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B A SE TE X TO Prof. Esp. Fernando Semenzato INTRODUÇÃO A NEGÓCIOS INTERNACIONAIS UNIVERSIDADE MUNICIPAL DE SÃO CAETANO DO SUL Portal: www.uscs.edu.br Tel.: (11) 4239-3200 Av. Goiás, 3400 – São Caetano do Sul – SP – CEP: 09550-051 Rua Santo Antônio, 50 – São Caetano do Sul – SP – CEP: 09521-160 Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução, a transmissão total ou parcial por qualquer forma e/ou qualquer meio (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação e distribuição na web), ou o arquivamento em qualquer sistema de banco de dados sem a permissão por escrito da Universidade Municipal de São Caetano do Sul. EQUIPE TÉCNICA EDITORIAL Professor conteudista: Prof. Esp. Fernando Semenzato Projeto gráfico: Renata Kuba, Luana do Nascimento, Juliana Alves e Wallace Campos Capa: Wallace Campos Diagramação: Wallace Campos Revisão: Marialda Almeida O Núcleo de Educação a Distância da USCS garante a revisão gramatical e ortográ- fica dos conteúdos dos Textos-Base de todas as disciplinas ofertadas em que seus autores respeitem os prazos de entrega de acordo com o calendário acadêmico cor- rente. No entanto, lembramos que o conteúdo apresentado nesses livros é de autoria e de total responsabilidade do professor conteudista, profissional qualificado para desenvolver esses materiais. DÚVIDAS? FALE CONOSCO! eadsuporte@uscs.edu.br (11) 4239-3351 Prof. Esp. Fernando Semenzato INTRODUÇÃO A NEGÓCIOS INTERNACIONAIS COMÉRCIO INTERNACIONAL INTRODUÇÃO .................................................6 COMÉRCIO INTERNACIONAL .........................7 INTERDEPENDÊNCIA DOS PAÍSES ...............12 RAZÕES DO COMÉRCIO INTERNACIONAL ...15 BARREIRAS AO LIVRE COMÉRCIO ...............22 Barreiras Tarifárias ............................................................ 25 Barreiras Não-Tarifárias ..................................................... 26 CONCLUSÃO .................................................28 REFERÊNCIAS ...............................................28 Unidade 1 INTRODUÇÃO O Comércio Internacional é uma atividade antiga e toda operação de comércio realizado entre povos diferentes, desde a antiguidade, pode ser considerada uma forma de comércio exterior. Na forma como a conhecemos hoje, que contempla o comércio a longa dis- tância, podemos dizer que essa atividade teve início com o comér- cio realizado pelas cidades-estados gregas que realizavam o trans- porte marítimo de mercadorias inicialmente pelo mar Egeu. Outra origem a ser considerada são as rotas de comércio através do mar mediterrâneo, mantidas por Roma. A expansão do comércio internacional acompanhou o desenvol- vimento dos povos, mas, principalmente, o desenvolvimento dos meios de transporte. A possibilidade de alcançar maiores distâncias com meios de transportes mais rápidos e com maior capacidade são os grandes facilitadores do comércio internacional, que vem se intensificando especialmente nas últimas décadas. Iniciaremos a Unidade 1 estudando a origem e o desenvolvimento do comércio exterior, as razões para sua existência, as vantagens de sua utilização, e concluiremos a unidade conhecendo algumas das formas de controle dessa atividade tão presente nos dias atuais. O primeiro capítulo, intitulado “Comércio Internacional”, apresenta o conceito de comércio internacional, e também demonstra a evolu- ção desse negócio, partindo de suas origens históricas. Nos capítulos seguintes vamos observar a importância e as moti- vações do comércio exterior. Quais motivos levam os povos a rea- lizar comércio entre si? Essas motivações seriam meramente eco- nômicas, ou outros fatores importantes estão envolvidos? Essas perguntas serão respondidas nos capítulos “Interdependência dos países” e “Razões do Comércio Internacional”. Já no capítulo “Barreiras ao Livre Comércio”, aprenderemos que, embora os países necessitem realizar comércio entre si, cada nação procura ao mesmo tempo proteger sua produção interna. Para isso, utilizam-se de barreiras que visam criar alguns tipos de controle à entrada de produtos estrangeiros em seu território. Entenderemos Introdução ao Comércio Exterior 6 Introdução a negócios internacionais Unidade 1 porque esse tipo de controle é necessário para o equilíbrio econô- mico de uma nação, mesmo que o entendimento principal atual é o de que um comércio livre é benéfico a todos os países. Nos subcapítulos “Barreiras Tarifárias” e “Barreiras Não Tarifá- rias”, o conceito de barreiras ao livre comércio é melhor detalhado, e são apresentadas as formas mais comuns de barreiras ao comércio internacional utilizados no Brasil e no mundo. COMÉRCIO INTERNACIONAL O comércio internacional é composto por operações de compra, troca e venda de bens e serviços entre os países. Por esse motivo, é um importante gerador da circulação de capitais entre as nações e uma importante fonte de desenvolvimento econômico. Antes do surgimento da agricultura e da pecuária, os grupos huma- nos eram essencialmente nômades e retiravam da natureza o neces- sário para sua sobrevivência. Esse estilo de vida atribuía aos homens primitivos a denominação de caçadores-coletores, justamente porque a caça e a coleta de alimentos eram a principal fonte de subsistência desses primeiros grupos humanos. Muitas vezes esses grupos preci- savam disputar alimentos com os outros grupos que, em razão disso, eram normalmente considerados como grupos rivais. O advento da agricultura e da domesticação de animais através da pecuária propiciaram aos humanos uma menor necessidade de se deslocar de uma região para outra, visto que não precisavam mais se movimentar tanto em busca de alimentos. Com isso, surgi- ram os primeiros assentamentos (que foram os embriões das futuras cidades) e os grupos humanos passaram a ficar mais populosos. Em grupos maiores e fixados em um determinado local, esses grupos passaram a ficar mais protegidos de eventos climáticos naturais, do ataque de animais e do ataque de grupos rivais. Foi nessa época também que surgiu a prática do escambo, ou seja, a troca de uma mercadoria por outra, o que pode ser consi- derada a primeira forma de comércio da história. O transporte dos produtos era a principal dificuldade para o comércio, uma vez que Comércio Internacional 7 Unidade 1 não haviam muitos meios de transporte de carga disponíveis. Outro importante fator que difi cultava as relações comerciais era o fato de que nessa época não era fácil encontrar outros grupos que tinham a oferecer justamente os produtos que o grupo precisava, e que ainda estavam dispostos a aceitar como pagamento os produtos exceden- tes que o grupo tinha à disposição. Para resolver esse problema decorrente das trocas, surgiu o sis- tema do “padrão de trocas”. Esse sistema utilizava produtos de uso geral como forma de pagamento dos demais produtos e serviços, e funcionavam como “moedas de troca” antes do surgimento do di- nheiro propriamente dito. Entre os produtos inicialmente utilizados para esse fi m estavam: sal, grãos, conchas e peles. Com o surgimento das moedas metálicas foi estabelecido o chama- do “padrão monetário”. Esse padrão facilitou ainda mais as trocas e foi o primeiro método a permitir a avaliação ou comparação de valores negociados ou comercializados. Os metais que eram utilizados para a cunhagem das moedas nessa época eram o cobre, a prata e o ouro. Assim, as moedas metálicas facilitaram bastante o comércio, mas esse é apenas um dos eventos históricos importantes para essa ati- vidade. O desenvolvimento de veículos de transporte como carroças e barcos foram fundamentais para o estabelecimento de transações comerciais com povos mais distantes, por meio de rotas operadas por povos antigos como gregos, fenícios e romanos. Muitos séculos depois, um período extremamente importante para o crescimento do comércio internacional foi o período compreendido entre os séculos XVI e XVII, que é chamado de “a era das grandes navegações”.As grandes navegações foram utilizadas inicialmente pelas duas maiores potências marítimas da época, Portugal e Es- panha, e posteriormente por países como Inglaterra, França e Ho- landa. Essas nações europeias foram as que mais investiram na na- vegação, conseguindo atingir distâncias mais longas e estabelecer novas rotas de comércio para o oriente, onde haviam muitas merca- dorias valiosas como especiarias e tecidos. Outras consequências importantes das grandes navegações foram o descobrimento de novas terras e o estabelecimento de colônias, que só fortaleceram a atividade comercial desses países europeus. Na Roma antiga os soldados eram pagos com uma porção de sal, mercadoria de gran- de importância e alto valor na época. A partir dessa prática surgiu a palavra salário (sa- larium em latim). Além do sal, também eram entregues como forma de pagamento produtos como vinho, óleo e grãos. O sal servia tanto para conservar como para melhorar o sabor dos alimentos, e era tão impor- tante que acabou nomeando toda e qualquer remuneração. Você sabia ? Você sabia ? Introdução ao Comércio Exterior 8 Introdução a negócios internacionais Highlight Unidade 1 O objetivo principal das grandes navegações era acumular rique- zas através do comércio, pois o acúmulo de riquezas significaria também o acúmulo de poder. Foi a forma que as monarquias da época encontraram para tentar manter-se no poder, e se proteger da ameaça de países rivais. Essa prática originou aquela que é pro- vavelmente a primeira teoria sobre o comércio exterior, e que hoje chamamos de mercantilismo. O maior símbolo de riqueza para as economias dessa época eram justamente os metais preciosos, especialmente o ouro, e os países buscavam acumular essas riquezas através da aquisição e exporta- ção de mercadorias para outros países. De fato, muitos dos produ- tos exportados não tinham sua origem na Europa, mas sim em suas colônias americanas, asiáticas e africanas, como, por exemplo, o pau-brasil. Assim como as embarcações foram cruciais na época das gran- des navegações, nos séculos mais recentes, o surgimento e o aper- feiçoamento dos vários meios de transporte permitiram à atividade comercial funcionar de forma mais eficiente e com menores custos. As cargas começaram a ser transportadas também através de loco- motivas, aeronaves e caminhões, os transportes marítimos puderam ser realizados de forma mais rápida e maior capacidade de carga. Com os novos meios de transporte as cargas puderam chegar a lugares antes inacessíveis. Outro fator importante foi a criação de equipamentos que permitiram a unitização de cargas, como pallets, big bags e containers. Esses equipamentos facilitaram a movimenta- ção, a armazenagem, o embarque e o transporte das mercadorias. Esses dois fatores somados agilizaram as operações, e geraram como resultado um crescimento contínuo e sustentado do comércio internacional (KEEDI, 2017). A partir do estabelecimento das condições técnicas que permiti- ram a aceleração e o aumento no volume do comércio internacional, cabe analisar as motivações econômicas e o contexto histórico que desenharam a trajetória desta importante atividade econômica nos últimos anos. O texto, a seguir, do autor Sarquis, nos apresenta uma visão histó- rica recente do comércio internacional: O mercantilismo surgiu com as monarquias absolutistas que detinham o poder na Europa entre os séculos XVI e XVII, e era baseado na ideia do me- talismo, ou seja, a aquisição e o acúmulo de riquezas eram necessários para manutenção do poder perante as nações rivais. Essas riquezas eram obtidas principalmente através do comércio, e isso estimulou as grandes navegações. Atenção Comércio Internacional 9 Unidade 1 Fonte: Comércio Internacional e Crescimento Econômico no Brasil, Sarquis José Bu- ainain Sarquis, 2011, páginas 16-18. O tema se confunde com a história econômica internacional e com a própria globalização. Apesar de refl etir essencialmente uma tendência de intensifi cação dos fl uxos econômicos internacionais, essa história não é invariavelmente linear. Alterna ciclos de maior e menor expansão do in- tercâmbio comercial. Tais ciclos se associam a maior ou menor crescimen- to, bem como a diferentes regimes de comércio. Mesmo ocasionalmente se observa a coincidência entre a contração das economias e a retração de seu comércio exterior, como ocorreu nas crises de 1929 e 2009. Os regimes de livre-comércio, predominantes na segunda metade do século XIX, foram substituídos por considerável protecionismo, na Eu- ropa e em outras regiões, entre as duas Grandes Guerras Mundiais. En- tretanto, desde a criação das instituições de Bretton Woods e do Plano Marshall, se testemunhou uma progressiva liberalização comercial. O comércio e o crescimento engendraram oportunidades recíprocas, um alimentando o outro, em escala cada vez mais global. Assim, os estu- dos acerca do comércio e do crescimento acabaram por ganhar ímpeto revigorado nas décadas de oitenta e, sobretudo, noventa. Desde então, reconstruíram-se os argumentos de que o comércio internacional traz benefícios para o crescimento e de que se alcançam tais benefícios, me- diante a intensifi cação do comércio pelas vias da abertura econômica, como advogaria o Consenso de Washington. Motivaram esses argumentos o contraste entre as experiências de crescimento rápido na Ásia e as de estagnação na América Latina. Os primeiros estudos sobre o “milagre asiático” associam-no ao padrão export-led growth – de obtenção dos benefícios de crescimento pelas exportações. Estudos posteriores identifi cam também para a Ásia o pa- drão inverso, de import-led growth. Independentemente das diferentes e complementares visões, preva- lece hoje o raciocínio de que se pode auferir benefícios consideráveis Leitura complementar Introdução ao Comércio Exterior 10 Introdução a negócios internacionais Highlight Unidade 1Unidade 1 do comércio internacional, pelas vias conjuntas das exportações e das importações. Ademais, predomina a observação de que existe uma cor- relação entre nível de desenvolvimento econômico e o grau de inser- ção comercial ou de abertura econômica. Deduz-se, em particular, des- sa correlação, que um maior grau de inserção comercial favoreceria o crescimento. Entretanto, não haveria ainda indicação clara e conclusiva sobre as causas dessa correlação, se confi rmada, nem sobre quão dura- douros para o crescimento podem ser os efeitos de maior abertura ou liberalização comercial. A questão é especialmente complexa, na medida em que os benefícios recíprocos do comércio e do crescimento são auferidos de modo desi- gual por países e regiões. Cada um destes aventura-se de modo singular na busca desses benefícios, em função de suas diferentes características e políticas. Por certo, a distinção entre países desenvolvidos e em desen- volvimento já contém implicitamente alguma indicação histórica da de- fasagem dos benefícios. Estes, todavia, dependem de fatores específi cos de cada país, determinados não só pela geografi a, dotação de recursos (naturais) e estágio (histórico) de desenvolvimento, mas também em função de sua estrutura econômica, dinamismo produtivo e capacida- des educacional e de inovação. Com efeito, tais dinamismo e capacida- des alteram a estrutura econômica, na medida em que estimulam a acu- mulação de fatores (não naturais), como máquinas e capital humano. Tal acumulação não só determina a continuidade desse processo, mas também redesenha dinamicamente a composição de fatores e as vanta- gens comparativas dos países. Assim, em última análise, se reescrevem a geografi a e a história econômica dos países. Esse texto do autor Sarquis relaciona a expansão do intercâmbio comercial com o próprio processo de globalização. Explica como essa trajetória ocorreu através de ciclos de maior ou de menor ex- pansão desta atividade econômica, alternando entreperíodos onde ora prevaleceu o livre-comércio, ora uma prática mais protecionista. O texto é fi nalizado afi rmando que prevalece hoje o raciocínio de Comércio Internacional 11 Unidade 1 que os países podem obter relevantes benefícios através do comér- cio internacional, principalmente se adotadas as operações de ex- portação e importação de forma conjunta. Seria então o aumento do fluxo de comércio internacional uma ne- cessidade? O capítulo seguinte nos ajudará a responder. INTERDEPENDÊNCIA DOS PAÍSES É praticamente impossível a um país sobreviver isoladamente, qualquer que seja o seu tamanho ou nível de desenvolvimento. Inde- pendentemente da vontade política, as economias de todos os paí- ses funcionam em um sistema de interdependência, pois nenhum país detém todos os recursos necessários. Igualmente, nenhum país é capaz de produzir individualmente todos os produtos de que pre- cisa. Esses fatores são explicados, principalmente, em razão dos fatores abaixo: � Desigualdade na distribuição geográfica dos recursos naturais; � Diferenças de clima e de solo; � Diferença das disponibilidades de capital e trabalho; � Diferença dos estágios de desenvolvimento tecnológico. Desde a antiguidade e até meados do século XX, era muito co- mum que os países recorressem às guerras e às invasões de territó- rios de outras nações para obter os recursos que desejavam. Essa prática não é mais tão frequente nos dias atuais. Principal- mente após as duas grandes guerras mundiais, os países perce- beram que o alto custo financeiro (e também em relação às vidas humanas) exigidos pelas guerras inviabilizam a obtenção de recur- sos por esse caminho. Essa forma de pensar surgiu principalmente após o equilíbrio de forças trazido pelo desenvolvimento das armas nucleares, onde constatou-se que uma nova guerra de proporções mundiais poderia significar a extinção de toda a vida em nosso pla- neta. Dessa forma, o caminho mais seguro para a obtenção das Introdução ao Comércio Exterior 12 Introdução a negócios internacionais Unidade 1 mercadorias que cada país necessita é por meio do comércio in- ternacional. As grandes potências regionais da atualidade (Estados Unidos, China e União Europeia) são também os países que mais exportam e importam produtos, e constituem as maiores economias mundiais. O comércio é tão importante atualmente que uma das primeiras medidas punitivas adotadas quando um país viola uma norma in- ternacional é o bloqueio de seu comércio, como, por exemplo, o embargo econômico imposto à Cuba pelos Estados Unidos. Vamos entender agora uma característica muito importante da in- terdependência econômica internacional: a interdependência de um país será tanto mais acentuada quanto mais avançado for o estágio de desenvolvimento deste país. Conforme a economia do país se moderniza, as relações no interior do sistema econômico também se tornam mais complexas, de maneira que as relações comerciais e financeiras com o resto do mundo passam a ser mais necessárias. Isso ocorre porque a dependência de suprimentos externos se am- plia e passa a abranger novos itens, e o comércio internacional tanto de matérias-primas quanto de mercadorias acabadas ou semiaca- badas se torna vital para que a economia desses países continue se desenvolvendo. Outro ponto importante sobre interdependência é que ela nos reme- te a um outro fenômeno: a globalização. A globalização simplesmente não seria possível sem a evolução do comércio internacional, e está totalmente associada à interdependência econômica entre os países. Embora o termo globalização seja utilizado com grande frequên- cia nos últimos anos, não se trata de um fenômeno recente. Assim como a própria trajetória do fluxo de comércio mundial, o entendi- mento mais comum reza que a globalização é um processo que sur- giu séculos atrás, e que se desenvolveu através de ciclos de maior ou menor intensidade ao longo da história. A globalização teve seu início no século XVI, na época das grandes navegações, com a ex- pansão da economia de países europeus para regiões da América, África e Ásia (DIAS, 2012). Conforme aprendemos no capítulo an- terior, nessa época eram as monarquias absolutistas das principais nações europeias quem comandavam o processo de globalização, Comércio Internacional 13 Unidade 1 realizando comércio de longa distância entre diversos continentes através de suas rotas comerciais marítimas e das colônias que ha- viam estabelecido em boa parte do mundo. Diferentemente dessa época, atualmente são as grandes corpora- ções que direcionam o processo de globalização e que determinam a divisão internacional do trabalho entre os país. O autor Reinaldo Dias (2012, p.157) aponta as seguintes características do atual ciclo de globalização: � Ocorrência de profundas transformações, provocadas pela cha- mada Terceira Revolução Científico-Tecnológica; � Criação de um sistema de produção mundial, integrando um gran- de número de países e caracterizado pela produção das partes, componentes e serviços em escala mundial; � Aumento de produtos globais, não produzidos integralmente por nenhum país em particular; � Movimento acelerado da integração das economias nacionais à nova dinâmica do mercado global por meio, principalmente, da abertura comercial, com a queda das barreiras alfandegárias; � Formação de grandes blocos econômicos regionais; � Diminuição da capacidade dos Estados nacionais de exercer contro- le rígido sobre todos os processos econômicos e políticos internos. Essas características não existiam de forma tão marcante no pas- sado, mas, como já explicamos, a globalização está diretamente re- lacionada à interdependência dos países, e o que muda ao longo do tempo é a forma como essa interdependência ocorre e por quais agentes esse processo é conduzido. A partir das características apontadas pelo autor Reinaldo Dias, observamos que a globalização crescente das economias tem am- pliado o relacionamento entre as nações, fazendo surgir novos fato- res de interdependência ligados principalmente à área tecnológica e de telecomunicações. As distâncias são percorridas em menor tempo e as informações atravessam o mundo de forma instantânea. Introdução ao Comércio Exterior 14 Introdução a negócios internacionais Unidade 1 No passado, a globalização era conduzida pelos Estados, ou seja, pelas grandes monarquias absolutistas europeias que dominavam o mundo através do colonialismo. Atualmente, a globalização é con- duzida pelas grandes corporações, que são responsáveis pelo es- tabelecimento da atual divisão internacional do trabalho. Mantendo esse exemplo, a escolha do local de montagem de um automóvel ou mesmo do local da fabricação de cada uma de suas peças é determinada por fatores como custo de produção, ou mes- mo as políticas internas que restringem e/ou desestimulam a utili- zação de fatores tais como matéria-prima, mão de obra, recursos financeiros e/ou recursos tecnológicos. Em muitos casos torna-se mais vantajoso importar do que produzir em determinado país. Assim, o que vai levar uma empresa internacional a escolher o local de fabricação de seus produtos é uma análise essencialmente econômica, visando a maximização dos lucros. E a partir desta con- clusão de que muitas vezes é mais interessante efetuar a importa- ção de um produto, surge o incremento do comércio internacional e se estabelece uma nova relação de interdependência. RAZÕES DO COMÉRCIO INTERNACIONAL No capítulo anterior tivemos um entendimento inicial das razões pelas quais uma empresa realiza operações de comércio interna- cional. Neste capítulo vamos detalhar melhor esses motivos, consi- derando individualmente as operações de importação e de exporta- ção. Observaremos esses motivos partindo tanto do ponto de vista dos países como também do ponto de vista das empresas. Considerando inicialmente do ponto de vista dos países, o pri- meiro motivo para realizar operações de exportação/importaçãoé relativo à disponibilidade de recursos naturais. Um país poderá ex- portar os recursos que tem em abundância, ou seja, em quantidade maior do que necessita para atender seu consumo interno. Devido às diferenças geográficas e climáticas entre os países, a oferta de 1 Disponível em: <https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=5817924>. Com os avanços das teleco- municações e da informática ficou mais fácil para as empre- sas movimentar seus capitais de um país para o outro, prin- cipalmente a partir da década de oitenta, o que fez aumen- tar consideravelmente o fluxo financeiro entre os países. Esses avanços criaram um ambiente mais favorável para que os grandes grupos em- presariais internacionais ins- talassem filiais e subsidiárias em diversos países, levando a uma internacionalização do processo produtivo. Assim, um automóvel montado em um determinado país pode ter o motor e outros equipa- mentos fabricados em outros continentes, por exemplo. Na Figura 1 observamos o exem- plo de uma moderna linha de montagem de automóveis. Atenção Figura 1 – Linha de monta- gem da Lotus Cars Fonte: Brian Snelson1 Comércio Internacional 15 Highlight 1° MOTIVO Highlight Highlight Highlight Highlight Unidade 1 um recurso natural abundante em um país normalmente encontrará demanda de importação em outro país, onde esse recurso é escas- so ou inexistente. Outro fator importante tem a ver com a disponibilidade de terras para a pecuária e agricultura. Essas atividades exigem a disponibili- dade de grandes áreas rurais e, dependendo do produto, condições climáticas favoráveis. Países de grande extensão territorial como o Brasil e os Estados Unidos tem vantagem neste aspecto em relação a grande parte dos países do mundo, mas cabe ressaltar que a ex- tensão territorial não é o único fator a ser considerado. Regiões cuja geografia é muito acidentada, ou onde o clima é muito frio, muito quente ou desértico, podem enfrentar dificuldades adicionais para a prática da agricultura e pecuária, limitando a produção a certos tipos de plantações ou espécies de rebanhos. A disponibilidade de fatores de produção como capital e força de tra- balho também são fatores de determinam se um país terá condições ou não de produzir internamente determinados bens ou serviços, influen- ciando assim a decisão ou mesmo gerando a necessidade de exportar ou importar esses produtos. E quando citamos a força de trabalho não estamos falando apenas da disponibilidade numérica de trabalhado- res. Tanto a existência de trabalhadores capacitados para exercer de- terminada atividade quanto a possibilidade de realiza-la dentro de uma margem de custo desejável podem influenciar essa decisão. A análise da capacidade de produção nos leva a um outro fator muito importante, o fator tecnológico. Uma nação altamente indus- trializada e com bom nível de desenvolvimento tecnológico obtém vantagens financeiras ao focar seus esforços na fabricação de mer- cadorias e produção de serviços mais elaborados, que possuem alto valor agregado. Dessa forma, é melhor direcionar seus fatores de produção (capital e trabalho) para a produção desses bens com maior valor agregado e exportar para os países que não detém a ca- pacidade de produzir esses bens. Com os valores arrecadados na exportação o país tem recursos de sobra para importar bens menos elaborados e com menor valor agregado, como matérias-primas, produtos agrícolas e de origem animal. Essa relação de venda e compra será sempre vantajosa. Introdução ao Comércio Exterior 16 Introdução a negócios internacionais 2° MOTIVO 3° MOTIVO Highlight Highlight Highlight Highlight 4° MOTIVO Unidade 1 Além dos motivos práticos citados acima, outras razões que moti- vam os países a realizar comércio internacional devem ser levadas em consideração. Frequentemente os países tem relações comer- ciais por razões que vão muito além das razões econômicas ou por conta da necessidade de obter produtos específicos. Nessa lista de motivos secundários estão as motivações políticas e os acordos co- merciais estratégicos que os países negociam entre si, e que podem envolver inclusive questões relativas a interesses militares regionais. Considerando agora o ponto de vista das empresas e produto- res, observamos fatores ainda mais específicos, como os que apre- sentaremos abaixo. Naturalmente que na maioria dos casos, as van- tagens obtidas pelas empresas com a exportação e importação de produtos acaba representando vantagens também para os próprios países. Não se deve esquecer que quando uma empresa exporta um produto, ela está gerando empregos e recolhendo impostos, e também está trazendo para dentro do país o capital obtido com a venda dos produtos e serviços, aumentando a riqueza interna do país. Da mesma forma podem ser visualizadas as vantagens relati- vas a importação, quando uma empresa disponibiliza produtos, má- quinas ou tecnologias que até então não estavam disponíveis para a população, ao importar esses produtos. Um bom exemplo disso são os equipamentos médicos avançados que não são produzidos no Brasil, mas que estão disponíveis em muitos hospitais do país. Assim, o primeiro motivo relevante para realizar exportações que destacamos, do ponto de vista das empresas, é a ampliação de mercados. E a relevância desse motivo está relacionada ao tamanho do mercado consumidor interno do país. Questões como o tamanho da população e o poder de compra desta população vão determinar o grau de importância das exportações. Países com grande mer- cado consumidor como, Brasil, Estados Unidos e China dependem menos das exportações do que países com mercado consumidor pequeno, como Coréia do Sul e Cingapura, cujas exportações são extremamente relevantes para suas economias e para a lucrativi- dade de suas empresas. De qualquer forma, mesmo países com grande mercado consumidor não devem desperdiçar a chance de ampliar seus mercados consumidores. Porque uma empresa iria se Comércio Internacional 17 Unidade 1 limitar a vender seus produtos internamente se ela poderia vender para vários países? Esse fator também está relacionado à economia de escala, ou seja, quando o aumento na produção proporciona uma redução do custo médio do produto. Assim, a ampliação de mercados pode sig- nificar o aumento da demanda que a empresa precisa para obter essa redução de custo, ou ainda para preencher uma possível ca- pacidade de produção ociosa. Isso nos leva ao segundo motivo que leva as empresas a ex- portar, que é o aumento da lucratividade. Um produto ou serviço pode encontrar um mercado consumidor interno que absorva toda a capacidade produtiva de um produtor, mas isso significa que ele deve vender toda sua produção internamente? Muitas vezes a escassez deste produto em outras regiões do mundo faz com que a lucratividade de exportar o produto seja maior do que a lucrativi- dade obtida com a venda dele no mercado interno. Os produtores e empresas sempre vão buscar maximizar seus lucros, e isso vai influenciar fortemente a opção de em qual mercado vender. Na- turalmente que outros fatores estratégicos são considerados nes- sa decisão, como a manutenção da participação das vendas no mercado interno, e muitas vezes o próprio governo do país pode adotar medidas restritivas à exportação visando evitar a falta do produto no mercado interno. O próximo motivo ou razão para exportar é relativo à proteção con- tra crises econômicas. Por melhor que seja um mercado interno e por mais estáveis que sejam as economias de determinados países, nenhum país do mundo está totalmente livre do risco de enfrentar crises econômicas. Essas crises muitas vezes não se originam no próprio país, mas ele acaba sentindo os efeitos de crises econômi- cas ocorridas em outros países. E esse risco proveniente das crises econômicas é relevante não apenas no mercado consumidor inter- no. Imagine a seguinte situação: uma empresa exporta boa parte de sua produção paravárias empresas, porém de um único país, e em determinado momento esse país passa a enfrentar uma grave crise econômica, ou mesmo um conflito bélico que dificulte o comércio. Quais seriam as consequências para essa empresa? Dessa forma, Introdução ao Comércio Exterior 18 Introdução a negócios internacionais Unidade 1 quanto mais diversifi cado for o mercado consumidor de um produtor, menor será risco deste produtor enfrentar problemas nas vendas. O motivo seguinte está relacionado ao estímulo à efi ciência. Quan- do uma empresa decide exportar ela pode se deparar com um nível de exigência maior do que o nível exigido em seu próprio mercado interno, por parte dos compradores. Imagine uma empresa brasileira que fornece equipamentos para transmissão de dados de telefonia celular, buscando exportar seus produtos para regiões como o Ja- pão ou a comunidade europeia. Estes locais detém uma legislação própria que regulamenta a prestação deste tipo de serviço, e pos- sivelmente possuem a oferta de conexão a uma velocidade muito superior a existente no Brasil. Em alguns casos, a própria tecnologia necessária para a fabricação dos equipamentos pode ser diferente ou superior àquela que a empresa domina. Isto obrigaria a empresa brasileira a evoluir tecnologicamente seus produtos com a fi nalidade de atender este novo mercado, mesmo que este grau de tecnologia ainda não seja necessário no Brasil. Outro fato relevante é o de que, quando uma empresa compete no mercado externo, seus concor- rentes passam a ser empresas de todo o mundo. Quanto mais for- necedores competindo pelo mesmo mercado, maiores as chances dessa disputa envolver fabricantes ofertando produtos com maior grau de qualidade ou a preços mais competitivos. A necessidade de disputar um mercado mais exigente obriga a empresa a melhorar seus produtos e processos produtivos para aumentar a qualidade ou diminuir o preço, e assim conseguir concorrer no mercado exter- no com chances reais de concretizar as vendas. Ainda na linha de ponto de vista das empresas, observaremos agora os motivos que levam as empresas a importar produtos. Em uma análise mais simples pode parecer que importar não é interes- sante para um país, uma vez que as importações fazem com que o capital saia do país com destino ao exterior, para pagamento das importações. Mas note que essa análise precisa ser mais complexa. A primeira razão que leva uma empresa a importar é a abertura eco- nômica. O comércio é uma via de mão dupla, e estabelecer contatos comerciais com outros mercados pode abrir as portas para futuras exportações. Diversificar os fornecedores também é tão importante Crises econômicas interna- cionais originadas em países vizinhos ou em países de eco- nomia forte podem afetar dire- tamente a economia de países com economia instável, como é o caso de alguns países em desenvolvimento como o Bra- sil. Em uma época com alto nível de globalização as eco- nomias estão cada vez mais conectadas, e não é raro que esse refl exo provoque proble- mas duradouros. Nosso país já foi afetado por crises que surgiram em outros países, como por exemplo a chamada “crise do subprime” ocorrida em 2008 nos Estados Unidos, e que se espalhou por todo mundo. Você sabia ? Você sabia ? Comércio Internacional 19 Unidade 1 quanto diversificar compradores, pois possuir fornecedores externos pode garantir a manutenção do recebimento de suprimentos caso os fornecedores internos sejam afetados por algum problema local. O segundo motivo está relacionado ao desenvolvimento econômico e industrial interno. Muitas vezes uma empresa só se tornará suficien- temente competitiva para ganhar participação no mercado interno ou para exportar se estiver aberta a possibilidade de realizar importa- ções. Através das importações uma empresa poderá obter, por exem- plo, maquinários ou matérias-primas que proporcionem o aumento da qualidade de seus produtos, ou ainda a redução de seus custos de produção, gerando assim uma vantagem competitiva. Outro fator relacionado à vantagem competitiva e que constitui uma das razões para importar é a obtenção de tecnologia. Dominar determinadas tecnologias pode ser necessário tanto para uma em- presa manter sua participação no mercado quanto para melhorar esta participação, seja no mercado interno ou externo. Mas muitas vezes a empresa não consegue desenvolver a tecnologia de que necessita por si só, ou não a encontra no mercado interno. Dessa forma, a importação de tecnologia é a alternativa que resta à empre- sa, para que possa continuar realizando seus objetivos. A obtenção de uma maior diversidade de produtos é outra ra- zão que justifica as importações. Essa diversidade pode ser obti- da através da importação e revenda direta de produtos acabados inexistentes no mercado interno, ou ainda através da obtenção de tecnologia, máquinas e matérias-primas necessárias à fabricação desses produtos. Um bom exemplo é o lítio. Atualmente esse ele- mento é considerado fundamental para a produção de baterias mais eficientes e duradouras, algo extremamente necessário para garantir maior autonomia aos smartphones, automóveis elétricos, robôs e outros equipamentos eletrônicos. Estima-se que 75% das reservas mundiais de lítio estejam localizados entre o Chile, a Bo- lívia e a Argentina. O mundo depende do fornecimento de lítio por parte desses países para atender a esta demanda tão importante. E não importa qual país detém a tecnologia de fabricação ou qual país é o maior fabricante, pois sem produzir a bateria não é possível fabricar smartphones. Introdução ao Comércio Exterior 20 Introdução a negócios internacionais Unidade 1 Por fim, a obtenção de vantagens econômicas é uma das princi- pais razões para se importar. Assim como vimos no capítulo anterior, em muitas situações torna-se mais vantajoso importar do que produ- zir em determinado país. Mesmo que um país detenha o maquinário, a tecnologia, as matérias-primas e a força de trabalho qualificada disponível, não há razão econômica que justifique produzir uma mercadoria ou serviço que pode ser importado por um valor menor. É exatamente por isso que observamos no Brasil tantos produtos originários da China ou de outros países do leste asiático. Muitas empresas estabelecidas no Brasil apenas administram as marcas, ou seja, elas importam os produtos acabados e os revendem inter- namente. Esse exemplo é observado nos mais variados produtos, desde autopeças até itens de vestuário. O foco da empresa neste caso é administrar o processo de aquisição e entrega, de forma a garantir que o produto seja disponibilizado aos compradores na quantidade, qualidade e prazo necessários. O que podemos aprender resumidamente com este capítulo? Razões para exportar: � Ampliação de mercados; � Aumento da lucratividade; � Proteção contra crises econômicas; � Estímulo a eficiência. Razões para importar: � Abertura econômica; � Desenvolvimento econômico e industrial interno; � Obtenção de tecnologia; � Obtenção de uma maior diversidade de produtos; � Vantagens econômicas (mais vantajo- so importar que produzir). Uma empresa precisa esgotar o mercado interno para apenas então pensar em exportar? Devemos exportar apenas o excedente, ou seja, o que sobra das vendas no mercado interno? O que impede que uma start-up seja planejada de forma a estar preparada para atender o mercado internacional, além do mercado interno? Observe os exemplos de produtos ou serviços com essa característica, como o Uber, o Waze ou o Airbnb. Para pensar Comércio Internacional 21 Highlight Highlight Unidade 1 BARREIRAS AO LIVRE COMÉRCIO Nos capítulos anteriores aprendemos sobre a interdependência dos países, e sobre as vantagens do comércio internacional. Os de- fensores do liberalismo entendem que um mercado livre de inter- venções dos governos (sem barreiras ao comércio) seria o melhor modelo de desenvolvimento econômico dos países. Entretanto,ne- nhum país no mundo é totalmente liberal. Os governos sempre vão buscar proteger a produção nacional de seus países, e até nações extremamente liberais como os Estados Unidos adotam medidas protecionistas quando veem seus interesses ameaçados. Importações são necessárias, mas a entrada repentina ou em grande volume de produtos estrangeiros melhores e mais baratos poderia gerar a saída excessiva de capital para o exterior, além de causar o fechamento de empresas concorrentes locais. As conse- quências seriam o desemprego e a redução na quantidade de im- postos recolhidos, o que seria certamente negativo para o país. Com o objetivo de manter o equilíbrio da economia interna os paí- ses criam medidas protecionistas, utilizando a proteção da indústria local como argumento. Algumas medidas protecionistas não tem o objetivo final de impedir a entrada de produtos estrangeiros, mas sim tentar dar condições para que as empresas nacionais concor- ram com os fornecedores estrangeiros em melhores condições de competitividade. Este argumento sustenta que tais indústrias deve- riam ser protegidas, ao menos temporariamente, por altas tarifas ou pelo estabelecimento de cotas (quantidades limitadas) nas impor- tações, até que conseguissem desenvolver eficiência tecnológica e economias de escala que lhes permitissem competir com as indús- trias estrangeiras. As medidas protecionistas são conhecidas como “barreiras ao li- vre-comércio”, ou “barreiras comerciais”. Essas barreiras são cons- tituídas por qualquer política, lei, regulamento, medida ou prática adotada pelo governo de um país, que cause restrições ao comér- cio internacional (CORTIÑAS LOPEZ; GAMA, 2005). As barreiras podem ser tarifárias (alfandegárias) ou não tarifárias. As barreiras também podem ser aplicadas às exportações, embora não sejam Introdução ao Comércio Exterior 22 Introdução a negócios internacionais Unidade 1 tão comuns quanto às barreiras aplicadas às importações. No caso brasileiro, barreiras aplicadas às exportações têm objetivos diferen- tes daquelas aplicadas às importações, e em geral visam cumprir acordos internacionais assinados pelo país. Para entender melhor a necessidade de adoção de medidas prote- cionistas, partindo do ponto de vista da economia brasileira, veremos abaixo um texto dos autores Serapião Junior e Magnoli. Para ilustrar o conceito eles realizaram uma análise sobre o debate público ocorrido em relação a participação do Brasil em uma área de livre comércio proposta pelos Estados Unidos, que se chamaria ALCA (Área de Livre Comércio das Américas), e seria formada por 34 países do continente americano (todos os países do continente, exceto Cuba). Em uma primeira análise a ideia de redução de medidas protecionis- tas é positiva pois facilita o comércio entre os países, o que é importante por conta da interdependência. Também devemos considerar o fato de que nas últimas décadas o mundo tem se tornado menos protecionista através do estabelecimento de blocos econômicos regionais que redu- zem ou eliminam barreiras comerciais, como por exemplo o Mercosul e a União Europeia. A Alca seria mais um desses blocos, mas com a di- ferença que ele englobaria um grande número de países e, entre eles, os Estados Unidos, que é a maior economia do mundo. Então porque a Alca não se consolidou? Porquê um mercado consu- midor tão grande foi desperdiçado? Ao mesmo tempo que traz oportu- nidades, a redução das barreiras ao livre-comércio também traz riscos a um país, caso ela não seja realizada de maneira criteriosa e observando os interesses internos. O texto baseia-se na chamada “teoria da segunda melhor opção”, e nos leva a entender porque esse projeto foi recusado pela maioria dos governos latino-americanos, entre eles o Brasil. ALCA E REFORMAS TRIBUTÁRIA E TRABALHISTA Um exemplo brasileiro da teoria da segunda melhor opção refere-se ao debate público em torno da Alca. A maioria dos representantes em- ALCA E REFORMAS TRIBUTÁRIA E TRABALHISTA Um exemplo brasileiro da teoria da segunda melhor opção refere-se ao debate público em torno da Alca. A maioria dos representantes em- Leitura complementar Comércio Internacional 23 Unidade 1Unidade 1 presariais concorda que um maior acesso ao mercado norte-americano é positivo para nossas exportações e que a concorrência dos importados tende a aumentar a efi ciência da economia doméstica como um todo. Trata-se, em essência, do argumento em defesa do livre-comércio. Por outro lado, quase todos os representantes empresariais, à exce- ção dos pertencentes ao setor agrícola, afi rmam que, com a atual carga tributária existente no país e com a legislação trabalhista anacrônica vigente, é impossível concorrer, em igualdade de condições, com os norte-americanos. Assim, diante da impossibilidade política de se proceder uma reforma tributária e a uma modernização da legislação trabalhista, a segunda melhor opção é continuar aplicando uma política comercial protecio- nista nos setores mais vulneráveis à concorrência de importados. O ideal seria termos uma reforma tributária que simplifi casse e ali- viasse a incidência de tributos e uma reforma trabalhista que aumen- tasse a efi ciência do mercado de trabalho doméstico. Os economistas concordam que o comércio exterior não é a causa desses problemas, mas que a política comercial pode ser utilizada para amenizar suas consequ- ências negativas. Esse tem sido, assim, um dos cernes da crítica à parti- cipação do Brasil na Alca. Fonte: Comércio Exterior e Negócios Internacionais: teoria e prática, Carlos Serapião Jr., Demétrio Magnoli. 2006, página 182. A constituição da Alca derrubaria as barreiras ao livre comércio no continente americano, mas é necessário entender que a redução de medidas protecionistas sempre exige uma contrapartida, ou seja, as exportações do Brasil para os Estados Unidos seriam facilitadas, mas as exportações dos Estados Unidos para o Brasil também se- riam. No entendimento dos representantes empresariais, segundo o texto, as vantagens trazidas às exportações brasileiras por causa da redução de barreiras não compensariam as desvantagens que viriam junto, ou seja, uma volumosa entrada de produtos americanos melhores e mais baratos no Brasil. Introdução ao Comércio Exterior 24 Introdução a negócios internacionais Unidade 1 Os representantes empresariais se preocupam com o fato de que as empresas brasileiras ainda não se encontravam em condições ideais para concorrer com as empresas americanas. A razão para isso seria nossa falta de eficiência interna imposta por leis trabalhistas e tributárias que, segundo o texto, encarecem o produto brasileiro. Dessa forma, a teoria entende que a melhor opção seria um livre- comércio, mas desde que os países tivessem condições de concor- rência mais justas. Na impossibilidade de adotar a melhor opção es- colhe-se a segunda melhor opção, ou seja, manter o protecionismo. No capítulo seguinte conheceremos os tipos e também alguns exemplos de barreiras comerciais utilizadas pelo mundo. BARREIRAS TARIFÁRIAS Também chamadas de restrições tarifárias, as barreiras tarifárias são os impostos que incidem na entrada ou na saída de mercado- rias de um país (KEEDI, 2017). As razões para utilização dessas barreiras podem ser: � Aumentar arrecadação tributária; ou, � Onerar o custo das mercadorias importadas ou exportadas. A razão mais comum para uso das barreiras tarifárias é onerar as mercadorias importadas. O imposto adicionado ao preço inter- nacional do produto poderá fazer com que o preço da mercadoria produzida internamente se torne competitivo. Trata-se de uma forma do governo proteger os produtores nacionais para que não sofram a concorrência de produtos importados mais baratos. O ideal é que o uso das barreiras tarifárias seja temporário, e que os impostos sejam programados para decrescerem ao longo do tempo. Isto fará com que as empresas nacionais busquem aumentar sua eficiênciae possam concorrer com as empresas estrangeiras no futuro, quando a barreiras tarifárias estiverem minimizadas ou sejam extintas. Barreiras permanentes podem gerar o efeito contrário, ou seja, as empresas nacionais podem se acomodar com a proteção oferecida pelo governo e não investir na melhoria da qualidade e do preço de seus produtos e serviços. Comércio Internacional 25 Onerar significa sobrecarregar. Unidade 1 As tarifas que incidem nas mercadorias podem ser específicas (calculas ao partir da quantidade ou do peso das mercadorias) ou ad valorem (calculadas através de um percentual sobre o valor das mercadorias). BARREIRAS NÃO-TARIFÁRIAS Barreiras não tarifárias são todos os outros tipos de barreiras, ou seja, não se referem ao pagamento de impostos e atuam de forma a adequar, dificultar, restringir ou proibir a entrada ou saída de mer- cadorias. As barreiras não tarifárias existem em maior número que as tarifárias, a existem para tanto para proteger a indústria nacional e como para proteger os consumidores. Um exemplo de utilização dessas barreiras para proteção aos consumidores é quando as mes- mas são aplicadas na forma de normas de qualidade ou de normas sanitárias, que devem ser atendidas pelos produtos importados. Apresentamos abaixo as principais barreiras não tarifárias utiliza- das no Brasil e nos demais países: � Cotas: Controla a quantidade máxima de entrada ou saída de de- terminados produtos no país, em um período específico; � Proibição total ou temporária: Proibição da importação de pro- dutos específicos ou com determinadas características, como por exemplo pneus usados; � Normas de origem: Exigências que podem ser aplicadas a im- portação de determinados produtos em relação ao seu local de origem; � Medidas antidumping: Quando comprovada a prática de preços desleais, essas medidas buscam equiparar o preço do produto importado ao preço praticado em seu país de origem, evitando que os produtores nacionais sejam prejudicados; � Medidas compensatórias: Trata-se de um tributo especial aplica- do em contrapartida a subsídios concedidos pelo país de origem, de forma ilegal, na exportação de uma mercadoria; � Medidas de salvaguarda: Aumento temporário da proteção à in- dústria doméstica que esteja sofrendo prejuízo grave decorrente Introdução ao Comércio Exterior 26 Introdução a negócios internacionais Unidade 1 do aumento das importações em grande quantidade em relação à produção nacional. Ocorrem na forma de elevação do imposto de importação ou de restrições quantitativas; � Gravames adicionais: Cobrança de valores adicionais sobre tarifas operacionais ou portuárias, como por exemplo a cobrança do AFRMM (Adicional sobre Frete para renovação da Marinha Mercante); � Licenças de importação automáticas: Alguns produtos estão sujeitos a licenciamento (autorização) das importações, mas ape- nas para possibilitar controles estatísticos e de regimes aduanei- ros especiais; � Licenças de importação não automáticas: Alguns produtos fi- cam sujeitos a anuência prévia, ou seja, a importação só pode ser realizada se for autorizada por algum órgão no país importador; � Controles sanitários e fitossanitários: Exigência do cumprimen- to de normas sanitárias ou fitossanitárias na importação ou expor- tação de produtos de origem animal e vegetal; � Restrições impostas a determinadas empresas: Aplicação exi- gências específicas para importações de mercadorias produzidas por determinadas empresas; � Requisitos relativos às características dos produtos: Neste tipo de barreiras os produtos ficam sujeitos à avaliação de conformida- de, para garantir que a mercadoria que ingressa no país esteja de acordo com as normas técnicas internas vigentes; � Requisitos relativos à embalagem: Neste tipo de barreiras po- dem ser aplicadas exigências quanto aos materiais, tamanhos ou padrões de peso para embalagens de produtos; � Requisitos relativos à rotulagem: Neste tipo de barreiras podem ser aplicadas exigências especiais quanto ao tipo, tamanho de letras ou tradução nos rótulos de produtos; � Requisitos relativos às informações sobre o produto: Um exem- plo desta restrição é a exigência do fornecimento de informações aos consumidores sobre o conteúdo alimentar ou proteico (quan- tidade de calorias, etc.); � Outros requisitos técnicos: Um exemplo desta barreira é a exi- gência de certificados relativos à fabricação do produto mediante processos não poluidores do meio ambiente; Comércio Internacional 27 Unidade 1 � Inspeção prévia à importação: O importador deve apresentar documentos que comprovem que a mercadoria foi inspecionada antes de ser embarcada no exterior; � Procedimentos aduaneiros especiais: A regulamentação das importações pode exigir que alguns produtos ingressem no país somente por determinados portos ou aeroportos. CONCLUSÃO O comércio internacional é necessário tanto para a sobrevivência dos países quanto para a manutenção da paz entre eles. O mundo vivencia uma era com alto nível de interação comercial, onde preva- lecem as relações de interdependência entre os países. Mas essa interdependência não impede que medidas protecionistas também sejam adotadas pelos governos, entretanto. Um comércio livre de barreiras seria o modelo ideal de de- senvolvimento, mas somente a partir do momento onde todos os países pudessem concorrer de forma justa. Barreiras co- merciais não são a melhor opção, mas são a melhor opção possível no momento. REFERÊNCIAS CORTIÑAS LOPEZ, José Manoel; GAMA, Mariza. Comércio Exterior Competitivo. 2.ed. São Paulo: Edições Aduaneiras, 2005. DIAS, Reinaldo. As primeiras teorias de comércio exterior: o mercanti- lismo. In: DIAS, Reinaldo; RODRIGUES, Waldemar. (org). Comércio Exterior: teoria e gestão. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2012. KEEDI, Samir. ABC do Comércio Exterior: abrindo as primeiras pági- nas. 6. ed. São Paulo: Aduaneiras, 2017. Introdução ao Comércio Exterior 28 Introdução a negócios internacionais Unidade 1 SARQUIS, Sarquis José Buiainain. Comércio internacional e cresci- mento econômico no Brasil. Brasília: Fundação Alexandre de Gus- mão, 2011. SERAPIÃO JUNIOR, Carlos; MAGNOLI, Demétrio. Comércio Exterior e Negócios Internacionais: teoria e prática. São Paulo: Saraiva, 2006. Comércio Internacional 29
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