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Economia Açucareira

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Economia Acucareira 
 
Origens 
⇾ No ano de 1533, os colonos que vieram 
com Martim Afonso de Souza plantaram as 
primeiras mudas de cana-de-açúcar e 
instalaram o primeiro engenho da colônia 
em São Vicente, na região do atual estado 
de São Paulo. 
⇾	A partir dessa época, os engenhos 
multiplicaram-se pela costa brasileira. A 
maior concentração deles ocorreu no 
Nordeste, principalmente nas regiões dos 
atuais estados de Pernambuco e da Bahia. 
⇾	Em pouco tempo, a produção 
açucareira superou em importância a 
atividade extrativa do pau-brasil, embora a 
exploração intensa dessa madeira tenha 
continuado até o início do século XVII. 
 
 
Motivos para a implantação 
⇾ Tornava viável a ocupação e 
colonização, garantindo assim a posse do 
território.		
⇾ Solo e clima favoráveis das novas terras. 
⇾ A experiência de cultivo já adquiridas, 
nas ilhas de Açores, Cabo Verde e Madeira, 
pelos portugueses. 
⇾	A metrópole visava obter lucros com a 
produção do açúcar, considerado um 
produto de luxo, uma especiaria, que 
alcançava altos preços no mercado 
europeu. 
⇾ Existência de mercados consumidores na 
Europa.		
⇾ Participação do capital Holandês: 
Financiamento da produção, transporte, 
refino e distribuição na Europa. 
 
 
 
 
 
 
O açúcar e o capital holandês 
⇾	Desde o início da colonização, a Coroa 
portuguesa já passava por uma crise 
econômica, devido aos custos da 
manutenção do Império nas Índias, bem 
como ao declínio da lucratividade do 
comércio de gêneros orientais. 
⇾	Da mesma forma, havia a questão da 
mão de obra, com inexistência, em 
Portugal, de contingentes de trabalhadores 
que pudessem ser deslocados para o Brasil. 
⇾	A questão dos capitais foi resolvida 
através do investimento dos holandeses, em 
troca do monopólio do refino e da 
distribuição final do açúcar na Europa. 
⇾	Quanto à mão de obra, a solução, em 
um primeiro momento, foi o aprisionamento 
e a escravização de vários contingentes 
nativos (indígenas), os quais se constituíram 
na primeira forma de mão de obra aqui 
empregada. 
 
 
Sistema de Produção 
Foi usado o regime de plantation. 
• Monocultura 
• Realizada em latifúndios; 
• Utilização de mão de obra escrava; 
• Produção voltada ao mercado externo. 
 
Montagem da produção açucareira 
⇾	Embora a primeira área produtora de 
açúcar tenha sido a região de São Vicente, 
no litoral sul do Brasil, o centro da produção 
açucareira foi transferido para o Nordeste 
(Bahia e Pernambuco), devido ao solo 
propício (massapé), o clima e a proximidade 
com Portugal. Assim, foi o litoral de 
Pernambuco que despontou como principal 
centro da produção açucareira. 
 
Engenho 
⇾	era a unidade de produção, composta 
por um latifúndio agrícola, incluindo as 
instalações e equipamentos necessários ao 
trabalho. 
• Engenhos reais: utilizavam energia 
hidráulica e eram os mais valorizados. 
• Engenhos de trapiche: usavam força 
animal ou humana (escrava) para 
mover a moenda. 
Dentro do engenho, encontrava-se: 
Casa grande: onde viviam o senhor do 
engenho 
Senzala: onde viviam os escravizados 
Capela: local onde centralizava-se a vida 
religiosa e social. 
Moenda: local onde esmagavam a cana, 
para extrair o caldo (garapa/cana-de-
açúcar). 
Casa das caldeiras: local com enormes 
fornalhas que engrossavam o caldo da 
cana até transformá-lo em melaço. 
Casa de purgar: local onde era refinado o 
açúcar e finalizado o processo. 
 
⇾	O elevado custo para a instalação de um 
engenho impedia alguns senhores de 
construírem o complexo sistema produtivo 
para o processamento do açúcar. A 
solução nessas situações era moer a cana 
em fazendas vizinhas, pagando com parte 
da produção o uso dos equipamentos. 
Muitos senhores também se dedicavam à 
fabricação de aguardente. Eram as 
“engenhocas” ou “molinetes” que 
produziam a cachaça para o consumo 
interno ou mesmo para o comércio de 
escravos na região da costa africana. 
Sociedade 
Senhor do engenho: proprietários da terra, 
detentores de profunda influência 
econômica e política dentro e fora da 
colônia. Tal posição era ambicionada por 
toda a sociedade, pois representava o topo 
do modelo social. 
Grupos intermediários: homens livres 
(capatazes, feitores, trabalhadores técnicos 
na produção de açúcar, médicos, 
professores, padres), conhecidos como 
“homens bons”, dependentes do poder 
autocrático dos senhores. 
Escravos: inicialmente índios, depois negros. 
Tinham a função de mover todo o sistema 
do engenho por meio de jornadas de 
trabalho longas e exaustivas. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
21
CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECNOLOGIASHistória I
Anual – Volume 1
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Benedito Calixto: Moagem de cana na Fazenda Cachoeira – 1830.
O TRABALHO E A SOCIEDADE DO AÇÚCAR
A região que mais se destacou na produção de cana-
-de-açúcar foi o litoral nordestino, especialmente as capitanias 
de Pernambuco e Baía de Todos os Santos, em virtude do clima 
quente e úmido e do solo de massapé presente na Zona da Mata. 
Além disso, o litoral da região era mais próximo da Europa, o 
que favorecia o transporte, tornando-o mais barato.
Como o objetivo fundamental da produção era gerar 
grandes somas de lucros, a empresa açucareira foi organizada 
no regime de plantation, caracterizado pela grande propriedade 
(latifúndio), monocultura, produção voltada para o mercado 
externo e mão de obra escrava.
A grande propriedade agrícola e a monocultura permitiam 
a especialização da produção e requeriam enorme quantidade de 
mão de obra. O trabalho livre assalariado não seria possível, pois 
não tornaria o negócio tão lucrativo, bem como não havia gente 
sufi ciente em Portugal para ser deslocada para o Brasil, que pudesse 
ou se interessasse pelo trabalho, pois salários não seriam nada 
compensadores. A solução seria a utilização de mão de obra escrava.
Os primeiros grupos humanos escravizados no Brasil 
foram os indígenas, o que alterava a relação amistosa inicialmente 
implantada por meio do escambo para a obtenção de pau-brasil. 
A escravidão imposta pelo branco europeu levou à morte um 
número incalculável de indígenas, devido aos trabalhos forçados, 
maus-tratos e também devido a doenças trazidas pelos europeus 
e que eram desconhecidas na América, como a varíola, a gripe 
e doenças venéreas. As terras indígenas foram ocupadas pelos 
brancos e várias tribos fugiram do litoral para o interior ou foram 
dizimadas por resistir à escravidão.
Com o desenvolvimento da produção açucareira, ainda 
no decorrer do século XVI, a escravidão indígena passou a ser 
substituída pela escravidão de negros de origem africana. Essa 
mudança ocorreu em virtude de três fatores fundamentais: 
• Os lucros gerados pelo tráfi co negreiro para Portugal; 
• A Igreja Católica condenava a escravidão indígena, tolerando 
a escravidão negra;
• A maior facilidade de obtenção e captura dos negros.
Na lógica mercantilista, o Pacto Colonial obrigava a colônia 
a fornecer metais preciosos e gêneros tropicais baratos para a 
metrópole e consumir destas manufaturas e escravos. Portanto, 
enquanto a escravidão indígena geraria um comércio local, a 
escravidão negra permitiria a obtenção de grandes lucros por parte 
dos trafi cantes portugueses, que dominavam áreas fornecedoras de 
escravos na África, como Angola, Goa e São Tomé.
Além disso, o papado reconheceu o monopólio português no 
tráfi co negreiro, determinando que os negros escravizados fossem 
batizados e, por meio do trabalho, pudessem salvar suas almas. 
Em 1570, o rei português, D. Sebastião, proibiu a escravidão 
indígena, sendo esta permitida somente a índios capturados em 
combates contra portugueses, nas chamadas Guerras Justas.
Outro motivo que favoreceu a substituição da escravidão 
indígena pela negra foi a questão da obtenção de peças. 
Os índios brasileiros eram nômades e seminômades e, portanto, 
migravam constantemente. Além disso, a extensão do território 
era outro fator que difi cultava a captura de índios. Já os negroseram obtidos na África por meio de escambo entre os trafi cantes 
e os próprios africanos, que capturavam negros de tribos rivais e 
os trocavam por aguardente, rapadura e fumo trazidos do Brasil.
Durante algum tempo, sustentou-se a ideia da substituição 
da escravidão indígena pela negra em virtude da inabilidade 
do índio para a grande lavoura ou por sua incompatibilidade 
com a escravidão, o mito da “indolência inata do indígena”. 
Essa justifi cativa é incorreta, pois não só o indígena, como qualquer 
outro ser humano, é inapto à escravidão, inclusive os negros que 
resistiram de várias formas, sempre lutando contra seus opressores.
“Os engenhos açucareiros serviram de base para a sociedade 
colonial brasileira, ou nos dizeres de Caio Prado Júnior: ‘A grande 
propriedade açucareira é um verdadeiro mundo em miniatura em 
que se concentra e resume a vida toda de uma pequena parcela 
da humanidade’.”
PRADO, Jr. Caio. História econômica do Brasil. 
São Paulo: Brasiliense, 1945.
A sociedade dos engenhos se caracterizava pelos seguintes 
aspectos: rural, aristocrática, patriarcal, estamental e escravista. 
Havia o predomínio da população no campo, residindo ou integrada 
aos engenhos. Os senhores de engenho eram o grupo social 
dominante e controlavam a vida dos moradores e trabalhadores 
do engenho, determinando castigos e punições. Dirigiam a vida 
das esposas e fi lhas, que eram totalmente submissas e responsáveis 
pelas prendas do lar. 
Praticamente não havia mobilidade social, e a escravidão servia 
como base para o funcionamento dos engenhos. 
Para Antonil, na obra Cultura e opulência do Brasil:
“Os escravos são as mãos e os pés do senhor de engenho, porque 
sem eles no Brasil não é possível fazer, conservar e aumentar fazenda, 
nem ter engenho corrente”.
É importante frisar que existiam ainda trabalhadores livres e 
assalariados nos engenhos, como feitores, capitães-do-mato, tacheiros 
e mestres de purgar.
A SOCIEDADE DO AÇÚCAR
ARISTOCRACIA
senhor de engenho
HOMENS LIVRES
senhor de terras
sem engenho:
carpinteiro, ferreiro,
capataz etc.
ESCRAVOS
A questão da mão de Obra 
⇾ A grande propriedade agrícola e a 
monocultura permitiam a especialização 
da produção e requeriam enorme 
quantidade de mão de obra. O trabalho 
livre assalariado não seria possível, bem 
como não havia gente suficiente em 
Portugal para ser deslocada para o Brasil, 
que pudesse ou se interessasse pelo 
trabalho, pois salários não seriam nada 
compensadores. A solução seria a 
utilização de mão de obra escrava. 
⇾	Os primeiros grupos escravizados no 
Brasil foram os indígenas, no entanto eles 
não supriram totalmente as necessidades 
dos senhores, levando à substituição pelos 
negros. Apesar disso, nas regiões mais 
pobres, tais como São Paulo, Maranhão, 
Piauí e na Amazônia, continuou a existir a 
escravidão indígena, o “negro da terra”. 
 
Razões para a substituição dos indígenas: 
• Tinham baixa resistência às doenças de 
origem europeia, como a varíola, a 
gripe e doenças venéreas, ocasionando 
inúmeras mortes. 
• Alguns povos resistiam com armas à 
captura, e sempre que possível, fugiam 
para os sertões. 
• Os índios contavam com a proteção 
dos jesuítas, o que provocou conflitos 
entre essa ordem religiosa e os colonos. 
• O tráfico negreiro representava alto 
lucro para a metrópole portuguesa, e 
não era novidade, já que eram feitos 
desde o início da exploração das ilhas 
do litoral africano, no século XV. 
O tráfico africano 
⇾ A obtenção dos escravos começava no 
interior da África, com os cativos sendo 
prisioneiros de guerra que eram vendidos, 
ou vítimas de emboscadas realizadas pelos 
traficantes. 
⇾	Muitos chefes e reis africanos já tinham 
larga experiência nesse tipo de comércio. 
Assim, muitos reinos passaram a negociar 
diretamente com os portugueses e, mais 
tarde, com outros comerciantes europeus. 
⇾ Nos portos da África, os escravos 
africanos eram trocados por mercadorias 
de valor, como tabaco, cachaça, pólvora, 
objetos metálicos etc., e embarcados nos 
navios, com destino a América. 
⇾ A travessia do Atlântico era longa: cada 
escravo tinha direito a uma pequena cota 
diária de alimentos e água, mas o calor, a 
superlotação, a falta de higiene e o banzo 
(espécie de apatia decorrente da 
desidratação e da melancolia) levaram à 
morte de grande número de escravos. 
⇾ Uma das doenças que mais atingiam os 
escravos nos navios negreiros era o 
escorbuto, causado por uma dieta pobre 
em vitamina C, além de outras doenças, 
como: varíola, sarampo, febre amarela, 
doenças gastrointestinais etc. 
 
O navio negreiro, de 1835 
 
Derrota da Invencível Armada espanhola para os ingleses no 
mar do Norte.
Apogeu da entrada de metais preciosos na Espanha.
1588 1600
Em O navio negreiro, de 1835, 
Johann Moritz Rugendas 
apresenta cenas comuns 
nos navios negreiros, então 
chamados de tumbeiros: 
um negro morto ou doente 
é carregado por tripulantes, 
enquanto outro recebe água 
de um púcaro. Convém notar, 
ainda, que há mais homens 
do que mulheres no porão. 
Assim era a demografia do 
tráfico: 2 ou 3 homens para 
cada mulher transportada 
para as Américas. Coleção 
particular.
Muitos chefes e reis africanos já tinham larga experiência nesse tipo de comér-
cio. Assim, muitos reinos passaram a negociar diretamente com os portugueses e, 
mais tarde, com outros comerciantes europeus.
Os europeus negociavam acordos com membros importantes das sociedades 
africanas. Na compra de escravos pelos portugueses, as mercadorias envolvidas 
eram, em geral, cavalos, panos indianos ou europeus, objetos de cobre e de vidro, 
espelhos, miçangas, conchas e cauris (espécie de búzios, utilizados como moeda em 
várias partes da África). 
No início do século XV, não raro trocava-se um cavalo por mais de dez escra-
vos, dependendo da idade e da saúde deles. No decorrer do século XVII, foram in-
cluídos nesse comércio armas de fogo, pólvora, tabaco e cachaça, então chamada 
no Brasil de geribita.
Sistemas de escravização
Para recolher os escravos, os negociantes portugueses utilizavam dois sistemas. 
O primeiro era o da feitoria, no qual os escravos comprados na África eram reuni-
dos aos poucos, até completar a carga dos navios. Era dispendioso, pois implicava 
conseguir autorização do rei africano local para a instalação da feitoria, além de 
gastos com a manutenção de administradores para dirigi-la e protegê-la. O segun-
do sistema funcionava por meio de barcos que navegavam ao longo da costa até 
completar a carga de escravos, levados aos navios em canoas, sem os gastos com 
a instalação de fortalezas.
O comércio no interior da África e o deslocamento aos locais de embarque, 
no litoral, ficavam totalmente por conta dos africanos, sempre empenhados em 
manter essas rotas sob controle.
O tráfico atlântico de escravos foi intenso até o século XIX. Estima-se que entre 
12 e 12,5 milhões de africanos entraram na América, dos quais 40%, aproxima-
damente, foram para o Brasil, outros 40% para as ilhas do Caribe e menos de 5% 
para a América do Norte. Os demais foram para outras partes da América.
A preferência foi sempre pela compra de homens já adultos — mais de 60% de 
todos os escravos vendidos na América. A escassez de mulheres dificultava o cres-
cimento vegetativo da população escrava e, por conseguinte, exigia a manutenção 
do tráfico para a reprodução da escravidão.
Sobre a África na Época Mo-
derna, ver capítulo 18.
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