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1 Capítulo 6 MASP – Métodos de análise e solução de problemas Neste capítulo, vamos apresentar o método de análise e solução de problemas (MASP), que pode ser considerado um método estruturado para resolução de problemas dividido em etapas, iniciado na escolha do problema a ser analisado e encerrado com a geração e a disseminação de conhecimento dentro da própria organização. Encontrar a real causa dos problemas talvez seja uma das maiores dificuldades nas organizações. Em muitos casos essa análise de causa envolve diferentes funções dentro de uma organização e a avaliação estruturada para analisar a causa-raiz do problema, lembrando que ge- ralmente ela não é única, mas sim uma combinação de fatores. 2 Fundamentos e conceitos da qualidade Vale notar que a atuação sobre a causa-raiz também é economi- camente mais interessante, pois tradicionalmente é uma estratégia de custo-benefício mais efetiva do que tratar todas as causas possíveis, assim como não atuar sobre causas de problemas e conviver com a sua recorrência também não é considerada uma estratégia interessante. A norma ISO 9001 estabelece como um de seus principais requisi- tos a tomada de “ação para eliminar a(s) causa(s) da não conformidade, a fim de que ela não se repita em outro lugar.” (ABNT, 2015, p. 22). Em outro requisito, a norma requer que a organização determine “se exis- tem necessidades ou oportunidades que devem ser abordadas como parte da melhoria contínua” (ABNT, 2015, p. 22). Outro fator a ser destacado é a importância da aplicação do MASP como forma de estruturar e disciplinar a disseminação de conhecimen- to, sendo útil como fator para o aprendizado organizacional. Isso por- que a solução de problemas, se realizada de forma não estruturada, poderia evitar a reincidência de problemas sem necessariamente asse- gurar o aprendizado da própria organização. 1 O MASP e o ciclo PDCA O ciclo PDCA, atribuído a Shewhart e amplamente divulgado por Deming como método estruturado de análise para atuação sobre mu- danças, tem sido implantado nas organizações como um conceito cíclico para diversos processos de mudança, sejam eles reativos ou proativos. A metodologia do MASP tem sua origem nos princípios do PDCA. Enquanto o PDCA é um ciclo que visa a melhoria contínua e de aborda- gem mais ampla, o MASP tradicionalmente é caracterizado como mé- todo para solução de problemas. Segundo Campos (2004), é importante diferenciar o método aplicado 3MASP – Métodos de Análise e Solução de Problemas das ferramentas da qualidade utilizadas durante a execução do MASP. Para Campos (2004, p. 209), o método é a “sequência lógica para se atingir a meta desejada”. O uso do método teria uma função mais es- tratégica, e o uso de ferramentas, por sua vez, uma característica mais operacional. No sistema de gestão da qualidade, determinado pela ISO 9001 ou por exigências de clientes ou por diretrizes da própria organização, a aplicação contínua de métodos de gerenciamento iguais ou equivalen- tes ao PDCA são de extrema relevância para o desempenho do sistema. A determinação clara de fases de planejamento, execução, medição e monitoramento de resultados e ações para a melhoria desses resulta- dos é parte essencial e indicada como uma das diretrizes de sistemas de gestão da qualidade segundo a própria ISO 9001:2015 (ABNT, 2015), lembrando que a própria estrutura de requisitos da norma está de acor- do com o ciclo P-D-C-A. 2 Etapas do MASP Uma das primeiras versões do MASP foi apresentada por Kaoru Ishikawa, em “TQC – Total Quality Control”, publicado em 1985. Nesta versão, Ishikawa descreve seu ciclo de controle com seis etapas (ACADEMIA PEARSON, 2011): 4 Fundamentos e conceitos da qualidade Figura 1 – Ciclo de controle Definir métodos Definir metas e objetivos Executar 04 01 0206 05 03 Verificar Treinar Efetivar medidas Este modelo de MASP é um claro desdobramento do PDCA, onde a fase inicial (definição de metas) apresenta uma característica mais adequada para a promoção de melhorias contínuas e implantação de novos processos por meio deste modelo. A versão do MASP que estudaremos neste capítulo é baseada no modelo apresentado por Vicente Falconi Campos e, provavelmente, o método mais popularmente aplicado no Brasil, apresentado em 1992 no livro “TQC – Controle da qualidade total”, em que o MASP é constitu- ído de oito etapas. 5MASP – Métodos de Análise e Solução de Problemas Figura 2 - Etapas do MASP AnáliseObservação Identificação do problema � ConclusãoPadronização � � VerificaçãoAçãoPlano de ação � � Fonte: adaptado de Campos (2004). 2.1 Identificação do problema A etapa inicial consiste em identificar o problema a ser analisado. Um exemplo comum de aplicação dessa etapa é por meio das reclama- ções de clientes. É importante que, nesta fase, o benefício a ser alcan- çado ou a relevância do problema seja destacada como forma de tornar clara a importância da resolução do problema identificado. Exemplo de ferramenta aplicada: gráfico de Pareto. 2.2 Observação Consiste em observar e caracterizar o problema identificado. Nessa etapa, é importante a extensiva coleta de dados sobre o problema, veri- ficar se ele apresenta tendência de queda ou evolução, suas principais 6 Fundamentos e conceitos da qualidade perdas envolvidas e, principalmente, conhecer a situação em que o pro- blema ocorre, operações onde ele se origina e onde poderia ou deveria ter sido detectado. É bastante enfatizada, nessa etapa, a necessidade de observar o problema de diferentes formas, ou seja, observar, por exemplo, o mesmo posto de trabalho em diferentes dias de produção e em diferentes turnos. Exemplos de ferramentas aplicadas: folhas de verificação, gráficos de Pareto, fluxogramas de processo, gráficos de controle. 2.3 Análise Consiste na análise de causa propriamente dita. Primeiro, é neces- sário identificar as causas possíveis apresentadas nesta etapa, como hipóteses; neste momento, é importante que sejam levantadas o maior número de hipóteses. Depois, é importante que seja feita a confirmação das hipóteses mais prováveis, para identificar quais das causas hipoté- ticas realmente se confirmou. Vale destacar a necessidade de atuar com base em fatos e não ape- nas em opinião ou somente na experiência dos envolvidos como forma de evitar a influência de paradigmas ou de ideias preconcebidas duran- te a metodologia. Exemplos de ferramentas aplicadas: brainstorming, diagrama de causa e efeito, 5 porquês, gráficos de correlação. Esta talvez seja uma das etapas mais críticas para o sucesso do MASP. A análise da causa, muitas vezes chamada de causa raiz, neces- sita muitas vezes da análise e participação de representantes de dife- rentes áreas, para que a análise seja feita de forma mais aprofundada possível. Deve-se evitar nesse momento a repetição do sintoma obser- vado, como por exemplo, repetir-se a falha, porém com outras palavras, como no exemplo a seguir: 7MASP – Métodos de Análise e Solução de Problemas Sintoma: “Produto entregue ao cliente com atraso de 1 dia.” Causa: “Produto chegou ao cliente com atraso” Da mesma forma, é importante que sejam evitadas respostas impre- cisas ou muito superficiais, como no próximo exemplo: Sintoma da falha: “Produto entregue com atraso de 1 dia.” Causa: “Falha operacional” No exemplo anterior, o termo “falha operacional” precisa ser evita- do, e em vez disso considerados termos mais específicos, que de fato levem a análise de causa mais profunda e, consequentemente, a possi- bilidade de determinação de ações mais específicas, como no exemplo abaixo. Sintoma da falha: “Produto entregue com atraso de 1 dia.” Causa: “Falta de atendimento ao plano de produção, por falta de matéria- -prima XYZ.” É necessário analisar o motivo pelo qual a matéria-prima citada fal- tou, desencadeando uma série de análises, como no exemplo a seguir. 8 Fundamentos e conceitos da qualidade Figura 3 – Análise de causa parao sintoma: Produto entregue com atraso de 1 dia Por falta de atendimento ao plano de produção. Por que o produto chegou com atraso? Produto entregue com atraso de 1 dia � � � � � � � Por que o plano de produção não foi atendido? Por falta de matéria-prima XYZ. Por que houve falta de matéria-prima? Porque o fornecedor não atendeu ao prazo requerido no pedido de compra. Por que o fornecedor não atendeu ao prazo requerido? Por que o pedido foi emitido com menos de 60 dias de antecedência? Porque o processo produtivo do fornecedor não permite que ele atenda pedidos recebidos com menos de 60 dias de antecedência para matérias-primas especiais. Porque a sistemática atual não prevê a emissão de pedidos com mais de 60 dias de antecedência para matérias-primas especiais. Ainda, no exemplo anterior, nota-se que a causa destacada, “a siste- mática atual não prevê a emissão de pedidos com mais de 60 dias de antecedência para matérias-primas especiais”, é bastante específica. Antes que sejam determinadas ações, no entanto, é boa prática validar essa hipótese, ou seja, confirmar que de fato essa causa de fato ocorre (pedidos emitidos com menos de 60 dias de antecedência) e que de fato, como uma de suas consequências, pode ocorrer a falha percebida pelo cliente (o atraso na entrega final do produto). Em muitos casos, a análise de causas é dividida em duas categorias: 1. Por que ocorreu a falha? 9MASP – Métodos de Análise e Solução de Problemas 2. Por que a falha não foi detectada antes? Por exemplo: Sintoma da falha: “Veículo com alto consumo de combustível.” Por que ocorreu a falha? Figura 4 – Análise de causa para o sintoma: Veículo com alto consumo de combustível Por falta de pressão correta nos pneus. Por que houve alto consumo de combustível? Veículo com alto consumo de combustível. � � � � � � � Por que a pressão estava incorreta? Por vazamento no pneu dianteiro esquerdo Por que houve vazamento? Porque havia um pequeno vazamento na válvula do pneu. Por que havia vazamento na válvula do pneu? Por que a válvula fornecida não suportava a pressão requerida? Porque a válvula não suportava a pressão requerida. Porque houve alteração da pressão aplicada ao pneu, porém sem alteração da especificação de pressão da válvula. Por que a falha não foi detectada antes? 10 Fundamentos e conceitos da qualidade Figura 5 – Segunda análise de causa para o sintoma: Veículo com alto consumo de combustível Por falta de pressão correta nos pneus. Por que houve alto consumo de combustível? Veículo com alto consumo de combustível. � � � � � � � Por que a pressão estava incorreta? Por vazamento no pneu dianteiro esquerdo Por que houve vazamento? Porque havia um pequeno vazamento na válvula do pneu. Porque não foi detectado antes o vazamento do pneu? Por que o defeito não foi detectado no recebimento? Porque a válvula é recebida diretamente do fornecedor ABC. Porque a inspeção das válvulas é realizada apenas pela avaliação de certificados de qualidade da válvula, emitidos pelo fornecedor. Assim como nos exemplos anteriores, podemos notar que neste caso, existem duas causas principais a serem atacadas. Pode- -se perceber que evitar a ocorrência da falha é, do ponto de vista da prevenção, muito mais efetivo, pois impede-se dessa forma a geração de perdas no processo. Por outro lado, é muito benéfico a compre- ensão dos motivos pelos quais o sistema atual não conseguiu evitar que tal falha não foi detectada logo no momento de sua origem, o que reduziria significativamente todos os custos envolvidos (reclamações e devoluções, por exemplo). 11MASP – Métodos de Análise e Solução de Problemas 2.4 Plano de ação O objetivo dessa etapa é estabelecer um plano que elimine a causa- -raiz do problema e não somente os sintomas do problema. E, o devido cuidado para que as ações estabelecidas não originem outros proble- mas é fundamental. Exemplo de ferramenta aplicada: 5W1H. Nessa etapa, é importante notar que em alguns segmentos indus- triais é bastante comum o estabelecimento de prazos máximos para a tomada de ação. Em muitos casos, o cliente requer contratualmente prazos máximos para a contenção do problema (ou seja, a correção do sintoma da falha) e prazos máximos para a tomada de ações corretivas. 2.5 Ação Executar as ações previamente planejadas. Durante a execução das ações, é importante enfatizar a realização de treinamentos, bem como o contínuo acompanhamento e a divulgação do andamento das ações. Exemplo de ferramenta aplicada: listas de verificação. 2.6 Verificação A verificação de eficácia das ações, mais uma vez deve ser baseada em fatos e dados, e não apenas na opinião dos participantes. Muitas vezes, os ganhos de produtividade e/ou redução de custos de qualidade deve ser registrado e divulgado entre os envolvidos, além da confirma- ção de que não houve efeitos colaterais decorrentes das ações recém- -implantadas. Se a eficácia não for confirmada, novamente retorna-se à observação do problema, na etapa 2. Exemplo de ferramentas aplicadas: gráficos de controle, gráficos de Pareto, histogramas. 12 Fundamentos e conceitos da qualidade 2.7 Padronização É a fase de abrangência de ações já executadas e cuja eficácia já foi verificada com sucesso. Frequentemente envolve a elaboração e/ou re- visão de procedimentos e padrões de trabalho, assim como a execução de treinamentos. 2.8 Conclusão Parte da premissa que, mesmo eliminada a causa do problema, pro- blemas secundários ou outras situações indesejáveis podem ter per- manecido. Por isso, nessa fase são estabelecidos novos problemas a serem analisados, e reinicia-se o método desde sua primeira etapa. Outro objetivo importante é promover a reflexão sobre os benefícios do método e disseminar o aprendizado dentro a organização. NA PRÁTICA Nas indústrias, são comuns os requisitos de clientes para seus fornece- dores, em que são estabelecidos claros prazos para aplicação de méto- dos de solução de problemas. Em muitos casos, versões equivalentes e/ou similares ao MASP são requeridas por meio de metodologias de ações corretivas, como as 8D (oito disciplinas). Considerações finais O MASP pode ser considerado um método estruturado para re- solução de problemas, dividido em etapas, com início na escolha do problema a ser analisado e encerrado com a geração e a dissemina- ção de conhecimento dentro da própria organização. Ele tem a sua ori- gem nos princípios do PDCA, um ciclo que visa a melhoria contínua. 13MASP – Métodos de Análise e Solução de Problemas A metodologia também é vista como um método tipicamente para a resolução de problemas. O MASP é constituído por oito etapas: 1. identificação do problema, 2. observação, 3. análise, 4. plano de ação, 5. ação, 6. verificação, 7. padronização e 8. conclusão. Com este capítulo, finalizamos a apresentação dos principais funda- mentos e conceitos relacionados à qualidade, principalmente no que se observa quanto a sistemas de gestão da qualidade. Referências ABNT - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS NBR ISO 9001:2015 - Sistemas de gestão da qualidade − Requisitos. Rio de Janeiro: ABNT, 2015. ACADEMIA PEARSON. Gestão da Qualidade. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2011. CAMPOS, Vicente Falconi. TQC: Controle da Qualidade Total. Belo Horizonte: INDG, 2004. SELEME, Robson; STADLER, Humberto. Controle da qualidade – As ferramen- tas essenciais. Curitiba: Intersaberes, 2012.
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