres negras em 
situação de violência, garantida a assistência física, psíquica, social e 
jurídica. 
Art. 53. O Estado adotará medidas especiais para coibir a violência policial 
incidente sobre a população negra. 
Parágrafo único. O Estado implementará ações de ressocialização e 
proteção da juventude negra em conflito com a lei e exposta a experiências 
de exclusão social. 
35 
 
 O Estatuto trouxe ainda diversas alterações na Lei nº 7.716/89, que serão 
abordadas a seguir. 
 Assim, conclui-se que o Estatuto da Igualdade Racial é a principal referência 
para enfrentamento ao racismo e a promoção da igualdade racial, pois atualizou e 
ampliou o alcance das leis antirracistas anteriores, além de embasar juridicamente 
políticas públicas direcionadas a diminuir as desigualdades raciais no acesso a 
bens, serviços e oportunidades. As políticas afirmativas existentes serão estudadas 
posteriormente. 
 
 
 
 
 
 
http://legislacao.planalto.gov.br/legisla/legislacao.nsf/Viw_Identificacao/lei%207.716-1989?OpenDocument
36 
 
6) CONDUTAS RELACIONADAS À RAÇA QUE SÃO CONSIDERADAS 
CRIMES NO BRASIL 
 
 
Fonte: https://g1.globo.com/go/goias/noticia/2022/03/05/empresaria-se-indigna-
com-pedido-racista-de-cliente-por-aplicativo-mandem-entregador-branco-nao-
gosto-de-pretos-nem-pardos.ghtml 
 
 Diariamente a imprensa divulga casos graves de racismo e injúria racial que 
ocorrem no Brasil, o que reflete o quão nossa sociedade ainda é racista. Neste 
módulo, serão trazidos os principais crimes referentes à temática, com a pena 
prevista em cada um deles. A proposta deste curso é apresentar aos alunos as 
condutas que são consideradas crimes no Brasil e não fazer uma análise jurídica 
dos mesmos. 
 A Cartilha de Direitos Humanos e Combate ao Racismo da Defensoria Pública 
do Rio Grande do Sul apresenta alguns exemplos de práticas que são consideradas 
racistas, quais sejam: 
 Apelidar negras e negros de acordo com as características físicas, a partir de 
elementos de cor e etnia da pessoa. 
 Inferiorizar as características estéticas de negras e negros. 
 Considerar uma negra ou um negro inferior intelectualmente, podendo até 
negar-lhe determinados cargos, funções ou empregos. 
 Desprezar seus costumes, hábitos e tradições, como na ofensa a religiões de 
matriz africana. 
 Duvidar da honestidade e competência da pessoa negra. 
 Recusar-se a prestar serviços a negras e negros. 
https://g1.globo.com/go/goias/noticia/2022/03/05/empresaria-se-indigna-com-pedido-racista-de-cliente-por-aplicativo-mandem-entregador-branco-nao-gosto-de-pretos-nem-pardos.ghtml
https://g1.globo.com/go/goias/noticia/2022/03/05/empresaria-se-indigna-com-pedido-racista-de-cliente-por-aplicativo-mandem-entregador-branco-nao-gosto-de-pretos-nem-pardos.ghtml
https://g1.globo.com/go/goias/noticia/2022/03/05/empresaria-se-indigna-com-pedido-racista-de-cliente-por-aplicativo-mandem-entregador-branco-nao-gosto-de-pretos-nem-pardos.ghtml
37 
 
 Fazer ou se divertir com piadas depreciativas da pessoa negra e, vestimenta 
e de suas pré-concepções sobre os papéis sociais ou profissionais que crê 
ser adequados a ela. 
 
A Lei nº 7.716/89 prevê uma série de condutas que são consideradas crimes, 
quando resultantes de discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou 
procedência nacional. Serão analisados os crimes previstos na referida legislação. 
 
 Artigo 3° da Lei nº 7.716/89 
Impedir ou obstar o acesso de alguém, devidamente habilitado, a qualquer 
cargo da Administração Direta ou Indireta, bem como das concessionárias 
de serviços públicos. 
 
Pena: reclusão de dois a cinco anos. 
 
Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem, por motivo de 
discriminação de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional, obstar a 
promoção funcional. 
 
Este tipo penal criminaliza a conduta que impede ou obsta o acesso no serviço 
público de pessoa habilitada ao cargo ou à promoção funcional. É necessário que o 
indivíduo esteja habilitado para executar o trabalho. 
 
 Artigo 4° da Lei nº 7.716/89 
Negar ou obstar emprego em empresa privada. 
 
Pena: reclusão de dois a cinco anos. 
 
§ 1o Incorre na mesma pena quem, por motivo de discriminação de raça ou 
de cor ou práticas resultantes do preconceito de descendência ou origem 
nacional ou étnica: 
 
 I - deixar de conceder os equipamentos necessários ao empregado em 
igualdade de condições com os demais trabalhadores; 
II - impedir a ascensão funcional do empregado ou obstar outra forma de 
benefício profissional; 
III - proporcionarao empregado tratamento diferenciado no ambiente de 
trabalho, especialmente quanto ao salário. 
 
§ 2o Ficará sujeito às penas de multa e de prestação de serviços à 
comunidade, incluindo atividades de promoção da igualdade racial, quem, 
em anúncios ou qualquer outra forma de recrutamento de trabalhadores, 
exigir aspectos de aparência próprios de raça ou etnia para emprego cujas 
atividades não justifiquem essas exigências. 
 
http://legislacao.planalto.gov.br/legisla/legislacao.nsf/Viw_Identificacao/lei%207.716-1989?OpenDocument
http://legislacao.planalto.gov.br/legisla/legislacao.nsf/Viw_Identificacao/lei%207.716-1989?OpenDocument
http://legislacao.planalto.gov.br/legisla/legislacao.nsf/Viw_Identificacao/lei%207.716-1989?OpenDocument
38 
 
Verifica-se que o artigo 3° refere-se à negativa do acesso ao cargo ou à 
promoção funcional na administração pública e nas concessionárias de serviços 
públicos, enquanto o artigo 4º refere-se às empresas privadas. 
Negar ou obstar emprego, deixar de providenciar os equipamentos necessários 
a empregado, impedir a ascensão ou outro benefício funcional a empregado, tratar 
empregado de forma diferente dos demais e exigir aspectos de aparência próprios 
de raça ou etnia para emprego sem justificativa são condutas criminalizadas neste 
artigo. 
 
 
Fonte: https://www.hypeness.com.br/2022/04/funcionarios-negros-revelam-cultura-de-racismo-
na-tesla-gigante-controlada-por-elon-musk/ 
 
 Artigo 5° da Lei nº 7.716/89 
Recusar ou impedir acesso a estabelecimento comercial, negando-se a 
servir, atender ou receber cliente ou comprador. 
 
Pena: reclusão de um a três anos. 
 
Este crime ocorre quando estabelecimentos comerciais negam servir, atender 
ou receber clientes em razão da raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional. 
Para a configuração deste delito o autor pode então recusar ou impedir o acesso de 
pessoa a estabelecimento comercial, bem como não servir ou atender a vítima. 
https://www.hypeness.com.br/2022/04/funcionarios-negros-revelam-cultura-de-racismo-na-tesla-gigante-controlada-por-elon-musk/
https://www.hypeness.com.br/2022/04/funcionarios-negros-revelam-cultura-de-racismo-na-tesla-gigante-controlada-por-elon-musk/
http://legislacao.planalto.gov.br/legisla/legislacao.nsf/Viw_Identificacao/lei%207.716-1989?OpenDocument
39 
 
Um caso com grande repercussão foi quando uma delegada de polícia negra foi 
impedida de ingressar em uma loja de roupas em um shopping. Durante a 
investigação, apurou-se que a loja possuía um código para alertar quando clientes 
negros suspeitos estavam no local. O gerente da loja foi denunciado por racismo. 
 
Fonte: https://g1.globo.com/ce/ceara/noticia/2021/12/02/gerente-da-loja-
zara-onde-delegada-negra-foi-barrada-e-denunciado-por-racismo.ghtml 
 
Fonte: https://g1.globo.com/ce/ceara/noticia/2021/09/24/adolescente-negra-e-
barrada-em-shopping-apos-seguranca-achar-que-a-garota-era-uma-pedinte-em-
fortaleza.ghtml 
 
 Artigo 6° da Lei nº 7.716/89 
Recusar, negar ou impedir a inscrição ou ingresso de aluno em 
estabelecimento de ensino público ou privado de qualquer grau. 
 
Pena: reclusão de três a cinco anos. 
 
Parágrafo único. Se o crime for praticado contra menor de dezoito anos a 
pena é agravada de 1/3 (um terço). 
 
 Este crime ocorre quando há a recusa de inscrever ou impedir o ingresso de 
aluno em estabelecimento de ensino, não importa se público ou privado, nem de que 
grau seja. O entendimento é de que escolas de dança, informática, dentre outras 
https://g1.globo.com/ce/ceara/noticia/2021/12/02/gerente-da-loja-zara-onde-delegada-negra-foi-barrada-e-denunciado-por-racismo.ghtml
https://g1.globo.com/ce/ceara/noticia/2021/12/02/gerente-da-loja-zara-onde-delegada-negra-foi-barrada-e-denunciado-por-racismo.ghtml
https://g1.globo.com/ce/ceara/noticia/2021/09/24/adolescente-negra-e-barrada-em-shopping-apos-seguranca-achar-que-a-garota-era-uma-pedinte-em-fortaleza.ghtml
https://g1.globo.com/ce/ceara/noticia/2021/09/24/adolescente-negra-e-barrada-em-shopping-apos-seguranca-achar-que-a-garota-era-uma-pedinte-em-fortaleza.ghtml
https://g1.globo.com/ce/ceara/noticia/2021/09/24/adolescente-negra-e-barrada-em-shopping-apos-seguranca-achar-que-a-garota-era-uma-pedinte-em-fortaleza.ghtml
http://legislacao.planalto.gov.br/legisla/legislacao.nsf/Viw_Identificacao/lei%207.716-1989?OpenDocument
40 
 
enquadram-se neste dispositivo. Busca-se garantir um dos bens de todo ser 
humano, a educação, sem distinção em razão de raça, cor, etnia, religião ou 
procedência nacional. 
 A pena é aumentada quando a vítima é criança ou adolescente, protegendo-
a e visando garantir a sua educação. 
 
Fonte: https://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-
noticias/2019/03/14/crianca-autista-tem-matricula-escolar-
recusada-por-usar-cabelo-black-power.htm 
 
Fonte: https://www.correiobraziliense.com.br/euestudante/educacao-
basica/2022/04/4998823-estudante-negra-e-proibida-de-entrar-na-escola-por-nao-ter-
cabelo-liso.html 
 
 
 Artigo 7° da Lei nº 7.716/89 
Impedir o acesso ou recusar hospedagem em hotel, pensão, estalagem, ou 
qualquer estabelecimento similar. 
 
Pena: reclusão de três a cinco anos. 
https://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2019/03/14/crianca-autista-tem-matricula-escolar-recusada-por-usar-cabelo-black-power.htm
https://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2019/03/14/crianca-autista-tem-matricula-escolar-recusada-por-usar-cabelo-black-power.htm
https://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2019/03/14/crianca-autista-tem-matricula-escolar-recusada-por-usar-cabelo-black-power.htm
https://www.correiobraziliense.com.br/euestudante/educacao-basica/2022/04/4998823-estudante-negra-e-proibida-de-entrar-na-escola-por-nao-ter-cabelo-liso.html
https://www.correiobraziliense.com.br/euestudante/educacao-basica/2022/04/4998823-estudante-negra-e-proibida-de-entrar-na-escola-por-nao-ter-cabelo-liso.html
https://www.correiobraziliense.com.br/euestudante/educacao-basica/2022/04/4998823-estudante-negra-e-proibida-de-entrar-na-escola-por-nao-ter-cabelo-liso.html
http://legislacao.planalto.gov.br/legisla/legislacao.nsf/Viw_Identificacao/lei%207.716-1989?OpenDocument
41 
 
O impedimento de acesso a 
hotéis, pensão, estalagem ou outros 
estabelecimentos simulares, bem como 
a recusa de hospedagem, configura o 
crime de racismo previsto no art. 7°. 
Interessante relembrar que a 
recusa de hospedagem a uma 
dançarina negra em São Paulo ensejou 
a criação da primeira lei antirracista no 
Brasil, a Lei Afonso Arinos, estudada 
anteriormente. 
 
 
 
 
 
Fonte: https://g1.globo.com/rs/rio-grande-do-sul/noticia/2021/10/28/policia-
investiga-racismo-contra-hospede-de-hotel-em-caxias-do-sul-nao-doi-na-
pele-doi-na-alma.ghtml 
 
 Artigo 8° da Lei nº 7.716/89 
 
Impedir o acesso ou recusar atendimento em restaurantes, bares, 
confeitarias, ou locais semelhantes abertos ao público. 
 
Pena: reclusão de um a três anos. 
Fonte: 
https://www12.senado.leg.br/noticias/especiais/arqu
ivo-s/brasil-criou-1a-lei-antirracismo-apos-hotel-em-
sp-negar-hospedagem-a-dancarina-negra-
americana#gallery-1 
https://g1.globo.com/rs/rio-grande-do-sul/noticia/2021/10/28/policia-investiga-racismo-contra-hospede-de-hotel-em-caxias-do-sul-nao-doi-na-pele-doi-na-alma.ghtml
https://g1.globo.com/rs/rio-grande-do-sul/noticia/2021/10/28/policia-investiga-racismo-contra-hospede-de-hotel-em-caxias-do-sul-nao-doi-na-pele-doi-na-alma.ghtml
https://g1.globo.com/rs/rio-grande-do-sul/noticia/2021/10/28/policia-investiga-racismo-contra-hospede-de-hotel-em-caxias-do-sul-nao-doi-na-pele-doi-na-alma.ghtml
http://legislacao.planalto.gov.br/legisla/legislacao.nsf/Viw_Identificacao/lei%207.716-1989?OpenDocument
https://www12.senado.leg.br/noticias/especiais/arquivo-s/brasil-criou-1a-lei-antirracismo-apos-hotel-em-sp-negar-hospedagem-a-dancarina-negra-americana#gallery-1
https://www12.senado.leg.br/noticias/especiais/arquivo-s/brasil-criou-1a-lei-antirracismo-apos-hotel-em-sp-negar-hospedagem-a-dancarina-negra-americana#gallery-1https://www12.senado.leg.br/noticias/especiais/arquivo-s/brasil-criou-1a-lei-antirracismo-apos-hotel-em-sp-negar-hospedagem-a-dancarina-negra-americana#gallery-1
https://www12.senado.leg.br/noticias/especiais/arquivo-s/brasil-criou-1a-lei-antirracismo-apos-hotel-em-sp-negar-hospedagem-a-dancarina-negra-americana#gallery-1
42 
 
 
 O crime se consuma quando há a recusa de atendimento ou o acesso negado 
em restaurantes, bares, confeitarias e locais semelhantes abertos ao público. Vale 
mencionar que o local dever ser público. 
 
 
 Fonte: https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/2021/05/21/casal-acusa-restaurante-do-
 tatuape-na-zona-leste-de-sp-de-racismo.ghtml 
 
 Fonte: https://catracalivre.com.br/cidadania/menino-racismo-doceria/ 
 
 Artigo 9° da Lei nº 7.716/89 
 
Impedir o acesso ou recusar atendimento em estabelecimentos esportivos, 
casas de diversões, ou clubes sociais abertos ao público. 
 
Pena: reclusão de um a três anos. 
 
 Este crime se configura quando algum desses estabelecimentos se negar a 
receber, em suas dependências, um indivíduo como associado convidado, por 
preconceito a raça, cor, religião ou procedência nacional. 
https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/2021/05/21/casal-acusa-restaurante-do-%09tatuape-na-zona-leste-de-sp-de-racismo.ghtml
https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/2021/05/21/casal-acusa-restaurante-do-%09tatuape-na-zona-leste-de-sp-de-racismo.ghtml
https://catracalivre.com.br/cidadania/menino-racismo-doceria/
http://legislacao.planalto.gov.br/legisla/legislacao.nsf/Viw_Identificacao/lei%207.716-1989?OpenDocument
43 
 
 
Fonte: https://g1.globo.com/sao-paulo/noticia/gerente-questiona-em-mensagem-
entrada-de-negros-na-villa-mix-quem-liberou.ghtml 
 
 Artigo 10 da Lei nº 7.716/89 
Impedir o acesso ou recusar atendimento em salões de cabeleireiros, 
barbearias, termas ou casas de massagem ou estabelecimento com as 
mesmas finalidades. 
 
Pena: reclusão de um a três anos. 
 
 
 O legislador também determinou que é crime de racismo impedir o acesso ou 
recusar atendimento em salão de beleza e em locais similares e afins, atendendo-se 
à garantia de igualdade de tratamento nesses lugares. 
 
 Artigo 11 da Lei nº 7.716/89 
Impedir o acesso às entradas sociais em edifícios públicos ou residenciais e 
elevadores ou escada de acesso aos mesmos: 
 
Pena: reclusão de um a três anos. 
 
 O crime consuma-se ao impedir qualquer pessoa de ter acesso a esses 
locais, determinando-lhe uma entrada específica e causando-lhe constrangimento e 
vergonha. Não há que impedir a um empregado, a empregada ou a um entregador 
de alimentos, por exemplo, o acesso pela entrada ou pelo elevador social, sob pena 
de, assim o fazendo, cometer o crime acima descrito. 
https://g1.globo.com/sao-paulo/noticia/gerente-questiona-em-mensagem-entrada-de-negros-na-villa-mix-quem-liberou.ghtml
https://g1.globo.com/sao-paulo/noticia/gerente-questiona-em-mensagem-entrada-de-negros-na-villa-mix-quem-liberou.ghtml
http://legislacao.planalto.gov.br/legisla/legislacao.nsf/Viw_Identificacao/lei%207.716-1989?OpenDocument
http://legislacao.planalto.gov.br/legisla/legislacao.nsf/Viw_Identificacao/lei%207.716-1989?OpenDocument
44 
 
 
Fonte: https://www.pragmatismopolitico.com.br/2012/02/vitima-de-racismo-universitario-e-
barrado-no-elevador-do-proprio-predio-onde-mora.html 
 
 
 Artigo 12 da Lei nº 7.716/89 
Impedir o acesso ou uso de transportes públicos, como aviões, navios 
barcas, barcos, ônibus, trens, metrô ou qualquer outro meio de transporte 
concedido. 
 
Pena: reclusão de um a três anos. 
 
 
O tratamento diferenciado em razão de discriminação também é repudiado nos 
meios de transporte. Há crime quando o autor impede o acesso ou uso de qualquer 
meio de transporte, podendo ocorrer o impedimento no início bem como no 
prosseguimento da viagem de quem já está dentro desse meio de transporte. 
 
 
 
Fonte: https://g1.globo.com/mg/minas-gerais/noticia/2021/10/21/mulher-negra-
denuncia-motorista-por-ataques-racistas-em-bh-nao-carrego-preto-no-carro.ghtml 
 
https://www.pragmatismopolitico.com.br/2012/02/vitima-de-racismo-universitario-e-barrado-no-elevador-do-proprio-predio-onde-mora.html
https://www.pragmatismopolitico.com.br/2012/02/vitima-de-racismo-universitario-e-barrado-no-elevador-do-proprio-predio-onde-mora.html
http://legislacao.planalto.gov.br/legisla/legislacao.nsf/Viw_Identificacao/lei%207.716-1989?OpenDocument
https://g1.globo.com/mg/minas-gerais/noticia/2021/10/21/mulher-negra-denuncia-motorista-por-ataques-racistas-em-bh-nao-carrego-preto-no-carro.ghtml
https://g1.globo.com/mg/minas-gerais/noticia/2021/10/21/mulher-negra-denuncia-motorista-por-ataques-racistas-em-bh-nao-carrego-preto-no-carro.ghtml
45 
 
 Artigo 13 da Lei nº 7.716/89 
Impedir ou obstar o acesso de alguém ao serviço em qualquer ramo das 
Forças Armadas. 
 
Pena: reclusão de dois a quatro anos. 
 
 
 O delito previsto no artigo 13 da Lei nº 7.716/89 tem como conduta típica 
impedir ou obstar o acesso de alguém ao serviço em qualquer ramo das Forças 
Armadas. 
 
 
 Artigo 14 da Lei nº 7.716/89 
Impedir ou obstar, por qualquer meio ou forma, o casamento ou convivência 
familiar e social. 
 
Pena: reclusão de dois a quatro anos. 
 
 
 
 Este crime é praticado, em regra, por familiares, em especial pais, que 
impedem ou obstam o casamento ou convivência familiar e social com pessoa em 
razão da raça. Entende-se que o casamento pode ser civil ou religioso. Já a 
convivência familiar refere-se às relações de união estável, ou a convivência de 
namoro, noivado ou amizade. A convivência social pode ser considerada qualquer 
relacionamento próximo, fora da relação familiar. 
 
 
Fonte: https://www.opovo.com.br/noticias/mundo/2021/10/26/casal-impedido-de-
namorar-por-racismo-se-reencontra-39-anos-depois-e-resolve-casar.html 
 
 
 
 
http://legislacao.planalto.gov.br/legisla/legislacao.nsf/Viw_Identificacao/lei%207.716-1989?OpenDocument
http://legislacao.planalto.gov.br/legisla/legislacao.nsf/Viw_Identificacao/lei%207.716-1989?OpenDocument
https://www.opovo.com.br/noticias/mundo/2021/10/26/casal-impedido-de-namorar-por-racismo-se-reencontra-39-anos-depois-e-resolve-casar.html
https://www.opovo.com.br/noticias/mundo/2021/10/26/casal-impedido-de-namorar-por-racismo-se-reencontra-39-anos-depois-e-resolve-casar.html
46 
 
 Artigo 20 da Lei nº 7.716/89 
 Art. 20. Praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça, 
cor, etnia, religião ou procedência nacional. 
 
Pena: reclusão de um a três anos e multa. 
 
§ 1º Fabricar, comercializar, distribuir ou veicular símbolos, emblemas, 
ornamentos, distintivos ou propaganda que utilizem a cruz suástica ou 
gamada, para fins de divulgação do nazismo. 
 
 Pena: reclusão de dois a cinco anos e multa. 
 
 § 2º Se qualquer dos crimes previstos no caput é cometido por intermédio 
dos meios de comunicação social ou publicação de qualquer natureza: 
 
 Pena: reclusão de dois a cinco anos e multa. 
 
§ 3º No caso do parágrafo anterior, o juiz poderá determinar, ouvido o 
Ministério Público ou a pedido deste, ainda antes do inquérito policial, sob 
pena de desobediência: 
 
 I - o recolhimento imediato ou a busca e apreensão dos exemplares do 
material respectivo; 
II - a cessação das respectivas transmissões radiofônicas, televisivas, 
eletrônicas ou da publicação por qualquer meio; 
III - a interdição das respectivas mensagens ou páginas de informação na 
rede mundial de computadores. 
 
 § 4º Na hipótese do § 2º, constitui efeito da condenação, após o trânsito em 
julgado da decisão, a destruição do material apreendido. 
 
O caput do artigo 20 apresenta condutas diversas em relação à discriminação e 
ao preconceito, podendo ocorrer quando a pessoa pratica, induz ou incita esta 
prática tão condenável em nossa sociedade. 
Percebe-se que esse dispositivo foi elaborado para alcançar todos os tipos de 
preconceito e discriminação que não foram tipificadosnos outros artigos citados, 
ampliando assim a eficácia da Lei de Racismo. Vale ressaltar que a maioria das 
condutas de preconceito e discriminação da lei em estudo acaba enquadrada nesse 
artigo. 
O §2° prevê uma pena mais severa quando a prática, induzimento ou incitação 
do preconceito ou discriminação ocorre por meios de comunicação social ou 
publicação de qualquer natureza. Não há dúvidas de que o dano é maior quando os 
atos de preconceito e discriminação atingem um maior número de pessoas. . 
Além disso, as formas que possibilitem a divulgação do nazismo são também 
condutas condenáveis pelo ordenamento jurídico brasileiro, conforme previsto no art. 
20, §1°. A lei determina que fabricar, comercializar, distribuir ou veicular símbolos, 
http://legislacao.planalto.gov.br/legisla/legislacao.nsf/Viw_Identificacao/lei%207.716-1989?OpenDocument
47 
 
emblemas, ornamentos, distintivos ou propaganda que utilizem a cruz suástica ou 
gamada, para fins de divulgação do nazismo, é crime. 
Vale ressaltar que, em 13 de junho de 2019, o STF julgou a ADO 26 (Ação 
Direta de Inconstitucionalidade por Omissão) e o MI (Mandado de Injunção) 4733, 
reconhecendo a mora do Congresso Nacional em legislar sobre atos atentatórios 
sobre direitos fundamentais dos integrantes das comunidades LGBTQIA+, restando 
determinada a aplicação da Lei de Racismo (Lei 7716/89) até que se edite a norma 
regulamentando sobre o assunto. 
 Além dos crimes de racismo trazidos acima, há também a injúria racial, 
prevista no art. 140, §3°, do Código Penal. 
 
Art. 140 - Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro: 
 
§ 3o Se a injúria consiste na utilização de elementos referentes a raça, cor, 
etnia, religião, origem ou a condição de pessoa idosa ou portadora de 
deficiência: 
 
Pena - reclusão de um a três anos e multa. 
 
 A injúria racial consiste na ofensa direcionada a uma pessoa, valendo-se de 
elementos referentes à raça, cor, etnia, religião ou origem. 
 
 
Fonte: https://g1.globo.com/df/distrito-federal/noticia/2020/11/23/jovem-registra-denuncia-de-
injuria-racial-e-agressao-contra-segurancas-de-bar-no-df.ghtml 
 
 
 
https://g1.globo.com/df/distrito-federal/noticia/2020/11/23/jovem-registra-denuncia-de-injuria-racial-e-agressao-contra-segurancas-de-bar-no-df.ghtml
https://g1.globo.com/df/distrito-federal/noticia/2020/11/23/jovem-registra-denuncia-de-injuria-racial-e-agressao-contra-segurancas-de-bar-no-df.ghtml
48 
 
7) DIFERENCIAÇÃO ENTRE OS CRIMES DE RACISMO E DE INJÚRIA 
RACIAL 
 
 
 Neste tópico, serão analisadas as diferenças existentes entre o crime de 
racismo e o crime de injúria racial, sem esquecer a recente decisão do Supremo 
Tribunal Federal em relação à prescrição do crime de injúria. 
 O crime de injúria é crime contra a honra de uma pessoa. Ele acontece 
quando alguém ofende a dignidade ou o decoro de um indivíduo específico. A 
conduta exigida para o cometimento do crime de injúria qualificada é o animus 
injuriandi, consistente na vontade de ofender a honra subjetiva de outra pessoa. 
Neste caso, o agente profere palavras de cunho racista direcionadas somente à 
vítima. 
 A ação penal da injúria racial é 
pública condicionada à representação da 
vítima, ou seja, exige uma manifestação de 
vontade da pessoa que sofreu a injúria, no 
prazo de seis meses a contar do dia em 
que vier a saber quem é o autor do crime, 
conforme previsto no art. 38 do Código de 
Processo Penal e art. 103 do Código 
Penal. Além disso, a injúria racial 
prescreve em oito anos e é possível o 
pagamento de fiança. 
 Por outro lado, o crime de racismo, previsto na Lei nº 7.716/1989, implica em 
conduta discriminatória dirigida a um determinado grupo ou coletividade. Não há 
uma vítima identificada, pois a ofensa é contra, por exemplo, toda uma raça, não 
existindo a especificação do ofendido. 
 Nos crimes de racismo, a ação penal é pública incondicionada, ou seja, 
cabe ao Ministério Público a legitimidade para processar o ofensor. Trata-se de 
crime inafiançável e imprescritível, conforme está previsto no 
artigo 5º da Constituição Federal. 
 
 
http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/1035120/lei-do-crime-racial-lei-7716-89
http://www.jusbrasil.com.br/topicos/10641516/artigo-5-da-constitui%C3%A7%C3%A3o-federal-de-1988
http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/155571402/constitui%C3%A7%C3%A3o-federal-constitui%C3%A7%C3%A3o-da-republica-federativa-do-brasil-1988
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 Com o objetivo de reforçar o conteúdo já trazido, segue quadro comparativo 
das principais diferenças entre o crime de racismo e de injúria racial. 
 
 
Fonte: https://www.diferenca.com/racismo-e-injuria-racial/ 
 
 Em novembro de 2021, o Supremo Tribunal Federal decidiu, durante o 
julgamento de um habeas corpus, que o crime de injúria racial configura uma 
categoria dos tipos penais de racismo e é imprescritível. 
 O habeas corpus refere-se ao caso de uma mulher idosa de 72 anos, à época 
dos fatos, que foi condenada pela Justiça do Distrito Federal a um ano de reclusão e 
Você sabia? 
Em 2003, durante o julgamento do Habeas Corpus 82.424 pelo Supremo 
Tribunal Federal (STF), a corte manteve a condenação de um livro 
publicado com ideias preconceituosas e discriminatórias contra a 
comunidade judaica, considerando, por exemplo, que o holocausto não 
teria existido. A denúncia contra o livro foi feita em 1986 por movimentos 
populares de combate ao racismo e o STF manteve a condenação por 
considerar o crime de racismo imprescritível. 
 
https://www.diferenca.com/racismo-e-injuria-racial/
https://stf.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/770347/habeas-corpus-hc-82424-rs
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dez dias-multa pela prática de injúria racial ano de 2013. O crime ocorreu no ano de 
2012 em um posto de gasolina, diante da recusa da frentista/vítima em aceitar 
cheque como forma de pagamento, 
ocasião em que a autora proferiu os 
seguintes dizeres “negrinha nojenta, 
ignorante e atrevida”. 
 A defesa da autora solicitou a 
extinção da punibilidade em razão da 
prescrição do crime, considerando a 
idade da mesma. 
 Segundo ministro Edson Fachin, 
com a alteração legal que tornou 
pública condicionada (que depende de 
representação da vítima) a ação penal 
para processar e julgar os delitos de injúria racial, o crime passou a ser equivalente 
ao de racismo e, portanto, imprescritível, conforme previsto na Constituição Federal 
(artigo 5º, inciso LXII). 
 Então, a partir desta decisão do STF, a injúria racial tem sido considerada 
também imprescritível. 
 
 
 O projeto de lei n° 4.566/2021 em tramitação, já aprovado pelo Senado 
Federal no dia 18/05/2022, incluiu a injúria racial à Lei do Racismo, retirando-a do 
Código Penal. A proposta prevê o aumento de pena para casos de injúria, que hoje 
é de um a três anos, para dois a cinco anos de prisão, além do pagamento de multa. 
O crime também passa a ser imprescritível e inafiançável. 
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 A seguir encontra-se o texto do citado projeto de lei: 
 
Art. 2º-A. Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro, em razão 
de raça, cor, etnia ou procedência nacional. Pena: reclusão, de dois a cinco 
anos, e multa. 
 
Parágrafo único. A pena é aumentada de metade se o crime é cometido 
mediante concurso de duas ou mais pessoas. 
 
 O projeto também prevê que a pena por injúria será aumentada pela metade 
se o crime for cometido por duas ou mais pessoas. 
 De acordo com o projeto, os crimes de racismo, incluindo o de injúria, terão a 
pena aumentada em um terço até a metade se cometido em um contexto ou com o 
intuito de “descontração, diversão ou recreação”. 
 Também terá a pena aumentada em um terço até a metade quando praticado 
por funcionário público no exercício de suas funções ou a pretexto de exercê-las. 
 
Art. 20-A. Os crimes previstos nesta Lei terão as penas aumentadas de 1/3 
(um terço) até a metade, quando ocorrerem em contexto ou com intuito

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