Prévia do material em texto
UNIVERSIDADE FEDERAL DE RORAIMA ESCOLA AGROTÉCNICA DA UFRR CURSO TÉCNICO EM AGROPECUÁRIA PROF: Jandiê Araújo da Silva OLERICULTURA GERAL BOA VISTA-RR 2010 1. INTRODUÇÃO À OLERICULTURA 1.1. O CAMPO DA OLERICULTURA A Olericultura é um termo técnico-científico, muito preciso, utililizado no meio agronômico. Derivado do latim (oleris, hortaliça, + colere, cultivar), refere-se à ciência aplicada, bem como ao estudo da agrotecnologia de produção das culturas oleráceas. A palavra hortaliça refere-se ao grupo de plantas que apresentam, em sua maioria, as seguintes características: - consistência tenra, não lenhosa; - ciclo biológico curto; - exigência de tratos culturais intensivos; - cultivo em áreas menores, em relação às grandes culturas; e - utilização na alimentação humana, sem exigir prévio preparo industrial. Popularmente, as hortaliças ou a sua parte utilizável são chamadas, impropriamente, de “verduras” e “legumes”. Desse modo, em vez de uma única palavra correta, as pessoas utilizam duas, ambas imprecisas e incorretas. Observe- se que, além das plantas vulgarmente conhecidas como legumes e verduras, do ponto de vista agronômico também são incluídos na olericultura: batata-doce, melancia, melão, milho-verde e morango. A olericultura, conforme o interesse a quem a ela se dedica, pode ser vista como atividade agroeconômica, ciência aplicada, recreação educativa, ou como fonte de alimento relevante para a nutrição humana. Aos olericultores empresariais, extensionistas rurais, agentes da assistência técnica e estudantes de ciências agrárias interessaria mais de perto o primeiro enfoque; já o pesquisador agrícola optaria pelo segundo; a professora de ensino fundamental consideraria o terceiro; e o nutricionista, ou mesmo a dona-de-casa esclarecida, consideraria o último aspecto. É importante notar que os termos técnicos olericultura e horticultura não são sinônimos, tendo um segundo um significado muito mais abrangente, não devendo substituir o primeiro, como ocorre na fala popular. Assim, em países europeus, de 2 2 antiqüíssima tradição agrícola, bem como nos Estados Unidos, o termo horticultura engloba a produção de plantas muito diversificadas. O tipo de produção intensiva de plantas praticado no hortus medieval – local murado e próximo à residência – foi denominado horticultura. Em contraposição havia a agricultura (de agris, campo), referindo-se à produção extensiva de trigo e outros cereais. Portanto, inclui-se na horticultura a produção de plantas utilizadas na alimentação humana, bem como aquelas empregadas com finalidade estética, para aprimoramento do sabor dos alimentos ou para fins medicinais. O termo técnico fitotecnia (de fiton, planta) é ainda mais abrangente, referindo-se à agrotecnologia praticada na produção de plantas muito diversificadas – úteis ao bem-estar humano. Tais plantas podem ser agrupadas em 4 grandes ramos, por sua vez subdivididos em outros mais particularizados, obtendo-se o seguinte esquema didático: Grandes culturas: produtoras de grãos, fibras e estimulantes Horticultura FITOTECNIA Silvicultura: espécies florestais Forragicultura: pastagem e forrageiras Conforme ficou evidenciado, a olericultura é o ramo da horticultura que abrange o estudo da produção das culturas oleráceas. Note-se que tal abrangência não é pequena, visto que tais culturas englobam quase uma centena de plantas alimentícias no mundo ocidental. 1.2. CARACTERÍSTICAS DO AGRONEGÓCIO 3 3 Olericultura: hortaliças Fruticultura: fruteiras Floricultura: flores Jardinocultura: plantas ornamentais Viveiricultura: mudas em geral Cultura de plantas condimentares Cultura de plantas medicinais Cultura de cogumelos comestíveis a) Atividade altamente intensiva A característica mais geral e marcante do agronegócio da produção de hortaliças é o fato de ser uma atividade agroeconômica altamente intensiva, em seus mais variados aspectos, em contraste com outras atividades, extensivas, como a produção de grãos. Desse modo, há o emprego contínuo do solo de uma gleba, com vários ciclos culturais, que se desenvolvem em seqüência. As atividades de campo são realizadas nas 4 estações do ano. Em olericultura, o chamado “ano agrícola” – termo utilizado por produtores de grãos – se confunde com o ano civil. Costuma-se dizer que o olericultor é um agricultor que não tem sossego, em tempo algum, nem direito a feriado e férias. b) Alto investimento A olericultura exige alto investimento por hectare explorado, ou seja, alto “input”, em termos físicos e econômicos. Em contrapartida, possibilita a obtenção de elevada produção física e alta renda (bruta e líquida), por hectare cultivado e por hectare/ano, ou seja, alto “output”. É notória a obtenção de substancial volume físico de produção, concentrado em pequena área, inclusive a alta eficiência na utilização do espaço físico bi ou até tridimensional (no caso de culturas tutoradas). Quanto à produtividade, por hectare ou hectare/ano, a olericultura destaca-se em relação às demais opções agroeconômicas. c) Ciclo curto O ciclo das culturas oleráceas é geralmente curto. A maioria das espécies é de ciclo anual; algumas são bienais – exigem um período de frio entre as etapas vegetativa e reprodutiva; e muitas poucas são perenes. Por exemplo, uma mesma gleba, ao longo de um ano civil, pode ser utilizada com 3 tomatais transplantados, ou 6 culturas de alface propagadas por mudas, ou ainda 12 semeaduras diretas de rabanete. Compare-se isso com as culturas produtoras de grãos, que utilizam o terreno uma só vez, normalmente, ou duas, no máximo. A obtenção de mais de uma 4 4 safra, anualmente e na mesma gleba, eleva o rendimento físico e econômico da olericultura. d) Tamanho reduzido da área física O agronegócio da produção de hortaliças também se identifica pelo tamanho mais reduzido da área física ocupada, porém intensivamente utilizada, tanto no espaço como no tempo. O menor tamanho das culturas facilita o aprimoramento nos tratos culturais, que são intensivos e sofisticados. Esse aprimoramento se observa mesmo em plantios mais extensos, como ocorre em culturas com finalidade agroindustrial. e) Apurada agrotecnologia A olericultura requer apurada agrotecnologia, sempre em constante evolução. Viabiliza e exige artifícios tecnológicos refinados, que seriam antieconômicos em outros tipos de agronegócio. É o caso de produção de mudas em bandejas, polinização manual de flores, raleamento de frutinhos, desbaste de plantas em excesso, irrigação por gotejamento, fertirrigação (aplicação de nutrientes dissolvidos na água), cultura em casa de vegetação e o máximo de sofisticação: hidroponia, que é a cultura sem utilização de solo. São numerosos os tratos culturais (irrigação, tutoramento, desbaste, poda, capina etc.). Também é intensiva a utilização de insumos agrícolas modernos (sementes, defensivos, fertilizantes, agrofilmes etc). Além disso, torna-se necessário o uso de instalações, equipamentos e implementos especializados, como galpões para beneficiamento, câmaras frigoríficas, casas de vegetação, tratores semeadeiras, adubadeiras, transplantadeiras etc. f) Utilização intensiva de mão-de-obra É notória a utilização intensiva de mão-de-obra rural em olericultura, certamente acarretando significativos benefícios do ponto de vista social, contribuindo para diminuir o desemprego – uma das pragas da economia globalizada desse início de século. Desse modo, utiliza-se um número elevado de “serviços” por hectare trabalhado e por propriedade. Um “serviço” corresponde ao 5 5 trabalho desenvolvido por um operário adulto durante suajornada normal de trabalho, apenas utilizando as mãos e ferramentas manuais. g) Aproveitamento de terras problemáticas A olericultura viabiliza o aproveitamento agrícola de glebas consideradas problemáticas. A utilização de tais glebas seria impraticável em outros tipos de atividade agrícola, do ponto de vista agronômico e, ou, econômico. O fato fica bem evidenciado quando o terreno se localiza próximo a cidades ou à margem de rodovias. Assim, torna-se perfeitamente viável o cultivo de hortaliças em terrenos de baixa fertilidade, muito pobres em nutrientes, desde que criteriosamente corrigidos e adubados. Glebas com solo pedregoso também podem ser exploradas, com certas espécies. São viáveis, inclusive, baixadas alagadas, após a necessária drenagem. h) Atividade agrícola de risco Finalmente, há de se considerar o fato de o agronegócio da produção de hortaliças ser uma atividade agrícola de maior risco para o empresário rural, em relação a outras opções. Isso ocorre em virtude da maior incidência de problemas fitossanitários, maior sensibilidade às condições climáticas, notória ocorrência de anomalias de origem fisiológica nas plantas, entre outros problemas. i) Requer maior capacidade técnico-administrativa Devido às características peculiares, o agronegócio da olericultura requer maior capacidade técnico-administrativa do empresário rural no manejo dos fatores agronômicos e econômicos e, também, a assistência por parte de técnicos especializados, mais intensivamente em relação a outros agricultores. Obviamente, o olericultor torna-se mais exigente em relação à qualidade da assistência técnica. 6 6 1.3. TIPOS DE EXPLORAÇÃO EM OLERICULTURA Conforme a finalidade a que se propõe, o número de espécies, a localização da base física e a agrotecnologia utilizada, há alguns tipos característicos de exploração em olericultura. a) Exploração diversificada Esta exploração é típica dos chamados “cinturões verdes”, culturas localizadas na periferia das cidades e próximas aos pontos de comercialização. O olericultor vende seus produtos aos varejistas, tais como os donos de bancas em feiras, mercearias, mercadinhos; ou se transforma, ele próprio, em varejista, atingindo diretamente o consumidor. São olericultores profissionais explorando áreas pequenas com espécies diversificadas. Esse tipo de exploração tende a sofrer deslocamentos, motivados pela valorização dos terrenos, em áreas urbanas ou suburbanas sujeitas à especulação imobiliária. A interiorização da exploração diversificada, desde que se disponha de estradas e o transporte não seja por demais oneroso, pode ser uma tendência auspiciosa. Desse modo, o custo de utilização da gleba, da água necessária e da energia elétrica torna-se menor; a mão-de-obra rural é mais abundante, mais barata e melhor qualificada; há maior possibilidade de mecanização, inclusive com máquinas e implementos simples; e tudo contribui para redução no custo de produção, por hectare explorado e por tonelada produzida. Além disso, diminui-se a possibilidade de água contaminada por agentes causadores de doenças tanto em plantas como em pessoas. Todavia, perde-se a oportunidade de atingir o varejista e, mais ainda, o consumidor diretamente, em razão da maior distância até os locais de comercialização. b) Exploração especializada Parece ser o tipo de exploração para o qual tende a olericultura nas regiões mais desenvolvidas, mesmo dentro do Brasil, e nas regiões do 1o Mundo. Quanto à área cultivada, a exploração especializada já predomina no centro-sul brasileiro, onde há menor número de espécies oleráceas, e é comum haver apenas uma ou 7 7 duas sendo produzidas por vez. A agrotecnologia de produção torna-se mais sofisticada, inclusive com maior utilização de máquinas e implementos. Também é intensiva a aplicação de insumos agrícolas modernos. A propriedade rural, geralmente, localiza-se longe dos centros urbanos, porém a produção é escoada por estradas vicinais ou rodovias. O olericultor especializado às vezes ocupa grandes áreas com uma só cultura, inclusive utilizando grau de mecanização comparável ao dos produtores de grãos. Há produtores que cultivam centenas de hectares com batata, cebola, cenoura, melão e outras hortaliças. Eles concentram-se nas complexidades da produção, no campo, não se dedicando à comercialização. Geralmente entregam seu produto a atacadistas, freqüentemente sediados longe do local da produção. Raramente vendem a varejistas e, muito menos, procuram atingir o consumidor diretamente. Esse tipo de produtor é aquele que adota, mais prontamente, as inovações tecnológicas, também valorizando a assistência agronômica. Graças a sua visão empresarial, ao espírito de iniciativa e à disponibilidade de recursos, torna-se capaz de causar grande impacto socioeconômico na região onde atua. c) Exploração com finalidade agroindustrial A industrialização de hortaliças é uma atividade que vem crescendo no Brasil para abastecer os mercados interno e externo. Para fornecimento da matéria-prima necessária à agroindústria, surgiu um tipo peculiar de exploração especializada. São extensas culturas cujo grau de mecanização é elevado, sendo as hortaliças cultivadas de maneira extensiva – também aqui cabendo analogia com a produção de grãos. Objetiva-se obter considerável volume de produção, a um custo unitário o mais reduzido possível. Em algumas regiões brasileiras, esse tipo de exploração vem se expandindo, para acompanhar a crescente demanda por alimentos industrializados ou semipreparados, motivada pelo fato de a dona-de-casa também trabalhar fora do lar freqüentemente e não mais dispor de muito tempo para os trabalhos culinários. Exemplos típicos são as culturas rasteiras de tomate para obtenção de massa; de ervilha para produção de grão seco posteriormente reidratado; de pimentão para obtenção do codimento páprica; de alho-porró para sopas desidratadas; e de aspargo para enlatamento dos turiões. 8 8 d) Horta doméstica, recreativa ou educativa É precisamente nesse tipo de cultura que há certo retorno às origens da olericultura, pois lembra o hortus latino e medieval. Aqui não se trata de uma exploração agroeconômica, já que o objetivo primordial é aprimorar a alimentação da família ou da comunidade. Dessa forma, propicia-se a obtenção de hortaliças de alta qualidade, produzidas com requinte artesanal e em pequena escala. Tal atividade tem sido desenvolvida nos meios urbano, suburbano e rural e até em apartamentos, utilizando-se, neste caso, caixas com solo ou mesmo cultura hidropônica. O mais comum são as hortas tipicamente diversificadas, localizadas em pequenas áreas, próximas a residências, clubes, escolas, hospitais e dentro de quartéis e de penitenciárias. Os trabalhos são executados manualmente, com ajuda de ferramentas simples, por pessoas que se dedicam a outras atividades profissionais. No ensino fundamental, a horta educativa pode se tornar um meio excelente de a professora ilustrar, na prática e de maneira fascinante, os variados aspectos da Biologia, tornando o ensino mais atraente, motivando as crianças. Bons resultados também foram obtidos com jovens do meio rural organizados em clubes orientados por extensionistas – um trabalho educativo infelizmente relegado na época atual. Em instituições dedicadas à recuperação de pessoas com dependência química – viciadas em álcool ou em drogas – também o cultivo de hortaliças pode contribuir como um tipo de terapia. e) Viveiricultura A produção de mudas de certas espécies oleráceas, destacando-se tomate, alface e pimentão, tornou-se um tipo particular de exploração olerácea a partir de meados da década de1980. Há agrônomos e agrotécnicos que se dedicam a essa atividade e fornecem, ao olericultor, mudas com garantia de qualidade, inclusive fitossanidade. Para o olericultor que pretende implantar uma cultura pelo plantio de mudas, há vantagens ponderáveis em deixar essa fase altamente delicada sob os cuidados de um especialista, como ocorreu há muitas décadas em outros países, como Holanda e Estados Unidos. No Brasil, a tendência é de que a viveiricultura, além da 9 9 tradicional produção de mudas cítricas e de plantas ornamentais, também produza mudas de hortaliças, pois é uma atividade altamente lucrativa e mais uma opção para técnicos agrícolas. f) Produção de sementes e estruturas vegetativas A produção de material propagativo, como a semente, é um tipo de exploração que exige muito mais conhecimento do produtor, em relação à obtenção de hortaliças para mercado. Grandes empresas produtoras de sementes contratam e orientam culturas especializadas, inclusive fornecendo a semente básica necessária, bem como a orientação técnica. As espécies oleráceas de propagação assexuada, a exemplo de batata, batata-doce, morango e alho, exigem o plantio de certas estruturas vegetativas. Estas devem ser produzidas em culturas especialmente orientadas, obedecendo-se a rigorosas normas de fitossanidade, pois tais estruturas são eficientes veiculadoras de fitopatógenos. Bons exemplos, no Brasil, são a produção de batata-semente certificada e de mudas vegetativas de morangueiro, isentas ou com baixo teor de vírus. g) Cultivo protegido Certamente a produção de hortaliças em cultivo protegido, dentro de casas de vegetação ou de túneis cobertos com agrofilmes, é uma exploração diferenciada das demais, especialmente em razão da possibilidade de controle de alguns fatores agroclimáticos. Entretanto, considerando-se as vantagens de ordem agronômica e econômica, são poucas as espécies oleráceas que se adaptam ao cultivo protegido, sendo alface, tomate, pimentão, pepino, melão e berinjela aquelas mais comumentes produzidas. 1.4. RUMOS DA OLERICULTURA BRASILEIRA A evolução da olericultura acompanha o desenvolvimento geral de uma nação, sendo mais diretamente influenciada por ele que outras atividades agrícolas. Assim, é sensível às mudanças sociais, econômicas e culturais, decorrentes da elevação do 10 10 nível de prosperidade geral, da urbanização e da industrialização. O grande olericultor especializado surge como resposta ao desenvolvimento econômico, que acarreta incremento na demanda e maior exigência na qualidade dos produtos, quanto ao aspecto principalmente, mas também ao sabor e à riqueza em vitaminas e nutrientes minerais. Quanto mais evoluído um povo, maior e mais diversificado é o consumo de hortaliças, tanto ao natural como em forma industrializada, fato este claramente observado nos países desenvolvidos. O nível de consumo relaciona-se não só com a renda pessoal, que, por sua vez, depende do progresso geral de um país, como também com o grau de escolaridade e de cultura geral de sua população. Além disso, a evolução do trabalho braçal para um tipo de trabalho mais leve reduz a necessidade de alimentos energéticos e pode aumentar a demanda de hortaliças. Certamente, a evolução da agrotecnologia de produção, resultando no aumento da oferta e na redução do preço para o consumidor, também tende a elevar a demanda interna. A olericultura evoluiu mais acentuadamente no Brasil a partir do início da dec. de 1940, durante a II Guerra Mundial. Naquela época existiam somente pequenas explorações diversificadas, localizadas nos denominados “cinturões verdes”, nos arredores das cidades. A partir de então houve um deslocamento em direção ao meio rural, estabelecendo-se explorações especializadas em áreas maiores, com certas culturas. A interiorização certamente deveu-se ao fato de alguns olericultores buscarem melhores condições agroecológicas ou de ordem econômica, fazendo com que a olericultura brasileira evoluísse da pequena “horta” para uma exploração comercial com características bem definidas. A passagem da “horta” para a olericultura empresarial foi promovida pelos próprios produtores, sem contarem, de início, com o apoio das entidades oficiais de pesquisa e de assistência técnica – tradicionalmente voltadas para as “grandes culturas”. Aqui cabe o reconhecimento dos méritos da dinâmica comunidade nipo- brasileira e aos imigrantes europeus – responsáveis pela expansão e interiorização da olericultura como agronegócio. A ampliação e o aprimoramento da rede assistencial oficial aos produtores rurais, inclusive olericultores, ocorreram após o término da II Guerra Mundial. Desde o início, os extensionistas têm contribuído efetivamente para a evolução da olericultura brasileira. 11 11 Especialmente a partir da dec. de 1950, também instituições oficiais de pesquisa e ensino passaram a apoiar a olericultura, surgindo uma retaguarda técnico-científica composta por professores e pesquisadores, além de extensionistas. Esse movimento consolidou-se com a fundação da Sociedade de Olericultura do Brasil, em 1961. Essa entidade, muito dinâmica, congrega profissionais ligados aos variados aspectos da produção e da comercialização de hortaliças. O empenho do governo federal na implantação e no efetivo funcionamento das Centrais de Abastecimento (CEASA’s), ao longo da dec. de 1970, também foi decisivo. A racionalização na comercialização beneficiou, como era esperado, a produção. A dec. de 1980 foi considerada “a década perdida” – quanto ao desenvolvimento geral e econômico do País -, não porém, para a olericultura, especialmente graças às atividades da pesquisa oficial. Vale assinalar que a Embrapa Hortaliças foi criada em 1981, no Distrito Federal, e vem contribuindo, desde então, para o aprimoramento da olericultura em âmbito nacional. Na década de 1990 – a chamada “era da incerteza” – continuou a expansão da olericultura, inclusive com a definitiva implantação da cultura protegida, bem como o desenvolvimento da hidroponia e da fertirrigação. Neste início de século ocorre a introdução do gotejamento, bem como do plantio na palha, em certas culturas oleráceas. Atualmente, o agronegócio da olericultura é reconhecido como altamente relevante no cômputo da agricultura brasileira Explorando sua diversidade agroecológica, o País tem ampla possibilidade de exportar, em escala muito maior que a atual, produtos oleráceos, ao natural ou industrializados, especialmente para mercados europeus, em particular durante o inverno rigoroso desses países, bem como para a China e outros países asiáticos. O olericultor é um produtor rural capaz de responder, pronta e produtivamente, a estímulos econômicos e inovações agrotecnológicas, bem como a medidas governamentais dignas de aplauso, como a implantação das CEASA’s. É um agricultor bem sintonizado com a realidade do País, sensível às mudanças que ocorrem na agricultura ou fora dela. Dessa forma, durante o marasmo da década de 1980, foi iniciada a produção em casa de vegetação – uma vitoriosa iniciativa de olericultores inovadores e de empresários ligados à produção de agrofilmes. 12 12 2. O UNIVERSO DA OLERICULTURA Dezenas de culturas oleráceas são produzidas no Brasil, sendo a vastidão e a complexidade do universo da olericultura devido à multiplicidade e às peculiaridades de cada espécie cultivada como hortaliça. Assim, para um estudo sistematizado da olericultura como ciência aplicada, torna-se necessária uma metodologia capaz de evidenciar as similaridades e as dessemelhanças entre as diferentes plantas. Nesse sentido, algumas classificações têm procurado agrupar as hortaliças com base em suas característicascomuns. 2.1. CLASSIFICAÇÃO POPULAR E TÉCNICA A dona-de-casa brasileira típica não se impressiona com a grande complexidade do universo abrangido pelas culturas oleráceas. Para ela, as hortaliças podem ser reunidas em 3 grupos, simplesmente. Desse modo, nessa classificação popular, os “legumes” constituem as hortaliças que exigem preparação culinária mais elaborada, como cozimento, assamento ou fritura; as “verduras”, além de apresentarem a típica coloração verde, são consumidas ao natural; e os “temperos” são aquelas utilizadas para dar sabor especial aos pratos. Uma classificação técnica das hortaliças foi adaptada pelas Centrais de Abastecimento e vem sendo aplicada. De acordo com essa classificação, as hortaliças podem ser reunidas, segundo suas partes utilizáveis e comerciáveis, em 3 grupos: Hortaliças-fruto – utilizam-se os frutos ou partes deles, como as sementes: tomate, melancia, quiabo, morango, feijão-vagem, etc. Hortaliças herbáceas – aquelas cujas partes comerciáveis e utilizáveis localizam-se acima do solo, sendo tenras e suculentas: folhas (alface, repolho, taioba); talos e hastes (aspargo, aipo, funcho); flores ou inflorescências (couve-flor, brócolos, alcachofra). Hortaliças tuberosas – as partes utilizáveis desenvolvem-se dentro do solo, sendo ricas em carboidratos: raízes (cenoura, beterraba, batata-doce, rabanete e 13 13 mandioquinha-salsa); tubérculos (batata, cará); rizomas (inhame); bulbos (alho e cebola). Nas diversas CEASA’s, tem-se cometido o engano – do ponto de vista agronômico – de considerar melancia, melão e morango como “frutas” e não como hortaliças-fruto. Por implicações de ordem agronômica na condução das culturas (controle fitossanitário integrado, manejo de solo, aplicação de adubação), e também por razões mercadológicas, inclusive por diminuir o risco de insucesso econômico para o olericultor, é desejável que coexistam hortaliças-fruto, hortaliças herbáceas e hortaliças tuberosas numa mesma exploração. 2.2. CLASSIFICAÇÃO BOTÂNICA a) Características e vantagens dessa classificação A maior vantagem da classificação botânica é basear-se em características muito estáveis, enquanto a agrotecnologia pode variar ao longo do tempo e conforme as tradições regionais. As características botânicas definem melhor a localização de cada espécie olerácea, dentro da imensa comunidade vegetal, da qual depende a alimentação e a vida humana. A classificação botânica das espécies vegetais baseia-se no parentesco, nas similaridades e nas dessemelhanças entre elas, mormente no que se refere aos órgãos vegetativos e reprodutivos. No caso particular das plantas oleráceas, todavia, ainda não existe um consenso universal entre botânicos, havendo desacordo quanto ao nome correto de algumas famílias, gêneros e espécies. Uma compilação é apresentada na Tabela 1. 14 14 Tabela 1 – Relação taxonômica de 60 hortaliças cultivadas no Brasil, com seus nomes populares, científicos e família botânica Nome popular Nome científico (latim) Família Abóbora-rasteira Cucurbita moschata Cucurbitácea Abobrinha-italiana Cucurbita pepo Cucurbitácea Acelga-verdadeira Beta vulgaris var. cicla Quenopodiácea Agrião-aquático Rorippa nasturtium-aquaticum Brassicácea Aipo (salsão) Apium graveolens var. dulce Apiácea Alcachofra Cynara scolymus Asterácea Alface Lactuca sativa Asterácea Alho Allium sativum Aliácea Alho-porró Allium porrum Aliácea Almeirão Cichorium intybus Asterácea Aspargo Asparagus officinalis Liliácea Batata-doce Ipomoea batatas Convolvulácea Batata (batatinha) Solanum tuberosum ssp. Tuberosum Solanácea Berinjela Solanum melogena Solanácea Beterraba Beta vulgaris Quenopodiácea Cará Dioscorea alata Dioscoreácea Cebola Allium cepa Aliácea Cebolinha Allium schoenoprasum Aliácea Cenoura Daucus carota Apiácea Chicória Cichorium endivia Asterácea Chuchu Sechium edule Cucurbitácea Coentro Coriandrum sativum Apiácea Couve-brócolos Brassica oleracea var. itálica Brassicácea Couve-chinesa Brassica pekinensis Brassicácea Couve-de-bruxelas Brassica oleracea var. Gemmifera Brassicácea Couve-flor Brassica oleracea var. botrytis Brassicácea Couve-folha Brassica oleracea var. acephala Brassicácea Couve-rábano Brassica oleracea var. gongylodes Brassicácea Couve-tronchuda Brassica oleracea var. tronchuda Brassicácea Ervilha Pisum sativum Fabácea Espinafre Spinacea oleracea Quenopodiácea Espinafre neozelandês Tetragonia expansa Aizoácea Fava-italiana Vicia faba Fabácea Feijão-de-corda (caupi) Vigna unguiculata Fabácea Feijão-de-lima (fava) Phaseolus lunatus Fabácea Feijão-vagem (vagem) Phaseolus vulgaris Fabácea Funcho (erva-doce) Foeniculum vulgare var. dulce Apiácea Inhame Colocasia esculenta Arácea Jiló Solanum gilo Solanácea Mandioquinha(batata-baroa) Arracacia xanthorrhiza Apiácea Maxixe Cucumis anguria Cucurbitácea Melancia Citrullus lanatus Cucurbitácea Melão Cucumis melo Cucurbitácea Milho-doce Zea mays Poácea Milho-verde Zea mays Poácea Moranga Cucurbita máxima Cucurbitácea Morango (moranguinho) Fragaria x ananassa Rosácea Mostarda-de-folha Brassica juncea Brassicácea Nabo Brassica rapa var. rapa Brassicácea Pepino Cucumis sativus Cucurbitácea Pimenta Capsicum frutescens Solanácea Pimentão Capsicum annuum Solanácea Quiabo Abelmoschus esculentus Malvácea Rabanete Raphanus sativus Brassicácea Rábano “daikon” Raphanus sativus var. acenthiformis Brassicácea Repolho Brassica oleracea var. capitata Brassicácea 15 15 Continuação Nome popular Nome científico (latim) Família Rúcula Eruca sativa Brassicácea Salsa (salsinha) Petroselinum crispum Apiácea Taioba Xanthosoma sagittifolium Arácea Tomate Lycopersicon esculentum Solanácea b) Unidades taxonômicas Os botânicos agruparam as plantas, segundo suas similaridades, em: divisões, classes, ordens, famílias, gêneros, espécies, variedades botânicas, formas e indivíduos – do geral para o particular. Considerando os aspectos agronômicos das culturas, apenas 4 unidades taxonômicas podem interessar mais de perto: - família: reunião de gêneros semelhantes; - gênero: agrupamento de espécies afins; - espécie: unidade taxonômica englobando indivíduos muito similares; e - variedade botânica: população com características peculiares, dentro de certas espécies oleráceas. Desde os trabalhos pioneiros do naturalista sueco Lineu (1707-1778) adotou- se um sistema binário de nomenclatura botânica, em latim, universalmente aceito. Assim, utiliza-se o nome do gênero e o da espécie propriamente dita para designar uma determinada espécie botânica. Os nomes científicos das hortaliças facilitam o intercâmbio entre os estudiosos, evitando-se as dificuldades criadas pelos nomes populares nos diversos idiomas. As plantas oleráceas pertencem à divisão Espermatófita – plantas que produzem sementes, utilizáveis ou não na propagação. A subdivisão é Magnoliofitina – plantas com óvulos encerrados em um ovário (angiosperma), que originarão sementes. A grande maioria das plantas oleráceas é incluída na classe Magnoliata – vegetais cujas sementes apresentam dois cotilédones (dicotiledôneas) -; e a minoria, na classe Liliata – plantas com um só cotilédone (monocotiledôneas). Atualmente, essa última classe engloba as famílias: aliácea (alho), arácea (inhame), dioscoreácea (cará), liliácea (aspargo) e poácea (milho-doce). 16 16 A relação taxonômica das hortaliças mais cultivadas no Brasil, com os nomes científicos atualizados das espécies, inclusive das famílias botânicas, é apresentada na Tabela 1. c) Variedade Botânica e Cultivar A espécie tem sido considerada a unidade básica de trabalho dos botânicos, sendo a categoria na qual Lineu baseou seu genial sistema de nomenclatura. Entretanto, em casos particulares, as espécies são subdivididas em variedades botânicas (utilizando-se a abreviatura “var.”). Issose torna necessário quando certa população de plantas, dentro de determinada espécie, apresenta características notáveis, inclusive de importância agronômica e comercial. Um exemplo é a espécie Brassica oleracea, que abrange algumas variedades botânicas, que constituem hortaliças de importância mundial, como B. oleracea var. acephala (couve), B. oleracea var. capitata (repolho), B. oleracea var. Botrytis (couve-flor) e B. oleracea var. italica (couve-brócolos). O termo “variedade” – utilizado no sentido agronômico – tem sido substituído pelo termo técnico cultivar, universal, derivado das palavras inglesas “cultivated variety” (usa-se a abreviatura “cv.”). Trata-se de um grupo de plantas cultivadas semelhantes entre si, que se distingue de outros grupos por características de relevância agronômica e comercial. Tais características peculiares devem ser mantidas inalteráveis, nos ciclos de propagação da cultivar, ao longo dos anos. Um bom exemplo da adoção oficial desse termo técnico, no Brasil, é a Lei de Proteção de Cultivares, instituída em abril de 1997. As cultivares são obtidas por meio de técnicas de melhoramento genético, utilizadas por melhoristas de plantas. Uma cultivar, em se tratando de olericultura, pode ser constituída por plantas pertencentes a um dos quatro seguintes tipos de agrupamento: Clone: conjunto de plantas geneticamente idênticas e originárias de uma única planta-matriz propagada assexuadamente, ou seja, sem utilização de sementes botânicas. Exemplos: cultivares propagadas vegetativamente de alho, batata, couve- manteiga, morango e mandioquinha-salsa. 17 17 Linhagem: grupo de plantas, com aparência muito uniforme, propagadas por via sexual, cujas características são mantidas por seleção, tendo um padrão em vista. Originariamente, esse tipo de cultivar é obtido por autofecundação induzida. Exemplos: cultivares de algumas hortaliças propagadas por sementes. Cultivar não-híbrida: grupo de plantas que apresenta pequenas diferenças genéticas (genótipo distinto), porém mantendo características agronômicas comuns (fenótipo semelhante), pelas quais o grupo possa ser identificado. É o caso do pepino tipo Caipira, selecionado por olericultores a partir de populações heterogêneas tradicionalmente cultivadas nas propriedades rurais. Híbrido, ou cultivar híbrida: conjunto de plantas altamente uniforme, de modo geral obtido pelo cruzamento controlado entre duas linhagens compatíveis escolhidas, mantidas por autofecundação induzida. Atualmente há tendência para o lançamento de híbridos de 1a geração (sementes de 1a geração, após o cruzamento) em brássicas, particularmente em repolho, couve-flor e brócolos. Também se nota essa tendência no caso de tomate, pepino e pimentão. Na situação atual, observa-se que as cultivares de hortaliças estão em constante mudança, inclusive pela introdução de novos híbridos. Então, torna-se relevante o conceito de tipo ou grupo de cultivares, dentro de uma mesma cultura, englobando aquelas cultivares com características agronômicas e comerciais comuns. Há, portanto, maneiras variadas de se obter uma nova cultivar. Entretanto, historicamente, a técnica que originou maior número de cultivares de hortaliças ao longo do tempo tem sido a seleção de plantas, no campo, a partir de um conjunto desuniforme – a chamada “população”. Tal trabalho, no passado, foi efetuado por olericultores com notável capacidade de observação e espírito de pesquisador. Os fitomelhoristas profissionais, todavia, utilizam técnicas bem mais sofisticadas, como a autofecundação controlada de uma planta especialmente escolhida ou o cruzamento entre linhagens autofecundadas com características complementares. Também valem-se de modernas técnicas de laboratório, como o cultivo de embrião, a cultura de tecidos, a indução de mutações, a criação de plantas transgênicas – esse um assunto ainda polêmico -, dentre outras. O nome original de uma cultivar – preferencialmente no idioma de origem ou em forma aportuguesada – deve ser mantido e utilizado pelos olericultores e por 18 18 agentes de comercialização de hortaliças. As embalagens de sementes, mesmo quando importadas, devem conter o nome original, inclusive para evitar duplicidade e facilitar o intercâmbio entre pesquisadores. Um problema sentido é a multiplicidade de nomes regionais de uma mesma cultivar, fato corriqueiro no caso de culturas de propagação vegetativa, como alho, cará e batata-doce. Para bem caracterizar uma cultura olerácea, deve-se agregar ao nome da espécie o nome da variedade botânica, se houver, bem como o nome original da cultivar. Por exemplo, o nome completo e correto da couve-flor brasileira, pioneira no plantio de verão, é Brassica oleracea var. Botrytis cv. Piracicaba Precoce. Uma classificação taxonômica integra e sumariza tudo o que se sabe sobre as plantas oleráceas, incluindo aspectos morfológicos, genéticos, ecológicos ou fisiológicos. Tal conhecimento possibilita antecipar as exigências de determinada cultura, auxiliando na escolha e na utilização da agrotecnologia mais adequada. 19 19 3. OS FATORES AGROCLIMÁTICOS As condições ambientais interferem, decisivamente, no desenvolvimento das plantas e na produção das culturas oleráceas. A compreensão dos fatores envolvidos, especialmente aqueles de natureza agroclimática, é imprescindível para quem pretenda se dedicar ao estudo aprofundado ou mesmo à prática da olericultura comercial, em bases técnico-científica. AMBIENTE, GENÓTIPO E FENÓTIPO Existem alguns conceitos que devem ser bem compreendidos. Ambiente, ou “meio ambiente” – expressão redundante muito utilizada pela imprensa -, é o conjunto de fatores agroecológicos e agrotecnológicos, externos à planta, mas que muito influenciam o desenvolvimento e a produção. É o caso do clima e do solo, como também da adubação, irrigação, pulverização e outras práticas agrícolas – todos incluídos nesse conceito por demais abrangente denominado “ambiente”. O genótipo – a composição genética da planta – é outro conceito fundamental. O resultado perceptível, e de implicações práticas, da ação do genótipo interagindo com o ambiente constitui o fenótipo – algo que interessa mais de perto ao olericultor. O fenótipo é expresso nas características da planta cultivada, produtividade da cultura e qualidade do produto obtido, sendo, portanto, a expressão visível do genótipo. Dentro desse contexto, há duas vias para o possível aprimoramento da olericultura. A primeira via é a busca da melhoria da própria planta, procurando-se adequar o seu genótipo a um determinado ambiente. E isso se obtém por meio do melhoramento genético, resultando na obtenção de novas cultivares melhoradas, como é o caso de cultivares adaptadas a condições climáticas distintas daquelas para as quais a planta foi inicialmente selecionada. Bons exemplos são as cultivares de alface, brássicas e cenoura – ditas de “verão” -, já que, originalmente, todas as cultivares dessas espécies eram consideradas “de inverno” e apenas produziam bem se plantadas no outono-inverno. As novas cultivares foram criadas objetivando- se a adaptação às condições de clima cálido. A segunda via é a modificação e adequação do ambiente a um genótipo previamente escolhido, utilizando-se a moderna agrotecnologia. Em relação a clima, 20 20 serve de exemplo o plantio de pepino – uma planta intolerante ao frio – em pleno inverno, sob casa de vegetação, sendo beneficiada pelo efeito estufa. Outros exemplos são a utilização de adubação, irrigação e defensivos, que tornam o ambiente propício ao cultivo de certas hortaliças. Um caso notório é o da adubação de solos de baixa fertilidade natural, que passam a produzir hortaliças exigentes em nutrientes.3.2. INFLUÊNCIA DA TEMPERATURA As culturas oleráceas apresentam com freqüência ampla adaptação climática, provavelmente por serem cultivadas há muito tempo e nas mais diversas condições. As espécies de ciclo curto principalmente – que são a maioria – sempre encontram alguns meses com condições propícias, mesmo quando cultivadas em regiões de clima distinto daquele de onde tiveram sua origem. Então, ao olericultor cabe conhecer as exigências climáticas das plantas que pretende cultivar, bem como as peculiaridades climáticas de sua região ao longo do ano, procurando harmonizar ambas. Note-se que são os fatores climáticos que mais poderosamente influenciam algumas características relevantes de uma cultura, como duração do ciclo, precocidade na colheita, fitossanidade, produtividade, qualidade do produto e, inclusive, preço de mercado. Indubitavelmente, é a temperatura o fator climático que maior influência exerce sobre a olericultura, sendo, freqüentemente, também o principal fator limitante a essa atividade. A influência é verificada em todas as etapas do desenvolvimento da planta. Desse modo, cada espécie botânica cultivada como hortaliça, cada variedade botânica e cada cultivar comercial apresentam uma faixa termoclimática mais propícia em cada etapa de seu ciclo. Temperaturas abaixo do nível ótimo podem prolongar o ciclo, ou provocar o florescimento prematuro de certas hortaliças, prejudicando o desenvolvimento da parte comerciável; acima do nível ótimo, podem ocasionar perda em qualidade do produto. As variações termoclimáticas ao longo do dia, do mês e do ano afetam o desempenho profundamente ou mesmo determinam a época adequada para o plantio de certas espécies ou cultivares. O ideal seria que cada propriedade dispusesse de um posto agrometeorológico provido de equipamentos, que medissem e registrassem a variação térmica. 21 21 As médias das temperaturas máximas e mínimas mensais caracterizam bem, mês a mês, a variação térmica ao longo do ano. Os dados primários devem ser obtidos diariamente, ressaltando-se que as temperaturas máximas costumam ocorrer durante o dia e, as mínimas, à noite. No cultivo de algumas solanáceas, principalmente, a variação termoclimática entre o dia e a noite exerce influência preponderante no desenvolvimento da planta e na produção. Dentre os fatores que afetam o desempenho das sementes de hortaliças a temperatura tem sido o mais estudado. Sabe-se então que a germinação, a emergência e o desenvolvimento inicial das plântulas são diretamente condicionados pela temperatura do leito no qual se efetua a semeadura. As condições ótimas são aquelas que possibilitam acelerar a germinação, porém sem diminuição da percentagem de sementes germinadas. Assim, cada espécie olerácea apresenta suas exigências térmicas. Sem dúvida, a temperatura do solo está diretamente relacionada com a temperatura do ar, com a duração do período luminoso a que foi exposto tal solo e com algumas características inerentes ao próprio solo. Um exemplo prático é o efeito da coloração: solos escuros aquecem-se muito mais rapidamente que aqueles de coloração clara. 3.3. ADAPTAÇÃO TERMOCLIMÁTICA DAS CULTURAS É possível enquadrar as numerosas espécies botânicas cultivadas como hortaliças em 3 grandes grupos, inclusive considerando-se as particularidades das modernas cultivares. Para isso, levam-se em consideração as peculiares exigências termoclimáticas de cada cultura durante a maior parte do ciclo cultural. Com base nesse critério, tem-se a seguinte classificação: - Hortaliças de Clima Quente: aquelas tipicamente intolerantes ao frio, que prejudica ou mesmo inibe a produção, exigindo temperaturas elevadas, diurnas e noturnas; são todas intolerantes às geadas, porém algumas toleram temperaturas amenas. Exemplos: a maioria das cucurbitáceas, batata-doce e quiabo. 22 22 - Hortaliças de Clima Ameno: produzem melhor sob temperaturas amenas, que também são aquelas mais favoráveis ao bem estar humano; toleram temperaturas mais baixas, próximas e acima de 0 oC; e podem, inclusive, tolerar geadas leves. Exemplos: tomate, batata, alface e moranga híbrida. - Hortaliças de Clima Frio: exigem ou produzem melhor sob baixas temperaturas, tolerando aquelas situadas ligeiramente abaixo de 0 oC; suportam geadas mais pesadas. Exemplos: alho, alcachofra e os vários tipos de couve. Com base nesse critério, as culturas oleráceas são enquadradas em 3 grupos (Tabela 2). A classificação das hortaliças segundo a exigência termoclimática apresentada certamente é imperfeita e sujeita a alterações. Assim, os fitomelhoristas têm ampliado a faixa térmica favorável ao cultivo de certas espécies, pela criação de cultivares ditas “de verão” – apropriadas para cultivo sob temperatura mais elevada. Esse termo deve ser compreendido no sentido de que dentro de uma espécie típica de clima frio ou ameno foram criadas novas cultivares adaptadas a clima cálido. Bons exemplos ocorrem nas culturas de alface, cenoura e couve-flor, entre outros. 23 23 Tabela 2 – Classificação das culturas oleráceas pela exigência termoclimática Clima frio Clima ameno Clima quente Acelga verdadeira Abobrinha italiana Abóbora rasteira Aipo (salsão) Agrião d’agua Batata-doce Alcachofra Alface* Berinjela Alho Almeirão Cará Alho-porró Batata Chuchu Aspargo Cenoura* Coentro Beterraba Chicória Espinafre-neozelandês Cebola Moranga híbrida Feijão-de-corda (caupi) Cebolinha Rúcula Feijão-de-lima (fava) Couve-brócolos* Salsa Feijão-vagem Couve-chinesa* Tomate Inhame Couve-de-bruxelas Jiló Couve-flor* Maxixe Couve-folha Melancia Couve-rábano Melão Couve-tronchuda Milho-doce Ervilha Milho-verde Espinafre-verdadeiro Moranga Fava italiana Pepino Funcho Pimenta Mandioquinha-salsa Pimentão Morango Quiabo Mostarda-de-folha Taioba Nabo Rabanete Rábano “daikon” Repolho* Observação: (*) Espécies que apresentam cultivares ditas “de verão”, ou seja, adaptadas a temperaturas cálidas. 3.4. TERMOPERIODICIDADE ESTACIONAL As culturas oleráceas estão submetidas à variação estacional da temperatura, ao longo do seu ciclo, sendo essa variação indispensável para que ocorram processos biológicos importantes. O efeito da termoperiodicidade estacional torna-se mais bem evidenciado nas espécies oleráceas ditas bienais, como em brássicas (repolho, couve-flor, couve- brócolos), cebola, beterraba e rabanete. Tais plantas exigem frio para passarem da etapa vegetativa do seu ciclo para a reprodutiva, com a emissão do pendão floral, e posterior desenvolvimento das sementes. Não se entenda que são exigidos dois anos – como o nome sugere -, mas dois períodos de tempo separados por um intervalo com temperaturas favoravelmente baixas. A exigência de frio para o pendoamento certamente depende da espécie, da variedade botânica e da cultivar, havendo aquelas mais exigentes e outras, menos. Note-se que a passagem para a 24 24 etapa reprodutiva apenas interessa ao produtor de sementes, sendo desastrosa para o olericultor comum. As espécies ditas anuais independem de um intervalo de frio para que a planta passe da etapa vegetativa para a reprodutiva. Um exemplo típico é a alface, que exige fotoperíodo longo e temperatura elevada para ocorrer o florescimento e a formação de sementes. Finalmente, há as espécies perenes, de ciclo muito dilatado, que podem ocupar o terreno por um ou mais anos. Essas plantas enfrentam as condições termoclimáticas decorrentes da passagem das 4 estações. Um bom exemplo é o aspargueiro, que pode permanecer produtivo durante uma década, no campo. Outro exemplo, de perenidade menos evidente, é o do tomateiro, que se comporta como uma cultura anual, pelo fato de ser afetado por agentes etiológicos de natureza variada, fungos, bactériase vírus, além de insetos-praga, que abreviam o ciclo da cultura. 3.5. TERMOPERIODICIDADE DIÁRIA A temperatura oscila ao longo de um dia de 24 horas, sendo as noites mais frias, geralmente. Em algumas espécies oleráceas, as plantas se desenvolvem e produzem melhor quando a temperatura noturna é inferior à diurna – uma diferença de 5-10 oC. Quando mantidas sob temperatura constante, noite e dia, essas plantas são prejudicadas. O efeito decisivo da termoperiodicidade diária tem sido mais bem estudado em tomaticultura, em pesquisas conduzidas na Europa e nos Estados Unidos, as quais demonstram que a temperatura noturna exerce maior efeito no desenvolvimento da planta e na produção. Em altas temperaturas noturnas, o crescimento vegetativo é acelerado, porém são prejudicadas ou até inibidas a floração e a frutificação. Tem sido demonstrado que temperaturas noturnas de 13 a 18 oC e diurnas de 20 a 25 oC são aquelas mais favoráveis à produção. Como comprovação prática da exigência termoperiódica do tomateiro, é conhecido o caso de antigos produtores holandeses, por demais cuidadosos, que se levantavam em meio à noite invernal para aquecerem suas estufas. Entretanto, verificavam que seus tomateiros apresentavam menor desenvolvimento e produção, em relação às plantas de vizinhos, mais comodistas, que deixavam cair a 25 25 temperatura noturna. Assim agindo, eles propiciavam a termoperiodicidade diária adequada à cultura. A exigência de termoperiodicidade também pode explicar a inadequação da tomaticultura a regiões que apresentam temperaturas diurnas e noturnas igualmente elevadas, como ocorre na Amazônia. Outros estudos demonstram que as temperaturas diurnas de 20 a 25 oC e noturnas de 10 a 16 oC são as mais favoráveis à bataticultura, nas condições européias e norte-americanas. Isso explica o mau desempenho dessa cultura em localidades brasileiras de baixa altitude, apresentando temperaturas constantemente elevadas, de dia e de noite. Inversamente, tem sido demonstrado o sucesso da cultura em altitudes acima de 800 m, sob temperaturas diurnas amenas e noturnas favoravelmente menores, como ocorre em planaltos e regiões serranas do centro- sul. Outras culturas, menos estudadas, também apresentam exigência de termoperiodicidade diária, devendo a temperatura noturna ser sempre mais baixa que a diurna, a exemplo do pimentão, da beterraba, da ervilha e do morango. 3.6. INFLUÊNCIA DA LUZ: INTENSIDADE A luz solar é um fator climático relevante para o desenvolvimento vegetal, pois promove o processo da fotossíntese – sem o qual a vida humana e animal seria impossível sobre o planeta. Quando se estuda a influência da luz na olericultura há de se considerar a intensidade luminosa e a variação fotoperiódica, separadamente. Experimentalmente se comprova que a um aumento na intensidade luminosa corresponde uma elevação na atividade fotossintética, dentro de certos limites, resultando em maior produção de matéria seca nas plantas. Contrariamente, a deficiência luminosa provoca maior alongamento celular, resultando em estiolamento, isto é, aumento na altura e extensão da parte aérea, porém sem correspondente elevação do teor de matéria seca. Dessa forma, em localidades em que prevalece alta intensidade luminosa é estimulada a produtividade, nas culturas oleráceas. Sob baixa luminosidade, ao contrário, há formação de mudas estioladas e de plantas adultas frágeis, de menor produtividade. A baixa intensidade luminosa tem sido fator limitante à olericultura no norte da Europa. Já em países tropicais, como o Brasil, a alta luminosidade favorece a 26 26 produtividade. Vale enfatizar serem as hortaliças plantas altamente exigentes, ao contrário do que ocorre com plantas ornamentais de interior, que requerem baixa luminosidade. 3.7. INFLUÊNCIA DA LUZ: FOTOPERÍODO A duração do período luminoso – o chamado fotoperíodo -, dentro de um dia de 24 horas, influencia numerosos processos fisiológicos nas plantas. É o caso do crescimento vegetativo, da floração e frutificação, da produção de sementes e da obtenção de produtos para a alimentação humana. O número de horas diárias de luz solar varia conforme a latitude da localidade e a estação do ano. Belém do Pará – cidade situada pouco abaixo da linha do Equador terrestre (latitude de 0o C) -, por exemplo, apresenta 12 horas diárias de luz, portanto a duração do dia é igual à da noite ao longo das 4 estações. À medida que se afasta do equador em direção ao extremo sul, constata-se que os dias vão se tornando, progressivamente, maiores durante o verão e menores no inverno. Essa variação no período luminoso denomina-se “fotoperiodismo”, ao qual algumas hortaliças, especialmente aliáceas, são muito sensíveis. Em cebola e alho, somente ocorre a formação de bulbos quando os dias apresentam duração acima de um número mínimo de horas de luz – fotoperíodo crítico, característico de cada cultivar. De acordo com a exigência fotoperiódica, há cultivares precoces e tardias, conforme necessidade de dias menores e maiores, respectivamente, para a bulbificação. Essa é a principal razão pela qual certas cultivares sulinas de cebola e de alho não produzem bulbos se plantadas durante o outono – época normal de plantio de tais culturas – no centro-sul. Sendo cultivares tardias, a exigência fotoperiódica não é satisfeita, motivo pelo qual as plantas se mantêm vegetativas. A formação de flores também depende do fotoperíodo, estritamente, em certas espécies. Por isso, cultivares européias e norte-americanas de alface pendoam, precocemente, quando cultivadas nos dias longos do verão brasileiro. Contrariamente, as cucurbitáceas produzem maior número de flores femininas, com conseqüente aumento na produtividade, nos dias curtos do inverno. Já o morangueiro somente floresce e frutifica em dias curtos, tornando-se vegetativo durante os dias longos do verão. 27 27 Do ponto de vista prático, o fotoperíodo torna-se fator limitante somente na produção de poucas espécies oleráceas, destacando-se o caso peculiar da cebola e do alho. Em outras espécies, o fotoperiodismo afeta menos o desenvolvimento da planta, bem como a produção. 3.8. IMPORTÂNCIA DA UMIDADE A água é imprescindível à vida vegetal e constitui mais de 90% do peso da parte utilizável da maioria das hortaliças, sendo fácil, portanto, aquilatar sua importância na olericultura. O teor de umidade no solo condiciona a absorção de água e dos nutrientes minerais, essenciais ao desenvolvimento das plantas; a umidade do ar influencia a transpiração (perda de água pelas folhas) e outros processos que afetam a cultura. Dentre os fatores climáticos, o teor de umidade no solo é aquele que pode mais facilmente ser controlado pelo olericultor, por meio da irrigação. Contrariamente, o controle da umidade do ar é bem mais difícil, a não ser pela escolha criteriosa da época de plantio, considerando-se que o ar é mais seco no outono-inverno. Note-se que um elevado teor de umidade no ar afeta o estado fitossanitário da cultura, especialmente no que concerne ao ataque de fungos e bactérias fitopatogênicos. Contrariamente, baixo teor favorece a manifestação de ácaros e alguns insetos. O regime pluviométrico da localidade afeta, substancialmente, a produção das culturas em geral. Entretanto, no caso particular da produção de espécies altamente exigentes de água, como o são a maioria das hortaliças, o fornecimento desta não se pode basear apenas nas chuvas. Por isso, a prática da irrigação racional é indispensável, devendo estar sempre presente nas cogitações do olericultor. Durante o período chuvoso, todavia, é possível a cultura não irrigada de certas espécies – menos exigentes ou dispondo de raízes mais profundas -,por exemplo aboboreira, chuchuzeiro, aspargueiro, quiabeiro, dentre outras. Além do efeito benéfico de elevar o teor de água disponível no solo, as chuvas também acarretam alguns efeitos negativos às culturas, elevando a umidade do ar e removendo a camada protetora, obtida pela pulverização com fungicidas, o que favorece o ataque de certos fitopatógenos. Esses problemas fitossanitários são menos freqüentes durante o inverno, certamente devido à baixa umidade relativa do 28 28 ar; durante o verão chuvoso podem tornar-se fator limitante, no caso de culturas suscetíveis. 3.9. AGROTECNOLOGIA NO CONTROLE CLIMÁTICO O olericultor dispõe, atualmente, de alguns artifícios que possibilitam certo controle sobre as condições climáticas, na condução de uma cultura de hortaliças. Quando se pretende diminuir a temperatura do solo ou do leito de semeadura na formação de mudas, podem-se aplicar alguns tipos de cobertura palhosa, como: capim seco, palha da haste do arroz, palha de trigo, maravalha de madeira, bagacilho de cana, casca de arroz etc. O material deve ser abundante na região ou na propriedade e de baixo custo, devendo sua aplicação ser manual ou, se possível, mecânica. O principal efeito almejado é baixar a temperatura do solo e mantê-la favoravelmente estável, alguns graus abaixo da temperatura normal do solo descoberto, mesmo nas horas de maior insolação. Temperaturas amenas no solo favorecem muito o desenvolvimento das plantas e a produção de algumas espécies oleráceas, como alho e morango, nas quais é comum o uso dessa prática cultural. A cobertura palhosa oferece ainda outros benefícios para as culturas oleráceas. Um deles é manter adequado teor de umidade no solo por mais tempo, após a irrigação ou uma chuva, permitindo dilatar o turno de rega, em relação ao solo descoberto. Assim, constata-se real economia de água e energia, reduzindo-se o custo de produção. Outra vantagem desse tipo de cobertura é o controle das plantas invasoras. A incidência de ervas daninhas é reduzida, dependendo da espécie, podendo-se efetuar o controle integrado com a utilização de herbicidas, pulverizados sobre o leito em pré-emergência antes de se aplicar a cobertura. Essas práticas são muito utilizadas em alho, por exemplo. No caso de sementeiras, ou mesmo na semeadura direta, também há benefícios na aplicação da cobertura palhosa, desde que não prejudique a emergência das plântulas. Dessa forma, pode-se cobrir com casca de arroz uma sementeira para produção de mudas de cebola ou um canteiro para semeadura direta de cenoura, não sendo necessária a remoção do mateiral. No entanto, quando se aplica palha de cereais ou capim, remove-se o material tão logo se constate o início da emergência das plântulas. 29 29 A irrigação constitui um tipo muito utilizado de controle climático, já que complemente ou substitui as chuvas, elevando o teor de água útil no solo, além de influenciar o microclima formado ao redor da planta irrigada. Um controle mais efetivo do clima é obtido certamente, pela chamada “plasticultura” ou “cultivo protegido” – moderna agrotecnologia baseada na aplicação de agrofilmes. 30 30 4. SOLO, NUTRIÇÃO E ADUBAÇÃO As culturas oleráceas são altamente exigentes em nutrientes, razão pela qual os produtores às vezes, erram ao adubarem em excesso; outras vezes, a adubação é desequilibrada e, freqüentemente, sem orientação agronômica. 4.1. SOLO E FORNECIMENTO DE NUTRIENTES O solo é o substrato natural para a produção agrícola, servindo como meio para o desenvolvimento das raízes. Em que pese sua relevância, entretanto, o solo pode ser profundamente modificado ou até mesmo dispensado, em olericultura, como ocorre no cultivo hidropônico. Todavia, o que acontece freqüentemente não é a substituição, mas a modificação do solo promovida pelo olericultor. Observa-se que as propriedades físicas de um solo são mais relevantes que o teor de nutrientes, já que este pode ser profundamente modificado. O solo agrícola é uma importante fonte de nutrientes minerais para as raízes. No entanto, no caso particular da olericultura, freqüentemente o solo se comporta como fonte insuficiente de nutrientes, dada a elevada exigência das culturas. Essa limitação da fertilidade natural é bem conhecida, podendo ser corrigida pela agrotecnologia. Evidentemente, devem-se minimizar possíveis danos ecológicos, como a contaminação da água subterrânea por nitratos ou de lagoas por fosfatos. As culturas precisam encontrar no solo, sob forma e quantidade adequadas, 14 nutrientes reconhecidos como essenciais aos vegetais. A ausência de qualquer um deles na solução do solo torna-se fator limitante ao desenvolvimento e à produção das plantas. São eles: Principais Macronutrientes Secundários Micronutrientes: boro (B), zinco (Zn), molibdênio (Mo), cobre (Cu), manganês (Mn), ferro (Fe), cloro (Cl) e níquel (Ni). 31 31 Nitrogênio (N) Fósforo (P) Potássio (K) Cálcio (Ca) Magnésio (Mg) Enxofre (S) Há ainda mais 3 nutrientes – silício (Si), sódio (Na) e cobalto (Co) – que não são reconhecidos como essenciais para todas as plantas, mas que beneficiam algumas. Os 14 nutrientes inicialmente citados são reconhecidos como essenciais ou imprescindíveis às plantas superiores – as hortaliças, por exemplo. Os macronutrientes são extraídos em quantidades mais substanciais pelo sistema radicular (kg/ha), em relação aos micronutrientes (g/ha). Não obstante, a falta de alguns gramas de um micronutriente pode resultar no insucesso de uma cultura, como se observa no campo. Quanto à distinção entre “principais” e “secundários”, trata-se de questão puramente legislativa concernente à comercialização de fertilizantes, sem qualquer relevância agronômica. 4.2. EXTRAÇÃO E EXPORTAÇÃO DE NUTRIENTES As espécies oleráceas extraem do solo e exportam, em suas partes comerciáveis, maiores quantidades de nutrientes, por hectare, em relação a outras culturas. Isso ocorre em razão de suas exigências peculiares e, principalmente, da sua maior capacidade de produção. A fertilidade natural dos solos não satisfaz, freqüentemente, as elevadas exigências nutricionais das culturas oleráceas – algo que tem sido demonstrado por pesquisadores e comprovado, na prática, por olericultores. Entretanto, há toda uma agrotecnologia técnico-científica utilizada para melhorar um solo. Em certas situações, o solo é naturalmente rico em alguns nutrientes, como K e N, sendo capaz de suprir parcela substancial da exigência das culturas. Contrariamente, é incomum um solo brasileiro apresentando teor tão elevado de P – em forma utilizável pela planta – que possa dispensar a adubação fosfatada. 4.3. A APLICAÇÃO DE NUTRIENTES As culturas oleráceas são mais produtivas e exigentes, razão pela qual extraem e exportam do solo maior quantidade de nutrientes, em relação às culturas de grãos, por exemplo, exigindo adubações mais fartas. A olericultura também é a atividade agrícola que oferece respostas mais substanciais à adubação, sob o duplo aspecto: agronômico e econômico. Adequadamente conduzida, a adubação resulta 32 32 em maior produção, obtida por unidade de tempo e de área, além de produtos com maior valor nutricional, aspecto mais atrativo, melhor sabor e aroma, bem como valor de venda maior. Certamente contribui para isso o elevado potencial genético das atuais cultivares melhoradas, inclusive mais exigentes em nutrientes, e toda a moderna agrotecnologia. A irrigação, por exemplo, favorece a utilização dos nutrientes pelas raízes; e o controle fitossanitário mantém a superfície fotossintetizante ativa por mais tempo, contribuindo para elevar a produção. Numa sucessãode culturas sobre uma gleba, é fundamental considerar o ponderável efeito residual das adubações anteriormente aplicadas, já que é impraticável fornecer os nutrientes na medida exata para atender, tão somente, à demanda da cultura visada. Assim, o efeito residual contribui para reduzir o custo da adubação da nova cultura. Por exemplo, o milho-doce pode suceder uma cultura rasteira de tomate, exigindo pouca ou nenhuma adubação. Normalmente, o efeito residual é benéfico, inclusive contribuindo para melhorar a fertilidade do solo. Entretanto, também pode ser prejudicial, no caso de adubações excessivas. Isso pode ser exemplificado com a aplicação de fontes de boro, sendo a cultura sucedida por outras, sensíveis a níveis elevados de B. Vale ressaltar que a análise do solo de cada gleba de uma propriedade – efetuada anualmente e complementada por análise foliar das culturas – pode evitar essas situações. A adubação é fator que onera o custo de produção de uma cultura, porém não exageradamente. Todavia, como a maximização do lucro líquido por hectare geralmente coincide com a maximização da produtividade e da qualidade do produto obtido, para o olericultor empresário é compensador investir em adubação. Aliás, tem sido constatado por economistas rurais que, no caso particular da olericultura, o ótimo em termos agronômicos coincide com o ótimo em termos econômicos, normalmente. Sem dúvida, essa é uma prática que proporciona respostas favoráveis, razão pela qual um elevado investimento em adubação costuma ser vantajoso, em termos agronômicos e econômicos. Em muitas situações, constata-se que o olericultor aplica excesso de certos nutrientes, ou utiliza adubação desequilibrada, o que, inclusive, pode ocasionar problemas ambientais, como a contaminação da água subterrânea por nitratos. Também se deve considerar que há um limite genético para a planta responder à aplicação de nutrientes – mesmo nas atuais cultivares híbridas de alta produção. Ao que parece, tal limite vem sendo ultrapassado em certas culturas, como batata, 33 33 tomate e morango, com conseqüências agronômicas, econômicas e ambientais negativas. 4.4. A FILOSOFIA DE “CONSTRUIR O SOLO” Salvo raras exceções, o olericultor brasileiro preocupa-se em adubar a próxima cultura a ser implantada – um imediatismo até justificável, dentro do contexto socioeconômico em que ele vive e labuta. É até compreensível que um arrendatário não cogite em elevar o nível de fertilidade da gleba por ele trabalhada, mas sim de satisfazer as exigências da cultura. Entretanto, essa atitude é irracional e injustificável no caso de um proprietário que pretenda manter uma agricultura sustentável e produtiva, ao longo do tempo. A filosofia de se preocupar, apenas, em adubar cada cultura é inadequada. Entretanto, a preocupação exclusiva em melhorar o solo pode conduzir o olericultor a desastres financeiros. Por conseguinte, é mister implantar a filosofia de “construir” o solo, a médio prazo, paralelamente à adubação das culturas – imediatismo necessário à sobrevivência do produtor, especialmente daqueles que dispõem de área limitada. A “construção” do solo tem sido defendida por estudiosos da agricultura, em solos tropicais de baixa fertilidade. Entretanto, é necessário conciliar aquilo que é agronomicamente desejável com o economicamente viável ou financeiramente possível. a) Calagem A calagem é uma das primeiras práticas ao se cogitar em iniciar um programa de “construção” ou aprimoramento de um solo agrícola. A quantidade de calcário a aplicar pode ser calculada pelo método de saturação por bases – muito utilizado no Estado de São Paulo. Nesse método, objetiva-se elevar a atual percentagem de saturação por bases fornecida pela análise (V%) para o nível desejável, de 60 a 80%, dependendo da cultura. Também se procura elevar os teores de Ca e de Mg trocáveis, aplicando um corretivo rico em ambos os nutrientes, ou apenas em Ca, conforme a situação. A aplicação de calcário deve ser efetuada a lanço sobre o solo, com antecedência mínima de 60 a 90 dias do plantio, devendo a gleba ser molhada 34 34 nesse período pela chuva ou pela irrigação. Observe-se que a cal agrícola é um corretivo de mais rápida solubilização, que pode ser aplicado com antecedência menor, de até 30 dias. A faixa de acidez do solo a ser atingida deve ser de pH 6,0 a 6,5 – a mais favorável para a maioria das culturas, inclusive por possibilitar a absorção da maioria dos nutrientes. b) Adubação corretiva A adubação corretiva tem por objetivo elevar a disponibilidade de certos nutrientes, como o P e o K, num solo de baixa fertilidade natural, ou empobrecido por anos de manejo inadequado. Visa, também, reduzir as perdas no solo de nutrientes aplicados em formas prontamente solúveis. Proporciona melhor disponibilidade de certos nutrientes ao sistema radicular, o que ocorre num maior volume de solo a ser explorado pelas raízes. Evita-se, assim, que as raízes se concentrem em pequeno volume de solo – como ocorre quando a adubação é localizada em covas. c) Adubação verde A incorporação de restos culturais ao solo é um meio eficiente e econômico que o agricultor dispõe para elevar o teor de matéria orgânica, além do enriquecimento em nutrientes. A chamada “adubação verde” é um caso particular da incorporação de plantas herbáceas ao solo, favorecendo as condições físicas, químicas e biológicas. Consiste em incorporar a massa vegetal produzida no próprio terreno, utilizando-se, para isso, plantas da família das fabáceas (antigamente, leguminosas), especialmente cultivadas para essa finalidade. Destacam-se, dentre elas, as crotalárias e as mucunas, pela produção de massa verde e riqueza em N. Quando em floração, com as plantas ainda tenras e facilmente decomponíveis, promove-se a incorporação pela aração ou gradagem. Os benefícios dessa prática agrícola ancestral são numerosos e notáveis. O mais relevante é a fixação do N atmosférico pelas raízes, em simbiose com certas bactérias fixadoras. Além deste, podem ser citados: a descompactação do solo, provocada pela passagem de máquinas; a melhoria na utilização dos nutrientes pelas culturas; o aumento na capacidade de armazenamento de água; a redução na 35 35 população de nematóides daninhos; a redução na infestação de plantas invasoras; e certa proteção do solo contra a erosão provocada pelas chuvas. A única desvantagem é deixar a gleba ocupada, durante alguns meses, com uma cultura que não produzirá renda imediata. Talvez isso não explique a falta de tradição no uso dessa utilíssima prática agrícola, mas sim o total desconhecimento por parte dos olericultores. Certamente, essa prática pode ser economicamente desvantajosa para um arrendatário, mas não para um proprietário rural. 4.5. ADUBAÇÃO MINERAL NO PLANTIO O plantio é ocasião propícia para o fornecimento de nutrientes às plantas via sistema radicular. O N constitui exceção, podendo ou não integrar a adubação de plantio, já que a maior parcela da dose programada deverá ser aplicada pós-plantio. A aplicação de K também pode ser parcelada, se bem que, em muitas situações, a dosagem total possa ser aplicada por ocasião do plantio. Não é tarefa fácil conciliar os aspectos agronômicos e econômicos e a praticidade na aplicação da adubação mineral. Assim, usualmente, aplicam-se formulações NPK, obtidas a partir da mistura de adubos simples, utilizados como fontes de nutrientes. Os 3 números, visíveis nas embalagens, referem-se às percentagens de N, P2O5 e K2O. Observe-se que esses dois óxidos são uma forma arcaica (porém universal) de expressar os teores de P e K disponíveis.Em olericultura, constata-se que os corretivos de acidez não constituem fontes totalmente confiáveis de Ca e Mg. Há outro engano generalizado: S não é veiculado pelas chuvas em quantidades adequadas às necessidades de certas culturas, a não ser em regiões industrializadas, em razão dos compostos sulfurosos emitidos pelas chaminés – nocivos aos moradores e à natureza. No campo, constata-se que é notória a deficiência de Ca e Mg, mais raramente em S, dependendo da cultura e do solo. Conclui-se que a formulação NPK deva fornecer também os macronutrientes ditos “secundários”. Obviamente, os resultados das análises do solo e foliar devem ser considerados. Uma formulação NPK adequada ao plantio de hortaliças deve ser substancialmente mais rica em fósforo – expresso em percentagem de P2O5 -, em relação aos demais nutrientes. O P deve apresentar-se em forma utilizável pelas raízes. Na maioria das situações, o fornecimento de P não deve ser parcelado, 36 36 como se faz com N e K. Além disso, o fornecimento de P e Ca por ocasião do plantio favorece a formação de amplo e ativo sistema radicular. Também tem sido demonstrado que a localização de P-solúvel diretamente abaixo das raízes, ou muito próximo, é mais eficiente. Desse modo, a formulação deve apresentar baixa percentagem de N, elevada de P2O5 e média de K2O. 4.6. ADUBAÇÕES EM COBERTURA Por ocasião do plantio deve-se, na maioria das situações, aplicar a dosagem total necessária de P, porém apenas uma parcela mínima da dosagem total de N, e a metade, ou menos, da dosagem total de K. Aplicar as doses adequadas de N é uma arte, que depende da experiência pessoal com a cultura e o solo trabalhado. Em alguns casos, a dose total de K também deve ser parcelada, para aumentar a eficiência de sua utilização pela planta. A condição para que um nutriente possa ser utilizado pelas raízes, quando aplicado em cobertura, é que possua boa mobilidade vertical no solo. Nesse aspecto, destaca-se N, seguido por K, enquanto P apresenta pequena mobilidade vertical. Por conseguinte, a aplicação de P em cobertura é ineficiente e antieconômica, na maioria das situações. Uma exceção é o caso do tomateiro tutorado, que responde bem à aplicação de P na primeira cobertura, desde que haja incorporação pela amontoa. Em outras situações, ao se aplicar P em cobertura, parte substancial é fixada pelo solo e o restante não se move com velocidade suficiente para atingir as raízes ativas na absorção. Inversamente, por sua elevada mobilidade, a maior parcela da dose total planejada de N deve ser aplicada em cobertura. Assim, o N estará disponível para as raízes, no tempo e no local mais favoráveis. Pela mesma razão, a adubação de plantio deve ser pobre em N, evitando-se perdas por lixiviação, para fora do alcance das raízes, e prevenindo danos às plantas jovens. Atualmente, considera-se que também o K, em algumas culturas, deve ter aplicação parcelada, mormente em solos arenosos. Adubações em cobertura são, portanto, indispensáveis, geralmente. 37 37 4.7. ADUBAÇÃO VIA FOLIAR Em olericultura, a adubação foliar justifica-se e é recomendada quando vista como uma complementação às aplicações efetuadas no solo e, ainda, quando se pretende uma resposta rápida da cultura, em caso de carência de nutrientes, declarada ou iminente. a) Macronutrientes Os olericultores vêm utilizando a adubação foliar. Trata-se de complementar a adubação via solo, fornecendo pequena parcela da quantidade necessária dos macronutrientes, ou mesmo parcela substancial, no caso dos micronutrientes. Experimentalmente, tem sido demonstrada a capacidade de as culturas utilizarem nutrientes aplicados em pulverização. A eficiência varia conforme o nutriente, a espécie botânica e as condições agroecológicas. Há situações em que a adubação foliar é o único meio de corrigir sintomas de deficiência mineral, com a presteza necessária para que a planta retome o desenvolvimento e produza normalmente. A absorção de nutrientes via foliar é mais rápida que pela via normal, radicular, porém esta última absorve quantidades mais elevadas. Em compensação, aplicados sobre as folhas, os nutrientes sofrem perdas substancialmente menores. Servem de exemplos a lixiviação do N e a fixação do P, quando aplicados ao solo. Todavia, as aplicações foliares não podem substituir, no caso dos macronutrientes, mas apenas complementar a adubação foliar. b) Micronutrientes No caso dos micronutrientes, a aplicação foliar pode suprir, total ou substancialmente, as exigências das culturas, e ter custo muito inferior ao da aplicação via solo. Além disso, evita as perdas elevadas, comuns nas aplicações ao solo, já que a eficiente utilização pelas raízes depende do grau de acidez e de outros fatores edáficos. 38 38 4.8. FERTIRRIGAÇÃO – ADUBAÇÃO NA ÁGUA Uma alternativa para a adubação em cobertura é a fertirrigação – dissolução de certos fertilizantes na água de irrigação -, sendo a aplicação efetuada por aspersão ou gotejamento. Entre os fertilizantes solúveis mais utilizados estão: uréia, nitrato de amônio, nitrato de cálcio, nitrato de magnésio, fosfato de amônio e sulfato de potássio. Também estão disponíveis formulações específicas, de alta solubilidade, contendo a maioria dos macronutrientes. Todos os nutrientes podem ser aplicados, embora seja mais comum a aplicação de N e de K em substituição às adubações em cobertura. Com a generalização do uso da irrigação por pivô central e a introdução da rega por gotejamento, a fertirrigação vem ganhando adeptos. Em termos experimentais, pouco se sabe sobre essa agrotecnologia nas condições brasileiras. Há questões que devem ser consideradas e pesquisadas, como nutrientes a aplicar, suas melhores fontes, dosagens adequadas e intervalos entre as aplicações. Indubitavelmente a fertirrigação, em comparação com os demais métodos de aplicação de fertilizantes, permite grande economia em adubos; alta precisão na dosagem e na aplicação; economia de mão-de-obra; maior eficiência da adubação; e perdas mínimas por percolação, lixiviação, escorrimento e fixação. 4.9. HIDROPONIA – CULTIVO NA ÁGUA A hidroponia – denominado “cultivo sem solo” – vem sendo praticada desde a dec. de 1930, nos Estados Unidos e em outros países; no Brasil, somente a partir de fins da dec. de 1980. O solo é substituído por outro meio sólido (cascalho, areia, vermiculita, plástico, lã de rocha) e é banhado por solução contendo todos os nutrientes necessários; ou as raízes desenvolvem-se imersas, sem qualquer substrato sólido. Normalmente, aplica-se essa agrotecnologia juntamente com o cultivo em estufa. Essa técnica apresenta várias vantagens em relação ao cultivo no solo: exige menos trabalho humano; elimina várias operações agrícolas tradicionais; as plantas não competem por nutrientes ou água; a produtividade pode triplicar, no mínimo; a utilização da água e dos nutrientes é maximizada; há maior precocidade na colheita; a incidência de problemas fitossanitários é menor; há menor exigência de aplicação 39 39 de defensivos; geralmente a qualidade dos produtos é melhor; e o produto se apresenta limpo. Entretanto, também há desvantagens, como custo inicial elevado da estrutura e dos equipamentos; risco de perda total, por falta de energia elétrica; exigência de conhecimentos sobre química e nutrição de plantas; e danos severos às plantas ocasionados pelo balanço iônico e pela condutividade elétrica da solução inadequados. A viabilidade econômica da hidroponia depende de vários fatores, sendo essencial a proximidade de um centro consumidor. Essa técnica permite, inclusive, que se desenvolva a olericultura em situações em que a utilização do solo é inviável: em desertos,