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1 TUTORIAL 5 FADIGA, PERDA DE PESO E ANEMIA 1. Definir a síndrome clínica de anemia e suas manifestações gerais; A anemia é definida como síndrome caracterizada por diminuição de massa eritrocitária total. Por definição, o termo anemia traduz um estado em que a concentração de hemoglobina se encontra abaixo dos limites normais, frequentemente acompanhado de queda do hematócrito e da contagem de hemácias no sangue. Síndrome Anêmica: Dispneia aos esforços; dispneia em repouso; fadiga; pulso fino; palpitações; claudicação; palidez cutânea. Com evolução, em quadros mais graves, para letargia, confusão mental e crises de angina, podendo causar infarto agudo do miocárdio. Quadro agudo: Anemia induzida por sangramento agudo está associada a complicações decorrentes da perda volêmica, apresentando sintomas precoces de fadiga e cãibra muscular, evoluindo com hipotensão e tonteira postural, podendo causar pré-síncope e síncope, e, em quadros graves, hipotensão e choque hipovolêmico. As síndromes anêmicas podem ser classificadas quanto à proliferação (pelo índice de reticulócitos) e quanto à morfologia (pela ectoscopia da hemácia ou valores de VCM e HCM). Os pacientes anêmicos geralmente procuram cuidados médicos devido à (1) sinais e sintomas da doença de base, independente da anemia; (2) sinais e sintomas decorrentes da anemia; ou (3) as duas situações juntas. Os principais sintomas decorrentes da anemia são: o Dispneia aos esforços o Palpitações, taquicardia o Diminuição da tolerância aos esforços o Cansaço evidente, indisposição (astenia) o Tontura postural o Cefaleia o Descompensação de doenças cardiovasculares (ICC, Angina) o Descompensação de doenças cerebrovasculares o Descompensação de doenças respiratórias No geral, os sintomas do quadro anêmico provêm do prejuízo na capacidade carreadora de oxigênio do sangue, predispondo à hipóxia tecidual e estimulando o coração a aumentar o débito cardíaco de forma compensatória. Exame físico Síndrome anêmica: Taquicardia, dispneia, hipotensão postural, B1 hiperfonética e sopro sistólico de ejeção em borda esternal ao exame cardiovascular, palidez cutânea (embora seja um achado extremamente inespecífico e pouco sensível). Icterícia: Pode estar presente, sugerindo um quadro de anemia hemolítica. No entanto, também é um achado pouco sensível e pouco específico. Achados de doença hematológica: Pesquisar a presença de linfadenomegalia, hepatoesplenomegalia e sensibilidade óssea à palpação, que podem sugerir diagnóstico de doença hematológica, com infiltração de medula óssea (como leucemia mieloide crônica) ou lesões líticas (mieloma múltiplo). A presença de petéquias, equimoses e sinais de sangramento podem sugerir trombocitopenia ou distúrbios de coagulação. Causas As causas de anemias podem ser (1) por deficiência de vários nutrientes (Anemias Carenciais, como ferropriva e megaloblástica), como Ferro, Zinco, Vitamina B12 e proteínas, (2) por ativação imune aguda ou crônica (Anemias Inflamatórias ou de Doenças Crônicas), (3) por defeito quantitativo na produção das cadeias de globina (Talassemias), (4) por falha na ativação do grupo Heme (Anemia sideroblástica, hereditária ou adquirida), (5) por substituição do tecido hematopoético por gordura (Anemia Aplásica), (6) por sangramento agudo (Anemias Hemolíticas), (7) por desregulação endócrina (Anemia das Doenças Endócrinas), (8) por defeito na síntese de DNA (Anemia megaloblástica). Porém, a Anemia causada por deficiência de Ferro, denominada Anemia Ferropriva, é muito mais comum que as demais, seguida pela anemia de doenças crônicas. http://petdocs.ufc.br/index_artigo_id_112_desc_Cl%C3%ADnica_pagina__subtopico_29_busca_ http://www.me.ufrj.br/images/pdfs/protocolos/obstetricia/anemias.pdf https://pebmed.com.br/anemia-voce-sabe-reconhecer-os-sinais-e-sintomas/ 2. Interpretar os parâmetros do hemograma em casos de anemia; A concentração de hemoglobina normal é de 12,0-16,0g/dl para mulheres e de 13,5-17,7 para homens. Laboratorialmente, definimos anemia como hemoglobina menor que 12 g/dl em mulheres ou 13 g/dl em homens. http://petdocs.ufc.br/index_artigo_id_112_desc_Cl%C3%ADnica_pagina__subtopico_29_busca_ http://www.me.ufrj.br/images/pdfs/protocolos/obstetricia/anemias.pdf https://pebmed.com.br/anemia-voce-sabe-reconhecer-os-sinais-e-sintomas/ 2 TUTORIAL 5 FADIGA, PERDA DE PESO E ANEMIA O hematócrito é a fração volumétrica ocupada pelos eritrócitos no sangue, obtido através do processo de centrifugação. De uma forma geral, o valor do hematócrito está em torno de 3 vezes o valor da hemoglobina, sendo normal o intervalo entre 36-48% nas mulheres e 40-52% nos homens. A dosagem de hemoglobina possui maior acurácia quando comparada ao hematócrito e à contagem de hemácias, devendo, portanto, ser a medida de escolha para o diagnóstico de anemia. Uma vez que a suspeita de anemia foi confirmada com o nível reduzido de hemoglobina (menos de 13,5g/dL em homens e de 12,0g/dL em mulheres, com variações entre laboratórios), observa-se o VCM, isto é, o volume corpuscular médio. Caso dentro do normal (80 a 100 fL), trata-se de uma anemia normocítica. Caso acima, uma anemia macrocítica, e uma microcítica, se abaixo. Anemia microcítica – é a apresentação da deficiência de ferro, da talassemia e da doença crônica Anemia normocítica – na aplasia de medula, na infiltração medular, nas neoplasias, nos processos inflamatórios, nas doenças renais, nas doenças metabólicas (hipotireoidismo), na insuficiência adrenal, na cirrose, na AIDS, na ICC e em infecções pulmonares Anemia macrocítica – deficiência de vitamina B12 ou de ácido fólico, mielodisplasia, quimioterapia, doenças hepáticas, reticulocitose, mixedema. Tendo determinada essa característica essencial, pensa-se nos reticulócitos. Tratam-se de células eritrocitárias jovens, saídas recentemente da medula óssea. Sua presença serve como um marcador para o primeiro dia do eritrócito no sangue periférico. Assim, o aumento no seu número (que está entre 0,5% e 1,5% dos componentes sanguíneos) reflete a hiperatividade da reposição eritrocitária, sendo uma boa resposta à hipoxemia e à anemia. Assim, o fluxograma ajuda o raciocínio diagnóstico. Como interpretar o hemograma corretamente Diagnóstico de anemia: Caracterizada por hemoglobina < 13,5 g/dL e/ou hematócrito < 41 % em homens, e hemoglobina < 12,0 g/dL e/ou hematócrito < 36% em mulheres. Volume Corpuscular Médio (VCM): Considera-se normal de 80-100 fL. o < 80 fL = Microcitose: Anemia ferropriva; talassemias; anemia sideroblásticas; anemia de doença crônica (tardia); deficiência de cobre; o 80-100 fL = Normocitose: Anemia ferropriva (precoce); anemia de doença crônica; perda aguda de sangue; doença renal crônica; anemia aplásica e supressão medular; hipotireoidismo; hipopituitarismo; o >100 fL = Macrocitose: Abuso de álcool; deficiência de ácido fólico; deficiência de vitamina B12; reticulocitose (recuperação de anemias hemolíticas, carenciais e sangramentos); síndromes mielodisplásicas; leucemia mielóide aguda; hepatopatia crônica; medicamentos (ex.: zidovudina, hidroxiureia); hipotireoidismo; o >115 fL: Macrocitose > 115 fL é quase que exclusivamente causada por deficiência de vitamina B12 e/ou ácido fólico. Hemoglobina Corpuscular Média (HCM): Considera-se normal de 28-34 g/dL de hemácias. o < 28 = Hipocromia: Anemia ferropriva; talassemias; o >34 = Hipercromia: Costuma acompanhar macrocitoses. Concentração de Hemoglobina Corpuscular Média (CHCM): Considera-se normal de 31-36 g/dL de hemácias. o < 31: Anemia ferropriva; talassemias; o > 36: Esferocitose (hereditária ou adquirida); doença falciforme e hemoglobinopatia C. Reticulócitos: revela a atividade medular deprodução de eritrócitos, estando aumentado em estados hiperproliferativos e diminuído em estados hipoproliferativos: o Aumentados: Reflete uma resposta hematopoiética aumentada (hemólise contínua ou perda de sangue); o Diminuídos: Reflete uma resposta hematopoiética inadequada (anemia aplásica, invasão medular, infecção, quimioterapia e outras causas de supressão medulares). Série Branca: pode sugerir a causa diagnóstica subjacente: o Leucopenia: Pode sugerir anemia aplásica; o Leucocitose: Pode refletir presença de infecção, inflamação sistêmica ou neoplasia hematológica; o Monocitose: Pode refletir a presença de síndrome mielodisplásica; o Neutropenia: Pode ser consequente de tratamento quimioterápico; o Linfopenia: Pode ser consequente a infecção por HIV ou outros vírus. Plaquetas: https://pebmed.com.br/conheca-novas-recomendacoes-da-sbp-sobre-anemia-ferropriva/ https://pebmed.com.br/o-que-todo-clinico-deve-saber-sobre-anemia-aplasica/ 3 TUTORIAL 5 FADIGA, PERDA DE PESO E ANEMIA o Trombocitopenia: Pode sugerir: anemia aplásica, supressão medular, sepse, deficiência de vitamina B12 e ácido fólico, e hiperesplenismo; o Trombocitose: Pode refletir resposta medular, sugerindo: deficiência de ferro, anemia de doença crônica, sepse, neoplasia e doenças mieloproliferativas e mielodisplásicas. Exames o Hemograma com leucócitos e plaquetas o Índices de eritrócitos e morfologia o Contagem de reticulócitos o Esfregaço periférico o Às vezes, aspiração da medula e biópsia A avaliação laboratorial começa com hemograma completo (HC), como contagem de leucócitos e plaquetas, índices e morfologia de eritrócitos [volume corpuscular médio (VCM), hemoglobina corpuscular média [HCM], concentração média de hemoglobina corpuscular (CMHC), amplitude de distribuição de diâmetro dos eritrócitos (ADE)] e exame de esfregaço de sangue periférico. A contagem de reticulócitos mostra como a medula óssea reage à anemia. Testes subsequentes são selecionados com bases nesses resultados e na apresentação clínica. O reconhecimento dos padrões diagnósticos gerais pode agilizar o diagnóstico. Hemograma completo e índices hematimétricos O hemograma completo automatizado mede diretamente a contagem de hemoglobina, eritrócitos e leucócitos. e o número de plaquetas, além do volume corpuscular médio (volume corpuscular médio, uma medida do volume dos eritrócitos). Hematócrito (uma medida do percentual do sangue formado de eritrócitos), a hemoglobina corpuscular média (HCM, medida do teor de hemoglobina em cada eritrócito) e a concentração de hemoglobina corpuscular média (medida da concentração de hemoglobina em cada eritrócito) são os valores calculados. O critério diagnóstico de anemia é • Para homens: hemoglobina < 14 g/dL (140 g/L), hematócritos < 42% (< 0,42) ou eritrócitos < 4,5 milhões/mcL (< 4,5 × 10 12/L) • Para mulheres: hemoglobina < 12 g/dL, (120 g/L), hematócrito < 37% (< 0,37), ou eritrócitos < 4 milhões/mcL (< 4 × 1012/L) Em lactentes, os valores normais variam com a idade, sendo necessário o uso de tabelas relacionadas à idade (ver tabela Valores específicos à idade para hemoglobina e hematócrito ). As populações de eritrócitos são chamadas de microcíticas (células pequenas) se o MCV for < 80 fL e macrocíticas (células grandes) se o MCV for > 100 fL. Mas como os reticulócitos também são maiores que os eritrócitos maduros, um grande número de reticulócitos pode aumentar o VCM e isso não representa alteração na produção de eritrócitos. Técnicas automatizadas também podem determinar o grau da variação do tamanho dos eritrócitos, expresso como amplitude de distribuição do volume de eritrócitos (RDW). RDW alto pode ser a única indicação de distúrbios microcíticos e macrocíticos simultâneos; esse tipo de padrão pode resultar em MCV normal, o qual mede apenas o valor médio. O termo hipocromia refere-se às populações de eritrócitos em que a MCH é < 27 pg/eritrócito ou a CHGM é < 30%. As populações de eritrócitos com valores de MCH e CHGM normais são normocrômicas. https://www.msdmanuals.com/pt/profissional/pediatria/dist%C3%BArbios-hematol%C3%B3gicos-perinatais/anemia-perinatal#v1087357_pt 4 TUTORIAL 5 FADIGA, PERDA DE PESO E ANEMIA Índices hematimétricos podem ajudar a indicar o mecanismo da anemia e estreitar o número de causas possíveis. Os índices microcíticos ocorrem na síntese do heme ou de globina alteradas. As causas mais comuns são deficiência de ferro, talassemia e defeitos relacionados à síntese de hemoglobina. Em alguns pacientes com anemia da doença crônica , a MCV é microcítica ou microcítica limítrofe. Os índices macrocíticos acontecem com a insuficiência na síntese de DNA (p. ex., decorrente de deficiências de vitamina B12 ou folato, ou de fármacos quimioterapêuticos, como hidroxiureia e agentes antifolato), e no alcoolismo em razão de anormalidades da membrana celular. O sangramento agudo pode, rapidamente, produzir índices macrocíticos, pois libera-se grande número de reticulócitos jovens. Índices normocíticos ocorrem em anemias resultantes de produção deficiente de eritropoetina (EPO) ou resposta inadequada à EPO (anemias hipoproliferativas). A hemorragia antes de haver deficiência de ferro geralmente resulta em anemias normocíticas e normocrômicas, a menos que o número de reticulócitos grandes seja excessivo. Esfregaço periférico Esfregaço de sangue periférico é altamente sensível à produção excessiva de eritrócitos e hemólise. É mais preciso do que as tecnologias automatizadas para o reconhecimento da estrutura alterada de eritrócitos, trombocitopenia, eritrócitos nucleados ou de granulócitos imaturos e pode detectar outras anormalidades (p. ex., malária e outros parasitas, eritrócitos intracelulares ou inclusões de granulócitos) que podem ocorrer apesar da contagem automatizada normal das células sanguíneas. Lesão nos eritrócitos pode ser identificada pelo achado de fragmentos de eritrócitos, porções de células rotas (esquistócito) ou evidência de alterações significativas da membrana decorrentes das células com forma ovalada (ovalócitos) ou células esferocíticas. As células-alvo (eritrócitos finos com um ponto central de hemoglobina) são eritrócitos com insuficiência de hemoglobina ou excesso de membrana celular (p. ex., em razão de hemoglobinopatias ou distúrbios hepáticos). O esfregaço periférico também pode revelar variação na forma (poiquilocitose) e no tamanho (anisocitose) do eritrócito. Contagem de reticulócitos A contagem de reticulócitos é expressa como a porcentagem (variação normal de 0,5 a 1,5%) ou como a contagem absoluta (variação normal, de 50.000 a 150.000/mcL, ou de 50 a 150 a 10 9/L). A contagem de reticulócitos é um teste crucial na avaliação da anemia porque informa sobre a resposta da medula óssea e facilita a diferenciação entre uma eritropoiese (produção de eritrócitos) deficiente e uma hemólise (destruição de eritrócitos) excessiva como a causa da anemia. Por exemplo, valores mais altos indicam produção excessiva ou reticulocitose; havendo anemia, reticulocitose sugere destruição excessiva dos eritrócitos. O baixo número na presença de anemia indica a diminuição da produção de eritrócitos. Reticulócitos são mais bem visualizados quando o sangue é corado com uma corante supravital, mas, como a reticulina dos eritrócitos é composta por RNA, que só está presente nos eritrócitos jovens, eles terão uma aparência azulada em um esfregaço de sangue corado pelo método de Wright (policromatofilia ou policromasia), que pode fornecer uma estimativa aproximada da produção de reticulócitos em um esfregaço de sangue de rotina. Aspirado e biópsia da medula óssea Punção aspirativa e biópsia da medula óssea fornecem observação e avaliação diretasdos precursores do eritrócito. Maturação anormal (dispoese) das células sanguíneas e quantidade, distribuição e padrão celular do conteúdo de ferro podem ser avaliados. Normalmente, o aspirado e a biópsia da medula óssea não são indicados na avaliação da anemia só sendo realizados quando houver: o Anemia criptogênica o Alterações em mais de uma linhagem celular (ou seja, anemia e trombocitopenia ou leucopenia concomitantes) o Suspeita de doença primária da medula óssea (p. ex., leucemia, mieloma múltiplo, anemia aplástica, síndrome mielodisplásica, carcinoma metastático, mielofibrose) Análises citogênica e molecular podem ser realizadas no material aspirado em neoplasias hematopoiéticas ou outras neoplasias ou em lesões congênitas suspeitas de precursores de eritrócitos (p. ex., anemia de Fanconi). A citometria de fluxo pode ser feita na suspeita de estado linfoproliferativo ou mieloproliferativo para definir o imunofenótipo. Aspirado e biópsia da medula óssea não são tecnicamente difíceis e não comportam risco significativo de morbidade. Esses procedimentos são seguros e úteis quando houver suspeita de doença hematológica. Ambas podem ser normalmente feitas em um único procedimento. Em razão de a biópsia requerer profundidade óssea adequada, a crista ilíaca posterior (ou a anterior, menos comum) costuma ser utilizada. Outros exames para a avaliação da anemia A dosagem sérica de bilirrubina e desidrogenase lática (DHL) pode, algumas vezes, ajudar a diferenciar a hemólise da perda de sangue; ambas estão aumentadas na hemólise e normais na perda de sangue. Outros exames, como os níveis de vitamina B12 e folato, ferro e capacidade de fixação do ferro, são feitos dependendo da suspeita da anemia. Outros exames são discutidos em anemias específicas e distúrbios de coagulação. https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/hematologia-e-oncologia/abordagem-ao-paciente-com- anemia/avalia%C3%A7%C3%A3o-da-anemia https://www.msdmanuals.com/pt/profissional/hematologia-e-oncologia/anemias-causadas-por-eritropoese-deficiente/anemia-decorrente-de-doen%C3%A7a-cr%C3%B4nica https://www.msdmanuals.com/pt/profissional/hematologia-e-oncologia/anemias-causadas-por-eritropoese-deficiente/anemia-decorrente-de-doen%C3%A7a-cr%C3%B4nica https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/hematologia-e-oncologia/abordagem-ao-paciente-com-anemia/avalia%C3%A7%C3%A3o-da-anemia https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/hematologia-e-oncologia/abordagem-ao-paciente-com-anemia/avalia%C3%A7%C3%A3o-da-anemia 5 TUTORIAL 5 FADIGA, PERDA DE PESO E ANEMIA http://petdocs.ufc.br/index_artigo_id_112_desc_Cl%C3%ADnica_pagina__subtopico_29_busca_ http://www.me.ufrj.br/images/pdfs/protocolos/obstetricia/anemias.pdf https://pebmed.com.br/voce-sabe-interpretar-corretamente-o-hemograma/ 3. Entender a classificação fisiopatológica das anemias (hiperproliferativa, hipoproliferativa e secundária ao sangramento); Classificação fisiopatológica das anemias: 1. Anemias hipoproliferativas: diagnosticadas pela reticulocitopenia, resultam da baixa taxa de produção de hemácia. As causas mais comuns são: a) Deficiência nutritiva (em crianças e adultos) por falta de absorção, ingesta inadequada ou perda crônica (especialmente de ferro, folato e vitamina B12); b) Falta de estímulo com diminuição de hormônios estimulantes da eritropoese – EPO (disfunção renal), hormônio tireoidiano, androgênio; c) Doenças da célula-tronco (anemia aplásica, mielodisplasia) ou infiltração medular tumoral; d) Supressão medular: quimioterápicos, medicamentos; e) Anemia de doença crônica secundária a processos inflamatórios, infecciosos ou neoplásicos. 2. Anemias hiperproliferativas: diagnosticadas pela reticulocitose, ocorrem em razão da perda ou destruição excessiva dos eritrócitos, com resposta adequada da medula óssea. Hemólise é a destruição prematura de hemácias e pode ser de causa congênita ou adquirida. Essa classificação fornece a base fisiopatológica para explicar os diferentes tipos de anemia. A avaliação depende da capacidade de regeneração medular. É baseada na contagem de reticulócitos e é dividida em três grupos: 1. Por deficiência de produção ou hipoproliferativa: Contagem de reticulócitos abaixo de 50.000/ mmᶟ. Ocorre por acometimento primário ou secundário da medula óssea ou por falta de estímulo à eritropoiese (ex: eritropoietina), falta de ferro, vit. B12 e/ou ácido fólico. Podem acompanhar doenças inflamatórias, infecciosas e neoplásicas. 2. Por excesso de destruição ou hiperproliferativas: Típica das anemias hemolíticas, mas também pode ocorrer após perdas agudas de sangue. Sob estimulação máxima, a medula pode aumentar sua produção de 6 a 8 vezes, entretanto a sobrevida dos glóbulos vermelhos pode encurtar para 15-20 dias (compensação medular), levando a presença de reticulocitose, sem presença de anemia (estado hemolítico compensado). O estado de anemia hemolítico se estabelece quando a produção medular não é capaz de superar a taxa de destruição. Laboratorialmente anemia hemolítica se caracteriza por reticulocitose, ↑ bilirrubina indireta, ↑ desidrogenase lática, ↓ haptoglobina. Pode ocorrer por alterações intrínsecas dos eritrócitos (maioria genética) ou por agressões por agentes extrínsecos (malária, veneno, toxinas). Por perdas: Pode ser (A) aguda, como as anemias pós-hemorrágicas, em que há compensação pela medula caso estoques de Fe estejam preservados ou (B) crônica, que causam espoliação do Fe e, consequentemente, anemia por falta de produção. http://petdocs.ufc.br/index_artigo_id_112_desc_Cl%C3%ADnica_pagina__subtopico_29_busca_ http://www.me.ufrj.br/images/pdfs/protocolos/obstetricia/anemias.pdf https://pebmed.com.br/voce-sabe-interpretar-corretamente-o-hemograma/ 6 TUTORIAL 5 FADIGA, PERDA DE PESO E ANEMIA 4. Discutir a classificação morfológica das anemias e os exames laboratoriais pedidos; CLASSIFICAÇÃO MORFOLÓGICA Essa classificação é utilizada, na prática clínica, associada com a classificação fisiopatológica. Se baseia nos valores do VCM, porém não esclarece a causa da anemia, mas sim o aspecto morfológico dos eritrócitos presentes na circulação. 1. Microcíticas (VCM < 80fl): Diminuição da Hb dentro do eritrócito, o que torna as hemácias hipocrômicas e microcíticas. Geralmente ocorre por diminuição da síntese do grupo heme por deficiência de Ferro. Também ocorre nas talassemias (redução da síntese de globina), nas anemias sideroblásticas (acúmulo de Fe nas mitocôndrias), hemoglobinopatia C (mutação no gene da cadeia globina beta). 2. Macrocíticas (VCM > 100 fl): Hemácias de grande volume e, geralmente, hipercrômicas. Não necessariamente indica anemia. Causada muitas vezes pelo consumo de álcool, quimioterapia ou anemia perniciosa. São divididas em megaloblásticas, decorrentes de deficiência de vit. B12 e/ou ácido fólico, e não megaloblásticas, podendo ser decorrente de reticulocitose ou reticulocitopenia associada à hipotireoidismo, hepatopatia e aplasia de série vermelha. 3. Normocíticas (VCM 80-100 fl): Também são normocrômicas. Corresponde a maioria das anemias de doenças crônicas (que, eventualmente, podem ser microcíticas). Se tiver uma resposta medular inadequada, com reticulócitos baixos na presença de anemia, existe uma doença de base que afeta medula óssea, direta ou indiretamente, porque o normal é esperar por aumento dos reticulócitos, caso a medula esteja funcionando corretamente. Assim, pesquisar por doenças sistêmicas (IRC, doenças da tireoide, hepatopatias). Caso reticulopenia venha acompanhada de leucopenia e plaquetopenia, deve- -se suspeitar de doença da medula óssea (aplasia ou infiltração medular). Solicitar mielografia e biópsia de medula.7 TUTORIAL 5 FADIGA, PERDA DE PESO E ANEMIA SE LIGA! POR QUE A RETICULOCITOSE PODE LEVAR A GRANDES MACROCITOSES OU PODE SER NORMOCÍTICA? Porque os reticulócitos são maiores do que as hemácias maduras, mas isso só vai alterar o valor do VCM se a quantidade de reticulócitos no sangue periférico for suficiente para isso. A reticulocitose é como se fosse o mecanismo de compensação do corpo devido a hemólise. A reticulócitos é intensa em anemia hemolítica autoimune. Fonte: Anemias - Super material sanar flix 5. Estudar a epidemiologia, fatores de risco, manifestações clinicas, diagnóstico e tratamento da anemia falciforme; A doença falciforme, caracterizada pela alteração dos glóbulos vermelhos do sangue, fazendo-os ganhar a aparência de uma foice ou meia-lua. Causada por uma mutação da hemoglobina, pigmento responsável pela coloração do sangue e por transportar o oxigênio para os tecidos do organismo, a doença surge a partir da diminuição da quantidade de oxigênio no sangue. Quando isso acontece, os glóbulos vermelhos perdem a elasticidade e a forma arredondada característica. Também conhecida como anemia falciforme, a forma mais comum e grave da enfermidade impede a circulação do sangue e de oxigênio, resultando em várias complicações, entre elas: pele amarelada (icterícia), anemia, inchaço nos punhos e tornozelos, palidez e dores nas articulações são alguns dos sintomas. Por ser uma afecção genética, a falciforme não possui cura, somente tratamentos preventivos, por meio de aconselhamento genético e elaboração de planejamento familiar, além de tratamento das complicações da doença. A mutação genética nas hemácias é causa dessas complicações, pois, ao invés da forma de glóbulos, possuem formato de foice, o que ocasiona obstruções nos vasos sanguíneos, dificultando a circulação do sangue. Este fato acarreta lesões nos órgãos do indivíduo, desencadeando sintomas como: crises de dor; síndrome torácica aguda; febre; crise aplástica; crise de sequestração esplênica; complicações no fígado; vias biliares e icterícia; acidente vascular cerebral; úlcera de perna; infartos ósseos e problemáticas com a imunização devido à necessidade da retirada do baço. https://summitsaude.estadao.com.br/desafios-no-brasil/doenca-falciforme-tem-alta-prevalencia-entre-os-brasileiros/ Epidemiologia A mutação falciforme da hemoglobina se tornou mais prevalente na África equatorial, no Oriente Médio e na Índia há milhares de anos. Já no Brasil, a incidência da doença falciforme varia desde 1:13.500 nascidos vivos em Santa Catarina e no Paraná, chegando até 1:650 na Bahia. Estima-se que 25.000-30.000 brasileiros vivam hoje com doença falciforme. A doença falciforme é a enfermidade genética que mais prevalece no Brasile acomete cerca de 3.500 (três mil e quinhentas) crianças por ano ou 1:1000 (uma para cada mil nascidos vivos). Entre os estados brasileiros com maior incidência desta patologia genética encontram-se a Bahia, com proporção de 1:650 (um para cada seiscentos e cinquenta nascidos vivos); o Rio de Janeiro com 1:1.300 (um para cada mil e trezentos nascidos vivos); e, empatados com 1:1.400 (um para cada mil quatrocentos vivos), o Maranhão, Pernambuco, Minas Gerais e Goiás. https://summitsaude.estadao.com.br/desafios-no-brasil/doenca-falciforme-tem-alta-prevalencia-entre-os-brasileiros/ 8 TUTORIAL 5 FADIGA, PERDA DE PESO E ANEMIA https://brapci.inf.br/index.php/res/download/148335 https://www.sanarmed.com/resumo-anemia-falciforme-ligas Fatores de risco As causas da anemia falciforme são genéticas, acontecendo quando o doente herda dois genes com alterações na hemoglobina S, um do pai e o outro da mãe. Se o filho receber a mutação de apenas um deles, ele será portador do traço falciforme, porém não ficará doente. No Brasil, a maioria dos que apresentam a alteração no formato dos glóbulos vermelhos são afrodescendentes. Isso pode ser relacionado a um processo de seleção natural da evolução humana ocorrido no continente africano. O perfil genético mais suscetível à doença foi herdado dos africanos com essa característica que vieram para o Brasil na época da escravidão. Porém, com a miscigenação, a doença também pode ser observada em indivíduos pardos e brancos. https://summitsaude.estadao.com.br/desafios-no-brasil/doenca-falciforme-tem-alta-prevalencia-entre-os-brasileiros/ Manifestações clínicas 4.3.2.1 Quadro clínico As síndromes falciformes apresentam manifestações clínicas extremamente heterogêneas, variando de pacientes praticamente assintomáticos durante toda a vida àqueles que necessitam de internação hospitalar frequente desde a infância. Em geral, quanto maior a quantidade de HbS, mais grave a doença. Os homozigotos para HbS tendem a ter quadro clínico mais grave do que os pacientes com hemoglobinopatias SC, SD etc. A associação à persistência hereditária de HbF confere melhor prognóstico à doença, pois a HbF tem maior afinidade com o oxigênio, diminuindo a polimerização. A doença inicia-se normalmente após o sexto mês de vida, quando os níveis de HbF caem e as hemácias perdem a proteção dessa Hb. Inicia-se quadro de anemia hemolítica crônica, com icterícia e esplenomegalia (nos primeiros anos de vida). A esplenomegalia pode persistir por toda a vida entre os pacientes com doenças mistas, como na HbSC, PHHF e S-betatalassemia, porém, em indivíduos SS, a ocorrência frequente de infartos esplênicos por obstrução dos capilares leva à chamada autoesplenectomia (ou asplenia funcional), em que o baço se transforma em órgão residual cicatricial, com pouca ou nenhuma função. Isso provoca a redução da capacidade de opsonização e o aumento da suscetibilidade a infecções por germes capsulados, como pneumococo (Streptococcus pneumoniae), Haemophilus e Salmonella sp. Os episódios de infecção também podem ser facilitados pela disfunção de IgM e IgG, além de distúrbio na fixação do complemento e da opsonização – anomalias observadas nesses pacientes. Retardos de crescimento e de desenvolvimento e atraso da puberdade são bastante observados entre os falciformes, mas a patogênese é pouco conhecida. Nos 2 primeiros anos, um quadro clínico considerado característico é a chamada “síndrome mão-pé” ou dactilite, em que ocorrem edema, calor e rubor dos dedos das mãos e dos pés por infarto ósseo, com dor intensa, que deve ser abordada de forma semelhante às das crises álgicas dos adultos. A manifestação clínica mais característica é a chamada crise álgica ou vaso-oclusiva, em que as micro-obstruções vasculares, principalmente no interior dos vasos sanguíneos ósseos, levam a quadros isquêmicos difusos, com intensa dor e, eventualmente, febre baixa. As crises álgicas costumam ser deflagradas por quadros infecciosos, desidratação, exercício excessivo, mudanças bruscas na temperatura, hipóxia, estresse emocional, menstruação e ingestão de bebida alcoólica, mas muitas vezes não se encontra o motivo. Diante de um paciente com crise dolorosa, contudo, é sempre obrigatória a investigação de foco infeccioso. Esses episódios podem durar de horas a semanas e afetam, teoricamente, qualquer região do corpo, todavia parecem predominar em ossos e articulações. A dor é muito intensa, geralmente incapacitante, algumas vezes necessitando de hospitalização para analgesia parenteral. Crises repetidas com necessidade de internação (> 3/ano) têm correlação com pior sobrevida, sugerindo que esses episódios sejam responsáveis por lesões crônicas em órgãos-alvo. As úlceras perimaleolares ocorrem pelas micro-obstruções vasculares e podem cronificar-se, pois o déficit de perfusão local é mantido. Quase sempre se desenvolvem nos tornozelos, acima dos maléolos laterais e mediais; mais raramente, surgem na região prétibiale no dorso do pé. O início pode ser espontâneo ou subsequente a trauma, por vezes leve, como a picada de um inseto. https://brapci.inf.br/index.php/res/download/148335 https://www.sanarmed.com/resumo-anemia-falciforme-ligas https://summitsaude.estadao.com.br/desafios-no-brasil/doenca-falciforme-tem-alta-prevalencia-entre-os-brasileiros/ 9 TUTORIAL 5 FADIGA, PERDA DE PESO E ANEMIA A vaso-oclusão pode alcançar tecidos mais “nobres” e levar a acidentes vasculares cerebrais, infartos pulmonares e priapismo. O acidente vascular cerebral acomete mais as crianças e tende a ser recorrente, sendo necessárias medidas de profilaxia; não é comum em adultos. Infartos pulmonares subagudos e crônicos resultam em hipertensão pulmonar e cor pulmonale, sendo, muitas vezes, causas de óbito. As complicações renais mais comuns são secundárias a microinfartos renais, com hematúria dolorosa por infarto papilar; proteinúria e hipertensão (que podem ser tratadas pelo uso de inibidores da enzima conversora de angiotensina); necrose papilar; isquemia parenquimatosa que culmina em glomeruloesclerose segmentar e focal, e insuficiência renal crônica; diabetes insipidus nefrogênico; e alto risco para carcinoma medular renal. Também pode acontecer a chamada retinopatia proliferativa, similar à do diabetes mellitus, podendo levar à cegueira, além de oclusão da artéria retiniana, descolamento de retina e hemorragia, como complicações retinianas. Como complicação óssea, pode ocorrer a osteonecrose (necrose óssea isquêmica ou necrose asséptica) da cabeça do fêmur ou do úmero, além do favorecimento de osteomielite pela falha de perfusão óssea. Os agentes etiológicos mais frequentes da osteomielite na AF são Salmonella e Staphylococcus aureus. A hiperproliferação da medula óssea e os microinfartos ósseos podem levar a alterações crônicas, sendo a mais conhecida as vértebras “em boca de peixe”, em que elas apresentam aumento do espaço medular e adelgaçamento do córtex, com osteoporose. Também são citados o infarto da medula óssea (com reticulocitopenia e/ou pancitopenia) e a embolia gordurosa secundária ao infarto ósseo. Por sua vez, as complicações cardíacas, típicas da doença falciforme, são usualmente derivadas da circulação hiperdinâmica. Raramente, porém, ocorre crise vaso-oclusiva coronariana, ocasionando isquemia miocárdica. Hipertensão pulmonar e insuficiência cardíaca congestiva são, ainda, eventos possíveis. Finalmente, as complicações hepatobiliares são representadas pela formação de cálculos biliares. A hemólise crônica leva ao excesso de bilirrubina indireta, que tem como complicação comum colecistopatia calculosa por cálculos de bilirrubinato de cálcio. Alterações hepáticas podem, ainda, ser derivadas de vaso- oclusão naquele órgão, sobrecarga de ferro e infecções, sendo estas 2 últimas determinadas por politransfusões. Em resumo, os episódios repetidos e silenciosos de vaso-oclusão podem afetar virtualmente todos os órgãos. Outros tipos de “crises” que afetam tais pacientes estão descritas a seguir. a) Crise hemolítica Exacerbação da hemólise, com reticulocitose, diante de quadros infecciosos (em especial por Mycoplasma), crises álgicas, medicamentos e, raramente, associação da AF à deficiência de G6PD ou à esferocitose hereditária. Esse diagnóstico deve ser feito após a exclusão de todas as causas possíveis de piora da anemia. b) Crises hiperemolíticas Surgem quadros hemolíticos graves e súbitos, deflagrados por transfusão de sangue ou anemia hemolítica autoimune. A Hb póstransfusão é inferior à Hb pré-transfusão. Mesmo que a bolsa de sangue transfundida tenha sido compatível com antígenos negativos, desencadeia-se um processo de hemólise severa, intravascular, com hemoglobinúria, alteração da função renal, queda da Hb e reticulocitopenia (mecanismo pouco conhecido, talvez por destruição também dos reticulócitos). Nessa situação, deve-se evitar transfusão, manter hidratação vigorosa e usar corticoide ou imunoglobulina. c) Crises aplásicas Na AF, há redução importante na sobrevida dos eritrócitos (média de 17 dias), e qualquer supressão temporária na eritropoese pode resultar em anemia grave. Na crise aplásica, ocorre diminuição intensa e transitória da proliferação medular, com consequente queda importante nos níveis de Hb. Geralmente, é precedida por episódios infecciosos, e 70% dos casos decorrem de infecção pelo parvovírus B19, sendo os demais por outros agentes infecciosos, como Salmonella, Streptococcus ou vírus Epstein-Barr. A deficiência de folato também deve ser lembrada como possível fator causal, recebendo, então, a denominação de crise megaloblástica. Os pacientes podem apresentar fadiga, dispneia, febre, infecção respiratória alta e sintomas gastrintestinais. A reticulocitopenia é marcante, com valores < 1% (ou < 10.000/mm3, diferenciando-se do quadro clássico de reticulocitose em falcêmico). Embora a maioria dos quadros regrida espontaneamente, a transfusão de glóbulos vermelhos deve ser considerada entre pacientes sintomáticos. 10 TUTORIAL 5 FADIGA, PERDA DE PESO E ANEMIA Imunoglobulina intravenosa é o tratamento de escolha quando a aplasia é causada pelo parvovírus B19, que não apresenta remissão espontânea. d) Síndrome torácica aguda A Síndrome Torácica Aguda (STA) caracteriza-se por febre, dor torácica, hipoxemia e opacidade radiológica pulmonar nova. Queda no valor da Hb e na contagem de plaquetas pode preceder a alteração radiológica. Cerca de 50% dos pacientes com AF apresentam ao menos 1 episódio de STA no decurso da doença, sendo essa a segunda causa mais frequente de hospitalizações desses pacientes e a principal complicação em anestesias e cirurgias. A frequência é de 8,7 eventos/100 pacientes/ano, e a mortalidade é de 4 a 9%. A etiologia é multifatorial e pode incluir infecção, embolia gordurosa, hiper-hidratação, hipoxemia, microatelectasias. Sua gravidade varia de acordo com a idade do paciente; em crianças, a manifestação clínica é mais branda, e geralmente o fator desencadeante é uma infecção; em adultos jovens, predominam eventos trombóticos pulmonares que resultam em hipoxemia, hospitalização prolongada e alta taxa de mortalidade. Em cerca de 1 terço dos pacientes com STA, a radiografia simples de tórax pode estar normal inicialmente, e, dependendo da evolução, que pode variar de horas a dias, as anormalidades radiográficas podem acentuar-se, como infiltrado localizado, lobar ou difuso, unilateral ou bilateral e/ou derrame pleural. Como infarto pulmonar e pneumonia nem sempre são diferenciáveis à radiografia simples de tórax e à cintilografia de ventilação-perfusão, e como a arteriografia pulmonar com contrastes hipertônicos é contraindicada àqueles com AF, pelo alto risco de induzir alteração estrutural na Hb, a tomografia computadorizada de alta resolução tem sido sugerida como bom método para detecção de microêmbolos. Os principais diagnósticos diferenciais da STA são pneumonia, doença pulmonar vaso-oclusiva e isquemia coronariana nos pacientes mais idosos. Outras condições que podem simular a doença são Síndrome de Embolia Gordurosa (SEG) e infarto ósseo. A SEG geralmente está associada à dor óssea, alteração do nível de consciência, trombocitopenia, hipocalcemia e hiperuricemia; petéquias na conjuntiva e no tórax podem reforçar o diagnóstico. Acredita-se que a dor local provocada pelo infarto ósseo, principalmente das costelas, do esterno e das vértebras, possa resultar em hipoventilação, atelectasia, hipercapnia e hipoxemia. O tratamento consiste em manter o paciente euvolêmico, oxigenoterapia sempre que paO2 = 70 a 80 mmHg ou SatO2 < 92%, controle da dor, terapêutica transfusional para deixar a HbS < 30%, fisioterapia respiratóriapara evitar atelectasia, e antibioticoterapia empírica (macrolídeos e/ou quinolonas) para cobertura de Streptococcus pneumoniae, Mycoplasma pneumoniae e Chlamydophila pneumoniae. Para a prevenção da STA, pacientes com AF devem receber vacinas antipneumocócica e anti-influenza. A antibioticoterapia empírica também é recomendada aos indivíduos com suspeita de pneumonia adquirida na comunidade, visando cobrir os agentes mais comuns, que podem variar de acordo com a história, o quadro clínico, a idade e a presença de outras doenças de base. Hidratação com solução salina hipotônica deve ser utilizada para prevenir ou reverter a depleção de volume intravascular e diminuir a osmolaridade em crise de falcização. O programa transfusional crônico, visando reduzir a concentração de HbS para menos de 30%, pode ser útil na profilaxia em longo prazo, por meio da transfusão simples ou da eritrocitaférese, procedimento que consiste na troca automatizada do volume hemático, suficiente para deixar a HbS no valor desejado. e) Crises de sequestração ou sequestro esplênico No sequestro esplênico, há retenção de eritrócitos no baço levando à hipovolemia. No exame laboratorial, podem-se ter níveis de hemoglobina muito baixos (2 a 3 g/dL), reticulocitose intensa e, geralmente, diminuição de leucócitos e/ou plaquetas. e esplenomegalia. É causado por aprisionamento de eritrócitos no baço, podendo levar a choque hipovolêmico. Há associação ao parvovírus B19. Observam-se sintomas de hipovolemia, como taquicardia, palidez, taquipneia ou até hipotensão e choque; percebe-se, também, aumento do volume abdominal com esplenomegalia e dor no hipocôndrio esquerdo. O não atendimento imediato e eficaz pode, muitas vezes, levar a óbito em poucas horas. É mais frequente dos 3 meses aos 5 anos de idade e em pacientes com HbSC e HbS beta, em quem ainda há persistência do baço. O tratamento inicial consiste na correção da hipovolemia, com reposição de cristaloides e transfusão de glóbulos vermelhos. A transfusão deve ser feita com cuidado, visto que o sangue aprisionado no baço pode entrar na circulação novamente. A recorrência do quadro na infância é comum (50%), e a mortalidade pode chegar a 15%. A profilaxia da recorrência pode ser observação clínica ou esplenectomia, em razão de não haver consenso na literatura. Nos adultos, opta-se pela observação clínica, pois os episódios tendem a ser mais leves e com menor taxa de recorrência. f) Priapismo O quadro é definido como ereção involuntária com duração ≥ 4 horas, sustentada e dolorosa, em virtude da vaso- oclusão que obstrui a drenagem venosa do pênis. O priapismo prolongado é uma urgência médica e requer avaliação urológica, pois, se não tratado, pode causar disfunção erétil. A média de idade é de 12 anos, e, aos 20 anos, 89% já apresentaram 1 ou mais episódios. Os pacientes devem ser orientados a reconhecer o quadro, iniciar ingesta hídrica vigorosa e analgesia via oral, urinar com frequência (a bexiga cheia pode ser um fator desencadeante) e procurar atendimento médico de urgência. Outros fatores desencadeantes são infecção, desidratação, ingestão de drogas (álcool, cocaína, maconha, psicotrópicos) e traumatismo. O tratamento consiste em analgesia vigorosa e hidratação 11 TUTORIAL 5 FADIGA, PERDA DE PESO E ANEMIA parenteral, e a não regressão imediata do quadro após a terapêutica inicial indica aspiração do corpo cavernoso e irrigação com solução salina, com ou sem alfa-adrenérgico (adrenalina, fenilefrina), a fim de prevenir a disfunção erétil. Para os casos que não respondem à irrigação, a cirurgia para colocação de shunt entre os corpos cavernoso e esponjoso deve ser considerada. Fonte: Clínica médica hematologia extensivo medcel Diagnóstico COMO É FEITO O DIAGNÓSTICO? Recém-nascido: o Triagem neonatal (teste do pezinho) = unidades de saúde próximas ao local de moradia. Outras faixas etárias: o Exame de eletroforese de hemoglobina. o Rede Cegonha. o Doação de sangue (gestante/parceiro). EXAMES E PROCEDIMENTOS: o Triagem neonatal (Portaria GM/MS nº 822, de 6 de junho de 2001) o Triagem pré-natal (Portaria GM/MS nº 1.459, de 24 de junho de 2011) o Dopller Transcraniano (Portaria GM/MS nº 473, de 26 de abril de 2013) Triagem pré-natal A sensibilidade do diagnóstico pré-natal foi muito melhorada com a disponibilidade da técnica de PCR (reação em cadeia da polimerase). Recomenda-se para famílias com risco de anemia falciforme (p. ex., casais com história médica ou familiar de anemia ou com antecedentes étnicos sugestivos). As amostras de DNA podem ser obtidas por meio de amostragem do vilo coriônico em 10 a 12 semanas da gestação. O líquido amniótico também pode ser testado em 14 a 16 semanas. O diagnóstico é importante para aconselhamento genético. Triagem para recém-nascidos O teste universal é atualmente recomendado e costuma ser um dos testes da bateria de exames dos recém-nascidos. Para distinguir entre hemoglobina F, S, A e C, os testes recomendados são eletroforese de hemoglobina, usando acetato da celulose, ácido em ágar citrato, focalização isoelétrica em camada fina ou fracionamento de hemoglobina por meio de cromatografia líquida de alta performance (HPLC, high performance liquid chromatography). A repetição dos testes na idade de 3 a 6 meses pode ser necessária para confirmação. O teste de solubilidade para Hb S não é confiável durante os primeiros meses de vida. Triagem e diagnóstico de crianças e adultos Pacientes com história familiar de doença falciforme ou traços devem ser examinados com esfregaço periférico, teste de solubilidade para hemoglobina (Hb) e eletroforese de hemoglobina. Pacientes com sinais ou sintomas sugestivos da doença ou de suas complicações (p. ex., crescimento insuficiente, dor óssea aguda sem explicação, necrose asséptica da cabeça do fêmur, hematúria criptogênica) e os pacientes negros com anemia normocítica (em particular em caso de hemólise) precisam fazer exames laboratoriais para anemia hemolítica , eletroforese de hemoglobina e prova de falcização eritrocitária. No caso de doença falciforme, a contagem de eritrócitos costuma estar entre 2 e 3 milhões/microL (2 e 3 x 1012/L) com redução proporcional da hemoglobina; as células são normocíticas (a microcitose sugere talassemia alfa ou beta concomitante). Os eritrócitos nucleados aparecem, com frequência, no sangue periférico e a reticulocitose ≥ a 10% é comum. Esfregaços corados a seco podem mostrar apenas alguns eritrócitos falciformes (em forma crescente, quase sempre com extremidades alongadas e pontiagudas). O estado homozigótico é diferenciado de outras hemoglobinopatias falciformes por eletroforese demonstrando apenas hemoglobina S com quantidade variável de hemoglobina F. O heterozigoto é diferenciado pela presença de mais Hb A do que Hb S na eletroforese. A hemoglobina S deve ser distinguida da outra hemoglobina com padrão eletroforético similar pela comprovação de morfologia patognomônica dos eritrócitos. O exame da medula óssea não é usado para diagnóstico. Se obtido para diferenciar outras anemias, mostra hiperplasia, com predomínio de normoblastos; pode se tornar aplásica durante crise falciforme ou infecções graves. A velocidade de hemossedimentação (velocidade de hemossedimentação), se obtida para excluir distúrbios (p. ex., artrite reumatoide juvenil causando dor na mão e no pé), é baixa. Achados incidentais nas radiografias do esqueleto podem incluir aumento dos espaços diploicos do crânio e aparência de raio de sol nas trabeculações diploicas. Os ossos longos mostram, muitas vezes, afilamento cortical, densidades irregulares e nova formação óssea dentro do canal https://www.msdmanuals.com/pt/profissional/ginecologia-e-obstetr%C3%ADcia/aconselhamento-gen%C3%A9tico-e-avalia%C3%A7%C3%A3o-pr%C3%A9-natal/avalia%C3%A7%C3%A3o-gen%C3%A9tica#v1069366_pthttps://www.msdmanuals.com/pt/profissional/hematologia-e-oncologia/anemias-causadas-por-hem%C3%B3lise/anemia-hemol%C3%ADtica-autoimune https://www.msdmanuals.com/pt/profissional/hematologia-e-oncologia/anemias-causadas-por-hem%C3%B3lise/anemia-hemol%C3%ADtica-autoimune 12 TUTORIAL 5 FADIGA, PERDA DE PESO E ANEMIA medular.Na hematúria sem explicação, mesmo dentre pacientes sem suspeita de anemia falciforme, deve-se imediatamente levar em consideração um traço falciforme. https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/hematologia-e-oncologia/anemias-causadas-por- hem%C3%B3lise/anemia-falciforme https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/doenca_falciforme_diretrizes_basicas_linha_cuidado.pdf g) Avaliação do paciente com crise álgica no pronto-socorro Na crise álgica, sempre está indicado fazer uma avaliação clínica minuciosa, hidratação e analgesia, e, dependendo da avaliação clínica e laboratorial, indica-se transfusão sanguínea, antibioticoterapia e oxigenoterapia. 1. História: avaliar início (agudo ou crônico), intensidade (escala de zero a 10), duração, localização e frequência da dor. Investigar fatores desencadeantes, tratamento utilizado no domicílio, data da última crise e hospitalização prévia; 2. Exame físico: sinais vitais (pressão arterial, pulso, frequência respiratória, temperatura e oximetria de pulso). Avaliar local da dor, edema e mobilidade articular. Pode-se encontrar icterícia, em razão da hemólise. Procurar sinais sugestivos de quadro infeccioso; 3. Exames complementares: radiografia de tórax, hemograma com contagem de reticulócitos, hemocultura e urocultura, função renal e eletrólitos; outros exames, a depender da queixa e do exame físico; 4. Analgesia: a) Dor de leve a moderada intensidade: Anti-Inflamatórios Não Hormonais (AINHs), analgésicos comuns (dipirona, paracetamol) e opioides fracos (codeína, tramadol). Deve-se ter cuidado com o uso de AINH por possíveis alterações da função renal, comuns no paciente falciforme. Sempre evitar o uso crônico, pelos mesmos motivos; b) Dor forte: opiáceos fortes (cloridrato de morfina 0,1 mg/kg em bolus; repetir a dose a cada 20 minutos, até o controle da dor ou a sedação excessiva). Evitar meperidina, pelo alto potencial de dependência dessa droga; outros opioides fortes, como metadona e oxicodona, também podem ser utilizados. Para casos de dor grave e refratária, pode-se utilizar bomba de infusão contínua de morfina; c) Hidratação: encorajar a ingesta hídrica e manter o paciente euvolêmico por meio da reposição de solução salina. Cuidado com a hipo e a hiper-hidratação – fazer controle diário dos líquidos ingeridos e administrados, perdas e controle de peso; d) Transfusão: não diminui a duração da crise e está indicada na STA, na crise aplásica, no sequestro esplênico e na anemia sintomática; e) Tratamento das infecções: a principal causa de óbito entre crianças é a sepse por Streptococcus pneumoniae; f) Oxigenoterapia: apenas se houver hipoxemia. O Quadro 4.3 descreve os principais quadros infecciosos e patógenos relacionados em portadores de doença falciforme. Toda criança com doença falciforme que apresenta febre > 38,5 °C deve ser tratada, tendo em vista a possibilidade de septicemia. Recomendam-se a internação e hemoculturas e culturas de nasofaringe (procurando colonização por S. pneumoniae e possivelmente identificando cepas resistentes). Imediatamente, deve ser iniciada antibioticoterapia empírica utilizando-se, por exemplo, de ampicilina ou amoxicilina. Estudos evidenciam a ceftriaxona como antibiótico ideal para a maioria das infecções bacterianas na AF. Qualquer sinal de gravidade, como taquicardia, hipotensão e bacteriemia, deve ser tratado agressivamente com ceftriaxona e, quando necessário, vancomicina. Crianças com doença SS têm resposta imunológica normal a vacinas, sendo essas armas importantes na profilaxia das infecções na infância. Embora apresente eficácia limitada para determinados sorotipos e em menores de 4 anos, a vacinação contra pneumococo representou grande avanço na proteção da criança com AF, assim como a vacinação contra Haemophilus. É interessante também que a criança falcêmica seja submetida à imunização contra o vírus da hepatite B, em razão do risco elevado dessa infecção, relacionado às frequentes hemotransfusões. Além das imunizações, o uso de penicilina oral 125 mg, 2x/d, até os 3 anos, e 250 mg, 2x/d, para maiores de 3 anos, de forma profilática, visa, principalmente, evitar os casos de sepse por pneumococo. Há controvérsias quanto à faixa etária em que a profilaxia por penicilina deve ser descontinuada. Embora alguns estudos recomendem sua manutenção por toda a vida, demonstrou-se ser seguro suspender a penicilina oral após o quinto ano de vida. https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/hematologia-e-oncologia/anemias-causadas-por-hem%C3%B3lise/anemia-falciforme https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/hematologia-e-oncologia/anemias-causadas-por-hem%C3%B3lise/anemia-falciforme https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/doenca_falciforme_diretrizes_basicas_linha_cuidado.pdf 13 TUTORIAL 5 FADIGA, PERDA DE PESO E ANEMIA 4.3.2.2 Investigação laboratorial Os sinais de anemia hemolítica crônica são evidentes, com níveis de Hb em torno de 7, podendo ser mais baixos, principalmente nas exacerbações hemolíticas e na associação ao gene talassêmico, e reticulócitos entre 3 e 15%. As alterações morfológicas do sangue periférico são características, com a presença de hemácias “em foice”, reticulocitose, eritroblastos circulantes e, quando ocorrer autoesplenectomia, presença de corpúsculos de Howell-Jolly. As hemácias são normocíticas e normocrômicas, exceto quando há alfa ou betatalassemia associada, em que são encontradas microcitose e hipocromia. A leucometria de base geralmente está elevada, entre 12.000 e 15.000/mm3, e pode ocorrer trombocitose (nos asplênicos). Entre os pacientes com doença falciforme (HbSC, S-betatalassemia), a leucometria é normal, e pode haver trombocitopenia (por hiperesplenismo, quando há grande esplenomegalia). As bilirrubinas estão elevadas, com evidente predomínio da indireta, e pode haver elevações crônicas e não severas das enzimas hepatocelulares. Elevações da fosfatase alcalina, da gamaglutamiltranspeptidase (gama-GT) e da bilirrubina direta podem ser evidências de colestase por cálculos de bilirrubinato de cálcio. A confirmação diagnóstica é feita pela eletroforese de Hb, também chamada de cromatografia líquida de alta eficiência. Nesse exame, a Hb fetal está em torno de 5 a 15%, e níveis de HbS entre 85 e 98% nos indivíduos SS. A associação de outras hemoglobinopatias pode reduzir os níveis de HbS, porém a HbA estará ausente (exceto na S-alfatalassemia, em que a HbA pode chegar a 70 ou 75%, porém sem oferecer proteção alguma contra a falcização). Os níveis de HbF são pouco a moderadamente elevados, e os casos com HbF mais alta costumam ter quadros clínicos mais brandos. Exames, como o teste de solubilidade da Hb e o teste de falcização, são excelentes provas para triagem, porém estão positivos nos heterozigotos (traço falciforme), que são assintomáticos, não sendo importantes para o diagnóstico. Para o seguimento clínico dos pacientes com AF, devem ser realizados exames periódicos em que se avaliem não só a Hb, mas também o índice de hemólise (DHL, BTF – Bilirrubina Total e Frações), a resposta medular (reticulócitos) e, anualmente, verifiquem-se os efeitos sobre órgãos e sistemas (avaliações cardiológica, oftalmológica, neurológica, entre outras). Fonte: Clinica médica hematologia extensivo medcel Tratamento MEDICAMENTOS: o Hidroxiureia (Portaria SAS/MS nº 55, de 29 de janeiro de 2010) o Penicilina oral(Portaria GM/MS nº 3.161, de 27 de dezembro de 2011) o Ácido fólico, analgésicos, antibióticos e anti-inflamatórios (Farmácia Básica) 4.3.3 Tratamento Não existe tratamento específico para a AF, apenas de suporte, ou seja, o paciente deve fazer acompanhamento periódico com especialista para profilaxia e diagnóstico precoce das complicações. O tratamento da AF é apenas de suporte, e o paciente deve fazer acompanhamento periódico com o especialista para profilaxia e diagnóstico de complicações. Além disso, os pacientes são mantidos constantemente em uso de ácido fólico para evitar a falência medular por esgotamento dos estoques da substância. Exames recomendados periodicamente, além dos de sangue, são: a) Ultrassonografia de abdome, com o objetivo de encontrar cálculo biliar, para proceder à colecistectomia eletiva; b) Ultrassonografia com Doppler transcraniano a partir dos 2 até os 16 anos, para detecção do risco de acidente vascular cerebral e inclusão no programa de transfusão crônica para profilaxia primária, quando necessário; c) Exame oftalmológico; d) Ecocardiograma após os 15 anos, para avaliação da pressão da artéria pulmonar e função cardíaca; e) Densitometria óssea e monitorização do nível sérico de cálcio e vitamina D após os 12 anos; f) Demais exames, conforme os sintomas. As transfusões de concentrados de hemácias podem ser terapêuticas ou profiláticas. As transfusões terapêuticas devem ser utilizadas apenas quando a sintomatologia do quadro anêmico é severa, em crises aplásicas ou de sequestração, fase aguda do acidente vascular cerebral, STA e falência aguda de múltiplos órgãos. Não são indicações de transfusão: anemia crônica, crise dolorosa e infecções leves ou moderadas. As transfusões de concentrados de hemácias podem ser terapêuticas ou profiláticas. As terapêuticas só devem ser utilizadas quando os sintomas do quadro anêmico são severos, e a profilática não deve ser realizada de rotina. Uma complicação importante das múltiplas transfusões a que os pacientes são submetidos é a sobrecarga de ferro, portanto devem ser evitadas as que são desnecessárias. Deve-se quantificar a ferritina a cada 3 a 4 meses e iniciar tratamento de quelação do ferro com desferroxamina ou deferasirox com níveis de ferritina > 1.000 ng/mL, principalmente naqueles submetidos a esquema crônico de transfusão (profilaxia de acidente vascular cerebral). A sobrecarga de ferro é potencializada pelo aumento fisiológico de absorção de ferro, secundário à eritropoese ineficaz, sendo contraindicação absoluta a administração de ferro medicinal para esses pacientes. Tal hemossiderose pode 14 TUTORIAL 5 FADIGA, PERDA DE PESO E ANEMIA ocasionar problemas graves, como insuficiências hepática, cardíaca e pancreática e endocrinopatia. Outras complicações das múltiplas transfusões são a aloimunização e a transmissão de infecção. A profilaxia de infecções por germes capsulados inclui o uso de vacinas contra pneumococo, Haemophilus B, hepatite B e influenza a partir dos 2 anos de vida. A utilização profilática de penicilina via oral, desde a fase lactente até os 5 anos, como forma de prevenção, tem sido feita rotineiramente, assim como a imunização para o vírus influenza. A orientação quanto aos sinais de infecção e ao uso precoce de antibióticos deve ser sempre reforçada. A hidroxiureia, um agente citotóxico utilizado classicamente nas mieloproliferações, revolucionou o tratamento de casos selecionados de AF, com diminuição da morbidade e aumento da sobrevida. Ela eleva a síntese de HbF, diminui o número de granulócitos e reticulócitos, aumenta o nível de óxido nítrico e diminui a aderência da hemácia à parede vascular. Deve ser indicada em pacientes com mais de 3 crises/ano, com necessidade de internação; antecedente de STA; anemia sintomática frequente; e história de outros eventos vaso-oclusivos severos como acidente vascular encefálico e priapismo recorrente. Outros medicamentos também vêm sendo estudados para o tratamento específico da AF, por intermédio de vários mecanismos de ação, como 5-azacitidina, decitabina, inalação de óxido nítrico, suplementação de magnésio e EPO. Há grande esperança no tratamento da AF com a terapia gênica em estudo. O transplante de células-tronco hematopoéticas é considerado uma alternativa nos casos mais graves, refratários aos tratamentos tradicionais, já autorizado pelo Sistema Único de Saúde para essa patologia. Podemos resumir o tratamento da AF da seguinte forma: a) Tratamento curativo com transplante alogênico de células-tronco hematopoéticas, somente em casos selecionados; b) Ácido fólico; c) Vacinação contra pneumococo, Haemophilus B, hepatite B e influenza; d) Profilaxia infecciosa com penicilina oral até os 5 anos; e) Hidroxiureia para pacientes com mais de 3 crises graves por ano, antecedente de STA, anemia sintomática frequente com necessidade transfusional elevada e história de outros eventos vaso-oclusivos severos; f) Profilaxia primária e secundária de acidente vascular cerebral em pacientes de risco; g) Transfusão de hemácias em situações especiais, como anemia sintomática severa, crise aplásica ou de sequestração, fase aguda do acidente vascular cerebral, STA e falência aguda de múltiplos órgãos; h) Quelação do ferro – ferritina > 1.000 ng/mL; i) Acompanhamento com especialista para monitorização e tratamento de complicações diversas. Fonte: Clinica médica hematologia extensivo medcel 6. Entender a importância do aconselhamento genético em casos de anemia falciforme; O aconselhamento genético tem a finalidade de nortear as pessoas sobre a tomada de decisões a respeito da procriação, ajudando-as a entender como a hereditariedade pode colaborar para a ocorrência ou risco de recorrência de doenças genéticas, como é o caso da anemia falciforme. Esta anemia é a doença hereditária de maior prevalência no Brasil, com complicações clínicas que podem prejudicar o desenvolvimento, a qualidade de vida e levar à morte. De acordo com alguns autores, os indivíduos são conscientizados do problema, sem serem privados do seu direito de decisão reprodutiva, e o profissional envolvido deve assumir uma atitude imparcial, discutindo com os pacientes vários aspectos além do risco genético em si, tais como o tratamento disponível e a sua eficiência, o grau de sofrimento físico, mental e social imposto pela doença, o prognóstico, a importância do diagnóstico precoce, etc. A realização do exame laboratorial do cônjuge (ou do futuro cônjuge) e dos filhos é uma dessas decisões. O aconselhamento genético apresenta três modalidades básicas, que dependem do grau de envolvimento pessoal do aconselhando com a condição genética, bem como da sua necessidade de tomar uma decisão reprodutiva no momento, ou seja: • Aconselhamento genético propriamente dito ou consultoria genética: os aconselhandos (geralmente um casal) apresentam um risco real, já estabelecido por vínculo reprodutivo estável, de gerar filhos com doença falciforme relevante (homozigoto ou heterozigotos duplos). Esses casais, geralmente constituídos por dois heterozigotos, são impropriamente chamados de "casais de risco", o que deve ser evitado, pois implica uma rotulação indesejável desses indivíduos. Da mesma forma, a designação de "transmissores de genes" deve ser evitada. O aconselhamento genético ideal é aquele solicitado espontaneamente pelos clientes. A situação mais freqüente, no entanto, é aquela em que o casal é encaminhado (por algum programa de triagem, por um profissional de saúde, por algum familiar, etc.) para receber o aconselhamento genético. Nesse caso, os indivíduos devem ser informados antes a respeito dos objetivos e do caráter opcional (para o cliente) do aconselhamento genético; • Orientação genética: o aconselhando está envolvido pessoalmente com a alteração genética, mas nãonecessita tomar uma decisão reprodutiva naquele momento. Na maioria das vezes, esse indivíduo apresenta um risco potencial de gerar filhos com doença falciforme, risco esse geralmente dependente do genótipo hemoglobínico de um futuro parceiro reprodutivo. Trata-se da situação mais comum nos programas voluntários de detecção de heterozigotos adultos, bem como entre familiares de pacientes; 15 TUTORIAL 5 FADIGA, PERDA DE PESO E ANEMIA • Informação genética: trata-se de processo de divulgação da doença falciforme para um público não necessariamente envolvido com esta doença (pelo menos em um primeiro momento). Tal processo educativo, realizado por meio de folders, cartazes, palestras, aulas, atuação na mídia, etc., é fundamental para que a forma ideal de aconselhamento genético, ou seja, o solicitado espontaneamente pelos indivíduos, possa ocorrer na população. Do exposto, é evidente que a informação genética pode gerar uma orientação genética e esta, por sua vez, gerar um aconselhamento genético propriamente dito. Situações especiais • Diagnóstico do traço falciforme na triagem de recém-nascidos: o diagnóstico deve ser comunicado à família, acompanhado da informação de que o traço falciforme não é uma doença. Deve-se evitar, portanto, o alarme desnecessário da família. O exame laboratorial optativo dos familiares é recomendado, podendo-se chegar, eventualmente, ao diagnóstico de outros casos clinicamente significativos (indivíduos SS, SC, etc.) ou a situações em que o aconselhamento genético é necessário (ambos os genitores heterozigotos); • Ilegitimidade parental: o Programa Nacional de Triagem Neonatal tem detectado um percentual significativo de casos de ilegitimidade paterna, podendo-se chegar, em algumas regiões, a 10% dos casos. A privacidade da família deve ser, evidentemente, preservada. Uma forma simples de contornar o problema é convidar apenas a mãe para a primeira consulta, fornecendo-lhe, além das informações de ordem terapêutica (necessidade de penicilinoterapia profilática a partir dos 4 meses, por exemplo), as explicações sobre o risco de recorrência da doença falciforme na prole, em função da presença do traço falciforme no pai da criança. Caberá a ela a opção de trazer, ou não, o marido para exame laboratorial e aconselhamento genético. Informações errôneas atenuantes, como a possibilidade de uma "mutação nova", por exemplo, nunca devem ser fornecidas ao casal, pois, apesar de bem intencionadas, elas constituem um erro médico grave; • Diagnóstico pré-natal: em termos terapêuticos, o diagnóstico pré-natal da doença falciforme não oferece qualquer vantagem adicional ao diagnóstico neonatal. É importante lembrar que a interrupção da gravidez não é contemplada, nesses casos, pela exclusão da ilicitude penal em nosso país. Alguns centros de reprodução humana brasileiros já oferecem a possibilidade do diagnóstico pré-implantação na doença falciforme. Tais recursos técnicos não dispensam, no entanto, o fornecimento do aconselhamento genético tradicional, sobretudo frente à realidade socioeconômica e cultural brasileira. https://www.scielo.br/j/csc/a/JKGTMkrN5kxrJLhtW4fbtcP/?lang=pt https://www.scielo.br/j/rbhh/a/gvpjHMwvYsfPZcGvwJJsCzf/?format=pdf&lang=pt#:~:text=O%20aconselhamento%20g en%C3%A9tico%20na%20doen%C3%A7a%20falciforme%20tem%20o%20objetivo%20primordialmente,equilibradas %20a%20respeito%20da%20procria%C3%A7%C3%A3o. Fontes Gerais: Tratado de hematologia – ZAGO - pág. 230 https://www.medicinanet.com.br/conteudos/revisoes/5645/anemias.htm https://www.sanarmed.com/anemias-definicao-epidemiologia-quadro-clinico-fisiopatologia-tratamento https://www.scielo.br/j/csc/a/JKGTMkrN5kxrJLhtW4fbtcP/?lang=pt https://www.scielo.br/j/rbhh/a/gvpjHMwvYsfPZcGvwJJsCzf/?format=pdf&lang=pt#:~:text=O%20aconselhamento%20gen%C3%A9tico%20na%20doen%C3%A7a%20falciforme%20tem%20o%20objetivo%20primordialmente,equilibradas%20a%20respeito%20da%20procria%C3%A7%C3%A3o https://www.scielo.br/j/rbhh/a/gvpjHMwvYsfPZcGvwJJsCzf/?format=pdf&lang=pt#:~:text=O%20aconselhamento%20gen%C3%A9tico%20na%20doen%C3%A7a%20falciforme%20tem%20o%20objetivo%20primordialmente,equilibradas%20a%20respeito%20da%20procria%C3%A7%C3%A3o https://www.scielo.br/j/rbhh/a/gvpjHMwvYsfPZcGvwJJsCzf/?format=pdf&lang=pt#:~:text=O%20aconselhamento%20gen%C3%A9tico%20na%20doen%C3%A7a%20falciforme%20tem%20o%20objetivo%20primordialmente,equilibradas%20a%20respeito%20da%20procria%C3%A7%C3%A3o https://www.medicinanet.com.br/conteudos/revisoes/5645/anemias.htm https://www.sanarmed.com/anemias-definicao-epidemiologia-quadro-clinico-fisiopatologia-tratamento
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