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Canal Carreiras Policiais – Instituto de Ensino das Carreiras Policiais Ltda. Todos os direitos reservados. www.canalcarreiraspoliciais.com.br PROCESSO PENAL 1 P R O C E S S O P E N A L | ORIENTAÇÕES PRELIMINARES 1. Este material foi desenvolvido pelo editorial do Instituto de Ensino das Carreiras Policiais e é protegido por Direitos Autorais, sendo completamente vedada a reprodução parcial ou integral sem que haja a devida autorização, sob pena de responsabilização cível e criminal. 2. Nosso material é de uso exclusivo e interno aos nossos alunos/coachees, sendo atualizado semanalmente por nossa coordenação de materiais didáticos. 3. Nossos materiais possuem a profundidade específica para o concurso-meta de cada aluno, com o foco para o que efetivamente é exigido pela banca examinadora do certame. 4. Havendo dúvidas sobre o conteúdo ou dificuldade de assimilação, o aluno deve se utilizar do livro para potencializar a compreensão e informar ao coach através do relatório semanal. Nosso site: www.canalcarreiraspoliciais.com.br E-mail: coach@canalcarreiraspoliciais.com.br Instagram: @canalcarreiraspoliciais “A vida vai testar você. A vida vai testar a sua força de vontade e você terá que mostrar a ela que é isso mesmo o que você quer e que você merecedor disso! Levante a cabeça, aceito os desafios e mostre que você merece conquistar os seus sonhos!” “Para chegar aonde poucos chegam é preciso fazer o que poucos fazem.” http://www.canalcarreiraspoliciais.com.br/ 2 PROCESSO PENAL PRINCÍPIOS, SISTEMAS, FONTES DO PROCESSO PENAL E INQUÉRITO POLICIAL Leitura obrigatória dos artigos: 1 ao 23 do CPP. CONCEITO DE DIREITO PROCESSUAL PENAL “É o conjunto de princípios e normas que regulam a aplicação jurisdicional do direito penal, bem como as atividades persecutórias da Polícia Judiciária, e a estruturação dos órgãos da função jurisdicional e respectivos auxiliares”. (José Frederico Marques) O Processo Penal não pode mais ser visto como um simples instrumento a serviço do poder punitivo (Direito Penal), senão que desempenha o papel de limitador do poder e garantidos do indivíduo a ele submetido. Há que se compreender que o respeito às garantias fundamentais não se confunde com impunidade, e jamais se defendeu isso. O processo penal é um caminho necessário para se chegar, legitimamente, à pena. Daí porque somente se admite sua existência quando ao longo desse caminho forem rigorosamente 3 P R O C E S S O P E N A L | observadas as regras e garantias constitucionalmente asseguradas, conforme assinala Aury Lopes Jr. A função do PROCESSO PENAL é servir como instrumento do Estado para a imposição de sanção penal ao possível autor do fato delituoso. A partir do momento em que alguém pratica ato considerado crime nasce o jus puniendi in concreto por parte do Estado. Perceba que o ente público, até então tinha um poder abstrato, genérico e impessoal, passando a ter a pretensão concreta de punir o suposto autor do fato delituoso. E, como podemos constatar, é através do processo penal que é exercida a pretensão do Estado em punir o transgressor da norma, sem que seja possível a imposição de sanção penal sem que haja um devido e regular processo. PODEMOS DESTACAR AS SEGUINTES FINALIDADES DO PROCESSO PENAL: 1- Conferir efetividade ao Direito Penal; 2- Fornecer meios e caminhos para a aplicação da pena ou garantir a absolvição; 3- Pacificação social com a solução de conflitos. CARACTERÍSTICAS: 1- Autonomia: O direito processual não é submisso ao direito material, tem princípios e regras próprias (ex: prazos) 2- Instrumentalidade: faz a atuação do direito material penal, consubstanciando o caminho a ser seguido para obtenção de um provimento. 3- Normatividade: disciplina de caráter dogmático possui codificação própria. A trilogia de Norberto Avena: Poder Direito Processo 4- 5- PRINCÍPIOS DO PROCESSO PENAL: Princípios são postulados que se irradiam por todo o sistema de normas, fornecendo um padrão de interpretação, integração, conhecimento e aplicação do direito positivo, estabelecendo uma meta maior a ser seguida. (Nucci). O Estado é titular do Jus Puniendi O exercício do Jus Puniendi pelo Estado é limitado pelo Direito Processual O direito Processual institui o Processo Criminal como instrumento por meio do qual o Estado exerce o jus puniendi. (regido por conjunto de normas, preceitos e princípios) kenna Realce 4 1. DEVIDO PROCESSO LEGAL: Consagrado no art. 5, LIV CF. É o estabelecido na lei, devendo traduzir-se em sinônimo de garantia, atendendo assim aos ditames constitucionais. O devido processo legal guarda raízes no principio da legalidade. O processo deve ser instrumento de garantia contra os excessos do Estado, visto como ferramenta de implementação da Constituição Federal, como garantia suprema do “jus libertatis”. 2. AMPLA DEFESA: Fundamentada no art. 5, LV da CF. Amplos e extensos métodos para se defender a imputação feita pela acusação. A parte é hipossuficiente em relação ao Estado, pois, este é sempre mais forte. Subdivide-se em: 1- Defesa técnica: efetuada por profissional habilitado. 1.1- Sempre obrigatória. Súmula n. 523 do STF, art. 396, §2º do CPP e art. 55, §3º da Lei. 11.343/06. 2- Autodefesa: realizada pelo próprio imputado. 2.1- Direito de audiência: oportunidade de influir na defesa por meio de interrogatório. 2.2- Direito de presença: possibilidade do réu tomar posição, a todo momento, sobre o material produzido, sendo-lhe garantida a imediação com o defensor, o juiz e as provas. 3. PLENITUDE DE DEFESA: Utilizada no Tribunal do Júri, art. 5, XXXVIII, “a” da CF. Busca-se garantir ao réu uma defesa plena e completa. Diferenças: Ampla Defesa Plenitude de Defesa Processo Criminal (qualquer acusado) Procedimento do Júri A parte oferece provas e argumentos técnicos, pois, o Juiz decide de acordo com o livre convencimento motivado A defesa atua de forma completa, utiliza argumentos técnicos, de natureza sentimental, social e política criminal. O Jurado decide de acordo com a intima convicção. Alegações finais sem previsão de réplica e tréplica. (art. 403 do CPP) Possibilidade de réplica e tréplica. (art. 477 do CPP). 4. CONTRADITÓRIO: Previsto no art. 5, LV da CF. Está ligado à relação processual tanto à acusação quanto a defesa. 5 P R O C E S S O P E N A L | Direito assegurado às partes de serem cientificadas de todos os atos e fatos ávidos no curso do processo, podendo manifestar-se a respeito e produzir as provas necessárias antes de ser proferida a decisão judicial. É mais abrangente que a ampla defesa (atinge os dois polos). Em algumas situações será utilizado em momento posterior (contraditório diferido). Ex: 1- Decretação da prisão preventiva (art. 282, §3º do CPP) 2- Sequestro de bens (art. 125 do CPP), 3- Interceptação de comunicação telefônica (Lei. 9.296/96). 5. PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA OU NÃO-CULPABILIDADE: Previsto no art. 5, LVII da CF. Antes da sentença condenatória transitado em julgado, todos são presumidamente inocentes. Prevalece este status mesmo se houver recurso pendente. Desdobramentos: A parte acusadora tem o ônus de demonstrar a culpabilidade do acusado, e não este demonstrar a sua inocência. Para ser considerado culpado é necessário o trânsito em julgado. Sobre o tema, importante relembrarmos que é PROIBIDA A EXECUÇÃO PROVISÓRIA DA PENA. Segundo o STF, em 07/11/2019, ao julgar as ADCs 43, 44 e 54 (Rel. Min. Marco Aurélio), retornou para a sua posição anterior e afirmou que o cumprimento da pena somente pode ter início com o esgotamento de todos os recursos.Uma coisa é o agente estar preso cautelarmente, outra é estar cumprindo efetivamente pena, em caráter provisório. Nesse sentido, é possível que o réu seja preso antes do trânsito em julgado (antes do esgotamento de todos os recursos), no entanto, para isso, devem estar presentes os requisitos exigidos pela norma processual penal para fins de aplicação da medida cautelar pessoal. ATENÇÃO 1: Apesar de o cumprimento da cautelar prisional não caracterizar cumprimento provisório de pena, importante consignar que a vedação à execução provisória da pena, decorrente do princípio da presunção de não culpabilidade, não impede a antecipação cautelar dos benefícios da execução penal definitiva ao preso processual. Assim, na antecipação dos benefícios, seria possível a incidência de institutos como a progressão de regime e outros incidentes da execução – já que a LEP estende seus benefícios aos presos provisórios (Lei 7.210/84, art. 2o, § único). 6 SÚMULA 716, STF: Admite-se a progressão do regime de cumprimento da pena ou a aplicação imediata de regime menos severo nela determinada, antes do trânsito em julgado da sentença condenatória. SÚMULA 717, STF: Não impede a progressão do regime de execução da pena, fixada em sentença não transitada em julgado, o fato de o réu se encontrar em prisão especial. ATENÇÃO 2: Também não é possível a execução da pena RESTRITIVA DE DIREITOS antes do trânsito em julgado da condenação. STJ. 3ª Seção. EREsp 1.619.087-SC, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, Rel. para acórdão Min. Jorge Mussi, julgado em 14/6/2017 (Info 609). 6. INEXIGIBILIDADE DE AUTOINCRIMINAÇÃO OU AUTODEFESA (NEMO TENETUR SE DETEGERE): Ninguém pode ser obrigado a produzir prova contra si mesmo, permite ao acusado ocultar e mentir sobre as acusações que são feitas em relação a ele. O réu pode optar em manter o silêncio e a testemunha apenas nos fatos que possam imputar algum crime. Porém, se quiser pode dizer toda a verdade. Cuidado: Quem se atribui identidade falsa perante a autoridade comete o crime do art. 307 do CP. Artigos: 339, 340, 341, 342 do CP. 7. JUIZ NATURAL: Art. 5, LIII e XXXVII da CF. O juiz deve ser anteriormente designado pela lei, não pode ser criados tribunais ou determinar juízes específicos para julgar um caso pós-fato. 8. JUIZ IMPARCIAL: As decisões não podem ser parciais, corruptas e dissociadas do equilíbrio que as partes esperam do magistrado, não pode ter vínculo subjetivo com o processo. Caso ocorra parcialidade o juiz será declarado impedido (art.252 do CPP) ou suspeito (art. 254 do CPP) previstas no Código de Processo Penal. A declaração pode ser de ofício ou alegada pelas partes. 9. PUBLICIDADE: Determinada nos artigos 5º, LX, XXXIII, 93, IX da CF, art. 201, §6º do CPP. A regra é que os atos processuais sejam públicos, com exceção as determinações legais quanto ao sigilo. (preservação da intimidade e interesse social). 7 P R O C E S S O P E N A L | 10. AÇÃO, DEMANDA, INICIATIVA DAS PARTES, “NE PROCEDAT JUDEX EX OFFICIO”: a jurisdição é inerte, cabe as partes a provocação do Poder Judiciário. (art. 129, I da CF) Importante destacar a não recepção do art. 26 do CPP- processo judicialiforme. Exceção: Habeas corpus de ofício, art. 654, § 2º do CPP. 11. VERDADE REAL, MATERIAL, SUBSTANCIAL (ART. 566 DO CPP): O princípio da verdade real, também conhecido princípio da verdade material ou da verdade substancial (art. 566 do CPP), significa que, no processo penal, devem ser realizadas as diligências necessárias e adotadas todas as providências cabíveis para tentar descobrir como os fatos realmente se passaram, de forma que o jus puniendi seja exercido com efetividade em relação àquele que praticou ou concorreu para a infração penal. O magistrado pauta seu trabalho na reconstrução dos fatos com objetivo de aproximar-se ao máximo da verdade plena, apurando os fatos até onde for possível elucidá-los para proferir sentença que esteja de acordo com elementos concretos e não ficções ou presunções. Ex: art. 156, 201, 209, 234, 242 e 404 do CPP. Alguns desses dispositivos legais, que permitem a iniciativa probatório por parte do juiz vem sofrendo aumento das críticas por parte da doutrina, em razão da adoção de um sistema acusatório no Brasil. Para grande parte da doutrina, o juiz deveria formar sua convicção com base nos elementos probatórios que lhe forem apresentados e não atuar na busca de provas, que seria incumbência das partes envolvidas na lide. Segundo boa parte da doutrina, por exemplo, o art. 156, I, do CPP, estaria tacitamente revogado pelo Pacote Anticrime, que adotou expressamente o sistema acusatório. Não pode violar direitos e garantias estabelecidos, como por exemplo a realização de provas ilícitas. 12. PRINCÍPIO DA VEDAÇÃO DA PROVA ILÍCITA: A exposição de motivos do CPP traz um rol exemplificativo de 9 provas admitidas em processo penal, admitindo-se também as inominadas. Porém, há exceções à liberdade dos meios de prova: 8 1. Ilícitas → contrárias às normas materiais. Deve-se averiguar não somente se a prática caracteriza crime, mas também se a prática infringe alguma das garantias constitucionais. 2. Ilegítimas → contrárias às normas processuais. Obs.:A prova ilícita agride mais a justiça do que as provas ilegítimas. Em regra, a prova ilícita é produzida em momento anterior ou concomitante ao processo, mas sempre externamente a este (a prova ilícita é produzida extraprocessualmente). Geralmente a prova ilícita é produzida por aqueles que estão atuando fora do processo polícia, MP, etc. Já a ilegítima, em regra, é produzida no curso do processo, sendo uma prova endoprocessual. A L. 11690/08 alterou o art. 157 do CPP, porém não diferenciou bem o que seria prova ilícita das provas ilegítimas. Nucci, dentre outros, afirma que, a partir da referida alteração não existe mais diferença entre prova ilícita de prova ilegítima, acarretando, assim, a mitigação da distinção. Porém, há quem argumente que a diferenciação de prova ilícita e ilegítima encontra-se albergada na exegese da própria constituição brasileira, conforme art. 5.º, LVI. ATENÇÃO 1.: Sem prévia autorização judicial, são nulas as provas obtidas pela polícia por meio da extração de dados e de conversas registradas no whatsapp presentes no celular do suposto autor de fato delituoso, ainda que o aparelho tenha sido apreendido no momento da prisão em flagrante. Assim, é ilícita a devassa de dados, bem como das conversas de whatsapp, obtidos diretamente pela polícia em celular apreendido no flagrante, sem prévia autorização judicial. STJ. 6ª Turma. RHC 51.531-RO, julgado em 19/4/2016 (Info 583). ATENÇÃO 2.: A obtenção do conteúdo de conversas e mensagens armazenadas em aparelho de telefone celular ou smartphones não se subordina aos ditames da Lei nº 9.296/96. O acesso ao conteúdo armazenado em telefone celular ou smartphone, quando determinada judicialmente a busca e apreensão destes aparelhos, não ofende o art. 5º, XII, da CF/88, considerando que o sigilo a que se refere esse dispositivo constitucional é em relação à interceptação telefônica ou telemática propriamente dita, ou seja, é da comunicação de dados, e não dos dados em si mesmos. Assim, se o juiz determinou a busca e apreensão de telefone celular ou smartphone do investigado, é lícito que as autoridades tenham acesso aos dados armazenados no aparelho apreendido, especialmente quando a referida decisão tenha expressamente autorizado o acesso a esse conteúdo. STJ. 5ª Turma. RHC 75.800-PR, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em 15/9/2016 (Info 590). 9 P R O C E S S O P E N A L | ATENÇÃO 3: Sem consentimento do réu ou prévia autorização judicial, é ilícita a prova, colhida de forma coercitiva pelapolícia, de conversa travada pelo investigado com terceira pessoa em telefone celular, por meio do recurso "viva-voz", que conduziu ao flagrante do crime de tráfico ilícito de entorpecentes. STJ. 5ª Turma. REsp 1.630.097-RJ, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 18/4/2017 (Info 603). ATENÇÃO 4: Não é possível a interposição de recurso por e-mail: O art. 1º da Lei nº 9.800/99 prevê que "é permitida às partes a utilização de sistema de transmissão de dados e imagens tipo fac-símile ou outro similar, para a prática de atos processuais que dependam de petição escrita." É possível a interposição de recurso por e-mail, aplicando-se as regras da Lei nº 9.800/99? NÃO. A ordem jurídica não contempla a interposição de recurso via e-mail. O e-mail não configura meio eletrônico equiparado ao fax, para fins da aplicação do disposto no art. 1º da Lei nº 9.800/99, porquanto não guarda a mesma segurança de transmissão e registro de dados. STJ. 6ª Turma. AgRg no AREsp 919.403/DF, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 13/09/2016. STF. 1ª Turma. HC 121225/MG, , julgado em 14/3/2017 (Info 857). Descontaminação do julgado – O juiz que conhecer do conteúdo da prova declarada inadmissível não poderá proferir a sentença ou acórdão. (art. 157, parágrafo 5º, do CPP. CONSEQUÊNCIAS DA PROVA ILÍCITA: As provas ilícitas devem ser desentranhadas e inutilizadas, conforme art. 157 da CF. Contudo, esse artigo deve ser analisado com temperamentos, pois a prova ilícita pode ser utilizada em favor do réu. Sendo assim, surgem três correntes: 1ª CORRENTE: A disciplina do art. 157, obriga o desentranhamento da prova declarada inadmissível e impõe a sua inutilização, obrigatoriamente, afastando a possibilidade do juiz utilizá-la futuramente contra o réu. 2ª CORRENTE: Essa corrente permite que o juiz decida sobre o desentranhamento ou não das provas ilícitas do autos e também, posteriormente, de sua inutilização ou não. 3ª CORRENTE: A prova reconhecida como ilícita por decisão transitada em julgado deverá ser obrigatoriamente desentranhada (art. 157, caput), facultando-se ao juiz decidir por sua inutilização ou não (art. 157, § 3.º). Essa corrente parece ser a mais aceitável, pois o caput obriga o desentranhamento da prova ilícita, resguardando a decisão do juiz apenas 10 quanto à inutilização, sendo guarnecida em apartado para posterior utilização, caso seja favorável ao réu. As peças processuais que fazem referência à prova declarada ilícita não devem ser desentranhadas do processo? NÃO! Se determinada prova é considerada ilícita, ela deverá ser desentranhada do processo. Por outro lado, as peças do processo que fazem referência a essa prova (exs: denúncia, pronúncia etc.) não devem ser desentranhadas e substituídas. A denúncia, a sentença de pronúncia e as demais peças judiciais não são "provas" do crime e, por essa razão, estão fora da regra que determina a exclusão das provas obtidas por meios ilícitos prevista art. 157 do CPP. Assim, a legislação, ao tratar das provas ilícitas e derivadas, não determina a exclusão de "peças processuais" que a elas façam referência. STF. 2ª Turma. RHC 137368/PR, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 29/11/2016 (Info 849). CONSEQUÊNCIAS DA PROVA ILEGÍTIMA: As conseqüências das provas ilegítimas se distinguem da prova ilícita, não estando relacionadas à possibilidade ou não de utilização em benefício ao réu ou pró-sociedade. Com efeito, na medida em que importam em violação de normas de direito eminentemente processual, tais provas geram nulidade por vício de procedimento. E a verificação da natureza da nulidade é que definirá as situações em que a prova, ainda que obtida ou produzida mediante afrontamento a normas legais, poderá ser usada no âmbito do processo penal. Assim, se a violação da norma processual importar em nulidade de caráter absoluto, não poderá a prova ser utilizada nem contra o réu, nem a seu favor, visto que nulidades absolutas são sempre insanáveis. Todavia, se a nulidade decorrente da prova produzida com violação à lei for de caráter relativo, será preciso verificar o caso concreto. TEORIAS DA PROVA ILÍCITA A) Teoria da Prova Ilícita por Derivação – Fruits of Poisonous Tree. Trata-se de teoria norte-americana atualmente expressa no código de processo penal no art. 157. Não são admissíveis as provas produzidas por meios ilícitos e as que dela derivarem. Cumpre destacar que a ilicitude que contamina a prova não necessariamente deve ser perpetrada pela autoridade policial, podendo ser caracterizada em caso de qualquer comportamento ilícito que a derive. Ex. roubo em que se encontra a 11 P R O C E S S O P E N A L | materialidade do crime do investigado - dono da residência - é prova ilícita por derivação em relação à vitima do roubo. A Narcoanálise é prova ilícita, pois é um processo de sondagem do inconsciente pelo qual, mediante certos entorpecentes, se consegue o relaxamento da censura, induzindo o paciente a revelar os fatores e episódios do complexo que o aflige, coisas que, em estado normal de consciência, se obstina em negar e esconder. EXAME. RAIOS X. TRÁFICO. ENTORPECENTES. Segundo entendimento do STJ é prova lícita, ressaltando que os exames de raio x não exigem qualquer agir ou fazer por parte dos pacientes, tampouco constituem procedimentos invasivos ou até mesmo degradantes que pudessem violar seus direitos fundamentais, acrescentando, ainda, que a postura adotada pelos policiais não apenas acelera a colheita da prova, como também visa à salvaguarda do bem jurídico vida, já que o transporte de droga de tamanha nocividade no organismo pode ocasionar a morte. HC 149.146-SP, 2011 B) Teoria da Proporcionalidade A teoria da proporcionalidade deve ser vista sob duas óticas: pro reo e pro societate. No Brasil, a doutrina e a jurisprudência majoritárias há longo tempo têm considerado possível a utilização das provas ilícitas em favor do réu quando se tratar da única forma de absolvê-lo ou de comprovar um fato importante à sua defesa. Para tanto, é aplicado o princípio da proporcionalidade, também chamado de princípio do sopesamento, sob a alegação de que o bem jurídico de maior relevância é a liberdade e não seria possível garantir os direitos da sociedade sem preservar o direito individual de cada um de seus membros. Ao revés, a maioria doutrinária e jurisprudencial tende a não aceitar o princípio da proporcionalidade como fator capaz de justificar a utilização da prova ilícita em favor da sociedade, ainda que se trate do único elemento probatório carreado aos autos passível de conduzir à condenação do réu. Contudo, há doutrinadores que admitem a aplicação da proporcionalidade pro societate, afirmando que o processo penal é acromático e tem como maior objetivo a descoberta da verdade, podendo ser utilizada a prova ilícita também a favor do Estado, quando o interesse público exigir, pois deve prevalecer a segurança da sociedade - AVENA. C) Teoria das Excludentes: 12 Ocorre quando a prova ilícita produzida pela própria vítima na salvaguarda de direitos próprios. Neste caso, há forte posição, adotada, inclusive, no âmbito dos Tribunais Superiores (STF e STJ) no sentido de que poderá a prova ser utilizada desde que se caracterize hipótese de evidente legítima defesa ou estado de necessidade. Não se estaria, enfim, diante de uma prova ilícita, mas sim de prova lícita, visto que tanto a legítima defesa como o estado de necessidade caracterizam-se como excludentes de ilicitude, afastando, portanto, eventual ilicitude da prova obtida com violação a regras de direito material. D) Teoria da Boa-fé: Objetiva evitar o reconhecimento da ilicitude da prova caso os agentes de policia ou da persecução penal como um todo tenham atuado destituídos do dolode infringir a lei, pautados verdadeiramente em situação de erro. A boa-fé, como se abstrai, não pode sozinha retirar a ilicitude da prova que foi produzida. A ausência de dolo por parte do agente não elide a contaminação, posto que se exige não só a boa-fé subjetiva, mas também a objetiva, que é o atendimento à lei na produção do conjunto probatório. O Brasil não adota a teoria da boa-fé. TEORIAS QUE MITIGAM A DERIVAÇÃO DA PROVA ILÍCITA: A)Prova absolutamente independente (Independent Source): Está relacionada à exclusão do nexo de causalidade que justificaria a contaminação da prova ilicita por derivação. Trata-se da teoria que mitiga a exclusão da prova derivada por ausência do nexo de causalidade, ou seja, a prova é absolutamente independente. Ex. Confissão em juízo espontânea e voluntária de questão que corrobora com a prova anteriormente colhida em interceptação ilícita. Assim, como as fontes são independentes, há quebra do vinculo de derivação e, como tal, a prova – confissão – será considerada lícita. B) Inevitabilidade do encontro da provas (Inevitable Discovery): Está relacionada à exclusão da contaminação das provas ilícitas em virtude da alegação de que a prova seria, inevitavelmente, obtida pelos trâmites típicos e de praxe da investigação ou instrução. Ex. Réu é suspeito de matar uma criança e está sendo realizada a busca e apreensão do corpo na casa do suspeito. O réu, por coação da autoridade policial, confessa o crime e indica o local onde escondeu o corpo. Nesse sentido, os 13 P R O C E S S O P E N A L | policiais vão até o local e constatam o corpo. No entanto, já estava sendo realizada a busca e apreensão no local e certamente o corpo da criança seria encontrado nesta busca, descaracterizando, assim, a contaminação desta prova. Há doutrinadores que são contra a teoria da descoberta inevitável, alegando que ela viola a CF e que abre um espaço muito grande para a validade de provas que deveriam ser ilícitas - NICOLITT. Mas essa não é a posição da maioria da doutrina. Art. 157, §2º, CPP - Considera-se fonte independente aquela que por si só, seguindo os trâmites típicos e de praxe, próprios da investigação ou instrução criminal, seria capaz de conduzir ao fato objeto da prova. Reitere-se que apesar de esse dispositivo utilizar a expressão “fonte independente”, o conceito aqui expresso não é o da fonte independente, e sim o da Teoria da Descoberta inevitável. A prova disso é que o artigo fala em “seria capaz de conduzir”, trabalhando no plano hipotético, assim como a teoria da descoberta inevitável. Na teoria da fonte independente, a prova já foi encontrada, não se trabalhando no plano hipotético. C) Contaminação Expurgada / Mancha Purgada / Conexão Atenuada: Essa teoria também surgiu no Direito norte americano, lá ganhando o nome de Purged Taint Doctrine, no caso Wong Sun v. U.S. (1963). Nesse caso, um criminoso foi preso de modo ilegal, porque a polícia ingressou no seu domicílio sem causa. Na mesma ocasião de violação de domicílio, foram encontradas provas levaram a prisão de um terceiro acusado. Se a prisão do primeiro acusado foi ilícita, ela envenenou, manchou, contaminou as demais prisões. Contudo, algumas semanas depois de ser preso, o terceiro acusado, de maneira voluntária, confessou à polícia o seu envolvimento no crime. Pela teoria da Limitação da Mancha Purgada não se aplica a teoria da prova ilícita por derivação se o nexo causal entre a prova primária e a secundária for atenuado em virtude do decurso do tempo, de circunstâncias supervenientes na cadeia probatória, da menor relevância da ilegalidade ou da vontade de um dos envolvidos em colaborar com a persecução penal. Sobre essa teoria, no STF e no STJ não há precedentes. Mas é importante mencionar essa teoria, porque, segundo alguns doutrinadores (Andrei Borges 14 de Mendonça, Guilherme Madeira), a lei 11.690/08 a teria positivado no art. 157, §1º, CPP – Teoria cobrada na prova discursiva de Delegado de GO em 2009. SERENDIPIDADE: Conexão e Encontro Fortuito de Provas O termo vem do inglês “serendipidy”, que significa “descobrir coisas por acaso”. A Teoria do Encontro Fortuito de Provas deve ser utilizada nos casos em que, no cumprimento de uma diligência relacionada a um delito, a autoridade casualmente encontra provas ou elementos informativos relacionados a outra infração penal, que não estava na linha de desdobramento normal da investigação. Ex. mandado de busca e apreensão minucioso e ao ingressar na residência é encontrado objeto que não se encontra descrito no mandado, mas que tem vínculo com o crime objeto da persecução penal. Segundo a doutrina, sendo conexo, é possível que o objeto seja considerado para fins probatórios. O que não se permite é que seja colhido material probatório que tenha relação com outro tipo de delito, que não aquele objeto da investigação. Caso não haja conexão entre os delitos, as informações obtidas através da interceptação podem funcionar como notícia criminis para o início de novas: 1. Serendipidade de 1 grau: Trata-se do encontro fortuito de fatos CONEXOS com os inicialmente investigados; Apenas nesta modalidade é possível reconhecer a validade das provas obtidas. 2. Serendipidade de 2 grau: Encontro fortuito de fatos NÃO CONEXOS com os inicialmente investigados; Aqui a prova não pode ser utilizada, devendo servir como notícia crime para instauração de outra investigação para apurar o novo crime, já que não tem relação com o anterior. MUITO IMPORTANTE: No entanto, o STF, analisando o caso abaixo, assim se manifestou sobre o assunto: O réu estava sendo investigado pela prática do crime de tráfico de drogas. Presentes os requisitos constitucionais e legais, o juiz autorizou a interceptação telefônica para apurar o tráfico. Por meio dos diálogos, descobriu-se que o acusado foi o autor de um homicídio. A prova obtida a respeito da prática do homicídio é LÍCITA, mesmo a interceptação telefônica tendo sido decretada para investigar outro delito que não tinha relação com o crime contra a vida. Na presente situação, tem-se aquilo que o Min. Alexandre de Moraes chamou de “crime achado”, ou seja, uma infração penal desconhecida e não investigada até o momento em que, apurando-se outro fato, descobriu-se esse novo delito. Para o Min. Alexandre de Moraes, a prova é considerada lícita, mesmo que o “crime achado” não tenha relação (não seja conexo) 15 P R O C E S S O P E N A L | com o delito que estava sendo investigado, desde que tenham sido respeitados os requisitos constitucionais e legais e desde que não tenha havido desvio de finalidade ou fraude. STF. 1ª Turma. HC 129678/SP, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 13/6/2017 (Info 869). ATENÇÃO: É lícita a apreensão, em escritório de advocacia, de drogas e de arma de fogo, em tese pertencentes a advogado, na hipótese em que outro advogado tenha presenciado o cumprimento da diligência por solicitação dos policiais, ainda que o mandado de busca e apreensão tenha sido expedido para apreender arma de fogo supostamente pertencente a estagiário do escritório – e não ao advogado – e mesmo que no referido mandado não haja expressa indicação de representante da OAB local para o acompanhamento da diligência. STJ. 5ª Turma. RHC 39.412-SP, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em 3/3/2015 (Info 557). FONTES DO PROCESSO PENAL: Agora, passaremos a estudar as fontes do Direito processual penal... Conceito: Trata-se da forma pela qual o direito se exterioriza. Essas fontes podem ser formais e materiais. FONTE MATERIAL: são aquelas que criam o direito. Tal papel fica a cargo do Estado. Por se tratar de normas de direito processual penal, a competência é privativa da União, nos termosdo art. 22, I, da Constituição Federal. Registre- se, entretanto, que a União, os Estados e o Distrito Federal têm competência concorrente para legislar sobre a criação, o funcionamento e o processo dos juizados de pequenas causas (art. 24, X, CF/88); o direito penitenciário (art. 24, I, CF/88) e sobre procedimentos em matéria processual (art. 24, XI, CF/88). FONTE FORMAL: são aquelas responsáveis pela exteriorização do direito. Elas se subdividem em: A) Fonte Formal Imediata ou Direta: são as leis no sentido amplo: Constituição Federal (art. 5, X, XI, XII, LV, LVI, LXI), Leis infraconstitucionais (CPP, Lei. 11.343/06, 11.340/06), Tratados, convenções e regras de direito internacional (art. 5, §§ 2º e 3º da CF): B) Forte Formal Mediata ou Indireta: 16 1-Doutrina (opinião dos estudiosos do Direito); 2- Princípios Gerais do Direito, postulados éticos que inspiram a formação de normas e aplicação da legislação ao caso concreto, sem expressa previsão legal (Ex: direito não socorre os que dormem); 3-Direito comparado: normas jurídicas existentes em outros Estados. (ex teoria da tinta diluída ou mancha purgada EUA) 4- Costumes: regras de conduta reiterada, praxe forense. (Ex: art. 793 do CPP, não exigir que a parte na audiência só se dirija ao magistrado se estiver de pé). 5- Analogia: É forma de autointegração da lei (art. 3 CPP e 4º LINDB). “udi eadem ratio, udi idem ius”. Onde existe a mesma razão deve ser aplicado o mesmo direito. Ocorre a lacuna da lei, com a consequente aplicação de outra norma positivada que rege caso semelhante. Diferente do CP, que não admite analogia in malam partem, no CPP pode ser aplicada de forma ampla. Sobre as Súmulas Vinculantes editadas pelo STF, há divergência na doutrina sobre serem fontes mediatas ou imediatas: 1. CORRENTE MAJORITÁRIA: Defende que a súmula vinculante não possui força de lei, motivo pelo qual seria ela uma fonte formal mediata (ou indireta) do direito processual penal. 2. CORRENTE MINORITÁRIA: Defende que a SV vincula os demais órgãos do poder judiciário e a administração direta e indireta. Neste caso, seria considerada fonte formal imediata. SISTEMAS PROCESSUAIS: Caros concurseiros, no exato instante em que há a prática concreta do delito, surge para o Estado o direito de punir (jus puniendi). Este, entretanto, não pode impor imediata e arbitrariamente uma pena, sem conferir ao acusado as devidas oportunidades de defesa. Ao contrário, é necessário que os órgãos estatais incumbidos da persecução penal obtenham provas da prática do crime e de sua autoria e que as demonstrem perante o Poder Judiciário, que, só ao final, poderá declarar o réu culpado e condená--lo a determinada espécie de pena. E, sobre a relação jurídica que se consubstancia no deslinde do processo, há regras. Essas regras, contudo, variam de sistema para sistema. Existem três espécies de sistemas processuais penais: a) o inquisitivo; b) o acusatório; c) o misto. Sobre o tema, aproveitamos a Lição do ilustre Norberto 17 P R O C E S S O P E N A L | Avena, e disponibilizamos um importante quadro sinóptico que lhe auxiliará a entender a distinção entre os sistemas: Característica Acusatório Inquisitivo Misto Divisão de Função Distinção absoluta entre as funções de acusar, defender e julgar (devem ser feitos por pessoas distintas). Ninguém pode ir a juízo se não houver acusação. O Juiz pode acusar, defender e julgar (concentração de poder). Há distinção entre a função das partes, porém o juiz pode substituí-las, ora pratica atos de acusação e oras de defesa. Garantia de Defesa O acusado tem direito ao contraditório e ampla defesa; O réu não tem garantias de ampla defesa e contraditório. Existe contraditório e ampla defesa, com intensidade diversificada. Isonomia processual As partes possuem equilíbrio processual; Não há paridade de armas, prepondera o interesse da acusação. Equilíbrio processual relativizado em relação à acusação/ defesa Publicidade do processo Atos processuais são públicos, o segredo de justiça é exceção e deve obedecer a lei; Atos processuais em regra sigilosos, não precisa da fundamentação do juiz. Públicos em regra, podem ser submetidos ao sigilo, por ato motivado do juiz, mesmo sem previsão na lei. Manifestação das partes Defesa se manifesta após a acusação. A defesa não se manifesta, necessariamente, em relação as provas da acusação. Defesa se manifesta após acusação, contrapões-se a argumentos e elementos da acusação Produção das provas Cabe à acusação e a defesa a produção das provas que alegam, o juiz pode buscar provas de forma complementar; O juiz tem ampla liberdade para produzir provas. Cabe à acusação e a defesa a produção das provas que alegam. O juiz possui a mesma liberdade 18 Prisão e liberdade provisória Presume-se a inocência do réu, a prisão é exceção. Presume-se a culpa do réu, a liberdade provisória é exceção. Não se presume culpa nem inocência. IMPORTANTE: O novel pacote anticrime trouxe a previsão expressa (art. 3º-A, CPP) de que o processo penal terá estrutura acusatória, vedadas a iniciativa do juiz na fase de investigação e a substituição da atuação probatória do órgão de acusação. O que define, essencialmente, o sistema processual é a divisão expressa e clara das funções exercidas pelos atores processuais, ou seja, a limitação das funções de julgar, acusar e defender, incluindo a análise da gestão da prova pelo juiz. Apesar da divisão expressa de tarefas, o Código de Processo Penal permite ao juiz, em alguns momentos e sob determinadas condições específicas, a iniciativa probatória de ofício, conforme se observa no art. 156, incisos I e II, nos casos produção antecipada de provas e determinação de diligências para dirimir dúvidas cruciais sobre ponto relevante para o deslinde da causa e também na inquirição das testemunhas, quando realiza perguntas após as partes nos termos do art. 212, parágrafo único, o que, a nosso ver, não afeta a estrutura acusatória, apesar de haver críticas doutrinárias nesse sentido. INTERPRETAÇÃO DA LEI PROCESSUAL PENAL: O ato de interpretar é necessariamente feito por um sujeito que, empregando determinado modo, chega a um resultado. São três as formas de interpretação da lei penal: quanto ao sujeito que a interpreta; quanto ao modo de interpretação; e quanto ao resultado. Vejamos: I) Interpretação quanto ao SUJEITO (ORIGEM): a) Interpretação autêntica ou legislativa → é a interpretação dada pela própria lei. É a lei interpretando-se a si mesma. b) Interpretação doutrinária ou científica → é a interpretação feita pelos estudiosos. Ex. Livro de doutrina. c) interpretação jurisprudencial → é a interpretação fruto das decisões reiteradas dos tribunais. Hoje, essa interpretação pode ter caráter vinculante. Ex. Súmula Vinculante. CUIDADO: A exposição de motivos do Código Penal não é lei. Ela é um esclarecimento dos doutores que trabalharam na elaboração do Código. É uma 19 P R O C E S S O P E N A L | interpretação doutrinária ou científica. Mas, cuidado! A a exposição de motivos do CPP é realizada por lei e, como tal, classificada como autêntica. II) Interpretação quanto ao MODO (FORMA): a) Interpretação gramatical ou filológica–leva em conta o sentido literal das palavras; b) Interpretação teleológica–indaga-se a vontade/intenção objetivada na lei(Para o STF, nessa interpretação, abrange os acessórios); c) Interpretação histórica–procura-se a origem da lei; d) Interpretação sistemática–a lei é interpretada com o conjunto da legislação, inclusive com os princípios geraisde direito. e) Interpretação progressiva(também chamada de adaptativa ou evolutiva) – interpretar de acordo com a realidade e o avanço da ciência em geral(ex. Ciência médica, ciência informática). III) Quanto ao RESULTADO a) Interpretação declarativa ou declaratória → a letra da lei corresponde a exatamente aquilo que o legislador quis dizer, nada suprimindo, nada adicionando. b) Interpretação restritiva → reduz o alcance das palavras para que corresponda à vontade do texto. c) Interpretação extensiva → amplia-se o alcance das palavras da lei para que corresponda à vontade do texto. INTERPRETAÇÃO E INTEGRAÇÃO DA NORMA PROCESSUAL PENAL O artigo 3º do CPP estabelece que a lei processual admite interpretação extensiva e analógica. Na interpretação analógica ou intra legem, a norma, após uma enumeração casuística, traz uma formulação genérica que deve ser interpretada de acordo com os casos anteriormente elencados. A norma regula o caso de modo expresso, embora genericamente. Ex.: o art. 80 do CPP. Já na interpretação extensiva, o intérprete conclui que o legislador adotou redação cujo alcance fica aquém de sua real intenção e, por isso, a interpretação será no sentido de que a regra seja também aplicada a outras situações que guardem semelhança. Ex.: o art. 260 do CPP Quanto à integração da lei, utiliza-se a analogia, que é instrumentalizada para suprir suas lacunas em casos de omissão. 20 Como se vê, a interpretação analógica não se confunde com analogia. Ademais, interpretação analógica e extensiva, como o próprio nome traduz, são meios de interpretação da norma; enquanto a analogia é um meio de integração. APLICAÇÃO DA LEI PROCESSUAL PENAL NO TEMPO: A Lei processual penal aplica-se imediatamente, adotando o Princípio do Tempus Regit Actum (aplicação imediata), ou seja, a partir do período de vacatio legis adota-se imediatamente a nova norma aos atos processuais futuros, no que tange aos processos em curso, sem prejuízo dos atos anteriores realizados sob a égide da antiga lei. Existem três sistemas na doutrina: 1º Sistema da Unidade Processual: A lei que começou no processo termina este processo. 2º Sistema das Fases Processuais: A lei acompanha o processo até o final de sua fase (postulatória, instrutória, decisória). 3º Sistema do isolamento dos atos processuais: a lei nova não atinge os atos processuais praticados sob a vigência da lei anterior, porém será aplicável aos atos processuais que ainda não foram praticados, pouco importando a fase em que o feito se encontrar. Adotado por nosso ordenamento jurídico: Tempus Regit Actum. STJ HC 123.492. O que é uma norma PROCESSUAL PENAL MISTA? É aquela prevista em diploma processual penal, porém de conteúdo misto, ou seja, de cunho de direito material e processual. Segundo corrente majoritária, quando diante de LEI PROCESSUAL MISTA, não devemos adotar o Princípio Tempus Regit Actum, mas sim a extratividade da norma penal, aplicando-se a retroação, se diante de norma mais benigna ao réu. (EXEMPLOS: Art. 366, CPP, art. 89 da L.9099/95 e art. 225 do CP) Há, contudo, quem diga, a exemplo do Nicolitt e Nestor Távora, que esta norma mista deve ser fragmentada, aplicando-se o conteúdo processual dali pra frente e a norma material, se benéfica, para trás. O que é uma norma PROCESSUAL PENAL HETEROTÓPICA? Existem determinadas regras que, apesar de inseridas em diplomas processuais penais (v.g., o Código de Processo Penal), possuem um conteúdo material, retroagindo para beneficiar o réu. Outras, ao revés, incorporadas a leis materiais (v.g., a Constituição Federal), apresentam um conteúdo processual, kenna Realce 21 P R O C E S S O P E N A L | regendo-se pelo critério tempus regit actum. Ex. art. 186 do CPP (natureza material) e art. 109 da CF (natureza processual). Diante de lei processual heterotópica, a solução é observar a natureza do dispositivo para definir a regra aplicável. DIFERENÇA ENTRE NORMA PROCESSUAL MISTA E HETEROTÓPICA: Não há como se confundirem as hipóteses de heterotopia com as situações em que a norma possui conteúdo misto ou híbrido. Nas primeiras, a norma possui uma determinada natureza (material ou processual), em que pese se encontre incorporada a diploma de caráter distinto. Já a norma mista possui dupla natureza, vale dizer, material em uma determinada parte e processual em outra. - EXCEÇÃO DOUTRINÁRIA ACEITA PELA MINORIA: Em regra, a norma processual não retroage, mesmo que mais benéfica ao réu. Contudo, se a norma processual estiver relacionada a direitos e garantias individuais –prisão e liberdade-, ela seguirá as regras de retroatividade do Direito Penal, ainda que seja processual. (Alberto Binder (ARG) – Giovani Conso (ITA) – Guilherme Madeira – Aury Lopes Jr. – Norberto Avena). Ex.: Tício comete o furto hoje e amanhã vem nova lei que admite Prisão Temporária no Furto. Pelo sistema do CPP poderia ser aplicada a temporária no caso, porém pela doutrina representada por Aury Lopes Jr, não seria possível a prisão temporária do indivíduo nesse caso, pois estamos diante de norma de garantia. LEI PROCESSUAL PENAL NO ESPAÇO: Em linhas gerais, deve-se afirmar que o processo penal obedece ao PRINCÍPIO DA ABSOLUTA TERRITORIALIDADE, ou seja, o processo deve ser regulado pelas normas do lugar onde se desenvolve, ou seja, normas brasileiras. Não se admite a intraterritorialidade. Ademais, não têm nossas leis processuais penais extraterritorialidade, para regrar os atos praticados fora do território nacional. INQUÉRITO POLICIAL Nesse momento, iniciaremos o estudo do pilar básico do estudo para o nosso concurso-meta. Certamente você já deve possuir uma base sobre o tema. Aqui trabalharemos o que realmente cai! Conceito: Trata-se de procedimento administrativo inquisitório e preparatório, presidido pela autoridade policial, que consiste em um conjunto de diligências realizadas pela polícia investigativa objetivando a identificação das fontes de prova e a colheita de elementos de informação quanto à autoria e kenna Realce 22 materialidade da infração penal, a fim de possibilitar que o titular da ação penal possa ingressar em juízo. Precisamos, no entanto, nos atentar que sua função é esclarecer os fatos delituosos relatados na notícia de crime, fornecendo subsídios para o prosseguimento ou o arquivamento da persecução penal. Nesse sentido, podemos afirmar que o inquérito policial é bidirecional, atuando com as funções de: a) preservação: a existência prévia de um inquérito policial inibe a instauração de um processo penal infundado, temerário, resguardando a liberdade do inocente e evitando custos desnecessários para o Estado; b) preparação: fornece elementos de informação para que o titular da ação penal ingresse em juízo, além de acautelar meios de prova que poderiam desaparecer com o decurso do tempo. Como podemos verificar, o inquérito é bidirecional, visto que o procedimento policial é destinado a esclarecer a verdade acerca dos fatos delituosos relatados na notícia de crime, fornecendo subsídios para o ajuizamento da ação penal ou o arquivamento da persecução penal. Logo, o inquérito policial não é unidirecional, mas sim bidirecional. Sua missão não se resume a angariar substrato probatório mínimo para a acusação, mas também visa fornecer elementos para o arquivamento, apresentando-se como um procedimento bidirecional. Nas palavras do ilustre Delegado Henrique Hoffmann: “não há entre a investigação policial e a acusação ministerial relação de meio e fim, mas de progressividade funcional. A polícia judiciária, por ser órgão imparcial (e não parte acusadora, como o Ministério Público), não tem compromisso com a acusação ou tampouco com a defesa. Além da função preparatória, deamparar eventual denúncia com elementos que constituam justa causa, existe a função preservadora, de garantia de direitos fundamentais não somente de vítimas e testemunhas, mas do próprio investigado, evitando acusações temerárias ao possibilitar o arquivamento de imputações infundadas. Assim, além de a função preparatória não ser a única, ela sequer é a mais importante.” 23 P R O C E S S O P E N A L | Natureza Jurídica: Segundo entendimento majoritário, trata-se de procedimento administrativo voltado para a apuração do fato criminoso e de sua autoria. Essa é a posição que deve ser adotada em prova objetiva. Qual a relevância dessa natureza jurídica? Eventuais vícios constantes do inquérito, não afetam a ação penal a que deu origem. Portanto, do IP não resulta a imposição de sanções. Veja que a Lei 12.830/2013, que trata sobre a investigação feita pelo delegado, não alterou a natureza jurídica do IP. Posições minoritárias: Há quem diga, por seu turno, que o inquérito policial é processo, não procedimento. Há também quem diga que não é processo nem procedimento. Somente mencionar as minoritárias em prova subjetiva. - QUEM É CONSIDERADO “AUTORIDADE POLICIAL”? HÁ DIVERGÊNCIA: 1) Para uma primeira posição, autoridade policial é o Delegado de Polícia (Civil ou Federal). 2) Em um segundo entendimento, autoridade policial não seria necessariamente o Delegado de Polícia, mas sim o agente público estatal designado para exercer as funções de autoridade policial, podendo ser um policial civil ou militar, por exemplo. É a tese defendida por alguns para que os policiais militares possam lavrar termo circunstanciado de ocorrência no caso de infrações de menor potencial ofensivo (art. 69 da Lei n.° 9.099/95). Feita a ressalva quanto à existência desta discussão, deve-se deixar claro que a posição amplamente majoritária é no sentido de que a autoridade policial é, realmente, apenas o Delegado de Polícia, sendo importante que assim o seja, pois as atividades por ele desempenhadas exigem conhecimentos jurídicos e responsabilidade proporcional a este cargo. FINALIDADE: A finalidade do IP é a colheita de elementos de informação quanto à autoria e materialidade do delito. Então, o IP não busca a colheita de provas, mas sim de elementos de informação. “Elementos de informação” é uma expressão que o CPP passou a usar recentemente. Por exemplo, pelo artigo 155, do CPP, verifica-se que a denominação “prova” é só aquilo produzido em contraditório judicial. Contudo, vale frisar que existem determinadas hipóteses em que a lei ou a jurisprudência estabelecem ressalvas, a exemplo: a) Provas periciais: provas de caráter técnico realizadas no decorrer da investigação policial (ex: perícias destinadas à comprovação do vestígio 24 deixado pela infração penal). Nesses casos, tem-se o contraditório postergado ou diferido, pois será apenas em momento posterior, por ocasião da fase judicial, que se garantirá ao acusado o direito de manifestação. b) Provas cautelares, não sujeitas à repetição e produzidas antecipadamente: ex: interceptações telefônicas realizadas no curso do inquérito policial. Nesse caso, também haverá o contraditório ulterior (postergado ou diferido), facultando-se a ele, por ocasião do processo, o direito de impugnar a prova realizada sem a sua participação. ATRIBUIÇÕES: Logo que tiver conhecimento da prática da infração penal, a autoridade policial deverá: I - dirigir-se ao local, providenciando para que não se alterem o estado e conservação das coisas, até a chegada dos peritos criminais; II - apreender os objetos que tiverem relação com o fato, após liberados pelos peritos criminais; III - colher todas as provas que servirem para o esclarecimento do fato e suas circunstâncias; IV - ouvir o ofendido; V - ouvir o indiciado, com observância, no que for aplicável, devendo o respectivo termo ser assinado por duas testemunhas que Ihe tenham ouvido a leitura; VI - proceder a reconhecimento de pessoas e coisas e a acareações; VII - determinar, se for caso, que se proceda a exame de corpo de delito e a quaisquer outras perícias; VIII - ordenar a identificação do indiciado pelo processo datiloscópico, se possível, e fazer juntar aos autos sua folha de antecedentes; IX - averiguar a vida pregressa do indiciado, sob o ponto de vista individual, familiar e social, sua condição econômica, sua atitude e estado de ânimo antes e depois do crime e durante ele, e quaisquer outros elementos que contribuírem para a apreciação do seu temperamento e caráter. X - colher informações sobre a existência de filhos, respectivas idades e se possuem alguma deficiência e o nome e o contato de eventual responsável pelos cuidados dos filhos, indicado pela pessoa presa. QUAL DELEGACIA CABE A INVESTIGAÇÃO DE DETERMINADO FATO DELITUOSO? Segundo Renato Brasileiro, a determinação da delegacia com atribuição para investigação do fato segue os mesmos moldes do CPP, ou seja, devendo 25 P R O C E S S O P E N A L | ser observado o local de consumação do delito. De todo modo, ainda que as investigações tenham sido realizadas por autoridade que não detinha atribuição para fazê-la, quer nos casos de um crime federal investigado pela Polícia Civil, como o IP é considerado mera peça informativa, a mera irregularidade não tem o condão de contaminar o processo. CARACTERÍSTICAS DO INQUÉRITO POLICIAL: 1) INQUISITORIALIDADE; 2) OFICIOSIDADE (INCIATIVA EX OFFICIO); 3) INDISPONIBILIDADE 4) OFICIALIDADE: 5) ESCRITO: 6) DISCRICIONARIEDADE: 7) DISPENSABILIDADE: 8) SIGILOSO: Trabalharemos característica por característica ao longo de nosso estudo. O inquérito policial é presidido pela autoridade policial. O delegado de policia é um agente administrativo do Estado e, como tal, pratica atos administrativos sob a égide dos princípios da impessoalidade, discricionariedade, moralidade, legalidade e eficiência. Nesse sentido, não se pode alegar a suspeição e impedimento face ao DELEGADO, em virtude da característica da impessoalidade na condução do inquérito policial. Contudo, se enquadrados nas hipóteses de suspeição, os Delegados devem, espontaneamente, declarar-se suspeitos ou impedidos – art. 107. No inquérito não temos a descrição de atos pré-ordenados para serem seguidos pelo Delegado, tratando-se, assim, o inquérito, não de um processo, mas sim de um PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO DISCRICIONÁRIO. O inquérito não é formal. Em sede de inquérito, não há contraditório. Doutrina majoritária afirma que o Inquérito Policial tem força probatória relativa, pois os elementos de informação produzidos não foram submetidos ao contraditório e ampla defesa. Numa prova objetiva dever-se-á marcar como verdadeira a alternativa de que no inquérito não há contraditório e ampla defesa. No entanto, é importante saber que a partir da Lei 13.245/2016, há quem defenda que o IP deixou de ser inquisitorial, pois ao prever que é direito do advogado assistir a seus clientes investigados durante a apuração de infrações, sob pena de nulidade absoluta, está garantindo o contraditório e a ampla defesa (porém ainda é minoritário). 26 Dizem que esse direito de defesa pode se dar de forma exógena e endógena: 1. Exercício exógeno da ampla defesa → É aquele efetivado fora dos autos do IP, por meio de algum remédio constitucional ou mediante requerimentos endereçados ao juiz ou ao MP. Ex. HC, MS, etc. 2. Exercício endógeno da ampla defesa → E aquele praticado nos autos do IP, por meio da oitiva do investigado ou de diligências solicitadas à autoridade policial. A Lei nº 13.245/16, ao afirmar que o advogado tem o direito de assistir a seusclientes investigados durante a apuração de infrações, sob pena de nulidade absoluta do respectivo interrogatório ou depoimento e, subsequentemente, de todos os elementos investigatórios e probatórios dele decorrentes ou derivados, direta ou indiretamente, podendo, inclusive, no curso da respectiva apuração apresentar razões e quesitos, trouxe o contraditório e ampla defesa para o inquérito policial? Doutores, apesar de ser um tema extremamente recente e não podermos dimensionar ainda o que é majoritário, os senhores devem defender que a nova lei NÃO trouxe o contraditório e ampla defesa para o IP, pois em nenhum momento afirmou ser obrigatória a presença do advogado, tão somente trouxe um novo direito, uma nova prerrogativa de que, se constituído, o advogado poderá presenciar o interrogatório ou depoimento. O que não é admitido é realizar a oitiva do suposto autor do delito na ausência daquele que possui advogado e não negou o interesse em participar do depoimento ou interrogatório, o que geraria nulidade do feito. (...) É pacífico o entendimento do Superior Tribunal de Justiça no sentido de que o inquérito policial é procedimento inquisitivo e não sujeito ao contraditório, razão pela qual a realização de interrogatório sem a presença de advogado não é causa de nulidade. (...) STJ. 6ª Turma. HC 139.412/SC, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 09/02/2010. APÓS ESSAS CONSIDERAÇÕES, IMPORTANTE SALIENTAR QUE: 1. O novo dispositivo legal não trouxe a obrigatoriedade da presença do advogado em sede de investigação criminal. 2. Se o investigado estiver desacompanhado de advogado ou defesor público, não é obrigatório ao Delegado designar um defensor dativo. A presença da defesa técnica no interrogatório e nos demais atos da investigação criminal continua sendo facultativa. Trata-se de um direito do investigado, mas, ao contrário do interrogatório judicial, este pode optar por não estar acompanhado de um advogado no ato, sem que isso acarrete nulidade. O que mudou é que agora a legislação é expressa ao reconhecer http://legislacao.planalto.gov.br/legisla/legislacao.nsf/Viw_Identificacao/lei%2013.245-2016?OpenDocument 27 P R O C E S S O P E N A L | o direito do advogado de, se quiser, participar do ato, não podendo haver embaraço da autoridade que conduz a investigação. 3. O advogado deve apresentar procuração para participar da investigação, postulando, conforme o art. 5 do EOAB. 4. O advogado poderá fazer perguntas ao investigado e demais pessoas envolvidas nos depoimentos e requerer diligências. No entanto, o Delegado poderá indeferir determinadas perguntas e diligências. Desta forma, à semelhança do que ocorre no processo penal, o Delegado ou a autoridade que conduz a investigação (ex: Promotor de Justiça) também poderão indeferir perguntas do advogado nas seguintes hipóteses extraídas, por analogia, do art. 212 do CPP: • quando a pergunta formulada puder induzir a resposta (“perguntas sugestivas”); • quando o questionamento não tiver relação com a causa; ou • quando a perguntar importar na repetição de outra já respondida. Como sabemos, o inquérito policial possui como característica o fato de ser um procedimento discricionário, ou seja, o Delegado de Polícia tem liberdade de atuação para definir qual é a melhor estratégia para a apuração do delito. Justamente por conta disso, a legislação previu que a autoridade policial pode indeferir diligências requeridas pelo indiciado ou pela vítima (art. 14 do CPP). Estatuto da OAB (Lei nº 8.906/94) ANTES AGORA Art. 7º São direitos do advogado: (...) XIV - examinar em qualquer repartição policial, mesmo sem procuração, autos de flagrante e de inquérito, findos ou em andamento, ainda que conclusos à autoridade, podendo copiar peças e tomar apontamentos; Art. 7º São direitos do advogado: (...) XIV - examinar, em qualquer instituição responsável por conduzir investigação, mesmo sem procuração, autos de flagrante e de investigações de qualquer natureza, findos ou em andamento, ainda que conclusos à autoridade, podendo copiar peças e tomar apontamentos, em meio físico ou digital; O inquérito é uma modalidade de peça de informação e tem a finalidade de subsidiar o mínimo probatório (justa causa) para oferecimento da denúncia por parte do MP. Nesse sentido, pode-se afirmar que o inquérito é dispensável, podendo o MP adotar outras peças de informação. Quando o MP dispensar o IP, o prazo para oferecimento da denúncia conta-se a partir do momento em que tiver recebido as peças de informação. (art. 46) 28 Ao verticalizarmos o estudo do tema, aprofundando o nosso estudo, temos que segundo a doutrina pró-Delegado de Polícia, denominada como doutrina moderna, que afirma que o inquérito policial é INDISPENSÁVEL. Cuidado, essa posição somente deve ser citada em prova objetiva se claramente o comando das questões solicitar uma crítica ao conceito tradicional ou em provas subjetivas, oportunidade em que o candidato terá espaço para expor ambos os entendimentos, tanto pela dispensabilidade (majoritário), quanto pela indispensabilidade (minoritário). Como mencionado, majoritariamente, a doutrina entende que o inquérito policial é dispensável, porém, o entendimento pró-Delegado/Polícia, manifesta-se no sentido de sua Indispensabilidade, visto que o inquérito se afigura como uma verdadeira garantia de direitos fundamentais do cidadão em não se ver processado por fato que não cometeu. Nas palavras do ilustre Delegado Henrique Hoffmann: “muito embora seja possível o oferecimento de denúncia desacompanhada de inquérito, a esmagadora maioria dos processos penais é antecedida da investigação policial. Afinal, trata-se de garantia do cidadão, no sentido de que não será processado temerariamente. A própria Exposição de Motivos do CPP destaca que o inquérito policial traduz uma salvaguarda contra apressados e errôneos juízos, formados antes que seja possível uma precisa visão de conjunto dos fatos, nas suas circunstâncias objetivas e subjetivas. A instrução preliminar é a ponte que liga a notitia criminis ao processo penal, retratando a transição do juízo de possibilidade para probabilidade pela via mais segura. E, justamente por esse motivo, mesmo quando o Ministério Público já dispõe dos elementos mínimos para propor a ação penal sem o inquérito policial, na maior parte das vezes prefere requisitar a sua instauração, não abrindo mão desse filtro processual. De mais a mais, não se deve perder de vista que, nos crimes de ação penal pública incondicionada (que são a maioria), a regra é a obrigatoriedade de instauração do inquérito policial, e esse procedimento deve acompanhar a peça acusatória sempre que servir de suporte à acusação. Compreendido? Como o inquérito é peça informativa, eventuais vícios nele constantes não têm o condão de contaminar o processo penal a que der origem. Logicamente, se a prova no inquérito tiver sido colhida sob violação das normas de direito material, há de ser reconhecida a sua nulidade durante a fase processual, com o seu consequente desentranhamento dos autos, além das que foram derivadas dessas provas ilícitas. Isso, todavia, não significa dizer que todo inquérito será considerado nulo, pois é possível que existam elementos informativos colhidos no IP que não estejam contaminados. 29 P R O C E S S O P E N A L | Como se vê, estes vícios são na realidade questões de mérito com repercussão na procedência ou improcedência do pedido, ou seja, o processo em si não será nulo, ao contrário, em muitos casos será encerrado inclusive com resolução do mérito, absolvendo o réu. Vale ressaltar que o inquérito policial não pode ser o único elemento na formação de convicção do JUIZ para fins condenatórios. No entanto, as provasnão-repetíveis poderão ser elementos formadores de convicção do magistrado, o que chamamos de prova diferida. Diferença entre atos de prova e atos de investigação: Somente os atos de prova permitem o juízo de certeza, pois são aqueles atos produzidos em fase processual, sob o crivo do contraditório e ampla defesa. Os atos de investigação (colhidos em fase pré-processual), como defendido por Aury Lopes Jr. e André Nicolitt, não são suficientes para lastrear uma condenação, pois são meros indícios colhidos pela autoridade policial. MUITA ATENÇÃO: O Código de Processo Penal FAZ DISTINÇÃO entre provas e elementos informativos. VEJA: Art. 155. O juiz formará sua convicção pela livre apreciação da prova produzida em contraditório judicial, não podendo fundamentar sua decisão exclusivamente nos elementos informativos colhidos na investigação, ressalvadas as provas cautelares, não repetíveis e antecipadas. Finalidade dos elementos de informação: Há duas finalidades precípuas dos elementos de informação, são elas: a) Decretação de medidas cautelares: As medidas cautelares só podem ser decretadas com o mínimo de elementos de informação, a fim de que o juiz possa fundamentar suas decisões. b) Auxiliar na formação da opinio delicti : Significa formar a convicção do titular da ação penal. AGENTES DE SEGURANÇA PÚBLICA COMO INVESTIGADOS: Nos casos em que servidores vinculados às instituições dispostas no art. 144 da Constituição Federal figurarem como investigados em inquéritos policiais, inquéritos policiais militares e demais procedimentos extrajudiciais, cujo objeto for a investigação de fatos relacionados ao uso da força letal praticados no exercício profissional, de forma consumada ou tentada, incluindo as situações dispostas no art. 23 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal), o indiciado poderá constituir defensor. Nesses casos, o investigado deverá ser citado da instauração do procedimento investigatório, podendo constituir defensor no prazo de até 48 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm#art144 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm#art144 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/Del2848.htm#art23 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/Del2848.htm#art23 30 (quarenta e oito) horas a contar do recebimento da citação. Esgotado o referido prazo com ausência de nomeação de defensor pelo investigado, a autoridade responsável pela investigação deverá intimar a instituição a que estava vinculado o investigado à época da ocorrência dos fatos, para que essa, no prazo de 48 (quarenta e oito) horas, indique defensor para a representação do investigado. IMPORTANTE: As disposições constantes acima se aplicam aos servidores militares vinculados às instituições dispostas no art. 142 da Constituição Federal, desde que os fatos investigados digam respeito a missões para a Garantia da Lei e da Ordem.” O pacote anticrime promoveu a necessidade de assistência jurídica aos agentes de segurança pública previstos no art. 144 da Constituição, já incluindo a polícia penal, no âmbito da investigação preliminar (inquérito policial, inquérito policial militar e demais procedimentos extrajudiciais). preciso atentar que o dispositivo se refere exclusivamente à fase preliminar. Outro ponto importante é a delimitação do objeto da investigação extrajudicial (fatos relacionados ao uso da força letal praticados no exercício profissional – consumados ou tentados), incluindo as hipóteses de excludentes de ilicitude prevista no art. 23 do Código Penal. Como sabemos, a presença de defensor durante a fase de investigação preliminar é um direito do investigado, mas não uma obrigação a ser garantida. No entanto, no caso de agentes de segurança pública (art. 144, CF) atuando nas circunstâncias expressamente previstas no art. 14-A, a participação do defensor no acompanhamento da investigação é obrigatória, já que o agente de segurança pública será citado da instauração do procedimento, podendo indicar, em 48 horas, a contar do recebimento da citação, um defensor. Em caso de inércia do investigado, a autoridade intimará a instituição a qual o mesmo está vinculado para que, no prazo de 48 horas, indique um defensor para representação do investigado. Destaque-se que a inobservância da nomeação do defensor poderá gerar a imprestabilidade dos atos praticados durante a investigação preliminar tendo consequências sérias e diretas na decisão de recebimento da denúncia tomada pelo juiz de garantias. Continuando o estudo acerca das características do inquérito policial... http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm#art142 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm#art142 kenna Realce 31 P R O C E S S O P E N A L | O inquérito policial é procedimento INQUISITIVO, haja vista que não obedece aos princípios da ampla defesa e do contraditório. Em face disso, eventual sentença condenatória NÃO poderá se basear EXCLUSIVAMENTE em elementos de informação colhidos durante a fase investigatória, RESSALVADAS as provas cautelares, não repetíveis e as antecipadas. Mas, ATENÇÃO: Apesar da redação legal impedir o juiz de DECIDIR com base, exclusivamente, em elementos colhidos na fase investigativa para condenação, jurisprudência e doutrina majoritárias entendem que tal vedação NÃO se aplica à sentença ABSOLUTÓRIA. O inquérito é indisponível ao Delegado, ou seja, ele NÃO pode mandar arquivar os autos de inquérito. Art. 17 CPP. Mas é dispensável ao MP, visto que ele pode arquivá-lo ou ainda oferecer a denúncia com base em outras peças de informação, dispensando-o. O inquérito é escrito, devendo o delegado rubricar cada folha. Dessa afirmativa, nasce a seguinte pergunta: é possível gravar as investigações/ atos do inquérito, tendo em vista que o art.9º fala somente em “peça escrita”? Segundo a doutrina, o art. 405 §1º, CPP, que se destina ao processo, pode ser aplicado analogicamente ao inquérito, de modo a ser possível sim que se grave peças do inquérito. Porém, ATENÇÃO! Não há IP oral! Essa questão caiu no concurso de Delegado de Polícia do Estado de Santa Catarina/2014. Sobre o caráter sigiloso do inquérito (SV 14 do STF): É direito do defensor, no interesse do representado, ter acesso amplo aos elementos de prova já documentados em procedimento investigatório realizado quanto aos assuntos que digam respeito ao exercício do direito de defesa (Sigilo Interno). Nesse sentido, o art. 7ª do Estatuto da OAB garante ao advogado o acesso ao inquérito, mesmo sem a procuração, desde que seja no interesse do investigado. Ademais, o sigilo do inquérito visa proteger o indiciado da sociedade, a fim de não ter a sua vida exposta, sob o fundamento da presunção de inocência (Sigilo Externo). O sigilo do inquérito não é absoluto, ou seja, não alcança o advogado, visando proteger o próprio acusado, salvo quando houver medida cautelar em curso apensada ao inquérito policial (interceptação telefônica, infiltração de policial em organização criminosa). ATENÇÃO: Mesmo que a investigação criminal tramite em segredo de justiça será possível que o investigado tenha acesso amplo autos, inclusive a eventual relatório de inteligência financeira do COAF, sendo permitido, contudo, que se negue o acesso a peças que digam respeito a dados de terceiros 32 protegidos pelo segredo de justiça. Essa restrição parcial não viola a súmula vinculante 14. Isso porque é excessivo o acesso de um dos investigados a informações, de caráter privado de diversas pessoas, que não dizem respeito ao direito de defesa dele. STF. 1ª Turma. Rcl 25872 AgR-AgR/SP, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 17/12/2019 (Info 964). Nesse sentido, destaque-se que, mesmosem procuração, o advogado tem acesso aos autos do IP. Contudo, se no IP houver quebra de sigilo de dados, somente terá acesso o advogado com procuração nos autos a fim de proteger a intimidade do acusado. E se, ainda assim, for negado à defesa, pelo delegado, o acesso ao procedimento policial? Faculta-se ao prejudicado deduzir reclamação diretamente ao STF (art. 103-A, §3º, CF). Contudo, independentemente dessa previsão, é possível ao interessado valer- se do mandado de segurança a ser impetrado perante o juiz para efetivação desse direito aos autos de inquérito e HC, se presente prejuízo à liberdade de locomoção do suspeito no caso concreto. Isso porque, o art. 7º, da Lei 11.417/06, que regulamenta a súmula vinculante, dispõe que da decisão judicial ou do ato administrativo que contrariar enunciado de súmula vinculante, negar-lhe vigência ou aplicá-lo indevidamente caberá reclamação ao STF, sem prejuízo dos recursos ou outros meios admissíveis de impugnação. A incomunicabilidade do preso, presente no art. 21, não foi recepcionada pela nova constituição frente ao Estado Democrático de Direito (Posição Majoritária). O raciocínio é que o Estado de defesa é um estado de exceção, um estado de crise. Então, se num estado de crise não se pode manter o preso incomunicável, muito menos num estado de normalidade. Afranio Silva Jardim – em sentido contrário - sustenta a recepção constitucional do art. 21 do CPP porque se o constituinte expressamente vetou a incomunicabilidade na vigência do Estado de defesa é porque subliminarmente a admitiu em caráter excepcional na vigência regular de um Estado Democrático de Direito. (citar a segunda corrente apenas em subjetiva e oral). ATRIBUIÇÕES DO DELEGADO DURANTE O INQUÉRITO POLICIAL: Devemos ter muita atenção ao estudar este tópico, pois sofreu alteração recente e será objeto de questionamento nos próximos certames. Nesse sentido, cabe à autoridade policial – art. 13: I - fornecer às autoridades judiciárias as informações necessárias à instrução e julgamento dos processos; II - realizar as diligências requisitadas pelo juiz ou pelo Ministério Público; III - cumprir os mandados de prisão expedidos pelas autoridades judiciárias; 33 P R O C E S S O P E N A L | IV - representar acerca da prisão preventiva. O artigo a seguir foi acrescentado pela Lei 13.344/2016, exigindo grande atenção por parte do candidato: Art. 13-A. Nos crimes previstos nos arts. 148, 149 e 149-A, no § 3º do art. 158 e no art. 159 do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal), e no art. 239 da Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente), o membro do Ministério Público ou o delegado de polícia poderá requisitar, de quaisquer órgãos do poder público ou de empresas da iniciativa privada, dados e informações cadastrais da vítima ou de suspeitos. Parágrafo único. A requisição, que será atendida no prazo de 24 (vinte e quatro) horas, conterá: I - o nome da autoridade requisitante; II - o número do inquérito policial; e III - a identificação da unidade de polícia judiciária responsável pela investigação. Art. 13-B. Se necessário à prevenção e à repressão dos crimes relacionados ao tráfico de pessoas, o membro do Ministério Público ou o delegado de polícia poderão requisitar, mediante autorização judicial, às empresas prestadoras de serviço de telecomunicações e/ou telemática que disponibilizem imediatamente os meios técnicos adequados – como sinais, informações e outros – que permitam a localização da vítima ou dos suspeitos do delito em curso. § 1o Para os efeitos deste artigo, sinal significa posicionamento da estação de cobertura, setorização e intensidade de radiofrequência. § 2o Na hipótese de que trata o caput, o sinal: I - não permitirá acesso ao conteúdo da comunicação de qualquer natureza, que dependerá de autorização judicial, conforme disposto em lei; II - deverá ser fornecido pela prestadora de telefonia móvel celular por período não superior a 30 (trinta) dias, renovável por uma única vez, por igual período; III - para períodos superiores àquele de que trata o inciso II, será necessária a apresentação de ordem judicial. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del2848.htm#art148 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del2848.htm#art149 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del2848.htm#art149a http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del2848.htm#art158§3 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del2848.htm#art159 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L8069.htm#art239 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L8069.htm#art239 kenna Realce 34 § 3o Na hipótese prevista neste artigo, o inquérito policial deverá ser instaurado no prazo máximo de 72 (setenta e duas) horas, contado do registro da respectiva ocorrência policial. § 4o Não havendo manifestação judicial no prazo de 12 (doze) horas, a autoridade competente requisitará às empresas prestadoras de serviço de telecomunicações e/ou telemática que disponibilizem imediatamente os meios técnicos adequados – como sinais, informações e outros – que permitam a localização da vítima ou dos suspeitos do delito em curso, com imediata comunicação ao juiz. Como podemos verificar, a referida Lei acresce ao Código de Processo Penal os arts. 13-A e 13-B, que permitem, em linhas gerais, que o Ministério Público e o delegado de polícia requisitem dados e informações cadastrais da vítima ou de suspeitos. Também nessa linha, o art. 13-B do CPP, inovação desta Lei, possibilita que o membro do Ministério Público ou o delegado de polícia requisitem, mediante autorização judicial, às empresas prestadoras de serviço de telecomunicações e/ou telemática que disponibilizem imediatamente os meios técnicos adequados que permitam a localização da vítima ou dos suspeitos do delito em curso. DESTINATÁRIO DO INQUÉRITO POLICIAL: O CPP é um dispositivo normativo antigo e, como tal, traz o juiz como destinatário do inquérito policial. Porém, com o advento da CF/88, o juiz tem que saber qual é a opinio delicti do MP quanto ao que fora apurado pela policia judiciária. Existe alguma providência processual que a vítima possa adotar para evitar o arquivamento do IP? Ela pode, por exemplo, impetrar um mandado de segurança com o objetivo de impedir que isso ocorra? NÃO. A vítima de crime de ação penal pública não tem direito líquido e certo de impedir o arquivamento do inquérito ou das peças de informação. STJ. Corte Especial. MS 21.081-DF, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 17/6/2015 (Info 565). INSTAURAÇÃO DE INQUÉRITO DIANTE DE DENÚNCIA ANÔNIMA: As autoridades públicas não podem iniciar inquérito policial (penal ou disciplinar) apoiando-se, unicamente, para tal fim, em peças apócrifas ou em escritos anônimos- art. 5º IV da CF. Nada impede que a autoridade policial, diante de denúncia anônima, adote medidas informais destinadas a apurar, previamente, em averiguação sumária, “com prudência e discrição”, a possível ocorrência de eventual situação de ilicitude penal, desde que o faça com o objetivo de conferir a verossimilhança dos fatos nela denunciados, em ordem a promover, então, em caso positivo, a formal instauração do inquérito policial. (STF, HC – 97197) 35 P R O C E S S O P E N A L | DENÚNCIA FORMULADA COM BASE EM INQUÉRITO CIVIL - É possível o oferecimento de ação penal (denúncia) com base em provas colhidas no âmbito de inquérito civil conduzido por membro do Ministério Público - STF. Plenário. AP 565/RO - (Info 714). VERIFICAÇÕES PRELIMINARES DE INQUÉRITO – VPI’S Geralmente, o inquérito só será instaurado após a VPI (procedimento
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