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1. DEFINIR E ABORDAR AS PRINCIPAIS CAUSAS DE FADIGA. Diferentes possíveis causas têm sido propostas, incluindo: a depressão, a anemia ferropriva, a hipoglicemia, a mononucleose, as disfunções glandulares e as doenças auto-imunes. O cansaço excessivo pode indicar, além de falta de tempo para descansar, algumas doenças como anemia, diabetes, alterações da tireoide ou até mesmo depressão. Nesse caso, o paciente se sente sempre cansado e não tem forças para realizar seu trabalho com excelência. As 8 doenças que podem causar cansaço excessivo são: Diabetes: A diabetes causa cansaço frequente porque nela a glicose do sangue não chega a todas as células e por isso falta energia no corpo para realizar as tarefas do dia a dia. Além disso, o excesso de açúcar no sangue faz o indivíduo urinar mais, leva ao emagrecimento e diminuição dos músculos, assim é comum os diabéticos queixarem-se de cansaço muscular. Anemia: A falta de ferro no sangue pode causar cansaço, sonolência e desânimo. Nas mulheres esse cansaço se torna ainda maior na época da menstruação, em que as reservas de ferro no organismo diminuem ainda mais. Apneia do sono: A apneia do sono é caracterizada pela falta de ar nos pulmões durante o sono, que pode acontecer por breves períodos, várias vezes durante a noite, prejudicando o sono e o descanso do indivíduo. Ao dormir mal, é normal acordar muito cansado, ter cansaço muscular e sentir sono durante o dia. Depressão: Um dos sintomas típicos da depressão é o cansaço físico e mental frequente, em que o indivíduo fica sem ânimo de realizar suas tarefas diárias e até mesmo de trabalhar. Apesar de ser uma doença que afeta a parte mental da pessoa, ela também acaba afetando o corpo. Fibromialgia: Na fibromialgia há um cansaço frequente que persiste por anos, além de um aumento a sensibilidade à dor. As dores constantes podem causar dificuldade de concentração e, como afeta o sono, a pessoa já acorda cansada, como se não tive descansado nada durante a noite. Doenças cardíacas: A arritmia e o entupimento das artérias podem causar cansaço e tonturas frequentes. Nesse caso, o coração não tem forças suficientes para fazer uma boa contração e enviar sangue para todo o corpo; por isso, o indivíduo está sempre cansado. Infecções: As infecções como gripes e resfriados podem causar muito cansaço porque, nesses casos, o corpo tenta usar todas as energias para combater os micro-organismos envolvidos. Aqui, além do cansaço pode-se observar outros sintomas, como a febre e a dor muscular, que devem ser investigadas pelo médico. Alterações da tireoide: Como os hormônios tireoidianos são responsáveis por manter o metabolismo acelerado, quando estão afetados o cansaço se instala. 2. CARACTERIZAR O QUADRO CLÍNICO E PARÂMETROS LABORATORIAIS DAS ANEMIAS As manifestações clínicas da anemia são variadas e dependem não apenas da anemia propriamente dita como também do mecanismo determinante. Igualmente variável é a intensidade dos sintomas, dependendo do grau da anemia (concentração de hemoglobina), idade do paciente, atividade física, e velocidade com que se estabeleceu a anemia. Todas as manifestações clínicas da anemia decorrem da redução da capacidade de transporte de oxigênio do sangue e consequente menor oxigenação dos tecidos. Numerosos mecanismos fisiológicos atuam no sentido de compensar a reduzida capacidade de transporte de oxigênio e, desta forma, minimizar a hipóxia tissular. Esses mecanismos contribuem para a gênese das manifestações clínicas nas anemias. Os sinais e sintomas das anemias refletem, portanto: A hipóxia não corrigida dos tecidos; A participação dos mecanismos compensatórios. Sintomas ocasionados pela hipóxia: Os sintomas principais são: cefaleia, vertigens, tonturas, lipotimia (sensação de desmaio), zumbidos, fraqueza muscular, cãibras, claudicação intermitente e angina. Além disso, anemias que se manifestam nos primeiros anos de vida e que cursam com níveis baixos de hemoglobina, como as anemias hereditárias, podem comprometer ou retardar o desenvolvimento somático, neuromotor e sexual. Sintomas ocasionados pelos mecanismos compensatórios: As principais manifestações envolvem os aparelhos cardiovascular e respiratório, que são os responsáveis por tentar compensar a reduzida capacidade de transporte de oxigênio e, dessa forma, corrigir a hipóxia tissular. Os principais mecanismos compensatórios nas anemias envolvem: Aumento do débito cardíaco; Redução da resistência vascular sistêmica global; Redistribuição do fluxo sanguíneo para os diferentes tecidos; Diminuição da afinidade da hemoglobina pelo oxigênio. Como resultado do aumento do débito cardíaco, da redistribuição do fluxo sanguíneo (privilegiando tecidos e órgãos mais sensíveis à hipóxia) e a redução da resistência periférica, ocorrem manifestações clínicas como palidez cutâneo-mucosa (vasoconstrição periférica), taquicardia, aumento da diferencial de pressão, sopros no precórdio, sopro arterial ou venoso no pescoço, choque da ponta impulsivo, e dispneia de esforço. O aparelho cardiovascular, e em especial o coração, podem sustentar por tempo prolongado os mecanismos compensatórios. No entanto, quando a capacidade de compensação é excedida, seja porque a anemia é acentuada ou estabelece-se rapidamente ou, ainda, em consequência de uma lesão cardíaca prévia, instala-se um quadro de insuficiência cardíaca com cardiomegalia, estase jugular, edema periférico, hepatomegalia, congestão pulmonar e dispneia de decúbito. Observe-se que a insuficiência cardíaca neste caso ocorre com o volume minuto cardíaco aumentado (acima do normal), embora ainda insuficiente para atender à demanda metabólica do organismo. A redução da afinidade da hemoglobina pelo oxigênio é um importante mecanismo compensatório nas anemias, e deve-se ao aumento da concentração intra-eritrocitária de 2,3- difosfoglicerato (2,3-DPG). Esse composto, formado durante metabolismo da glicose, fixa-se à molécula de hemoglobina desoxigenada, dificultando sua ligação com o oxigênio. A diminuição da afinidade (desvio da curva para a direita) não altera a saturação da hemoglobina nos pulmões (onde a PO2 é elevada), mas leva a maior liberação de oxigênio nos tecidos. A P50 média de sangue anêmico com hemoglobina de 8 g/dL é da ordem de 30 mmHg (comparada com 26 mmHg em normais), o que é suficiente para aumentar em 25% a quantidade de oxigênio liberada nos tecidos. Outras manifestações: Algumas manifestações clínicas observadas em pacientes anêmicos são sinais e sintomas de uma doença subjacente que conduziu à anemia. Por exemplo, as principais queixas de um paciente que desenvolve anemia ferropriva em consequência da hemorragia crônica de uma úlcera péptica podem estar relacionados com a úlcera: dispepsia, pirose e dor epigástrica. Além disso, há manifestações que podem acompanhar alguns tipos particulares de anemias, estando ausentes em outras, tais como: Manifestações hemorrágicas e infecções na anemia aplástica ou leucemias agudas; Esplenomegalia e linfonodomegalia em leucemias e linfomas; Icterícia e esplenomegalia nas anemias hemolíticas; Parestesias e outras manifestações neurológicas na anemia perniciosa; Dores ósseas, fraturas sob trauma mínimo, e síndrome de compressão de medula espinhal em mieloma múltiplo ou metástases carcinomatosas. Esses sintomas adicionais, quando analisados cuidadosamente, permitem, na maioria dos casos, um diagnóstico muito aproximado da causa e do mecanismo da anemia, que podem, então, ser confirmados com base nos exames laboratoriais. Intoxicações e hipóxia tecidual: As manifestações clínicas da anemia representam as consequências da reduçãoda capacidade de transporte de oxigênio pelo sangue, resultante da diminuição da concentração de hemoglobina. A capacidade do sangue de transportar oxigênio pode ocasionalmente estar reduzida em outras situações, além da anemia. Isso ocorre principalmente quando a função da hemoglobina está alterada. Na intoxicação pelo CO, que tem uma afinidade pela hemoglobina cerca de 210 vezes maior do que o CO2, a hemoglobina é convertida em carboxi-hemoglobina, que não transporta oxigênio. DIAGNÓSTICO Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a anemia é definida quando: • Hb < 13 g/dL para homens Hb < 12 mulheres e crianças de 6 à 14 anos • Hb < 11 g/dL para gestantes e crianças até 6 anos O diagnóstico de anemia pode ser feito por qualquer um dos 3 componentes da série vermelha: hemoglobina (Hb), hematócrito (Ht) ou número de glóbulos vermelhos (este último não é tão sensível, pois quando há microcitose ele encontra-se normal, já que o tamanho dos glóbulos é que está alterado). Pontos importantes a serem abordados na anamnese: Duração dos sintomas, idade de início. História familiar, História ocupacional e hábitos domésticos. Hábitos sociais, as viagens às áreas endêmicas de malária ou de outros agentes infecciosos e a história de consumo de drogas. Dieta, assim como o hábito intestinal. Perdas sanguíneas pela menstruação e a história gestacional nas mulheres. Sangramentos gastrintestinais em todos os pacientes devem ser cuidadosamente averiguados. Coloração da urina (ver se há hemólise intravascular). Exame físico: Icterícia: sugere hemólise ou eritropoese ineficiente; Ausência ou redução de papilas linguais (língua lisa): sugere deficiência de vitamina B12 ou ácido fólico; Quelite angular e alterações das unhas (coiloníquia): ocorrem na anemia ferropênica de longa duração; Úlceras de perna em jovens: características das anemias hemolíticas constitucionais; Palpação do fígado, do baço e dos linfonodos: pesquisa de infecção, linfoma, leucemias ou tumores metastáticos. Os sintomas relacionados à anemia dependem da idade, da capacidade física, do grau de anemia e do tempo de evolução. Pacientes com evolução aguda apresentam sintomas com valores mais altos de hemoglobina, enquanto que os de evolução crônica exibem valores mais baixos. Os sintomas usuais incluem astenia, cansaço, fraqueza, falta de ar e palpitações. No exame físico o achado mais característico é a palidez mucocutânea. A partir disso, outras informações serão necessárias para a classificação da anemia, são elas os índices hematimétricos (VCM, HCM, CHCM e RDW) e a contagem de reticulócitos. Com eles, tem-se informações sobre tamanho, forma, coloração e uniformidade das hemácias. • Volume corpuscular médio (VCM): é o volume médio das hemácias expresso em fentolitros (fL). É o VCM que vai determinar a classificação das anemias em macro/normo/microcíticas; • Hemoglobina corpuscular médica (HCM): quantidade de hemoglobina dentro da hemácia. É expressa em picograma por célula. Classifica as anemias em hiper/ normo/hipocrômicas; • Concentração de hemoglobina corpuscular média (CHCM): é o peso da hemoglobina dentro de determinado volume de hemácia, expresso em gramas por decilitro (dL). Também é útil para a classificação das hemácias em hiper/normo/hipercrômicas; • Ampla distribuição de células vermelhas no sangue ou índice de anisocitose (RDW): corresponde a medida da variação do tamanho das hemácias. O esperado é que se tenha um RDW baixo, ou seja, que as hemácias tenham pouca variação no tamanho. A anisocitose é quando há uma diferença no tamanho de hemácias. • Contagem de reticulócitos: são as células precursoras dos eritrócitos, sendo muito útil na classificação das anemias em hiper e hipoproliferativas. Mas para isso deve-se ter o valor corrigido pelo grau de anemia, já que, quando em valor percentual, o número de reticulócitos pode ser superestimado em um paciente anêmico; Para a definição da possível etiologia, mais alguns parâmetros podem ser avaliados, são eles: a determinação do ferro sérico, transferrina sérica, capacidade total de ligação do ferro à transferrina (TIBC), ferritina sérica e esfregaço do sangue periférico CLASSIFICAÇÃO DAS ANEMIAS A classificação das anemias pode obedecer vários critérios, entre os quais, os mais utilizados na prática laboratorial, destacam-se a classificação laboratorial e a classificação fisiopatológica. A classificação laboratorial da anemia se suporta nos resultados dos índices hematimétricos (VCM e HCM), resultando em três tipos de anemias: Macrocítica/ Hipercrômica Microcítica/ Hipocrômica Normocítica/ Normocrômica VCM > 100 fl HCM > 34 g/dL VCM < 80 fl HCM < 28 g/dL VCM 80 – 100 fl HCM 28 – 34 g/dL Exemplo: anemia megaloblástica Exemplo: anemias ferroprivas Exemplo: anemias hemolíticas, anemia aplástica Classificação morfológica: Essa classificação é utilizada, na prática clínica, associada com a classificação fisiopatológica. Se baseia nos valores do VCM, porém não esclarece a causa da anemia, mas sim o aspecto morfológico dos eritrócitos presentes na circulação Microcíticas (VCM < 80fl): Diminuição da Hb dentro do eritrócito, o que torna as hemácias hipocrômicas e microcíticas. Geralmente ocorre por diminuição da síntese do grupo heme por deficiência de Ferro. Também ocorre nas talassemias (redução da síntese de globina), nas anemias sideroblásticas (acúmulo de Fe nas mitocôndrias), hemoglobinopatia C (mutação no gene da cadeia globina beta). Macrocíticas (VCM > 100 fl): Hemácias de grande volume e, geralmente, hipercrômicas. Não necessariamente indica anemia. Causada muitas vezes pelo consumo de álcool, quimioterapia ou anemia perniciosa. São divididas em megaloblásticas, decorrentes de deficiência de vit. B12 e/ou ácido fólico, e não megaloblásticas, podendo ser decorrente de reticulocitose ou reticulocitopenia associada à hipotireoidismo, hepatopatia e aplasia de série vermelha. Normocíticas (VCM 80-100 fl): Também são normocrômicas. Corresponde a maioria das anemias de doenças crônicas (que, eventualmente, podem ser microcíticas). Se tiver uma resposta medular inadequada, com reticulócitos baixos na presença de anemia, existe uma doença de base que afeta medula óssea, direta ou indiretamente, porque o normal é esperar por aumento dos reticulócitos, caso a medula esteja funcionando corretamente Classificação fisiopatológica: Já essa classificação fornece a base fisiopatológica para explicar os diferentes tipos de anemia. A avaliação depende da capacidade de regeneração medular. É baseada na contagem de reticulócitos e é dividida em três grupos: Por deficiência de produção ou hipoproliferativa: Contagem de reticulócitos abaixo de 50.000/ mmᶟ. Ocorre por acometimento primário ou secundário da medula óssea ou por falta de estímulo à eritropoiese (ex: eritropoietina), falta de ferro, vit. B12 e/ou ácido fólico. Podem acompanhar doenças inflamatórias, infecciosas e neoplásicas. Por excesso de destruição ou hiperproliferativas: Típica das anemias hemolíticas, mas também pode ocorrer após perdas agudas de sangue. Sob estimulação máxima, a medula pode aumentar sua produção de 6 a 8 vezes, entretanto a sobrevida dos glóbulos vermelhos pode encurtar para 15-20 dias (compensação medular), levando a presença de reticulocitose, sem presença de anemia (estado hemolítico compensado). Por perdas: Pode ser (A) aguda, como as anemias pós-hemorrágicas, em que há compensação pela medula caso estoques de Fe estejam preservados ou (B) crônica, que causam espoliação do Fe e, consequentemente, anemia por falta de produção. 3. ABORDAR A EPIDEMIOLOGIA, FISIOPATOLOGIA, QUADRO CÍNICO,DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO (AGUDO E CRÔNICO) DA ANEMIA FALCIFORME CONCEITO E EPIDEMIOLOGIA A anemia falciforme é a doença hereditária monogênica mais comum do Brasil. A causa da doença é uma mutação de ponto (GAG->GTG) no gene da globina beta da hemoglobina, originando uma hemoglobina anormal, denominada hemoglobina S (HbS), ao invés da hemoglobina normal denominada hemoglobina A (HbA). Esta mutação leva à substituição de um ácido glutâmico por uma valina na posição 6 da cadeia beta, com consequente modificação físico-química na molécula da hemoglobina. Em determinadas situações, estas moléculas podem sofrer polimerização, com falcização das hemácias, ocasionando encurtamento da vida média dos glóbulos vermelhos, fenômenos de vaso-oclusão e episódios de dor e lesão de órgãos. Em geral, os pais são portadores assintomáticos de um único gene afetado (heterozigotos), produzindo HbA e HbS (AS), transmitindo cada um deles o gene alterado para a criança, que assim recebe o gene anormal em dose dupla (homozigoto SS). A doença originou-se na África e foi trazida às Américas pela imigração forçada dos escravos. No Brasil, distribui-se heterogeneamente, sendo mais frequente onde a proporção de antepassados negros da população é maior (nordeste). Além da África e Américas, é hoje encontrada em toda a Europa e em grandes regiões da Ásia. No Brasil, a doença é predominante entre negros e pardos, também ocorrendo entre brancos. No sudeste do Brasil, a prevalência média de heterozigotos (portadores) é de 2%, valor que sobe a cerca de 6-10% entre negros. Estimativas, com base na prevalência, permitem estimar a existência de mais de 2 milhões de portadores do gene da HbS, no Brasil, mais de 8.000 afetados com a forma homozigótica (HbSS). Estima-se o nascimento de 700- 1.000 novos casos anuais de doenças falciformes no país. Portanto, as doenças falciformes são um problema de saúde pública no Brasil. No Brasil, estudos apontam que a mortalidade da AF é de 78% até os 29 anos de idade e, destes, 37,5% concentravam-se nos menores de 9 anos → Elevada letalidade. A hereditariedade da Anemia e do Traço Falciforme: A forma comum da Anemia Falciforme (Hbss) acontece quando uma criança herda um gene da hemoglobina falciforme da mãe ou do pai. É necessário que cada um dos pais tenha pelo menos um gene falciforme, ou seja, os pais são Traços falciforme, como o traço falciforme é um estado benigno, muitas pessoas não sabem que possuem. A probabilidade genética de pais com traço falciforme (pais AS) ter filhos de com doença falciforme (hemoglobina SS) é de 25%, hemoglobina normal (AA) é de 25% também, e de 50% para filhos com traço falciforme (hemoglobina AS). Para os pais que um tem traço falciforme (AS) e o outro tem anemia falciforme (SS) a probabilidade de ter filhos com anemia falciforme (Hb SS) é de 50% e de ter filhos com traço falciforme (Hb AS) é de 50% também. FISIOPATOLOGIA A anemia falciforme é uma doença genética hereditária, caracterizada pela mutação na posição 6 da cadeia beta da globina, no cromossomo 11, onde a sequência de bases (GAG) é substituída pelas bases (GTG), que irão resultar na substituição de um ácido glutâmico pela valina. Com essa substituição, a chamada hemoglobina A (normal) será substituída pela hemoglobina S (hemoglobina das células falciformes), que devido a carga neutra da valina, permitirá que ocorra interações hidrofóbicas entre as moléculas de hemoglobina, acarretando na agregação de grandes polímeros de hemoglobinas S (HbS), quando as mesmas estão em estado desoxigenado (DesoxiHbS). Esse é o processo primário chamado de polimerização ou gelificação da desoxiHbS. Estes polímeros se alinham em fibras paralelas, formando cristais chamados tactóides, por serem viscosos, diminuem a deformabilidade dos eritrócitos, diminuindo o seu trânsito através da microcirculação, deixando-as em forma de foice, podendo ser chamadas de drepanócitos. A alteração morfológica a princípio depende da polimerização das HbS, que por sua vez, dependem da desoxigenação para se agregarem umas às outras. No momento em que estão oxigenadas, elas não formam polímeros, permitindo que os eritrócitos mantenham sua forma normal. Com os repetidos episódios de falcização e desfalcização, causados pela oxigenação e desoxigenação das moléculas, as células falciformes tendem a perder K+ e água, tornando-se desidratadas, acarretando no aumento da polimerização, e consequentemente deformando a membrana celular, criando uma estrutura rígida, resultando em células irreversivelmente alteradas (BRASIL, 2002). A acidose, por sua vez, diminui a afinidade da hemoglobina pelo oxigênio, aumentando a polimerização, através do aumento da quantidade de desoxiHbS dentro da célula. A hemoglobina que menos participa do polímero é a hemoglobina fetal. Quanto maior é a porcentagem de hemoglobina fetal, menor é a polimerização da HbS. Clinicamente, níveis elevados de hemoglobina fetal associam-se à menor gravidade da doença. Estas células em foice possuem mais viscosidade, que irão diminuir o seu trânsito na microcirculação, causando a estagnação do sangue e até mesmo infartos teciduais, causando quadros de dores no portador da doença As células que adquirem a morfologia irreversível de foice, se tornam mais densas e exibem níveis aumentados de imunoglobulinas ligadas em sua superfície, que servirão de sinalizador para os macrófagos e monócitos, que serão responsáveis pela destruição (hemólise) dessas células no meio intravascular e extravascular. Com a destruição prematura das células vermelhas, o paciente irá apresentar quadro de anemia hemolítica crônica, e consequentemente a redução dos valores de hemoglobina, hematócrito, e número elevado de células jovens, como os retículócitos, que são células vermelhas que ainda não terminaram de passar pelo processo de maturação A intensidade do quadro anêmico irá depender da quantidade de hemoglobinas S presentes nos eritrócitos. Mesmo pessoas com anemia falciforme possuem hemoglobinas não S em suas células, podendo ser hemoglobinas A, ou hemoglobinas fetais. Estas poderão ter um papel de diluição em meio as HbS, diminuindo a polimerização e consequentemente a falcização das hemácias. Em geral, quanto maior o número de hemoglobinas não S, menor será a gravidade da doença. O fenômeno de vaso-oclusão ocorre geralmente na microcirculação. No entanto, grandes artérias, principalmente nos pulmões e cérebro, também podem ser afetadas. QUADRO CLÍNICO O quadro clínico da anemia falciforme, contrastando com as demais formas de anemia hemolítica, não dependem substancialmente dos sintomas causados pela anemia propriamente, mas, sim, da ocorrência de lesões orgânicas causadas pela inflamação e obstrução vascular e das chamadas “crises de falcização”. Nos períodos entre as crises, a “fase estável”, os pacientes evoluem praticamente assintomáticos, a despeito da anemia persistente, com níveis de hemoglobina variáveis, mas, em geral, ao redor de 8 g/dL. A crise álgica é a principal manifestação clínica do paciente com anemia falciforme. As manifestações clínicas dos pacientes falcêmicos devem-se principalmente a dois fatores: a oclusão vascular pelos glóbulos vermelhos seguida de infarto nos diversos tecidos e órgãos, e a hemólise crônica e seus mecanismos compensadores. Associados, esses eventos danificam progressivamente os diversos órgãos e podem alterar o crescimento e provocar atraso puberal. O fenômeno da vaso-oclusão também leva à destruição progressiva do baço e consequentemente à autoesplenectomia, sendo responsável pela susceptibilidade aumentada a infecções graves. Como há a possibilidade potencial de evolução com choque hipovolêmico,trata-se de uma emergência clínica. O sequestro esplênico é a segunda causa de morte entre as crianças com AF, podendo ocorrer entre os 2 meses de idade até por volta dos 3 anos, e nos pacientes com doença falciforme, em idades maiores. Caracteriza-se por um quadro de instalação abrupta com palidez e aumento do volume do baço com dor abdominal, fraqueza súbita, podendo ser desencadeado com processos infecciosos. Por isso os pais são ensinados a palpar o baço, para que possam identificar precocemente o sequestro esplênico e procurar ajuda. O termo Síndrome Torácica Aguda reflete a dificuldade na distinção entre infecção pulmonar (bacteriana ou viral) de outras condições que podem ocorrer na doença falciforme, incluindo a embolia gordurosa ou infarto pulmonar por oclusão da microvasculatura ou tromboembolismo, causando alterações inflamatórias no pulmão. A fisiopatogenia da STA é multifatorial, cujo resultado final é a trombose microvascular. Os pacientes falcêmicos são suscetíveis às infecções sobretudo por germes encapsulados, uma vez que a função esplênica é perdida devido ao progressivo infarto no baço. Há elevado risco de sepse fulminante no paciente falcêmico já nos primeiros anos de vida, e embora diminua após os 5 anos, pacientes podem desenvolver infecções graves mais tarde. Outro fator importante na doença falciforme é que as infecções virais e bacterianas induzem ao aumento de fibrinogênio e estimulam a aderência da célula falciforme ao endotélio, o que promove a vasoconstricção e a hipóxia tecidual. Isso gera uma lesão tecidual que agudamente pode apresentar-se como crises dolorosas, acidente vascular cerebral, síndrome torácica aguda. Geralmente os pacientes portadores da DF toleram bem a anemia crônica e precisam de transfusão sanguínea somente em condições clinicas especiais como: crise aplástica, sequestro esplênico, acidente vascular cerebral e síndrome torácica aguda. A complicação mais comum é a necrose asséptica da cabeça do fêmur, e afeta cerca de 10% das pacientes, podendo chegar a mais de 50% dos portadores de hemoglobinopatia SC. Outras regiões ósseas podem também ser afetadas pela necrose vascular, como corpos vertebrais e cabeça do úmero. DIAGNÓSTICO Quando diagnosticada precocemente, a anemia falciforme pode ter sua morbidade e mortalidade reduzidas significativamente. O diagnóstico das síndromes falciformes depende fundamentalmente da comprovação da hemoglobina S pelo eletroforese de hemoglobinas, utilizando conjuntos complementares de suportes e tampões que permitam a distinção das diferentes hemoglobinas anormais. As técnicas mais utilizadas incluem a eletroforese de hemoglobina em acetato de celulose com pH 8.4, em gel de ágar com pH 6.2, e teste de solubilidade da hemoglobina em tampão fosfato concentrado. Na eletroforese de hemoglobina em acetato de celulose em pH 8,6, os indivíduos que apresentam anemia falciforme terão mais de 80% da hemoglobina S, 1% a 20% de hemoglobina fetal, de 2% a 4,5% de hemoglobina A2. A hemoglobina fetal não está uniformemente distribuída entre os eritrócitos. Na eletroforese de hemoglobina de um indivíduo com traço falciforme será encontrado de 50% a 65% de hemoglobina A, de 35% a 45% de hemoglobina S, a hemoglobina fetal está normal e a hemoglobina A2 normal a ligeiramente aumentada até 4,5%. Nesses indivíduos o hemograma apresenta-se normal, com poucas células alvos, o teste de falcização é positiva, e quase todos os eritrócitos sofrem falcização, o teste de solubilidade é positivo. O teste de falcização tem o objetivo de analisar a morfologia dos eritrócitos em baixa oxigenação. A técnica consiste em deixar as hemácias analisadas, sob baixa concentração de oxigênio, por meio da solução de metabissulfito de sódio a 2%. Após o metabissulfito ser adicionado no sangue, será realizada a análise na lâmina, onde a mesma será vedada por meio de esmalte, fazendo com que os eritrócitos que contém a hemoglobina S sofram deformação após algumas horas. Devido a não caracterização do genótipo, e o longo tempo de espera para que seja obtido o resultado, o teste de falcização é pouco indicado. Sua sensibilidade é baixa, sendo necessária a realização de exames de biologia molecular para confirmação do diagnóstico. As dosagens erradas de redutores de oxigênio no sangue podem ainda influenciar em falsos positivos. Teste de solubilidade: Este teste permite que seja feita a separação das hemoglobinas pela solubilidade, ima vez que as HbA são solúveis, e as HbS são insolúveis. Apesar de auxiliar no diagnóstico, este teste possui baixa precisão em crianças, devido à alta taxa de hemoglobinas fetais, que podem resultar em falso positivo A detecção da HbS pode também ser feita com base em Cromatografia Líquida de Alta Performance (HPLC) ou Eletroforese com Focalização Isoelétrica (FIE). A alteração molecular pode ser facilmente identificada pela Reação em Cadeia da Polimerase (PCR), seguida de sequenciamento do DNA ou digestão com uma enzima de restrição apropriada. Este último é o método utilizado no diagnóstico pré- natal das doenças falciformes, ou em alguns casos de difícil diagnóstico pela eletroforese de hemoglobinas. É importante ressaltar que é quase sempre indispensável para o diagnóstico correto das síndromes falciformes o estudo de todos os familiares disponíveis. Todos os recém-nascidos de grupos populacionais onde frequência da mutação para HbS é elevada devem ser submetidos à triagem neonatal para detecção de doença falciforme. Os procedimentos laboratoriais para o diagnóstico em amostras de recém-nascidos devem separar com segurança a HbF das outras hemoglobinas. O teste pode ser realizado em sangue de cordão umbilical ou amostras de sangue venoso coletado em papel de filtro, podendo ser utilizada a mesma estratégia de coleta de amostras para outros testes neonatais, como de fenilcetonúria e de hipotireoidismo congênito (“testes do pezinho”). As técnicas comumente utilizadas são a focalização isoelétrica ou cromatografia líquida de alta performance. Os níveis de hemoglobina em pacientes na fase estável da anemia falciforme variam entre 6 a 10 g/dL. Em geral, a anemia é normocrômica e normocítica, embora os níveis de reticulócitos sejam elevados (entre 5 e 20%). Ocasionalmente podem ser observados eritroblastos circulantes. É sempre importante estabelecer os valores hematológicos basais para cada paciente, pois esses valores permanecem relativamente estáveis em um deles, mas variam grandemente em diferentes pacientes. Valores reduzidos de VCM indicam S/β talassemia ou associação comα-talassemia. Ocasionalmente, pode ocorrer deficiência de ferro em pacientes com doenças falciformes, que também pode levar à hipocromia e à microcitose. As clássicas hemácias em forma de foice são caracteristicamente observadas nas doenças falciformes, embora outras formas aberrantes possam também ser visualizadas. Em recém-nascidos poucas células falcizadas podem ser observadas, devido à elevada porcentagem de HbF. Após o primeiro ano de vida, as células falcizadas tornam-se mais evidentes. Hemácias em alvo também podem aparecer, principalmente na S/βtalassemia e na hemoglobinopatia SC. Com a redução na função esplênica, podem ser identificados corpos de Howel- Jolly. A hipofunção esplênica pode ser avaliada também pela contagem de inclusões intracelulares observadas por microscopia de contraste de interferência (quantificação de hemácias com pits). Os clássicos dados laboratoriais de hemólise estão presentes: elevação de bilirrubina indireta, redução de haptoglobina sérica, elevação de urobilinogênio urinário e hiperplasia eritroide na medula óssea. Frequentemente, há leucocitose, às vezes com desvio à esquerda, alteração quenem sempre está relacionada a processo infeccioso, podendo ser observada mesmo na fase estável. A contagem de plaquetas está em geral elevada, podendo atingir até 1.000.000/μL. Provavelmente, tanto a leucocitose quanto a trombocitose estão associadas à hiperplasia de medula óssea em pacientes com hipofunção esplênica, além do estado inflamatório crônico. As provas de coagulação são normais durante a fase estável, mas, durante os episódios vaso-oclusivos, alguns testes podem apresentar alterações características de hipercoagulabilidade. A velocidade de hemossimentação está, geralmente, baixa, não sendo parâmetro útil nas doenças falciformes, pois as hemácias falcizadas dificilmente formam os grupamentos que facilitam a sedimentação. Nos pacientes não submetidos a transfusões crônicas, os níveis de ferritina são inicialmente normais, podendo apresentar discreta elevação após a terceira década de vida. Ao contrário, nos pacientes submetidos a transfusões repetidas, esses níveis são elevados, podendo ocorrer hemocromatose secundária. Muitas vezes, é necessária a terapia com quelantes de ferro, embora as lesões orgânicas sejam menos acentuadas que aquelas observadas nos pacientes com β-talassemia. TRATAMENTO Pacientes com doenças falciformes devem, sempre que possível, ser acompanhados regularmente em serviços especializados (Centros de Atenção a Doenças Falciformes) com a presença de equipes multidisciplinares (médicos, psicólogos, enfermeiros, assistentes sociais e fisioterapeutas). Desse modo, os objetivos básicos da terapêutica consistem no tratamento das complicações específicas e em cuidados gerais da saúde. Além dos cuidados gerais para acompanhamento do crescimento, desenvolvimento somático e psicológico, e tratamento específico de lesões orgânicas (como colecistopatia, úlceras de pernas, osteomielite etc.), o tratamento a longo prazo apoia-se em: a) Suplementação com ácido fólico (5 mg/dia), deve ser sempre realizada devido à hiperplasia eritropoética; b) Uso de medicamentos que promovem o aumento da hemoglobina fetal (como a hidroxiureia) em pacientes selecionados; c) Profilaxia de infecções; d) Tratamento das crises dolorosas vaso- oclusivas; e) Tratamento das demais crises agudas (aplásticas, sequestro esplênico, neurológicas, síndrome torácica aguda); f) e) tratamento das infecções. Aumento na síntese de hemoglobina fetal: Vários agentes farmacológicos são capazes de aumentara produção de hemoglobina fetal ou atuar na seleção de precursores eritrocitários que mantêm a habilidade de produzir HbF. Entre essas drogas, podem ser incluídas a 5-azacitidina, a Hidroxiureia (HU) e os derivados do butirato. A hidroxiureia é uma droga utilizada como quimioterápico no tratamento de neoplasias hematológicas, agindo por meio do bloqueio da síntese de ácidos nucleicos pela inibição da ribonucleotídeo redutase. O mecanismo exato pelo qual a HU aumenta a produção de HbF ainda não é completamente conhecido. Os efeitos benéficos, tanto clínicos como hematológicos, da hidroxiureia na anemia falciforme foram demonstrados de forma inequívoca no estudo multicêntrico MSH envolvendo 299 pacientes adultos. Os pacientes tratados com a droga mostraram redução de 50% na frequência de hospitalização e incidência de crises dolorosas, na frequência de síndrome torácica aguda e na necessidade transfusional. Outro estudo, com pacientes portadores de S-b-talassemia, demonstrou que a frequência e duração das internações foi reduzida. A segurança de seu uso em crianças a partir de seis meses de idade foi demonstrada em alguns estudos, tais como o HUG-KIDS e o BABY-HUG. Crises vaso-oclusivas: As crises agudas dolorosas são de difícil tratamento e a conduta adequada depende da gravidade da dor e da presença ou não de outras complicações concomitantes. As regras básicas no tratamento dessas complicações são: a) Procurar e tratar agressivamente o fator desencadeante, principalmente infecções; b) Hidratação adequada por via oral ou endovenosa; c) Utilização adequada de analgésico para aliviar a dor. Nos casos de dor leve ou moderada, o tratamento pode ser ambulatorial, mas muitos casos necessitam de internação devido à gravidade do episódio doloroso. Os analgésicos mais utilizados incluem paracetamol, ácido acetil-salicílico, dipirona e ibuprofeno. Frequentemente, são necessários opioides que incluem codeína, tramadol e morfina. O tipo de analgésico utilizado depende da gravidade do episódio doloroso: para crises leves, podem ser utilizados paracetamol, ácido acetilsalicílico, dipirona e ibuprofeno; nos casos moderados, sem resposta à medicação inicial, pode então ser associada codeína ou tramadol; nas crises dolorosas graves, deve ser administrada morfina. Há contraindicação relativa do uso de meperidina por alguns serviços em função de seu maior potencial de indução de dependência física a longo prazo, e redução do limiar convulsivo por seus metabólitos após uso por mais de 72horas, embora represente boa alternativa nas crises envolvendo vias biliares, por induzir menor espasmo de musculatura lisa. A seleção dos analgésicos apropriada deve ser feita com base na história prévia do paciente a terapêutica da dor. A ingestão hídrica diminui durante as crises dolorosas. Como a capacidade de concentrar urina está prejudicada, a perda de líquidos e desidratação podem ocorrer rapidamente. Desse modo, uma hidratação adequada deve ser instituída rapidamente e o balanço hídrico deve ser medido nos pacientes internados. Nesses casos, a hidratação deve ser endovenosa. Nos casos menos graves, em tratamento ambulatorial, a hidratação deve ser via oral. Os objetivos básicos da hidratação incluem correção da deficiência hídrica e de eletrólitos, manutenção da concentração sérica de eletrólitos e administração de um volume de fluidos (parenteral e oral) igual a uma vez e meia a necessidade diária. A escolha do tipo de hidratação depende do estado do paciente e dos valores dos eletrólitos. Para pacientes com crises não complicadas, a hidratação pode ser feita com glicose5% e salina normal em proporção 1:1. Para pacientes adultos, a quantidade indicada é de 3 litros/dia se a função cardíaca for normal, ao passo que em crianças depende do peso do paciente. Esse tipo de hidratação deve ser acompanhado com cuidado para evitar insuficiência cardíaca congestiva ou desequilíbrio eletrolítico iatrogênico. Tratamento das infecções: A conduta global relacionada às infecções em pacientes com doenças falciformes incluem: a) imunização para prevenir infecção; b) penicilina profilática; e c) tratamento adequado do paciente com febre. Crianças com doenças falciformes apresentam produção normal de anticorpos após vacinação e devem receber todas as imunizações recomendadas para uma criança normal. Além disso, devem ser imunizadas contra pneumococo, pela asplenia funcional. Todas as crianças com doenças falciformes devem receber penicilina profilática com início aos dois ou três meses deidade, mantida continuamente até pelo menos os cinco anos de idade. Adicionalmente, em locais onde a disponibilidade de acesso a serviços médicos seja limitada, a profilaxia com penicilina após os cinco anos pode ser benéfica. A profilaxia pode ser feita com penicilina oral ou com penicilina benzatina a cada 21 dias. Os benefícios desse tratamento são tão significativos, que em todas as populações em que a frequência do gene βs for elevada, devem ser realizados programas de e início do tratamento profilático o mais cedo possível. Febre em pacientes com doenças falciformes deve sempre ser considerada um problema grave e potencialmente fatal. Nunca deve ser presumido que o paciente tem uma doença viral. A avaliação deepisódios febris inclui anamnese e exame físico cuidadosos, exame hematológico com contagens diferenciais, estudos bacteriológicos incluindo culturas de sangue, de urina e de secreção de orofaringe, punção liquórica se houver suspeita de meningite e radiografia de tórax. Antibioticoterapia sistêmica deve ser instituída rapidamente com fármacos que sejam efetivos contra S. pneumoniaee H. influenzae. A escolha do antibiótico apropriado para prosseguir o tratamento deve ser feita após identificação do organismo envolvido na infecção. Se os exames laboratoriais não revelarem infecção bacteriana, e o exame clínico também não conduzir à detecção de infecção, a antibioticoterapia pode ser suspensa após três dias. No entanto, o paciente deve ser cuidadosamente observado por pelo menos mais 24 a 48 horas. O tratamento da síndrome torácica aguda inclui antibioticoterapia agressiva com drogas de atividade ampla contra germes gram-negativos e gram- positivos (associação de penicilina se macrolídeos, ou fluoroquinolonas, por exemplo), oxigênio inalatório se saturação abaixo de 92%, transfusões simples nos casos moderados ou transfusão de substituição nos casos graves. Terapêutica transfusional: Pacientes com anemia falciforme toleram bem a anemia crônica e necessitam de transfusões somente em circunstâncias especiais, como, por exemplo, crise de sequestro, AVC, crise aplástica, preparação para cirurgia, gravidez, hipóxia com síndrome torácica aguda e priapismo. Nos casos de crises de sequestro e crise aplástica, transfusões simples são necessárias para restaurar a massa sanguínea circulante e garantir uma oferta adequada de oxigênio aos tecidos. Nas outras situações, transfusão de substituição é provavelmente mais adequada que transfusão simples, pois reduz a viscosidade que poderia ser causada por elevação do hematócrito. No entanto, esse é ainda um assunto controverso. Um estudo cooperativo mostrou que em situações pré- cirúrgicas, transfusões simples apresentam resultados favoráveis quando comparados à transfusão de substituição. Na indicação de regime transfusional na anemia falciforme, em geral, o objetivo deve ser manter o nível de HbS abaixo de 30%. Nesses casos, deve ser lembrado que o acúmulo de ferro é inevitável, e pode ser tratado com quelantes de ferro, por via parenteral com desferoxamina, ou via oral com deferiprone ou deferasirox. Além disso, devem ser avaliados todos os riscos inerentes às transfusões sanguíneas, tais como reações transfusionais, transmissão de patógenos e, especialmente, aloimunização. Redução de 60 a 80% nas células falciformes circulantes pode ser atingida em crianças com anemia falciforme em 6a 12 horas pela troca de duas vezes a massa de hemácias (2×volume sanguíneo × hematócrito). Nos centros em que for disponível separador automático de células, a transfusão de substituição (2 volumes) pode ser feita em 90 minutos. Um estudo demonstrou inequivocamente que um regime de transfusão sanguínea que mantenha o nível de HbS abaixo de 30% reduz enormemente o risco do primeiro episódio de AVC em crianças com Doppler Ultrassonográfico Transcraniano(DTC) alterado. Esse procedimento deve ser aplicado rotineiramente para todos os pacientes com anemia falciforme. Em resumo: É realizado com hidratação, combate a dor e oxigenoterapia. Como as crises hemolíticas são desencadeadas por infecção, são realizados exames clínicos e laboratoriais que permitem localizar os órgãos comprometido e isolar o germe responsável pela infecção, é feita antibiótico terapia. [4]. Utiliza- se vacina polivalente pneumocócicas, principalmente em crianças, e recomenda-se antibioticoterapia preventiva com penicilina em casos de ausência total da função esplênica, pois em crises hemolíticas o baço se torna hipofuncional por obstrução vascular. Uma boa hidratação, o combate a acidose e a manutenção de uma boa diurese são importante durante as crises hemolíticas [4]. As transfusões de hemácias são feitas quando o indivíduo tem aplasia medular ou uma anemia acentuada. 4. ELUCIDAR AS PRINCIPAIS CAUSAS DE FALSO ABDOME AGUDO O falso abdome agudo não é um quadro incomum. Tabes dorsalis, saturnismo, herpes zoster, infarto agudo do miocárdio são alguns exemplos de condições que podem cursar com sintomas que se confundem com apendicite, úlcera perfurada ou até colecistite. Muitas laparotomias brancas já foram realizadas repetidamente sem que se encontrasse nenhuma evidência de patologia cirúrgica, e, com achados laboratoriais a posteriori de cetoacidose diabética. Desta forma, para evitar a realização de procedimentos invasivos desnecessariamente, deve- se atentar para essa possibilidade diagnóstica. METABÓLICAS CARDIOVASCULARES E PULMONARES HEMATOLÓGICAS INFECCIOSAS GASTROINTESTINAIS 1) METABÓLICAS Cetoacidose diabética: Pode muitas vezes se apresentar como um quadro de apendicite aguda. Em ambos, o paciente cursa com dor abdominal, febre e leucocitose. O que pode ajudar a diferenciar é uma sutil diferença na ordem de apresentação dos sintomas. Na apendicite em geral, os vômitos sucedem a dor abdominal, já na cetoacidose os vômitos se apresentam primeiro. Outro ponto que merece destaque é a contagem de leucócitos que costuma ser maior na acidose, principalmente em crianças. Obviamente, caso o paciente não apresente melhora dos sintomas a despeito da instituição de tratamento para a cetoacidose, devemos procurar uma causa intra-abdominal que justifique a apresentação clínica refratária. Não podemos excluir a possibilidade dos dois diagnósticos se superporem, nesse caso ambos os tratamentos devem ser adotados simultaneamente. Tétano: A ocorrência de dor abdominal não é bem estabelecida. Felizmente, não há muitos casos dessa doença nos dias de hoje, porém esse diagnóstico diferencial deve permanecer na mente. A dor abdominal associada a abdome em tábua ao exame físico são sinais e sintomas tão importantes na tetania que há relatos de realização de laparotomia por suspeita de úlcera gástrica perfurada. Observe a tabela abaixo para guardar algumas dicas para diagnóstico diferencial entre abdome agudo e causas metabólicas de dor abdominal: 2) CARDIOVASCULARES E PULMONARES Causas cardíacas: Angina, IAM, Pericardite; Causas embólicas ou trombóticas: Oclusão mesentérica, Endocardite, Policitemia; Causas intra-abdominais: Panarterite nodosa, Dissecção de aneurisma de aorta, Angina abdominal. Causas pulmonares: TEP, pneumonia. Infarto agudo do miocárdio: A relação entre condições cardiológicas e dor abdominal é bem conhecida. Coronariopatias podem se apresentar com dor epigástrica intensa, dificilmente diferenciada de um abdome agudo. O infarto da parede inferior pode confundir ainda mais por gerar mais sintomas gastrointestinais. Entretanto, a dor é de forte intensidade e descrita pelos pacientes como insuportável. O quadro em geral não passa de 30 minutos de duração. Alterações eletrocardiográficas são de grande ajuda nesses casos, diminuindo os falsos positivos e evitando que laparotomias sejam feitas nesses casos. Entretanto, cabe ressaltar que alguns pacientes com síndrome coronariana aguda podem não apresentar alterações no eletrocardiograma. Dosagem de marcadores de necrose miocárdica nesses casos pode ajudar no esclarecimento diagnóstico. Panarterite nodosa: Polineurite, polimiosite, hematúria e nefrite são sintomas que podem contribuir no diagnóstico diferencial de causas de abdome agudo e panarterite nodosa; uma vez que essa doença apresenta sintomas gastrointestinais que podem confundir até os mais experientes. Aqui, cólicas abdominais, sinais de irritação peritoneal, anorexia, vômitos e até hemorragia gastrointestinal podem sobrevir.Endocardite: A dor abdominal, principalmente localizada no hipocôndrio esquerdo devido o desenvolvimento de periesplenite por infarto esplênico, podem ocorrer em casos de endorcadite aguda. Êmbolos sépticos podem causar infartos por todo trato intestinal. A tabela abaixo resume algumas dicas de investigação diagnóstica para causas cardiovasculares e pulmonares que podem confundir com abdome agudo 3) HEMATOLÓGICAS Esplenomegalia: Dor abdominal pode ser o primeiro sinal de esplenomegalia, logo das doenças que a causam como leucemia, amiloidose e linfoma de Hodgkin, por exemplo. O infarto esplênico e a periesplenite justificam dor intensa localizada em hipocôndrio esquerdo. Anemia falciforme: Os eventos embelecos e trombóticos gerados por oclusão das hemácias em forma de foice justificam a dor abdominal desse quadro. O frio, menstruação, estresse, alcoolismo podem desencadear esses quadros agudos, além de infecção. Este último fator causal nos chama atenção para possibilidade de sobreposição de quadros de abdome agudo e crises álgicas de anemia. Não podemos esquecer também da colelitíase, causa de cólica biliar, muito frequente nesses casos de anemia hemolítica. Púrpura: Púrpuras, urticárias e eritema podem se associar a dor abdominal severa na Púrpura de Henoch Schonlein. 50% dos casos apresentam dor abdominal associada com febre. 4) INFECCIOSAS Muitas doenças infecciosas são caracterizadas pela evolução com dor abdominal intensa, além de náuseas e vômitos Gripe causada pelo influenza; Febre tifoide e febre paratifoide; Poliomielite; Malária; Disenteria bacteriana e amebiana; Tabes dorsalis; Febre Reumática Acidentes com animais peçonhentos Febre reumática: Em sua fase aguda pode se apresentar com dor abdominal e sinais de irritação peritoneal, associados com febre e leucocitose. Malária: Cursa com náuseas, vômitos, febre e dor abdominal associados a esplenomegalia e anemia, neste caso sem sinais de irritação peritoneal. A dor abdominal aqui se justifica por oclusões microvasculares, bem como sequestro de hemácias. Em geral, o quadro álgico é de curto prazo. As complicações possíveis que podem ser geradas são: infarto e ruptura esplênica, hemorragia gastrointestinal, colecistite alitiásica. Picada de aranha: Acidente cada vez mais frequente, já confundiu muitos cirurgiões experientes, levando a realização de inúmeras laparotomias brancas. Dor muscular, principalmente na área da picada, logo se estende pelo corpo, tornando-se mais intensa no abdome que logo se associa a rigidez e espasmo muscular, que pode confundir com o abdome em tábua de uma úlcera perfurada. Poliomelite: Não raro cursa com dor abdominal, náuseas e vômitos, simulando apendicite. Amebíase: Evolui com dor abdominal vaga, o que pode se manter por muitos meses. Quadros tardios que podem constituir diagnóstico de abdome agudo pelo quadro álgido mais intenso e até febre. Os parasitas podem inclusive gerar obstrução do lúmen de alças intestinais, e porque não do próprio apêndice 5) GASTROINTESTINAIS Colangite; Gastroenterite; Triquiníase; Saturnismo; Parasitas intestinais Triquiníase: Os vômitos e as cólicas abdominais características da triquiníase simulam um abdome agudo inflamatório. A dor neste caso é causada pelos cistos da larva localizados nos músculos da parede abdominal ou no diafragma. A triquinose é uma infecção parasitária causada pelo parasita Trichinella spiralis, que pode estar presente na carne crua ou mal cozinhada de porco ou de animais selvagens, como javali, por exemplo. Os sintomas se instalam após o consumo da carne de porco contaminada, de forma aguda e repentina, algumas vezes associados até a hemorragia intestinal. Atente para o período de incubação que varia entre cinco e 20 dias. Saturnismo: A intoxicação por chumbo cursa com dor abdominal, peri-umbilical, em geral meses após uma história de exposição ao metal. Há também outras causas, como: Drogas Doenças que acometem parede abdominal: neuralgia intercostal, herpes zoster; Trauma; Cálculo renal; Histeria 5. ABORDAR A IMPORTÂNCIA DO ACONSELHAMENTO GENÉTICO NAS DOENÇAS FAMILIARES O Aconselhamento Genético, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), diz respeito a um esclarecimento de ordem genética, que visa a prevenção de genótipos responsáveis por enfermidades e/ou defeitos congênitos, por meio da identificação prospectiva ou retrospectiva das uniões que sejam capazes de produzir tais alterações. Segundo Brunoni (2002), a definição fornecida pela American Society of Human Genetics (Epstein, 1975) é uma das mais aceitas na atualidade por abranger também a comunicação dos problemas relacionados à ocorrência ou ao risco de ocorrência de uma doença genética numa família. Esta definição destaca a necessidade de uma equipe multidisciplinar de profissionais, preparados para aconselhar o paciente e/ou sua família quanto ao diagnóstico, ao curso da doença, às condutas disponíveis, à influência da hereditariedade, ao risco de recorrência na família e às alternativas para este risco, à tomada de decisão de acordo com os padrões éticos e religiosos pessoais da família e ao ajustamento a tal situação nova que lhes foi imposta. Este tipo de aconselhamento tem como objetivo ser um serviço primordialmente assistencial e educativo, ao permitir que indivíduos ou famílias estejam hábeis para tomar decisões consistentes e psicologicamente equilibradas a respeito da procriação. Desta forma, o aconselhamento genético também pode exercer função preventiva, à medida que depende de opções livres e conscientes dos casais que apresentam a possibilidade de gerar filhos com alterações genéticas. No serviço de aconselhamento genético (SAG) os indivíduos são conscientizados da situação de possibilidade de alteração genética de si mesmos e/ou de seus descendentes, sem serem privados do direito de decisão reprodutiva. Sendo assim, o profissional, que fornece o aconselhamento genético, não pode recomendar, sugerir, indicar ou exigir condutas aos pacientes atendidos por ele. As decisões dos aconselhandos devem ser totalmente livres e pessoais, devendo ser isentas de qualquer influência por parte dos profissionais ou das instituições. Assim, é válido salientar que esse esclarecimento deve ser baseado no princípio da neutralidade do profissional em relação às decisões dos clientes. A maioria dos pacientes e das famílias acometidos de doenças genéticas ou influenciados pelos genes desconhece amplamente a condição médica que possuem, além de não terem seus casos investigados de maneira adequada para evidenciar os fatores genéticos envolvidos. Desse modo, além de todo o suporte médico que as afecções genéticas exigem, é preciso que o paciente e a família obtenham suporte psicológico para conviver com todas as possíveis mudanças que necessitarão ser implementadas em suas rotinas, além de lidar com sentimentos decorrentes dessa situação. um serviço eficiente de Aconselhamento Genético deve incluir análise técnica de riscos genéticos, como a descrição biológica da gravidade da anomalia genética; seus efeitos orgânicos (morfológicos e funcionais); sua letalidade e o provável prognóstico, considerando um dado indivíduo ou uma dada população; análise e atendimento das implicações psicossociais da anomalia para o paciente; compreensão de conflitos psicológicos dos familiares do paciente e da respectiva assistência psicológica indicada Algumas medidas tomadas pelos profissionais, que atuam na área, podem trazer benefícios às pessoas que buscam aconselhamento genético, tais como: a) A identificação de indivíduos normais (critério normativo) e de indivíduosportadores de genes anômalos; b) A compreensão do diagnóstico, o provável curso da doença e as condutas disponíveis; o tratamento médico e o atendimento clínico integral de indivíduos portadores e afetados por transtornos genéticos; c) A orientação dos portadores quanto ao modo como a hereditariedade contribui para a doença e quanto ao risco de recorrência (riscos de gerarem descendentes afetados geneticamente); d) O entendimento das alternativas para lidar com o risco de recorrência; e) A escolha do curso de ação que pareça apropriado em virtude do seu risco, dos objetivos familiares, dos padrões éticos e religiosos, atuando de acordo com essa decisão; f) O ajustamento, da melhor maneira possível, à situação imposta pela ocorrência do distúrbio na família, bem como à perspectiva de recorrência do mesmo; g) A reabilitação psicossocial do paciente, visando seu ajuste psíquico, social e profissional; h) O atendimento e o acompanhamento psicológico do paciente, portador de doenças genéticas, de seu grupo familiar e a contribuição e o estímulo às discussões éticas que envolvem o planejamento e a manipulação de material genético em humanos e não-humanos A partir da Portaria 81/09 do Ministério da Saúde, o SUS oferece aconselhamento genético a todas as pessoas e a famílias com risco de desenvolver doenças geneticamente determinadas ou anomalias congênitas. Além dos atuais 18 procedimentos relacionados à genética, incluídos na tabela do SUS, são oferecidos procedimentos de três grupos de problemas que concentram mais de 80% do total de agravos em genética clínica. Esses três grupos são: 1) Anomalias genéticas (palato fendido, defeitos do tubo neural, pé torto, luxação no quadril e amputação parcial); 2) Erros inatos do metabolismo, como intolerância à lactose e alterações na produção de enzimas, como fenilcetonúria (doença em que o paciente não metaboliza o aminoácido fenilalanina e que pode provocar retardo mental); 3) Deficiências mentais (por exemplo, síndrome de down). O processo de SAG envolve não somente decisões reprodutivas futuras, mas sim como lidar com o que ocorreu, ou seja, como as pessoas devem ser ajudadas a se ajustar com a doença de seu familiar ou com sua própria doença ou, ainda, com os riscos de ocorrência/recorrência, sendo este um complexo processo psicossocial de ajuste a inúmeras variáveis, como experiências prévias com a doença, personalidade, motivação, educação, valores, cultura, família No entanto, a portaria que prevê o oferecimento do Serviço de Aconselhamento Genético, pelo SUS, não inclui o profissional da Psicologia na equipe multidisciplinar, desconsiderando a relevância de seu trabalho neste tipo de aconselhamento. A atuação da Psicologia no Serviço de Aconselhamento Genético se justifica, levando-se em consideração que as informações prestadas ao SAG não são neutras do ponto de vista psicológico: a ocorrência da doença genética em uma família desencadeia um processo de perda ou de sofrimento e as pessoas terão de lidar com os sentimentos provenientes desta situação.
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