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POLÍCIA CIVIL DE MINAS GERAIS ACADEMIA DE POLÍCIA CIVIL DE MINAS GERAIS RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS NO BRASIL Administração: Dra. Cinara Maria Moreira Liberal Belo Horizonte - 2022 2 RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS NO BRASIL Coordenação Geral Dra. Cinara Maria Moreira Liberal Subcoordenação Geral Dr. Marcelo Carvalho Ferreira Coordenação Didático-Pedagógica Rita Rosa Nobre Mizerani Coordenação Técnica Dr. Luiz Fernando da Silva Leitão Conteudistas: Isabella Franca Oliveira Nayara Ferreira de Souza Saraiva Produção do Material: Polícia Civil de Minas Gerais Revisão e Edição: Divisão Psicopedagógica - Academia de Polícia Civil de Minas Gerais Reprodução Proibida 3 SUMÁRIO UNIDADE 1 ............................................................................................................. 4 1) REFLEXÕES INICIAIS ..................................................................................... 4 2) CONCEITOS IMPORTANTES .......................................................................... 6 3) QUESTÃO RACIAL NO BRASIL .................................................................... 14 4) DADOS SOBRE RAÇA NO BRASIL............................................................... 20 UNIDADE 2 ........................................................................................................... 28 5) MARCOS LEGAIS ANTIRRACISMO .............................................................. 28 6) CONDUTAS RELACIONADAS À RAÇA QUE SÃO CONSIDERADAS CRIMES NO BRASIL ............................................................................................ 36 7) DIFERENCIAÇÃO ENTRE OS CRIMES DE RACISMO E DE INJÚRIA RACIAL ................................................................................................................. 48 UNIDADE 3 ........................................................................................................... 52 8) A IMPORTÂNCIA DE POLÍTICAS AFIRMATIVAS PARA IGUALDADE RACIAL ................................................................................................................. 52 9) QUAIS PROVIDÊNCIAS DEVEM SER ADOTADAS EM CASO DE PRECONCEITO E DISCRIMINAÇÃO DECORRENTE DA RAÇA ........................ 57 10) EQUIPAMENTOS EXISTENTES NA PROMOÇÃO DA IGUALDADE RACIAL60 11) CONCLUSÃO ................................................................................................. 65 REFERÊNCIAS ..................................................................................................... 66 4 UNIDADE 1 1) REFLEXÕES INICIAIS Neste curso, teremos a oportunidade de abordar aspectos importantes ao entendimento das relações étnico-raciais em nosso país. Ainda que a Lei nº 7.716, de 05 de janeiro de 1989, que define os crimes resultantes de preconceito de raça e cor, etnia, religião ou procedência nacional, tenha completado mais de 30 anos de existência, vivemos em uma nação que enfrenta um significativo cenário de desigualdade racial e de vulnerabilização da população negra. Segundo o Atlas da Violência, no ano de 2020, 76,2% das pessoas assassinadas em nosso país eram negras, sendo que, se contabilizarmos as pessoas negras mortas em uma década em nosso país, teremos um número que equivale à dizimação da população da cidade de Palmas, no Tocantins, de 405.811 pessoas Assim, primeiramente conheceremos conceitos-chave utilizados em nosso país quando nos referimos a pretos e pardos, como: raça, etnia, racismo, preconceito e discriminação racial. Ademais, discutiremos como a questão racial delineou-se no Brasil e porque trata- se de uma temática que não deve ser exclusiva ao povo negro. Em seguida, por meio do estudo de dados estatísticos sobre raça no Brasil, compreenderemos alguns dos obstáculos que desafiam o princípio da igualdade para uma representativa parcela da nossa sociedade e a consequente violência que vitimiza a população negra. 5 Depois, perpassaremos por alguns marcos legais contra o racismo no Brasil. E, por fim, examinaremos o que diferencia o crime de racismo e de injúria racial, bem como algumas orientações quanto às providências a serem adotadas caso a pessoa sofra, presencie ou tome conhecimento de algum ato de racismo. Acreditamos que o conhecimento compartilhado nesta disciplina possa contribuir para o entendimento da questão social, que figura como pano de fundo para parcela significativa das violências praticadas em nosso país contra a população negra, bem como os aspectos legais envolvidos. 6 2) CONCEITOS IMPORTANTES Antes de iniciarmos qualquer discussão acerca das relações étnico-raciais no Brasil, é importante que tenhamos em mente qual a definição desse conceito e também de outros relacionados. Para isso, utilizaremos, principalmente, as reflexões apresentadas pela professora Nilma Lino Gomes, no texto intitulado “Alguns termos e conceitos presentes no debate sobre relações raciais no Brasil: uma breve discussão”. Gomes (2005) dialoga com os movimentos sociais a fim de apresentar conceitos-chave utilizados em nosso país quando nos referimos a pretos e pardos. Lembrando que, conforme convencionado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em nosso país categorizamos como negras pessoas que se autodeclaram pretas ou pardas. Para apresentar o conceito de identidade negra, a autora nos diz que a identidade de um modo geral não é algo inato, mas sim está relacionada com nossa interação com o mundo que nos cerca. Ela se expressa por meio de práticas linguísticas, tradições e comportamentos. Porém, alguns grupos de nossa sociedade segregados historicamente, como negros e índios, precisam enfatizar suas diferenças em relação aos demais indivíduos, a fim de fortalecerem sua própria identidade perante o grupo do qual fazem parte e para que sejam reconhecidos por toda a sociedade. A identidade negra delineia-se então desse modo. A construção da identidade do povo negro, assim como outros processos identitários, dá-se, gradativamente, sob a influência de fatores sociais, históricos e culturais diversos. Segundo Gomes (2005, p.43) "geralmente este processo se inicia na família e vai criando ramificações e desdobramentos a partir das outras relações que o sujeito estabelece". A autora ressalta o quanto pode ser difícil construir uma identidade positiva em uma sociedade que, desde muito cedo, ensina às pessoas negras que para ser aceito é preciso negar a si mesmo. 7 A utilização do termo raça pode assumir vários sentidos, a depender do contexto no qual é aplicado, quem fala e quando fala. Quando o Movimento Negro e especialistas da área, como sociólogos e psicólogos sociais, utilizam o conceito para dialogar sobre fenômenos como o racismo e a discriminação presentes na sociedade brasileira, o fazem baseando- se na dimensão social e política do termo e não alicerçados na ideia de superioridade e inferioridade biológica, como originalmente era usada no século XIX. Ou seja, o conceito é utilizado para retratar e compreender a realidade das pessoas negras. (GOMES, 2010). Raças são, então, construções sociais, políticas e culturais que emergem nas relações sociais e de poder. Culturalmente e socialmente nós aprendemos a enxergar as raças, ou seja, aprendemos a perceber as diferenças, a comparar e a classificar a partir de características físicas, como afirma Gomes (2005). O problema está no fato de que aprendemos também a hierarquizá-las. O emprego do termo etnia faz-se por algumas pessoas que acreditam que a utilização do conceito de raça, mesmo em uma dimensão social e política, podesignificar aproximação à sua perspectiva biológica. O termo é utilizado para referir-se a um grupo de pessoas que têm certo tipo de consciência acerca de suas origens e interesses em comum. (GOMES, 2010) A identidade desse grupo define-se com base, então, por meio do compartilhamento de uma língua, de uma cultura, de tradições, de momentos históricos e territórios já habitados (BOBBIO, 1992 apud GOMES, 2010). Não se trata, assim, de um mero agrupamento de pessoas. (CASHMORE, 2000 apud GOMES, 2010). A aplicação da expressão étnico- racial acaba significando que, para compreensão da realidade do negro em nossa sociedade é preciso considerar, além 8 da classificação racial pautada em características físicas, também a dimensão identitária. (GOMES, 2010). Assim, chamamos de relações étnico -raciais aquelas construídas - no processo histórico, social, político, econômico e cultural - em contextos nos quais a raça, em sua dimensão social e política, é utilizada como forma de demarcação das diferenças entre as pessoas. Conforme nos lembra Gomes (2010), para uma análise profunda das relações étnico-raciais é preciso ter em mente que os sujeitos vivem diferentes processos identitários, os quais interferem no modo como é construído seu pertencimento étnico-racial. Por exemplo, a identificação de uma criança negra com outras pessoas negras e com a cultura e história de seus antepassados pode ser influenciada pela maneira como a temática é trazida a ela, ou seja, como os aspectos étnico-raciais são vivenciados no dia-a-dia. Acerca do conceito de racismo, Gomes (2005) traz a seguinte definição: por um lado, trata-se de aversão, e até ódio, direcionado a pessoas nas quais se observa sinais de pertencimento racial, tais como cor de pele e tipo de cabelo, e, por outro lado, diz respeito a um conjunto de ideias de grupos que acreditam na existência de hierarquia entre as raças. O racismo pode ser individual e institucional. Na forma individual, ele pode atingir níveis de agressão de extrema violência, quando indivíduos cometem atos discriminatórios contra outros indivíduos. Como exemplo, podemos citar um episódio, veiculado na mídia, vivido por uma criança de 10 anos em uma praia no estado do Rio de Janeiro. Ela vestia uma fantasia de sereia para um ensaio fotográfico em um cenário do filme “A Pequena Sereia”, quando ouviu de um indivíduo a frase “Nunca vi sereia preta”. Fonte: https://catracalivre.com.br/cidadania/menina-sofre-injuria-racial-em- praia-no-rj-nunca-vi-sereia-preta/ https://catracalivre.com.br/cidadania/menina-sofre-injuria-racial-em-praia-no-rj-nunca-vi-sereia-preta/ https://catracalivre.com.br/cidadania/menina-sofre-injuria-racial-em-praia-no-rj-nunca-vi-sereia-preta/ 9 Em sua forma institucional, o conceito de racismo diz respeito a práticas discriminatórias promovidas pelo Estado ou com seu apoio indireto, como o isolamento de negros em determinados bairros, como imagens estereotipadas de personagens negros em livros didáticos e divulgação de publicidade que retrata negros de maneira indevida (BORGES, MEDEIROS & D'ADESKY, 2002, apud GOMES, 2005). Faz-se importante acrescentar às reflexões de Gomes (2005) a perspectiva do racismo estrutural discutido por Silvio Almeida (2019). De acordo com o autor, o racismo estrutural aproxima-se do institucional na medida em que "as instituições são racistas porque a sociedade é racista" (ALMEIDA, 2019, P. 31). Ou seja, o conceito diz respeito à prática do racismo que decorre da própria estrutura social, a qual é consolidada nas relações políticas, econômicas, jurídicas e até cotidianas. Por exemplo, quando uma empresa, a despeito de seus atributos pessoais e profissionais, deixa de contratar uma mulher ou homem negros em razão da cor de sua pele, assim o faz reproduzindo uma ordem social. No entanto, segundo Almeida (2019), entender o fenômeno como estrutural não isenta os racistas de sua responsabilidade quanto a atos de intolerância praticados, pelo contrário, compreender que o racismo é parte de uma estrutura social e não um ato isolado torna todos ainda mais responsáveis pelo seu enfrentamento. Na prática, o racismo estrutural está presente no nosso cotidiano de muitas maneiras, como, por exemplo: 10 ● quando, independente do seu nível de instrução, a remuneração da população negra é inferior ao valor pago à população branca; ● quando não encontramos pessoas negras em cargos de liderança; ● quando a população negra é a mais assassinada no país; ● ao nos depararmos com uma escassez de produções culturais, cujo o papel de destaque é de uma pessoa negra, como em filmes e novelas; ● no preconceito em relação às religiões de matriz africana; ● em nosso círculo social, quando fazemos e/ou toleramos piadas de cunho racial ou utilizamos frases que inferiorizam os negros; ou ● quando, automaticamente, um homem negro se torna sinônimo de perigo e acaba sendo vítima de violência. Entendendo, então, que o racismo é sofrido por quem não domina as posições de mando, não é possível afirmar a existência do racismo reverso, ou seja, não é razoável pensar que negros pratiquem racismo contra brancos, uma vez que as posições de privilégio em nossa sociedade são historicamente ocupadas por pessoas brancas. 11 Acerca dos demais conceitos, Gomes (2005) diferencia, ainda, preconceito e discriminação racial. O preconceito racial manifesta-se por meio de julgamento prévio e negativo de indivíduos que compõem um grupo étnico-racial. Trata-se de uma opinião formada sem conhecimento dos fatos ou sem qualquer ponderação, por isso ninguém gosta de assumir-se preconceituoso. É importante saber que nós não nascemos assim, o preconceito é aprendido socialmente. O conceito de discriminação racial, por sua vez, pode ser definido como a efetivação do preconceito racial e do racismo. Conforme nos ensina Gomes (2005, p.55), "enquanto o racismo e o preconceito encontram-se no âmbito das doutrinas e dos julgamentos, das concepções de mundo e das crenças, a discriminação é a adoção de práticas que os efetivam". Ela pode ser ainda diferenciada como direta e indireta, segundo Luciana Jaccoud e Nathalie Begin (2002 apud GOMES, 2005). A forma direta deriva de atos concretos de discriminação de uma pessoa, expressamente, em razão de sua cor - como no mencionado episódio de xingamento à criança de 10 anos no Rio de Janeiro -, enquanto a forma indireta resulta de políticas públicas ou práticas administrativas que, apesar de aparentemente neutras, possuem potencial discriminatório. Ela pode ser identificada "quando os resultados de determinados indicadores socioeconômicos são sistematicamente desfavoráveis para um subgrupo racialmente definido em face dos resultados médios da população” (GOMES, 2005, p. 56). Nós não nascemos preconceituosos! 12 Resumindo... Identidade: é expressa por meio de práticas linguísticas, tradições e comportamentos. É construída a partir da interação com o mundo que nos cerca. Raça: trata-se de um termo, construído a partir de um contexto social, político e cultural, que estabelece diferenças e classifica grupos humanos a partir de suas características físicas e, portanto, arbitrário. Etnia: refere-se a um grupo de pessoas que possui certo tipo de consciência acerca de suas origens e interesses em comum, compartilhando uma identidade. Racismo: trata-se da aversão, e até ódio, direcionado a pessoas nas quais se observa sinais de pertencimento racial, tais como cor de pele e tipo de cabelo, bem como trata-se de um conjunto de ideias de grupos que acreditam na existência de hierarquia entre as raças. Relações Étnico-Raciais: tratam-se daquelas relações construídas - no processo histórico, social, político, econômico e cultural - emcontextos nos quais a raça, em sua dimensão social e política, é utilizada como forma de demarcação das diferenças entre as pessoas. Discriminação racial: trata-se da adoção de práticas que efetivam o racismo e o preconceito racial. Preconceito racial: trata-se de uma opinião, formada sem conhecimento dos fatos ou sem qualquer ponderação, sobre indivíduos que compõem um grupo étnico-racial. 13 Veja outros conceitos importantes! Uma vez tendo repassado conceitos fundamentais à compreensão da questão racial em nosso país, partimos ao estudo do percurso histórico do tema até os dias de hoje. 14 3) QUESTÃO RACIAL NO BRASIL Para discutirmos a questão racial no Brasil é preciso voltar na história, a fim de compreender porque o contexto brasileiro de racismo, preconceito e discriminação está tão relacionado a acontecimentos que extrapolam sua geografia, bem como porque a discussão da temática racial não deve ser exclusiva ao povo negro. Trata-se de questão social, política e cultural de todos/as os/as brasileiros/as e também da comunidade internacional (GOMES, 2005). Dois fatos históricos importantes ocorridos no século XIX são responsáveis por trazer à tona a conceituação de raça e a prática do racismo, foram eles: a consolidação dos Estados Nacionais como forma primordial de ordenamento político e territorial - o que transparecia a emergência do capitalismo e de um sistema de classes que exigia reordenamento de grupos sociais -, e o imperialismo europeu que, a partir de sua expansão, pressupunha relações intensificadas da Europa com os outros povos. (HEILBORN et al, 2010). A partir desse momento, os países, caracterizados como Estados Nacionais, precisavam solidificar suas bases culturais, bases estas que deveriam cumprir o papel de criar nas pessoas um sentimento de pertença à nação. Ou seja, elas deveriam reconhecer-se como pertencentes a um mesmo grupo, com os mesmos costumes. E foi nesse contexto que o conceito de raça assumiu uma gama de significados, os quais caracterizavam uma noção de “raça nacional” (HEILBORN et al, 2010). No entanto, como nos lembram Heilborn et al (2010), unificar povos implicava no fato de dar à nação uma origem comum, ratificada na história, o que acabou por afastar para a periferia, ou até mesmo por expulsar dos territórios, aqueles grupos que não se enquadravam no modelo de história e tradições idealizado, fato que amplificou a ideia de que as raças europeias eram superiores às Estado-Nacional: também chamado de Estado-Nação, é constituído por um povo que partilha uma etnia e uma história comum e que busca controlar um território. É a forma de poder territorial que se impôs nas sociedades modernas a partir da revolução capitalista em substituição aos feudos e principalmente aos impérios antigos. (BRESSER-PEREIRA, 2017) Imperialismo: refere-se a um país hegemônico governando um outro território. 15 demais e deu força para teorias raciais que justificavam cientificamente tal superioridade. O que poderíamos chamar de colonização do “Novo Mundo” traz a marca do que significou para a população africana a utilização do conceito de raça como segregador e as severidades das práticas racistas aplicadas naquela época. O tráfico de negros para as Américas os associava à inferioridade da condição de escravizados. As pessoas negras eram comercializadas sob o pretexto de sua animalidade, uma vez que teorias que explicavam a hierarquização humana as classificavam como pertencentes a uma raça degenerada, fruto de um suposto cruzamento entre brancos e macacos, ou pela transformação causada pelo clima no escurecimento da pele. (HEILBORN et al, 2010). Desde a colonização das Américas, as discussões sobre o conceito de raça têm evoluído por campos diversos. Durante muitos anos o uso do termo, seja nas ciências, na política ou na sociedade, esteve ligado de um modo geral à dominação político-cultural de povo e de nações, como a exemplo do domínio nazista da Alemanha no contexto da Segunda Guerra Mundial (1939-1945). (GOMES, 2005). A ideia vigente era a de que a raça branca e ariana era superior às outras raças em termos biológicos, sociais e culturais. Muitas atrocidades foram cometidas em nome dessa suposta hierarquização das raças. Somente no final da Segunda Guerra Mundial as discussões assumiram definitivamente um viés político e sociológico. Criada pela Organização das Nações Unidas (ONU) para investigar as motivações raciais da guerra, a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) introduziu no campo científico estudos que Colonização: trata-se da implantação de colônias em um território distante, sendo quase sempre uma consequência do imperalismo. (TOLLER, 2007). Novo Mundo: como eram chamadas as Américas pelos colonizadores europeus. Segunda Guerra Mundial: conflito militar ocorrido entre os anos de 1939 e 1945 que resultou na morte de milhões de pessoas. Teve como causa principal o expansionismo territorial da Alemanha, a qual era governada por Adolf Hitler, líder do partido nazista. Este preconizava o ideal de uma raça biológica pura, ou seja, sem miscigenação, denominada ariana. 16 comprovaram a diversidade de culturas humanas, bem como a legitimidade da existência das mesmas. (HEILBORN et al, 2010). Falaremos sobre tais estudos mais adiante. A questão racial no país só passou a ser de alguma forma tematizada a partir do século XIX, às vésperas da abolição da escravização. No final do século esteve em voga no mundo o darwinismo racial, cujo principal expoente brasileiro era o médico Raimundo Nina Rodrigues. Segundo essa corrente teórica, as raças biológicas, por corresponderem a realidades diversas, não seriam passíveis de cruzamento, assim a miscigenação representaria a degradação humana (SCHWARCZ, 1998). Foi então que, a partir da associação com tal teoria, passou-se a incentivar, por meio da massiva imigração europeia, um branqueamento da população brasileira a fim de purificar e salvar o país até então constituído por uma maioria negra, indígena e mestiça (HEILBORN et al, 2010). Transcorrido o ápice do ideal de branqueamento da nação, na década de 1930 o mestiço converteu-se em ícone nacional. Passou-se, então, à valorização do sincretismo cultural, de produtos como o samba, a capoeira - a qual foi de ato criminoso à modalidade esportiva nacional em 1937 -, bem como a feijoada - considerada a partir de então prato típico da culinária brasileira. (SCHWARCZ, 1998). É nesse contexto que intelectuais começaram a propagar a ideia de uma harmonia entre grupos étnico-raciais, ou seja, uma "democracia racial". A obra de Gilberto Freire é um exemplo da produção da época. Em seu livro “Casa Grande & Senzala”, publicado no ano de 1933, o escritor pernambucano Gilberto Freire defende a predominância no Brasil de uma democracia social pautada em uma democracia racial. O livro aborda o cotidiano com manuscritos e documentos que descrevem os costumes e Darwinismo racial: Segundo essa corrente teórica, as raças biológicas, por corresponderem a realidades diversas, não seriam passíveis de cruzamento, assim a miscigenação representaria a degradação humana. Miscigenação: trata-se da mistura genética entre os diferentes grupos étnico-raciais. Democracia racial: ideia de harmonia entre os grupos étnico-raciais. 17 hábitos das pessoas durante a escravização e desloca, pela primeira vez, o foco da raça biológica para a raça social. (BASTOS, 1999). Para Freire, a miscigenação entre senhores e mulheres escravizadas - ocorrida durante a colonização -, podia ser tomada como prova da aceitação de uma raça pela outra e, assim, ela e a democracia podiam ser relacionadas. Ademais, segundoo escritor, os negros escravizados cristianizados e que frequentavam a casa-grande eram como parte da família e, nesse contexto, transmitiam suas próprias características culturais aos senhores. (BASTOS, 1999). Desse modo, ao longo das décadas, a negação do preconceito foi tamanha que era "como se as posições sociais desiguais fossem quase um desígnio da natureza, e atitudes racistas, minoritárias e excepcionais" (SCHWARCZ, 1998, p. 179). A partir dos anos de 1950 foram financiados pela UNESCO estudos acerca da suposta "democracia racial" no Brasil a qual poderia, inclusive, servir de modelo para outras partes do mundo. (SCHWARCZ, 1998). Vários especialistas foram contratados para investigar a realidade racial brasileira, entre eles Thales de Azevedo e Florestan Fernandes. Os chamados “ciclos de estudos da UNESCO” diferenciavam-se dos estudos anteriores, sobretudo, por desprezarem a concepção biologizada de raça, em voga no século XIX nos países da Europa e considerarem o termo como um construto social, histórico e político, como ressaltam Heilborn et al (2010). Passava a ser descortinada a verdadeira realidade enfrentada pela população negra no país. Com base no argumento de que no país prevaleceria a equidade racial, o escritor e pesquisador Thales de Azevedo (1975) realizou estudos que evidenciaram o racismo em diversos âmbitos, tais como no mundo do trabalho - eram relegadas aos negros as funções mais subalternas -, e nas relações sociais - não era permitido ao negro entrar em certos hotéis ou encenar peças teatrais em grandes teatros, por 18 exemplo. Assim, Azevedo (1975) acabou por concluir que, apesar de normas democráticas que asseguravam a punição de atos discriminatórios, como a Lei Afonso Arinos, havia na sociedade uma forte estereotipagem contra as pessoas negras, o que favorecia uma discriminação velada socialmente muito eficaz à manutenção do mito da “democracia racial". Também na contramão daqueles que afirmavam a equidade racial no brasil, o sociólogo Florestan Fernandes, em seu livro “O Negro no Mundo dos Brancos” (1972), ressaltou o peso do passado de escravização dos povos africanos no modo como a sociedade brasileira organizou-se anos depois. Para Florestan, enquanto dissimulava-se o preconceito racial, negando o racismo verdadeiramente praticado nos lares e instituições, a sociedade brasileira assistia ao aumento de privilégios econômicos, sociais e culturais dos brancos. (SCHWARCZ, 1998). Naquele contexto, sem emprego, renda ou escolarização, restava ao negro um lugar de subalternização. Junto com as décadas de 1970 e 1980 vieram as contestações na política, na música e na literatura dos valores vigentes, bem como as análises das profundas desigualdades entre os negros e demais grupos raciais. (SCHWARCZ, 1998). Ficou evidenciada a discriminação racial que impactava cotidianamente no acesso à educação e ao lazer e na distribuição desigual de renda. O senso demográfico realizado na década de 1960 comprovou, por exemplo, que a renda média da população branca era o dobro da renda do restante da população. (SCHWARCZ, 1998). A desigualdade racial podia ser percebida, ainda, nas práticas Estereótipo: trata-se de uma ideia preconcebida, de modo superficial, sobre algo ou alguém. Lei Afonso Arinos: Lei nº 1390, de 3 de julho de 1951, que incluiu entre as contravenções penais a prática de atos resultantes de preconceitos de raça ou de cor. Subalternização = Interiorização 19 penais brasileiras. Pesquisa realizada pelo sociólogo Sergio Adorno constatou tratamento diferenciado conforme cor da pele, ou seja, o negro era considerado mais perigoso, sendo mais perseguido pela vigilância policial, enfrentando maiores obstáculos de acesso à justiça criminal, bem como recebendo tratamento penal mais rigoroso. (SCHWARCZ, 1998). O que se observa, então, é um país culturalmente diverso, com grande assimilação de traços culturais dos povos africanos colonizados, porém, bastante marcado por uma hierarquização social que promoveu, ao longo de séculos, a inferiorização da população negra. Pesquisas e estatísticas oficiais comprovam a lamentável existência do racismo em nossa sociedade, por mais que a sociedade insista em negá-lo. Os dados comprovam o abismo social entre negros e brancos quando comparadas as condições de vida, emprego, saúde, escolaridade e outros índices de desenvolvimento humano. (GOMES, 2005). A seguir, observaremos algumas informações que revelam a desigualdade socioeconômica que atinge a população negra no Brasil. 20 4) DADOS SOBRE RAÇA NO BRASIL Segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua) do ano de 2019, pretos ou pardos correspondem a maioria da população brasileira, representando 56,2% dos habitantes. E essa representativa parcela da nossa sociedade convive diariamente com obstáculos, que desafiam o princípio da igualdade, resultantes de um duro processo histórico do qual tratamos na unidade anterior. Trata-se de exemplos claros da discriminação racial indireta, referida pela professora Nilma Lino Gomes (2005), que reverberam o racismo estrutural. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), pretos ou pardos compõem a maior parte da força de trabalho do Brasil, porém, no ano de 2018, eles somavam cerca de ⅔ dos desocupados (64,2%) e dos subutilizados (66,1%) na força de trabalho. E, mesmo se comparado aos vários níveis de instrução, as desvantagens desse grupo populacional se mantêm no mercado de trabalho. Fonte: IBGE, Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua 2018. Nota: Pessoas de 14 ou mais anos de idade. A participação de pretos ou pardos também é maior em se tratando do trabalho informal. Lembramos que a informalidade do trabalho pode expor o trabalhador à condições precárias de trabalho, além de dificultar o acesso aos direitos básicos, como aposentadoria e salário mínimo (IBGE, 2019b). No mesmo 56,2% da população brasileira é preta ou parda Desocupados: pessoas que não exercem qualquer atividade remunerada. Subutilizados: pessoas desocupadas, que trabalham menos horas do que gostariam e aquelas que não procuram por emprego, mas gostariam de trabalhar. 21 ano de 2018, enquanto 34,6% das pessoas ocupadas brancas estavam em ocupações informais, o percentual entre as pretas ou pardas atingiu 47,3%, segundo dados do IBGE. Se pararmos para observar a remuneração da população preta ou parda em nosso país, chegamos à conclusão que, independente do seu nível de instrução, ela é inferior ao valor pago à população branca, o qual é 45% maior (IBGE, 2019b). E a situação de desigualdade se mantém em se tratando de cargos de chefia. Ainda segundo levantamento realizado no ano de 2018, apenas nas regiões Norte e Nordeste há uma maior proporção de pretos ou pardos em cargos de gerência (61,1%), nas demais há uma sub- representatividade (29,9%). A remuneração paga à população branca é 45% maior que àquela paga à população negra. 22 No que diz respeito à moradia em nosso país, pretos ou pardos compõem parcela prioritária da população que reside em condições precárias de saneamento básico, estando mais exposto a doenças: 12,5% em locais sem coleta de lixo, contra 6,0% da população branca; 17,9% sem abastecimento geral, contra 11,5% da população branca; 42,8% sem esgotamento sanitário por rede coletora ou pluvial, contra 26,5% da população branca (IBGE, 2019b). Ao analisarmos os dados de 2018 do IBGE sobre educação, uma taxa de analfabetismo da população com 15 anos ou mais, de 9,1% para pretos ou pardos contra 3,9% para brancos, caracteriza uma desigualdade das oportunidades tambémnesse campo. Sendo a situação mais grave para aqueles que residem no campo (20,7%). Ademais, a proporção de jovens brancos de 18 a 24 anos de idade que frequentavam ou já haviam concluído o ensino superior (36,1%) é quase o dobro da observada entre aqueles pretos ou pardos (18,3%). 23 O levantamento de 2018 ainda revela que a proporção de pessoas pretas ou pardas de 18 a 24 anos de idade, com menos de 11 anos de estudo e que não frequenta- vam escola, foi de 28,8%, mas a proporção de pessoas brancas, na mesma situação, foi de 17,4%, bem menor. Acerca dessa mesma faixa etária, 55,6% de jovens pretos ou pardos puderam ser vistos cursando o ensino superior, contra a proporção de 78% de estudantes brancos. A diferença em relação a essa taxa pode ser explicada, justamente, pela parcela da população que não concluiu o ensino médio ou que precisou trabalhar. No ano de 2018, 61,8% desses estudantes que precisaram entrar no mercado de trabalho após a conclusão do ensino médio eram pretos ou pardos. A desigualdade racial denunciada pelos dados explicitados, por si só, já pode ser considerada uma violência racial, uma vez que, quando a sociedade nega e priva de oportunidades indivíduos, obedecendo a uma lógica racista, também perpetua um ato de violência. Trata-se da face simbólica de um fenômeno que constitui pano de fundo para a violência física 55,6% de jovens negros cursaram o ensino superior, contra a proporção de 78% de jovens brancos 24 infligida a essa parcela da população brasileira. E se nos debruçarmos sobre os dados de violência fatal, chegaremos a conclusões alarmantes. A população preta e parda é a mais assassinada no país. Segundo dados do Atlas da Violência (IPEA, 2021), no ano de 2019, os negros representaram 77% das vítimas de homicídios. Comparativamente, a taxa de violência letal contra pessoas negras foi 162% maior se comparada à infligida às pessoas não negras. Ainda segundo o documento, publicado pelo Fórum Nacional de Segurança Pública no ano de 2021, entre os anos de 2009 e 2019 a redução dos homicídios foi muito maior entre a população não negra. Houve uma redução de 15,5% entre negros e 30,5 entre não negros. Fonte: IBGE, Atlas da Violência, 2021. Tal disparidade estatística, como já pudemos discutir, é um retrato da vulnerabilidade socioeconômica da população negra do país. Juntos, fatores como os índices de pobreza, a baixa escolarização, o desemprego, as deficiências de políticas específicas (IPEA, 2021), bem como a reprodução de estratégias baseadas em critérios raciais e em preconceitos sociais que tornam essa população o alvo preferencial das ações das instituições da justiça criminal, como a polícia, No ano de 2019, 77% das vítimas de homicídio eram negras. Não negros: amarelos, brancos e indígenas 25 (SINHORETTO, BATITUTTI MOTA, 2014 apud IPEA, 2021), reforçam o quadro discriminatório. Os dados não mentem. Se pararmos para uma breve análise, chegaremos à conclusão mais temida, no sentido que vivemos sim em uma sociedade racista, que a todos os anos assiste à perpetuação de práticas racistas e, consequente, à recorrência e ao aumento da violência às pessoas pretas e pardas de nosso país. O que podemos fazer em relação a essa triste realidade? Cabe a todos nós assumirmos uma posição antirracista, ou seja, contrária à perpetuação de práticas racistas que inviabilizam a cidadania de tantas pessoas. A escritora Djamila Ribeiro no livro "Pequeno Manual Antirracista", publicado no ano de 2019, oferece ao leitor uma importante perspectiva quanto a práticas norteadoras de uma conduta antirracista. Assim, entre outros aspectos, Ribeiro (2019) ressalta a necessidade de nos informarmos sobre o racismo praticado em nosso país e conversarmos sobre o tema na família, na comunidade e no trabalho, bem como refletirmos sobre o racismo que está internalizado em nós mesmos e que é expresso, por exemplo, na nossa tolerância a expressões racistas como "ela é negra, mas é bonita" ou "negro de alma branca". A seguir, conheceremos algumas leis que integram o rol de ações afirmativas no campo do Direito. Elas representam marcos legais nacionais e internacionais na coibição e punição do crime de racismo, e resultam da luta antirracista do Movimento Negro e dos demais grupos e organizações pela superação da desigualdade, que atinge historicamente o povo negro. 26 27 28 UNIDADE 2 5) MARCOS LEGAIS ANTIRRACISMO Ninguém nasce odiando o outro pela cor de sua pele, ou por sua origem, ou sua religião. Para odiar as pessoas precisam aprender, e se elas aprendem a odiar, podem ser ensinadas a amar. Nelson Mandela, “O longo caminho para a liberdade”, 1994 Em 3 de julho de 1951, foi publicada a Lei n° 1.390, conhecida como Lei Afonso Arinos, a qual foi a primeira lei específica regulamentando a questão racial no Brasil e incluiu entre as contravenções penais a prática de atos resultantes de preconceitos de raça ou de cor. A referida lei foi inspirada num episódio de discriminação racial ocorrido em 1950, em um Hotel de São Paulo, sofrida por cidadã negra norte-americana, a bailarina Katherine Dunham, a qual, em excursão, foi impedida de se hospedar no Hotel Serrador. A imprensa brasileira não deu importância ao caso, mas a repercussão no exterior foi muito negativa. De acordo com a citada lei, era considerada contravenção penal a recusa, por parte de estabelecimento comercial ou de ensino de qualquer natureza, de hospedar, servir, atender ou receber cliente, comprador ou aluno, por preconceito de raça ou de cor. Como as condutas de racismo eram consideradas contravenções penais, as penalidades previstas na Lei eram muito baixas. Desta forma, durante os 37 anos de vigência da legislação, nenhuma pessoa foi presa em razão da prática de tais delitos, todavia, devemos ressaltar a importância da legislação, pois trouxe à tona o tema “racismo”, alertando a sociedade que racismo era crime. 29 Em 1985, no dia 20 de dezembro, a Lei 1.390 foi alterada pela Lei 7.437, que incluiu, entre as contravenções penais, a prática de atos resultantes de preconceito de raça, de cor, de sexo ou de estado civil. Em 1988, foi promulgada a nossa Constituição Federal, a qual prevê que a República Federativa do Brasil constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como um dos fundamentos a dignidade da pessoa humana. Um dos objetivos fundamentais trazido na Carta Magna é construir uma sociedade livre, justa e solidária e promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação. No artigo 4° da Constituição Federal há previsão de que a República Federativa do Brasil rege-se nas suas relações internacionais por diversos princípios, dentre eles o de repúdio ao racismo. Ademais, o art. 5º dispõe que todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, e prevê que a prática do racismo constitui crime inafiançável e imprescritível, sujeito à pena de reclusão, nos termos da lei. No ano seguinte, em 5 de janeiro de 1989, entrou em vigor a Lei nº 7.716, que define os crimes resultantes de preconceito de raça ou de cor. A lei estabelece penalidades para diversas situações de discriminação, inclusive práticas de incitação à discriminação ou preconceito, que serão estudadas a seguir. Portanto, essa é a lei que prevê o crime de racismo, isto é, a discriminação racial praticada contra uma coletividade e que tornou o racismo crime imprescritível e inafiançável. A Lei nº 7.716/89 foi posteriormente alterada pela Lei n° 9.459, de1997, que acrescentou a punição à discriminação e à incitação à discriminação por etnia, religião ou procedência nacional. A Lei nº 9.459/1997 ainda criou a injúria racial, um tipo qualificado de injúria no Código Penal, que será estudado com mais detalhes posteriormente. http://www.planalto.gov.br/cciVil_03/LEIS/L7437.htm http://legislacao.planalto.gov.br/legisla/legislacao.nsf/Viw_Identificacao/lei%207.716-1989?OpenDocument http://legislacao.planalto.gov.br/legisla/legislacao.nsf/Viw_Identificacao/lei%207.716-1989?OpenDocument 30 Já no ano de 2003, a Lei nº 10.639 modificou a Lei de Diretrizes de Base da Educação, introduzindo a obrigatoriedade do ensino de história e cultura afro-brasileira e africana nas escolas de ensino fundamental e médio. O conteúdo programático acrescentou o estudo da História da África e dos Africanos, a luta dos negros no Brasil, a cultura negra brasileira e o negro na formação da sociedade nacional, resgatando a contribuição do povo negro nas áreas social, econômica e política pertinentes à História do Brasil. Além disso, foi incluído no calendário escolar o dia 20 de novembro como ‘Dia Nacional da Consciência Negra’. No ano de 2009, o Ministério da Saúde publicou a Portaria nº 992, que instituiu a Política Nacional de Saúde Integral da População Negra. O objetivo geral da referida política é promover a saúde integral da população negra, priorizando a redução das desigualdades étnico-raciais, o combate ao racismo e à discriminação nas instituições e serviços do SUS. São algumas das diretrizes previstas na mencionada portaria: 31 - a inclusão dos temas Racismo e Saúde da População Negra nos processos de formação e educação permanentes dos/as trabalhadores/ as da saúde e no exercício do controle social da saúde. - o reconhecimento de saberes e práticas populares de saúde, incluindo aqueles preservados pelas religiões de matrizes africanas. - o desenvolvimento de processos de informação, comunicação e educação, que desconstruam estigmas e preconceitos, fortaleçam uma identidade negra positiva e contribuam para a redução das vulnerabilidades. Em 20 de julho de 2010, a Lei nº 12.288 instituiu o Estatuto da Igualdade Racial, “destinado a garantir à população negra a efetivação da igualdade de oportunidades, a defesa dos direitos étnicos individuais, coletivos e difusos e o combate à discriminação e às demais formas de intolerância étnica”. O Estatuto trouxe diversos conceitos relacionados à temática, quais sejam: I - discriminação racial ou étnico-racial: toda distinção, exclusão, restrição ou preferência baseada em raça, cor, descendência ou origem nacional ou étnica que tenha por objeto anular ou restringir o reconhecimento, gozo ou exercício, em igualdade de condições, de direitos humanos e liberdades fundamentais nos campos político, econômico, social, cultural ou em qualquer outro campo da vida pública ou privada; II - desigualdade racial: toda situação injustificada de diferenciação de acesso e fruição de bens, serviços e oportunidades, nas esferas pública e privada, em virtude de raça, cor, descendência ou origem nacional ou étnica; III - desigualdade de gênero e raça: assimetria existente no âmbito da sociedade que acentua a distância social entre mulheres negras e os demais segmentos sociais; IV - população negra: o conjunto de pessoas que se autodeclaram pretas e pardas, conforme o quesito cor ou raça usado pela Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), ou que adotam autodefinição análoga; V - políticas públicas: as ações, iniciativas e programas adotados pelo Estado no cumprimento de suas atribuições institucionais; VI - ações afirmativas: os programas e medidas especiais adotados pelo Estado e pela iniciativa privada para a correção das desigualdades raciais e para a promoção da igualdade de oportunidades. 32 O Estatuto prevê que é dever do Estado e da sociedade garantir a igualdade de oportunidades, reconhecendo a todo cidadão brasileiro, independentemente da etnia ou da cor da pele, o direito à participação na comunidade, especialmente nas atividades políticas, econômicas, empresariais, educacionais, culturais e esportivas, defendendo sua dignidade e seus valores religiosos e culturais. Esta lei é considerada o principal marco legal para o enfrentamento da discriminação racial e das desigualdades estruturais de raça aqui estudadas. Trata- se de um instrumento para garantia dos direitos fundamentais desse segmento, especialmente no que diz respeito à saúde, educação, cultura, esporte e lazer, comunicação, participação, trabalho, liberdade de consciência e de crença; acesso à terra e à moradia; além dos temas da proteção, do acesso à justiça e à segurança. O quadro abaixo, retirado da cartilha São Paulo contra o Racismo: Aspectos Legais e Ações Afirmativas, apresenta alguns direitos previstos no Estatuto: SAÚDE Art. 6o. O direito à saúde da população negra será garantido pelo poder público mediante políticas universais, sociais e econômicas destinadas à redução do risco de doenças e de outros agravos. EDUCAÇÃO Art. 11. Nos estabelecimentos de ensinos fundamental e médio, públicos e privados. É obrigatório o estudo da história geral da África e da história da população negra no Brasil, observado o disposto na Lei n° 9.394, de 20 de dezembro de 1996. CULTURA Art. 17. O poder público garantirá o reconhecimento das sociedades negras, clubes e outras formas de manifestação coletiva da população negra, com trajetória histórica comprovada, como patrimônio histórico e cultural, nos termos dos arts. 215 e 216 da Constituição Federal. ESPORTE E LAZER Art. 21. O poder público fomentará o pleno acesso da população negra às práticas desportivas, consolidando o esporte e o lazer como direitos sociais. ACESSO À TERRA Art. 27. O poder público elaborará e implementará políticas públicas capazes de promover o acesso da população negra à terra e às atividades produtivas no campo. MORADIA Art. 35. O poder público garantirá a implementação de políticas públicas para assegurar o direito à moradia adequada da população negra que vive em favelas, cortiços, áreas urbanas subutilizadas, degradadas ou em processo de degradação, a fim de reintegrá-las à dinâmica urbana e promover melhorias no ambiente e na qualidade de vida. 33 TRABALHO Art. 38. A implementação de políticas voltadas para a inclusão da população negra no mercado de trabalho será de responsabilidade do poder público, observando-se: - o instituído neste Estatuto; - os compromissos assumidos pelo Brasil ao ratificar a Convenção Internacional sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial, de 1965; - os compromissos assumidos pelo Brasil ao ratificar a Convenção no 111, de 1958, da Organização Internacional do Trabalho(OIT), que trata da discriminação no emprego e na profissão; - os demais compromissos formalmente assumidos pelo Brasil perante a comunidade internacional MEIOS DE COMUNICAÇÃO Art. 43. A produção veiculada pelos órgãos de comunicação valorizará a herança cultural e a participação da população negra na história do País. Art. 44. Na produção de filmes e programas destinados à veiculação pelas emissoras de televisão e em salas cinematográficas, deverá ser adotada a prática de conferir oportunidades de emprego para atores, figurantes e técnicos negros, sendo vedada toda e qualquer discriminação de natureza política, ideológica, étnica ou artística. LIBERDADE DE CONSCIÊNCIA E DE CRENÇA E AO LIVRE EXERCÍCIO DOS CULTOS RELIGIOSOS Art. 23. É inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias. Art. 24. O direito à liberdade de consciência e de crença e ao livre exercíciodos cultos religiosos de matriz africana compreende: - a prática de cultos, a celebração de reuniões relacionadas à religiosidade e a fundação e manutenção, por iniciativa privada, de lugares reservados para tais fins; - a celebração de festividades e cerimônias de acordo com preceitos das respectivas religiões; - a fundação e a manutenção, por iniciativa privada, de instituições beneficentes ligadas às respectivas convicções religiosas; - a produção, a comercialização, a aquisição e o uso de artigos e materiais religiosos adequados aos costumes e às práticas fundadas na respectiva religiosidade, ressalvadas as condutas vedadas por legislação específica; - a produção e a divulgação de publicações relacionadas ao exercício e à difusão das religiões de matriz africana; - a coleta de contribuições financeiras de pessoas naturais e jurídicas de natureza privada para a manutenção das atividades religiosas e sociais das respectivas religiões; - o acesso aos órgãos e aos meios de comunicação para divulgação das respectivas religiões; - a comunicação ao Ministério Público para abertura de ação penal em face de atitudes e 34 práticas de intolerância religiosa nos meios de comunicação e em quaisquer outros locais. SINAPIR Art. 47. É instituído o Sistema Nacional de Promoção da Igualdade Racial (Sinapir) como forma de organização e de articulação voltadas à implementação do conjunto de políticas e serviços destinados a superar as desigualdades étnicas existentes no País, prestados pelo poder público federal. Art. 50. Os Poderes Executivos estaduais, distrital e municipais, no âmbito das respectivas esferas de competência, poderão instituir conselhos de promoção da igualdade étnica, de caráter permanente e consultivo, compostos por igual número de representantes de órgãos e entidades públicas e de organizações da sociedade civil representativas da população negra. OUVIDORIAS PERMANENTES E ACESSO À JUSTIÇA E À SEGURANÇA Art. 54. O Estado adotará medidas para coibir atos de discriminação e preconceito praticados por servidores públicos em detrimento da população negra, observado, no que couber, o disposto na Lei no 7.716, de 5 de janeiro de 1989. Art. 55. Para a apreciação judicial das lesões e das ameaças de lesão aos interesses da população negra decorrentes de situações de desigualdade étnica, recorrer-se-á, entre outros instrumentos, à ação civil pública, disciplinada na Lei no 7.347, de 24 de julho de 1985. O capítulo IV do Estatuto estabelece as instituições responsáveis pelo acolhimento de denúncias de discriminação racial e apresenta os mecanismos institucionais existentes que têm como finalidade assegurar a aplicação efetiva dos dispositivos previstos em lei. Art. 51. O poder público federal instituirá, na forma da lei e no âmbito dos Poderes Legislativo e Executivo, Ouvidorias Permanentes em Defesa da Igualdade Racial, para receber e encaminhar denúncias de preconceito e discriminação com base em etnia ou cor e acompanhar a implementação de medidas para a promoção da igualdade. Art. 52. É assegurado às vítimas de discriminação étnica o acesso aos órgãos de Ouvidoria Permanente, à Defensoria Pública, ao Ministério Público e ao Poder Judiciário, em todas as suas instâncias, para a garantia do cumprimento de seus direitos. Parágrafo único. O Estado assegurará atenção às mulheres negras em situação de violência, garantida a assistência física, psíquica, social e jurídica. Art. 53. O Estado adotará medidas especiais para coibir a violência policial incidente sobre a população negra. Parágrafo único. O Estado implementará ações de ressocialização e proteção da juventude negra em conflito com a lei e exposta a experiências de exclusão social. 35 O Estatuto trouxe ainda diversas alterações na Lei nº 7.716/89, que serão abordadas a seguir. Assim, conclui-se que o Estatuto da Igualdade Racial é a principal referência para enfrentamento ao racismo e a promoção da igualdade racial, pois atualizou e ampliou o alcance das leis antirracistas anteriores, além de embasar juridicamente políticas públicas direcionadas a diminuir as desigualdades raciais no acesso a bens, serviços e oportunidades. As políticas afirmativas existentes serão estudadas posteriormente. http://legislacao.planalto.gov.br/legisla/legislacao.nsf/Viw_Identificacao/lei%207.716-1989?OpenDocument 36 6) CONDUTAS RELACIONADAS À RAÇA QUE SÃO CONSIDERADAS CRIMES NO BRASIL Fonte: https://g1.globo.com/go/goias/noticia/2022/03/05/empresaria-se-indigna- com-pedido-racista-de-cliente-por-aplicativo-mandem-entregador-branco-nao- gosto-de-pretos-nem-pardos.ghtml Diariamente a imprensa divulga casos graves de racismo e injúria racial que ocorrem no Brasil, o que reflete o quão nossa sociedade ainda é racista. Neste módulo, serão trazidos os principais crimes referentes à temática, com a pena prevista em cada um deles. A proposta deste curso é apresentar aos alunos as condutas que são consideradas crimes no Brasil e não fazer uma análise jurídica dos mesmos. A Cartilha de Direitos Humanos e Combate ao Racismo da Defensoria Pública do Rio Grande do Sul apresenta alguns exemplos de práticas que são consideradas racistas, quais sejam: Apelidar negras e negros de acordo com as características físicas, a partir de elementos de cor e etnia da pessoa. Inferiorizar as características estéticas de negras e negros. Considerar uma negra ou um negro inferior intelectualmente, podendo até negar-lhe determinados cargos, funções ou empregos. Desprezar seus costumes, hábitos e tradições, como na ofensa a religiões de matriz africana. Duvidar da honestidade e competência da pessoa negra. Recusar-se a prestar serviços a negras e negros. https://g1.globo.com/go/goias/noticia/2022/03/05/empresaria-se-indigna-com-pedido-racista-de-cliente-por-aplicativo-mandem-entregador-branco-nao-gosto-de-pretos-nem-pardos.ghtml https://g1.globo.com/go/goias/noticia/2022/03/05/empresaria-se-indigna-com-pedido-racista-de-cliente-por-aplicativo-mandem-entregador-branco-nao-gosto-de-pretos-nem-pardos.ghtml https://g1.globo.com/go/goias/noticia/2022/03/05/empresaria-se-indigna-com-pedido-racista-de-cliente-por-aplicativo-mandem-entregador-branco-nao-gosto-de-pretos-nem-pardos.ghtml 37 Fazer ou se divertir com piadas depreciativas da pessoa negra e, vestimenta e de suas pré-concepções sobre os papéis sociais ou profissionais que crê ser adequados a ela. A Lei nº 7.716/89 prevê uma série de condutas que são consideradas crimes, quando resultantes de discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional. Serão analisados os crimes previstos na referida legislação. Artigo 3° da Lei nº 7.716/89 Impedir ou obstar o acesso de alguém, devidamente habilitado, a qualquer cargo da Administração Direta ou Indireta, bem como das concessionárias de serviços públicos. Pena: reclusão de dois a cinco anos. Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem, por motivo de discriminação de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional, obstar a promoção funcional. Este tipo penal criminaliza a conduta que impede ou obsta o acesso no serviço público de pessoa habilitada ao cargo ou à promoção funcional. É necessário que o indivíduo esteja habilitado para executar o trabalho. Artigo 4° da Lei nº 7.716/89 Negar ou obstar emprego em empresa privada. Pena: reclusão de dois a cinco anos. § 1o Incorre na mesma pena quem, por motivo de discriminação de raça ou de cor ou práticas resultantes do preconceito de descendência ou origem nacional ou étnica: I - deixar de conceder os equipamentos necessários ao empregado em igualdade de condições com os demais trabalhadores; II - impedir a ascensão funcional do empregado ou obstar outra forma de benefício profissional; III - proporcionarao empregado tratamento diferenciado no ambiente de trabalho, especialmente quanto ao salário. § 2o Ficará sujeito às penas de multa e de prestação de serviços à comunidade, incluindo atividades de promoção da igualdade racial, quem, em anúncios ou qualquer outra forma de recrutamento de trabalhadores, exigir aspectos de aparência próprios de raça ou etnia para emprego cujas atividades não justifiquem essas exigências. http://legislacao.planalto.gov.br/legisla/legislacao.nsf/Viw_Identificacao/lei%207.716-1989?OpenDocument http://legislacao.planalto.gov.br/legisla/legislacao.nsf/Viw_Identificacao/lei%207.716-1989?OpenDocument http://legislacao.planalto.gov.br/legisla/legislacao.nsf/Viw_Identificacao/lei%207.716-1989?OpenDocument 38 Verifica-se que o artigo 3° refere-se à negativa do acesso ao cargo ou à promoção funcional na administração pública e nas concessionárias de serviços públicos, enquanto o artigo 4º refere-se às empresas privadas. Negar ou obstar emprego, deixar de providenciar os equipamentos necessários a empregado, impedir a ascensão ou outro benefício funcional a empregado, tratar empregado de forma diferente dos demais e exigir aspectos de aparência próprios de raça ou etnia para emprego sem justificativa são condutas criminalizadas neste artigo. Fonte: https://www.hypeness.com.br/2022/04/funcionarios-negros-revelam-cultura-de-racismo- na-tesla-gigante-controlada-por-elon-musk/ Artigo 5° da Lei nº 7.716/89 Recusar ou impedir acesso a estabelecimento comercial, negando-se a servir, atender ou receber cliente ou comprador. Pena: reclusão de um a três anos. Este crime ocorre quando estabelecimentos comerciais negam servir, atender ou receber clientes em razão da raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional. Para a configuração deste delito o autor pode então recusar ou impedir o acesso de pessoa a estabelecimento comercial, bem como não servir ou atender a vítima. https://www.hypeness.com.br/2022/04/funcionarios-negros-revelam-cultura-de-racismo-na-tesla-gigante-controlada-por-elon-musk/ https://www.hypeness.com.br/2022/04/funcionarios-negros-revelam-cultura-de-racismo-na-tesla-gigante-controlada-por-elon-musk/ http://legislacao.planalto.gov.br/legisla/legislacao.nsf/Viw_Identificacao/lei%207.716-1989?OpenDocument 39 Um caso com grande repercussão foi quando uma delegada de polícia negra foi impedida de ingressar em uma loja de roupas em um shopping. Durante a investigação, apurou-se que a loja possuía um código para alertar quando clientes negros suspeitos estavam no local. O gerente da loja foi denunciado por racismo. Fonte: https://g1.globo.com/ce/ceara/noticia/2021/12/02/gerente-da-loja- zara-onde-delegada-negra-foi-barrada-e-denunciado-por-racismo.ghtml Fonte: https://g1.globo.com/ce/ceara/noticia/2021/09/24/adolescente-negra-e- barrada-em-shopping-apos-seguranca-achar-que-a-garota-era-uma-pedinte-em- fortaleza.ghtml Artigo 6° da Lei nº 7.716/89 Recusar, negar ou impedir a inscrição ou ingresso de aluno em estabelecimento de ensino público ou privado de qualquer grau. Pena: reclusão de três a cinco anos. Parágrafo único. Se o crime for praticado contra menor de dezoito anos a pena é agravada de 1/3 (um terço). Este crime ocorre quando há a recusa de inscrever ou impedir o ingresso de aluno em estabelecimento de ensino, não importa se público ou privado, nem de que grau seja. O entendimento é de que escolas de dança, informática, dentre outras https://g1.globo.com/ce/ceara/noticia/2021/12/02/gerente-da-loja-zara-onde-delegada-negra-foi-barrada-e-denunciado-por-racismo.ghtml https://g1.globo.com/ce/ceara/noticia/2021/12/02/gerente-da-loja-zara-onde-delegada-negra-foi-barrada-e-denunciado-por-racismo.ghtml https://g1.globo.com/ce/ceara/noticia/2021/09/24/adolescente-negra-e-barrada-em-shopping-apos-seguranca-achar-que-a-garota-era-uma-pedinte-em-fortaleza.ghtml https://g1.globo.com/ce/ceara/noticia/2021/09/24/adolescente-negra-e-barrada-em-shopping-apos-seguranca-achar-que-a-garota-era-uma-pedinte-em-fortaleza.ghtml https://g1.globo.com/ce/ceara/noticia/2021/09/24/adolescente-negra-e-barrada-em-shopping-apos-seguranca-achar-que-a-garota-era-uma-pedinte-em-fortaleza.ghtml http://legislacao.planalto.gov.br/legisla/legislacao.nsf/Viw_Identificacao/lei%207.716-1989?OpenDocument 40 enquadram-se neste dispositivo. Busca-se garantir um dos bens de todo ser humano, a educação, sem distinção em razão de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional. A pena é aumentada quando a vítima é criança ou adolescente, protegendo- a e visando garantir a sua educação. Fonte: https://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas- noticias/2019/03/14/crianca-autista-tem-matricula-escolar- recusada-por-usar-cabelo-black-power.htm Fonte: https://www.correiobraziliense.com.br/euestudante/educacao- basica/2022/04/4998823-estudante-negra-e-proibida-de-entrar-na-escola-por-nao-ter- cabelo-liso.html Artigo 7° da Lei nº 7.716/89 Impedir o acesso ou recusar hospedagem em hotel, pensão, estalagem, ou qualquer estabelecimento similar. Pena: reclusão de três a cinco anos. https://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2019/03/14/crianca-autista-tem-matricula-escolar-recusada-por-usar-cabelo-black-power.htm https://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2019/03/14/crianca-autista-tem-matricula-escolar-recusada-por-usar-cabelo-black-power.htm https://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2019/03/14/crianca-autista-tem-matricula-escolar-recusada-por-usar-cabelo-black-power.htm https://www.correiobraziliense.com.br/euestudante/educacao-basica/2022/04/4998823-estudante-negra-e-proibida-de-entrar-na-escola-por-nao-ter-cabelo-liso.html https://www.correiobraziliense.com.br/euestudante/educacao-basica/2022/04/4998823-estudante-negra-e-proibida-de-entrar-na-escola-por-nao-ter-cabelo-liso.html https://www.correiobraziliense.com.br/euestudante/educacao-basica/2022/04/4998823-estudante-negra-e-proibida-de-entrar-na-escola-por-nao-ter-cabelo-liso.html http://legislacao.planalto.gov.br/legisla/legislacao.nsf/Viw_Identificacao/lei%207.716-1989?OpenDocument 41 O impedimento de acesso a hotéis, pensão, estalagem ou outros estabelecimentos simulares, bem como a recusa de hospedagem, configura o crime de racismo previsto no art. 7°. Interessante relembrar que a recusa de hospedagem a uma dançarina negra em São Paulo ensejou a criação da primeira lei antirracista no Brasil, a Lei Afonso Arinos, estudada anteriormente. Fonte: https://g1.globo.com/rs/rio-grande-do-sul/noticia/2021/10/28/policia- investiga-racismo-contra-hospede-de-hotel-em-caxias-do-sul-nao-doi-na- pele-doi-na-alma.ghtml Artigo 8° da Lei nº 7.716/89 Impedir o acesso ou recusar atendimento em restaurantes, bares, confeitarias, ou locais semelhantes abertos ao público. Pena: reclusão de um a três anos. Fonte: https://www12.senado.leg.br/noticias/especiais/arqu ivo-s/brasil-criou-1a-lei-antirracismo-apos-hotel-em- sp-negar-hospedagem-a-dancarina-negra- americana#gallery-1 https://g1.globo.com/rs/rio-grande-do-sul/noticia/2021/10/28/policia-investiga-racismo-contra-hospede-de-hotel-em-caxias-do-sul-nao-doi-na-pele-doi-na-alma.ghtml https://g1.globo.com/rs/rio-grande-do-sul/noticia/2021/10/28/policia-investiga-racismo-contra-hospede-de-hotel-em-caxias-do-sul-nao-doi-na-pele-doi-na-alma.ghtml https://g1.globo.com/rs/rio-grande-do-sul/noticia/2021/10/28/policia-investiga-racismo-contra-hospede-de-hotel-em-caxias-do-sul-nao-doi-na-pele-doi-na-alma.ghtml http://legislacao.planalto.gov.br/legisla/legislacao.nsf/Viw_Identificacao/lei%207.716-1989?OpenDocument https://www12.senado.leg.br/noticias/especiais/arquivo-s/brasil-criou-1a-lei-antirracismo-apos-hotel-em-sp-negar-hospedagem-a-dancarina-negra-americana#gallery-1 https://www12.senado.leg.br/noticias/especiais/arquivo-s/brasil-criou-1a-lei-antirracismo-apos-hotel-em-sp-negar-hospedagem-a-dancarina-negra-americana#gallery-1https://www12.senado.leg.br/noticias/especiais/arquivo-s/brasil-criou-1a-lei-antirracismo-apos-hotel-em-sp-negar-hospedagem-a-dancarina-negra-americana#gallery-1 https://www12.senado.leg.br/noticias/especiais/arquivo-s/brasil-criou-1a-lei-antirracismo-apos-hotel-em-sp-negar-hospedagem-a-dancarina-negra-americana#gallery-1 42 O crime se consuma quando há a recusa de atendimento ou o acesso negado em restaurantes, bares, confeitarias e locais semelhantes abertos ao público. Vale mencionar que o local dever ser público. Fonte: https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/2021/05/21/casal-acusa-restaurante-do- tatuape-na-zona-leste-de-sp-de-racismo.ghtml Fonte: https://catracalivre.com.br/cidadania/menino-racismo-doceria/ Artigo 9° da Lei nº 7.716/89 Impedir o acesso ou recusar atendimento em estabelecimentos esportivos, casas de diversões, ou clubes sociais abertos ao público. Pena: reclusão de um a três anos. Este crime se configura quando algum desses estabelecimentos se negar a receber, em suas dependências, um indivíduo como associado convidado, por preconceito a raça, cor, religião ou procedência nacional. https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/2021/05/21/casal-acusa-restaurante-do-%09tatuape-na-zona-leste-de-sp-de-racismo.ghtml https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/2021/05/21/casal-acusa-restaurante-do-%09tatuape-na-zona-leste-de-sp-de-racismo.ghtml https://catracalivre.com.br/cidadania/menino-racismo-doceria/ http://legislacao.planalto.gov.br/legisla/legislacao.nsf/Viw_Identificacao/lei%207.716-1989?OpenDocument 43 Fonte: https://g1.globo.com/sao-paulo/noticia/gerente-questiona-em-mensagem- entrada-de-negros-na-villa-mix-quem-liberou.ghtml Artigo 10 da Lei nº 7.716/89 Impedir o acesso ou recusar atendimento em salões de cabeleireiros, barbearias, termas ou casas de massagem ou estabelecimento com as mesmas finalidades. Pena: reclusão de um a três anos. O legislador também determinou que é crime de racismo impedir o acesso ou recusar atendimento em salão de beleza e em locais similares e afins, atendendo-se à garantia de igualdade de tratamento nesses lugares. Artigo 11 da Lei nº 7.716/89 Impedir o acesso às entradas sociais em edifícios públicos ou residenciais e elevadores ou escada de acesso aos mesmos: Pena: reclusão de um a três anos. O crime consuma-se ao impedir qualquer pessoa de ter acesso a esses locais, determinando-lhe uma entrada específica e causando-lhe constrangimento e vergonha. Não há que impedir a um empregado, a empregada ou a um entregador de alimentos, por exemplo, o acesso pela entrada ou pelo elevador social, sob pena de, assim o fazendo, cometer o crime acima descrito. https://g1.globo.com/sao-paulo/noticia/gerente-questiona-em-mensagem-entrada-de-negros-na-villa-mix-quem-liberou.ghtml https://g1.globo.com/sao-paulo/noticia/gerente-questiona-em-mensagem-entrada-de-negros-na-villa-mix-quem-liberou.ghtml http://legislacao.planalto.gov.br/legisla/legislacao.nsf/Viw_Identificacao/lei%207.716-1989?OpenDocument http://legislacao.planalto.gov.br/legisla/legislacao.nsf/Viw_Identificacao/lei%207.716-1989?OpenDocument 44 Fonte: https://www.pragmatismopolitico.com.br/2012/02/vitima-de-racismo-universitario-e- barrado-no-elevador-do-proprio-predio-onde-mora.html Artigo 12 da Lei nº 7.716/89 Impedir o acesso ou uso de transportes públicos, como aviões, navios barcas, barcos, ônibus, trens, metrô ou qualquer outro meio de transporte concedido. Pena: reclusão de um a três anos. O tratamento diferenciado em razão de discriminação também é repudiado nos meios de transporte. Há crime quando o autor impede o acesso ou uso de qualquer meio de transporte, podendo ocorrer o impedimento no início bem como no prosseguimento da viagem de quem já está dentro desse meio de transporte. Fonte: https://g1.globo.com/mg/minas-gerais/noticia/2021/10/21/mulher-negra- denuncia-motorista-por-ataques-racistas-em-bh-nao-carrego-preto-no-carro.ghtml https://www.pragmatismopolitico.com.br/2012/02/vitima-de-racismo-universitario-e-barrado-no-elevador-do-proprio-predio-onde-mora.html https://www.pragmatismopolitico.com.br/2012/02/vitima-de-racismo-universitario-e-barrado-no-elevador-do-proprio-predio-onde-mora.html http://legislacao.planalto.gov.br/legisla/legislacao.nsf/Viw_Identificacao/lei%207.716-1989?OpenDocument https://g1.globo.com/mg/minas-gerais/noticia/2021/10/21/mulher-negra-denuncia-motorista-por-ataques-racistas-em-bh-nao-carrego-preto-no-carro.ghtml https://g1.globo.com/mg/minas-gerais/noticia/2021/10/21/mulher-negra-denuncia-motorista-por-ataques-racistas-em-bh-nao-carrego-preto-no-carro.ghtml 45 Artigo 13 da Lei nº 7.716/89 Impedir ou obstar o acesso de alguém ao serviço em qualquer ramo das Forças Armadas. Pena: reclusão de dois a quatro anos. O delito previsto no artigo 13 da Lei nº 7.716/89 tem como conduta típica impedir ou obstar o acesso de alguém ao serviço em qualquer ramo das Forças Armadas. Artigo 14 da Lei nº 7.716/89 Impedir ou obstar, por qualquer meio ou forma, o casamento ou convivência familiar e social. Pena: reclusão de dois a quatro anos. Este crime é praticado, em regra, por familiares, em especial pais, que impedem ou obstam o casamento ou convivência familiar e social com pessoa em razão da raça. Entende-se que o casamento pode ser civil ou religioso. Já a convivência familiar refere-se às relações de união estável, ou a convivência de namoro, noivado ou amizade. A convivência social pode ser considerada qualquer relacionamento próximo, fora da relação familiar. Fonte: https://www.opovo.com.br/noticias/mundo/2021/10/26/casal-impedido-de- namorar-por-racismo-se-reencontra-39-anos-depois-e-resolve-casar.html http://legislacao.planalto.gov.br/legisla/legislacao.nsf/Viw_Identificacao/lei%207.716-1989?OpenDocument http://legislacao.planalto.gov.br/legisla/legislacao.nsf/Viw_Identificacao/lei%207.716-1989?OpenDocument https://www.opovo.com.br/noticias/mundo/2021/10/26/casal-impedido-de-namorar-por-racismo-se-reencontra-39-anos-depois-e-resolve-casar.html https://www.opovo.com.br/noticias/mundo/2021/10/26/casal-impedido-de-namorar-por-racismo-se-reencontra-39-anos-depois-e-resolve-casar.html 46 Artigo 20 da Lei nº 7.716/89 Art. 20. Praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional. Pena: reclusão de um a três anos e multa. § 1º Fabricar, comercializar, distribuir ou veicular símbolos, emblemas, ornamentos, distintivos ou propaganda que utilizem a cruz suástica ou gamada, para fins de divulgação do nazismo. Pena: reclusão de dois a cinco anos e multa. § 2º Se qualquer dos crimes previstos no caput é cometido por intermédio dos meios de comunicação social ou publicação de qualquer natureza: Pena: reclusão de dois a cinco anos e multa. § 3º No caso do parágrafo anterior, o juiz poderá determinar, ouvido o Ministério Público ou a pedido deste, ainda antes do inquérito policial, sob pena de desobediência: I - o recolhimento imediato ou a busca e apreensão dos exemplares do material respectivo; II - a cessação das respectivas transmissões radiofônicas, televisivas, eletrônicas ou da publicação por qualquer meio; III - a interdição das respectivas mensagens ou páginas de informação na rede mundial de computadores. § 4º Na hipótese do § 2º, constitui efeito da condenação, após o trânsito em julgado da decisão, a destruição do material apreendido. O caput do artigo 20 apresenta condutas diversas em relação à discriminação e ao preconceito, podendo ocorrer quando a pessoa pratica, induz ou incita esta prática tão condenável em nossa sociedade. Percebe-se que esse dispositivo foi elaborado para alcançar todos os tipos de preconceito e discriminação que não foram tipificadosnos outros artigos citados, ampliando assim a eficácia da Lei de Racismo. Vale ressaltar que a maioria das condutas de preconceito e discriminação da lei em estudo acaba enquadrada nesse artigo. O §2° prevê uma pena mais severa quando a prática, induzimento ou incitação do preconceito ou discriminação ocorre por meios de comunicação social ou publicação de qualquer natureza. Não há dúvidas de que o dano é maior quando os atos de preconceito e discriminação atingem um maior número de pessoas. . Além disso, as formas que possibilitem a divulgação do nazismo são também condutas condenáveis pelo ordenamento jurídico brasileiro, conforme previsto no art. 20, §1°. A lei determina que fabricar, comercializar, distribuir ou veicular símbolos, http://legislacao.planalto.gov.br/legisla/legislacao.nsf/Viw_Identificacao/lei%207.716-1989?OpenDocument 47 emblemas, ornamentos, distintivos ou propaganda que utilizem a cruz suástica ou gamada, para fins de divulgação do nazismo, é crime. Vale ressaltar que, em 13 de junho de 2019, o STF julgou a ADO 26 (Ação Direta de Inconstitucionalidade por Omissão) e o MI (Mandado de Injunção) 4733, reconhecendo a mora do Congresso Nacional em legislar sobre atos atentatórios sobre direitos fundamentais dos integrantes das comunidades LGBTQIA+, restando determinada a aplicação da Lei de Racismo (Lei 7716/89) até que se edite a norma regulamentando sobre o assunto. Além dos crimes de racismo trazidos acima, há também a injúria racial, prevista no art. 140, §3°, do Código Penal. Art. 140 - Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro: § 3o Se a injúria consiste na utilização de elementos referentes a raça, cor, etnia, religião, origem ou a condição de pessoa idosa ou portadora de deficiência: Pena - reclusão de um a três anos e multa. A injúria racial consiste na ofensa direcionada a uma pessoa, valendo-se de elementos referentes à raça, cor, etnia, religião ou origem. Fonte: https://g1.globo.com/df/distrito-federal/noticia/2020/11/23/jovem-registra-denuncia-de- injuria-racial-e-agressao-contra-segurancas-de-bar-no-df.ghtml https://g1.globo.com/df/distrito-federal/noticia/2020/11/23/jovem-registra-denuncia-de-injuria-racial-e-agressao-contra-segurancas-de-bar-no-df.ghtml https://g1.globo.com/df/distrito-federal/noticia/2020/11/23/jovem-registra-denuncia-de-injuria-racial-e-agressao-contra-segurancas-de-bar-no-df.ghtml 48 7) DIFERENCIAÇÃO ENTRE OS CRIMES DE RACISMO E DE INJÚRIA RACIAL Neste tópico, serão analisadas as diferenças existentes entre o crime de racismo e o crime de injúria racial, sem esquecer a recente decisão do Supremo Tribunal Federal em relação à prescrição do crime de injúria. O crime de injúria é crime contra a honra de uma pessoa. Ele acontece quando alguém ofende a dignidade ou o decoro de um indivíduo específico. A conduta exigida para o cometimento do crime de injúria qualificada é o animus injuriandi, consistente na vontade de ofender a honra subjetiva de outra pessoa. Neste caso, o agente profere palavras de cunho racista direcionadas somente à vítima. A ação penal da injúria racial é pública condicionada à representação da vítima, ou seja, exige uma manifestação de vontade da pessoa que sofreu a injúria, no prazo de seis meses a contar do dia em que vier a saber quem é o autor do crime, conforme previsto no art. 38 do Código de Processo Penal e art. 103 do Código Penal. Além disso, a injúria racial prescreve em oito anos e é possível o pagamento de fiança. Por outro lado, o crime de racismo, previsto na Lei nº 7.716/1989, implica em conduta discriminatória dirigida a um determinado grupo ou coletividade. Não há uma vítima identificada, pois a ofensa é contra, por exemplo, toda uma raça, não existindo a especificação do ofendido. Nos crimes de racismo, a ação penal é pública incondicionada, ou seja, cabe ao Ministério Público a legitimidade para processar o ofensor. Trata-se de crime inafiançável e imprescritível, conforme está previsto no artigo 5º da Constituição Federal. http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/1035120/lei-do-crime-racial-lei-7716-89 http://www.jusbrasil.com.br/topicos/10641516/artigo-5-da-constitui%C3%A7%C3%A3o-federal-de-1988 http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/155571402/constitui%C3%A7%C3%A3o-federal-constitui%C3%A7%C3%A3o-da-republica-federativa-do-brasil-1988 49 Com o objetivo de reforçar o conteúdo já trazido, segue quadro comparativo das principais diferenças entre o crime de racismo e de injúria racial. Fonte: https://www.diferenca.com/racismo-e-injuria-racial/ Em novembro de 2021, o Supremo Tribunal Federal decidiu, durante o julgamento de um habeas corpus, que o crime de injúria racial configura uma categoria dos tipos penais de racismo e é imprescritível. O habeas corpus refere-se ao caso de uma mulher idosa de 72 anos, à época dos fatos, que foi condenada pela Justiça do Distrito Federal a um ano de reclusão e Você sabia? Em 2003, durante o julgamento do Habeas Corpus 82.424 pelo Supremo Tribunal Federal (STF), a corte manteve a condenação de um livro publicado com ideias preconceituosas e discriminatórias contra a comunidade judaica, considerando, por exemplo, que o holocausto não teria existido. A denúncia contra o livro foi feita em 1986 por movimentos populares de combate ao racismo e o STF manteve a condenação por considerar o crime de racismo imprescritível. https://www.diferenca.com/racismo-e-injuria-racial/ https://stf.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/770347/habeas-corpus-hc-82424-rs 50 dez dias-multa pela prática de injúria racial ano de 2013. O crime ocorreu no ano de 2012 em um posto de gasolina, diante da recusa da frentista/vítima em aceitar cheque como forma de pagamento, ocasião em que a autora proferiu os seguintes dizeres “negrinha nojenta, ignorante e atrevida”. A defesa da autora solicitou a extinção da punibilidade em razão da prescrição do crime, considerando a idade da mesma. Segundo ministro Edson Fachin, com a alteração legal que tornou pública condicionada (que depende de representação da vítima) a ação penal para processar e julgar os delitos de injúria racial, o crime passou a ser equivalente ao de racismo e, portanto, imprescritível, conforme previsto na Constituição Federal (artigo 5º, inciso LXII). Então, a partir desta decisão do STF, a injúria racial tem sido considerada também imprescritível. O projeto de lei n° 4.566/2021 em tramitação, já aprovado pelo Senado Federal no dia 18/05/2022, incluiu a injúria racial à Lei do Racismo, retirando-a do Código Penal. A proposta prevê o aumento de pena para casos de injúria, que hoje é de um a três anos, para dois a cinco anos de prisão, além do pagamento de multa. O crime também passa a ser imprescritível e inafiançável. 51 A seguir encontra-se o texto do citado projeto de lei: Art. 2º-A. Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro, em razão de raça, cor, etnia ou procedência nacional. Pena: reclusão, de dois a cinco anos, e multa. Parágrafo único. A pena é aumentada de metade se o crime é cometido mediante concurso de duas ou mais pessoas. O projeto também prevê que a pena por injúria será aumentada pela metade se o crime for cometido por duas ou mais pessoas. De acordo com o projeto, os crimes de racismo, incluindo o de injúria, terão a pena aumentada em um terço até a metade se cometido em um contexto ou com o intuito de “descontração, diversão ou recreação”. Também terá a pena aumentada em um terço até a metade quando praticado por funcionário público no exercício de suas funções ou a pretexto de exercê-las. Art. 20-A. Os crimes previstos nesta Lei terão as penas aumentadas de 1/3 (um terço) até a metade, quando ocorrerem em contexto ou com intuito
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