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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ CAMPUS PROFESSOR BARROS ARAÚJO ADMINISTRAÇÃO / BLOCO III (PERÍODO ESPECIAL) / TARDE PROFESSORA MARIA JOSÉ LEGISLAÇÃO TRABALHISTA PAULA MOURA DOS SANTOS VERAS DE LIMA DIREITO DO TRABALHO E FGTS PICOS – PI 09/02/2015 INTRODUÇÃO Este trabalho resultará na abordagem de assuntos referentes ao direito do trabalho e ao Fundo de garantia por tempo de serviço (FGTS). Serão estudados tópicos como suas definições, denominações, conteúdos e funções. Examinaremos a área do Direito em que o Direito do trabalho se situa e a divisão interna que caracteriza o ramo justrabalhista, serão analisados os traços que envolvem a relação desse ramo especializado com o conjunto geral do Direito, trataremos de problemas como: autonomia do Direito do Trabalho, seu posicionamento no plano jurídico geral (natureza jurídica), seus princípios e fontes, uma rápida análise das relações de emprego e contratos e suas relações com outros ramos do universo do Direito e por fim a retrospectiva de sua evolução histórica, quer no mundo ocidental quer no Brasil. Estudaremos também as vantagens e desvantagens do FGTS, quem são seus beneficiários e sua natureza jurídica. DIREITO DO TRABALHO DEFINIÇÃO É subjetivista a definição exposta por Hueck e Nipperdey."... o Direito do Trabalho e o direito especial de um determinado grupo de pessoas, que se caracteriza pela classe de sua atividade lucrativa (...) e o direito especial dos trabalhadores.(...) O Direito do Trabalho se determina pelo circulo de pessoas que fazem parte do mesmo”. É objetivista a definição exposta por Messias Pereira Donato: “corpo de princípios e de normas jurídicas que ordenam a prestação do trabalho subordinado ou a este equivalente, bem como as relações e os riscos que dela se originam”. É definição mista, por sua vez, esta construída por Octavio Bueno Magano. Expõe o autor que Direito do Trabalho é o “conjunto de princípios, normas e instituições, aplicáveis a relação de trabalho e situações equiparáveis, tendo em vista a melhoria da condição social do trabalhador, através de medidas protetoras e da modificação das estruturas sociais” O Direito Individual do Trabalho define-se como o complexo de princípios, regras e institutos jurídicos que regula, no tocante as pessoas e matérias envolvidas, a relação empregatícia de trabalho, além de outras relações laborais normativamente especificadas. Já o Direito Coletivo do Trabalho pode ser definido como o complexo de princípios, regras e institutos jurídicos que regulam as relações laborais de empregados e empregadores, além de outros grupos jurídicos normativamente especificados, considerada sua ação coletiva, realizada autonomamente ou através das respectivas associações. O Direito Material do Trabalho, compreendendo o Direito Individual e o Direito Coletivo — e que tende a ser chamado, simplesmente, de Direito do Trabalho, no sentido lato —, pode, finalmente, ser definido como: complexo de princípios, regras e institutos jurídicos que regulam a relação empregatícia de trabalho e outras relações normativamente especificadas, englobando, também, os institutos, regras e princípios jurídicos concernentes às relações coletivas entre trabalhadores e tomadores de serviços, em especial através de suas associações coletivas. DENOMINAÇÃO A denominação Direito do Trabalho tomou-se hegemônica no plano atual dos estudos jurídicos; está consagrada na doutrina, na jurisprudência e também nos inúmeros diplomas normativos existentes na área, já recebeu diferentes denominações desde o inicio de sua existência, no século XIX, a par da hoje consagrada Direito do Trabalho. Trata-se, principalmente, de: Direito Industrial, Direito Operário, Direito Corporativo, Direito Sindical e Direito Social. Nenhum desses epítetos alternativos, contudo, prevaleceu ou afirmou-se hegemonicamente no tempo, certamente em face de cada um deles apresentar tantos ou mais problemas e insuficiências quanto os perceptíveis no consagrado titulo Direito do Trabalho. Esta, portanto, consagrada a prevalência da expressão Direito do Trabalho para identificar esse ramo jurídico especializado surgido no século XIX. Reconheça-se, porem, que a expressão não e perfeita. Afinal, a palavra trabalho refere-se a objeto mais amplo (trabalho autônomo, por exemplo) do que o objeto próprio ao ramo justrabalhista, que regula, basicamente, o trabalho empregaticiamente contratado. Sob esse enfoque, a expressão Direito Empregatício talvez fosse mais precisa. Entretanto, ainda assim, mesmo do ponto de vista teórico, deve-se preservar o epiteto Direito do Trabalho. CONTEÚDO O conteúdo do Direito do Trabalho molda-se também a partir de sua característica sistemática especifica. Assim, será em torno da relação empregatícia que será firmado o conteúdo principal do ramo justrabalhista. Sob esse ponto de vista, o Direito do Trabalho despontara, como o Direito de todo e qualquer empregado. Este é o conteúdo básico desse ramo jurídico: todas as relações empregatícias estabelecem-se sob sua normatividade. Esclareça-se, porem, que existem relações empregatícias que, embora se situando dentro do ramo justrabalhista, regula-se por normatividade jurídica especialíssima, distinta dos demais empregados. Sob o ponto de vista de seu conteúdo, o Direito do Trabalho e, fundamentalmente, portanto, o Direito dos empregados, especificamente considerados. Não é, porem, o Direito de todos os trabalhadores, considerados em seu gênero. Excluem-se da área de abrangência desse ramo jurídico especializado, em consequência, inúmeras categorias especificas de trabalhadores não empregatícios. Citem-se, ilustrativamente, os trabalhadores autônomos, os eventuais, os estagiários, além do importante segmento dos servidores públicos não empregaticiamente contratados (servidores sob regime administrativo). Ha categorias de trabalhadores não empregados que ingressaram no Direito do Trabalho, não pela natureza de sua relação jurídica particular (que não e empregatícia), porém em decorrência de expressa determinação legal (os trabalhadores portuários avulsos). De fato, embora não sendo, tecnicamente, empregados, tem recebido, desde inicio do século XX, a extensão do manto justrabalhista sobre suas relações com seus tomadores de serviços. Sinteticamente, o Direito do Trabalho abrange todo e qualquer empregado (embora a categoria domestica seja absorvida neste ramo jurídico mediante normatividade especial e restritiva). Abrange ainda determinados trabalhadores que não são empregados, mas que foram legalmente favorecidos pelo padrão geral da normatividade trabalhista (caso dos avulsos). FUNÇÕES Todo Direito, como instrumento de regulação de instituições e relações humanas, atende a fins preestabelecidos em determinado contexto histórico. Sendo as regras e diplomas jurídicos resultado de processos políticos bem- sucedidos em determinado quadro sociopolítico, sempre tenderão a corresponder a um estuário cultural tido como importante ou até hegemônico no desenrolar de seu processo criador. Todo Direito é, por isso, teleológico, finalístico, na proporção em que incorpora e realiza um conjunto de valores socialmente considerados relevantes. O ramo justrabalhista incorpora, no conjunto de seus princípios, regras e institutos, um valor finalístico essencial, que marca a direção de todo o sistema jurídico que compõe. Este valor — e a consequente direção teleológica imprimida a este ramo jurídico especializado — consiste na melhoria das condições de pactuação da força de trabalho na ordem socioeconômica. Sem tal valor e direção finalística, o Direito do Trabalho sequer se compreenderia, historicamente,e sequer justificar-se-ia, socialmente, deixando, pois, de cumprir sua função principal na sociedade contemporânea. Tal função decisiva do ramo justrabalhista realiza, na verdade, o fundamental intento democrático e inclusivo de desmercantilização da força de trabalho no sistema socioeconômico capitalista, restringindo o livre império das forças de mercado na regência da oferta e da administração do labor humano. Uma segunda função notável do Direito do Trabalho é seu caráter modernizante e progressista, do ponto de vista econômico e social. A legislação trabalhista, desde seu nascimento, cumpriu o relevante papel de generalizar ao conjunto do mercado de trabalho aquelas condutas e direitos alcançados pelos trabalhadores nos segmentos mais avançados da economia, impondo, desse modo, a partir do setor mais moderno e dinâmico da economia, condições mais modernas, ágeis e civilizadas de gestão da força de trabalho. Retomando-se o exame das funções juslaborativas gerais, e evidente que seria ingenuidade negar-se que o Direito do Trabalho não tenha, também e de modo concomitante, uma função politica conservadora. Esta existe a medida que esse ramo jurídico especializado confere legitimidade politica e cultural a relação de produção básica da sociedade contemporânea. O reconhecimento dessa função, entretanto, não invalida o diagnostico de que a normatividade autônoma e heterônoma justrabalhista e que assegurou, ao longo dos dois últimos séculos, a elevação do padrão de gestão das relações empregatícias existentes e do próprio nível econômico conferido a retribuição paga aos trabalhadores por sua inserção no processo produtivo. Cabe acrescer-se, por fim, a função civilizatória e democrática, que e própria ao Direito do Trabalho. Esse ramo jurídico especializado tomou-se, na Historia do Capitalismo Ocidental, um dos instrumentos mais relevantes de inserção na sociedade econômica de parte significativa dos segmentos sociais despossuídos de riqueza material acumulada, e que, por isso mesmo, vivem, essencialmente, de seu próprio trabalho. Nesta linha, ele adquiriu o caráter, ao longo dos últimos 150/200 anos, de um dos principais mecanismos de controle e atenuação das distorções socioeconômicas inevitáveis do mercado e sistema capitalístas. Ao lado disso, também dentro de sua função democrática e civilizatória, o Direito do Trabalho consumou-se como um dos mais eficazes instrumentos de gestão e moderação de uma das mais importantes relações de poder existentes na sociedade contemporânea, a relação de emprego. ABRANGÊNCIA DA ÁREA JURÍDICO-TRABALHISTA O estudo do Direito do Trabalho, na qualidade de ramo jurídico delimitado, deve ser acompanhado da visão panorâmica dos segmentos jurídicos originados em função de sua categoria socioeconômica básica (a relação empregatícia), os quais, apos desenvolvidos, se estruturaram, contudo, em ramos próprios e distintos, verdadeiramente autônomos do segmento justrabalhista. Deve ser acompanhado, desse modo, pela identificação de área jurídica mais ampla, composta de ramos jurídicos próximos, dotados de certa afinidade entre si, embora com autonomia claramente preservada. Essa afinidade resulta do fato de todos eles, de um modo ou de outro e com intensidade diferente, relacionarem-se com a categoria básica do Direito do Trabalho, a relação de emprego. Todos esses ramos jurídicos afins formam aquilo que pode ser chamado de área jurídico-trabalhista em sentido lato, no interior da qual ocupa posição de destaque o Direito do Trabalho. A área justrabalhista, no sentido lato — compreendida como a área de estruturação e dinâmica de ramos jurídicos especializados construídos a partir da indução básica propiciada pela relação de emprego —, e, desse modo, significativamente larga. Nesta área encontram-se, portanto, não somente os princípios, regras e institutos jurídicos característicos do Direito do Trabalho, como também regras, princípios e institutos jurídicos dirigidos a regular a estruturação e dinâmica de relações sociojurídicas que se desenvolvem com dinamismo próprio, mesmo que a partir da indução inicial propiciada pela relação empregatícia. Nessa lata acepção, a área jurídico-trabalhista abrange, pelo menos, os seguintes grupos de ramos jurídicos: Direito Material do Trabalho, englobando, o Direito Individual do Trabalho e o Direito Coletivo do Trabalho; Direito Internacional do Trabalho; Direito Público do Trabalho, englobando o Direito Processual do Trabalho, o Direito Administrativo do Trabalho, o Direito Previdenciário e Acidentário do Trabalho e, finalmente, o Direito Penal do Trabalho. Na acepção restrita, o Direito do Trabalho, como conjunto de princípios, regras e institutos jurídicos dirigidos a regulação das relações empregatícias e outras relações de trabalho expressamente especificadas, não abrange, obviamente, ramos jurídicos em que a categoria básica não seja a relação empregado-empregador, mas relações nucleares próprias. Por essa razão, não abrange, ilustrativamente, o Direito Previdenciário, que trata de relações tanto de empregado como empregador, enquanto sujeitos específicos, com o Estado/Previdência. Também não abrange o Direito Processual do Trabalho, que se estrutura em torno da relação processual trilateral e angular, autor-réu- Estado/juiz. DIVISÃO INTERNA DO DIREITO DO TRABALHO A divisão interna do Direito do Trabalho (ou Direito Material do Trabalho) compreende dois segmentos jurídicos: o Direito Individual do Trabalho e o Direito Coletivo do Trabalho. O Direito Individual do Trabalho estrutura-se a partir de dois segmentos claramente diferenciados: 1. Parte geral, compreendendo a Introdução e Teoria Geral do Direito do Trabalho. 2. Parte especial, Nessas situações justrabalhistas especiais encontram-se o trabalho da mulher, o trabalho do menor, o trabalho em circunstancias insalubres, perigosas e penosas, e, finalmente, o trabalho pactuado mediante contratos empregatícios especiais. O Direito Coletivo e uno, não comportando divisões internas significativas, respeitadas suas varias matérias componentes. Esquematicamente, assim se enunciaria a área jurídica trabalhista, lato sensu: Área justrabalhista no sentido amplo 1. Direito Material do Trabalho (Direito Individual do Trabalho e Direito Coletivo do Trabalho) 2. Direito internacional do Trabalho 3. Direito Publico do Trabalho (Direito Processual do Trabalho, Direito Administrativo do Trabalho, Direito Previdenciário e Acidentário do Trabalho Direito Penal do Trabalho) Esquematicamente, o Direito do Trabalho (isto e, Direito Material do Trabalho), em sua acepção restrita, assim se enunciaria: Direito (Material) do Trabalho 1. Direito Individual do Trabalho 2. Direito Coletivo do Trabalho CARACTERÍSTICAS DO DIREITO DO TRABALHO A síntese das características do Direito do Trabalho conduz a um conjunto de traços mais notáveis, que podem ser classificados em conformidade com: Sua origem e evolução historico - ramos especializados do Direito, oriundo do segmento obrigacional civil, porem dele se apartando e se distanciando de modo pronunciado. Suas funções e atuação na comunidade circundante - Cumpre objetivos fortemente sociais, embora tenha também importantes impactos econômicos, culturais e políticos. Trata-se de segmento jurídico destacadamente teleológico, finalístico, atado a meta de aperfeiçoar as condições de pactuação da forca de trabalho na sociedade capitalista. Sua estrutura jurídica própria - Composto essencialmente por normas imperativas (e não dispositivas). Possuir, internamente, duas dimensões: a individual (que gira em torno da regulação do contrato de trabalho) e a coletiva (que gira em torno das relações e seres coletivos trabalhistas.)Finalmente, sua estrutura jurídica evidencia a presença de normas oriundas de três sítios principais, o nacional heterônomo (normas estatais internas), o nacional autônomo (normas coletivas negociadas internas) e o internacional heterônomo (normas oriundas de Tratados e Convenções Internacionais, principalmente da Organização Internacional do Trabalho.) AUTONOMIA E NATUREZA JURÍDICA DO DIREITO DO TRABALHO O jurista italiano Alfredo Rocco sintetizou, com rara felicidade, a tríade de requisitos necessários ao alcance de autonomia por certo ramo jurídico. Trata- se, de um lado, da existência, em seu interior, de um campo temático vasto e especifico; de outro lado, a elaboração de teorias próprias ao mesmo ramo jurídico investigado; por fim, a observância de metodologia própria de construção e reprodução da estrutura e dinâmica desse ramo jurídico enfocado. O Direito do Trabalho, cotejado com o conjunto desses quatro requisitos a conquista de sua autonomia, atende largamente ao desafio proposto. De fato, são obvias e marcantes a vastidão e especificidade do campo temático desse ramo jurídico especializado. Basta enfatizar que a relação empregatícia — categoria central do ramo justrabalhista—jamais foi objeto de teorização e normatização em qualquer época histórica, antes do advento da moderna sociedade industrial capitalista. Bastam aduzir, ainda, institutos como negociação coletiva e greve, além de temas como duração do trabalho, salário, com sua natureza e efeitos próprios, poder empregatício, além de inúmeros outros assuntos, para aferir-se a larga extensão das temáticas próprias ao Direito do Trabalho. É amplo também o numero de teorias especificas e distintivas do ramo justrabalhista. Ressaltem-se, ilustrativamente, as fundamentais teorias justrabalhistas de nulidades e de hierarquia das normas jurídicas — ambas profundamente distantes das linhas gerais hegemônicas na teorização do Direito Civil (ou Direito Comum). É também clara a existência de metodologia e métodos próprios ao ramo jurídico especializado do trabalho. Neste passo, a particularidade justrabalhista e tão pronunciada que o Direito do Trabalho destaca-se pela circunstância de possuir até mesmo métodos próprios de criação jurídica, de geração da própria normatividade trabalhista. E o que se ressalta, por exemplo, através dos importantes mecanismos de negociação coletiva existentes. Por fim, o Direito do Trabalho destaca-se igualmente pelo requisito de incorporar perspectivas e questionamentos específicos e próprios. Encontrar a natureza jurídica do Direito do Trabalho consiste em se fixarem seus elementos componentes essenciais, contrapondo-os ao conjunto mais próximo de segmentos jurídicos sistematizados, de modo a classificar aquele ramo jurídico no conjunto do universo do Direito. À medida que esse universo do Direito tem sido subdividido em dois grandes grupos (Direito Publico versus Direito Privado), a pesquisa da natureza jurídica do Direito do Trabalho importa em classificar tal ramo especializado em algum dos grandes grupos clássicos componentes do Direito. ORIGEM E EVOLUÇÃODO DIREITO DO TRABALHO O Direito do Trabalho e produto do capitalismo, atado a evolução histórica desse sistema, retificando-lhe distorções econômico-sociais e civilizando a importante relação de poder que sua dinâmica econômica cria no âmbito da sociedade civil, em especial no estabelecimento e na empresa. A existência de tal ramo especializado do Direito supõe a presença de elementos socioeconômicos, políticos e culturais que somente despontaram, de forma significativa e conjugada, com o advento e evolução capitalistas. Porém o Direito do Trabalho não apenas serviu ao sistema econômico deflagrado com a Revolução Industrial, no século XVIII, na Inglaterra; na verdade, ele fixou controles para esse sistema, conferiu-lhe certa medida de civilidade, inclusive buscando eliminar as formas mais perversas de utilização da força de trabalho pela economia. As proposições de método colocadas no momento do exame da formação histórica do Direito do Trabalho nos países de capitalismo central, também auxiliam a compreensão do processo correlato ocorrido no Brasil. Nessa linha, a busca da categoria básica em torno da qual se construiu o ramo justrabalhista — a relação empregatícia — é o ponto fundamental a delimitar a pesquisa da evolução histórica desse ramo jurídico na realidade brasileira. Embora a Lei Aurea não tenha, obviamente, qualquer caráter justrabalhista, ela pode ser tomada, em certo sentido, como o marco inicial de referência da Historia do Direito do Trabalho brasileiro. De fato, constituiu diploma que tanto eliminou da ordem sociojurídica relação de produção incompatível com o ramo justrabalhista (a escravidão), como, em consequência, estimulou a incorporação pela pratica social da fórmula então revolucionária de utilização da força a de trabalho: a relação de emprego. Nesse sentido, o mencionado diploma sintetiza um marco referencial mais significativo para a primeira fase do Direito do Trabalho no país do que qualquer outro diploma jurídico que se possa apontar nas quatro décadas que se seguiram a 1888. ORDENAMENTO JURÍDICO TRABALHISTA Ordenamento jurídico e o complexo de princípios, regras e institutos regulatórios da vida social em determinado Estado ou entidade supranacional. É a ordem jurídica imperante em determinado território e vida social. A jurista Maria Helena Diniz chama de ordenamento o “conjunto de normas emanadas de autoridades competentes vigorantes num dado Estado". Para a autora, ordem jurídica, que se trata “do ordenamento jurídico”, constitui o “conjunto de normas estabelecidas pelo poder politico competente, que se impõem e regulam a vida social de um dado povo em determinada epoca”. As noções de ordem e ordenamento jurídicos referem-se, como visto, ao complexo unitário de dispositivos regulatórios das organizações e relações sociais em um determinado contexto histórico, geográfico e politico- institucional. O ordenamento jurídico compõe-se de fontes normativas, que são os meios de revelação das normas jurídicas nele imperantes. FONTES DO DIREITO Fontes Materiais — As fontes materiais dividem-se, por sua vez, em distintos blocos, segundo o tipo de fatores que se enfoca no estudo da construção e mudanças do fenômeno jurídico. Pode-se falar, desse modo, em fontes materiais econômicas, sociológicas, politicas e, ainda, filosóficas (ou politico-filosóficas), no concerto dos fatores que influenciam a formação e transformação das normas jurídicas. Fontes Formais — Na pesquisa e conceituação das fontes formais, procura-se o fenômeno de exteriorização final das normas jurídicas, os mecanismos e modalidades mediante os quais o Direito transparece e se manifesta. Portanto, são fontes formais os meios de revelação e transparência da norma jurídica — os mecanismos exteriores e estilizados pelos quais as normas ingressam, instauram-se e cristalizam- se na ordem jurídica. Heterônomas seriam as regras cuja produção não se caracteriza pela imediata participação dos destinatários principais das mesmas regras jurídicas. São, em geral, as regras de direta origem estatal, como a Constituição, as leis, medidas provisórias, decretos e outros diplomas produzidos no âmbito do aparelho do Estado. Autônomas seriam as regras cuja produção caracteriza-se pela imediata participação dos destinatários principais das regras produzidas. São, em geral, as regras originárias de segmentos ou organizações da sociedade civil, como os costumes ou os instrumentos da negociação coletiva privada (contrato coletivo, convenção coletiva ou acordo coletivo de trabalho). As regras autônomas — caso coletivamente negociadas e construídas — consubstanciam um autodisciplinamentodas condições de vida e trabalho pelos próprios interessados, tendendo a traduzir um processo crescente de democratização das relações de poder existentes na sociedade. PRINCÍPIOS DO DIREITO DO TRABALHO 1. Princípios Descritivos (ou Informativos) — Na fase jurídica, os princípios atuam, em primeiro lugar, como proposições ideais que propiciam uma direção coerente na interpretação da regra de Direito. São veios iluminadores a compreensão da regra jurídica construída. Cumprem, aqui, sua função mais clássica e recorrente, como veiculo de auxilio a interpretação jurídica. Nesse papel, os princípios contribuem no processo de compreensão da regra e institutos jurídicos, balizando-os a essência do conjunto do sistema de Direito. São chamados princípios descritivos ou informativos, na medida em que propiciam uma leitura reveladora das orientações essenciais da ordem jurídica analisada. Os princípios informativos ou descritivos não atuam, pois, como fonte formal do Direito, mas como instrumental de auxilio a interpretação jurídica. 2. Princípios Normativos Subsidiários — Podem os princípios, entretanto, em segundo lugar, cumprir o papel de fontes formais supletivas do Direito. Atuam como fontes normativas subsidiárias, a falta de outras regras jurídicas utilizáveis pelo interprete e aplicador do Direito em face de um singular caso concreto. A proposição ideal consubstanciada no principio incide sobre o caso concreto, como se fosse regra jurídica especifica. E o que se passa em situações de recurso necessário a integração jurídica, em decorrência de falta de regras jurídicas aplicáveis no conjunto das fontes normativas principais existentes. Denominam-se princípios normativos subsidiários, na medida em que atuam como verdadeiras regras jurídicas em face de casos concretos não regidos por fonte normativa principal da ordem jurídica. A função normativa subsidiaria dos princípios, embora mais rara do que sua função interpretativa, corresponde, curiosamente, aquela especialmente citada por texto expresso da legislação. E o que se passa quando a lei autoriza o recurso, pelo juiz, a integração jurídica. 3. Princípios Normativos Concorrentes — Parte importante da doutrina jurídica ocidental mais notável agrega outra função as duas tradicionais já amplamente reconhecidas: trata-se da função normativa própria dos princípios. FUNDO DE GARANTIA POR TEMPO DE SERVIÇO (FGTS) O Fundo de Garantia por Tempo de Serviço - FGTS foi criado em SET/66, objetivando regularizar a relação Empregado x Empregador, tendo em vista os conflitos de interesse existentes à época, como também, constituir um pecúlio para o trabalhador quando de sua aposentadoria, ou ainda, por ocasião da rescisão de seu contrato de trabalho. A partir de novembro de 1986, passou a ser administrado pela CAIXA, ocasião em que apresentava patrimônio da ordem de US$ 15,2 bilhões. Nessa época, os recursos do FGTS se confundiam com os recursos do Gestor, já que os ativos não eram segregados. Por outro lado os recursos arrecadados pela rede bancária nunca haviam sido conciliados. A partir da Lei nº 7839/89, o FGTS teve um incremento em sua arrecadação e foi possível, pela primeira vez, com o aperfeiçoamento dos instrumentos de controle financeiro, elaborar um balanço do Fundo. Desde então, os saldos das contas ativas e passivas do FGTS são controlados também contabilmente. Em 1990, o Ativo do Fundo registrava a importância de US$ 22,8 bilhões aplicados em habitação, saneamento básico e infra-estrutura urbana. Em 1991, as contratações superaram as do ano anterior em 147%, resultando em liberações/desembolsos de 3,57 vezes a arrecadação líquida de contribuições, gerando enorme desequilíbrio financeiro para o Fundo. Com o excesso de contratações, as disponibilidades, que em fevereiro de 1991 eram da ordem de US$ 1,4 bilhões, incluindo as rendas e arrecadações a receber, foram exauridas em um ano. Também a partir de 1991, por determinação legal, as contas vinculadas do FGTS foram transferidas, pelos bancos depositários, à CAIXA, favorecendo, sobremaneira, sua gestão e controle. Em 1992, já com a arrecadação líquida negativa de US$ 34 milhões, o Fundo experimentou um nível de desembolsos semelhante ao de 1991, o que comprometeu ainda mais o seu equilíbrio financeiro. Apesar de terem sido suspensas novas contratações a partir de 1992, o Fundo recebeu aporte de recursos da CAIXA e do Fundo de Desenvolvimento Social - FDS (US$ 172 milhões em 92/93) a fim de que pudesse honrar os compromissos firmados nas áreas de habitação popular e de saneamento e infra-estrutura urbana. Parte das dificuldades financeiras do FGTS deveu-se a fatores exógenos que atingiram suas aplicações. Na área habitacional, essa questão tem sua origem nos subsídios institucionais concedidos aos mutuários finais, iniciados em meados da década de 80 e agravados pelos efeitos de todos os planos econômicos, a partir de 1986, à exceção do Plano Real, cujas prestações, deforma geral, não cobriam sequer 15% dos juros contratuais. Nas demais áreas, o baixo índice de recebimentos relacionava-se com a inadimplência do setor público que, ao longo de toda a existência do Fundo, rolava parte significativa de seus débitos. Com isso, os órgãos públicos tornavam-se legalmente adimplentes e habilitados a receber novos créditos, sem a obrigação de honrar todos os compromissos anteriormente assumidos. A Lei nº 8.727/93, sancionada em 05/11/93, estabeleceu diretrizes para a consolidação e o reescalonamento de dívidas internas das administrações direta e indireta dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios. Assim, foram refinanciados contratos referentes a mais de 200 entidades, no valor de US$ 16,8 bilhões, sendo que a renegociação abrangeu, em termos de valores, 74% dos contratos refinanciáveis com recursos CAIXA e 89% dos contratos refinanciáveis com recursos do FGTS. O Fundo de Liquidez do FGTS foi recomposto e a sua recuperação financeira permitiu que, a partir de julho de 1993, fossem iniciados os procedimentos visando a regularização dos desembolsos de compromissos assumidos anteriormente a 1992 nas áreas de habitação popular, saneamento e infraestrutura. Com isso, foi regularizado, a partir de março de 1994, o fluxo de retorno das operações realizadas com o setor público. FGTS.doc 16/03/01 15:07 Fl. 3/8. A criação de uma Diretoria específica para tratar dos Fundos e Programas na CAIXA, ocorrida em 11 de fevereiro de 94, contribuiu para uma melhor organização na administração dos Fundos e Programas, trazendo significativas evoluções nos controles operacionais e nos serviços oferecidos à sociedade. A partir daí, a CAIXA conseguiu otimizar a transparência às contas do FGTS, prestando tempestivamente todas as informações exigidas pelos diversos agentes integrantes do sistema. A CAIXA, na busca de oferecer melhores serviços aos trabalhadores, descentralizou o atendimento para todas as suas unidades, que hoje compreendem mais de 1.900 Pontos-de-Venda, o que propiciou expressiva melhoria na qualidade dos serviços prestados ao trabalhador. Na qualidade de Agente Operador do FGTS, compete também, à CAIXA, zelar pela boa aplicação e retorno dos investimentos com recursos do Fundo. Desde a sua criação, os recursos do FGTS têm sido a principal fonte de recursos para implementação de políticas e programas governamentais nos setores de habitação, saneamento e infra-estrutura urbana, gerando, ao longo dos trinta e quatro anos de sua existência, importantes benefícios para a população brasileira, priorizando sempre as camadas mais humildes e de menor renda. Quem tem direito ao FGTS? Todos os trabalhadores regidos pela CLT que firmaram contrato de trabalho a partir de 05/10/1988. Antes dessa data, a opção pelo FGTS era facultativa. Tambémtêm direito ao FGTS os trabalhadores rurais, os temporários, os avulsos, os safreiros (operários rurais, que trabalham apenas no período de colheita) e os atletas profissionais (jogadores de futebol, vôlei, etc.). O diretor não-empregado poderá ser equiparado aos demais trabalhadores sujeitos ao regime do FGTS. É facultado ao empregador doméstico recolher ou não o FGTS referente ao seu empregado. A opção pelo recolhimento estabelece a sua obrigatoriedade enquanto durar o vínculo empregatício. O FGTS não é descontado do salário, é obrigação do empregador. O empregador ou o tomador de serviços faz o depósito na conta vinculada ao FGTS do trabalhador. O depósito pode ser feito até o dia 7 de cada mês. O depósito equivale a 8% do valor do salário pago ou devido ao trabalhador, cujo contrato é regido pela CLT. No caso de contratos de menores aprendizes, o percentual é de 2%. REFERÊNCIAS http://www.fgts.gov.br/perguntas/index.asp DELGADO, Maurício Godinho. Curso do Direito do Trabalho. 11º. Ed. São Paulo: Ltr, 2012. DINIZ, Maria Helena. Dicionário Jurídico, v.3. São Paulo: Saraiva, 1998. p. 462 IBIDEM, p.460 DONATO, Messias Pereira. Curso de Direito do Trabalho. 5º. Ed. São Paulo: Saraiva, 1982. P.6 HUECK, Alfred e NIPPERDEY, H. C. Compêndio de Derecho del Trabajo. Madrid: Revista de Derecho Privado, 1963. P 21-22 (Tradução Efetuada) MAGANO, Octavio Bueno. Manual de Direito do Trabalho. Parte Geral, 4º.Ed. São Paulo:LTr,1991. P.59 ROCCO, Alfredo. Corso di Diretto Commerciale – Parte Generale. Pandova: La Litotipo – Editrice Universitaria, 1921. p. 76.
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