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Carlos de Sousa Pinto UR DEM 1 NI L 3ª EDIÇÃO COM EXERCÍCIOS RESOLVIDOS ©Copyright 2006 Oficina de Textos Capa: Mauro Gregolin Diagramação: Anselmo Trindade Ávila Ilustrações: Mauro Gregolin e Anselmo T. Ávila Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Pinto, Carlos de Sousa Curso Básico de Mecânica dos Solos em 16 Aulas/3ª Edição Carlos de Sousa Pinto. - São Paulo: Oficina de Textos. 1. Mecânica dos Solos 2. Mecânica dos Solos - Estudo e Ensino I. Título 00-0430-CDD-624.151307 Índice para catálogo sistemático: 1. Mecânica dos solos: Estudo e Ensino: Engenharia 624.151307 Todos os direitos reservados à Oficina de Textos Travessa Dr. Luiz Ribeiro de Mendonça, 4 O 1420-040 São Paulo SP Brasil Fone: (11) 3085-7933 Fax: (11) 3083-0849 site: www.ofitexto.com.br e-mail: ofitexto@ofitexto.com.br -APRESENT ÇA É com grata emoção e orgulho que edito este livro do prof. Carlos de Sousa Pinto, sem dúvida, um dos mais queridos e respeitados professores de Mecânica dos Solos da Poli, onde há quase 40 anos vem formando as gerações que aí se sucedem. Ninguém como ele para apresentar os primeiros conceitos e fundamentos com clareza e precisão, as primeiras impressões do que vem a ser Mecânica dos Solos. Por serem claras e cristalinas as idéias com que o prof. Carlos Pinto apresenta os fundamentos, permanecem nas jovens mentes pelo resto da vida e permitirão o desenvolvimento sólido do profissional, porque fundado em conceitos firmes. Há 30 anos fui aluna de graduação do prof. Carlos Pinto e estimulada por seu entusiasmo e instigada por esta nova área de conhecimento que nos apresentava, escolhi a engenharia geotécnica como minha profissão e assim é até hoje. Ao final daquele ano pedi-lhe um estágio no IPT e posteriormente ainda viria a ser sua aluna na pós-graduação. Como não sentir enorme satisfação em editar seu livro? Isto sem falar no excelente profissional e prestitnoso e solidário colega! Assistit às aulas do prof. Carlos Pinto é um prazer que esperamos transtnitir aos leitores deste livro. Façam bom proveito! S ohre o Autor: O prof. Carlos de Sousa Pinto nasceu em Curitiba, Paraná, onde realizou seus estudos até o curso de Engenharia Civil, pela Escola de Engenharia da Universidade do Paraná, em 1956. Iniciou suas atividades profissionais na ABCP - Associação Brasileira de Cimento Portland, em São Paulo, atuando na implantação da técnica de pavini.entos de solo-cimento no Brasil. No IPT, Instituto de Pesquisas Tecnológicas de São Paulo, foi pesquisador de 1959 a 1985, atuando sempre no campo da Engenharia de Solos, Mecânica dos Solos 4 COMPACTAÇÃO DOS SOLOS ........................................................ 65 4.1 Razões e histórico da compactação ............................................ 65 4.2 O Ensaio Normal de Compactação ............................................ 66 4.3 Métodos alternativos de compactação ....................................... 69 4.4 Influência da energia de compactação ........................................ 70 4.5 Aterros experimentais .................................................................... 73 4.6 Estrutura dos solos compactados ............................................... 7 4 4. 7 A compactação no campo ............................................................ 7 4 4. 8 Compactação de solos granulares ................................................ 7 6 Exercícios resolvidos ................................................................................. 7 6 5 TENSÕES NOS SOLOS - CAPILARIDADE ................................ 83 5 .1 Conceito de tensões num meio particulado ............................... 8 3 5.2 Tensões devidas ao peso próprio do solo ................................... 84 5.3 Pressão neutra e conceito de tensões efetivas .......................... 85 5.4 Ação da água capilar no solo ........................................................ 90 Exercícios resolvidos ................................................................................. 9 5 6 A ÁGUA NO SOLO - PERMEABILIDADE, FLUXO UNIDIMENSIONAL E TENSÕES DE PERCOLAÇÃO ...... 101 6.1 A água no solo .............................................................................. 101 6.2 A permeabilidade dos solos ........................................................ 102 6. 3 A velocidade de descarga e a velocidade real da água ........... 1O8 6.4 Cargas hidráulicas ......................................................................... 108 6. 5 Porça de perco lação ..................................................................... 11 O 6.6 Tensões no solo submetido a percolação ................................. 110 6. 7 Gradiente crítico ........................................................................... 112 6. 8 Redução do gradiente de saída ................................................... 114 6.9 Levantamento de fundo .............................................................. 116 6 .1 O Piltros de proteção ....................................................................... 116 6 .11 Permeâmetros horizontais .......................................................... 118 Exercícios resolvidos ............................................................................... 11 9 7 FLUXO BIDIMENSIONAL ............................................................. 131 7. 1 Fluxos bi e tridimensionais ......................................................... 131 7 .2 Estudo da percolação com redes de fluxo ............................... 131 7. 3 Rede de fluxo bidimensional ...................................................... 13 4 7 .4 Traçado de redes de fluxo ........................................................... 13 7 7. 5 Outros métodos de traçado de redes de fluxo ........................ 13 8 7. 6 Interpretação de redes de fluxo .................................................. 13 8 7. 7 Equação diferencial de fluxos tridimensionais ........................ 140 7. 8 Condição anisotrópica de permeabilidade ............................... 14 2 Exercícios resolvidos ............................................................................... 145 8 TENSÕES VERTICAIS DEVIDAS A CARGAS APLICADAS Índice NA SUPERFÍCIE DO TERRENO ................................................ 151 8 .1 Distribuição de Tensões .............................................................. 151 8.2 Aplicação da Teoria da Elasticidade ......................................... 153 8.3 Considerações sobre o emprego da Teoria da Elasticidade .. 161 Exercícios resolvidos ............................................................................... 162 9 DEFORMAÇÕES DEVIDAS A CARREGAMENTOS VERTICAIS ............................................................................................ 171 9 .1 Recalques devidos a carregamentos na superfície .................. 1 71 9. 2 Ensaios para determinação da deformabilidade dos solos ... 1 71 9. 3 Cálculo dos recalques .................................................................. 175 9 .4 O adensamento das argilas saturadas ....................................... 178 9. 5 Exemplo de cálculo de recalque por adensamento ................ 182 Exercícios resolvidos ............................................................................... 183 1 O TEORIA DO ADENSAMENTO EVOLUÇÃO DOS RECALQUES COM O TEMP0 ...................................................... 193 10.1 O processo do adensamento ...................................................... 193 10.2 A Teoria de Adensarnento Unidimensional de Terzaghi ....... 194 10.3 Dedução da teoria ........................................................................ 197 10.4 Exemplo de aplicação da Teoria do Adensan1ento ................ 204 Exercícios resolvidos ...............................................................................207 11 TEORIA DO ADENSAMENTO - TÓPICOS COMPLEMENTARES ....................................................................... 211 11.1 Fórmulas aproximadas relacionando recalques com fator ten1po .................................................................................... 211 11.2 Obtenção do coeficiente de adensamento a partir do ensaio. 213 11. 3 Condições de campo que influenciam o adensamento .......... 216 11.4 Análise da influência de hipóteses referentes ao comportamento dos solos na teoria do adensamento ............ 21 9 11. 5 Adensamento secundário ............................................................ 221 11.6 Emprego de pré-carregamento para reduzir recalques futuros .. 225 11. 7 Recalques durante o período construtivo ................................ 227 11. 8 Interpretação de dados de um aterro instrumentado ............. 228 Exercícios resolvidos ............................................................................... 230 12 ESTADO DE TENSÕES E CRITÉRIOS DE RUPTURA ...... 241 12.1 Coeficiente de empuxo em repouso .......................................... 241 12.2 Tensões num plano genérico ...................................................... 243 12.3 A Resistência dos Solos .............................................................. 248 12.4 Critérios de ruptura ...................................................................... 251 12.5 Ensaios para determinação da resistência de solos ................ 253 Exercícios resolvidos ............................................................................... 25 7 Mecânica. dos Solos 13 RESISTÊNCIA DAS AREIAS ........................................................... 263 13.1 Comportamento típico das areias .............................................. 263 13. 2 Índice de vazios crítico das areias ............................................. 2 6 6 13.3 Variação do ângulo de atrito com a pressão confinante ........ 269 13 .4 Ângulos de atrito típicos de areias ............................................ 27 O 13. 5 Estudo da resistência das areias por meio de ensaios de cisalha1nento direto ...................................................................... 273 Exercícios resolvidos ............................................................................... 27 4 14 RESISTÊNCIA DOS SOLOS ARGILOSOS ................................ 283 14.1 Influência da tensão de pré-adensamento na resistência das argilas .............................................................................................. 283 14.2 Resistência das argilas em termos de tensões efetivas .......... 284 14. 3 Comparação entre o comportamento das areias e das argilas .... 2 8 8 14.4 Análises em termos de tensões totais ....................................... 289 14.5 Resistência das argilas em ensaio adensado rápido, CU ........ 290 14.6 Trajetória de tensões .................................................................... 294 14.7 Comparação entre os resultados de ensaios CD e CU ........... 297 Exercícios resolvidos ............................................................................... 298 15 RESISTÊNCIA NÃO DRENADA DAS ARGILAS ................... 307 15.1 A resistência não drenada das argilas ....................................... 307 15.2 Resistência não drenada a partir de ensaio de laboratório .... 308 15. 3 Fatores que afetam a resistência não drenada das argilas ..... 312 15. 4 Resistência não drenada a partir de ensaio de campo ............ 31 7 15. 5 Resistência não drenada a partir de correlações ..................... 31 9 15.6 Comparação entre os valores obtidos por diferentes fontes. 320 15. 7 Influência da estrutura na resistência não drenada ................ 3 21 15. 8 Análise da resistência não drenada de uma argila natural ..... 3 21 Exercícios resolvidos ............................................................................... 323 16 COMPORTAMENTO DE ALGUNS SOLOS TÍPICOS ......... 331 16.1 A diversidade dos solos e os modelos clássicos da Mecânica dos Solos ...................................................................... 331 16.2 Solos estruturados e cimentados ............................................... 331 16.3 Solos residuais ............................................................................... 333 16.4 Solos não saturados ..................................................................... 334 16. 5 Solos colapsíveis ........................................................................... 340 16. 6 Solos expansivos ........................................................................... 341 16. 7 Solos compactados ....................................................................... 3 4 2 Exercícios resolvidos ............................................................................... 348 Bibliografia ....................................................................................................... 3 51 RIGEM E NATUREZA D S S L S 1.1 A Mecânica dos Solos na Engenharia Civil Todas as obras de Engenharia Civil se assentam sobre o terreno e inevita,Tclmcnte rcc1uerem c1uc o comportamento do solo seja devidamente considerado. A I'víecânica dos Solos, que estuda o comportamento dos solos c1uando tcnsócs são aplicadas, como nas fundaçóes, ou aliviadas, no caso de escaYações, ou perante o escoamento de água nos seus \Tazios, constitui-se numa Ciência de Engenharia, na qual o engenheiro civil se baseia para dcscnvohTcr seus projetos. Este ramo da engenharia, charnado de Engenharia Gcotécnica ou Engenharia de Solos, costuma ernpolgar os seus praticantes pela diversidade de suas atividades, pelas peculiaridades que o nrnterial apresenta cm cada local e pela cngcnhosidadc freqüentemente requerida para a solução de problemas reais. Trabalhos marcantes sobre o comportamento dos solos já foram desenvolvidos cn1 séculos passados, como os clássicos de Coulomb, 1773, Rankine, 1856 e Darcy, 1856. Entretanto, UlTl acúrnulo de insucessos en1 obras de engenharia civil no início do século XX, dos quais se destacam as rupturas do Canal do Panamá e ron1pimcntos de grandes taludes em estradas e canais cm construção na Europa e nos Estados Unidos, rnostrou a necessidade de revisão dos procedimentos de cálculo. Como apontou Terzaghi cm 1936, ficou C\Tidcntc que não se podiam aplicar aos solos leis teóricas de uso corrente em. projetos que envolviam materiais mais bem definidos, con10 o concreto e o aço. Não era suficiente determinar cm laboratório parâmetros ele resistência e dcformabilidaclc cm amostras ele solo e aplicá-los a modelos teóricos adequados àqueles materiais. O conhecimento elo comportamento deste material, disposto pela natureza cm depósitos heterogêneos e apresentando comportamento demasiadamente complicado para tratamentos teóricos rigorosos, deveu-se cm grande parte aos trabalhos de Karl Tcrzaghi, engenheiro civil de larga experiência, sólido preparo científico e acurado espírito de iiwcstigação, in ternacionah11ente reconhecido como o fundador da lllecânica elos Solos. Mecânica dos Solos 2 Seus trabalhos, identificando o papel das pressões na {igua no estudo das tensões nos solos e a apresentação da solução niaternática para a evolução dos recalques das argilas com o tempo após o carregamento, são reconhecidos como o marco inicial desta nova ciência de engenharia. 1\pesar de seu nome, hoje empregado internacionalmente, a IVIccânica dos Solos não se restringe ao conhecimento das propriedades dos solos que a Mecânica pode esclarecer. A Química e a Física Coloidal, importantes para justificar aspectos do comportam.cnto dos solos, são parte integrante da Mecânica dos Solos, enquanto c1ue o conhecimento da Geologia é fundamental para o tratamento correto dos problemas de fundações. A Engenharia Geotécnica é uma arte que se aprimora pela experiência, pelaobservação e análise do comportamento das obras, para o que é in1prescindível atentar para as peculiaridades dos solos com base no entendimento dos mecanismos de comportamento, que constituem a essência da Iviecânica dos Solos. Os solos são constituídos por um conjunto de partículas com água (ou outro líquido) e ar nos espaços intermediários. As partículas, de maneira geral, encontram.-se livres para deslocar entre si. Em alguns casos, uma pequena cimentação pode ocorrer entre elas, mas num grau extremamente 1nais baixo do que nos cristais de u1na rocha ou de um metal, ou nos agregados de um concreto. O comportamento dos solos depende do movimento das partículas sólidas entre si e isto faz com ciue ele se afaste do mecanismo dos sólidos idealizados na Iviecânica dos Sólidos DcformáYeis, na qual se fundarnenta a 1viecânica das Estruturas, de uso corrente na Engenharia Civil. I\fais que qualquer dos materiais tradicionalmente considerados nas estruturas, o solo diverge, no seu comportan1ento, do modelo de um. sólido dcforrnável. A Mecânica dos Solos poderia ser adec1uadamcntc incluída na Mecânica dos Sistemas Particulados (Lambe e \V'hitman, 1969). As soluções da Mecânica dos Sólidos Deformáveis são freqüentemente empregadas para a representação do comportamento de rn.aciços de solo, graças a sua simplicidade e por obterern comprovação aproximada de seus resultados com o comportamento real dos solos, c1uando ycrificada experimentalmente cm obras de engenharia. Em diversas situações, entretanto, o comportamento do solo só pode sei: entendido pela consideração das forças transmitidas diretamente nos contatos entre as partículas, cm.bom estas forças não sejam. utilizadas em cálculos e modelos. Não é raro, por exemplo, que partículas do solo se qucbtetn quando este é solicitado, alterando-o, coin conseqüente influência no seu desempenho. 1.2 As partículas constituintes dos solos A origem dos solos Todos os solos se originam da decomposição das rochas que constituíam inicialmente a crosta terresttc. A decomposição é deconente de agentes físicos e químicos. Variaçàes de temperatura provocam trincas, nas quais penetra a água, atacando quimicamente os minerais. O congelamento da água nas trincas, entre outros fatores, exerce ele\Tadas tensàes, do que decorre 1Tlaior fragmentação dos blocos. A presença da fauna e flora promove o ataque quínuco, atrmTés de hidratação, hidrólise, oxidação, lixiviação, troca de cátions, carbonatação, etc. O conjunto destes processos, que são muito mais atuantes em climas quentes do que ern climas frios, leva à formação dos solos que, e1Tl conseqüência, são nusturas de partículas pequenas que se diferencian1 pelo tamanho e pela composição química. J\ maior ou menor concentração de cada tipo de partícula num. solo depende da composição química da rocha que lhe deu origem. Tan1anho das partículas .i:\. prirneira característica que diferencia os solos é o tamanho das partículas que os compàem. Numa primeira aproxirnação, pode-se identificar que alguns solos possuem grãos perceptíveis a olho nu, com.o os grãos de pedregulho ou a areia do mar, e que outros têm os grãos tão finos que, quando molhados, se transformam numa pasta (barro), não podendo se visualizar as partículas individualmente. A diversidade do tam.anho elos grãos é enorme. Não se percebe isto num primeiro contato com o rn.aterial, simplesmente porque parecem todos nmito pequenos perante os materiais com os quais se está acostumado a lidar. ldas alguns são consideravelmente rn.enores do que outros. Existem grãos de areia com. climensàes de 1 a 2 mm., e existe1Tl l"'"rtículas ele argila com espessuras da ordem de 1 O .Angstrons (0,000001 mm.). Isto significa c1ue, se uma partícula de argila fosse ampliada ele forma a ficar com o tam.anho ele unia folha ele papel, o grão de areia acima citado ficaria com diâmetros da ordem ele 100 a 200 metros. Num solo, gcrnlrn.ente co1wivem partículas de tamanhos diversos. Não é fácil identificar o tam.anho das partículas pelo simples rnanuseio do solo, porque grãos de areia, por exemplo, podem estar emToltos por uma grande quantidade de partículas argilosas, finíssimas, ficando com o mesmo aspecto de uma aglom.eração formada exclusivamente por uma grande quantidade destas partículas. Quando secas, as duas formaçàes são muito semelhantes. Quando úmidas, entretanto, a aglorn.eração de partículas argilosas se transforma cm um.a pasta fina, enquanto a partícula arenosa revestida é facilmente reconhecida pelo tato. Denominações específicas são etTlpregadas para as di,Tersas faixas de tamanho de grãos; seus limites, entretanto, variam conforme os sistern.as de classificação. Os valores adotados pela ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas - são os indicados na Tabela 1.1. Diferentemente desta term.inologia adotada pela ABN'l~ a separação entre as frações silte e areia é freqüenternente tornada como 0,07 5 mm, correspondente à abertura da peneira nº 200, que é a rn.ais fina peneira correntemente usada nos laboratórios. O conjunto de silte e argila é clenonunado com.o a fração ele finos do solo, enquanto o conjunto areia e Aula 1 Origem e Natureza dos Solos 3 Mecânica dos Solos 4 Limites das frações de solo pelo tamanho dos grãos pedregulho é denoniinado fração grossa ou grosseira do solo. Por outro lado, a fração argila é considerada, com freqüência, como a fração abaixo do diâmetro de 0,002 n1m, que corresponde ao tamanho mais próximo das partículas de constituição mineralógica dos minerais-argila. Fração Matacão Pedra Pedregulho Areia grossa Areia média Areia fina Silte Argila Constituição mineralógica Limites definidos pala Norma da ABNT de 25 cm a 1 m de 7,6 cm a 25 cm de 4,8 mm a 7,6 cm de 2,0 mm a 4,8 mm de 0,42 mm a 2,0 mm de 0,05 mm a 0,42 mm de 0,005 mm a 0,05 mm inferior a 0,005 mm 1\s partículas resultantes da desagregação de rochas dependem da com.posição da rocha matriz. Algumas partículas maiores, dentre os pedregulhos, são constituídas freqüentem.ente de agregaçôes de minerais distintos. I~ m.ais comum, entretanto, que as partículas sejam. constituídas de un1 único mineral. O quartzo, presente na maioria das rochas, é bastante resistente à desagregação e forma grãos de siltes e areias. Sua composição química é simples, Si02, as partículas são equidimensionais, como cubos ou esferas, e apresentam baixa ati1Tidade superficial. Outros m.inerais, como feldspato, gibsita, calcita e mica, tambén1 podem ser encontrados neste tamanho. Os fcldspatos são os minerais mais atacados pela natureza, dando origem aos argilo-minerais, que constituem a fração mais fina dos solos, geralmente com dimensão inferior a 2 mm. Não só o reduzido tamanho mas, principalmente, a constituição mineralógica faz com que estas partículas tenham um comportamento extremamente diferenciado em relação ao dos grãos de silte e areia. Os argilo-n1incrais apresentam uma estrutura complexa. Uma abordagem detalhada deste tema foge ao escopo deste livro, podendo ser encontrada no clássico de Grim (1962) ou cm l\Iitchcll (1976). Uma síntese do assunto, que perm.ite compreender o comportamento dos solos argilosos perante a água, é apresentada a seguir, tomando-se como exemplo três dos minerais mais comuns na natureza (a caulinita, a ilita e a csrnectita), que apresentam comportamentos bem distintos, principalmente na presença de água. Na composição quúmca das argilas, existem dois tipos de estrutura: uma estrutura de tetraedros justapostos num plano, com átomos de silício ligados a quatro átomos de oxigênio (SiOz) e outra de octaedros, cm que átomos de alumínio são circundados por oxigênio ou hidroxilas [Al(OH)3]. Estas estruturas se ligam por meio de átomos de oxigênio que pertencem simultaneamente a ambas. Alguns minerais-argila são forrnados por uma camadatetraédrica e uma octaédrica (estrutura de camada 1: 1 ), determinando uma espessura da ordem de 7 A (1 Angstron = 1 O-Iu m), como a caulinita, cuja estrutura está representada na Figura 1.1. 1\s camadas assim constituídas encontram-se firn1cn1ente en1pacotadas, con1 ligaçôcs de hidrogênio que impedem sua separação e que entre elas se introduzam moléculas de água. j\ partícula resultante fica com espessura da ordem de 1.000 A, sendo sua dimensão longitudinal de cerca de 10.000 A. Noutros 111inerais, o arranjo octaédrico é encontrado entre duas estruturas do arranjo tetraédrico (estrutura de camada 2:1), (b) O Oxigênio @ Hidroxila e Aluminio eo Silício definindo uma espessura de cerca de 1 O _.r\. Com esta constituição estão as csmectitas e as ilitas, cujas estruturas simbólicas estão apresentadas na Figura 1.2. Nestes minerais, as ligações entre as camadas se fazem por íons 0 2- e 0 2 ; dos arranjos tetraédricos, que são mais fracos do que as ligações entre camadas de caulinita, cm que íons 0 2+ da estrutura tetraédrica se ligam a OH da estrutura octaédrica. As camadas ficam lincs, e as partículas, no caso das esn1ectitas, ficam com a espessura da própria camada estrutural, que é de 10 A. Sua dimensão longitudinal tarnbém é reduzida, ficando com cerca de 1.000 A, pois as placas se qucbratn por flexão. 1\ s partículas de csmectitas apresentam um volume 10-4 \Tezes menor do que as de caulinita e uma área 10-2 vezes menor. Isto significa que para igual volume ou massa, a superfície das partículas de esrnectitas é 100 vezes maior do que das partículas de caulinita. A .wpe1jláe espedjica (superfície total de um conjunto de partículas di,·idida pelo seu peso) das caulinitas é da ordem de 1 O m 2 / g, cnc1uanto que a das esmectitas é de cerca de 1.000 m 2 / g. As forças de superfície são muito importantes no comportamento de partículas coloidais, sendo a diferença de superfície específica uma indicação da diferença de comportamento entre solos com distintos m.inerais-argila. O comportamento das argilas seria menos complexo se não ocorressem imperfeições na sua composição mineralógica. É comum, entretanto, a ocorrência de um átomo de alumínio, AP+, substituindo um de silício, SiH, na estrutura tetraédrica, e c1ue na estrutura octaédrica, átomos de alumínio estejam substituídos por outros átomos de menor valência, como o magnésio, ]\Ig++ Estas alteraçôes são definidas como .mb.1!!!11i(Ões isomórficas, pois não alteram o arranjo dos átomos, mas as partículas resultam com uma carga negativa. Para neutralizar as cargas negativas, existem cátions livres nos solos, por exemplo cálcio, Ca ++, ou sódio, Na+, aderidos às partículas. Estes cátions atraem camadas contíguas, mas com força rclativan1ente pequena, o c1ue não impede a entrada de água entre as camadas. A liberdade de movimento das Aula 1 Origem e Natureza dos Solos 5 FiGURA 1 .1 Estrutura de uma camada de caulinita; (a) atômica, (b) simbólica Mecânica dos Solos 6 FiGURA l .2 Estrutura simbólica de minerais com camadas 2: I; (a) esmectita com duas camadas de moléculas de água, (b) ilita. placas explica a elevada capacidade de absorção de água de certas argilas, sua expansão quando cm contato com a água e sua contração considerável ao secar. .... 'V .. """ ', .. .' 1 '···-'/ 1 (a) (b) As bordas das partículas argilosas apresentam cargas positinis, resultantes das descontinuidades da estrutura molecular, mas íons negativos neutralizam estas cargas. Os cátions e íons são faciltnente trocáveis por pcrcolação de soluções c1uímicas. O tipo de cátion presente numa argila condiciona o seu compmtamento. Uma argila esmectita com sódio adsorvido, por cxcn1plo, é 1Tluito mais sensível à água do que tendo cálcio adsorvido. Daí a di,Tcrsidadc de cornportam.cntos apresentados pelas argilas e a dificuldade de corrclacioná- los por meio de índices empíricos. 1.3 Sistema solo~água A água é um mineral de comportamento bern mais com.plexo do c.1ue sua simples cornposição quírnica (H20) sugere. Os dois átomos de hidrogênio, cm. órbita en1 torno do átomo de oxigênio não se encontram cm posições diametralmente opostas, o que resultaria num equilíbrio de cargas. Do tTlmTin1ento constante dos átomos resulta um comportamento para a água que poderia ser interpretado como se os dois átomos de hidrogênio cstiYcssem em posições que definiriam um ângulo de 105º com o centro no oxigênio. Em conseqüência, a água atua como um bipólo, orientando-se cm relação às cargas externas. Quando a água se encontra em contato com as partículas argilosas, as n1oléculas se otientatTl cm relação a elas e aos íons que circundam as partículas. Os íons se afastam das partículas, ficando circundados por moléculas de água. No caso das csmcctitas, por exemplo, a água penetra entre as partículas, formando estruturas como a indicada na Figura 1.2 (a), C1Tl que duas camadas de moléculas de água se apresentam entre as camadas estruturais, elevando a distância basal a 14 A. Uma maior umidade provoca o aumento desta distância basal, até a completa liberdade das camadas. "\s ilitas, que apresentan1 estruturas sen1elhantcs às das esmcctitas, não absorvem água entre as camadas, pela presença de íons de potássio provocando unia ligação niais firme entre elas, como mostrado na Figura 1.2 (b ). Em conscc1üência, seu comportamento perante a água é intermediário entre o da caulinita e o da csmectita. Com a elevação do teor de água, forma-se no entorno das partículas a conhecida camada d!!pla. 1~ a camada cm torno das partículas na qual as moléculas de água estão atraídas a íons do solo e ambos à superfície das partículas. As características da camada dupla dependem da valência dos íons presentes na água, da concentração eletrolítica, da temperatura e da constante dielétrica do n1eio. Devido às forças eletro-quíniicas, as prin1ciras camadas de moléculas de água cm torno das partículas do solo estão firmemente aderidas. A água, nestas condições, apresenta con1portamcnto bem_ distinto da água livre, sendo este estado referido corno de água sólida, pois não existe entre as moléculas a mobilidade das moléculas dos fluidos. Os contatos entre partículas podem. ser feitos pelas moléculas de água a elas aderidas. As deformações e a resistência dos solos quando solicitados por forças externas dependen1, portanto, destes contatos. Deve ser notado, entretanto, que os átomos de hidrogênio das moléculas de água não estão numa situação estática. Ao contrário, encontram-se em permanente agitação, de forma que a sua orientação é uma situação transitória. Em qualquer mornento, inclusi\Te, uma tnolécula de água pode ser substituída por outra, no contato com as partículas argilosas. Este fcnôtneno interfere na transniissão de forças entre as partículas e justifica a dependência do com.portamcn to teológico dos solos ao tcn1po de solicitação, como será estudado nas Aulas 11 e 15. Quando duas partículas de argila, na água, estão muito próximas, ocorrem forças de atração e de repulsão entre elas. As forças de repulsão são devidas às cargas líquidas negativas que elas possuetn e que ocorrem desde que as camadas duplas estejam_ cm contato. As forças de atração decorrem de forças de Van der \vaals e de ligações secundárias que atraem materiais adjacentes. Da combinação das forças de atração e de repulsão entre as partículas resulta a estrutura dos solos, que se refere à disposição das partículas na rnassa de solo e às forças entre elas. Lambe (19 53) identificou dois tipos básicos de estrutura: es!ml11n1 flocu!ada, quando os contatos se fazem entre faces e arestas, ainda que através da água adsorvida; e es!mtura di.1pena, quando as partículas se posicionam paralelamente, face a face. 1\s argilas sedimentares aprescntarn estruturas que dependem da salinidade da água em_ que se fornuratn. Emáguas salgadas, a estrutura é bastante aberta, embora haja um relativo paralelismo entre partículas, em virtude de ligações de valência secundária. Estruturas floculadas em água não salgada resultam da atração das cargas positivas das bordas com_ as cargas ncgati,Tas das faces das partículas. A Figura 1.3 ilustra esquematicamente estes três tipos de estrutura. O conhecimento das estruturas permite o Aula 1 Origem e Natureza dos Solos 7 Mecânica dos Solos 8 FiGURll. 1.J Exemplo de estruturas de solos sedimentares; (a) floculada em água salgada, (b) floculada em água não salgada, (e) dispersa (Apud Mitchel, 1976). FiGURll. 1 .4 Exemplo de estrutura de solo residual, mostrando micro e macroporos. (b) (e) entendimento de diversos fenômenos notados no comportamento dos solos, como, por exemplo, a sensitividade elas argilas. O modelo de estrutura mostrado acima é simplificado. No caso de solos residuais e de solos compactados, a posição relatiya das partículas é mais elaborada. Intimamente, existem. aglorn.craçõcs de partículas argilosas que se dispõem de forrn.a a determinar vazios de maiores dimensões, como se mostra na Figura 1.4. Existem microporos nos vazios entre as partículas argilosas que constituem as aglotncrações e macroporos entre as aglorn.eraçõcs. Esta diferenciação é importante para o entendimento ele alguns comportamentos elos solos como, por exemplo, a elnTada permeabilidade de certos solos residuais no estado natural, ainda c1uc apresentando considerável parcela de partículas argilosas, como se estudará na Aula 6. Por outro lado, observa-se que cm solos evoluídos pedologicamcntc, principalmente em clirn.as quentes e úmidos, aglomerações ele partículas minerais se apresentam envoltas por deposições de sais de ferro e de alumínio, sendo este aspecto cletenninantc para seu comportamento. 1.4 Sistema solo-água-ar Quando o solo não se encontra saturado, o ar pode se apresentar em form.a de bolhas oclusas (se estiYcr cm pec1ucna quantidade) ou cm forma de canalículos intercomunicados, inclusive com. o meio externo. O aspecto mais irn.pottante com relação à presença do ar é c1ue a água, na superfície, se com.porta com.o se fosse un1a membrana. As moléculas ele água, no contato con1 o ar, se orientam cn1 \Tirtudc da diferença da atração química das moléculas adjacentes. Este comportamento é medido pela temâo s!lperficia!, uma característica de qualquer líquido em contato com outro líquido ou com um gás. Em virtude desta tensão, a superfície de contato entre a água e o solo nos vazios pequenos das partículas apresenta unia curvatura, indicando c1ue a pressão nos dois fluidos não é a mesnia. Esta diferença de pressão, denominada !e11sr70 de .mcp:lo, é responsável por diversos fenômenos referentes ao con1portatnento mecânico dos solos, entre eles a ascensão capilar, que será objeto da Aula 5, e o comportamento peculiar dos solos não saturados c1uando solicitados por carregamento ou submetidos a infiltração de água, objeto da Aula 16. 1.5 Identificação dos solos por meio de ensaios Para a identificação dos solos a partir das partículas que os constituem, são empregados correnten1ente dois tipos de ensaio, a análise granulométrica e os índices de consistência. Análise granulom.étrica Num solo, gcrahTlente convivem partículas de tatnanhos diversos. Nem sempre é fácil identificar as partículas porque grãos de areia, por exemplo, podem estar envoltos por uma grande quantidade de partículas argilosas, finíssimas, apresentando o n1esmo aspecto de uma aglomeração formada exclusi,Tamente por estas partículas argilosas. Quando secas, as duas fonnações são dificihT1ente diferenciáveis. Quando {mudas, entretanto, a aglomeração de partículas argilosas se transforma cm unTa pasta fina, enquanto que a partícula arenosa revestida é facilmente reconhecida pelo tato. Portanto, numa tentativa de identificação tátiJ-,Tisual dos grãos de um solo, é fundamental c1ue ele se encontre bastante {mudo. 100 90 80 m if) if) 70 m Q. QJ 60 :::J u E 50 QJ Ol m e: 40 QJ ~ o 30 D.. 20 10 FiGURA 1 5 Exemplo de curva de distribuição granulométrica do solo Aula 1 Origem e Natureza dos Solos 9 Mecânica dos Solos 10 FiGURA 1.6 Esquema representativo da sedimentação Para o reconhecimento do tamanho dos grãos de um solo, realiza-se a análise granulon1éttica, que consiste, em geral, de duas fases: penciramcnto e sedimentação. O peso do material que passa em cada peneira, referido ao peso seco da amostra, é considerado como a "porcentagem que passa", e representado graficamente em função da abertura da peneira, esta cm escala logarítrnica, como se mostra na Figura 1.5. A abertura non1inal da peneira é considerada como o "diâmetro" das partículas. Trata-se, evidentemente, de urn "diâmetro equivalente'', pois as partículas não são esféricas. A análise por peneiramento tem como limitação a abertura da malha das peneiras, que não pode ser tão pequena quanto o diân1etro de interesse. "\ 1Tlenor peneira costumeiramente empregada é a de nº 200, cuja abertura é de 0,07 5 n11T1. Existem peneiras mais finas para estudos especiais, mas são pouco resistentes e por isto não são usadas rotineiramente. Mesmo estas, por sinal, têm aberturas muito maiores do que as dimensões das partículas mais finas do solo. Quando há interesse no conhecimento da distribuição granulométrica da porção mais fina dos solos, emprega-se a técnica da sedimentação, que se baseia na Lei de Stokes: a 1Telocidade de queda de partículas esféricas num fluido atinge um valor limite que depende do peso específico do material da esfera (y,), do peso específico do fluido (Y"), da viscosidade do fluido(µ), e do diâmetro da esfera (D), conforme a expressão: Ys -yw . 0 2 u=~-- 18. ~l Colocando-se uma certa quantidade de solo (uns 60g) cm suspensão cm água (cerca de um litro), as partículas cairão com velocidades proporcionais ao quadrado de seus diâmetros. Considere-se a Figura 1.6, na qual, à esquerda do frasco, estão indicados grãos com quatro diâmetros diferentes igualmente representados ao longo da altura, o que corresponde ao início do ensaio. A direita do frasco, está representada a situação após decorrido um certo tempo. Se a densidade da suspensão era uniforme ao longo da altura no início do ensaio, já não o será após certo tempo, pois numa seção, a uma certa profundidade, menos partículas estão presentes. t =o z Consideremos uma seção genérica, a uma profundidade z, decorrido um cleternlÍnaclo tempo t. Nesta seção, a maior partícula existente é aquela que se encontra\Ta originalmente na superfície e que caiu co1TJ. a velocidade 11 = z/ !. Partículas m.aiores não poclern existir, porque sedimentam com maior velocidade. Por outro lado, nesta seção estão presentes partículas ele menor tamanho, na mesma proporção inicial, pois, à n1eclicla que um.a sai ela seção, a c1ue se encontrava acima ocupa a posição. O diân1etro ela maior partícula presente na seção pode ser obtido pela Lei ele Stokes. No instante em. que a suspensão é colocada en1 repouso, a sua densidade é igual ao longo ele toda a profundidade. Quando as partículas maiores caem, a densidade na parte superior elo frasco diminui. Numa profundidade qualquer, em um certo momento, a relação entre a densidade existente e a densidade inicial indica a porcentagem ele grãos com diâmetro inferior ao determinado pela Lei de Stokes, co1TJ.o se demonstrou no parágrafo anterior . . As densidades de suspensão são determinadas com um densímetro, que também indica a profundidade correspondente. Diversas leituras do densímetro, em diYersos intervalos de tempo, determinarão igual número de pontos na cunTa granulométrica, como se mostra na Figura 1.5, comple- mentando a parte da curva obtida por peneirnmcnto. Nm·amente, neste caso, o que se detenTJ.inaé um diâmetro equivalente, pois as partículas não são as esferas às quais se refere a Lei de Stokes. Diâmetro ec1uivalcnte da partícula é o diâmetro da esfera que sedimenta com velocidade igual à da partícula. O ensaio etwohTe vários detalhes que deverão ser desenvolvidos cm aula ele laboratório. Deve-se frisar, desde já, que uma das operações mais importantes é a separação de todas as partículas, de forma que elas possam sedimentar isoladamente. Na situação natural, é freqüente que as partículas estejam agregadas ou floculadas. Se estas aglomerações não forem destruídas, determinar-se-ão os diâmetros dos flocos e não os das partículas isoladas. Para esta desagregação, adiciona-se um produto químico, com ação defloculante, deixa-se a amostra imersa em água por 24 horas e provoca-se uma agitação mecânica padronizada. IVIesmo quando se realiza só o ensaio de peneiramento, esta preparação da amostra é necessária, pois, se não for feita, ficarão retidas nas peneiras agregações de partículas muito mais finas. Para diversas faixas de tamanho de grãos, existem denominações específicas, como definidas na Tabela 1.1. Conhecida a distribuição grnnulométrica do solo, como na Figura 1.5, pode-se determinar a porcentagem correspondente a cada uma das frações acima especificadas. A Figura 1.7 apresenta exemplos de curvas grnnulométricas de alguns solos brasileiros. Embora solos de mesma origem guardem características comuns, é freqüente que apresentem uma razoável dispersão de constituição. As curvas granulométricas apresentadas na Figura 1.7 devem ser consideradas somente como exen1plos, sendo de se esperar que numa mesma formação ocorram variações sensíveis de resultados, embora algumas características básicas se tTJ.an tenhatTl. Deve-se notar que as mesmas designações usadas para expressar as frações granulométricas de um solo são empregadas para denominar os próprios solos. Diz-se, por exemplo, que um solo é uma m~~zia quando o seu comportamento é o de um solo argiloso, ainda que contenha partículas com Aula 1 Origem e Natureza dos Solos 11 Mecânica dos Solos 12 100 80 cu (j) (j) cu o. <lJ 60 ::J u E <lJ (J) cu e: 40 <lJ 2 o (]_ 20 o 2 3 4 5 0,001 Argila diâmetros correspondentes às frações siltc e areia. Da mesma forma, uma areia é um. solo cujo comportarnento é ditado pelos gràos arenosos c1ue ele possui, embora partículas de outras frações possam estar presentes. No caso de argilas, um. terceiro sentido pode estar sendo cm.pregado: os "minerais-argila", uma família de minerais cujo arranjo de átornos foi descrito no item 1.3. Estes minerais se apresentam gerah11cntc em formato de placas e em ta1nanhos reduzidos, preclo1ninantemente, mas não exclusivamente, correspondentes à fraçào argila. São estes minerais que conferem a plasticidade característica aos solos argilosos. Nº 200 7 gl 2 3 4 5 7 0,01 Silte Peneiras 100 40 3 4 5 7 gl 0,1 Diâmetro dos grãos (mm) Areia fina Areia média 2 3 4 5 Areia grossa 7 gl 2 10 Pedregulho fiGURA 1 .1 Curvas granulométricas de alguns solos brasileiros Índices de consistência (Limites de Atterberg) 3 4 5 Só a distribuição granulométrica nào caracteriza bem o comportamento dos solos sob o ponto ele vista ela engenharia. A fração fina dos solos tem uma importância muito grande neste comportamento. Quanto menores as partículas, maior a superfície específica (superfície das partículas dividida por seu peso ou por seu volume). Um cubo com 1 cm ele aresta tem. Cí cm2 de área e volume de 1 cm3. Um conjunto ele cubos con1 0,05 mm (siltes) apresentam 125 cm2 por cm3 de volume. Já certos tipos ele argilas chegam a apresentar 300 m 2 ele área por cm3 (1 crn3 é suficiente para cobrir uma sala ele aula!). O comportam.ento de partículas com superfícies específicas tão distintas perante a água é muito diferenciado. Por outro lado, as partículas ele n1inerais argila diferem acentuadamente pela estrutura mineralógica, bem como pelos cátions aclsorviclos, como visto nos itens 1.3 e 1.4. Desta forma, para a mesma porcentagem de fração argila, o solo pode ter co1Ttportamento muito diferente, dependendo das características dos minerais presentes. Todos estes fatores interferem no comportamento do solo, mas o estudo dos minerais-argilas é nmito complexo. A procura de uma forma mais prática de identificar a influência das partículas argilosas, a engenharia a substituiu por uma análise indireta, baseada no comportamento do solo na presença de água. Generalizou-se, para isto, o emprego de ensaios e índices propostos pelo engenheiro quíniico Attcrbcrg, pesquisador do comportainento dos solos sob o aspecto agronômico, adaptados e padronizados pelo professor de I\kcânica dos Solos Arthur Casagrandc. Os limites se basciarn na constatação de que UlTl solo argiloso ocorre com aspectos betTl distintos conforme o seu teor de umidade. Quando muito úmido, ele se comporta com~o um líquido; quando perde parte de sua água, fica plástico; e quando mais seco, torna-se quebradiço. Este fato é bem ilustrado pelo comportan1ento do material transportado e depositado por rio ou córrego que transborda iiwadindo as ruas da cidade. Logo que o rio retorna ao seu leito, o barro resultante se comporta como um líquido: quando utTl automóvel passa, o barro é espirrado lateraln1ente. No dia seguinte, tendo evaporado parte da água, os veículos deixam moldado o desenho de seus pneus no niaterial plástico ctTl que se transforrnou o barro. Secando um pouco mais, os veículos já não penetram no solo depositado, mas sua passagern provoca o desprendimento de pó. Os teores de umidade correspondentes às tTludan- ças de estado, cotTlo se mostra na Figura 1.8, são definidos cotno: Liniite de Liquidez (LL) e Limite de Plasticidade (LP) dos solos. A diferença entre estes dois limites, que indica a faixa de valores cm que o solo Estado Limites 'I' líquido LL =Limite de liquidez plástico IP= Índice de plasticidade LP Limite de plasticidade quebradiço se apresenta plástico, é definida como o índice de Plasticidade (IP) do solo. Em condiçocs normais, só são apresentados os \Talorcs do LL e do IP como índices de consistência dos solos. O LP só é empregado para a determinação do IP. O Liniitc de Liquidez e definido cotno o teor de urnidade do solo com o qual uma ranhura nele feita requer 25 golpes para se fechar, nun1a concha, corno ilustrado na Figura 1.9. Diversas tentativas são realizadas, cotTl o solo cm diferentes urnidadcs, anotando-se o número de golpes para fechar a ranhura, obtendo-se Aula 1 Origem e Natureza dos Solos 1 3 FiGURA 1 .8 Limites de Atterberg dos solos FiGURA 1.9 Esquema do aparelho de Casagrande para determinação do LL Mecânica dos Solos 14 TAbdA 1.2. Índices de Atterberg, de alguns solos brasileiros o limite pela interpolação dos resultados. O procedin1ento de ensaio é padro- nizado no Brasil pela ABNT (Método NBR 6459). O Limite de Plasticidade é definido com.o o menor teor de mnidade com o qual se consegue moldar um cilindro com 3 mm de diâmetro, rolando-se o solo com a pahna da mão. O procedimento é padronizado no Brasil pelo Método NBR 7180. Deve ser notado que a passagem de um estado pata outro ocorre de form.a gradual, com a variação da umidade. A definição dos linutes acima descrita é arbitrária. Isto não dinunui seu valor, pois os resultados sào índices comparativos. 1\ padronização dos ensaios é que é importante, sendo, de fato, praticamente universal. Na tabela 1.2, são apresentados resultados típicos de alguns solos brasileiros. Solos Residuais de arenito (arenosos finos) Residual de gnaisse Residual de basalto Residual de granito Argilas orgânicas de várzeas quaternárias Argilas orgânicas de baixadas litorâneas Argila porosa vermelha de São Paulo Argilas variegadas de São Paulo Areias argilosas variegadasde São Paulo Ar·gilas duras, cinzas, de São Paulo Atividade das argilas LL % 29-44 45-55 45-70 45-55 70 120 65 a 85 40 a 80 20 a 40 64 IP% 11-20 20-25 20-30 14-18 30 80 25 a 40 15 a 45 5 a 15 42 Os Índices de A tterberg indicam a influência dos finos argilosos no comportamento do solo. Certos solos com teores elevados de argila podem apresentar índices mais baixos do que aqueles com pequenos teores de argila. Isto pode ocorrer porque a com.posição nuneralógica dos argilo-minerais é bastante variável. Pequenos teores de argila e altos índices de consistência indicam que a argila é muito ativa. Mas os índices deterniinados são tarnbém função da areia presente. Solos de mesma procedência, com. o mesmo mineral-argila, mas com diferentes teores de areia, apresentarão índices diferentes, tanto maiores quanto maior o teor de argila, num.a razão aproxim.adamente constante. Quando se quer ter um.a idéia sobre a ati,ridade da fração argila, os índices devem ser comparados con1 a fração argila presente. É isto que mostra o índice de atividade de uma argila, definido na relação: Índice de atividade índice de plasticidade (IP) fração argila (menor que 0,002 mm) A argila presente num. solo é considerada normal quando seu índice de atividade se situa entre 0,75 e 1,25. Quando o índice é menor que 0,75, considera-se a argila como inativa e, quando o índice é maior que 1,25, ela é considerada ativa. Emprego dos índices de consistência Os índices de consistência têm se mostrado m_uito úteis para a identificação dos solos e sua classificação. Desta forma, com o seu conhccin1cnto, pode-se prever muito do comportarn_cnto do solo, sob o ponto de vista da engenharia, com base cm experiência anterior. Uma primeira correlação foi apresentada por Tcrzaghi, resultante da observação de que os solos são tanto 1nais co1npressíveis (sujeitos a recalques) quanto maior for o seu LL. Tendo-se a compressibilidade expressa pelo índice de compressão (Cc), estabeleceu-se a seguinte correlação: Cc = 0,009.(LL-10) De maneira análoga, diversas correlações empir1cas vêm sendo apresentadas, n1uitas vezes con1 uso restrito para solos de uma detern1inada região ou de uma certa formação geológica. De\Te ser notado que os Índices de Atterberg são uma indicação do tipo de partículas existentes no solo. Desta forma, eles representam bem os solos cm que as partículas ocorrem isoladamente, como é o caso dos solos transportados. Solos saprolíticos apresentam significativa influência da estrutura da rocha ma!er. Solos lateríticos, por sua vez, apresentam aglomerações de partículas envoltas por deposições de sais de ferro ou alumínio. Os ensaios de limites são feitos com a amostra previam.ente seca ao ar e destorroada e amassada energicamente com uma espátula durante a incorporação de água. Tais procedimentos alteram a estrutura original do solo. Desta maneira, é de se esperar que as correlações estabelecidas com base cm comportamento ele solos transportados não se apliquem aclcquaclamcntc a solos saprolíticos e latcríticos, que ocorrem cm regiões tropicais. Correlações específicas a estes solos devem ser estabelecidas. Exercícios Exercício 1.1 Calcule a superfície específica dos seguintes sistemas de partículas, expressando-as cm m 2 / g. Admita que a massa específica elas partículas seja ele 2,65 g/ cm_': (a) areia fina: cubos com 0,1 mm ele aresta; (b) siltc: esferas com 0,01 mm ele diâmetro; ( c) argila caulinita: placas em forma ele prismas quadrados com 1 µ de aresta e 0,1µ de altura; e (d) argila esmectita: placas em forma ele prismas quadrados com O, 1 µ de aresta e 0,001µ ele altura. Aula 1 Origem e Natureza dos Solos 15 Partículas Areia fina Silte Caulinita Esmectita Solução: Os cálculos estão apresentados na tabela abaixo: Volume de Massa de Superfície Número de uma uma de uma partículas Superfície específica partícula partícula partícula em 1 g (mm3) (g) (mm2) (cm2/g) (m2/g) 1 o-3 2,65 X 10-6 6 X 10-2 3,8 X 105 230 0,023 5,24 X 10-7 1,38 X 10-9 3,14 X 10-4 7,2x108 2.260 0,22 10-10 2,65 X 10-13 2 X 10-6 3,8 X 1012 76.000 7,6 1 o-14 2,65 X 10-17 2 X 1Q-8 3,8 X 1016 7.600.000 760 Exercício 1.2 Considerando que uma molécula de água tem cerca de 2,5 A (= 2,5 x 10 8 cm) e que, em'olvendo as partículas, a camada de água tem pelo menos a espessura de 2 moléculas, portanto 5 A, estime a umidade de solos constituídos de grãos como os referidos no Exercício 1.1, quando eles estiverem envoltos por uma película de água de 5 A. Solução: Multiplicando-se a superfície específica pela espessura da película de água, tem-se o volume de água. Para o caso da areia fina, um grama de solo será envolvido por 230 x 5 x 10 8 = 1, 15 x 10-5 cm3 de água. A massa desta água é de 1, 15 x 1 o-s g. Sendo de 1 grama a massa do solo, a umidade é de 0,00115%. Análise semelhante para os outros solos dão os seguintes resultados: - silte: - argila caulinita: - argila esmectida: }J) = 0,0113%; w = 0,38%; e lJJ = 38%. Observa-se como a finura das partículas é importante no relacionamento com a água. Exercício 1.3 Na determinação do Limite de Liquidez de um solo, de acordo com o Método Brasileiro NBR-6459, foram feitas cinco determinações do número de golpes para que a ranhura se feche, com teores de unúdade crescentes, tendo-se obtido os resultados apresentados a seguir. Qual o Linúte de Liquidez deste solo: Tentativa Umidade Nº de golpes 51,3 36 2 52,8 29 3 54,5 22 4 55,5 19 5 56,7 16 Com a mesma amostra, foram feitas quatro determinações do limite de plasticidade, de acordo com o Método Brasileiro NBR-7180, tendo-se obtido as seguintes umidades quando o cilindro com diâmetrn de 3 n1111 se frat,rinentava ao ser n1oldado: 22,3%, 24,2%, 21,9% e 22,5%. Qual o Lirnite de Plasticidade desse solo? Qual o Índice de Plasticidade? Solução: Os teores de umidade são representados en1 função do número de golpes para o fechamento das ranhuras, este en1 escala logarít111ica. Os resultados, assin1 representados, ajustam-se bem a uma reta. Traçada essa reta, o Limite de J ,iquidez é obtido, sendo definido como a um.idade correspondente a 25 golpes. No exemplo apresentado, isto ocorre para uma umidade de 53,7%. Não se justifica muita precisão, razão pela qual o valor registrado com.o resul- tado do ensaio é arre- dondado: LL = 54%. (!) "{] 58 -----t------"~--t---- ~ 541~----t--~'-c--i---t----~ E =i 20 25 30 40 Número de golpes, escala logarítmica 50 J\ 111.édia das c1uatro determinações do limite de plasticidade e (22,3+24,2+21,8+22,5)/ 4 = 22,7. Como o resultado 24,2 se afasta da média mais do que 5% de seu ,-alor [(24,2-22,7)/22,7 = 6,6% > 5%], esse valor é desconsiderado. J\ média dos três restantes (22,3+21,8+22,5)/3 = 22,2 é adotada como o resultado do ensaio, pois todos os três não diferem ela nova média mais do c1ue 5% dela (0,05 x 22,2 = 1,1). Segundo recomendação da notma, o valor é au:edondado: LP = 22%. O índice de plasticidade é: IP = 54 - 22 = 32%. Exercício 1.4 Considerando os índices de Atterberg médios da Tabela 1.2, estime qual elas argilas, a argila orgftnica das baixadas litorâneas ou a argila orgânica das várzeas quaternárias dos rios, deve ser mais compressiva, ou seja, apresentar maior recalque para o mesmo carregamento. Solução: Ensaios têm mostrado que quanto maior o Limite de Liquidez mais compressível é o solo. Pode-se prever, portanto, que as argilas das baixadas litorâneas, com LL da ordem de 120, são bem mais compressh-eis que as das \•árzeas ribeirinhas, com LL em torno ele 70. De acordo com a expressão empírica proposta por Terzaghi, pode-se estimar que o índice de compressão (cujo significado numérico será exposto na Aula 9) é de Cc = 0,009 (120-10) = 1,0 para as argilas marinhas, e de Cc = 0,009 x (70-10) 0,54 para as argilas orgânicas das várzeas quaternárias. Exercício1.5 Para se fazer a análise granulométrica de um solo, tomou- se uma amostra de 53,25 g, cuja umidade era ele 12,6%. A massa específica dos grãos do solo era de 2,67 g/ cm3. A amostra foi colocada numa proveta com capacidade de um litro (V = 1.000 cm3), preenchida com água. Admita- Aula 1 Origem e Natureza dos Solos 1 7 FiGURA 1.1 o Mecânica dos Solos 18 se, neste exercício, que a água é pura, não tendo sido adicionado defloculante, e que a densidade da água é de 1,0 g/cm3. 1\0 se uniformizar a suspensão (instante inicial da sedimentação), qual deve ser a massa específica da suspensão? E qual seria a leitura do densímetro nele colocado? Solução: A massa de partículas sólidas empregadas no ensaio é: O volmne ocupado por esta massa é de: V= s 47,29 2,67 -17,71cm3 O volume ocupado pela água é: Vw =1.000-17,71 = 982,29 cm3 A massa de água é: M\\' = 1,0 X 982,29 g I\ massa específica da suspensão é: j\'Is+M,,. 47,29+982,29 Psusp= V +V - = l.OOO =1,02958g/crn3 S \V A leitura do densímetro indica quantos milésimos de g/ crn', com precisão não maior de um décimo de milésimo, a densidade é superior à da água. Portanto a leitura seria: L = 29,6 Outro procedünento para este cálculo, seria o estabelccin1ento de uma equação genérica para a densidade da suspensão. A concentração de partículas é uniforme ao longo de toda a proveta. Num volume unitário, a niassa de partículas sólidas é: m. = M. / V 0 :-. e o volume de sólido é: v, = I\·f, / (p,V) - I\[s y - 1 - ---- \V PsV O 'Tolume de água é: e a massa de água é: Sendo o volume unitário, a massa específica da suspensão é a soma das massas das partículas sólidas e da água. No presente caso: Psusp= 1,0 + 47,29 1.000 2,67 - 1 2,67 1,02958 g/cm' Exercício 1.6 No caso do ensaio descrito no exercício anterior, 15 minutos depois da suspensão ter sido colocada em repouso, o densímetro indicou uma leitura L = 13,2. Qual a porccntagen1, em nrnssa, de partículas, cm relação à situação inicial, quando a suspensão era hon10gênca, ainda se encontrava presente na profundidade correspondente à leitura do dcnsín1ctro? Solução: A leitura L = 13,2, corresponde uma massa específica de 1,0132 g/ cm3 . Chan1ando de Q a porcentagem referida, tem-se que a massa presente na unidade de volume é Q.M/V, expressão que pode ser levada à equação determinada para a densidade da suspensão no Exercício 1.5, a qual fica com o seguinte aspecto: Psusp = Pw + QMs V ( Ps - Pw) Ps Donde se deduz a seguinte expressão: Aplicando-se ao presente caso, ten1-se: q- 2,67 2,67-1,0 (1,0132-1,0)xLOOO _ _ 0 47 29 0,446 - 44,6 Yo ' Nos ensaios, en1prega-sc um defloculante, portamo a densidade do meio ei11 que a sedin1entação ocorre não é mais a da água.No nun1crador, a diferença a ser considerada é a diferença entre a densidade da suspensão e a da água com defloculante. A leitura do densímctro da água com defloculante, menos a leitura do densírnetro com. água pura, Ldcil , deve ser corrigida da leitura feita no ensaio. Aplicada esta correcão, a leitura corrigida, L = L - L , é m.il J e dcíl vezes a diferença entre a densidade da suspensão e a do meio em que a sedimentação ocorre. Com.o a diferença é multiplicada pelo volume da suspensão que é igual a 1.000 0113, tem-se que: (psusp- pJV= {(1+L/1000) - (1 + Ldcíl /1000) }x1 OOO=L-Ldcíl=Lc A equação anterior pode ser substituída pela seguinte, que e a normah11cnte empregada nos laboratórios: Note-se que a porcentagem de material presente num volume unitário é diretamente proporcional à densidade da suspensão. Se a sedimentação estiver se fazendo em água, a densidade tenderá a 1,00 g/ cm3, quando todas as partículas já tiverem caído. Desta forma, a porcentagem poderia ser estimada diretamente da seguinte relação: 1,0132 -1,000 13,2 . Q= 1,02% - 1,000 = - 29,6 = o,446 = 44,6°/c' Aula 1 Origem e Natureza dos Solos 19 Mecânica dos Solos 20 onde 1,0132 é a leitura para a qual se está fazendo o cálculo e 1,0296 corresponde à leitura inicial corno visto no Exercício 1.5. Como no ensaio é empregado o defloculante, a massa específica final não é 1, 00 g/ cm3 e os cálculos requerem a equação acima definida. Exercício 1.7 No ensaio descrito acüna, a leitura de dcnsímetro acusava a densidade a uma profundidade de 18,5 cm. Qual o rnaior tamanho de partícula que ainda ocorria nesta profundidade? Considerar que o ensaio tenha sido feito a uma temperatura de 20ºC, para a qual a viscosidade da água é de 10,29 x 10" g.s/cm2 . Solução: O tamanho da partícula que se encontrava na superfície e que, após 15 minutos, se encontra1Ta na profundidade de 18,5 cm pode ser deterrninada pela Lei de Stokes. Partículas corn maior diârnetro teriam caído com niaior 1Telocidade e já não estariam nesta profundidade. Partículas 1nenores, certamente, ainda se encontrm11 na posição analisada. Aplicando- se a Lei de Stokes: donde, D= V 18,5 P,-Pw D 2 18µ 18x1 x10 15 X 60 2,67 - 1 ,00 6 = 0,0015cm = 0,015mm Com este \Talor e a porcentagem determinada no Exercício 1.8, determi- na-se urn ponto da cunra granulométrica. Exercício 1.8 Quando se deseja conhecer a distribuição granulométrica so da parte grosseira do solo (as frações areia e pedregulho), não havendo portanto a fase de sedimentação, pode-se peneirar diretarnente o solo no conjunto de peneiras? Solução: Não, porque se assirn fosse feito, agregações de partículas de siltc e argila ficarian1 retidas nas peneiras, dando a falsa impressão de serem partículas de areia. 1\inda que não se queira determinar as frações argila e areia, o solo deve ser preparado com o defloculante, agitado no dispersor, e, a seguir, pode ser diretamente lavado na peneira nº 200 (0,075 rnm), dispensando-se a fase de sedimentação. Naturalmente os pesos retidos cm cada peneira devem se rcfctir ao peso seco total da amostra. Somente quando o material é U1Tla areia evidentemente pura, o ensaio pode ser feito diretamente pelo peneirarnento. Exercício 1.9 Na Fig. 1.11, sao apresentados os resultados de dois ensaios de granulometria por peneiramento e sedin1entação de urna amostra do solo, sendo um realizado de acordo com a norma NBR-7181 e o outro sern a adição de defloculante na preparação da am.ostra. Como interpretar a diferença de resultado? Este tipo de comportamento é comum a todos os solos? 90 -·· ·- --·-· ···-········ -f-t-- - - .. ·----- ····-- -J-j 80 t- - - ··-···--- -t-- ·-·· ··-1·- ··---l--1--. (\} 7 o f--+·++··H-----+-- u .Ll-----l--1....... -1- <D (/) (/) <D o_ 20 ----1~--f-t-- 0,001 0,01 O, 1 10 Diâmetro dos grãos (mm) Solução: I\ diferença de resultados mostra a importância do defloculante para a dispersão das partículas. No ensaio feito de acordo com a norma NBR- 7181, as partículas sedimentaram isoladamente, podendo-se detectar seus diâmetros equi\-alentes. No ensaio sem defloculante, as partículas agrupadas, con10 se encontrava111 na natureza, sedii11entaran1 n1ais rapida111ente, indicando diâmetros maiores, cpe não são os das partículas, mas das agregaçoes. Nen1 todos os solos 111ostram o mesmo tipo de comportamento. No caso apresentado, a diferença entre os dois resultados é muito grande, mostrando que este solo apresenta uma estrutura floculada. Outros solos, entretanto, apresentam naturalmente estrutura dispersa, não havendo muita diferença entre os resultados de ensaios com ou sem defloculante. Para estes, seria até desnecessário o emprego do defloculante; ele é sempre usado, entretanto, por questão de padronização. Existe uma Norma Brasileira, NBR-13602, c1ue prc1-ê a avaliação da dispersibilidade de solos por meio dos dois ensaios de sedimentação descritos. Para os resultados apresentados, a referida nor- ma indicaria um.a porcentagem de dispersào, definida como a relação entre as porcentagens de partículas com diâmetro menor do que 0,005 mm pelos dois procedim.entos, igual a 6/31=19%. Aula 1Origem e Natureza dos Solos 21 FiGURA 1 .11 O ESTAD D s L 2.1 Índices físicos entre as três fases Num solo, só parte do volume total é ocupado pelas partículas sólidas, que se aco1nodam formando uma estrutura. O volume restante costum.a ser chamado de vazios, embora esteja ocupado por água ou ar. Deve-se reconhecer, portanto, que o solo é constituído de três fases: partículas sólidas, agua e ar. O com.portamento de um solo depende da quantidade relativa de cada uma das três fases (sólidos, água e ar). Diversas relações são empregadas para expressar as proporções entre elas. Na Figura 2.1 (a), estão representadas, simplificadamente, as três fases que normalmente ocorrem nos solos, ainda que, em alguns casos, todos os vazios possam estar ocupados pela água. Na Figura 2.1 (b), as três fases estão separadas proporcionalmente aos volumes (a) (b) (e) V ,f.. lvv X Va i 'Vw \ \,\1 ··r i Vs 1 Ar Líquido Sólidos lPa \V e I I Pw S.e p + ., .... '/. (j) Ps .' .. ,, .. >k. .. Volumes Pesos Volumes FiGURA 2.1 As fases no solo; (a) no estado natural, (b) separada em volume, (e) em função do volume de sólidos que ocuparn, facilitando a definição e a determinação das relações entre elas. Os volumes de cada fase são apresentados à esquerda e os pesos à direita. .... ;\ Ar I Líquido Ys.w 3: + r -ç.!fl Sólidos ., \/ Pesos Mecânica dos Solos 24 fiGURA 2.2 Esquema de determinação do volume do peso específico dos grãos Em princípio, as quantidades de água e ar podem. variar. A evaporação pode fazer diminuir a quantidade de água, substituindo-a por ar, e a cmnpressão do solo pode provocar a saída de água e ar, reduzindo o volume de vazios. O solo, no que se refere às partículas que o constituem, perrn.anece o mesmo, mas seu estado se altera. As diversas propriedades do solo dependem do estado cm que se encontra. Quando diminui o volume de vazios, por exemplo, a resistência amnenta. Para identificar o estado do solo, empregam-se índices que correlacionam os pesos e os volumes das três fases. Estes índices são os seguintes (vide esquema da Figura 2.1): Umidade - Relação entre o peso da água e o peso dos sólidos. É expresso pela letra JJJ. Para sua determinação, pesa-se o solo no seu estado natural, seca-se em estufa a 105ºC até constância de peso e pesa-se novamente. Tendo- se o peso das duas fases, a umidade é calculada. É a operação mais freqüente em um laboratório de solos. Os teores de umidade dependetn do tipo de solo e situam-se geralmente entre 1 O e 40%, podendo ocorrer valores muito baixos (solos secos) ou muito altos (150% ou mais). Índice de vazios - Relação entre o volume de vazios e o volume das partículas sólidas. É expresso pela letra e. Não pode ser determinado diretamente, mas é calculado a partir dos outtos índices. Costuma se situar entre 0,5 e 1,5, nias argilas orgânicas podem ocorrer com índices de vazios supetiores a 3 (volun1e de vazios, no caso com água, superior a 3 vezes o volume de partículas sólidas). Porosidade - Relação entre o volume de vazios e o volume total. Indica a mesma coisa que o índice de vazios. É expresso pela letra n. Valores gerahnentc entre 30 e 70%. Grau de Saturação - Relação entre o volume de água e o volume de vazios. Expresso pela letra S. Não é detenninado diretamente, m.as calculado. Varia de zero (solo seco) a 100% (solo saturado). Peso específico dos sólidos (ou dos grãos) - É uma característica dos sólidos. Relação entre o peso das partículas sólidas e o seu volume. É: expresso pelo símbolo 'Y ,. picnômetro com água + ____ C"'] __ _ solo seco picnômetro com solo e água água deslocada É determ.inado em laboratório para cada solo. Coloca-se um peso seco conhecido do solo nutn picnômetro e, completando-se com água, determina- se o peso total. O peso do picnômetro completado só com. água, mais o peso do solo, menos o peso do picnômetro com solo e água, é o peso da água que foi substituída pelo solo. Deste peso, calcula-se o volume de água que foi substituído pelo solo e que é o volume do solo. Com o peso e o volume, tem- se o peso específico. O peso específico dos grãos dos solos varia pouco de solo para solo e, por si, não permite identificar o solo em questão, mas é necessário para cálculos de outros índices. Os valores situam-se en1 torno de 27 kN / m3, sendo este valor adotado quando não se dispõe do valor específico para o solo em estudo. Grãos de quartzo (areia) costumam apresentar pesos específicos de 26,5 kN / rn3 e argilas lateríticas, em. virtude da deposição de sais de ferro, \Talares até 30 kN/rn3. Peso específico da água Embora varie un1 pouco com a temperatura, adota-se sempre como igual a 10 kN/m3, a não ser em certos procedimentos de laboratório. É expresso pelo símbolo 'Yw· Peso específico natural - Relação entre o peso total do solo e seu volume total. I~ expresso pelo súnbolo "{ 11 • A expressão "peso específico natural" é, algumas vezes, substituída só por "peso específico" do solo. Tratando-se de compactação do solo, o peso específico natural é denominado peso específico {unido. Para sua determinação, molda-se um cilindro do solo cujas dimensões conhecidas permitem calcular o volume. O peso total dividido pelo volume é o peso específico natural. O peso específico também pode ser determinado a partir de corpos irregulares, obtendo-se o volume por meio do peso imerso n'água. Para tal, o corpo deve ser previamente envolto por parafina. O peso específico natural não varia muito entre os diferentes solos. Situa- s e em torno de 19 a 20 kN / m3 e, por isto, quando não conhecido, é estimado como igual a 20 kN/m3. Pode ser um pouco maior (21 kN/m3) ou um pouco menor (17 kN/m3). Casos especiais, como as argilas orgânicas moles, podem apresentar pesos específicos de 14 kN/m3. Peso específico aparente seco - Relação entre o peso dos sólidos e o volume total. Corresponde ao peso específico que o solo teria se viesse a ficar seco, se isto pudesse ocorrer sem que houvesse variação de volume. Expresso pelo súnbolo "{d· Não é determinado diretamente em laboratório, mas calculado a partir do peso específico natural e da umidade. Situa-se entre 13 e 19 kN/m3 (5 a 7 kN/m3 no caso de argilas orgânicas moles). Peso específico aparente saturado - Peso específico do solo se viesse a ficar saturado e se isto ocorresse sem variação de volume. É de pouca aplicação prática, servindo para a programação de ensaios ou a análise de depósitos de areia que possam vir a se saturar. Expresso pelo súnbolo 'Ysat> é da ordem de 20 kN/m3. Peso específico submerso - É o peso específico efetivo do solo quando submerso. Serve para cálculos de tensões efetivas. É igual ao peso específico natural m.enos o peso específico da água, portanto com valores da ordem de 1 O kN / m3. l~ expresso pelo símbolo "{sub· Aula 2 O Estado do Solo 25 Mecânica dos Solos 2.2 Cálculo dos índices de estado Dos índices vistos acima, só três são determinados diretamente em laboratório: a umidade, o peso específico dos grãos e o peso específico natural. 26 Um é adotado; o peso específico da água. Os outros são calculados a partir dos determinados. Na figura 2.1 (c), apresenta-se, à direita, um esquema que representa as três fases já com base na definição de índices e que facilita os cálculos. Nele, adota-se o volume de sólidos igual a 1. Assim, o volun1e de vazios é igual a e, sendo S.e o volume de água. Por outro lado, o peso dos sólidos é "f s, e o peso de água é Ys·w. Com este esquema, correlações são facilinente obtidas. Algunias resultam diretamente da definição dos índices: e n=-- l+e y Ys (1 +w) l+e Ys+eyw Ysat = l +e Outras resultam de fáceis deduções. A seqüência natural dos cálculos, a partir de valores determinados em laboratório, ou estimados, é a seguinte: Y _ Yn d--- l+w Massas específicas s Relações entre pesos e volumessão denominados pesos eJpecíjicos, como acima definidos, e expressos geralmente em kN/m3. Relações entre quantidade de matéria (massa) e volume são denominadas massas eJpecíjicas, e expressas geralmente em ton/ m3, kg/ dm3 ou g/ cm3. A relação entre os valores numéricos que expressam as duas grandezas é constante. Se um solo tem uma massa específica de 1,8 t/ m\ seu peso específico é o produto deste valor pela aceleração da gravidade, que varia conforme a posição no globo terrestre e que vale ern torno de 9,81 m/s2 (em problemas de engenharia prática, adota-se, simplificadamente, 1 O m/ s2). O peso específico é, portanto, de 18 kN / m 3. No laboratório, determinam-se massas e as normas existentes indicam como se obter massas específicas. Entretanto, na prática da engenharia, é mais conveniente trabalhar com pesos específicos, razão pela qual se optou por apresentar os índices físicos nestes termos. Deve ser notado, por outro lado, que no Sistema Técnico de unidades, que vem sendo paulatinamente substituído pelo Sistema Internacional, as unidades de peso têm designações semelhantes às das unidades de massa no Sistema Internacional. Por exemplo, um decúnetro cúbico de água tem uma massa de um quilograma (1 kg) e um peso de dez Newtons (10 N) no Sistema Internacional e um peso de um quilograma força no Sistema Técnico (1 kgf). Assim, ainda é comum que se diga no meio técnico, por exemplo, que a "tensão" admissível aplicada numa sapata é de 5 t/m2 (não é correto, mas se omite o complemento força). Na realidade, a pressão aplicada é de 50 kN/m2, resultante da ação da massa de 5 toneladas por metro quadrado. A expressão densidade se refere à massa específica e densidade relativa é a relação entre a densidade do material e a densidade da água a 4ºC. Como esta é igual a 1 kg/ dm3, resulta que a densidade relativa tem o mesmo valor que a massa específica (expressa em g/ cm3, kg/ dm3 ou ton/ m 3), mas é adirnensional. Como a relação entre o peso específico de um material e o peso específico da água a 4ºC é igual à relação das massas específicas, é comum se estender o conceito de densidade relativa à relação dos pesos e se adotar como peso específico a densidade relativa do material multiplicada pelo peso específico da água. 2.3 Estado das areias - Compacidade O estado em que se encontra uma areia pode ser expresso pelo seu índice de vazios. Este dado isolado, entretanto, fornece pouca informação sobre o comportamento da areia, pois, com o mesmo índice de vazios, uma areia pode estar compacta e outra fofa. É necessário analisar o índice de vazios natural de uma areia em confronto com os índices de vazios máximo e mínimo em que ela pode se encontrar. Se uma areia pura, no estado seco, for colocada cuidadosamente em um recipiente, vertida através de um funil com pequena altura de queda, por exemplo, ela ficará no seu estado mais fofo possível. Pode-se, então, determinar seu peso específico e dele calcular o índice de vazios máximo. Vibrando-se uma areia dentro de um molde, ela ficará no seu estado mais compacto possível. A ele corresponde o índice de vazios mínimo. Os índices de vazios máximo e mínimo dependem das características da areia. Valores típicos estão indicados na Tabela 2.1. Os valores são tão maiores Descrição da areia Areia uniforme de grãos angulares Areia bem graduada de grãos angulares Areia uniforme de grãos arredondados Areia bem graduada de grãos arredondados quanto mais angulares são os grãos e quanto mais mal graduadas as areias. !: aB a A Consideremos uma areia A com "e míniino" igual a 0,6 e "e máxiino" igual a 0,9 e uma areia B com "e n1íniino" igual a 0,4 e "e máxiino" igual a 0,7 (ver figura 2.3). o 0.2 emin emax 0,70 1, 1 o 0,45 0,75 0,45 0,75 0,35 0,65 e, ir eri~x Pn: in e_1n~x 0.4 0.6 0.8 índice de vazios Aula 2 O Estado do Solo 27 TAbElA 2.1 Valores típicos de índices de vazios de areias FiGURA 2.} Comparação de compacidades de duas areias com e = 0,65 Mecânica dos Solos 28 Classificação das areias segundo a compacidade TAbElA 2.} Consistência em função da resistência à compressão Se as duas estiverem com e = 0,65, a areia A estará compacta e a areia B estará fofa. O estado de uma areia, ou sua compacidade, pode ser expresso pelo índice de vazios em que ela se encontra, em relação a estes valores extremos, pelo índice de compacidade relativa: CR = Quanto maior a CR, mais compacta e a areia. Terzaghi sugeriu a terminologia apresentada na Tabela 2.2. e lassificação Areia fofa Areia de compacidade média Areia compacta CR abaixo de 0,33 entre 0,33 e 0,66 acima de 0,66 Em geral, areias compactas apresentam maior resistência e menor deformabilidade. Estas características, entre as diversas areias, dependem também de outros fatores, como a distribuição granulométrica e o formato dos grãos. Entretanto, a compacidade é um fator importante. 2.4 Estado das argilas - Consistência Quando se tnanuseia uma argila, percebe-se uma certa consistência, ao contrário das areias que se desmancham facilmente. Por esta razão, o estado em que se encontra uma argila costuma ser indicado pela resistência que ela apresenta. A consistência das argilas pode ser quantificada por meio de um ensaio de compressão sirnples, que consiste na ruptura por compressão de um corpo de prova de argila, geralmente cilíndrico. A carga que leva o corpo de prova à ruptura, dividida pela área deste corpo é denominada resistência à compressão simples da argila (a expressão simples expressa que o corpo de prova não é confinado, procedimento muito empregado em Mecânica dos Solos, como se estudará adiante). Em função da resistência à compressão simples, a consistência das argilas é expressa pelos termos apresentados na Tabela 2.3. Consistência Resistência, em kPa muito mole < 25 mole 25 a 50 média 50 a 100 rija 100 a 200 muito rija 200 a 400 dura > 400 Sensitividade das argilas A resistência das argilas depende do arranjo entre os grãos e do índice de vazios em que se encontra. Foi observado que quando se submetem certas argilas ao manuseio, a sua resistência diminui, ainda que o índice de vazios seja mantido constante. Sua consistência após o manuseio (amolgada) pode ser menor do que no estado natural (indeformado). Este fenômeno, que ocorre de maneira diferente conforn1e a formação argilosa, foi charnado de sensitividade da argila. A sensitividade pode ser bem visualizada por meio de dois ensaios de compressão simples. O primeiro com a amostra no seu estado natural. O segundo com. um. corpo de prova feito com o mesmo solo após cornpleto rc1nolda1nen to, mas co1n o mesmo índice de vaz10s. Exemplo de resultados destes dois ensaios está mostrado na Figura 2.4. A relação entre a resistência no estado natural e a resistência no estado amolgado foi definido como sensitividade da argila: CT S= Resistência no estado indeformado Resistência no estado amolgado As argilas são classificadas conforme a Tabela 2.4. Sensitividade 1 a 2 2a4 4a8 >8 Classificação insensitiva baixa sensitividade média sensitividade sensitiva ultra-sensitiva ( quick clay) A sensitividade pode ser atribuída ao arranjo estrutural das partículas, estabelecido durante o processo de sedimentação, arranjo este que pode evoluir ao longo do tempo pela intcrrclação química das partículas ou pela remoção de sais existentes na água cm que o solo se formou pela percolação de águas lfrnpidas. As forças eletroquímicas entre as partículas podem provocar um verdadeiro "castelo de cartas". Rompida esta estrutura, a resistência será muito menor, ainda que o índice de vazios seja o mesmo. Por esta razão, a sensitividade é também referida como índice de estrutura. A sensitividade das argilas é uma característica de grande importância, pois indica que, se a argila vier a sofrer uma ruptura, sua resistência após esta
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