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CASO CLÍNICO Paciente do sexo masculino, 28 anos, procura facultativo com queixa de cansaço aos médios esforços e olhos amarelos que apresenta desde a infância. Interrogatório de sistemas: dor abdominal em hipocôndrio direito em crises acompanhada de náuseas. HPP: Nega alergias, história pregressa de uso de medicações, cirurgias, internações e transfusões sanguíneas. Aos 14 anos um quadro viral com anemia intensa. H. Familiar: irmão mais novo também tem anemia. Pais normais. Ao exame físico: BEG, hipocorado, ictérico +/4+, hidratado, afebril. ACP: NDN ABDOME: dor a palpação profunda em hipocôndrio direito e baço palpável cerca de 6 cm abaixo do rebordo costal esquerdo. LEUCÓCITOS: 6.000\mm3 Neutrófilo: 47% Linfócito: 37% Basófilo:3% Eosinófilo:4 Monócito:2% Bastão:2% ERITRÓCITOS: 2.800.000\mm3 Hemoglobina:7 g\ dl Hematócrito: 21% VCM:60 fl HCM: 29 pg CHCM: 36 g\dl RDW: 16 % Hematoscopia: anisocitose e esferócitos ++. Reticulócito = 8% PLAQUETAS: 280.000\mm3 Bilirrubina total 2,2 mg/dL e indireta 1,6 mg/dL ( N: Desidrogenase lática: 865 U/l ( 125 U/L e 220U/L ) COM BASE NA HISTÓRIA CLÍNICA, RESPONDA: 1.A história clínica é compatível com : Justifique suas respostas. ( ) anemia aguda ( ) anemia crônica ( ) anemia hipoproliferativa (X ) hiperproliferativa Na anemia hiperproliferativa há um aumento dos reticulócitos. As anemias hiperproliferativas compreendem as anemias hemolíticas adquiridas e anemias hemolíticas hereditárias. 2.Qual sua hipótese diagnóstica? Justifique com os dados da história clínica e exames laboratoriais. Esferocitose hereditária. Paciente apresenta icterícia, esplenomegalia. Possui reticulócitos e esferócitos no sangue periférico. 3.Defina seu diagnóstico . Esferocitose hereditária. 4. Qual a incidência da doença? Formas leves podem atingir até 1% da população. 5. Qual a etiopatogenia da doença? A deficiência do ancoramento da espectrina no citoesqueleto eritrocitário leva a perda de fragmentos da camada lipídica da membrana. A célula, portanto, perde superfície em relação ao volume, acabando com o seu formato bicôncavo e transformando se em um esferócito. Os esferócitos, ao passarem pelos cordões esplênicos, não conseguem se deformar o suficiente para penetrar nas fendas sinusoidais, ficando mais tempo em contato com os macrófago esplênicos. A primeira consequência é a perda de pequenos “pedaços” de membrana, transformando-se em microesferócitos. São essas células que se encontram no sangue periférico do paciente. 6. Classifique clinicamente os graus da doença com suas manifestações clínicas Na forma leve a anemia é discreta ou ausente, sem ou com icterícia de pequena in- tensidade. Tais pacientes podem ter sintomas mais evidentes no decurso de uma doença infecciosa ou da gravidez. Pode haver esplenomegalia, e a hemólise é discreta, porém sempre é compensada pela hiperfunção medular, que supre o excesso de destruição dos eritrócitos. Nesses casos, a doença costuma ter caráter familial, manifestando-se com gravidade variável de um doente para outro na mesma família. Os portadores da forma moderada da esferocitose têm icterícia mais ou menos constante, com intensidade variável e esplenomegalia. A doença também se intensi- fica durante os episódios de infecção viral. Na forma severa, a intensidade da anemia e da icterícia é maior, podendo surgir fases de falência da atividade da medula óssea e consequente crise de aplasia me- dular. São frequentes o achado de alterações estruturais e do esqueleto, o retardo no desenvolvimento físico geral e as complicações, como calculose biliar (colelití- ase e esplenomegalia). 7. Fale sobre defeito genético . A esferocitose hereditária é uma desordem autossômica dominante em 80% dos casos, e recessiva nos 20% restantes. É caracterizada por deficiências em graus variados de uma das seguintes proteínas do citoesqueleto: espectrina, anquirina, banda 3, proteína 4.2. A deficiência de anquirina acarreta uma deficiência secundária de espectrina, pois a primeira é necessária para a incorporação da última a membrana do eritrócito. 8 . Como se dá a transmissão hereditária da doença e o comportamento clínico das mesmas? MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS: anemia, esplenomegalia, icterícia, litíase biliar. Outro manifestação eventualmente encontrada é a icterícia neonatal ( nos primeiros 2 dias do nascimento). 9. Que dado clínico e laboratorial sugerem o diagnóstico? Anemia leve a moderada, micro ou normocitose, com hemácias tipicamente hipercrômicas, além de reticulócitos e microesferócitos no esfregaço de sangue periférico. 10. Cite 3 possíveis crises que podem ocorrem nesses pacientes? Crise biliar, crise aplásica, crise hemolítica. 11.Que exame você pediria para conclusão diagnóstica? Ele é 100% fidedigno ? ( sensibilidade e especificidade) Teste de fragilidade osmótica, apesar de não ser um teste 100% fidedigno pois pode apresentar falso-positivo em outras anemias, como a imuno-hemolítica e falso-negativo em 10-20% dos pacientes esferocitose hereditária. O principal teste diagnóstico é o teste de fragilidade osmótica (ou resistência globular osmótica – RGO) com hemácias incubadas, sendo o exame mais sensível para Esferocitose Hereditária. Outros testes como o teste da lise pelo glicerol aci- dificado e o teste de Pink também têm sido utilizados com sucesso para o rastreio dessa doença. 12. E quanto à dor abdominal qual sua conduta? 14. Existe indicação de esplenectomia? É curativa? Pode falhar? Por que? A esplenectomia total, por laparotomia ou laparoscopia é recomendada para adolescentes e pessoas adultas, pois cura quase todos os pacientes, eliminando a anemia e reduzindo a contagem de reticulócitos para valores próximos do normal. Pacientes com formas graves podem não obter remissão completa da doença após a esplenectomia, mas certamente se beneficiarão do procedimento. Pelo risco de septicemia pós-esplenectomia, deve-se adiar o procedimento até que o paciente te- nha pelo menos cinco anos de idade. A remoção do baço implica a retirada de um órgão linfoide importante, que funciona como filtro para agentes patogênicos, em especial para as bactérias capsuladas, como penumococos. Não há evidências que justifiquem, nos casos graves, adiar a esplenectomia além dos cinco anos de idade, lembrando que o risco de colelitíase aumenta dramaticamente após os dez anos de idade. Vacinas antipneumocócica polivalente e anti-H. influenza e devem ser administradas pelo menos oito semanas antes da esplenectomia. Em alguns países, reco- menda-se também, em crianças, a administração de vacina antimeningocócica. Após a esplenectomia deve-se instituir antibioticoterapia profilática com penicili- na (penicilina via oral duas vezes ao dia ou penicilina benzatina IM a cada três sema- nas) por pelo menos dois anos. 15. Quais os sinais que sugerem falha terapêutica à esplenectomia.
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