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Processos Químicos na Indústria ??????????? Processos Químicos na Indústria Organizado por Universidade Luterana do Brasil Universidade Luterana do Brasil – ULBRA Canoas, RS 2016 Rubens Zolar da Cunha Gehlen Conselho Editorial EAD Andréa de Azevedo Eick Ângela da Rocha Rolla Astomiro Romais Claudiane Ramos Furtado Dóris Gedrat Honor de Almeida Neto Maria Cleidia Klein Oliveira Maria Lizete Schneider Luiz Carlos Specht Filho Vinicius Martins Flores Obra organizada pela Universidade Luterana do Brasil. Informamos que é de inteira responsabilidade dos autores a emissão de conceitos. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem prévia autorização da ULBRA. A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na Lei nº 9.610/98 e punido pelo Artigo 184 do Código Penal. ISBN: 978-85-5639-123-0 Dados técnicos do livro Diagramação: Marcelo Ferreira Revisão: Paula Fernanda Malaszkiewicz Os setores industriais podem ser divididos em bens de produção ou de base, bens de capital e bens de consumo. As indústrias de bens de produção têm como função fabricar matérias- -primas para outras indústrias. A atividade deste segmento é transformar grande quantidade de matéria-prima e, por isso, costumam se localizar próximas a locais que facilitem o seu recebimento, como portos e ferrovias. Assim, elas têm melhores condições de escoamento da produção. São principalmente as siderúrgicas, as metalúrgicas, as petroquímicas e as de cimento. Já as indústrias de bens de capital tem a finalidade de equipar indús- trias de todos os tipos. Esse segmento industrial produz máquinas, ferra- mentas, autopeças e outros bens. Localizam-se próximo aos centros de consumo, isto é, em grandes regiões industriais. As indústrias de bens de consumo estão ligadas ao mercado consu- midor e à oferta de mão de obra, por isso estão mais dispersas espa- cialmente. O destino de sua produção é o grande mercado consumidor (população em geral). Existem as indústrias de bens de consumo duráveis (eletrodomésticos, aparelhos eletrônicos, móveis e automóveis) e de bens de consumo não duráveis (alimentos, bebidas, vestuário, calçados). Embora os processos indústrias estejam avançando no uso de tecno- logias, todos os tipos de indústria trazem, como consequência, impacto ambiental. As indústrias devem reconhecer o manejo do meio ambiente como uma das mais altas prioridades das empresas e fator determinante essencial do desenvolvimento sustentável. Apresentação Apresentação v Este livro apresenta conteúdos básicos abordados na disciplina de Pro- cessos Químicos Industriais. São contemplados os assuntos pertinentes ao entendimento de cada indústria química, bem como alguns aspectos am- bientais importantes. Os capítulos apresentados a seguir abordam determinadas indústrias de processos químicos ou físico-químicos. São elas: tratamento de miné- rios, indústria siderúrgica, indústria cimenteira, indústria de cloro, soda e derivados, indústria de celulose e papel, indústria petroquímica, transfor- mação de polímeros, processamento do couro e indústria de bebidas. Cada capítulo é estruturado da seguinte forma: é apresentada uma breve introdução sobre o tema, apresentam-se as matérias-primas, faz- -se considerações sobre o processo produtivo, tal como cada operação unitária envolvida e condições operacionais, recapitula-se brevemente o tema e são apresentadas algumas atividades de primordial importância ao assunto. 1 Conceitos Gerais ..................................................................1 2 Tratamento de Minérios ........................................................8 3 Indústria Siderúrgica ...........................................................34 4 Indústria Cimenteira ...........................................................47 5 Indústria de Cloro, Soda e Derivados ..................................66 6 Indústria Petroquímica ........................................................87 7 Indústria de Transformação de Polímeros ..........................108 8 Indústria de Celulose e Papel ............................................125 9 Indústria do Couro e Afins ................................................150 10 Indústria de Bebidas .........................................................173 Sumário Rubens Zolar da Cunha Gehlen1 Capítulo 1 Conceitos Gerais1 1 Engenheiro Químico, Especialista em Engenharia de Produção e Mestre em En- genharia área de Fenômenos de Transporte pela UFRGS. Professor dos cursos de Engenharia Química e Engenharia de Produção da ULBRA Canoas. 2 Processos Químicos na Indústria Introdução Neste capítulo, serão abordados conceitos relacionados à Tec- nologia Industrial e necessários ao entendimento da disciplina. Processo industrial Processo industrial consiste em um conjunto de equipamentos com funções específicas que, interligados de forma adequada, possibilitam a transformação de matéria-prima em produto de interesse, de forma econômica, segura e em escala industrial. Os processos químicos são constituídos por uma sequência de diferentes etapas com princípios fundamentais independen- tes da substância que está sendo operada e de outras caracte- rísticas do sistema. Essas etapas são chamadas de operações unitárias. Algumas operações unitárias envolvem reações químicas, enquanto outras promovem modificações químicas. Essas re- ações químicas transformam uma ou mais substâncias, deno- minadas reagentes, em outras substâncias, denominadas pro- dutos. Os princípios físicos e ou químicos e as principais opera- ções unitárias utilizadas no estudo dos Processos Químicos In- dustriais são citados abaixo: Capítulo 1 Conceitos Gerais 3 Operações mecânicas 1. Operações com sólidos: fragmentação, transporte, penei- ramento, mistura. 2. Operações com fluidos: escoamento de fluidos, bombea- mento de líquidos, compressão de gases, mistura e agita- ção de líquidos. 3. Operações com sólidos e fluidos: fluidização de sólidos e separações mecânicas (sólido-sólido, líquido-sólido, sóli- do-gás, líquido-gás, líquido-líquido). Transferência de Calor 1. Transferência de calor por condução 1.1. Aquecimento e resfriamento de fluidos 1.2. Condensação 1.3. Ebulição 1.4. Evaporação 2. Transferência de calor por radiação Transferência de Massa 1. Destilação 2. Absorção 3. Adsorção 4 Processos Químicos na Indústria 4. Extração Líquido-Líquido 5. Lixiviação 6. Secagem 7. Secagem de sólidos 8. Cristalização 9. Troca Iônica Classificação do Processo Industrial 1. Físico: mistura, peneiramento,fragmentação,... 2. Químico: polimerização, curtimento, tingimento,... 3. Físico-Químico: coagulação, floculação, flotação,... 4. Biológico: Fermentação, oxidação biológica, metanogê- nese,... Balanço de Massa Balanço de Massa (BM) é a aplicação da lei da conservação de massa, que diz que a massa não pode ser criada, nem des- truída. Assim: ACÚMULO = ENTRA – SAI No contexto da Tecnologia Industrial, tudo que sai do pro- cesso e não é produção, é um resíduo industrial. Capítulo 1 Conceitos Gerais 5 SAI = PRODUTO + RESÍDUO Antes de aplicar o balanço de massa, é importante deter- minar o volume de controle do processo a ser estudado. É um volume determinado do processo que há massa e/ou energia que tem a finalidade de facilitar a análise de processo. Resíduo Industrial Resíduos industriais são definidos como subprodutos dos pro- cessos industriais. Podem ser de origem orgânica ou inorgâni- ca e podem ser encontrados nos estados sólidos, líquidos ou gasosos. Origem quanto à composição química Orgânicos: Indústria alimentícia, papel e celulose, petroquí- mica. Inorgânicas: Indústria de processamento de ferro, indústria de cimento. Origem quanto ao estado físico Sólido: resíduos sólidos. Liquido: Efluentes líquidos. Gás: Emissões atmosféricas. 6 Processos Químicos na Indústria Recapitulando Processo industrial consiste emum conjunto de equipamentos com funções específicas que, interligados de forma adequada, possibilitam a transformação de matéria-prima em produto de interesse de forma econômica, segura e em escala industrial. Balanço de Massa (BM) é a aplicação da lei da conserva- ção de massa. Resíduos industriais são definidos como subprodutos dos processos industriais. Referências SHEREV, R. N.; BRINK Jr.; J. A. Indústrias de Processos Quí- micos. 4 ed. Rio de Janeiro: Ed. Guanabara, 1997. WILBERG, K. Q. Tecnologia Industrial. Caderno Universitá- rio 405. Ed. ULBBRA, 2007. Atividades 1) Defina processo industrial. 2) Cite e explique o princípio de 3 operações mecânicas uti- lizadas na indústria. Capítulo 1 Conceitos Gerais 7 3) Cite e explique o princípio de 3 operações unitárias utiliza- das no tratamento de efluentes industriais. 4) Defina e explique o conceito de balanço de massa. 5) O que é resíduo industrial? Rubens Zolar da Cunha Gehlen1 Capítulo 2 Tratamento de Minérios 1 Engenheiro Químico, Especialista em Engenharia de Produção e Mestre em En- genharia área de Fenômenos de Transporte pela UFRGS. Professor dos cursos de Engenharia Química e Engenharia de Produção da ULBRA Canoas. Capítulo 2 Tratamento de Minérios 9 Introdução Caro aluno, neste capítulo, serão abordados os processos da indústria de mineração, especificamente aqueles utilizados no tratamento inicial pós-mineração, portanto, as operações de lavra (processo de extração do minério do solo) não fazem parte do escopo deste capítulo. Praticamente nenhum mineral é utilizado no chamado es- tado bruto, ou seja, da forma como foi extraído do seu local de mineração. Considera-se a mineração como o conjunto de processos ao qual são submetidos os minerais quando de sua extração do solo (lavra), seguido pelo processamento pós-mi- na. Após a extração da mina, o minério passa por processos de transformação de acordo com seu tipo e uso final. Esses processos se dividem em dois grandes grupos (100 inovações): Processos mineralógicos: britagem, moagem, separa- ção, lavagem, entre outros. Processos metalúrgicos: pirometalurgia, hidrometalurgia e eletrometalurgia. Os minerais encontram aplicação nas indústrias do aço, cerâmica, vidro, cimento e cal, química, papel, na construção civil, e ainda como insumos da indústria joalheira, no agrone- gócio na forma de matéria-prima para fertilizantes (SAMPAIO; FRANÇA, 2010). Algumas dessas indústrias serão apresenta- das nos próximos capítulos deste livro. As operações unitárias aplicadas aos bens minerais com objetivos como modificação de granulometria, alteração na 10 Processos Químicos na Indústria concentração relativa são conhecidas como “Tratamento ou Beneficiamento de Minérios”. Esse beneficiamento não altera a constituição química do mineral (SAMPAIO; FRANÇA, 2010). Glossário As definições a seguir foram retiradas do livro “Tratamento de Minérios – CETEM”: Concentração: a operação de concentração de um miné- rio consiste na remoção da maior parte da ganga, ou seja, separar a fração de interesse da fração indesejada. Ganga: Minerais inúteis ou de valor secundário, que ocor- rem associados ao mineral-minério. Podem ser metálicas ou não metálicas. São exemplos de ganga: pirita e quartzo, quan- do associados ao ouro. Mineral: todo corpo inorgânico de composição química e de propriedades físicas definidas, encontrado na crosta terres- tre. São exemplos de minerais: quartzo, mica, talco e diaman- te. Mineral-minério: Espécie da qual se pode extrair econo- micamente uma ou mais substâncias úteis, sejam metais, ele- mentos ou compostos químicos. São exemplos de mineral- -minério: Blenda (Zinco), Hematita (Ferro), Galena (Chumbo), Garnierita (Níquel). Minério: toda rocha constituída de um mineral ou agrega- do de minerais contendo um ou mais minerais valiosos, que Capítulo 2 Tratamento de Minérios 11 podem ser aproveitados economicamente. Substância sólida, natural, inorgânica, que tem composição química definida e arranjo atômico ordenado. Associação de mineral-minério e ganga. São exemplos de minérios: Hematita (minério de Fer- ro); Berilo (Minério de Berílio); Calcopirita (Minério de Cobre) e Galena (Minério de Chumbo). Minério Industrial: é o mineral utilizado tal como se encon- tra na natureza sem a extração de nenhuma substância. São exemplos de minérios industriais: Quartzo, Topázio, Asbesto. Purificação: operação que remove do minério (ou pré-con- centrado) os minerais contaminantes que ocorrem em peque- na proporção. Aplicações dos minérios Encontramos os minerais na forma de matérias-primas nos mais diversos segmentos industriais. As atividades agrícolas e industriais não seriam viáveis sem a sua utilização. O Quadro 1 apresenta algumas das possíveis aplicações industriais dos minerais. 12 Processos Químicos na Indústria Quadro 1 Aplicação dos minérios na indústria Atividade Mineral Indústria cerâmica argilas, caulim, calcários, feldspatos, filitos, quartzo, talco Indústria de refratários magnesita, bauxita, cromita, cianita, grafita Indústria de vidro quartzo, calcários, feldspato Indústria siderúrgica ferro, manganês, cromo, níquel, alumí- nio, cobre Indústria agrícola fosfato, calcário, sais de potássio, zeólita Indústrias de cimento e cal calcários, gipsita, areia, argila Indústria química cloretos, nitratos, fosfatos, enxofre, bauxita, Indústria de papel caulim, carbonato de cálcio, talco Construção civil areia, brita, seixos Energia Urânio, tório, petróleo, turfa, linhito Fonte: adaptado de Sampaio e França (2010) A exploração dos recursos minerais no Brasil apresenta grande diversidade em relação ao porte e tecnologia aplica- da. Ao mesmo tempo em que se encontra o estado da arte sendo utilizado pelas grandes empresas de mineração, tan- to nacionais como estrangeiras, encontramos as empresas de pequeno e médio porte com pouco ou nenhum planejamento e utilizando processos produtivos defasados tanto do ponto de vista tecnológico como de gestão (SAMPAIO; FRANÇA, 2010). Capítulo 2 Tratamento de Minérios 13 Classificação dos Minérios A classificação dos minerais pode ser feita em três grandes divisões: metálicos, não metálicos e energéticos (WILBERG, 2007). Minerais metálicos: Ferrosos: ferro, manganês, cromo, níquel, cobalto, nióbio; Não ferrosos: cobre, zinco, chumbo, estanho, alumínio, prata, ouro. Minerais não metálicos: argilas, areia, mica, sulfatos, clo- retos, diamante, barita. Energéticos: Urânio, tório e combustíveis fósseis. Processo industrial O processo industrial relacionado ao tratamento de minérios se caracteriza pela manutenção da composição química dos compostos envolvidos. Consistem, basicamente, no beneficia- mento do minério e aplicação de metalurgia extrativa (SHRE- VE, 1997). O arranjo industrial deve ser flexível, permitindo a utilização de configurações que respeitem as características físicas e químicas dos minérios beneficiados, sem esquecer a neces- sidade do tratamento adequado de seus rejeitos (SAMPAIO; FRANÇA, 2010). 14 Processos Químicos na Indústria Tratamento ou beneficiamento de minérios O tratamento ou beneficiamento de minérios consiste em eta- pas de pré-tratamento do minério bruto e tem como objetivos: ajustar a granulometria e separar os componentes por proces- sos físicos. Esse processo ocorre em quatro etapas:  Cominuição: divisão por aplicação de forças mecâni- cas;  Classificação: separação de acordo com a granulome- tria;  Concentração: recuperação econômica de minerais úteis;  Desaguamento: redução do teor de água de um mine- ral. A Figura 1 mostra um fluxograma típico do beneficiamento de minérios. Capítulo 2 Tratamento de Minérios 15 Figura 1 Fluxograma de beneficiamento de minérios. Adaptado de Sampaio e França (2010) 16 Processos Químicos na Indústria Cominuição A cominuição, também conhecida por fragmentação, é a ope- ração unitária que divide um material sólidopela ação de for- ças mecânicas externas e internas, com o objetivo de reduzir as partículas a fragmentos de menor tamanho. Esta etapa é importante no tratamento dos minerais, uma vez que partículas com granulometria determinada (tamanho e formato pré-de- terminados) são requeridas para liberação dos minerais úteis dos minerais de ganga para posterior concentração ou para o incremento da superfície específica, habilitando para proces- sos químicos subsequentes. A fragmentação é uma operação de grande importância. Isso pode ser percebido pelo elevado consumo energético, representando o maior custo de uma usina de tratamento de minérios. Sua divisão em várias etapas busca reduzir seu custo e, ao mesmo tempo, fragmentar as partículas de acordo com os próximos processos. A operação de cominuição pode ser constituída de duas classes distintas: britagem (cominuição inicial) e moagem (co- minuição fina). Além delas, o desmonte da rocha na lavra pode ser considerado como uma etapa prévia da fragmentação. Usa-se o termo britagem quando a redução de tamanho está relacionada à obtenção de produtos com granulometria superior a 10 milímetros. A britagem se desenvolve em está- gios sequenciais denominados britagem primária, secundária e terciária. Essa classificação não é rígida e muitas vezes inclui uma quarta etapa, conforme mostra o Quadro 2. Observe, Capítulo 2 Tratamento de Minérios 17 caro aluno, que o Quadro 2 introduz o conceito de tamanho de alimentação. Quadro 2 Classificação dos estágios de britagem Estágio de Britagem Tamanho Máximo de Alimentação (mm) Tamanho Máximo de Produção (mm) Britagem Primária 1000 100,0 Britagem Secundária 100 10,0 Britagem Terciaria 10 1,0 Britagem Quaternária (Moagem) 5 0,8 Fonte: adaptado de Sampaio e França (2010) Os equipamentos utilizados na operação são britadores giratórios, de mandíbulas, cônicos, de rolos e de impacto (ho- rizontal e vertical). A principal diferença entre os equipamen- tos dos diversos estágios reside no tamanho dos mesmos. Os equipamentos têm seu tamanho reduzido a cada estágio e, a partir da britagem secundária, ocorre o descarte da fração fina contida na alimentação. O termo moagem se aplica quando a redução de tama- nho gera produtos com granulometria inferior a 10 milímetros. Geralmente, coincide com o último estágio do processo de cominuição. Os equipamentos utilizados nesta operação são os moi- nhos tubulares rotativos (bolas e barras), vibratórios, de rolos e de impacto. Outro fator importante na decisão do equipamento é se a moagem será a seco ou em via úmida. Essa definição está 18 Processos Químicos na Indústria associada ao circuito de moagem, que se divide em aberto e fechado. Dessa forma, a operação de moagem pode ser clas- sificada quanto ao: Processo de moagem Via seca: a redução do minério ocorre sem a adição de flui- dos. Via úmida: a redução do minério ocorre com a adição de fluidos, geralmente água. Tipo de circuito Aberto: o moinho é alimentado com o minério. Ocorre passa- gem única pelo moinho e a descarga ocorre sem classificação granulométrica. Fechado: o moinho é alimentado com o minério e com o resíduo classificado da própria descarga. O resíduo de moa- gem com classificação inadequada é recirculado junto com o minério até atingir o tamanho correto. Os mecanismos envolvidos, tanto na britagem quanto na moagem, compreendem: Cisalhamento: baixa energia aplicada a partícula. Gera fraturas locais pequenas com geração de finos e pouca redu- ção da granulometria inicial. Compressão: a energia é aplicada lentamente sobre a par- tícula e é pouco maior que sua resistência. Gera partículas Capítulo 2 Tratamento de Minérios 19 com diâmetro semelhantes com pouca geração de finos ou partículas grandes. Impacto: a energia é aplicada de forma rápida e intensa sobre a partícula. Gera distribuição granulométrica fina sem a geração excessiva de finos. A Figura 2 mostra os tipos de partículas obtidos pelos difer- entes mecanismos de cominuição. Figura 2 Mecanismos envolvidos na cominuição. O Quadro 3 apresenta as faixas granulométricas relacio- nadas a cada tipo de cominuição. 20 Processos Químicos na Indústria Quadro 3 Faixas granulométricas e tipo de cominuição Cominuição Granulometria Britagem Grosseira >50mm Britagem Fina 5-50 mm Moagem Grosseira 0,5-5 mm Moagem fina 50-500 μm Moagem mais fina 5-50 μm Moagem coloidal <5 μm Fonte: Wilberg (2007) Classificação A operação unitária de classificação consiste na separação de partículas com base nas diferentes granulometrias. Esta eta- pa separa e classifica o material em duas ou mais frações de acordo com o diâmetro de partícula desejado. Considerando que a separação de partículas por tamanho é o princípio aplicado para definir o que vem a ser classifica- ção, existem situações em que realizamos esta separação sem, no entanto, classificar o material. Neste caso, é utilizado o termo peneiramento. Reveja, caro aluno, o fluxograma de processo mostrado na Figura 1. Capítulo 2 Tratamento de Minérios 21 O peneiramento separa as partículas em função de seu ta- manho geométrico, enquanto a classificação utiliza a diferen- ça e velocidade que partículas diferentes apresentam quando atravessam um mesmo fluido. Peneiramento O peneiramento é um processo mecânico que separa as partículas utilizando uma superfície perfurada com dimensões2 ajustadas à necessidade do processo. Partículas maiores que a abertura utilizada ficam retidas na superfície, e as com dimen- sões inferiores conseguem atravessá-la. Cada peneira separa as partículas em duas frações, uma maior que a dimensão do furo e outra, menor. O processo de peneiramento pode ocorrer a úmido ou a seco. O processo via úmida é adequado para granulometrias de até 0,4 mm, porém já é possível separar partículas da ordem de 50 μm. Já na via seca, o tamanho de partícula separado vai até 6 mm, além de ocorrer a formação de poeira, que deve ser abatida. Os equipamentos tradicionalmente utilizados no peneira- mento podem ser vibratórios, rotativos e estáticos e são clas- sificados em: 1. Grelhas: barras metálicas paralelas com espaçamento de- finido. 2 A dimensão da abertura da peneira é chamada de mesh. 22 Processos Químicos na Indústria 2. Crivos: chapas metálicas planas ou curvas perfuradas. 3. Telas: fios metálicos trançados na forma de malhas (mesh). Classificação A classificação é um processo de separação que se ba- seia na velocidade de sedimentação das partículas imersas em meio fluido. Os processos utilizados são: Hidroclassificação: o fluido classificador é a água Aeroseparação: o fluido classificador é o ar. Nos dois processos, o fluido é injetado em direções dife- rentes do fluxo3 do material e a força de arraste separa os materiais de diferentes densidades. As partículas menores são arrastadas pelo fluido enquanto as maiores são acumuladas na porção inferior dos equipamentos para posterior remoção (Figura 3). 3 Geralmente o fluido tem fluxo ascendente, enquanto o minério a ser classificado é alimentado no contrafluxo. Capítulo 2 Tratamento de Minérios 23 Figura 3 Fluxo de classificação. Adaptado de Sampaio e França (2010) Os equipamentos utilizados na aplicação da técnica de hi- droclassificação são divididos em dois grupos principais: 1. Classificadores horizontais: utilizados quando o tamanho é o critério de classificação. Dividem-se em: cone de sedi- mentação, classificador horizontal e classificador espiral. 2. Classificadores verticais: utilizados quando o a densidade das partículas é o critério de classificação. Dividem-se em classificador vertical e hidrociclones. 24 Processos Químicos na Indústria Na aerosseparação são utilizados, principalmente, os ci- clones e os aerosseparadores dinâmicos. Concentração O objetivo da concentração é a separação e posterior recu- peração dos minerais úteis contidos em um minério na for- ma mais concentrada possível. Osprocessos de concentração aplicam diversas propriedades físicas para atingir os níveis de- sejados, sendo necessário o conhecimento prévio do material a ser concentrado. A natureza do minério e as propriedades dos minerais a serem concentrados definem as técnicas que devem ser apli- cadas. Algumas dessas propriedades são: tamanho relativo das partículas (granulometria), cor, densidade, suscetibilidade magnética, condutividade elétrica, molhabilidade superficial4 e solubilidade. Concentração gravimétrica ou gravítica A concentração gravimétrica envolve os processos em que a força da gravidade ou a força centrífuga são utilizadas para separar as partículas (SAMPAIO; FRANÇA, 2010). Apesar de ser uma das formas mais antigas de processamento, apresenta bons resultados com baixo custo. De forma similar ao processo de classificação, esse pro- cesso também é baseado na diferença de densidade existente entre as partículas. 4 Capacidade de um fluido em entrar em contato íntimo com uma superfície. Capítulo 2 Tratamento de Minérios 25 Os equipamentos utilizados são: calhas concentradoras (“sluice Box”), concentrador Reichert, jigues, mesas vibratórias, espirais e cones. A concentração gravimétrica é aplicada no tratamento de cascalhos auríferos, cassiterita aluvionar, na produção de ilme- nita, zirconita, monazita e cromita. Concentração por meio denso A concentração em meio denso é um dos métodos mais importantes da concentração gravítica. Também é baseado na diferença de densidade existente entre as partículas dos mine- rais, porém utiliza um fluido com densidade intermediária à dos constituintes a serem separados. O fluido utilizado nos concentradores pode ser constituído de líquidos orgânicos, soluções de sais inorgânicos ou suspen- são de sólidos insolúveis dispersos em água. Os equipamentos mais usados são os tambores, cones e centrifugadores. Entre as vantagens deste método, encontram- -se a precisão da separação de uma determinada densidade e a relativa rapidez na sua troca em caso de ajuste de processo. Por outro lado, torna-se mais caro em função da necessidade de instalações de recuperação e limpeza do meio e sua recir- culação. As aplicações industriais se concentram em duas grandes áreas: beneficiamento de carvão, como produto final, e ob- tenção de pré-concentrados de diamante, fluorita, sulfetos e óxidos metálicos. 26 Processos Químicos na Indústria Concentração magnética Na concentração magnética, o processo é baseado na res- posta magnética (susceptibilidade magnética) dos minérios a serem tratados. Os minerais dividem-se em três grupos, de acordo com o seu comportamento quando submetidos a um campo magné- tico, tanto natural quanto induzido: Ferromagnéticos: minérios que são fortemente atraídos por campos magnéticos. Exemplo: magnetita. Paramagnéticos: minérios que são fortemente atraídos por campos magnéticos. Exemplo: hematita. Diamagnéticos: minérios que são repelidos por campos magnéticos. Exemplo: quartzo, cerussita, magnesita, calcita, barita e fluorita. A concentração magnética pode ocorrer via seca ou via úmida. Os equipamentos mais utilizados são tambores, cor- reias, rolos, carrosséis e filtros. Nesses equipamentos, as prin- cipais variáveis de controle são: intensidade do campo magné- tico, granulometria de alimentação, velocidade de passagem pelo campo e distância até o magneto. O campo de aplicação da separação magnética é muito amplo. Ela é usada na concentração de vários minerais ferro- sos e não ferrosos, na remoção de impurezas magnéticas con- tidas nos minerais industriais, na purificação de águas residu- ais, na reciclagem de metais contidos em resíduos industriais etc. (SAMPAIO; FRANÇA, 2010). Capítulo 2 Tratamento de Minérios 27 Concentração eletrostática Na concentração eletrostática, a propriedade determinante é a condutividade elétrica. Os minerais se classificam em con- dutores e não condutores de corrente elétrica. Há uma indução de carga elétrica superficial no material particulado e ocorre a separação entre as partículas carrega- das e as não carregadas (WILBERG, 2007). Para promover a separação, é necessária a existência de dois fatores elétricos (SAMPAIO; FRANÇA, 2010):  Carga elétrica superficial das partículas ou polarização induzida, permitindo sofrer influência do campo elétrico.  Campo elétrico de intensidade suficiente para desviar uma partícula eletricamente carregada, quando em mo- vimento na região do campo. Os equipamentos utilizados são chamados de separadores eletrodinâmicos. Como todo processo industrial, a separação eletrostática tem suas limitações; apesar disso, este método de separação é utilizado no processamento de minérios, purificação de ali- mentos e gases de chaminés industriais, por exemplo (SAM- PAIO; FRANÇA, 2010). Flotação O processo de flotação utiliza a modificação da tensão su- perficial de uma mistura de água e minério previamente comi- nuído, chamada polpa, associada à característica hidrofóbica dos minérios. 28 Processos Químicos na Indústria O processo associa as fases sólida, líquida e gasosa para realizar a separação. As partículas de minério (sólidas) disper- sas em água (líquida) são arrastadas por bolhas de ar (gás) injetadas no processo e removidas como espuma concentrada no minério. A flotação, atualmente, é o processo dominante no trata- mento de quase todos os tipos de minérios, devido a sua gran- de versatilidade e seletividade e, ainda, permite a obtenção de concentrados com elevados teores e expressivas recuperações. Esta técnica é adotada na produção areias, quartzos de elevada pureza, cloretos, feldspatos, fluorita, fosfatos, magne- sita, sulfetos e talcos (WILBERG, 2007). Desaguamento O beneficiamento de minérios requer, em muitas de suas eta- pas, a separação sólido-liquido para sua viabilidade, quer seja por polpas muito diluídas, quer por trabalhar em via úmida. Esta separação é chamada de desaguamento e consiste em remover a água do minério para a obtenção de produtos com baixa umidade. As operações unitárias utilizadas para este fim são sedimen- tação, filtração a vácuo, centrifugação e secagem. O produto final pode ser um sólido desaguado ou um líquido clarificado. Capítulo 2 Tratamento de Minérios 29 Metalurgia extrativa A metalurgia extrativa é o ramo da metalurgia que trata da extração de metais, ferrosos ou não, do seu minério previa- mente tratado. Pode ser aplicada em processos de produção de metais brutos ou no seu refino. Três são as técnicas mais utilizadas na metalurgia extrativa: pirometalurgia, hidrometalurgia e eletrometalurgia. Pirometalurgia Os processos que utilizam o calor para a extração do metal de um minério é chamado de pirometalurgia. Os minerais obtidos na etapa de tratamento, anteriormen- te descrita, são submetidos a processos pirometarlúgicos em fornos de altíssimas temperaturas (acima de 1000oC), onde o mineral concentrado é enriquecido, incrementando-se assim o seu grau de pureza ao separá-lo dos outros minerais que o acompanham. Este método pode ser utilizado para separação, produção ou purificação de metais. As etapas deste processo ocorrem dentro de um forno de redução e são elas: fundição, redução de metal, formação de escória contaminada por óxidos não reduzidos e separação da fase metálica da escória por dife- rença de densidade. A pirometalurgia gera grandes volumes de gases, poeiras e resíduos, chamados de escória, potencialmente poluentes. 30 Processos Químicos na Indústria Hidrometalurgia A hidrometalurgia envolve os processos de extração de metais nos quais a separação metal-ganga utiliza as propriedades de dissolução do metal-minério em meio aquoso. A extração é realizada com lixiviação5 ou dissolução de metais. Além da lixiviação, outras operações unitárias são aplica- das na hidrometalurgia, a saber:  Precipitação de compostos;  Troca iônica;  Extração por solventes;  Cementação;  Eletrorrecuperação; Eletrorrefino de metais. A extração por hidrometalurgia apresenta um custo de re- cuperação relativamente baixo. A perda do material de interes- se é reduzida, além de, praticamente, não produzir emissões atmosféricas. Por outro lado, a geração de efluentes líquidos é intensa, o consumo de energia é elevado e ocorre a produção de sais indesejáveis. Todos esses rejeitos fazem com que a hi- drometalurgia apresente alto potencial poluidor. A utilização do “Diagrama de Porbaix” é obrigatória para a determinação das condições de processamento. O diagrama 5 Lixiviação é o processo de extração de uma substância de um sólido através da sua dissolução em um líquido. Capítulo 2 Tratamento de Minérios 31 identifica em que condições de pH um metal e os produtos dele derivados são estáveis em solução aquosa. O metal dis- solvido deve ser separado por alguma técnica de separação como, por exemplo, precipitação, extração por solventes ou troca iônica. A hidrometalurgia é muito aplicada nos processos de recu- peração de cobre, ouro, urânio, zinco, níquel, titânio, terras- -raras, dentre outros (SAMPAIO; FRANÇA, 2010). Eletrometalurgia A eletrometalurgia é um processo que engloba a obtenção de metais por meio da utilização de corrente elétrica em uma técnica chamada eletrólise. O processo apresenta alto consu- mo de energia elétrica e baixa produtividade, porém permite a recuperação de metais com alto grau de pureza. É muito utilizada para a recuperação de alumínio, magnésio e sódio. O processo ocorre dentro de uma célula eletroquímica na presença de dois eletrodos submersos em solução com o me- tal. Uma corrente elétrica é aplicada entre os dois eletrodos e o metal fica depositado sobre o eletrodo que apresentar afini- dade (WILBERG, 2007). Recapitulando Os diversos minerais utilizados nos processos industriais exi- gem a aplicação de tratamentos prévios antes de sua transfor- mação. A esta série de processos chamamos de “tratamento 32 Processos Químicos na Indústria ou beneficiamento de minérios” e são de primordial importân- cia para a indústria. O beneficiamento de minérios é realizado de quatro eta- pas: cominuição, classificação, concentração e desaguamen- to. Vimos, também, que são processos com uso intenso de energia e com alto potencial de geração de resíduos. Além dos processos de beneficiamento, são aplicadas três técnicas na metalurgia extrativa: pirometalurgia, hidrometalur- gia e eletrometalurgia, de acordo com o tipo de metal que deve ser obtido ou purificado. Referências DUTRA, R. Beneficiamento de Minerais Industriais. II En- contro de Engenharia e tecnologia dos Campos Gerais, 2008. KELLY, E.G.; SPOTTISWOOD, D.J. Introduction to Mineral Processing. New York: Jhon Wiley & Sons, 1982. SHEREV, R. N.; BRINK Jr.; J. A. Indústrias de Processos Quí- micos. 4. ed. Rio de Janeiro: Ed. Guanabara, 1997. SAMPAIO, J.A. e FRANÇA S.C.A. Tratamento de Minérios. 5. ed. Ed. Adão Benvindo da Luz. Rio de Janeiro: CETEM/ MCT, 2010. WILBERG, K. Q. Tecnologia Industrial. Caderno Universitá- rio 405. Ed. ULBBRA, 2007. Capítulo 2 Tratamento de Minérios 33 Atividades 1) Quais as etapas do beneficiamento de minérios? 2) Explique cada etapa do beneficiamento de minérios. 3) Em que consiste a eletrometalurgia? 4) Em que consiste a pirometalurgia? 5) O que é resíduo na hidrometalurgia? Rubens Zolar da Cunha Gehlen1 Capítulo 3 Indústria Siderúrgica 1 Engenheiro Químico, Especialista em Engenharia de Produção e Mestre em En- genharia área de Fenômenos de Transporte pela UFRGS. Professor dos cursos de Engenharia Química e Engenharia de Produção da ULBRA Canoas. Capítulo 3 Indústria Siderúrgica 35 Introdução A indústria siderúrgica é uma das mais importantes da econo- mia brasileira. A cadeia produtiva siderúrgica reúne parcela significativa da indústria nacional, além de participar como matéria-prima de inúmeros produtos dos mais diversos seg- mentos econômicos. A história da siderurgia nacional inicia no período do Bra- sil Colônia com a criação da primeira fábrica de ferro, por Afonso Sardinha, em 1590. A partir do século XX, a siderur- gia nacional deu um grande salto de qualidade e volume de produção, colocando o Brasil entre os maiores produtores e exportadores de aço mundiais (Instituto do Aço). O aço deixou de ser um insumo dedicado à construção civil e, no mundo moderno, passou a ser utilizado nas mais di- versas aplicações, como: indústria automobilística, produção de bens de capital, máquinas e equipamentos, utilidades do- mésticas e comerciais diversas (Instituto do Aço). Este capítulo apresenta aspectos da matéria-prima utiliza- da na produção do ferro, as reações químicas envolvidas no processo siderúrgico e o processo de transformação de ferro em aço. Matérias-primas A siderurgia do ferro utiliza três matérias-primas principais: o minério de ferro, o carvão e o calcário. 36 Processos Químicos na Indústria O minério de ferro (hematita) é a fonte do elemento ferro. O carvão atua como combustível, como agente redutor2 do minério de ferro e como fornecedor de carbono para a fabri- cação de aços liga. O calcário atua como fundente3, ou seja, agente gerador de subprodutos (escórias) (GAUTO; ROSA, 2013). Preparação do minério de ferro A operação de concentração do minério de ferro foi descrita no Capítulo 2 e busca fornecer à indústria siderúrgica um mi- neral com concentração maior do que 60% de ferro com po- rosidade adequada à passagem dos gases redutores gerados pelo carvão. A presença de sólidos finos no minério concen- trado dificulta a entrada de ar e, consequentemente, reduz a eficiência da redução. A aglomeração do mineral pode ser realizada na própria siderúrgica ou pela mineradora. Como dito no parágrafo an- terior, o objetivo da etapa de preparação é melhorar a per- meabilidade da carga no alto-forno, reduzindo o consumo de carvão e acelerando o processo de redução. Do ponto de visto do pós-processamento, também reduz a quantidade de finos emitida e lançada pelo alto-forno no sistema de recuperação de resíduos. É importante destacar que muitas empresas da 2 Na siderurgia, a transformação do minério de ferro em ferro metálico (ou gusa) é chamada de redução em função do tipo de reação química que ocorre no alto- -forno. 3 Fundente: agente auxiliar na fusão de metais durante o processo de redução facilita a geração da escória. Também é responsável pela remoção de elementos químicos indesejáveis no ferro-gusa como enxofre e silício. Capítulo 3 Indústria Siderúrgica 37 área substituíram a utilização do minério de ferro como maté- ria-prima por sucata de ferro por redução de custo e otimiza- ção do uso de energia. Os processos de aglomeração mais empregados são sinte- rização e pelotização, que consiste na aglutinação de finos do minério. Na sinterização, adiciona-se um fundente aos finos do mineral e funde-se a 1500°C. A obtenção do sínter ocorre após resfriamento e britagem. O sínter é constituído por partí- culas porosas sólidas com 5 mm de dimensão. Preparação do carvão O carvão mineral é o tipo de carvão utilizado nos processos si- derúrgicos. Entretanto, este tipo de carvão apresenta algumas características que inviabilizam sua aplicação direta. O carvão mineral não apresenta resistência suficiente para suportar as temperaturas utilizadas nos altos-fornos, por exemplo. Para al- terar suas características físicas, ele é submetido a um processo chamado de coqueificação, no qual é transformado de carvão mineral em carvão coque, adequado ao processo siderúrgico. O processo de coqueificação consiste na destilação, na ausência de ar, do carvão, para que ocorra a liberação de suas substâncias voláteis. A coqueificação se processa em fornos onde o carvão mineral é submetido à temperatura da ordem de 1300°C por 18 horas. Esse processamento resulta no coque metalúrgico que possui porosidade, alta resistência mecânica, alto ponto de fusão e é composto basicamentepor carbono. O coque representa mais da metade do custo total do processo siderúrgico. 38 Processos Químicos na Indústria O carvão coque tem como função:  Fornecer calor para as reações químicas e fundir as es- córias e os produtos metálicos gerados no processo de redução.  Produzir e regenerar os gases de redução.  Formar uma estrutura de sustentação (suporte) forte e permeável, que permita a passagem da escória e do metal entre o ponto de alimentação e a fornalha, além de permitir que os vários gases formados possam se ele- var até o topo do forno.  Fornecer o carbono que se dissolverá no metal quente, formando o ferro gusa e outras ligas metálicas. Preparação do fundente Fundentes são compostos minerais adicionados ao alto-forno visando reduzir o ponto de fusão das impurezas (ganga) pre- sentes no minério, gerando a escória. A fusão das impurezas auxilia na sua remoção, produzindo um ferro-gusa de melhor qualidade. Além do calcário, sílica e óxido de magnésio tam- bém são materiais utilizados como fundentes. A mistura das matérias-primas que forma o fundente é mo- ída e peneirada até atingir a granulometria adequada para a alimentação no alto-forno. Capítulo 3 Indústria Siderúrgica 39 Processo siderúrgico Um dos segmentos mais importantes da indústria metalúrgica é a siderurgia. Especificamente, a siderurgia é a área da meta- lurgia que trabalha com a produção e transformação do aço. Outras áreas da metalurgia que produzem e transformam me- tais são as indústrias de produção de alumínio e níquel, entre outros metais que não serão abordadas neste livro. O aço comum é composto por uma liga metálica com ferro e carbono em diferentes proporções. Além do aço comum, a indústria siderúrgica produz os chamados aços especiais a partir da adição de outros elementos que irão conferir carac- terísticas específicas a estes metais, por exemplo: a adição de pequeno percentual de cromo torna um aço comum no chamado aço inoxidável com ampla utilização na indústria moderna. Já os aços utilizados na construção civil, o teor de carbono é da ordem de 0,18% a 0,25%, normalmente sem a adição de elementos especiais. Produzido a partir do minério de ferro, carvão e cal, o pro- cesso de produção do aço ocorre em quatro etapas (Figura 1):  Preparação da carga;  Redução;  Refino;  Laminação. 40 Processos Químicos na Indústria Figura 1 Processo Siderúrgico – fluxograma simplificado. As plantas industriais siderúrgicas que produzem aço são chamadas de usinas e são classificadas de acordo com a ver- ticalização do seu processo produtivo: Integradas – são aquelas usinas que operam, pelo menos, as três etapas básicas: redução, refino e laminação. Dessa maneira, integram todo o processo de produção do aço. Semi-integradas – são aquelas usinas que operam as duas etapas finais: refino e laminação. Estas usinas utilizam ferro-gusa, ferro-esponja ou sucata metálica para transformá- -los em aço em aciarias elétricas e posterior laminação. Preparação da Carga Uma parte do minério de ferro (finos) é aglomerada, utili- zando-se o fundente e os finos produzidos na operação de Capítulo 3 Indústria Siderúrgica 41 coqueificação. O produto resultante é chamado de sínter. O carvão é processado na coqueria e transformado em coque. Redução Após a preparação da carga, as matérias-primas são carre- gadas de forma contínua no alto forno (Figura 2). Oxigênio pré-aquecido por volta de 1000ºC é injetado no alto forno. O carvão, em contato com o oxigênio, produz calor, que funde a carga metálica e dá início ao processo de redução do mi- nério de ferro em um metal líquido, chamado de ferro-gusa. O ferro-gusa é uma liga de ferro e carbono com um teor de carbono muito elevado. Figura 2 Alto forno. Adaptado de http://ftp.demec.ufpr.br/disciplinas/TM049/Aula%201.pdf Disponível em https://pixabay.com/pt/alto-forno-ind%C3%BAstria-659016/ 42 Processos Químicos na Indústria Como vimos, um alto-forno é utilizado para reduzir os óxidos dos minérios de ferro utilizando um redutor (coque). No alto-forno, é carregada a carga sólida formada por com- bustíveis, redutores, minério de ferro e fundentes que são car- regados pelo topo de forma contínua. O alto-forno usualmente é dividido em zona de amolec- imento e fusão, zona de gotejamento e zona de combustão. As reações químicas ocorrem, principalmente, acima da zona de combustão, e são elas: 1. Geração de CO2 pela queima do coque: C (coque) + O2(gás) → CO2(gás) (1) 2. Decomposição do CO2 por contato com o coque: CO2(gás) + C (coque) → 2CO(gás) (2) 3. Redução indireta na zona de fusão (1300°C): 3Fe2O3(sólido) + CO(gás) → 2Fe3O4(sólido) + CO2(gás) (3) Fe3O4(sólido) + CO(gás) → 3FeO(sólido) + CO2(gás) (4) FeO(sólido) + CO(gás) → Fe(sólido) + CO2(gás) (5) 4. Redução direta na zona de maior temperatura (1600°C) e formação do ferro-gusa: 3Fe(sólido) + C(coque) → Fe3C(sólido) (6) 3Fe(sólido) + 2CO(gás) → Fe3C(sólido) +CO2(gás) (7) Neste ponto, ocorre a formação do ferro-gusa (Fe3C) e, ain- da, são incorporados outros elementos presentes na matéria-pri- Capítulo 3 Indústria Siderúrgica 43 ma em quantidades pequenas (WILBERG, 2007). Não pode ser esquecida a formação da escória, gerada pela combinação do fundente (calcário) com a ganga do minério e o carvão. Refino No encerramento da etapa de redução, a siderúrgica obtém o chamado ferro-gusa, que não apresenta as características necessárias para aplicações industriais mais complexas, ou seja, ainda não é um aço ou um ferro fundido convencional. Para atingir a especificação de um aço, o ferro-gusa deve ser refinado pela redução dos teores de alguns elementos como o carbono, fósforo, enxofre e manganês, entre outros. A operação de refino é realizada em unidades industriais chamadas de aciarias. As aciarias realizam o refino utilizando oxigênio e eletricidade para transformar o ferro-gusa e a suca- ta (de ferro e/ou aço) em aço líquido. Nesta etapa, parte do carbono contido no ferro-gusa é re- movida juntamente com as impurezas. O princípio químico apli- cado é a oxidação dos elementos constituintes do ferro-gusa pela injeção controlada de O2 ou de ar atmosférico. O volume de gás em excesso é removido pelas chaminés ou absorvido pela escória. A escória, por sua vez, é formada por óxidos de man- ganês, ferro, sílica e outros elementos e apresenta baixo ponto de fusão, o que facilita sua remoção na etapa de lingotamento. Além da transformação de ferro-gusa (ou sucata) em aço carbono na aciaria, também são produzidos os aços especiais. Os aços especiais são assim chamados por apresentarem car- acterísticas físicas e químicas diferenciadas, por exemplo, a 44 Processos Químicos na Indústria adição de cromo ao aço carbono produz a família dos aços in- oxidáveis com larga aplicação na civilização moderna. Outros elementos de liga são adicionados na etapa de refinamento de acordo com as características que o aço final deve apresentar para atender à especificação do cliente da aciaria. Lingotamento e laminação Após a o refino, o aço sofre o processo de lingotamento. Atra- vés de uma abertura no fundo da panela, o aço líquido é es- coado para um molde chamado de lingoteira. A maioria das aciarias utiliza o processo de lingotamento contínuo para soli- dificar o aço (Figura 3). Dessa forma, o aço resfria e solidifica na forma do molde da lingoteira, formando barras com dife- rentes perfis. É importante ressaltar que, associada à linha de lingotamento contínuo, encontra-se uma seção de corte para ajustar o comprimento dos produtos formados. Figura 3 Lingotamento contínuo. Adaptado de http://www.belgo.com.br/noticias Capítulo 3 Indústria Siderúrgica 45 Os produtos do lingotamento contínuo podem ser: se- miacabados, lingotes e blocos de aço. Esses produtos serão processados, posteriormente, por equipamentos chamados la- minadores e transformados em diversos produtos siderúrgicos como chapas, arames,bobinas entre outros. Recapitulando Neste capítulo, foi apresentada a indústria siderúrgica. Esse tipo de indústria processa o aço em quatro etapas:  Preparação da carga;  Redução;  Refino;  Lingotamento e laminação. Referências BATISTA, A. A. M.. Utilização do gás de alto-forno para produção de energia na indústria siderúrgica de Mi- nas Gerais. 2009. 160p. Dissertação (Mestrado em Sus- tentabilidade Sócio-econômica e Ambiental)-Universidade Federal de Ouro Preto, Ouro Preto, MG, 2009. GAUTO, M.; ROSA, G. Química Industrial. Editora Book- man, 2013. 46 Processos Químicos na Indústria INSTITUTO DO AÇO. Disponível em: <http://www.acobrasil. org.br>. Acesso em: 03 jun. 2015. SHEREV, R. N.; BRINK Jr.; J. A. Indústrias de Processos Quí- micos. Ed. Guanabara, 4 Edição. Rio de Janeiro, 1997. WILBERG, K. Q. Tecnologia Industrial. Caderno Universitá- rio 405. Ed. ULBBRA, 2007. Atividades 1) Quais são as matérias-primas utilizadas na indústria side- rúrgica? 2) Quais as reações químicas que ocorrem no alto forno? 3) Quais as reações químicas que ocorrem na aciaria? 4) Qual a finalidade da etapa de aciaria? 5) Quais os resíduos gerados na indústria siderúrgica? Rubens Zolar da Cunha Gehlen1 Capítulo 4 Indústria Cimenteira 1 Engenheiro Químico, Especialista em Engenharia de Produção e Mestre em Engenharia área de Fenômenos de Transporte pela UFRGS. Professor dos cursos de Engenharia Química e Engenharia de Produção da ULBRA Canoas. 48 Processos Químicos na Indústria Introdução A Engenharia Civil moderna nos apresenta, a cada dia, obras cada vez mais surpreendentes. A corrida pela construção do prédio mais alto do mundo, por exemplo, iniciou junto com o século XX e não parou mais. Os materiais utilizados nas cons- truções humanas variaram muito ao longo dos milênios; po- rém, uma característica observada naquelas de grande porte e durabilidade foi a utilização de minérios e aglomerantes como elementos principais. Das grandes pirâmides do Egito, passando pelos templos gregos e romanos, pela proposta arquitetônica de Brasília e chegando aos modernos prédios de Dubai, encontramos a presença do cimento na sua forma pura ou associado a outros materiais. O uso do concreto de cimento em moradias e em grandes obras de engenharia se mostrou uma solução técnica e econo- micamente viável a partir do início do século XX em função da abundância e baixo custo de suas matérias-primas. O cimento moderno é utilizado sob a forma de concreto em uma mistura altamente resistente composta por cimento, areia e pedras. Usualmente, a moderna Engenharia Civil tra- balha com o “concreto armado”, ou seja, a mistura de cimen- to, água, areia e pedra recebe o reforço de estruturas (ar- mações) metálicas que aumentam a resistência mecânica do material final. Tecnicamente, o cimento é chamado aglomerante em fun- ção de sua capacidade de unir diferentes matérias através de Capítulo 4 Indústria Cimenteira 49 reações químicas. O cimento com maior utilização é o cha- mado cimento Portland. Ele recebe este nome em função da semelhança com um mineral extraído da península inglesa de Portland e também utilizado como aglomerante. O cimento é obtido através da calcinação2 de suas maté- rias-primas em fornos fixos ou rotativos. O material resultante é chamado de clínquer. Matérias-primas As matérias-primas principais necessárias à produção de ci- mento são calcário, argila e gesso (gipsita). Esses produtos são abundantes na crosta terrestre. A Tabela 1 mostra a composi- ção média do cimento Portland. Tabela 1 Composição média do cimento Portland Matéria-prima Percentual Fonte Óxido de Cálcio – CaO 60 a 70% Calcário – Cal Óxido de Silício – SiO2 17 a 25% Argila – Sílica Óxido de Alumínio – Al2O3 3 a 8% Argila – Alumina Óxido de Ferro – Fe2O3 2 a 5% Minério de Ferro – Mag- netita Óxido de Enxofre – SO3 0,5 a 2% Gesso – Sulfatos Fonte: adaptado de Filho (2011) 2 Calcinação: exposição de minério a temperaturas acima de 500oC. 50 Processos Químicos na Indústria O calcário é a matéria-prima que tem a maior participação na composição do clínquer. Para produzir uma tonelada de clínquer são necessárias 1,4 toneladas de calcário, em média. Calcário O calcário é composto, principalmente, de carbonato de cál- cio (CaCO3). Apesar de abundante na crosta terrestre, sua adequação como matéria-prima do cimento depende de sua pureza e tipo de contaminantes. A presença do óxido de Mag- nésio (MgO) em proporções elevadas pode causar trincas no concreto. A legislação brasileira fixa em 6,5% a proporção máxima de MgO. Para atingir a proporção final de CaO no clínquer, parte-se de calcários com teor de CaCO3 da ordem de 80 a 85%. Conforme a Tabela 1, o CaO é o ingrediente em maior proporção no clínquer. O CaO tem sua origem na decomposi- ção térmica, acima de 700°C, do CaCO3, conforme a reação 1, gerando dióxido de carbono e óxido de cálcio. CaCO3(sólido) + calor → CaO(sólido) + CO2(gás) (1) No produto final, o óxido de cálcio (ou cal queimada) é o constituinte responsável pelo endurecimento da mistura. Quando misturado com a água, ocorre a formação de silica- tos de cálcio hidratados com a liberação de calor, conforme a reação 2. CaO(sólido) + H2O(líquido) → Silicatos de Cálcio hidratados(sólido) + calor (2) Capítulo 4 Indústria Cimenteira 51 Por ser uma reação que libera calor (exotérmica), a pega3 do cimento em estruturas muito espessas exige cuidado para evitar superaquecimento e as consequentes fissuras no cimen- to, o que afeta a durabilidade da construção. Com frequência, é utilizada água gelada ou gelo para minimizar esse problema. Argila Assim como o calcário, a argila também é abundante na cros- ta terrestre e apresenta composição química variada de acor- do com sua ocorrência. Ela é formada por silicatos associados a outros óxidos como os de alumínio, ferro e potássio, entre outros. Do ponto de vista da indústria cimenteira, as associa- ções com alumínio (Al2O3) e ferro (Fe2O3), além da própria sílica (SiO2), são os mais importantes. Os aluminatos derivados da argila apresentam papel im- portante na preparação do clínquer quando afetam a visco- sidade da fase líquida e no produto endurecido, no qual au- mentam a resistência a águas agressivas, à água salgada, por exemplo. Se não houver algum agente de correção, porém, fazem a mistura endurecer rapidamente, inviabilizando o uso do concreto. 3 Pega do cimento: termo utilizado para descrever a série de reações químicas que envolvem o processo de transformação do cimento de massa pastosa em substân- cia dura e resistente à água e a esforços mecânicos. 52 Processos Químicos na Indústria Gesso Outro minério essencial para o correto dimensionamento de um cimento é o gesso. O gesso é obtido a partir do aqueci- mento da gipsita e é composto basicamente por sulfato de cálcio hidratado (CaSO4.2H2O). Sua função é a de regular o tempo de pega do concreto uma vez que, sem a sua presença, as reações de hidratação (reação com a água) que ocorrem durante a fase inicial seriam tão rápidas que impediriam seu uso. Fabricação do cimento A produção de cimento envolve duas grandes frentes de ativi- dade industrial: a mineração de calcário (frente de lavra) e a fabricação de cimento (indústria de transformação). Para oti- mizar o processo produtivo e reduzir os custos de transporte das matérias-primas, a indústria cimenteira interliga, sempre que possível, as duas atividades. O uso de correias transporta- doras ou vagonetes teleféricas é comum. Esses equipamentos devem transportar o minério britado, geralmente o calcário, até a planta industrial onde se localiza o forno de clínquer. Essa configuração industrial justifica a localização frequente de cimenteiras em áreas de mineração (SANTI, 2003). Por ou- tro lado, este fator insere no processo produtivo o custo de transporte do produto acabado até o mercado consumidor. Capítulo 4 Indústria Cimenteira 53 Operaçõesunitárias da indústria cimenteira As operações unitárias aplicadas à fabricação do cimento pre- param as matérias-primas tanto na etapa de lavra quanto na etapa de formação do clínquer. As operações unitárias na lavra são aquelas que ajustam a granulometria dos minérios utilizados, ou seja, são as ope- rações de cominuição que vimos no Capítulo 2. Esse ajuste de granulometria deve garantir o contato íntimo entre as ma- térias-primas na etapa de conversão (formação do clínquer). Já as operações unitárias na cimenteira envolvem, além da transformação física, as conversões químicas que ocorrem no processo de calcinação a altas temperaturas. A formação do clínquer é uma reação exotérmica (libera calor); porém, a energia liberada não é suficiente para que o processo ocorra de forma espontânea, ou seja, o balanço de energia é endotérmico (absorve calor). Devido a isso, é neces- sário utilizar algum tipo de combustível para garantir a tempe- ratura correta ao longo do forno de conversão. As reações de conversão no forno são quase todas em fase sólida; porém, ao final do processo, ocorre a fusão da massa reacional. É na fase líquida (fundida) que ocorrem as reações de terminação do cimento e, consequentemente, são formados os elementos que irão garantir sua resistência final (SHREVE, 1997). Processos de fabricação Para entregar ao mercado o cimento como insumo da indús- tria de construção civil, são necessários, pelo menos, dois es- 54 Processos Químicos na Indústria tágios de operações unitárias. O primeiro estágio consiste na produção do clínquer em forno de conversão por calcinação, e o segundo, passa pela adição do gesso e posterior homoge- neização e moagem. A preparação do clínquer pode ser feita utilizando dois pro- cessos principais:  Processo via úmida  Processo via seca Em ambos os processos (Figura 1), os minérios são extra- ídos da lavra e cominuídos; as demais matérias-primas são adicionadas e tudo é misturado. A diferença entre os proces- sos se encontra na forma como o clínquer é terminado. O clínquer final não apresenta diferença de qualidade em função do processo de fabricação (SHREVE, 1997). Os dois processos utilizam diversos tipos de combustíveis, dos quais se destacam o óleo combustível e o coque de car- vão. Modernamente, foi desenvolvida a técnica de coproces- samento4, que utiliza resíduos com valor energético de outras indústrias. 4 Vamos detalhar esse processo a seguir. Capítulo 4 Indústria Cimenteira 55 Figura 1 Fluxograma de produção de cimento. Adaptado de Wilberg (2007) Processo via úmida O processo via úmida foi o primeiro a ser desenvolvido pela indústria cimenteira. E de fácil operação e não demanda siste- mas complexos de filtragem para abater o material particulado gerado. Este processo está caindo em desuso devido ao uso intensivo de energia, água e a dificuldade de controle da qua- lidade do produto e do processo produtivo. Neste processo, a cominuição dos minérios se dá em fase líquida, formando uma lama com até 40% de água que é bombeada para o forno de calcinação. Dentro do forno, ocor- re a remoção da água adicionada na etapa de moagem. Após 56 Processos Químicos na Indústria a remoção da água, a lama seca passa a ser chamada de “farinha” e as reações de conversão em clínquer se processam da mesma forma que no processo a seco (SANTI, 2003). Processo via seca O processo a seco vem, gradativamente, substituindo o pro- cesso úmido em função do custo de energia e consumo de água deste. O processo a seco garante menor consumo de combustível ao mesmo tempo em que facilita o controle de processo e da qualidade do clínquer. Entretanto, apesar de consumir menos combustível, o processo a seco atinge tempe- raturas mais altas (acima de 1300oC) o que exige equipamen- tos mais robustos e mais caros (SHREVE, 1997). Os principais insumos do processo por via seca são a ar- gila e o calcário. A mistura com 10% de argila de 90% de calcário é chamada de cru ou farinha crua. À farinha podem ser adicionadas pequenas quantidades de aditivos, como o óxido férrico. A farinha crua, aditivada ou não, é cominuída em moinhos de circuito aberto ou fechado. A moagem em circuito fechada é a preferida pela indústria cimenteira. Após a moagem, o cru é homogeneizado em silos e enviado pré- -aquecido para o forno de conversão (SHREVE, 1997). O forno de conversão inicialmente apresentava compri- mento menor (40 metros) que o forno em via úmida (até 200 metros); porém, em função do aproveitamento energético que fornos de maior comprimento proporcionam, a tendên- cia atual é de operar fornos em via seca com até 200 metros de comprimento, com diâmetro variando entre 2 e 6 metros Capítulo 4 Indústria Cimenteira 57 (WILBERG, 2007). Apesar de suas dimensões, os fornos de conversão são rotativos, girando com velocidade entre 0,5 e 2 rpm, apresentando leve inclinação (5° a 10°) para aproveitar a gravidade como força propulsora da farinha dentro do forno. O queimador é posicionado na porção superior do forno para garantir que as temperaturas de conversão sejam atingidas nos estágios apropriados. O tempo de conversão da farinha em clínquer é de até 3 horas. Imediatamente após a saída do forno, o clínquer passa por resfriadores (arrefecedores) que reduzem sua temperatura de 800oC até 100/200oC (SHREVE, 1997). Independentemente do comprimento do forno, o processo a seco exige instalações mais complexas e caras. O processo de homogeneização é difícil. Para sua correta execução, são necessários misturadores pneumáticos instalados nos silos de homogeneização, além do uso de filtros de alta eficiência para remoção do material particulado. No Brasil, predomina o uso do processo em via seca. Acabamento Após o resfriamento na saída do forno de conversão, o clín- quer é armazenado e aguarda o último estágio da fabricação do cimento. O acabamento do cimento consiste na moagem fina do clínquer adicionado com os diversos aditivos que o compõem. Um dos principais aditivos introduzidos nesta etapa é o ges- so, além de outros agentes para a produção de cimentos es- peciais. Após a moagem e homogeneização, o cimento está 58 Processos Químicos na Indústria pronto para ser ensacado ou armazenado para venda a gra- nel. Reações do processo de conversão (clinquerização) A conversão da farinha crua em clínquer se dá por meio de uma série de reações químicas e transformações físicas que iniciam já no processo de pré-aquecimento e se propagam pelo interior do forno. As reações que ocorrem no interior do forno compõem a chamada “queima“ das matérias-primas. À exceção da desidroxilação5 das argilas, todas as demais rea- ções são endotérmicas. As reações envolvidas são descritas a seguir: 1. Evaporação da água livre: ocorre em temperaturas abaixo de 100°C. Trata-se da remoção da umidade presente na farinha crua. É realizada no pré-aquecimento da farinha antes de entrar no forno de conversão. Não é uma reação química, mas uma transformação física. H2O(líquida) + energia → H2O(vapor) (3) 2. Decomposição do carbonato de magnésio: inicia em 340°C, porém, à medida que o teor de cálcio liberado no forno aumenta, sua temperatura de decomposição tam- bém aumenta. 5 Desidroxilação: reação de perda de uma molécula de água por uma substância qualquer. Capítulo 4 Indústria Cimenteira 59 MgCO3(sólido) + energia → MgO(sólido) + CO2(gasoso) (4) Lembre que mencionamos que o carbonato de magnésio é um contaminante do calcário. O MgO gerado irá se dis- solver na fase fundida (líquida) e poderá reduzir a resistência do cimento quando em proporções elevadas (acima de 6,5% segundo a legislação brasileira). 3. Decomposição do carbonato de cálcio: inicia em 805°C. É a principal reação na formação do clínquer. Deve estar completa antes que o material atinja a zona de clínqueri- zação do forno. CaCO3(sólido) + energia → CaO(sólido) + CO2(gás) (5) 4. Desidroxilação das argilas Para permitir a formaçãodo clínquer, as reações iniciais se processam em temperaturas inferiores àquelas atingidas no final do processo. Dessa forma, a primeira reação que ocorre a partir de 550°C é a desidroxilação da argila da farinha crua. Com a remoção da água, formam-se os silicatos de alumínio e ferro que posteriormente reagirão com o óxido de cálcio na formação do clínquer. 5. Formação do silicato dicálcico O silicato dicálcico (2CaO.SiO2) começa a se formar quan- do a temperatura atinge a marca de 900°C e a sílica (SiO2) reage lentamente com o CaO. A presença de ferro e de alu- mínio acelera a reação. Esses dois elementos estão disponíveis no meio reacional devido à etapa de desidroxilação da argila. 2CaO(sólido) + SiO2(sólido) + energia → 2CaO.SiO2(sólido) (6) 60 Processos Químicos na Indústria 6. Formação de silicato tricálcico O silicato tricálcico (3CaO.SiO2) inicia sua formação entre 1200 e 1400°C, segundo a reação (7). 2CaO.SiO2(sólido) + CaO(sólido) + energia → 3CaO.SiO2(sólido) (7) O clínquer obtido ao final do forno de conversão apresenta a composição média conforme Tabela 2. Tabela 2 Composição média do clínquer Fórmula Nome Símbolo 2CaO.SiO2 Silicato dicálcico C2S 3CaO.SiO2 Silicato tricálcico C3S 3CaO.Al2O3 Aluminato tricálcico C3A 4CaO.Al2O3.Fe2O3 Aluminoferrito tetracálcico C4AF MgO Óxido de magnésio livre MgO Fonte: adaptado de Shreve (1997) Tipos de cimento Portland A indústria cimenteira brasileira oferece diversos tipos de ci- mento Portland ao mercado. As diferenças de desempenho dos diferentes tipos são estabelecidas a partir da variação. Es- ses tipos se diferenciam de acordo com a proporção de clín- quer, sulfatos de cálcio, material carbonático e de adições, tais como escórias, pozolanas e calcário, acrescentadas no processo acabamento (moagem) (ABCP). Capítulo 4 Indústria Cimenteira 61 Os cimentos fabricados no Brasil devem obedecer às nor- mas regulamentadoras brasileiras: NBR 5732, NBR 5735, NBR 5736, NBR 11578, entre outras. A Tabela 3 mostra as diferentes composições dos cimentos nacionais. Tabela 3 Composição do cimento Portland brasileiro Tipo de cimento Portland Sigla Composição (% em massa) Norma Brasileira Clínquer + gesso Escória de alto forno (sigla E) Material pozolânico (sigla Z) Material car- bonático (sigla F) Comum CP I CP I-S 100 99-95 - 1-5 NBR 5732 Composto CP II-E CP II-Z CP II-F 94-56 94-76 94-90 6-34 - - - 6-14 - 0-10 0-10 6-10 NBR 11578 Alto-Forno CP III 65-25 35-70 - 0-5 NBR 5735 Pozolânico CP IV 45-85 - 15- 5- 0-5 NBR 5736 Alta Re- sistência Inicial CP V-ARI 100-95 0-5 NBR 5733 Fonte: adaptado de ABCP (2002) Todos os cimentos do tipo Portland apresentam em comum a característica já mencionada de necessitar da adição de ges- so para controlar o tempo de pega. Os tipos mais empregados na construção civil são: Cimento Portland comum: é o cimento que recebe so- mente a adição de gesso na sua composição ou uma pequena quantidade de pozolana. É utilizado para construção em geral, onde não são necessárias propriedades especiais. 62 Processos Químicos na Indústria Cimento Portland composto: divide-se em três tipos, de acordo com as adições. Apresentam propriedades intermediá- rias entre o cimento comum e os especiais; ao mesmo tempo, representam 75% do consumo nacional. São aplicados em obras correntes de engenharia civil como argamassa, concreto simples, armado e protendido, além de elementos pré-molda- dos e artefatos de cimento. CP II-E: aditivado com escória granulada de alto forno; CP II-Z: aditivado com pozolana; CP II-F: aditivado com material carbonático (geralmente argila). Cimento Portland de alto-forno: recebe adição de es- cória de Alto-Forno siderúrgico em proporções da até 70%. Confere propriedades de alta resistência mecânica e química ao concreto. Utilizado em obras como barragens, peças de grandes dimensões, fundações de máquinas, pilares, obras em ambientes agressivos, tubos e canais para condução de líqui- dos agressivos, esgotos e efluentes industriais, concretos com agregados reativos, pilares de pontes ou obras submersas, pa- vimentação de estradas e pistas de aeroportos. Cimento Portland pozolânico: recebe a adição de po- zolanas6. Sua adição reduz a permeabilidade e a porosidade capilar, aumentando a estabilidade e a durabilidade do con- creto. Sua aplicação é semelhante a do cimento de alto-forno. 6 Rocha vulcânica encontrada na localidade italiana de Pozzuoli. É rica em silica- tos. Combinações minerais sintéticas com composição química similar são também chamadas de pozolana e aplicadas na indústria cimenteira. Capítulo 4 Indústria Cimenteira 63 Coprocessamento Como você deve ter percebido, caro aluno, a fabricação do cimento é uma atividade de uso intenso de energia e recursos naturais. Isso traz como consequência impactos ambientais de grande monta. Reveja as reações de formação do clínquer e observe que ocorre emissão de CO2 nas etapas de decomposição dos car- bonatos da matéria-prima e na queima de combustíveis no interior do forno. As altas temperaturas de processo, geral- mente acima de 1000oC, tornam o forno de conversão uma alternativa viável para a recuperação energética e incorpo- ração de diversos resíduos industriais por meio do chamado “coprocessamento”. O coprocessamento é utilizado nos países desenvolvidos há muitas décadas. No Brasil, começou a ser utilizado na década de 90. Apesar de ser amigável do ponto de vista ambiental, seu uso passa por processo de licenciamento ambiental severo dentro do marco regulador existente, de acordo com a Política Nacional de Resíduos Sólidos aprovada em 2010. A técnica do coprocessamento consiste, basicamente, em queimar resíduos com valor energético em substituição parcial ao combustível que alimenta a chama no forno de conversão e incorporar suas cinzas no clínquer. Outra forma de coproces- samento é a incorporação de resíduos minerais não energéti- cos na farinha pura. A destruição segura de resíduos perigosos sempre foi um objetivo difícil de atingir. Na reação de conversão no interior 64 Processos Químicos na Indústria do forno encontramos as seguintes condições: alta tempera- tura da chama, longo tempo de residência dos gases, grande turbulência interior, além de vários outros parâmetros da com- bustão que tornam a produção de cimento ideal para atingir esse fim. Por trabalhar com esses parâmetros de forma inte- grada ao processo de fabricação, os fornos de cimento têm capacidade de processamento seguro de grandes volumes de resíduos, além de não alterar a qualidade final do cimento. Recapitulando Neste capítulo, foram vistas as matérias-primas para a produ- ção de cimento: calcário, argila e gesso. Estudou-se o processo produtivo do cimento, que é com- posto de várias etapas, sendo a clínquerização a mais impor- tante delas. Observaram-se também as questões ambientais relaciona- das à atividade. Referências ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE CIMENTO PORTLAND – ABCP. Guia Básico de Cimento Portland. São Paulo. 2002 GAUTO, M.; ROSA, G. Química Industrial. Porto Alegre: Bookman, 2013. Capítulo 4 Indústria Cimenteira 65 MCT, 2010. Emissões de gases de efeito estufa nos proces- sos industriais – Produtos Minerais (Parte I) – Produção de Cimento. Segundo Inventário Brasileiro de Emissões e Remoções Antrópicas de Gases de Efeito Estufa. Minis- tério da Ciência e Tecnologia, 2010. SANTI, A. M. M., 1997. O Emprego de Resíduos como Combustíveis Complementares na Produção de Ci- mento na Perspectiva da Energia, da Sociedade e do Meio Ambiente. Estudo de Caso: Minas Gerais no pe- ríodo 1980-1997. Dissertação e Mestrado. Universidade Estadual de Campinas. Campinas, SP. SHREVE, R. N.; BRINK Jr.; J. A. Indústrias de Processos Quí- micos. 4. ed. Rio de Janeiro: Ed. Guanabara, 1997. WILBERG, K. Q. Tecnologia Industrial. Caderno Universitá- rio 405. Ed. ULBRA, 2007. Atividades 1) Defina o processo industrial da indústria cimenteira. 2) Quais asmatérias-primas utilizadas para a produção de cimento? 3) Descreva o processo via seca. 4) Descreva o processo via úmida. 5) Quais os problemas ambientais relacionados à atividade de produção de cimento? Rubens Zolar da Cunha Gehlen1 Capítulo 5 Indústria de Cloro, Soda e Derivados 1 Engenheiro Químico, Especialista em Engenharia de Produção e Mestre em En- genharia área de Fenômenos de Transporte pela UFRGS. Professor dos cursos de Engenharia Química e Engenharia de Produção da ULBRA Canoas. Capítulo 5 Indústria de Cloro, Soda e Derivados 67 Introdução Os produtos químicos cloro (gás cloro) e soda (soda cáustica) são produzidos simultaneamente a partir das mesmas fontes de matérias-primas: água e cloreto de sódio, também conhecido como sal comum ou de cozinha. Além da fonte em comum, o processo de obtenção também é único: a eletrólise da mistura resultante do sal e da água, a salmoura. Além da fonte de matéria-prima e do processo produtivo, o cloro e a soda têm em comum, também, o fato de se cons- tituírem como importantes insumos de outras indústrias. Por outro lado, as aplicações e suas características são completa- mente diferentes: enquanto o cloro é um gás tóxico nas condi- ções ambientais, a soda é sólida nas mesmas condições E sua comercialização normal é como solução aquosa a 50%. São poucas as situações em que o cloro e a soda chegam ao con- sumidor final como produtos: a soda, quando utilizada como agente removedor, no caso de tubulações entupidas e limpe- za de caixas de gordura domésticas; e o cloro, como agente bactericida no tratamento de água potável (MONTENEGRO, 1998). A soda cáustica e o cloro são um dos pontos de partida como matérias-primas básicas para a indústria química mun- dial. Cerca de 50% das vendas químicas dependem, em al- guma etapa do seu processo produtivo, do cloro. Utilizam-se diversos produtos derivados deste setor: papel, produtos far- macêuticos e alvejantes, por exemplo. Sem contar que a vida em comunidades em grande escala só é possível pelo uso do 68 Processos Químicos na Indústria cloro devido a sua característica bactericida, empregada no tratamento de água (ANDRADE, 2006). Como matéria-prima da indústria química, as aplicações do cloro são variadas. É considerado o reagente mais em- pregado na indústria química, atingindo uma participação de 85% na produção de fármacos. Entre outras aplicações, pode- mos citar como alternativas de uso do cloro (MONTENEGRO, 1998):  Resinas de PVC (policloreto de vinila);  Defensivos agrícolas;  Fabricação do silício empregado em microprocessado- res eletrônicos;  Pigmentos brancos para tintas;  Indústria de papel e celulose;  Poliuretanos;  Tratamento d’água. Já a soda cáustica não apresenta um leque de aplicações tão variado como o cloro. Suas aplicações estão concentradas nas indústrias de celulose, alumínio, detergentes e sabões e petróleo. As diferentes aplicações desses produtos introduzem uma dificuldade adicional no mercado. Como o consumo não ocorre nas mesmas proporções, a capacidade produtiva pode apresentar excesso de capacidade para um dos produtos e falta para o outro no mesmo período. Capítulo 5 Indústria de Cloro, Soda e Derivados 69 Como vimos, o cloro é um gás tóxico; isso acarreta e gran- des problemas logísticos para seu transporte. Isso implica a maioria das plantas de cloro-soda ser integradas às plantas consumidoras deste produto. São exemplos das integrações as situações encontradas nas seguintes indústrias:  Papel e celulose2: consomem tanto cloro como soda; na maioria dos casos, são plantas de porte reduzido, para atender ao consumo próprio;  Polímeros vinílicos: o PVC é um dos polímeros de aplica- ção mais abrangente no mercado mundial. Neste caso, as plantas, geralmente, são de grande escala. Além dos exemplos acima, podemos encontrar plantas in- tegradas na produção de hipoclorito de sódio (água sanitária), ácido clorídrico e dos insumos para poliuretanos (isocianatos e óxido de propeno) (MONTENEGRO, 1998). Matéria-prima As matérias-primas utilizadas na fabricação de soda (NaOH), cloro (Cl2) e seus derivados são o cloreto de sódio (NaCl) e água. 2 Vamos tratar dessas duas indústrias nos próximos capítulos. 70 Processos Químicos na Indústria Cloreto de Sódio O cloreto de sódio é um sal encontrado nos oceanos e tam- bém como sal-gema (halita), que está presente em leitos de antigos cursos de água (rios, lagos e mares). O Mar Morto, localizado em Israel, é um exemplo do processo de formação de sal-gema. Ao longo das eras geológicas, ocorre o rebai- xamento do nível do mar e sua cobertura por sedimentos. No Brasil, as ocorrências de sal-gema estão associadas a bacias sedimentares. Destaca-se a produção de sal-gema na cidade de Maceió (Al), integrada à produção de produtos como o polímero PVC e a soda cáustica (Melo 2015). O cloreto de sódio (e outros sais) forma-se de forma con- tínua pela ação da água sobre as rochas que contêm cloretos e compostos de sódio. A lixiviação dessas rochas pelos pro- cessos naturais concentra o sal na água, que forma os mares e oceanos. O cloreto de sódio pode ser obtido submetendo a água salgada à evaporação ou pela extração de reservas subterrâneas de sal-gema. O sal para consumo humano contém pequenas quanti- dades de iodo para prevenir uma doença conhecida como bócio. Na indústria, o cloreto de sódio é utilizado para ob- tenção de cloro, soda e seus derivados. O cloreto de sódio para uso industrial é obtido, geralmen- te, pela dissolução do sal-gema, formando uma salmoura com concentração por volta de 30mg/l, conforme mostra o fluxo- grama apresentado na Figura 1. O cloreto de sódio prove- niente da água do mar, além de apresentar uma série de ou- tros sais associados, necessita ser transportado desde a salina Capítulo 5 Indústria de Cloro, Soda e Derivados 71 até a indústria produtora, o que torna sua preparação para uso nas plantas de cloro-soda mais cara. Figura 1 Fluxograma de mineração do sal-gema. O sal-gema é extraído no Brasil de jazidas subterrâneas através da dissolução do minério pela injeção de água nos chamados “poços de sal”. A extração da salmoura ocorre pela pressurização do poço através da injeção da água de dissolução. Após sua extração, a salmoura é bombeada para tanques de equalização e, posteriormente, enviada para a planta de cloro-soda por meio do salmouroduto. Processo industrial As plantas industriais de produção de cloro e soda geralmen- te produzem, também, seus derivados diretos: hipoclorito de sódio, ácido clorídrico e hidrogênio. A eletrólise do cloreto 72 Processos Químicos na Indústria de sódio produz, simultaneamente, uma proporção fixa de 1 tonelada de cloro para 1,12 tonelada de soda. O processo eletrolítico produz diretamente: soda cáustica líquida, cloro gasoso e hidrogênio, partindo das matérias-pri- mas água e cloreto de sódio expostos à corrente elétrica. Os processos auxiliares fabricam os produtos derivados como soda cáustica em escamas, cloro liquefeito, hipoclorito de sódio e ácido clorídrico. O fluxograma da Figura 2 apresen- ta, de forma simplificada, o processo produtivo e os produtos derivados. Figura 2 Fluxograma cloro-soda. Adaptado de http://www.uniparcarbocloro.com.br/uniparcarbocloro/web (acesso em 20/07/2015) Capítulo 5 Indústria de Cloro, Soda e Derivados 73 Como foi descrito na etapa de extração do sal-gema, para a beneficiamento nas plantas de cloro-soda, a salmoura deve ser preparada de forma a atingir uma concentração em NaCl de 30 mg/L. A salmoura preparada passa por uma etapa de purificação na qual são retirados os contaminantes derivados do cálcio e magnésio. Esses contaminantes interferem nos pro- cessos eletrolíticos posteriores. A solução de salmoura purifica- da segue para as células eletrolíticas. As células eletrolíticas consistem em um recipiente com dois compartimentos: um contém o ânodo (+) e, o outro, o cátodo
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