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Direito Administrativo Aplicado Aula 8: Responsabilidade civil do Estado Apresentação Identi�caremos as características e peculiaridades da responsabilidade civil do Estado, partindo dos conceitos de Responsabilidade. Conheceremos as teses da culpa administrativa, risco administrativo e integral, bem como causas excludentes, indenização e ação regressiva. Objetivo Identi�car as características e peculiaridades da responsabilidade civil do Estado; Examinar as teses (culpa administrativa, risco administrativo e integral); Analisar as causas excludentes, indenização e ação regressiva. Da responsabilidade civil do Estado Responsabilidade civil é a obrigação de reformar o dano que uma pessoa causa a outra, e que tenha levado à diminuição do bem jurídico da vítima. Só pode existir a obrigação de ressarcimento quando houver dano, que pode ser de ordem material ou imaterial. Em direito, a teoria da responsabilidade civil procura motivar em que condições uma pessoa pode ser avaliada como responsável pelo dano sofrido por outra, e em que medida está obrigada a repará-lo. O termo Responsabilidade civil do Estado se apresenta em todo caso em que há necessidade do Estado de apurar danos causados a terceiros por meio de sua engrenagem burocrática. As complexidades do aparato público, assim como sua magnitude, acabam provocando problemas de omissão, abuso no exercício de função e outras falhas que acabam atingindo um terceiro. Ou seja, a responsabilidade civil consiste na obrigação de reparar economicamente danos causados a terceiros, sejam no âmbito patrimonial ou moral. Em razão de um dano patrimonial ou moral, é possível o Estado ser responsabilizado e, consequentemente, deverá pagar uma indenização capaz de compensar os prejuízos causados. Temos dois regimes jurídicos da responsabilidade civil no sistema do Código Civil: Responsabilidade subjetiva e objetiva. Fonte: O autor. Base legal da Responsabilidade Civil do Estado O Estado tem obrigações com seus administrados e suas ações podem in�uenciar positiva ou negativamente na vida destes. Comentário É de suma importância que haja controle de suas ações para que não prejudique terceiros por atos omissivos ou comissivos de seus agentes. A responsabilidade civil do Estado é objetiva, independe da comprovação de dolo ou culpa. Quando o Estado infringir esse dever objetivo, não é necessário investigar a existência de uma vontade no sentido da ação ou omissão causadora do dano, segundo o § 6º do artigo 37 da Constituição: "Art. 37 .... § 6º - As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras de serviços públicos responderão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa.” - Constituição, 1988. Não apenas pessoas jurídicas que pertencem à Administração Pública são responsabilizadas objetivamente por danos causados por seus agentes. Além delas, todas as entidades particulares com concessionários e permissionárias de serviço público respondem objetivamente por prejuízos a particulares. A doutrina e a jurisprudência vêm advogando que a responsabilidade objetiva do Estado, aquela que independe da existência de dolo ou culpa, só existe diante de uma conduta comissiva (ação) praticada pelo agente público. Exemplo Numa perseguição, se um tiro do policial acerta um particular teremos a responsabilidade objetiva do Estado, já que estamos diante de uma conduta comissiva (ação). Por outro lado, quando estivermos diante de uma omissão do Estado, a responsabilidade deixa de ser objetiva e passa a ser subjetiva. O particular lesado deverá demonstrar o dolo ou a culpa da Administração, em qualquer de suas modalidades: negligência, imprudência e imperícia. Exemplo Chuvas torrenciais causaram enchentes e um particular teve sua casa alagada. Nesse caso, não bastará a comprovação do dano sofrido pela inundação. É preciso demonstrar também o dolo ou a culpa do Estado em não limpar os bueiros e as “bocas de lobo” para facilitar o escoamento das águas. O dano e a indenização A reparação do dano pode ser administrativa ou mediante ação de indenização junto ao Poder Judiciário. Para obter o ressarcimento, a vítima deve demonstrar o nexo de causalidade entre o fato lesivo e o dano, bem como o valor do prejuízo. Uma vez indenizada a vítima, a pessoa jurídica tem direito de regresso contra o responsável, ou seja, tem direito de recuperar o valor da indenização junto ao agente que causou o dano, desde que este tenha agido com dolo ou culpa. Saiba mais Uma vez que a vítima seja indenizada, a pessoa jurídica tem direito de regresso contra o responsável, ou seja, tem direito de recuperar o valor da indenização junto ao agente que causou o dano, desde que este tenha agido com dolo ou culpa. Responsabilidade Subsidiária do Estado O Estado pode ser responsabilizado pelos prejuízos causados a terceiros pelas concessionárias e permissionárias de serviço público de forma subsidiária, respondendo pelos prejuízos após o exaurimento do patrimônio das empresas concessionárias e permissionárias do serviço público. Evolução Clique no botão acima. O tema Responsabilidade civil do Estado passou por longo período de evolução e ainda hoje recebe elementos de adaptação ao desenvolvimento social. Já foi caracterizada pela irresponsabilidade do Estado, responsabilidade com culpa civil comum do Estado, teoria da culpa administrativa, teoria do risco administrativo e teoria do risco integral. A Irresponsabilidade do Estado Num primeiro momento, aplica-se a teoria da irresponsabilidade do Estado em que o governante era quem dizia o que era certo ou errado. As sociedades evoluíram e passaram a não mais aceitar esse modelo de Estado. A teoria da responsabilização do Estado começou a ganhar força e o Estado passou a ser responsabilizado em situações pontuais. No Brasil, esse reconhecimento surgiu com o Tribunal de Con�itos, em 1873. A Irresponsabilidade do Estado Num primeiro momento, aplica-se a teoria da irresponsabilidade do Estado, em que o governante era quem dizia o que era certo ou errado. As sociedades evoluíram e passaram a não mais aceitar esse modelo de Estado. A teoria da responsabilização do Estado começou a ganhar força e o Estado passou a ser responsabilizado em situações pontuais. No Brasil, esse reconhecimento surgiu com o Tribunal de Con�itos, em 1873. Teoria da Responsabilidade com Culpa A fase da responsabilidade com culpa comum do Estado era in�uenciada pelo liberalismo e pretendia equiparar o Estado ao indivíduo. O Estado era obrigado a indenizar os danos causados a terceiros da mesma forma que na relação obrigacional entre particulares. Como o Estado atua por meio de seus agentes, somente seria possível uma indenização se estes tivessem agido com culpa ou dolo, cabendo ao particular o ônus da prova. Teoria da Culpa Administrativa Primeiro estágio da transição entre a doutrina subjetiva da culpa civil e a responsabilidade objetiva, em que o dever do Estado em indenizar o dano causado ao particular só existe se comprovada a existência de falta do serviço. Não se trata da culpa subjetiva do agente, mas da falta na prestação do serviço, falta essa objetivamente considerada. Essa teoria acredita que o Estado tem o dever de indenizar um particular somente se houver irregularidade na prestação do serviço. Trata-se de culpa administrativa ou culpa anônima, que pode decorrer da inexistência do serviço, de mau funcionamento ou retardamento, cabendo ao prejudicado comprovar sua falta. Teoria do risco administrativo e teoria do risco integral Pela Teoria do Risco Administrativo, a atuação estatal que cause danos a um particular faz com que a administração pública precise indenizá-lo, independentemente se o dano foi causado por falta do serviço ou culpa de determinado agente público. Basta que haja dano decorrente da atuação da Administração, sem que para isto tenha concorrido o particular.Atenção! Aqui existe uma videoaula, acesso pelo conteúdo online Não cabe ao particular comprovação de qualquer espécie de culpa do Estado, mas a Administração, em sua defesa, poderá comprovar alguma excludente – culpa exclusiva da vítima, caso fortuito, força maior (há ainda quem fale em culpa de terceiros). Se a Administração comprovar culpa recíproca, sua indenização será atenuada. Já a Teoria do Risco Integral consiste em aumento da responsabilidade civil da administração pública, bastando a existência de um evento danoso e do nexo causal para que surja a obrigação de indenizar ao Estado. Não há possibilidade de que este alegue excludentes de sua responsabilidade, mas não há consenso doutrinário acerca da de�nição de “risco integral”. Este conceito é mais tradicional no Direito Administrativo e há divergência sobre se nosso ordenamento jurídico adotou ou não a teoria do risco integral para a responsabilização extracontratual do Estado – um dos exemplos adotados é dos danos causados por acidentes nucleares (art. 21, XXIII, d, CF), uma vez que aqui �caria afastada qualquer possibilidade de alegação de excludentes pelo Estado. Em caso de danos ambientais, a jurisprudência e doutrinas reconhecem maciçamente a responsabilidade civil do risco integral. Teoria da Responsabilidade Objetiva A responsabilidade objetiva do Estado decorre do artigo 37, §6º da Constituição da República, bastando, para ensejar o dever de reparar, que seja demonstrado o ato ilícito, o dano causado e o nexo de causalidade entre ambos, sendo desnecessária a existência de culpa no evento. Diferentemente da teoria do risco integral, adotada em nosso ordenamento e pela qual não se admite excludentes da responsabilidade civil, a teoria do risco administrativo permite a alegação pelo Estado, ou pelos seus prestadores de serviços públicos, das excludentes de força maior, caso fortuito ou culpa exclusiva da vítima. Fundamento da Responsabilidade Objetiva: A Teoria do Risco Administrativo O fundamento da responsabilidade estatal está na busca de um tratamento isonômico do ônus gerados pelos atos das atividades da administração pública. Busca-se com que todos suportem os prejuízos ocorridos em função de uma atividade desempenhada pelo Estado, pois todos os cidadãos bene�ciam-se dos �ns visados pela administração. Todos devem ser solidários quanto aos riscos decorrentes deste ato administrativo, ainda que a atividade tenha sido praticada de forma irregular. Não só os atos ilícitos, como também os atos lícitos dos agentes públicos são capazes de gerar a responsabilidade extracontratual do Estado. Vamos ver um exemplo: policiais civis, em perseguição a um bandido, batem na traseira de um veículo no caminho. A perseguição policial consiste numa atuação lícita, mas gerou prejuízos. Assim, o Estado deverá indenizar os danos causados. Teoria do Risco Integral: não admite causas excludentes de responsabilidade, logo o Estado deveria responder por qualquer dano, ainda que não tenha dado causa. Teoria do Risco Administrativo: admite causas excludentes de responsabilidade como caso fortuito, força maior e culpa exclusiva da vítima (essas causas serão estudadas logo mais). Trata-se da teoria adotada em nosso Direito, devendo o Estado responder pelos prejuízos causados aos administrados, salvo quando presente alguma das causas acima mencionadas. Atenção! Aqui existe uma videoaula, acesso pelo conteúdo online Veremos agora mais alguns termos que explicam as responsabilidades civis do Estado Clique nos botões para ver as informações. Embora já seja regra no Brasil, tornou-se constitucional com a Constituição Federal de 1946, sendo adotada até hoje. A responsabilidade objetiva é a regra no País e acatada como padrão a teoria do risco administrativo. Entretanto, doutrina e jurisprudência admitem a possibilidade de compatibilizá-la com a responsabilidade subjetiva nos casos de danos decorrentes de atos omissivos, seguindo, nesse caso, a teoria da culpa do serviço. As suas teorias existem, atualmente, de forma harmônica, apesar de, preferencialmente, se reconhecer a objetiva. A Aplicação da Responsabilidade Objetiva O Estado pode causar danos aos particulares por ação ou omissão. Quando o fato administrativo é comissivo, podem os danos ser gerados por conduta culposa. Nesse caso, a responsabilidade objetiva do Estado se dará pela presença dos seus pressupostos: o fato administrativo, o dano e o nexo causal. A responsabilidade civil do Estado, no caso de conduta omissiva, só ocorrerá quando presentes os elementos que caracterizam a culpa. Previsão legal: Artigos 927, parágrafo único, CC; art. 43, CC; art. 37, §6º, CF – esses dispositivos aplicam-se apenas às condutas comissivas. Condutas Omissivas Atenção! Aqui existe uma videoaula, acesso pelo conteúdo online Em relação aos atos legislativos, segundo Borges (2013), a regra é da irresponsabilidade, sob os seguintes argumentos: 1º. O poder legislativo atua no exercício da soberania, podendo alterar, revogar, criar ou extinguir situações sem qualquer limitação que não decorra da Constituição Federal. 2º. O poder legislativo edita normas gerais e abstratas dirigidas a toda a coletividade; o ônus delas decorrentes é igual para todas as pessoas que se encontram na mesma situação, não quebrando o princípio da igualdade de todos perante os ônus e encargos sociais. 3º. Os cidadãos não podem responsabilizar o Estado por atos de parlamentares por eles eleitos. Responsabilidade por Atos Legislativos Em relação aos atos praticados pelo Poder Judiciário, também há divergência doutrinária. Há quem defenda que o Poder Judiciário é soberano e que os juízes têm de agir com independência no exercício das suas funções sem temor de que suas decisões possam ensejar a responsabilidade do Estado. Para essa corrente da doutrina, os magistrados não são funcionários públicos e, portanto, a indenização por dano decorrente de decisão judicial infringiria a regra da imutabilidade da coisa julgada, pois implicaria no reconhecimento de que a decisão foi proferida com violação da lei. Responsabilidade por Atos Judiciais Prazo prescricional da ação de indenização: A ação de reparação de danos para se obter indenização do Estado deverá ser proposta dentro do prazo de cinco anos, contado a partir do fato danoso. Prescrição Atividade 1. Com relação à responsabilidade civil do Estado, é correto a�rmar: a) A responsabilidade civil do Estado somente se configura no caso de conduta culposa do Estado. b) O Estado tem responsabilidade civil pelos danos que seus servidores públicos, nessa qualidade, causarem a terceiros. c) No caso de responsabilidade civil do Estado, este poderá promover ação de regresso em face do servidor público responsável pelo dano cuja responsabilidade civil será objetiva, independentemente de culpa, perante o Estado. d) O caso fortuito ou de força maior não permitem a exclusão da responsabilidade civil do Estado em nenhuma hipótese. 2. Com relação à responsabilidade civil do Estado, no nosso ordenamento jurídico prevalece a teoria: a) da responsabilidade sem culpa. b) do risco integral. c) da responsabilidade pelos atos de império. d) da responsabilidade com culpa. 3. Quanto à a�rmativa abaixo, aponte se ela está certa ou errada. Justi�que sua resposta. Caso seja impossível a identi�cação do agente público responsável por um dano, o Estado será obrigado a reparar o dano provocado por atividade estatal, mas �cará inviabilizado de exercer o direito de regresso contra qualquer agente. Notas Contra legem1 De forma contrária à lei. Referências Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Centro Grá�co, 1988. BORGES, L.R. Responsabilidade civil do Estado. Disponível em: https://www.direitonet.com.br/artigos/exibir/8039/Responsabilidade-civil-do-Estado. Acessado em: 30 jun. 2019. REIS, E R P Responsabilidade objetiva do Estado Disponível em: javascript:void(0); REIS, E.R.P. Responsabilidadeobjetiva do Estado. Disponível em: https://www.direitonet.com.br/artigos/exibir/2676/Responsabilidade-objetiva-do-Estado. Acesso em 19 nov. 2019. RODRIGUES, R.R. A responsabilidade civil do Estado. Disponível em: https://ambitojuridico.com.br/cadernos/direito- administrativo/a-responsabilidade-civil-do-estado/. Acesso em 19 nov. 2019. Próxima aula Bases constitucionais e normativas da Licitação; Modalidades de Licitação; Anulação e revogação da Licitação. Explore mais Leia o texto Responsabilidade Objetiva do Estado Leia o texto Responsabilidade objetiva do Estado: teoria do risco administrativo Leia o texto Responsabilidade civil do Estado: da irresponsabilidade à responsabilidade objetiva javascript:void(0); javascript:void(0); javascript:void(0); javascript:void(0); javascript:void(0);
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