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1 Introdução a negócios internacionais Unidade 1

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Prof. Esp. Fernando Semenzato
INTRODUÇÃO
A NEGÓCIOS 
INTERNACIONAIS
UNIVERSIDADE MUNICIPAL DE SÃO CAETANO DO SUL
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EQUIPE TÉCNICA EDITORIAL
Professor conteudista: Prof. Esp. Fernando Semenzato
Projeto gráfico: Renata Kuba, Luana do Nascimento, Juliana Alves
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Capa: Wallace Campos
Diagramação: Wallace Campos
Revisão: Marialda Almeida
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Prof. Esp. Fernando Semenzato
INTRODUÇÃO
A NEGÓCIOS 
INTERNACIONAIS
COMÉRCIO INTERNACIONAL
INTRODUÇÃO .................................................6
COMÉRCIO INTERNACIONAL .........................7
INTERDEPENDÊNCIA DOS PAÍSES ...............12
RAZÕES DO COMÉRCIO INTERNACIONAL ...15
BARREIRAS AO LIVRE COMÉRCIO ...............22
Barreiras Tarifárias ............................................................ 25
Barreiras Não-Tarifárias ..................................................... 26
CONCLUSÃO .................................................28
REFERÊNCIAS ...............................................28
Unidade 1
INTRODUÇÃO 
O Comércio Internacional é uma atividade antiga e toda operação 
de comércio realizado entre povos diferentes, desde a antiguidade, 
pode ser considerada uma forma de comércio exterior. Na forma 
como a conhecemos hoje, que contempla o comércio a longa dis-
tância, podemos dizer que essa atividade teve início com o comér-
cio realizado pelas cidades-estados gregas que realizavam o trans-
porte marítimo de mercadorias inicialmente pelo mar Egeu. Outra 
origem a ser considerada são as rotas de comércio através do mar 
mediterrâneo, mantidas por Roma.
A expansão do comércio internacional acompanhou o desenvol-
vimento dos povos, mas, principalmente, o desenvolvimento dos 
meios de transporte. A possibilidade de alcançar maiores distâncias 
com meios de transportes mais rápidos e com maior capacidade 
são os grandes facilitadores do comércio internacional, que vem se 
intensificando especialmente nas últimas décadas.
Iniciaremos a Unidade 1 estudando a origem e o desenvolvimento 
do comércio exterior, as razões para sua existência, as vantagens 
de sua utilização, e concluiremos a unidade conhecendo algumas 
das formas de controle dessa atividade tão presente nos dias atuais. 
O primeiro capítulo, intitulado “Comércio Internacional”, apresenta 
o conceito de comércio internacional, e também demonstra a evolu-
ção desse negócio, partindo de suas origens históricas. 
Nos capítulos seguintes vamos observar a importância e as moti-
vações do comércio exterior. Quais motivos levam os povos a rea-
lizar comércio entre si? Essas motivações seriam meramente eco-
nômicas, ou outros fatores importantes estão envolvidos? Essas 
perguntas serão respondidas nos capítulos “Interdependência dos 
países” e “Razões do Comércio Internacional”.
Já no capítulo “Barreiras ao Livre Comércio”, aprenderemos que, 
embora os países necessitem realizar comércio entre si, cada nação 
procura ao mesmo tempo proteger sua produção interna. Para isso, 
utilizam-se de barreiras que visam criar alguns tipos de controle à 
entrada de produtos estrangeiros em seu território. Entenderemos 
Introdução ao Comércio Exterior
6
Introdução a negócios internacionais
Unidade 1
porque esse tipo de controle é necessário para o equilíbrio econô-
mico de uma nação, mesmo que o entendimento principal atual é o 
de que um comércio livre é benéfico a todos os países.
 Nos subcapítulos “Barreiras Tarifárias” e “Barreiras Não Tarifá-
rias”, o conceito de barreiras ao livre comércio é melhor detalhado, e 
são apresentadas as formas mais comuns de barreiras ao comércio 
internacional utilizados no Brasil e no mundo. 
COMÉRCIO INTERNACIONAL 
O comércio internacional é composto por operações de compra, 
troca e venda de bens e serviços entre os países. Por esse motivo, é 
um importante gerador da circulação de capitais entre as nações e 
uma importante fonte de desenvolvimento econômico.
Antes do surgimento da agricultura e da pecuária, os grupos huma-
nos eram essencialmente nômades e retiravam da natureza o neces-
sário para sua sobrevivência. Esse estilo de vida atribuía aos homens 
primitivos a denominação de caçadores-coletores, justamente porque 
a caça e a coleta de alimentos eram a principal fonte de subsistência 
desses primeiros grupos humanos. Muitas vezes esses grupos preci-
savam disputar alimentos com os outros grupos que, em razão disso, 
eram normalmente considerados como grupos rivais.
O advento da agricultura e da domesticação de animais através 
da pecuária propiciaram aos humanos uma menor necessidade de 
se deslocar de uma região para outra, visto que não precisavam 
mais se movimentar tanto em busca de alimentos. Com isso, surgi-
ram os primeiros assentamentos (que foram os embriões das futuras 
cidades) e os grupos humanos passaram a ficar mais populosos. Em 
grupos maiores e fixados em um determinado local, esses grupos 
passaram a ficar mais protegidos de eventos climáticos naturais, do 
ataque de animais e do ataque de grupos rivais. 
Foi nessa época também que surgiu a prática do escambo, ou 
seja, a troca de uma mercadoria por outra, o que pode ser consi-
derada a primeira forma de comércio da história. O transporte dos 
produtos era a principal dificuldade para o comércio, uma vez que 
Comércio Internacional
7
Unidade 1
não haviam muitos meios de transporte de carga disponíveis. Outro 
importante fator que difi cultava as relações comerciais era o fato de 
que nessa época não era fácil encontrar outros grupos que tinham a 
oferecer justamente os produtos que o grupo precisava, e que ainda 
estavam dispostos a aceitar como pagamento os produtos exceden-
tes que o grupo tinha à disposição.
Para resolver esse problema decorrente das trocas, surgiu o sis-
tema do “padrão de trocas”. Esse sistema utilizava produtos de uso 
geral como forma de pagamento dos demais produtos e serviços, 
e funcionavam como “moedas de troca” antes do surgimento do di-
nheiro propriamente dito. Entre os produtos inicialmente utilizados 
para esse fi m estavam: sal, grãos, conchas e peles. 
Com o surgimento das moedas metálicas foi estabelecido o chama-
do “padrão monetário”. Esse padrão facilitou ainda mais as trocas e 
foi o primeiro método a permitir a avaliação ou comparação de valores 
negociados ou comercializados. Os metais que eram utilizados para 
a cunhagem das moedas nessa época eram o cobre, a prata e o ouro.
Assim, as moedas metálicas facilitaram bastante o comércio, mas 
esse é apenas um dos eventos históricos importantes para essa ati-
vidade. O desenvolvimento de veículos de transporte como carroças 
e barcos foram fundamentais para o estabelecimento de transações 
comerciais com povos mais distantes, por meio de rotas operadas 
por povos antigos como gregos, fenícios e romanos. 
Muitos séculos depois, um período extremamente importante para 
o crescimento do comércio internacional foi o período compreendido 
entre os séculos XVI e XVII, que é chamado de “a era das grandes 
navegações”.As grandes navegações foram utilizadas inicialmente 
pelas duas maiores potências marítimas da época, Portugal e Es-
panha, e posteriormente por países como Inglaterra, França e Ho-
landa. Essas nações europeias foram as que mais investiram na na-
vegação, conseguindo atingir distâncias mais longas e estabelecer 
novas rotas de comércio para o oriente, onde haviam muitas merca-
dorias valiosas como especiarias e tecidos. Outras consequências 
importantes das grandes navegações foram o descobrimento de 
novas terras e o estabelecimento de colônias, que só fortaleceram a 
atividade comercial desses países europeus. 
Na Roma antiga os soldados 
eram pagos com uma porção 
de sal, mercadoria de gran-
de importância e alto valor na 
época. A partir dessa prática 
surgiu a palavra salário (sa-
larium em latim). Além do sal, 
também eram entregues como 
forma de pagamento produtos 
como vinho, óleo e grãos. O 
sal servia tanto para conservar 
como para melhorar o sabor 
dos alimentos, e era tão impor-
tante que acabou nomeando 
toda e qualquer remuneração.
 Você sabia ? Você sabia ?
Introdução ao Comércio Exterior
8
Introdução a negócios internacionais
Highlight
Unidade 1
O objetivo principal das grandes navegações era acumular rique-
zas através do comércio, pois o acúmulo de riquezas significaria 
também o acúmulo de poder. Foi a forma que as monarquias da 
época encontraram para tentar manter-se no poder, e se proteger 
da ameaça de países rivais. Essa prática originou aquela que é pro-
vavelmente a primeira teoria sobre o comércio exterior, e que hoje 
chamamos de mercantilismo.
O maior símbolo de riqueza para as economias dessa época eram 
justamente os metais preciosos, especialmente o ouro, e os países 
buscavam acumular essas riquezas através da aquisição e exporta-
ção de mercadorias para outros países. De fato, muitos dos produ-
tos exportados não tinham sua origem na Europa, mas sim em suas 
colônias americanas, asiáticas e africanas, como, por exemplo, o 
pau-brasil.
Assim como as embarcações foram cruciais na época das gran-
des navegações, nos séculos mais recentes, o surgimento e o aper-
feiçoamento dos vários meios de transporte permitiram à atividade 
comercial funcionar de forma mais eficiente e com menores custos. 
As cargas começaram a ser transportadas também através de loco-
motivas, aeronaves e caminhões, os transportes marítimos puderam 
ser realizados de forma mais rápida e maior capacidade de carga. 
Com os novos meios de transporte as cargas puderam chegar a 
lugares antes inacessíveis. Outro fator importante foi a criação de 
equipamentos que permitiram a unitização de cargas, como pallets, 
big bags e containers. Esses equipamentos facilitaram a movimenta-
ção, a armazenagem, o embarque e o transporte das mercadorias. 
Esses dois fatores somados agilizaram as operações, e geraram 
como resultado um crescimento contínuo e sustentado do comércio 
internacional (KEEDI, 2017). 
A partir do estabelecimento das condições técnicas que permiti-
ram a aceleração e o aumento no volume do comércio internacional, 
cabe analisar as motivações econômicas e o contexto histórico que 
desenharam a trajetória desta importante atividade econômica nos 
últimos anos.
O texto, a seguir, do autor Sarquis, nos apresenta uma visão histó-
rica recente do comércio internacional:
O mercantilismo surgiu com as 
monarquias absolutistas que 
detinham o poder na Europa 
entre os séculos XVI e XVII, e 
era baseado na ideia do me-
talismo, ou seja, a aquisição 
e o acúmulo de riquezas eram 
necessários para manutenção 
do poder perante as nações 
rivais. Essas riquezas eram 
obtidas principalmente através 
do comércio, e isso estimulou 
as grandes navegações.
 Atenção
Comércio Internacional
9
Unidade 1
Fonte: Comércio Internacional e Crescimento Econômico no Brasil, Sarquis José Bu-
ainain Sarquis, 2011, páginas 16-18.
O tema se confunde com a história econômica internacional e com a 
própria globalização. Apesar de refl etir essencialmente uma tendência de 
intensifi cação dos fl uxos econômicos internacionais, essa história não é 
invariavelmente linear. Alterna ciclos de maior e menor expansão do in-
tercâmbio comercial. Tais ciclos se associam a maior ou menor crescimen-
to, bem como a diferentes regimes de comércio. Mesmo ocasionalmente 
se observa a coincidência entre a contração das economias e a retração de 
seu comércio exterior, como ocorreu nas crises de 1929 e 2009.
Os regimes de livre-comércio, predominantes na segunda metade do 
século XIX, foram substituídos por considerável protecionismo, na Eu-
ropa e em outras regiões, entre as duas Grandes Guerras Mundiais. En-
tretanto, desde a criação das instituições de Bretton Woods e do Plano 
Marshall, se testemunhou uma progressiva liberalização comercial. O 
comércio e o crescimento engendraram oportunidades recíprocas, um 
alimentando o outro, em escala cada vez mais global. Assim, os estu-
dos acerca do comércio e do crescimento acabaram por ganhar ímpeto 
revigorado nas décadas de oitenta e, sobretudo, noventa. Desde então, 
reconstruíram-se os argumentos de que o comércio internacional traz 
benefícios para o crescimento e de que se alcançam tais benefícios, me-
diante a intensifi cação do comércio pelas vias da abertura econômica, 
como advogaria o Consenso de Washington.
Motivaram esses argumentos o contraste entre as experiências de 
crescimento rápido na Ásia e as de estagnação na América Latina. Os 
primeiros estudos sobre o “milagre asiático” associam-no ao padrão 
export-led growth – de obtenção dos benefícios de crescimento pelas 
exportações. Estudos posteriores identifi cam também para a Ásia o pa-
drão inverso, de import-led growth.
Independentemente das diferentes e complementares visões, preva-
lece hoje o raciocínio de que se pode auferir benefícios consideráveis 
Leitura complementar
Introdução ao Comércio Exterior
10
Introdução a negócios internacionais
Highlight
Unidade 1Unidade 1
do comércio internacional, pelas vias conjuntas das exportações e das 
importações. Ademais, predomina a observação de que existe uma cor-
relação entre nível de desenvolvimento econômico e o grau de inser-
ção comercial ou de abertura econômica. Deduz-se, em particular, des-
sa correlação, que um maior grau de inserção comercial favoreceria o 
crescimento. Entretanto, não haveria ainda indicação clara e conclusiva 
sobre as causas dessa correlação, se confi rmada, nem sobre quão dura-
douros para o crescimento podem ser os efeitos de maior abertura ou 
liberalização comercial.
A questão é especialmente complexa, na medida em que os benefícios 
recíprocos do comércio e do crescimento são auferidos de modo desi-
gual por países e regiões. Cada um destes aventura-se de modo singular 
na busca desses benefícios, em função de suas diferentes características 
e políticas. Por certo, a distinção entre países desenvolvidos e em desen-
volvimento já contém implicitamente alguma indicação histórica da de-
fasagem dos benefícios. Estes, todavia, dependem de fatores específi cos 
de cada país, determinados não só pela geografi a, dotação de recursos 
(naturais) e estágio (histórico) de desenvolvimento, mas também em 
função de sua estrutura econômica, dinamismo produtivo e capacida-
des educacional e de inovação. Com efeito, tais dinamismo e capacida-
des alteram a estrutura econômica, na medida em que estimulam a acu-
mulação de fatores (não naturais), como máquinas e capital humano. 
Tal acumulação não só determina a continuidade desse processo, mas 
também redesenha dinamicamente a composição de fatores e as vanta-
gens comparativas dos países. Assim, em última análise, se reescrevem a 
geografi a e a história econômica dos países.
Esse texto do autor Sarquis relaciona a expansão do intercâmbio 
comercial com o próprio processo de globalização. Explica como 
essa trajetória ocorreu através de ciclos de maior ou de menor ex-
pansão desta atividade econômica, alternando entreperíodos onde 
ora prevaleceu o livre-comércio, ora uma prática mais protecionista. 
O texto é fi nalizado afi rmando que prevalece hoje o raciocínio de 
Comércio Internacional
11
Unidade 1
que os países podem obter relevantes benefícios através do comér-
cio internacional, principalmente se adotadas as operações de ex-
portação e importação de forma conjunta.
Seria então o aumento do fluxo de comércio internacional uma ne-
cessidade? O capítulo seguinte nos ajudará a responder.
INTERDEPENDÊNCIA DOS PAÍSES 
É praticamente impossível a um país sobreviver isoladamente, 
qualquer que seja o seu tamanho ou nível de desenvolvimento. Inde-
pendentemente da vontade política, as economias de todos os paí-
ses funcionam em um sistema de interdependência, pois nenhum 
país detém todos os recursos necessários. Igualmente, nenhum país 
é capaz de produzir individualmente todos os produtos de que pre-
cisa. Esses fatores são explicados, principalmente, em razão dos 
fatores abaixo:
 � Desigualdade na distribuição geográfica dos recursos naturais;
 � Diferenças de clima e de solo;
 � Diferença das disponibilidades de capital e trabalho;
 � Diferença dos estágios de desenvolvimento tecnológico.
Desde a antiguidade e até meados do século XX, era muito co-
mum que os países recorressem às guerras e às invasões de territó-
rios de outras nações para obter os recursos que desejavam. 
Essa prática não é mais tão frequente nos dias atuais. Principal-
mente após as duas grandes guerras mundiais, os países perce-
beram que o alto custo financeiro (e também em relação às vidas 
humanas) exigidos pelas guerras inviabilizam a obtenção de recur-
sos por esse caminho. Essa forma de pensar surgiu principalmente 
após o equilíbrio de forças trazido pelo desenvolvimento das armas 
nucleares, onde constatou-se que uma nova guerra de proporções 
mundiais poderia significar a extinção de toda a vida em nosso pla-
neta. Dessa forma, o caminho mais seguro para a obtenção das 
Introdução ao Comércio Exterior
12
Introdução a negócios internacionais
Unidade 1
mercadorias que cada país necessita é por meio do comércio in-
ternacional. As grandes potências regionais da atualidade (Estados 
Unidos, China e União Europeia) são também os países que mais 
exportam e importam produtos, e constituem as maiores economias 
mundiais. 
O comércio é tão importante atualmente que uma das primeiras 
medidas punitivas adotadas quando um país viola uma norma in-
ternacional é o bloqueio de seu comércio, como, por exemplo, o 
embargo econômico imposto à Cuba pelos Estados Unidos. 
Vamos entender agora uma característica muito importante da in-
terdependência econômica internacional: a interdependência de um 
país será tanto mais acentuada quanto mais avançado for o estágio 
de desenvolvimento deste país. Conforme a economia do país se 
moderniza, as relações no interior do sistema econômico também 
se tornam mais complexas, de maneira que as relações comerciais 
e financeiras com o resto do mundo passam a ser mais necessárias. 
Isso ocorre porque a dependência de suprimentos externos se am-
plia e passa a abranger novos itens, e o comércio internacional tanto 
de matérias-primas quanto de mercadorias acabadas ou semiaca-
badas se torna vital para que a economia desses países continue se 
desenvolvendo.
Outro ponto importante sobre interdependência é que ela nos reme-
te a um outro fenômeno: a globalização. A globalização simplesmente 
não seria possível sem a evolução do comércio internacional, e está 
totalmente associada à interdependência econômica entre os países. 
Embora o termo globalização seja utilizado com grande frequên-
cia nos últimos anos, não se trata de um fenômeno recente. Assim 
como a própria trajetória do fluxo de comércio mundial, o entendi-
mento mais comum reza que a globalização é um processo que sur-
giu séculos atrás, e que se desenvolveu através de ciclos de maior 
ou menor intensidade ao longo da história. A globalização teve seu 
início no século XVI, na época das grandes navegações, com a ex-
pansão da economia de países europeus para regiões da América, 
África e Ásia (DIAS, 2012). Conforme aprendemos no capítulo an-
terior, nessa época eram as monarquias absolutistas das principais 
nações europeias quem comandavam o processo de globalização, 
Comércio Internacional
13
Unidade 1
realizando comércio de longa distância entre diversos continentes 
através de suas rotas comerciais marítimas e das colônias que ha-
viam estabelecido em boa parte do mundo.
Diferentemente dessa época, atualmente são as grandes corpora-
ções que direcionam o processo de globalização e que determinam 
a divisão internacional do trabalho entre os país. O autor Reinaldo 
Dias (2012, p.157) aponta as seguintes características do atual ciclo 
de globalização:
 � Ocorrência de profundas transformações, provocadas pela cha-
mada Terceira Revolução Científico-Tecnológica;
 � Criação de um sistema de produção mundial, integrando um gran-
de número de países e caracterizado pela produção das partes, 
componentes e serviços em escala mundial;
 � Aumento de produtos globais, não produzidos integralmente por 
nenhum país em particular;
 � Movimento acelerado da integração das economias nacionais à 
nova dinâmica do mercado global por meio, principalmente, da 
abertura comercial, com a queda das barreiras alfandegárias;
 � Formação de grandes blocos econômicos regionais;
 � Diminuição da capacidade dos Estados nacionais de exercer contro-
le rígido sobre todos os processos econômicos e políticos internos.
Essas características não existiam de forma tão marcante no pas-
sado, mas, como já explicamos, a globalização está diretamente re-
lacionada à interdependência dos países, e o que muda ao longo 
do tempo é a forma como essa interdependência ocorre e por quais 
agentes esse processo é conduzido.
A partir das características apontadas pelo autor Reinaldo Dias, 
observamos que a globalização crescente das economias tem am-
pliado o relacionamento entre as nações, fazendo surgir novos fato-
res de interdependência ligados principalmente à área tecnológica 
e de telecomunicações. As distâncias são percorridas em menor 
tempo e as informações atravessam o mundo de forma instantânea.
Introdução ao Comércio Exterior
14
Introdução a negócios internacionais
Unidade 1
No passado, a globalização era conduzida pelos Estados, ou seja, 
pelas grandes monarquias absolutistas europeias que dominavam o 
mundo através do colonialismo. Atualmente, a globalização é con-
duzida pelas grandes corporações, que são responsáveis pelo es-
tabelecimento da atual divisão internacional do trabalho.
Mantendo esse exemplo, a escolha do local de montagem de um 
automóvel ou mesmo do local da fabricação de cada uma de suas 
peças é determinada por fatores como custo de produção, ou mes-
mo as políticas internas que restringem e/ou desestimulam a utili-
zação de fatores tais como matéria-prima, mão de obra, recursos 
financeiros e/ou recursos tecnológicos. Em muitos casos torna-se 
mais vantajoso importar do que produzir em determinado país.
Assim, o que vai levar uma empresa internacional a escolher o 
local de fabricação de seus produtos é uma análise essencialmente 
econômica, visando a maximização dos lucros. E a partir desta con-
clusão de que muitas vezes é mais interessante efetuar a importa-
ção de um produto, surge o incremento do comércio internacional e 
se estabelece uma nova relação de interdependência.
RAZÕES DO COMÉRCIO INTERNACIONAL 
No capítulo anterior tivemos um entendimento inicial das razões 
pelas quais uma empresa realiza operações de comércio interna-
cional. Neste capítulo vamos detalhar melhor esses motivos, consi-
derando individualmente as operações de importação e de exporta-
ção. Observaremos esses motivos partindo tanto do ponto de vista 
dos países como também do ponto de vista das empresas.
Considerando inicialmente do ponto de vista dos países, o pri-
meiro motivo para realizar operações de exportação/importaçãoé 
relativo à disponibilidade de recursos naturais. Um país poderá ex-
portar os recursos que tem em abundância, ou seja, em quantidade 
maior do que necessita para atender seu consumo interno. Devido 
às diferenças geográficas e climáticas entre os países, a oferta de 
1 Disponível em: <https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=5817924>.
Com os avanços das teleco-
municações e da informática 
ficou mais fácil para as empre-
sas movimentar seus capitais 
de um país para o outro, prin-
cipalmente a partir da década 
de oitenta, o que fez aumen-
tar consideravelmente o fluxo 
financeiro entre os países. 
Esses avanços criaram um 
ambiente mais favorável para 
que os grandes grupos em-
presariais internacionais ins-
talassem filiais e subsidiárias 
em diversos países, levando 
a uma internacionalização do 
processo produtivo. Assim, 
um automóvel montado em 
um determinado país pode 
ter o motor e outros equipa-
mentos fabricados em outros 
continentes, por exemplo. Na 
Figura 1 observamos o exem-
plo de uma moderna linha de 
montagem de automóveis.
 Atenção
Figura 1 – Linha de monta-
gem da Lotus Cars
Fonte: Brian Snelson1
Comércio Internacional
15
Highlight
1° MOTIVO
Highlight
Highlight
Highlight
Highlight
Unidade 1
um recurso natural abundante em um país normalmente encontrará 
demanda de importação em outro país, onde esse recurso é escas-
so ou inexistente.
Outro fator importante tem a ver com a disponibilidade de terras 
para a pecuária e agricultura. Essas atividades exigem a disponibili-
dade de grandes áreas rurais e, dependendo do produto, condições 
climáticas favoráveis. Países de grande extensão territorial como o 
Brasil e os Estados Unidos tem vantagem neste aspecto em relação 
a grande parte dos países do mundo, mas cabe ressaltar que a ex-
tensão territorial não é o único fator a ser considerado. Regiões cuja 
geografia é muito acidentada, ou onde o clima é muito frio, muito 
quente ou desértico, podem enfrentar dificuldades adicionais para 
a prática da agricultura e pecuária, limitando a produção a certos 
tipos de plantações ou espécies de rebanhos.
A disponibilidade de fatores de produção como capital e força de tra-
balho também são fatores de determinam se um país terá condições ou 
não de produzir internamente determinados bens ou serviços, influen-
ciando assim a decisão ou mesmo gerando a necessidade de exportar 
ou importar esses produtos. E quando citamos a força de trabalho não 
estamos falando apenas da disponibilidade numérica de trabalhado-
res. Tanto a existência de trabalhadores capacitados para exercer de-
terminada atividade quanto a possibilidade de realiza-la dentro de uma 
margem de custo desejável podem influenciar essa decisão.
A análise da capacidade de produção nos leva a um outro fator 
muito importante, o fator tecnológico. Uma nação altamente indus-
trializada e com bom nível de desenvolvimento tecnológico obtém 
vantagens financeiras ao focar seus esforços na fabricação de mer-
cadorias e produção de serviços mais elaborados, que possuem 
alto valor agregado. Dessa forma, é melhor direcionar seus fatores 
de produção (capital e trabalho) para a produção desses bens com 
maior valor agregado e exportar para os países que não detém a ca-
pacidade de produzir esses bens. Com os valores arrecadados na 
exportação o país tem recursos de sobra para importar bens menos 
elaborados e com menor valor agregado, como matérias-primas, 
produtos agrícolas e de origem animal. Essa relação de venda e 
compra será sempre vantajosa.
Introdução ao Comércio Exterior
16
Introdução a negócios internacionais
2° MOTIVO
3° MOTIVO
Highlight
Highlight
Highlight
Highlight
4° MOTIVO
Unidade 1
Além dos motivos práticos citados acima, outras razões que moti-
vam os países a realizar comércio internacional devem ser levadas 
em consideração. Frequentemente os países tem relações comer-
ciais por razões que vão muito além das razões econômicas ou por 
conta da necessidade de obter produtos específicos. Nessa lista de 
motivos secundários estão as motivações políticas e os acordos co-
merciais estratégicos que os países negociam entre si, e que podem 
envolver inclusive questões relativas a interesses militares regionais.
 Considerando agora o ponto de vista das empresas e produto-
res, observamos fatores ainda mais específicos, como os que apre-
sentaremos abaixo. Naturalmente que na maioria dos casos, as van-
tagens obtidas pelas empresas com a exportação e importação de 
produtos acaba representando vantagens também para os próprios 
países. Não se deve esquecer que quando uma empresa exporta 
um produto, ela está gerando empregos e recolhendo impostos, e 
também está trazendo para dentro do país o capital obtido com a 
venda dos produtos e serviços, aumentando a riqueza interna do 
país. Da mesma forma podem ser visualizadas as vantagens relati-
vas a importação, quando uma empresa disponibiliza produtos, má-
quinas ou tecnologias que até então não estavam disponíveis para 
a população, ao importar esses produtos. Um bom exemplo disso 
são os equipamentos médicos avançados que não são produzidos 
no Brasil, mas que estão disponíveis em muitos hospitais do país.
Assim, o primeiro motivo relevante para realizar exportações que 
destacamos, do ponto de vista das empresas, é a ampliação de 
mercados. E a relevância desse motivo está relacionada ao tamanho 
do mercado consumidor interno do país. Questões como o tamanho 
da população e o poder de compra desta população vão determinar 
o grau de importância das exportações. Países com grande mer-
cado consumidor como, Brasil, Estados Unidos e China dependem 
menos das exportações do que países com mercado consumidor 
pequeno, como Coréia do Sul e Cingapura, cujas exportações são 
extremamente relevantes para suas economias e para a lucrativi-
dade de suas empresas. De qualquer forma, mesmo países com 
grande mercado consumidor não devem desperdiçar a chance de 
ampliar seus mercados consumidores. Porque uma empresa iria se 
Comércio Internacional
17
Unidade 1
limitar a vender seus produtos internamente se ela poderia vender 
para vários países?
Esse fator também está relacionado à economia de escala, ou 
seja, quando o aumento na produção proporciona uma redução do 
custo médio do produto. Assim, a ampliação de mercados pode sig-
nificar o aumento da demanda que a empresa precisa para obter 
essa redução de custo, ou ainda para preencher uma possível ca-
pacidade de produção ociosa. 
Isso nos leva ao segundo motivo que leva as empresas a ex-
portar, que é o aumento da lucratividade. Um produto ou serviço 
pode encontrar um mercado consumidor interno que absorva toda 
a capacidade produtiva de um produtor, mas isso significa que 
ele deve vender toda sua produção internamente? Muitas vezes a 
escassez deste produto em outras regiões do mundo faz com que 
a lucratividade de exportar o produto seja maior do que a lucrativi-
dade obtida com a venda dele no mercado interno. Os produtores 
e empresas sempre vão buscar maximizar seus lucros, e isso vai 
influenciar fortemente a opção de em qual mercado vender. Na-
turalmente que outros fatores estratégicos são considerados nes-
sa decisão, como a manutenção da participação das vendas no 
mercado interno, e muitas vezes o próprio governo do país pode 
adotar medidas restritivas à exportação visando evitar a falta do 
produto no mercado interno.
O próximo motivo ou razão para exportar é relativo à proteção con-
tra crises econômicas. Por melhor que seja um mercado interno e 
por mais estáveis que sejam as economias de determinados países, 
nenhum país do mundo está totalmente livre do risco de enfrentar 
crises econômicas. Essas crises muitas vezes não se originam no 
próprio país, mas ele acaba sentindo os efeitos de crises econômi-
cas ocorridas em outros países. E esse risco proveniente das crises 
econômicas é relevante não apenas no mercado consumidor inter-
no. Imagine a seguinte situação: uma empresa exporta boa parte de 
sua produção paravárias empresas, porém de um único país, e em 
determinado momento esse país passa a enfrentar uma grave crise 
econômica, ou mesmo um conflito bélico que dificulte o comércio. 
Quais seriam as consequências para essa empresa? Dessa forma, 
Introdução ao Comércio Exterior
18
Introdução a negócios internacionais
Unidade 1
quanto mais diversifi cado for o mercado consumidor de um produtor, 
menor será risco deste produtor enfrentar problemas nas vendas.
O motivo seguinte está relacionado ao estímulo à efi ciência. Quan-
do uma empresa decide exportar ela pode se deparar com um nível 
de exigência maior do que o nível exigido em seu próprio mercado 
interno, por parte dos compradores. Imagine uma empresa brasileira 
que fornece equipamentos para transmissão de dados de telefonia 
celular, buscando exportar seus produtos para regiões como o Ja-
pão ou a comunidade europeia. Estes locais detém uma legislação 
própria que regulamenta a prestação deste tipo de serviço, e pos-
sivelmente possuem a oferta de conexão a uma velocidade muito 
superior a existente no Brasil. Em alguns casos, a própria tecnologia 
necessária para a fabricação dos equipamentos pode ser diferente 
ou superior àquela que a empresa domina. Isto obrigaria a empresa 
brasileira a evoluir tecnologicamente seus produtos com a fi nalidade 
de atender este novo mercado, mesmo que este grau de tecnologia 
ainda não seja necessário no Brasil. Outro fato relevante é o de que, 
quando uma empresa compete no mercado externo, seus concor-
rentes passam a ser empresas de todo o mundo. Quanto mais for-
necedores competindo pelo mesmo mercado, maiores as chances 
dessa disputa envolver fabricantes ofertando produtos com maior 
grau de qualidade ou a preços mais competitivos. A necessidade 
de disputar um mercado mais exigente obriga a empresa a melhorar 
seus produtos e processos produtivos para aumentar a qualidade 
ou diminuir o preço, e assim conseguir concorrer no mercado exter-
no com chances reais de concretizar as vendas.
Ainda na linha de ponto de vista das empresas, observaremos 
agora os motivos que levam as empresas a importar produtos. Em 
uma análise mais simples pode parecer que importar não é interes-
sante para um país, uma vez que as importações fazem com que o 
capital saia do país com destino ao exterior, para pagamento das 
importações. Mas note que essa análise precisa ser mais complexa.
A primeira razão que leva uma empresa a importar é a abertura eco-
nômica. O comércio é uma via de mão dupla, e estabelecer contatos 
comerciais com outros mercados pode abrir as portas para futuras 
exportações. Diversificar os fornecedores também é tão importante 
Crises econômicas interna-
cionais originadas em países 
vizinhos ou em países de eco-
nomia forte podem afetar dire-
tamente a economia de países 
com economia instável, como 
é o caso de alguns países em 
desenvolvimento como o Bra-
sil. Em uma época com alto 
nível de globalização as eco-
nomias estão cada vez mais 
conectadas, e não é raro que 
esse refl exo provoque proble-
mas duradouros. Nosso país 
já foi afetado por crises que 
surgiram em outros países, 
como por exemplo a chamada 
“crise do subprime” ocorrida 
em 2008 nos Estados Unidos, 
e que se espalhou por todo 
mundo.
 Você sabia ? Você sabia ?
Comércio Internacional
19
Unidade 1
quanto diversificar compradores, pois possuir fornecedores externos 
pode garantir a manutenção do recebimento de suprimentos caso os 
fornecedores internos sejam afetados por algum problema local. 
O segundo motivo está relacionado ao desenvolvimento econômico 
e industrial interno. Muitas vezes uma empresa só se tornará suficien-
temente competitiva para ganhar participação no mercado interno ou 
para exportar se estiver aberta a possibilidade de realizar importa-
ções. Através das importações uma empresa poderá obter, por exem-
plo, maquinários ou matérias-primas que proporcionem o aumento da 
qualidade de seus produtos, ou ainda a redução de seus custos de 
produção, gerando assim uma vantagem competitiva.
Outro fator relacionado à vantagem competitiva e que constitui 
uma das razões para importar é a obtenção de tecnologia. Dominar 
determinadas tecnologias pode ser necessário tanto para uma em-
presa manter sua participação no mercado quanto para melhorar 
esta participação, seja no mercado interno ou externo. Mas muitas 
vezes a empresa não consegue desenvolver a tecnologia de que 
necessita por si só, ou não a encontra no mercado interno. Dessa 
forma, a importação de tecnologia é a alternativa que resta à empre-
sa, para que possa continuar realizando seus objetivos.
A obtenção de uma maior diversidade de produtos é outra ra-
zão que justifica as importações. Essa diversidade pode ser obti-
da através da importação e revenda direta de produtos acabados 
inexistentes no mercado interno, ou ainda através da obtenção de 
tecnologia, máquinas e matérias-primas necessárias à fabricação 
desses produtos. Um bom exemplo é o lítio. Atualmente esse ele-
mento é considerado fundamental para a produção de baterias 
mais eficientes e duradouras, algo extremamente necessário para 
garantir maior autonomia aos smartphones, automóveis elétricos, 
robôs e outros equipamentos eletrônicos. Estima-se que 75% das 
reservas mundiais de lítio estejam localizados entre o Chile, a Bo-
lívia e a Argentina. O mundo depende do fornecimento de lítio por 
parte desses países para atender a esta demanda tão importante. 
E não importa qual país detém a tecnologia de fabricação ou qual 
país é o maior fabricante, pois sem produzir a bateria não é possível 
fabricar smartphones.
Introdução ao Comércio Exterior
20
Introdução a negócios internacionais
Unidade 1
Por fim, a obtenção de vantagens econômicas é uma das princi-
pais razões para se importar. Assim como vimos no capítulo anterior, 
em muitas situações torna-se mais vantajoso importar do que produ-
zir em determinado país. Mesmo que um país detenha o maquinário, 
a tecnologia, as matérias-primas e a força de trabalho qualificada 
disponível, não há razão econômica que justifique produzir uma 
mercadoria ou serviço que pode ser importado por um valor menor. 
É exatamente por isso que observamos no Brasil tantos produtos 
originários da China ou de outros países do leste asiático. Muitas 
empresas estabelecidas no Brasil apenas administram as marcas, 
ou seja, elas importam os produtos acabados e os revendem inter-
namente. Esse exemplo é observado nos mais variados produtos, 
desde autopeças até itens de vestuário. O foco da empresa neste 
caso é administrar o processo de aquisição e entrega, de forma 
a garantir que o produto seja disponibilizado aos compradores na 
quantidade, qualidade e prazo necessários.
O que podemos aprender resumidamente com este capítulo?
Razões para exportar:
 � Ampliação de mercados;
 � Aumento da lucratividade;
 � Proteção contra crises econômicas;
 � Estímulo a eficiência.
Razões para importar:
 � Abertura econômica;
 � Desenvolvimento econômico e industrial interno;
 � Obtenção de tecnologia;
 � Obtenção de uma maior diversidade de 
produtos;
 � Vantagens econômicas (mais vantajo-
so importar que produzir).
Uma empresa precisa esgotar 
o mercado interno para apenas então 
pensar em exportar? Devemos exportar 
apenas o excedente, ou seja, o que sobra das 
vendas no mercado interno? O que impede que uma 
start-up seja planejada de forma a estar preparada 
para atender o mercado internacional, além do mercado 
interno? Observe os exemplos de produtos ou serviços com 
essa característica, como o Uber, o Waze ou o Airbnb. 
Para pensar 
Comércio Internacional
21
Highlight
Highlight
Unidade 1
BARREIRAS AO LIVRE COMÉRCIO 
Nos capítulos anteriores aprendemos sobre a interdependência 
dos países, e sobre as vantagens do comércio internacional. Os de-
fensores do liberalismo entendem que um mercado livre de inter-
venções dos governos (sem barreiras ao comércio) seria o melhor 
modelo de desenvolvimento econômico dos países. Entretanto,ne-
nhum país no mundo é totalmente liberal. Os governos sempre vão 
buscar proteger a produção nacional de seus países, e até nações 
extremamente liberais como os Estados Unidos adotam medidas 
protecionistas quando veem seus interesses ameaçados.
Importações são necessárias, mas a entrada repentina ou em 
grande volume de produtos estrangeiros melhores e mais baratos 
poderia gerar a saída excessiva de capital para o exterior, além de 
causar o fechamento de empresas concorrentes locais. As conse-
quências seriam o desemprego e a redução na quantidade de im-
postos recolhidos, o que seria certamente negativo para o país. 
Com o objetivo de manter o equilíbrio da economia interna os paí-
ses criam medidas protecionistas, utilizando a proteção da indústria 
local como argumento. Algumas medidas protecionistas não tem o 
objetivo final de impedir a entrada de produtos estrangeiros, mas 
sim tentar dar condições para que as empresas nacionais concor-
ram com os fornecedores estrangeiros em melhores condições de 
competitividade. Este argumento sustenta que tais indústrias deve-
riam ser protegidas, ao menos temporariamente, por altas tarifas ou 
pelo estabelecimento de cotas (quantidades limitadas) nas impor-
tações, até que conseguissem desenvolver eficiência tecnológica e 
economias de escala que lhes permitissem competir com as indús-
trias estrangeiras.
As medidas protecionistas são conhecidas como “barreiras ao li-
vre-comércio”, ou “barreiras comerciais”. Essas barreiras são cons-
tituídas por qualquer política, lei, regulamento, medida ou prática 
adotada pelo governo de um país, que cause restrições ao comér-
cio internacional (CORTIÑAS LOPEZ; GAMA, 2005). As barreiras 
podem ser tarifárias (alfandegárias) ou não tarifárias. As barreiras 
também podem ser aplicadas às exportações, embora não sejam 
Introdução ao Comércio Exterior
22
Introdução a negócios internacionais
Unidade 1
tão comuns quanto às barreiras aplicadas às importações. No caso 
brasileiro, barreiras aplicadas às exportações têm objetivos diferen-
tes daquelas aplicadas às importações, e em geral visam cumprir 
acordos internacionais assinados pelo país. 
Para entender melhor a necessidade de adoção de medidas prote-
cionistas, partindo do ponto de vista da economia brasileira, veremos 
abaixo um texto dos autores Serapião Junior e Magnoli. Para ilustrar o 
conceito eles realizaram uma análise sobre o debate público ocorrido 
em relação a participação do Brasil em uma área de livre comércio 
proposta pelos Estados Unidos, que se chamaria ALCA (Área de Livre 
Comércio das Américas), e seria formada por 34 países do continente 
americano (todos os países do continente, exceto Cuba). 
Em uma primeira análise a ideia de redução de medidas protecionis-
tas é positiva pois facilita o comércio entre os países, o que é importante 
por conta da interdependência. Também devemos considerar o fato de 
que nas últimas décadas o mundo tem se tornado menos protecionista 
através do estabelecimento de blocos econômicos regionais que redu-
zem ou eliminam barreiras comerciais, como por exemplo o Mercosul e 
a União Europeia. A Alca seria mais um desses blocos, mas com a di-
ferença que ele englobaria um grande número de países e, entre eles, 
os Estados Unidos, que é a maior economia do mundo. 
Então porque a Alca não se consolidou? Porquê um mercado consu-
midor tão grande foi desperdiçado? Ao mesmo tempo que traz oportu-
nidades, a redução das barreiras ao livre-comércio também traz riscos a 
um país, caso ela não seja realizada de maneira criteriosa e observando 
os interesses internos. O texto baseia-se na chamada “teoria da segunda 
melhor opção”, e nos leva a entender porque esse projeto foi recusado 
pela maioria dos governos latino-americanos, entre eles o Brasil.
ALCA E REFORMAS TRIBUTÁRIA E TRABALHISTA
Um exemplo brasileiro da teoria da segunda melhor opção refere-se 
ao debate público em torno da Alca. A maioria dos representantes em-
ALCA E REFORMAS TRIBUTÁRIA E TRABALHISTA
Um exemplo brasileiro da teoria da segunda melhor opção refere-se 
ao debate público em torno da Alca. A maioria dos representantes em-
Leitura complementar
Comércio Internacional
23
Unidade 1Unidade 1
presariais concorda que um maior acesso ao mercado norte-americano 
é positivo para nossas exportações e que a concorrência dos importados 
tende a aumentar a efi ciência da economia doméstica como um todo. 
Trata-se, em essência, do argumento em defesa do livre-comércio.
Por outro lado, quase todos os representantes empresariais, à exce-
ção dos pertencentes ao setor agrícola, afi rmam que, com a atual carga 
tributária existente no país e com a legislação trabalhista anacrônica 
vigente, é impossível concorrer, em igualdade de condições, com os 
norte-americanos.
Assim, diante da impossibilidade política de se proceder uma reforma 
tributária e a uma modernização da legislação trabalhista, a segunda 
melhor opção é continuar aplicando uma política comercial protecio-
nista nos setores mais vulneráveis à concorrência de importados. 
O ideal seria termos uma reforma tributária que simplifi casse e ali-
viasse a incidência de tributos e uma reforma trabalhista que aumen-
tasse a efi ciência do mercado de trabalho doméstico. Os economistas 
concordam que o comércio exterior não é a causa desses problemas, mas 
que a política comercial pode ser utilizada para amenizar suas consequ-
ências negativas. Esse tem sido, assim, um dos cernes da crítica à parti-
cipação do Brasil na Alca.
Fonte: Comércio Exterior e Negócios Internacionais: teoria e prática, Carlos Serapião 
Jr., Demétrio Magnoli. 2006, página 182.
A constituição da Alca derrubaria as barreiras ao livre comércio 
no continente americano, mas é necessário entender que a redução 
de medidas protecionistas sempre exige uma contrapartida, ou seja, 
as exportações do Brasil para os Estados Unidos seriam facilitadas, 
mas as exportações dos Estados Unidos para o Brasil também se-
riam. No entendimento dos representantes empresariais, segundo 
o texto, as vantagens trazidas às exportações brasileiras por causa 
da redução de barreiras não compensariam as desvantagens que 
viriam junto, ou seja, uma volumosa entrada de produtos americanos 
melhores e mais baratos no Brasil. 
Introdução ao Comércio Exterior
24
Introdução a negócios internacionais
Unidade 1
Os representantes empresariais se preocupam com o fato de que 
as empresas brasileiras ainda não se encontravam em condições 
ideais para concorrer com as empresas americanas. A razão para 
isso seria nossa falta de eficiência interna imposta por leis trabalhistas 
e tributárias que, segundo o texto, encarecem o produto brasileiro. 
Dessa forma, a teoria entende que a melhor opção seria um livre-
comércio, mas desde que os países tivessem condições de concor-
rência mais justas. Na impossibilidade de adotar a melhor opção es-
colhe-se a segunda melhor opção, ou seja, manter o protecionismo.
No capítulo seguinte conheceremos os tipos e também alguns 
exemplos de barreiras comerciais utilizadas pelo mundo. 
BARREIRAS TARIFÁRIAS 
Também chamadas de restrições tarifárias, as barreiras tarifárias 
são os impostos que incidem na entrada ou na saída de mercado-
rias de um país (KEEDI, 2017). As razões para utilização dessas 
barreiras podem ser:
 � Aumentar arrecadação tributária; ou,
 � Onerar o custo das mercadorias importadas ou exportadas.
A razão mais comum para uso das barreiras tarifárias é onerar 
as mercadorias importadas. O imposto adicionado ao preço inter-
nacional do produto poderá fazer com que o preço da mercadoria 
produzida internamente se torne competitivo. Trata-se de uma forma 
do governo proteger os produtores nacionais para que não sofram a 
concorrência de produtos importados mais baratos.
O ideal é que o uso das barreiras tarifárias seja temporário, e que 
os impostos sejam programados para decrescerem ao longo do 
tempo. Isto fará com que as empresas nacionais busquem aumentar 
sua eficiênciae possam concorrer com as empresas estrangeiras no 
futuro, quando a barreiras tarifárias estiverem minimizadas ou sejam 
extintas. Barreiras permanentes podem gerar o efeito contrário, ou 
seja, as empresas nacionais podem se acomodar com a proteção 
oferecida pelo governo e não investir na melhoria da qualidade e do 
preço de seus produtos e serviços.
Comércio Internacional
25
Onerar significa sobrecarregar.
Unidade 1
As tarifas que incidem nas mercadorias podem ser específicas 
(calculas ao partir da quantidade ou do peso das mercadorias) ou 
ad valorem (calculadas através de um percentual sobre o valor das 
mercadorias).
BARREIRAS NÃO-TARIFÁRIAS 
Barreiras não tarifárias são todos os outros tipos de barreiras, ou 
seja, não se referem ao pagamento de impostos e atuam de forma 
a adequar, dificultar, restringir ou proibir a entrada ou saída de mer-
cadorias. As barreiras não tarifárias existem em maior número que 
as tarifárias, a existem para tanto para proteger a indústria nacional 
e como para proteger os consumidores. Um exemplo de utilização 
dessas barreiras para proteção aos consumidores é quando as mes-
mas são aplicadas na forma de normas de qualidade ou de normas 
sanitárias, que devem ser atendidas pelos produtos importados.
Apresentamos abaixo as principais barreiras não tarifárias utiliza-
das no Brasil e nos demais países:
 � Cotas: Controla a quantidade máxima de entrada ou saída de de-
terminados produtos no país, em um período específico;
 � Proibição total ou temporária: Proibição da importação de pro-
dutos específicos ou com determinadas características, como por 
exemplo pneus usados;
 � Normas de origem: Exigências que podem ser aplicadas a im-
portação de determinados produtos em relação ao seu local de 
origem; 
 � Medidas antidumping: Quando comprovada a prática de preços 
desleais, essas medidas buscam equiparar o preço do produto 
importado ao preço praticado em seu país de origem, evitando 
que os produtores nacionais sejam prejudicados;
 � Medidas compensatórias: Trata-se de um tributo especial aplica-
do em contrapartida a subsídios concedidos pelo país de origem, 
de forma ilegal, na exportação de uma mercadoria;
 � Medidas de salvaguarda: Aumento temporário da proteção à in-
dústria doméstica que esteja sofrendo prejuízo grave decorrente 
Introdução ao Comércio Exterior
26
Introdução a negócios internacionais
Unidade 1
do aumento das importações em grande quantidade em relação à 
produção nacional. Ocorrem na forma de elevação do imposto de 
importação ou de restrições quantitativas;
 � Gravames adicionais: Cobrança de valores adicionais sobre tarifas 
operacionais ou portuárias, como por exemplo a cobrança do AFRMM 
(Adicional sobre Frete para renovação da Marinha Mercante);
 � Licenças de importação automáticas: Alguns produtos estão 
sujeitos a licenciamento (autorização) das importações, mas ape-
nas para possibilitar controles estatísticos e de regimes aduanei-
ros especiais;
 � Licenças de importação não automáticas: Alguns produtos fi-
cam sujeitos a anuência prévia, ou seja, a importação só pode ser 
realizada se for autorizada por algum órgão no país importador;
 � Controles sanitários e fitossanitários: Exigência do cumprimen-
to de normas sanitárias ou fitossanitárias na importação ou expor-
tação de produtos de origem animal e vegetal;
 � Restrições impostas a determinadas empresas: Aplicação exi-
gências específicas para importações de mercadorias produzidas 
por determinadas empresas;
 � Requisitos relativos às características dos produtos: Neste tipo 
de barreiras os produtos ficam sujeitos à avaliação de conformida-
de, para garantir que a mercadoria que ingressa no país esteja de 
acordo com as normas técnicas internas vigentes;
 � Requisitos relativos à embalagem: Neste tipo de barreiras po-
dem ser aplicadas exigências quanto aos materiais, tamanhos ou 
padrões de peso para embalagens de produtos;
 � Requisitos relativos à rotulagem: Neste tipo de barreiras podem 
ser aplicadas exigências especiais quanto ao tipo, tamanho de 
letras ou tradução nos rótulos de produtos;
 � Requisitos relativos às informações sobre o produto: Um exem-
plo desta restrição é a exigência do fornecimento de informações 
aos consumidores sobre o conteúdo alimentar ou proteico (quan-
tidade de calorias, etc.);
 � Outros requisitos técnicos: Um exemplo desta barreira é a exi-
gência de certificados relativos à fabricação do produto mediante 
processos não poluidores do meio ambiente;
Comércio Internacional
27
Unidade 1
 � Inspeção prévia à importação: O importador deve apresentar 
documentos que comprovem que a mercadoria foi inspecionada 
antes de ser embarcada no exterior;
 � Procedimentos aduaneiros especiais: A regulamentação das 
importações pode exigir que alguns produtos ingressem no país 
somente por determinados portos ou aeroportos.
CONCLUSÃO 
O comércio internacional é necessário tanto para a sobrevivência 
dos países quanto para a manutenção da paz entre eles. O mundo 
vivencia uma era com alto nível de interação comercial, onde preva-
lecem as relações de interdependência entre os países. Mas essa 
interdependência não impede que medidas protecionistas também 
sejam adotadas pelos governos, entretanto.
Um comércio livre de barreiras seria o modelo ideal de de-
senvolvimento, mas somente a partir do momento onde todos 
os países pudessem concorrer de forma justa. Barreiras co-
merciais não são a melhor opção, mas são a melhor opção 
possível no momento. 
REFERÊNCIAS 
CORTIÑAS LOPEZ, José Manoel; GAMA, Mariza. Comércio Exterior 
Competitivo. 2.ed. São Paulo: Edições Aduaneiras, 2005.
DIAS, Reinaldo. As primeiras teorias de comércio exterior: o mercanti-
lismo. In: DIAS, Reinaldo; RODRIGUES, Waldemar. (org). Comércio 
Exterior: teoria e gestão. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2012.
KEEDI, Samir. ABC do Comércio Exterior: abrindo as primeiras pági-
nas. 6. ed. São Paulo: Aduaneiras, 2017.
Introdução ao Comércio Exterior
28
Introdução a negócios internacionais
Unidade 1
SARQUIS, Sarquis José Buiainain. Comércio internacional e cresci-
mento econômico no Brasil. Brasília: Fundação Alexandre de Gus-
mão, 2011.
SERAPIÃO JUNIOR, Carlos; MAGNOLI, Demétrio. Comércio Exterior 
e Negócios Internacionais: teoria e prática. São Paulo: Saraiva, 2006.
Comércio Internacional
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