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UNIVERSIDADE FEDERAL DE RORAIMA
ESCOLA AGROTÉCNICA DA UFRR
CURSO TÉCNICO EM AGROPECUÁRIA
PROF: Jandiê Araújo da Silva
OLERICULTURA GERAL
BOA VISTA-RR
2010
1. INTRODUÇÃO À OLERICULTURA
1.1. O CAMPO DA OLERICULTURA
A Olericultura é um termo técnico-científico, muito preciso, utililizado no meio
agronômico. Derivado do latim (oleris, hortaliça, + colere, cultivar), refere-se à
ciência aplicada, bem como ao estudo da agrotecnologia de produção das culturas
oleráceas.
A palavra hortaliça refere-se ao grupo de plantas que apresentam, em sua
maioria, as seguintes características:
- consistência tenra, não lenhosa;
- ciclo biológico curto;
- exigência de tratos culturais intensivos;
- cultivo em áreas menores, em relação às grandes culturas; e
- utilização na alimentação humana, sem exigir prévio preparo industrial.
Popularmente, as hortaliças ou a sua parte utilizável são chamadas,
impropriamente, de “verduras” e “legumes”. Desse modo, em vez de uma única
palavra correta, as pessoas utilizam duas, ambas imprecisas e incorretas. Observe-
se que, além das plantas vulgarmente conhecidas como legumes e verduras, do
ponto de vista agronômico também são incluídos na olericultura: batata-doce,
melancia, melão, milho-verde e morango.
A olericultura, conforme o interesse a quem a ela se dedica, pode ser vista
como atividade agroeconômica, ciência aplicada, recreação educativa, ou como
fonte de alimento relevante para a nutrição humana. Aos olericultores empresariais,
extensionistas rurais, agentes da assistência técnica e estudantes de ciências
agrárias interessaria mais de perto o primeiro enfoque; já o pesquisador agrícola
optaria pelo segundo; a professora de ensino fundamental consideraria o terceiro; e
o nutricionista, ou mesmo a dona-de-casa esclarecida, consideraria o último
aspecto.
É importante notar que os termos técnicos olericultura e horticultura não são
sinônimos, tendo um segundo um significado muito mais abrangente, não devendo
substituir o primeiro, como ocorre na fala popular. Assim, em países europeus, de
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antiqüíssima tradição agrícola, bem como nos Estados Unidos, o termo horticultura
engloba a produção de plantas muito diversificadas.
O tipo de produção intensiva de plantas praticado no hortus medieval – local
murado e próximo à residência – foi denominado horticultura. Em contraposição
havia a agricultura (de agris, campo), referindo-se à produção extensiva de trigo e
outros cereais. Portanto, inclui-se na horticultura a produção de plantas utilizadas na
alimentação humana, bem como aquelas empregadas com finalidade estética, para
aprimoramento do sabor dos alimentos ou para fins medicinais.
O termo técnico fitotecnia (de fiton, planta) é ainda mais abrangente,
referindo-se à agrotecnologia praticada na produção de plantas muito diversificadas
– úteis ao bem-estar humano. Tais plantas podem ser agrupadas em 4 grandes
ramos, por sua vez subdivididos em outros mais particularizados, obtendo-se o
seguinte esquema didático:
 Grandes culturas: produtoras de grãos, fibras e estimulantes
 Horticultura 
FITOTECNIA
 
 Silvicultura: espécies florestais
 Forragicultura: pastagem e forrageiras
Conforme ficou evidenciado, a olericultura é o ramo da horticultura que
abrange o estudo da produção das culturas oleráceas. Note-se que tal abrangência
não é pequena, visto que tais culturas englobam quase uma centena de plantas
alimentícias no mundo ocidental.
1.2. CARACTERÍSTICAS DO AGRONEGÓCIO
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Olericultura: hortaliças
Fruticultura: fruteiras
Floricultura: flores
Jardinocultura: plantas ornamentais
Viveiricultura: mudas em geral
Cultura de plantas condimentares
Cultura de plantas medicinais
Cultura de cogumelos comestíveis
a) Atividade altamente intensiva
A característica mais geral e marcante do agronegócio da produção de
hortaliças é o fato de ser uma atividade agroeconômica altamente intensiva, em
seus mais variados aspectos, em contraste com outras atividades, extensivas, como
a produção de grãos. Desse modo, há o emprego contínuo do solo de uma gleba,
com vários ciclos culturais, que se desenvolvem em seqüência.
As atividades de campo são realizadas nas 4 estações do ano. Em olericultura,
o chamado “ano agrícola” – termo utilizado por produtores de grãos – se confunde
com o ano civil. Costuma-se dizer que o olericultor é um agricultor que não tem
sossego, em tempo algum, nem direito a feriado e férias.
b) Alto investimento
A olericultura exige alto investimento por hectare explorado, ou seja, alto
“input”, em termos físicos e econômicos. Em contrapartida, possibilita a obtenção de
elevada produção física e alta renda (bruta e líquida), por hectare cultivado e por
hectare/ano, ou seja, alto “output”. É notória a obtenção de substancial volume físico
de produção, concentrado em pequena área, inclusive a alta eficiência na utilização
do espaço físico bi ou até tridimensional (no caso de culturas tutoradas). Quanto à
produtividade, por hectare ou hectare/ano, a olericultura destaca-se em relação às
demais opções agroeconômicas.
c) Ciclo curto
O ciclo das culturas oleráceas é geralmente curto. A maioria das espécies é de
ciclo anual; algumas são bienais – exigem um período de frio entre as etapas
vegetativa e reprodutiva; e muitas poucas são perenes. Por exemplo, uma mesma
gleba, ao longo de um ano civil, pode ser utilizada com 3 tomatais transplantados,
ou 6 culturas de alface propagadas por mudas, ou ainda 12 semeaduras diretas de
rabanete. Compare-se isso com as culturas produtoras de grãos, que utilizam o
terreno uma só vez, normalmente, ou duas, no máximo. A obtenção de mais de uma
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safra, anualmente e na mesma gleba, eleva o rendimento físico e econômico da
olericultura.
d) Tamanho reduzido da área física
O agronegócio da produção de hortaliças também se identifica pelo tamanho
mais reduzido da área física ocupada, porém intensivamente utilizada, tanto no
espaço como no tempo. O menor tamanho das culturas facilita o aprimoramento nos
tratos culturais, que são intensivos e sofisticados. Esse aprimoramento se observa
mesmo em plantios mais extensos, como ocorre em culturas com finalidade
agroindustrial.
e) Apurada agrotecnologia
A olericultura requer apurada agrotecnologia, sempre em constante evolução.
Viabiliza e exige artifícios tecnológicos refinados, que seriam antieconômicos em
outros tipos de agronegócio. É o caso de produção de mudas em bandejas,
polinização manual de flores, raleamento de frutinhos, desbaste de plantas em
excesso, irrigação por gotejamento, fertirrigação (aplicação de nutrientes dissolvidos
na água), cultura em casa de vegetação e o máximo de sofisticação: hidroponia, que
é a cultura sem utilização de solo. São numerosos os tratos culturais (irrigação,
tutoramento, desbaste, poda, capina etc.). Também é intensiva a utilização de
insumos agrícolas modernos (sementes, defensivos, fertilizantes, agrofilmes etc).
Além disso, torna-se necessário o uso de instalações, equipamentos e implementos
especializados, como galpões para beneficiamento, câmaras frigoríficas, casas de
vegetação, tratores semeadeiras, adubadeiras, transplantadeiras etc.
f) Utilização intensiva de mão-de-obra
É notória a utilização intensiva de mão-de-obra rural em olericultura,
certamente acarretando significativos benefícios do ponto de vista social,
contribuindo para diminuir o desemprego – uma das pragas da economia
globalizada desse início de século. Desse modo, utiliza-se um número elevado de
“serviços” por hectare trabalhado e por propriedade. Um “serviço” corresponde ao
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trabalho desenvolvido por um operário adulto durante suajornada normal de
trabalho, apenas utilizando as mãos e ferramentas manuais.
g) Aproveitamento de terras problemáticas
A olericultura viabiliza o aproveitamento agrícola de glebas consideradas
problemáticas. A utilização de tais glebas seria impraticável em outros tipos de
atividade agrícola, do ponto de vista agronômico e, ou, econômico. O fato fica bem
evidenciado quando o terreno se localiza próximo a cidades ou à margem de
rodovias. Assim, torna-se perfeitamente viável o cultivo de hortaliças em terrenos de
baixa fertilidade, muito pobres em nutrientes, desde que criteriosamente corrigidos e
adubados. Glebas com solo pedregoso também podem ser exploradas, com certas
espécies. São viáveis, inclusive, baixadas alagadas, após a necessária drenagem.
h) Atividade agrícola de risco
Finalmente, há de se considerar o fato de o agronegócio da produção de
hortaliças ser uma atividade agrícola de maior risco para o empresário rural, em
relação a outras opções. Isso ocorre em virtude da maior incidência de problemas
fitossanitários, maior sensibilidade às condições climáticas, notória ocorrência de
anomalias de origem fisiológica nas plantas, entre outros problemas.
i) Requer maior capacidade técnico-administrativa 
Devido às características peculiares, o agronegócio da olericultura requer
maior capacidade técnico-administrativa do empresário rural no manejo dos fatores
agronômicos e econômicos e, também, a assistência por parte de técnicos
especializados, mais intensivamente em relação a outros agricultores. Obviamente,
o olericultor torna-se mais exigente em relação à qualidade da assistência técnica.
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1.3. TIPOS DE EXPLORAÇÃO EM OLERICULTURA
Conforme a finalidade a que se propõe, o número de espécies, a localização
da base física e a agrotecnologia utilizada, há alguns tipos característicos de
exploração em olericultura.
a) Exploração diversificada
Esta exploração é típica dos chamados “cinturões verdes”, culturas localizadas
na periferia das cidades e próximas aos pontos de comercialização. O olericultor
vende seus produtos aos varejistas, tais como os donos de bancas em feiras,
mercearias, mercadinhos; ou se transforma, ele próprio, em varejista, atingindo
diretamente o consumidor. São olericultores profissionais explorando áreas
pequenas com espécies diversificadas. Esse tipo de exploração tende a sofrer
deslocamentos, motivados pela valorização dos terrenos, em áreas urbanas ou
suburbanas sujeitas à especulação imobiliária.
A interiorização da exploração diversificada, desde que se disponha de
estradas e o transporte não seja por demais oneroso, pode ser uma tendência
auspiciosa. Desse modo, o custo de utilização da gleba, da água necessária e da
energia elétrica torna-se menor; a mão-de-obra rural é mais abundante, mais barata
e melhor qualificada; há maior possibilidade de mecanização, inclusive com
máquinas e implementos simples; e tudo contribui para redução no custo de
produção, por hectare explorado e por tonelada produzida. Além disso, diminui-se a
possibilidade de água contaminada por agentes causadores de doenças tanto em
plantas como em pessoas. Todavia, perde-se a oportunidade de atingir o varejista e,
mais ainda, o consumidor diretamente, em razão da maior distância até os locais de
comercialização.
b) Exploração especializada
Parece ser o tipo de exploração para o qual tende a olericultura nas regiões
mais desenvolvidas, mesmo dentro do Brasil, e nas regiões do 1o Mundo. Quanto à
área cultivada, a exploração especializada já predomina no centro-sul brasileiro,
onde há menor número de espécies oleráceas, e é comum haver apenas uma ou
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duas sendo produzidas por vez. A agrotecnologia de produção torna-se mais
sofisticada, inclusive com maior utilização de máquinas e implementos. Também é
intensiva a aplicação de insumos agrícolas modernos. A propriedade rural,
geralmente, localiza-se longe dos centros urbanos, porém a produção é escoada por
estradas vicinais ou rodovias. 
O olericultor especializado às vezes ocupa grandes áreas com uma só cultura,
inclusive utilizando grau de mecanização comparável ao dos produtores de grãos.
Há produtores que cultivam centenas de hectares com batata, cebola, cenoura,
melão e outras hortaliças. Eles concentram-se nas complexidades da produção, no
campo, não se dedicando à comercialização. Geralmente entregam seu produto a
atacadistas, freqüentemente sediados longe do local da produção. Raramente
vendem a varejistas e, muito menos, procuram atingir o consumidor diretamente.
Esse tipo de produtor é aquele que adota, mais prontamente, as inovações
tecnológicas, também valorizando a assistência agronômica. Graças a sua visão
empresarial, ao espírito de iniciativa e à disponibilidade de recursos, torna-se capaz
de causar grande impacto socioeconômico na região onde atua.
c) Exploração com finalidade agroindustrial
A industrialização de hortaliças é uma atividade que vem crescendo no Brasil
para abastecer os mercados interno e externo. Para fornecimento da matéria-prima
necessária à agroindústria, surgiu um tipo peculiar de exploração especializada. São
extensas culturas cujo grau de mecanização é elevado, sendo as hortaliças
cultivadas de maneira extensiva – também aqui cabendo analogia com a produção
de grãos. Objetiva-se obter considerável volume de produção, a um custo unitário o
mais reduzido possível.
Em algumas regiões brasileiras, esse tipo de exploração vem se expandindo,
para acompanhar a crescente demanda por alimentos industrializados ou
semipreparados, motivada pelo fato de a dona-de-casa também trabalhar fora do lar
freqüentemente e não mais dispor de muito tempo para os trabalhos culinários.
Exemplos típicos são as culturas rasteiras de tomate para obtenção de massa; de
ervilha para produção de grão seco posteriormente reidratado; de pimentão para
obtenção do codimento páprica; de alho-porró para sopas desidratadas; e de
aspargo para enlatamento dos turiões.
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d) Horta doméstica, recreativa ou educativa
É precisamente nesse tipo de cultura que há certo retorno às origens da
olericultura, pois lembra o hortus latino e medieval. Aqui não se trata de uma
exploração agroeconômica, já que o objetivo primordial é aprimorar a alimentação
da família ou da comunidade. Dessa forma, propicia-se a obtenção de hortaliças de
alta qualidade, produzidas com requinte artesanal e em pequena escala.
Tal atividade tem sido desenvolvida nos meios urbano, suburbano e rural e até
em apartamentos, utilizando-se, neste caso, caixas com solo ou mesmo cultura
hidropônica. O mais comum são as hortas tipicamente diversificadas, localizadas em
pequenas áreas, próximas a residências, clubes, escolas, hospitais e dentro de
quartéis e de penitenciárias. Os trabalhos são executados manualmente, com ajuda
de ferramentas simples, por pessoas que se dedicam a outras atividades
profissionais.
No ensino fundamental, a horta educativa pode se tornar um meio excelente de
a professora ilustrar, na prática e de maneira fascinante, os variados aspectos da
Biologia, tornando o ensino mais atraente, motivando as crianças. Bons resultados
também foram obtidos com jovens do meio rural organizados em clubes orientados
por extensionistas – um trabalho educativo infelizmente relegado na época atual. Em
instituições dedicadas à recuperação de pessoas com dependência química –
viciadas em álcool ou em drogas – também o cultivo de hortaliças pode contribuir
como um tipo de terapia.
e) Viveiricultura
A produção de mudas de certas espécies oleráceas, destacando-se tomate,
alface e pimentão, tornou-se um tipo particular de exploração olerácea a partir de
meados da década de1980. Há agrônomos e agrotécnicos que se dedicam a essa
atividade e fornecem, ao olericultor, mudas com garantia de qualidade, inclusive
fitossanidade.
Para o olericultor que pretende implantar uma cultura pelo plantio de mudas,
há vantagens ponderáveis em deixar essa fase altamente delicada sob os cuidados
de um especialista, como ocorreu há muitas décadas em outros países, como
Holanda e Estados Unidos. No Brasil, a tendência é de que a viveiricultura, além da
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tradicional produção de mudas cítricas e de plantas ornamentais, também produza
mudas de hortaliças, pois é uma atividade altamente lucrativa e mais uma opção
para técnicos agrícolas.
f) Produção de sementes e estruturas vegetativas
A produção de material propagativo, como a semente, é um tipo de exploração
que exige muito mais conhecimento do produtor, em relação à obtenção de
hortaliças para mercado. Grandes empresas produtoras de sementes contratam e
orientam culturas especializadas, inclusive fornecendo a semente básica necessária,
bem como a orientação técnica.
As espécies oleráceas de propagação assexuada, a exemplo de batata,
batata-doce, morango e alho, exigem o plantio de certas estruturas vegetativas.
Estas devem ser produzidas em culturas especialmente orientadas, obedecendo-se
a rigorosas normas de fitossanidade, pois tais estruturas são eficientes veiculadoras
de fitopatógenos. Bons exemplos, no Brasil, são a produção de batata-semente
certificada e de mudas vegetativas de morangueiro, isentas ou com baixo teor de
vírus.
g) Cultivo protegido
Certamente a produção de hortaliças em cultivo protegido, dentro de casas de
vegetação ou de túneis cobertos com agrofilmes, é uma exploração diferenciada das
demais, especialmente em razão da possibilidade de controle de alguns fatores
agroclimáticos. Entretanto, considerando-se as vantagens de ordem agronômica e
econômica, são poucas as espécies oleráceas que se adaptam ao cultivo protegido,
sendo alface, tomate, pimentão, pepino, melão e berinjela aquelas mais
comumentes produzidas.
1.4. RUMOS DA OLERICULTURA BRASILEIRA
A evolução da olericultura acompanha o desenvolvimento geral de uma nação,
sendo mais diretamente influenciada por ele que outras atividades agrícolas. Assim,
é sensível às mudanças sociais, econômicas e culturais, decorrentes da elevação do
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nível de prosperidade geral, da urbanização e da industrialização. O grande
olericultor especializado surge como resposta ao desenvolvimento econômico, que
acarreta incremento na demanda e maior exigência na qualidade dos produtos,
quanto ao aspecto principalmente, mas também ao sabor e à riqueza em vitaminas
e nutrientes minerais.
Quanto mais evoluído um povo, maior e mais diversificado é o consumo de
hortaliças, tanto ao natural como em forma industrializada, fato este claramente
observado nos países desenvolvidos. O nível de consumo relaciona-se não só com
a renda pessoal, que, por sua vez, depende do progresso geral de um país, como
também com o grau de escolaridade e de cultura geral de sua população. Além
disso, a evolução do trabalho braçal para um tipo de trabalho mais leve reduz a
necessidade de alimentos energéticos e pode aumentar a demanda de hortaliças.
Certamente, a evolução da agrotecnologia de produção, resultando no aumento da
oferta e na redução do preço para o consumidor, também tende a elevar a demanda
interna.
A olericultura evoluiu mais acentuadamente no Brasil a partir do início da dec.
de 1940, durante a II Guerra Mundial. Naquela época existiam somente pequenas
explorações diversificadas, localizadas nos denominados “cinturões verdes”, nos
arredores das cidades. A partir de então houve um deslocamento em direção ao
meio rural, estabelecendo-se explorações especializadas em áreas maiores, com
certas culturas. A interiorização certamente deveu-se ao fato de alguns olericultores
buscarem melhores condições agroecológicas ou de ordem econômica, fazendo
com que a olericultura brasileira evoluísse da pequena “horta” para uma exploração
comercial com características bem definidas.
A passagem da “horta” para a olericultura empresarial foi promovida pelos
próprios produtores, sem contarem, de início, com o apoio das entidades oficiais de
pesquisa e de assistência técnica – tradicionalmente voltadas para as “grandes
culturas”. Aqui cabe o reconhecimento dos méritos da dinâmica comunidade nipo-
brasileira e aos imigrantes europeus – responsáveis pela expansão e interiorização
da olericultura como agronegócio.
A ampliação e o aprimoramento da rede assistencial oficial aos produtores
rurais, inclusive olericultores, ocorreram após o término da II Guerra Mundial. Desde
o início, os extensionistas têm contribuído efetivamente para a evolução da
olericultura brasileira.
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Especialmente a partir da dec. de 1950, também instituições oficiais de
pesquisa e ensino passaram a apoiar a olericultura, surgindo uma retaguarda
técnico-científica composta por professores e pesquisadores, além de
extensionistas. Esse movimento consolidou-se com a fundação da Sociedade de
Olericultura do Brasil, em 1961. Essa entidade, muito dinâmica, congrega
profissionais ligados aos variados aspectos da produção e da comercialização de
hortaliças.
O empenho do governo federal na implantação e no efetivo funcionamento das
Centrais de Abastecimento (CEASA’s), ao longo da dec. de 1970, também foi
decisivo. A racionalização na comercialização beneficiou, como era esperado, a
produção. A dec. de 1980 foi considerada “a década perdida” – quanto ao
desenvolvimento geral e econômico do País -, não porém, para a olericultura,
especialmente graças às atividades da pesquisa oficial. Vale assinalar que a
Embrapa Hortaliças foi criada em 1981, no Distrito Federal, e vem contribuindo,
desde então, para o aprimoramento da olericultura em âmbito nacional. Na década
de 1990 – a chamada “era da incerteza” – continuou a expansão da olericultura,
inclusive com a definitiva implantação da cultura protegida, bem como o
desenvolvimento da hidroponia e da fertirrigação. Neste início de século ocorre a
introdução do gotejamento, bem como do plantio na palha, em certas culturas
oleráceas. Atualmente, o agronegócio da olericultura é reconhecido como altamente
relevante no cômputo da agricultura brasileira
Explorando sua diversidade agroecológica, o País tem ampla possibilidade de
exportar, em escala muito maior que a atual, produtos oleráceos, ao natural ou
industrializados, especialmente para mercados europeus, em particular durante o
inverno rigoroso desses países, bem como para a China e outros países asiáticos. 
O olericultor é um produtor rural capaz de responder, pronta e produtivamente,
a estímulos econômicos e inovações agrotecnológicas, bem como a medidas
governamentais dignas de aplauso, como a implantação das CEASA’s. É um
agricultor bem sintonizado com a realidade do País, sensível às mudanças que
ocorrem na agricultura ou fora dela. Dessa forma, durante o marasmo da década de
1980, foi iniciada a produção em casa de vegetação – uma vitoriosa iniciativa de
olericultores inovadores e de empresários ligados à produção de agrofilmes.
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2. O UNIVERSO DA OLERICULTURA
Dezenas de culturas oleráceas são produzidas no Brasil, sendo a vastidão e a
complexidade do universo da olericultura devido à multiplicidade e às peculiaridades
de cada espécie cultivada como hortaliça. Assim, para um estudo sistematizado da
olericultura como ciência aplicada, torna-se necessária uma metodologia capaz de
evidenciar as similaridades e as dessemelhanças entre as diferentes plantas. Nesse
sentido, algumas classificações têm procurado agrupar as hortaliças com base em
suas característicascomuns.
2.1. CLASSIFICAÇÃO POPULAR E TÉCNICA
A dona-de-casa brasileira típica não se impressiona com a grande
complexidade do universo abrangido pelas culturas oleráceas. Para ela, as
hortaliças podem ser reunidas em 3 grupos, simplesmente. Desse modo, nessa
classificação popular, os “legumes” constituem as hortaliças que exigem preparação
culinária mais elaborada, como cozimento, assamento ou fritura; as “verduras”, além
de apresentarem a típica coloração verde, são consumidas ao natural; e os
“temperos” são aquelas utilizadas para dar sabor especial aos pratos.
Uma classificação técnica das hortaliças foi adaptada pelas Centrais de
Abastecimento e vem sendo aplicada. De acordo com essa classificação, as
hortaliças podem ser reunidas, segundo suas partes utilizáveis e comerciáveis, em 3
grupos:
 Hortaliças-fruto – utilizam-se os frutos ou partes deles, como as sementes:
tomate, melancia, quiabo, morango, feijão-vagem, etc.
 Hortaliças herbáceas – aquelas cujas partes comerciáveis e utilizáveis
localizam-se acima do solo, sendo tenras e suculentas: folhas (alface, repolho,
taioba); talos e hastes (aspargo, aipo, funcho); flores ou inflorescências (couve-flor,
brócolos, alcachofra).
 Hortaliças tuberosas – as partes utilizáveis desenvolvem-se dentro do solo,
sendo ricas em carboidratos: raízes (cenoura, beterraba, batata-doce, rabanete e
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mandioquinha-salsa); tubérculos (batata, cará); rizomas (inhame); bulbos (alho e
cebola).
Nas diversas CEASA’s, tem-se cometido o engano – do ponto de vista
agronômico – de considerar melancia, melão e morango como “frutas” e não como
hortaliças-fruto.
Por implicações de ordem agronômica na condução das culturas (controle
fitossanitário integrado, manejo de solo, aplicação de adubação), e também por
razões mercadológicas, inclusive por diminuir o risco de insucesso econômico para
o olericultor, é desejável que coexistam hortaliças-fruto, hortaliças herbáceas e
hortaliças tuberosas numa mesma exploração.
2.2. CLASSIFICAÇÃO BOTÂNICA
a) Características e vantagens dessa classificação
A maior vantagem da classificação botânica é basear-se em características
muito estáveis, enquanto a agrotecnologia pode variar ao longo do tempo e
conforme as tradições regionais. As características botânicas definem melhor a
localização de cada espécie olerácea, dentro da imensa comunidade vegetal, da
qual depende a alimentação e a vida humana.
A classificação botânica das espécies vegetais baseia-se no parentesco, nas
similaridades e nas dessemelhanças entre elas, mormente no que se refere aos
órgãos vegetativos e reprodutivos. No caso particular das plantas oleráceas, todavia,
ainda não existe um consenso universal entre botânicos, havendo desacordo quanto
ao nome correto de algumas famílias, gêneros e espécies. Uma compilação é
apresentada na Tabela 1.
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Tabela 1 – Relação taxonômica de 60 hortaliças cultivadas no Brasil, com seus nomes populares,
científicos e família botânica
Nome popular Nome científico (latim) Família
Abóbora-rasteira Cucurbita moschata Cucurbitácea
Abobrinha-italiana Cucurbita pepo Cucurbitácea
Acelga-verdadeira Beta vulgaris var. cicla Quenopodiácea
Agrião-aquático Rorippa nasturtium-aquaticum Brassicácea
Aipo (salsão) Apium graveolens var. dulce Apiácea
Alcachofra Cynara scolymus Asterácea
Alface Lactuca sativa Asterácea
Alho Allium sativum Aliácea
Alho-porró Allium porrum Aliácea
Almeirão Cichorium intybus Asterácea
Aspargo Asparagus officinalis Liliácea
Batata-doce Ipomoea batatas Convolvulácea
Batata (batatinha) Solanum tuberosum ssp. Tuberosum Solanácea
Berinjela Solanum melogena Solanácea
Beterraba Beta vulgaris Quenopodiácea
Cará Dioscorea alata Dioscoreácea
Cebola Allium cepa Aliácea
Cebolinha Allium schoenoprasum Aliácea
Cenoura Daucus carota Apiácea
Chicória Cichorium endivia Asterácea
Chuchu Sechium edule Cucurbitácea
Coentro Coriandrum sativum Apiácea
Couve-brócolos Brassica oleracea var. itálica Brassicácea
Couve-chinesa Brassica pekinensis Brassicácea
Couve-de-bruxelas Brassica oleracea var. Gemmifera Brassicácea
Couve-flor Brassica oleracea var. botrytis Brassicácea
Couve-folha Brassica oleracea var. acephala Brassicácea
Couve-rábano Brassica oleracea var. gongylodes Brassicácea
Couve-tronchuda Brassica oleracea var. tronchuda Brassicácea
Ervilha Pisum sativum Fabácea
Espinafre Spinacea oleracea Quenopodiácea
Espinafre neozelandês Tetragonia expansa Aizoácea
Fava-italiana Vicia faba Fabácea
Feijão-de-corda (caupi) Vigna unguiculata Fabácea
Feijão-de-lima (fava) Phaseolus lunatus Fabácea
Feijão-vagem (vagem) Phaseolus vulgaris Fabácea
Funcho (erva-doce) Foeniculum vulgare var. dulce Apiácea
Inhame Colocasia esculenta Arácea
Jiló Solanum gilo Solanácea
Mandioquinha(batata-baroa) Arracacia xanthorrhiza Apiácea
Maxixe Cucumis anguria Cucurbitácea
Melancia Citrullus lanatus Cucurbitácea
Melão Cucumis melo Cucurbitácea
Milho-doce Zea mays Poácea
Milho-verde Zea mays Poácea
Moranga Cucurbita máxima Cucurbitácea
Morango (moranguinho) Fragaria x ananassa Rosácea
Mostarda-de-folha Brassica juncea Brassicácea
Nabo Brassica rapa var. rapa Brassicácea
Pepino Cucumis sativus Cucurbitácea
Pimenta Capsicum frutescens Solanácea
Pimentão Capsicum annuum Solanácea
Quiabo Abelmoschus esculentus Malvácea
Rabanete Raphanus sativus Brassicácea
Rábano “daikon” Raphanus sativus var. acenthiformis Brassicácea
Repolho Brassica oleracea var. capitata Brassicácea
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Continuação
Nome popular Nome científico (latim) Família
Rúcula Eruca sativa Brassicácea
Salsa (salsinha) Petroselinum crispum Apiácea
Taioba Xanthosoma sagittifolium Arácea
Tomate Lycopersicon esculentum Solanácea
b) Unidades taxonômicas
Os botânicos agruparam as plantas, segundo suas similaridades, em: divisões,
classes, ordens, famílias, gêneros, espécies, variedades botânicas, formas e
indivíduos – do geral para o particular. Considerando os aspectos agronômicos das
culturas, apenas 4 unidades taxonômicas podem interessar mais de perto:
- família: reunião de gêneros semelhantes;
- gênero: agrupamento de espécies afins;
- espécie: unidade taxonômica englobando indivíduos muito similares; e 
- variedade botânica: população com características peculiares, dentro de
certas espécies oleráceas.
Desde os trabalhos pioneiros do naturalista sueco Lineu (1707-1778) adotou-
se um sistema binário de nomenclatura botânica, em latim, universalmente aceito.
Assim, utiliza-se o nome do gênero e o da espécie propriamente dita para designar
uma determinada espécie botânica. Os nomes científicos das hortaliças facilitam o
intercâmbio entre os estudiosos, evitando-se as dificuldades criadas pelos nomes
populares nos diversos idiomas. 
As plantas oleráceas pertencem à divisão Espermatófita – plantas que
produzem sementes, utilizáveis ou não na propagação. A subdivisão é Magnoliofitina
– plantas com óvulos encerrados em um ovário (angiosperma), que originarão
sementes. A grande maioria das plantas oleráceas é incluída na classe Magnoliata –
vegetais cujas sementes apresentam dois cotilédones (dicotiledôneas) -; e a minoria,
na classe Liliata – plantas com um só cotilédone (monocotiledôneas). Atualmente,
essa última classe engloba as famílias: aliácea (alho), arácea (inhame),
dioscoreácea (cará), liliácea (aspargo) e poácea (milho-doce).
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A relação taxonômica das hortaliças mais cultivadas no Brasil, com os nomes
científicos atualizados das espécies, inclusive das famílias botânicas, é apresentada
na Tabela 1. 
c) Variedade Botânica e Cultivar
A espécie tem sido considerada a unidade básica de trabalho dos botânicos,
sendo a categoria na qual Lineu baseou seu genial sistema de nomenclatura.
Entretanto, em casos particulares, as espécies são subdivididas em variedades
botânicas (utilizando-se a abreviatura “var.”). Issose torna necessário quando certa
população de plantas, dentro de determinada espécie, apresenta características
notáveis, inclusive de importância agronômica e comercial. Um exemplo é a espécie
Brassica oleracea, que abrange algumas variedades botânicas, que constituem
hortaliças de importância mundial, como B. oleracea var. acephala (couve), B.
oleracea var. capitata (repolho), B. oleracea var. Botrytis (couve-flor) e B. oleracea
var. italica (couve-brócolos).
O termo “variedade” – utilizado no sentido agronômico – tem sido substituído
pelo termo técnico cultivar, universal, derivado das palavras inglesas “cultivated
variety” (usa-se a abreviatura “cv.”). Trata-se de um grupo de plantas cultivadas
semelhantes entre si, que se distingue de outros grupos por características de
relevância agronômica e comercial. Tais características peculiares devem ser
mantidas inalteráveis, nos ciclos de propagação da cultivar, ao longo dos anos. Um
bom exemplo da adoção oficial desse termo técnico, no Brasil, é a Lei de Proteção
de Cultivares, instituída em abril de 1997.
As cultivares são obtidas por meio de técnicas de melhoramento genético,
utilizadas por melhoristas de plantas. Uma cultivar, em se tratando de olericultura,
pode ser constituída por plantas pertencentes a um dos quatro seguintes tipos de
agrupamento:
Clone: conjunto de plantas geneticamente idênticas e originárias de uma única
planta-matriz propagada assexuadamente, ou seja, sem utilização de sementes
botânicas. Exemplos: cultivares propagadas vegetativamente de alho, batata, couve-
manteiga, morango e mandioquinha-salsa.
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Linhagem: grupo de plantas, com aparência muito uniforme, propagadas por
via sexual, cujas características são mantidas por seleção, tendo um padrão em
vista. Originariamente, esse tipo de cultivar é obtido por autofecundação induzida.
Exemplos: cultivares de algumas hortaliças propagadas por sementes.
Cultivar não-híbrida: grupo de plantas que apresenta pequenas diferenças
genéticas (genótipo distinto), porém mantendo características agronômicas comuns
(fenótipo semelhante), pelas quais o grupo possa ser identificado. É o caso do
pepino tipo Caipira, selecionado por olericultores a partir de populações
heterogêneas tradicionalmente cultivadas nas propriedades rurais.
Híbrido, ou cultivar híbrida: conjunto de plantas altamente uniforme, de modo
geral obtido pelo cruzamento controlado entre duas linhagens compatíveis
escolhidas, mantidas por autofecundação induzida. Atualmente há tendência para o
lançamento de híbridos de 1a geração (sementes de 1a geração, após o cruzamento)
em brássicas, particularmente em repolho, couve-flor e brócolos. Também se nota
essa tendência no caso de tomate, pepino e pimentão.
Na situação atual, observa-se que as cultivares de hortaliças estão em
constante mudança, inclusive pela introdução de novos híbridos. Então, torna-se
relevante o conceito de tipo ou grupo de cultivares, dentro de uma mesma cultura,
englobando aquelas cultivares com características agronômicas e comerciais
comuns. 
Há, portanto, maneiras variadas de se obter uma nova cultivar. Entretanto,
historicamente, a técnica que originou maior número de cultivares de hortaliças ao
longo do tempo tem sido a seleção de plantas, no campo, a partir de um conjunto
desuniforme – a chamada “população”. Tal trabalho, no passado, foi efetuado por
olericultores com notável capacidade de observação e espírito de pesquisador. Os
fitomelhoristas profissionais, todavia, utilizam técnicas bem mais sofisticadas, como
a autofecundação controlada de uma planta especialmente escolhida ou o
cruzamento entre linhagens autofecundadas com características complementares.
Também valem-se de modernas técnicas de laboratório, como o cultivo de embrião,
a cultura de tecidos, a indução de mutações, a criação de plantas transgênicas –
esse um assunto ainda polêmico -, dentre outras.
O nome original de uma cultivar – preferencialmente no idioma de origem ou
em forma aportuguesada – deve ser mantido e utilizado pelos olericultores e por
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agentes de comercialização de hortaliças. As embalagens de sementes, mesmo
quando importadas, devem conter o nome original, inclusive para evitar duplicidade
e facilitar o intercâmbio entre pesquisadores. Um problema sentido é a multiplicidade
de nomes regionais de uma mesma cultivar, fato corriqueiro no caso de culturas de
propagação vegetativa, como alho, cará e batata-doce.
Para bem caracterizar uma cultura olerácea, deve-se agregar ao nome da
espécie o nome da variedade botânica, se houver, bem como o nome original da
cultivar. Por exemplo, o nome completo e correto da couve-flor brasileira, pioneira no
plantio de verão, é Brassica oleracea var. Botrytis cv. Piracicaba Precoce.
Uma classificação taxonômica integra e sumariza tudo o que se sabe sobre as
plantas oleráceas, incluindo aspectos morfológicos, genéticos, ecológicos ou
fisiológicos. Tal conhecimento possibilita antecipar as exigências de determinada
cultura, auxiliando na escolha e na utilização da agrotecnologia mais adequada.
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3. OS FATORES AGROCLIMÁTICOS
As condições ambientais interferem, decisivamente, no desenvolvimento das
plantas e na produção das culturas oleráceas. A compreensão dos fatores
envolvidos, especialmente aqueles de natureza agroclimática, é imprescindível para
quem pretenda se dedicar ao estudo aprofundado ou mesmo à prática da
olericultura comercial, em bases técnico-científica.
 AMBIENTE, GENÓTIPO E FENÓTIPO
Existem alguns conceitos que devem ser bem compreendidos. Ambiente, ou
“meio ambiente” – expressão redundante muito utilizada pela imprensa -, é o
conjunto de fatores agroecológicos e agrotecnológicos, externos à planta, mas que
muito influenciam o desenvolvimento e a produção. É o caso do clima e do solo,
como também da adubação, irrigação, pulverização e outras práticas agrícolas –
todos incluídos nesse conceito por demais abrangente denominado “ambiente”.
O genótipo – a composição genética da planta – é outro conceito fundamental.
O resultado perceptível, e de implicações práticas, da ação do genótipo interagindo
com o ambiente constitui o fenótipo – algo que interessa mais de perto ao
olericultor. O fenótipo é expresso nas características da planta cultivada,
produtividade da cultura e qualidade do produto obtido, sendo, portanto, a expressão
visível do genótipo.
Dentro desse contexto, há duas vias para o possível aprimoramento da
olericultura. A primeira via é a busca da melhoria da própria planta, procurando-se
adequar o seu genótipo a um determinado ambiente. E isso se obtém por meio do
melhoramento genético, resultando na obtenção de novas cultivares melhoradas,
como é o caso de cultivares adaptadas a condições climáticas distintas daquelas
para as quais a planta foi inicialmente selecionada. Bons exemplos são as cultivares
de alface, brássicas e cenoura – ditas de “verão” -, já que, originalmente, todas as
cultivares dessas espécies eram consideradas “de inverno” e apenas produziam
bem se plantadas no outono-inverno. As novas cultivares foram criadas objetivando-
se a adaptação às condições de clima cálido.
A segunda via é a modificação e adequação do ambiente a um genótipo
previamente escolhido, utilizando-se a moderna agrotecnologia. Em relação a clima,
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serve de exemplo o plantio de pepino – uma planta intolerante ao frio – em pleno
inverno, sob casa de vegetação, sendo beneficiada pelo efeito estufa. Outros
exemplos são a utilização de adubação, irrigação e defensivos, que tornam o
ambiente propício ao cultivo de certas hortaliças. Um caso notório é o da adubação
de solos de baixa fertilidade natural, que passam a produzir hortaliças exigentes em
nutrientes.3.2. INFLUÊNCIA DA TEMPERATURA
As culturas oleráceas apresentam com freqüência ampla adaptação climática,
provavelmente por serem cultivadas há muito tempo e nas mais diversas condições.
As espécies de ciclo curto principalmente – que são a maioria – sempre encontram
alguns meses com condições propícias, mesmo quando cultivadas em regiões de
clima distinto daquele de onde tiveram sua origem. Então, ao olericultor cabe
conhecer as exigências climáticas das plantas que pretende cultivar, bem como as
peculiaridades climáticas de sua região ao longo do ano, procurando harmonizar
ambas. Note-se que são os fatores climáticos que mais poderosamente influenciam
algumas características relevantes de uma cultura, como duração do ciclo,
precocidade na colheita, fitossanidade, produtividade, qualidade do produto e,
inclusive, preço de mercado.
Indubitavelmente, é a temperatura o fator climático que maior influência exerce
sobre a olericultura, sendo, freqüentemente, também o principal fator limitante a
essa atividade. A influência é verificada em todas as etapas do desenvolvimento da
planta. Desse modo, cada espécie botânica cultivada como hortaliça, cada
variedade botânica e cada cultivar comercial apresentam uma faixa termoclimática
mais propícia em cada etapa de seu ciclo. Temperaturas abaixo do nível ótimo
podem prolongar o ciclo, ou provocar o florescimento prematuro de certas hortaliças,
prejudicando o desenvolvimento da parte comerciável; acima do nível ótimo, podem
ocasionar perda em qualidade do produto.
As variações termoclimáticas ao longo do dia, do mês e do ano afetam o
desempenho profundamente ou mesmo determinam a época adequada para o
plantio de certas espécies ou cultivares. O ideal seria que cada propriedade
dispusesse de um posto agrometeorológico provido de equipamentos, que
medissem e registrassem a variação térmica.
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As médias das temperaturas máximas e mínimas mensais caracterizam bem,
mês a mês, a variação térmica ao longo do ano. Os dados primários devem ser
obtidos diariamente, ressaltando-se que as temperaturas máximas costumam
ocorrer durante o dia e, as mínimas, à noite. No cultivo de algumas solanáceas,
principalmente, a variação termoclimática entre o dia e a noite exerce influência
preponderante no desenvolvimento da planta e na produção.
Dentre os fatores que afetam o desempenho das sementes de hortaliças a
temperatura tem sido o mais estudado. Sabe-se então que a germinação, a
emergência e o desenvolvimento inicial das plântulas são diretamente
condicionados pela temperatura do leito no qual se efetua a semeadura. As
condições ótimas são aquelas que possibilitam acelerar a germinação, porém sem
diminuição da percentagem de sementes germinadas. Assim, cada espécie olerácea
apresenta suas exigências térmicas.
Sem dúvida, a temperatura do solo está diretamente relacionada com a
temperatura do ar, com a duração do período luminoso a que foi exposto tal solo e
com algumas características inerentes ao próprio solo. Um exemplo prático é o
efeito da coloração: solos escuros aquecem-se muito mais rapidamente que aqueles
de coloração clara.
3.3. ADAPTAÇÃO TERMOCLIMÁTICA DAS CULTURAS
É possível enquadrar as numerosas espécies botânicas cultivadas como
hortaliças em 3 grandes grupos, inclusive considerando-se as particularidades das
modernas cultivares. Para isso, levam-se em consideração as peculiares exigências
termoclimáticas de cada cultura durante a maior parte do ciclo cultural. Com base
nesse critério, tem-se a seguinte classificação:
- Hortaliças de Clima Quente: aquelas tipicamente intolerantes ao frio, que
prejudica ou mesmo inibe a produção, exigindo temperaturas elevadas, diurnas e
noturnas; são todas intolerantes às geadas, porém algumas toleram temperaturas
amenas. Exemplos: a maioria das cucurbitáceas, batata-doce e quiabo.
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- Hortaliças de Clima Ameno: produzem melhor sob temperaturas amenas,
que também são aquelas mais favoráveis ao bem estar humano; toleram
temperaturas mais baixas, próximas e acima de 0 oC; e podem, inclusive, tolerar
geadas leves. Exemplos: tomate, batata, alface e moranga híbrida.
- Hortaliças de Clima Frio: exigem ou produzem melhor sob baixas
temperaturas, tolerando aquelas situadas ligeiramente abaixo de 0 oC; suportam
geadas mais pesadas. Exemplos: alho, alcachofra e os vários tipos de couve.
Com base nesse critério, as culturas oleráceas são enquadradas em 3 grupos
(Tabela 2). A classificação das hortaliças segundo a exigência termoclimática
apresentada certamente é imperfeita e sujeita a alterações. Assim, os fitomelhoristas
têm ampliado a faixa térmica favorável ao cultivo de certas espécies, pela criação de
cultivares ditas “de verão” – apropriadas para cultivo sob temperatura mais elevada.
Esse termo deve ser compreendido no sentido de que dentro de uma espécie típica
de clima frio ou ameno foram criadas novas cultivares adaptadas a clima cálido.
Bons exemplos ocorrem nas culturas de alface, cenoura e couve-flor, entre outros.
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Tabela 2 – Classificação das culturas oleráceas pela exigência termoclimática
Clima frio Clima ameno Clima quente
Acelga verdadeira Abobrinha italiana Abóbora rasteira
Aipo (salsão) Agrião d’agua Batata-doce
Alcachofra Alface* Berinjela
Alho Almeirão Cará 
Alho-porró Batata Chuchu
Aspargo Cenoura* Coentro
Beterraba Chicória Espinafre-neozelandês
Cebola Moranga híbrida Feijão-de-corda (caupi)
Cebolinha Rúcula Feijão-de-lima (fava)
Couve-brócolos* Salsa Feijão-vagem
Couve-chinesa* Tomate Inhame
Couve-de-bruxelas Jiló
Couve-flor* Maxixe
Couve-folha Melancia
Couve-rábano Melão
Couve-tronchuda Milho-doce
Ervilha Milho-verde
Espinafre-verdadeiro Moranga
Fava italiana Pepino
Funcho Pimenta
Mandioquinha-salsa Pimentão
Morango Quiabo
Mostarda-de-folha Taioba
Nabo
Rabanete
Rábano “daikon”
Repolho*
Observação: (*) Espécies que apresentam cultivares ditas “de verão”, ou seja, adaptadas a
temperaturas cálidas.
3.4. TERMOPERIODICIDADE ESTACIONAL
As culturas oleráceas estão submetidas à variação estacional da temperatura,
ao longo do seu ciclo, sendo essa variação indispensável para que ocorram
processos biológicos importantes.
O efeito da termoperiodicidade estacional torna-se mais bem evidenciado nas
espécies oleráceas ditas bienais, como em brássicas (repolho, couve-flor, couve-
brócolos), cebola, beterraba e rabanete. Tais plantas exigem frio para passarem da
etapa vegetativa do seu ciclo para a reprodutiva, com a emissão do pendão floral, e
posterior desenvolvimento das sementes. Não se entenda que são exigidos dois
anos – como o nome sugere -, mas dois períodos de tempo separados por um
intervalo com temperaturas favoravelmente baixas. A exigência de frio para o
pendoamento certamente depende da espécie, da variedade botânica e da cultivar,
havendo aquelas mais exigentes e outras, menos. Note-se que a passagem para a
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etapa reprodutiva apenas interessa ao produtor de sementes, sendo desastrosa
para o olericultor comum.
As espécies ditas anuais independem de um intervalo de frio para que a planta
passe da etapa vegetativa para a reprodutiva. Um exemplo típico é a alface, que
exige fotoperíodo longo e temperatura elevada para ocorrer o florescimento e a
formação de sementes.
Finalmente, há as espécies perenes, de ciclo muito dilatado, que podem
ocupar o terreno por um ou mais anos. Essas plantas enfrentam as condições
termoclimáticas decorrentes da passagem das 4 estações. Um bom exemplo é o
aspargueiro, que pode permanecer produtivo durante uma década, no campo. Outro
exemplo, de perenidade menos evidente, é o do tomateiro, que se comporta como
uma cultura anual, pelo fato de ser afetado por agentes etiológicos de natureza
variada, fungos, bactériase vírus, além de insetos-praga, que abreviam o ciclo da
cultura.
3.5. TERMOPERIODICIDADE DIÁRIA
A temperatura oscila ao longo de um dia de 24 horas, sendo as noites mais
frias, geralmente. Em algumas espécies oleráceas, as plantas se desenvolvem e
produzem melhor quando a temperatura noturna é inferior à diurna – uma diferença
de 5-10 oC. Quando mantidas sob temperatura constante, noite e dia, essas plantas
são prejudicadas.
O efeito decisivo da termoperiodicidade diária tem sido mais bem estudado em
tomaticultura, em pesquisas conduzidas na Europa e nos Estados Unidos, as quais
demonstram que a temperatura noturna exerce maior efeito no desenvolvimento da
planta e na produção. Em altas temperaturas noturnas, o crescimento vegetativo é
acelerado, porém são prejudicadas ou até inibidas a floração e a frutificação. Tem
sido demonstrado que temperaturas noturnas de 13 a 18 oC e diurnas de 20 a 25
oC são aquelas mais favoráveis à produção.
Como comprovação prática da exigência termoperiódica do tomateiro, é
conhecido o caso de antigos produtores holandeses, por demais cuidadosos, que se
levantavam em meio à noite invernal para aquecerem suas estufas. Entretanto,
verificavam que seus tomateiros apresentavam menor desenvolvimento e produção,
em relação às plantas de vizinhos, mais comodistas, que deixavam cair a
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temperatura noturna. Assim agindo, eles propiciavam a termoperiodicidade diária
adequada à cultura.
A exigência de termoperiodicidade também pode explicar a inadequação da
tomaticultura a regiões que apresentam temperaturas diurnas e noturnas igualmente
elevadas, como ocorre na Amazônia.
Outros estudos demonstram que as temperaturas diurnas de 20 a 25 oC e
noturnas de 10 a 16 oC são as mais favoráveis à bataticultura, nas condições
européias e norte-americanas. Isso explica o mau desempenho dessa cultura em
localidades brasileiras de baixa altitude, apresentando temperaturas constantemente
elevadas, de dia e de noite. Inversamente, tem sido demonstrado o sucesso da
cultura em altitudes acima de 800 m, sob temperaturas diurnas amenas e noturnas
favoravelmente menores, como ocorre em planaltos e regiões serranas do centro-
sul.
Outras culturas, menos estudadas, também apresentam exigência de
termoperiodicidade diária, devendo a temperatura noturna ser sempre mais baixa
que a diurna, a exemplo do pimentão, da beterraba, da ervilha e do morango.
3.6. INFLUÊNCIA DA LUZ: INTENSIDADE
A luz solar é um fator climático relevante para o desenvolvimento vegetal, pois
promove o processo da fotossíntese – sem o qual a vida humana e animal seria
impossível sobre o planeta. Quando se estuda a influência da luz na olericultura há
de se considerar a intensidade luminosa e a variação fotoperiódica, separadamente.
Experimentalmente se comprova que a um aumento na intensidade luminosa
corresponde uma elevação na atividade fotossintética, dentro de certos limites,
resultando em maior produção de matéria seca nas plantas. Contrariamente, a
deficiência luminosa provoca maior alongamento celular, resultando em
estiolamento, isto é, aumento na altura e extensão da parte aérea, porém sem
correspondente elevação do teor de matéria seca. Dessa forma, em localidades em
que prevalece alta intensidade luminosa é estimulada a produtividade, nas culturas
oleráceas. Sob baixa luminosidade, ao contrário, há formação de mudas estioladas
e de plantas adultas frágeis, de menor produtividade.
A baixa intensidade luminosa tem sido fator limitante à olericultura no norte da
Europa. Já em países tropicais, como o Brasil, a alta luminosidade favorece a
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produtividade. Vale enfatizar serem as hortaliças plantas altamente exigentes, ao
contrário do que ocorre com plantas ornamentais de interior, que requerem baixa
luminosidade.
3.7. INFLUÊNCIA DA LUZ: FOTOPERÍODO
A duração do período luminoso – o chamado fotoperíodo -, dentro de um dia de
24 horas, influencia numerosos processos fisiológicos nas plantas. É o caso do
crescimento vegetativo, da floração e frutificação, da produção de sementes e da
obtenção de produtos para a alimentação humana.
O número de horas diárias de luz solar varia conforme a latitude da localidade
e a estação do ano. Belém do Pará – cidade situada pouco abaixo da linha do
Equador terrestre (latitude de 0o C) -, por exemplo, apresenta 12 horas diárias de
luz, portanto a duração do dia é igual à da noite ao longo das 4 estações. À medida
que se afasta do equador em direção ao extremo sul, constata-se que os dias vão
se tornando, progressivamente, maiores durante o verão e menores no inverno.
Essa variação no período luminoso denomina-se “fotoperiodismo”, ao qual
algumas hortaliças, especialmente aliáceas, são muito sensíveis. Em cebola e alho,
somente ocorre a formação de bulbos quando os dias apresentam duração acima de
um número mínimo de horas de luz – fotoperíodo crítico, característico de cada
cultivar. De acordo com a exigência fotoperiódica, há cultivares precoces e tardias,
conforme necessidade de dias menores e maiores, respectivamente, para a
bulbificação. Essa é a principal razão pela qual certas cultivares sulinas de cebola e
de alho não produzem bulbos se plantadas durante o outono – época normal de
plantio de tais culturas – no centro-sul. Sendo cultivares tardias, a exigência
fotoperiódica não é satisfeita, motivo pelo qual as plantas se mantêm vegetativas.
A formação de flores também depende do fotoperíodo, estritamente, em certas
espécies. Por isso, cultivares européias e norte-americanas de alface pendoam,
precocemente, quando cultivadas nos dias longos do verão brasileiro.
Contrariamente, as cucurbitáceas produzem maior número de flores femininas, com
conseqüente aumento na produtividade, nos dias curtos do inverno. Já o
morangueiro somente floresce e frutifica em dias curtos, tornando-se vegetativo
durante os dias longos do verão.
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Do ponto de vista prático, o fotoperíodo torna-se fator limitante somente na
produção de poucas espécies oleráceas, destacando-se o caso peculiar da cebola e
do alho. Em outras espécies, o fotoperiodismo afeta menos o desenvolvimento da
planta, bem como a produção.
3.8. IMPORTÂNCIA DA UMIDADE
A água é imprescindível à vida vegetal e constitui mais de 90% do peso da
parte utilizável da maioria das hortaliças, sendo fácil, portanto, aquilatar sua
importância na olericultura. O teor de umidade no solo condiciona a absorção de
água e dos nutrientes minerais, essenciais ao desenvolvimento das plantas; a
umidade do ar influencia a transpiração (perda de água pelas folhas) e outros
processos que afetam a cultura.
Dentre os fatores climáticos, o teor de umidade no solo é aquele que pode
mais facilmente ser controlado pelo olericultor, por meio da irrigação.
Contrariamente, o controle da umidade do ar é bem mais difícil, a não ser pela
escolha criteriosa da época de plantio, considerando-se que o ar é mais seco no
outono-inverno. Note-se que um elevado teor de umidade no ar afeta o estado
fitossanitário da cultura, especialmente no que concerne ao ataque de fungos e
bactérias fitopatogênicos. Contrariamente, baixo teor favorece a manifestação de
ácaros e alguns insetos.
O regime pluviométrico da localidade afeta, substancialmente, a produção das
culturas em geral. Entretanto, no caso particular da produção de espécies altamente
exigentes de água, como o são a maioria das hortaliças, o fornecimento desta não
se pode basear apenas nas chuvas. Por isso, a prática da irrigação racional é
indispensável, devendo estar sempre presente nas cogitações do olericultor.
Durante o período chuvoso, todavia, é possível a cultura não irrigada de certas
espécies – menos exigentes ou dispondo de raízes mais profundas -,por exemplo
aboboreira, chuchuzeiro, aspargueiro, quiabeiro, dentre outras.
Além do efeito benéfico de elevar o teor de água disponível no solo, as chuvas
também acarretam alguns efeitos negativos às culturas, elevando a umidade do ar e
removendo a camada protetora, obtida pela pulverização com fungicidas, o que
favorece o ataque de certos fitopatógenos. Esses problemas fitossanitários são
menos freqüentes durante o inverno, certamente devido à baixa umidade relativa do
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ar; durante o verão chuvoso podem tornar-se fator limitante, no caso de culturas
suscetíveis.
3.9. AGROTECNOLOGIA NO CONTROLE CLIMÁTICO
O olericultor dispõe, atualmente, de alguns artifícios que possibilitam certo
controle sobre as condições climáticas, na condução de uma cultura de hortaliças.
Quando se pretende diminuir a temperatura do solo ou do leito de semeadura
na formação de mudas, podem-se aplicar alguns tipos de cobertura palhosa, como:
capim seco, palha da haste do arroz, palha de trigo, maravalha de madeira,
bagacilho de cana, casca de arroz etc. O material deve ser abundante na região ou
na propriedade e de baixo custo, devendo sua aplicação ser manual ou, se possível,
mecânica. O principal efeito almejado é baixar a temperatura do solo e mantê-la
favoravelmente estável, alguns graus abaixo da temperatura normal do solo
descoberto, mesmo nas horas de maior insolação. Temperaturas amenas no solo
favorecem muito o desenvolvimento das plantas e a produção de algumas espécies
oleráceas, como alho e morango, nas quais é comum o uso dessa prática cultural.
A cobertura palhosa oferece ainda outros benefícios para as culturas
oleráceas. Um deles é manter adequado teor de umidade no solo por mais tempo,
após a irrigação ou uma chuva, permitindo dilatar o turno de rega, em relação ao
solo descoberto. Assim, constata-se real economia de água e energia, reduzindo-se
o custo de produção.
Outra vantagem desse tipo de cobertura é o controle das plantas invasoras. A
incidência de ervas daninhas é reduzida, dependendo da espécie, podendo-se
efetuar o controle integrado com a utilização de herbicidas, pulverizados sobre o
leito em pré-emergência antes de se aplicar a cobertura. Essas práticas são muito
utilizadas em alho, por exemplo.
No caso de sementeiras, ou mesmo na semeadura direta, também há
benefícios na aplicação da cobertura palhosa, desde que não prejudique a
emergência das plântulas. Dessa forma, pode-se cobrir com casca de arroz uma
sementeira para produção de mudas de cebola ou um canteiro para semeadura
direta de cenoura, não sendo necessária a remoção do mateiral. No entanto, quando
se aplica palha de cereais ou capim, remove-se o material tão logo se constate o
início da emergência das plântulas.
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A irrigação constitui um tipo muito utilizado de controle climático, já que
complemente ou substitui as chuvas, elevando o teor de água útil no solo, além de
influenciar o microclima formado ao redor da planta irrigada. 
Um controle mais efetivo do clima é obtido certamente, pela chamada
“plasticultura” ou “cultivo protegido” – moderna agrotecnologia baseada na aplicação
de agrofilmes. 
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4. SOLO, NUTRIÇÃO E ADUBAÇÃO
As culturas oleráceas são altamente exigentes em nutrientes, razão pela qual
os produtores às vezes, erram ao adubarem em excesso; outras vezes, a adubação
é desequilibrada e, freqüentemente, sem orientação agronômica.
4.1. SOLO E FORNECIMENTO DE NUTRIENTES
O solo é o substrato natural para a produção agrícola, servindo como meio
para o desenvolvimento das raízes. Em que pese sua relevância, entretanto, o solo
pode ser profundamente modificado ou até mesmo dispensado, em olericultura,
como ocorre no cultivo hidropônico. Todavia, o que acontece freqüentemente não é
a substituição, mas a modificação do solo promovida pelo olericultor. Observa-se
que as propriedades físicas de um solo são mais relevantes que o teor de nutrientes,
já que este pode ser profundamente modificado.
O solo agrícola é uma importante fonte de nutrientes minerais para as raízes.
No entanto, no caso particular da olericultura, freqüentemente o solo se comporta
como fonte insuficiente de nutrientes, dada a elevada exigência das culturas. Essa
limitação da fertilidade natural é bem conhecida, podendo ser corrigida pela
agrotecnologia. Evidentemente, devem-se minimizar possíveis danos ecológicos,
como a contaminação da água subterrânea por nitratos ou de lagoas por fosfatos.
As culturas precisam encontrar no solo, sob forma e quantidade adequadas, 14
nutrientes reconhecidos como essenciais aos vegetais. A ausência de qualquer um
deles na solução do solo torna-se fator limitante ao desenvolvimento e à produção
das plantas. São eles:
 Principais 
Macronutrientes
 
 Secundários 
Micronutrientes: boro (B), zinco (Zn), molibdênio (Mo), cobre (Cu), manganês (Mn),
ferro (Fe), cloro (Cl) e níquel (Ni).
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Nitrogênio (N)
Fósforo (P)
Potássio (K)
Cálcio (Ca)
Magnésio (Mg)
Enxofre (S)
Há ainda mais 3 nutrientes – silício (Si), sódio (Na) e cobalto (Co) – que não
são reconhecidos como essenciais para todas as plantas, mas que beneficiam
algumas.
Os 14 nutrientes inicialmente citados são reconhecidos como essenciais ou
imprescindíveis às plantas superiores – as hortaliças, por exemplo. Os
macronutrientes são extraídos em quantidades mais substanciais pelo sistema
radicular (kg/ha), em relação aos micronutrientes (g/ha). Não obstante, a falta de
alguns gramas de um micronutriente pode resultar no insucesso de uma cultura,
como se observa no campo. Quanto à distinção entre “principais” e “secundários”,
trata-se de questão puramente legislativa concernente à comercialização de
fertilizantes, sem qualquer relevância agronômica.
4.2. EXTRAÇÃO E EXPORTAÇÃO DE NUTRIENTES
As espécies oleráceas extraem do solo e exportam, em suas partes
comerciáveis, maiores quantidades de nutrientes, por hectare, em relação a outras
culturas. Isso ocorre em razão de suas exigências peculiares e, principalmente, da
sua maior capacidade de produção.
A fertilidade natural dos solos não satisfaz, freqüentemente, as elevadas
exigências nutricionais das culturas oleráceas – algo que tem sido demonstrado por
pesquisadores e comprovado, na prática, por olericultores. Entretanto, há toda uma
agrotecnologia técnico-científica utilizada para melhorar um solo.
Em certas situações, o solo é naturalmente rico em alguns nutrientes, como K
e N, sendo capaz de suprir parcela substancial da exigência das culturas.
Contrariamente, é incomum um solo brasileiro apresentando teor tão elevado de P –
em forma utilizável pela planta – que possa dispensar a adubação fosfatada.
4.3. A APLICAÇÃO DE NUTRIENTES
 As culturas oleráceas são mais produtivas e exigentes, razão pela qual
extraem e exportam do solo maior quantidade de nutrientes, em relação às culturas
de grãos, por exemplo, exigindo adubações mais fartas. A olericultura também é a
atividade agrícola que oferece respostas mais substanciais à adubação, sob o duplo
aspecto: agronômico e econômico. Adequadamente conduzida, a adubação resulta
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em maior produção, obtida por unidade de tempo e de área, além de produtos com
maior valor nutricional, aspecto mais atrativo, melhor sabor e aroma, bem como
valor de venda maior. Certamente contribui para isso o elevado potencial genético
das atuais cultivares melhoradas, inclusive mais exigentes em nutrientes, e toda a
moderna agrotecnologia. A irrigação, por exemplo, favorece a utilização dos
nutrientes pelas raízes; e o controle fitossanitário mantém a superfície
fotossintetizante ativa por mais tempo, contribuindo para elevar a produção.
Numa sucessãode culturas sobre uma gleba, é fundamental considerar o
ponderável efeito residual das adubações anteriormente aplicadas, já que é
impraticável fornecer os nutrientes na medida exata para atender, tão somente, à
demanda da cultura visada. Assim, o efeito residual contribui para reduzir o custo da
adubação da nova cultura. Por exemplo, o milho-doce pode suceder uma cultura
rasteira de tomate, exigindo pouca ou nenhuma adubação. Normalmente, o efeito
residual é benéfico, inclusive contribuindo para melhorar a fertilidade do solo.
Entretanto, também pode ser prejudicial, no caso de adubações excessivas. Isso
pode ser exemplificado com a aplicação de fontes de boro, sendo a cultura sucedida
por outras, sensíveis a níveis elevados de B. Vale ressaltar que a análise do solo de
cada gleba de uma propriedade – efetuada anualmente e complementada por
análise foliar das culturas – pode evitar essas situações.
A adubação é fator que onera o custo de produção de uma cultura, porém não
exageradamente. Todavia, como a maximização do lucro líquido por hectare
geralmente coincide com a maximização da produtividade e da qualidade do produto
obtido, para o olericultor empresário é compensador investir em adubação. Aliás,
tem sido constatado por economistas rurais que, no caso particular da olericultura, o
ótimo em termos agronômicos coincide com o ótimo em termos econômicos,
normalmente. Sem dúvida, essa é uma prática que proporciona respostas
favoráveis, razão pela qual um elevado investimento em adubação costuma ser
vantajoso, em termos agronômicos e econômicos.
Em muitas situações, constata-se que o olericultor aplica excesso de certos
nutrientes, ou utiliza adubação desequilibrada, o que, inclusive, pode ocasionar
problemas ambientais, como a contaminação da água subterrânea por nitratos.
Também se deve considerar que há um limite genético para a planta responder à
aplicação de nutrientes – mesmo nas atuais cultivares híbridas de alta produção. Ao
que parece, tal limite vem sendo ultrapassado em certas culturas, como batata,
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tomate e morango, com conseqüências agronômicas, econômicas e ambientais
negativas.
4.4. A FILOSOFIA DE “CONSTRUIR O SOLO”
Salvo raras exceções, o olericultor brasileiro preocupa-se em adubar a próxima
cultura a ser implantada – um imediatismo até justificável, dentro do contexto
socioeconômico em que ele vive e labuta. É até compreensível que um arrendatário
não cogite em elevar o nível de fertilidade da gleba por ele trabalhada, mas sim de
satisfazer as exigências da cultura. Entretanto, essa atitude é irracional e
injustificável no caso de um proprietário que pretenda manter uma agricultura
sustentável e produtiva, ao longo do tempo.
A filosofia de se preocupar, apenas, em adubar cada cultura é inadequada.
Entretanto, a preocupação exclusiva em melhorar o solo pode conduzir o olericultor
a desastres financeiros. Por conseguinte, é mister implantar a filosofia de “construir”
o solo, a médio prazo, paralelamente à adubação das culturas – imediatismo
necessário à sobrevivência do produtor, especialmente daqueles que dispõem de
área limitada. A “construção” do solo tem sido defendida por estudiosos da
agricultura, em solos tropicais de baixa fertilidade. Entretanto, é necessário conciliar
aquilo que é agronomicamente desejável com o economicamente viável ou
financeiramente possível.
a) Calagem
A calagem é uma das primeiras práticas ao se cogitar em iniciar um programa
de “construção” ou aprimoramento de um solo agrícola.
A quantidade de calcário a aplicar pode ser calculada pelo método de
saturação por bases – muito utilizado no Estado de São Paulo. Nesse método,
objetiva-se elevar a atual percentagem de saturação por bases fornecida pela
análise (V%) para o nível desejável, de 60 a 80%, dependendo da cultura. Também
se procura elevar os teores de Ca e de Mg trocáveis, aplicando um corretivo rico em
ambos os nutrientes, ou apenas em Ca, conforme a situação. 
A aplicação de calcário deve ser efetuada a lanço sobre o solo, com
antecedência mínima de 60 a 90 dias do plantio, devendo a gleba ser molhada
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nesse período pela chuva ou pela irrigação. Observe-se que a cal agrícola é um
corretivo de mais rápida solubilização, que pode ser aplicado com antecedência
menor, de até 30 dias. A faixa de acidez do solo a ser atingida deve ser de pH 6,0 a
6,5 – a mais favorável para a maioria das culturas, inclusive por possibilitar a
absorção da maioria dos nutrientes.
b) Adubação corretiva
A adubação corretiva tem por objetivo elevar a disponibilidade de certos
nutrientes, como o P e o K, num solo de baixa fertilidade natural, ou empobrecido
por anos de manejo inadequado. Visa, também, reduzir as perdas no solo de
nutrientes aplicados em formas prontamente solúveis. Proporciona melhor
disponibilidade de certos nutrientes ao sistema radicular, o que ocorre num maior
volume de solo a ser explorado pelas raízes. Evita-se, assim, que as raízes se
concentrem em pequeno volume de solo – como ocorre quando a adubação é
localizada em covas.
c) Adubação verde
A incorporação de restos culturais ao solo é um meio eficiente e econômico
que o agricultor dispõe para elevar o teor de matéria orgânica, além do
enriquecimento em nutrientes. A chamada “adubação verde” é um caso particular da
incorporação de plantas herbáceas ao solo, favorecendo as condições físicas,
químicas e biológicas. Consiste em incorporar a massa vegetal produzida no próprio
terreno, utilizando-se, para isso, plantas da família das fabáceas (antigamente,
leguminosas), especialmente cultivadas para essa finalidade. Destacam-se, dentre
elas, as crotalárias e as mucunas, pela produção de massa verde e riqueza em N.
Quando em floração, com as plantas ainda tenras e facilmente decomponíveis,
promove-se a incorporação pela aração ou gradagem.
Os benefícios dessa prática agrícola ancestral são numerosos e notáveis. O
mais relevante é a fixação do N atmosférico pelas raízes, em simbiose com certas
bactérias fixadoras. Além deste, podem ser citados: a descompactação do solo,
provocada pela passagem de máquinas; a melhoria na utilização dos nutrientes
pelas culturas; o aumento na capacidade de armazenamento de água; a redução na
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população de nematóides daninhos; a redução na infestação de plantas invasoras; e
certa proteção do solo contra a erosão provocada pelas chuvas.
A única desvantagem é deixar a gleba ocupada, durante alguns meses, com
uma cultura que não produzirá renda imediata. Talvez isso não explique a falta de
tradição no uso dessa utilíssima prática agrícola, mas sim o total desconhecimento
por parte dos olericultores. Certamente, essa prática pode ser economicamente
desvantajosa para um arrendatário, mas não para um proprietário rural.
4.5. ADUBAÇÃO MINERAL NO PLANTIO
O plantio é ocasião propícia para o fornecimento de nutrientes às plantas via
sistema radicular. O N constitui exceção, podendo ou não integrar a adubação de
plantio, já que a maior parcela da dose programada deverá ser aplicada pós-plantio.
A aplicação de K também pode ser parcelada, se bem que, em muitas situações, a
dosagem total possa ser aplicada por ocasião do plantio.
Não é tarefa fácil conciliar os aspectos agronômicos e econômicos e a
praticidade na aplicação da adubação mineral. Assim, usualmente, aplicam-se
formulações NPK, obtidas a partir da mistura de adubos simples, utilizados como
fontes de nutrientes. Os 3 números, visíveis nas embalagens, referem-se às
percentagens de N, P2O5 e K2O. Observe-se que esses dois óxidos são uma forma
arcaica (porém universal) de expressar os teores de P e K disponíveis.Em olericultura, constata-se que os corretivos de acidez não constituem fontes
totalmente confiáveis de Ca e Mg. Há outro engano generalizado: S não é veiculado
pelas chuvas em quantidades adequadas às necessidades de certas culturas, a não
ser em regiões industrializadas, em razão dos compostos sulfurosos emitidos pelas
chaminés – nocivos aos moradores e à natureza. No campo, constata-se que é
notória a deficiência de Ca e Mg, mais raramente em S, dependendo da cultura e do
solo. Conclui-se que a formulação NPK deva fornecer também os macronutrientes
ditos “secundários”. Obviamente, os resultados das análises do solo e foliar devem
ser considerados.
Uma formulação NPK adequada ao plantio de hortaliças deve ser
substancialmente mais rica em fósforo – expresso em percentagem de P2O5 -, em
relação aos demais nutrientes. O P deve apresentar-se em forma utilizável pelas
raízes. Na maioria das situações, o fornecimento de P não deve ser parcelado,
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como se faz com N e K. Além disso, o fornecimento de P e Ca por ocasião do plantio
favorece a formação de amplo e ativo sistema radicular. Também tem sido
demonstrado que a localização de P-solúvel diretamente abaixo das raízes, ou
muito próximo, é mais eficiente. Desse modo, a formulação deve apresentar baixa
percentagem de N, elevada de P2O5 e média de K2O. 
4.6. ADUBAÇÕES EM COBERTURA
Por ocasião do plantio deve-se, na maioria das situações, aplicar a dosagem
total necessária de P, porém apenas uma parcela mínima da dosagem total de N, e
a metade, ou menos, da dosagem total de K. Aplicar as doses adequadas de N é
uma arte, que depende da experiência pessoal com a cultura e o solo trabalhado.
Em alguns casos, a dose total de K também deve ser parcelada, para aumentar a
eficiência de sua utilização pela planta.
A condição para que um nutriente possa ser utilizado pelas raízes, quando
aplicado em cobertura, é que possua boa mobilidade vertical no solo. Nesse
aspecto, destaca-se N, seguido por K, enquanto P apresenta pequena mobilidade
vertical. Por conseguinte, a aplicação de P em cobertura é ineficiente e
antieconômica, na maioria das situações. Uma exceção é o caso do tomateiro
tutorado, que responde bem à aplicação de P na primeira cobertura, desde que haja
incorporação pela amontoa. Em outras situações, ao se aplicar P em cobertura,
parte substancial é fixada pelo solo e o restante não se move com velocidade
suficiente para atingir as raízes ativas na absorção. Inversamente, por sua elevada
mobilidade, a maior parcela da dose total planejada de N deve ser aplicada em
cobertura. Assim, o N estará disponível para as raízes, no tempo e no local mais
favoráveis. Pela mesma razão, a adubação de plantio deve ser pobre em N,
evitando-se perdas por lixiviação, para fora do alcance das raízes, e prevenindo
danos às plantas jovens. Atualmente, considera-se que também o K, em algumas
culturas, deve ter aplicação parcelada, mormente em solos arenosos.
Adubações em cobertura são, portanto, indispensáveis, geralmente.
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4.7. ADUBAÇÃO VIA FOLIAR
Em olericultura, a adubação foliar justifica-se e é recomendada quando vista
como uma complementação às aplicações efetuadas no solo e, ainda, quando se
pretende uma resposta rápida da cultura, em caso de carência de nutrientes,
declarada ou iminente.
a) Macronutrientes
Os olericultores vêm utilizando a adubação foliar. Trata-se de complementar a
adubação via solo, fornecendo pequena parcela da quantidade necessária dos
macronutrientes, ou mesmo parcela substancial, no caso dos micronutrientes.
Experimentalmente, tem sido demonstrada a capacidade de as culturas utilizarem
nutrientes aplicados em pulverização. A eficiência varia conforme o nutriente, a
espécie botânica e as condições agroecológicas.
Há situações em que a adubação foliar é o único meio de corrigir sintomas de
deficiência mineral, com a presteza necessária para que a planta retome o
desenvolvimento e produza normalmente. A absorção de nutrientes via foliar é mais
rápida que pela via normal, radicular, porém esta última absorve quantidades mais
elevadas. Em compensação, aplicados sobre as folhas, os nutrientes sofrem perdas
substancialmente menores. Servem de exemplos a lixiviação do N e a fixação do P,
quando aplicados ao solo. Todavia, as aplicações foliares não podem substituir, no
caso dos macronutrientes, mas apenas complementar a adubação foliar.
b) Micronutrientes
No caso dos micronutrientes, a aplicação foliar pode suprir, total ou
substancialmente, as exigências das culturas, e ter custo muito inferior ao da
aplicação via solo. Além disso, evita as perdas elevadas, comuns nas aplicações ao
solo, já que a eficiente utilização pelas raízes depende do grau de acidez e de
outros fatores edáficos.
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4.8. FERTIRRIGAÇÃO – ADUBAÇÃO NA ÁGUA
Uma alternativa para a adubação em cobertura é a fertirrigação – dissolução
de certos fertilizantes na água de irrigação -, sendo a aplicação efetuada por
aspersão ou gotejamento. Entre os fertilizantes solúveis mais utilizados estão: uréia,
nitrato de amônio, nitrato de cálcio, nitrato de magnésio, fosfato de amônio e sulfato
de potássio. Também estão disponíveis formulações específicas, de alta
solubilidade, contendo a maioria dos macronutrientes. Todos os nutrientes podem
ser aplicados, embora seja mais comum a aplicação de N e de K em substituição às
adubações em cobertura. Com a generalização do uso da irrigação por pivô central
e a introdução da rega por gotejamento, a fertirrigação vem ganhando adeptos.
Em termos experimentais, pouco se sabe sobre essa agrotecnologia nas
condições brasileiras. Há questões que devem ser consideradas e pesquisadas,
como nutrientes a aplicar, suas melhores fontes, dosagens adequadas e intervalos
entre as aplicações. Indubitavelmente a fertirrigação, em comparação com os
demais métodos de aplicação de fertilizantes, permite grande economia em adubos;
alta precisão na dosagem e na aplicação; economia de mão-de-obra; maior
eficiência da adubação; e perdas mínimas por percolação, lixiviação, escorrimento e
fixação.
4.9. HIDROPONIA – CULTIVO NA ÁGUA
A hidroponia – denominado “cultivo sem solo” – vem sendo praticada desde a
dec. de 1930, nos Estados Unidos e em outros países; no Brasil, somente a partir de
fins da dec. de 1980. O solo é substituído por outro meio sólido (cascalho, areia,
vermiculita, plástico, lã de rocha) e é banhado por solução contendo todos os
nutrientes necessários; ou as raízes desenvolvem-se imersas, sem qualquer
substrato sólido. Normalmente, aplica-se essa agrotecnologia juntamente com o
cultivo em estufa.
Essa técnica apresenta várias vantagens em relação ao cultivo no solo: exige
menos trabalho humano; elimina várias operações agrícolas tradicionais; as plantas
não competem por nutrientes ou água; a produtividade pode triplicar, no mínimo; a
utilização da água e dos nutrientes é maximizada; há maior precocidade na colheita;
a incidência de problemas fitossanitários é menor; há menor exigência de aplicação
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de defensivos; geralmente a qualidade dos produtos é melhor; e o produto se
apresenta limpo. Entretanto, também há desvantagens, como custo inicial elevado
da estrutura e dos equipamentos; risco de perda total, por falta de energia elétrica;
exigência de conhecimentos sobre química e nutrição de plantas; e danos severos
às plantas ocasionados pelo balanço iônico e pela condutividade elétrica da solução
inadequados.
A viabilidade econômica da hidroponia depende de vários fatores, sendo
essencial a proximidade de um centro consumidor. Essa técnica permite, inclusive,
que se desenvolva a olericultura em situações em que a utilização do solo é inviável:
em desertos,