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LEI MARIA DA PENHA - AS MEDIDAS PROTETIVAS E AS PRÁTICAS DO SISTEMA DE JUSTIÇA - WENDER HENRIQUE RIBEIRO DE JESUS - PDF

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WENDER HENRIQUE RIBEIRO DE JESUS 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LEI MARIA DA PENHA: AS MEDIDAS PROTETIVAS E AS PRÁTICAS DO 
SISTEMA DE JUSTIÇA 
 
 
 
 
 
 
Trabalho de Curso apresentado como 
exigência parcial, para a obtenção do grau 
no curso de Direito da Universidade de 
Franca. 
 
Orientador: Prof. Wendell Luis Rosa. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
FRANCA 
2019 
 
WENDER HENRIQUE RIBEIRO DE JESUS 
 
 
 
 
 
 
LEI MARIA DA PENHA: AS MEDIDAS PROTETIVAS E AS PRÁTICAS DO SISTEMA 
DE JUSTIÇA 
 
 
 
 
 
Orientador: ___________________________________________________ 
 Prof. Wendell Luis Rosa. 
 Instituição: Universidade de Franca 
 
 
 
 
 
Examinador(a): ________________________________________________ 
 Prof. Fábio Cantizani Gomes. 
 Instituição: Universidade de Franca 
 
 
 
 
 
 
Examinador(a): ________________________________________________ 
 Prof. Luciano Dal Sasso Masson. 
 Instituição: Universidade de Franca 
 
 
 
 
 
 
 Franca, ___/___/____ 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
DEDICO este trabalho a minha mãe Silvana, meu padrasto Wanderley 
Alves, meu pai Wanderley José, que ajudaram a conquistar meus 
objetivos, dando-me base necessária para vencer esta e todas as etapas 
que estão por vir, aos meus avós Francisco “in memoriam” e Nair, pelos 
seus conselhos e ensinamentos de toda a vida que me ajudaram ser uma 
pessoa de bem, a minha namorada Luana, pelo carinho, força e incentivo 
que me tem dado. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
AGRADEÇO este trabalho a Deus, Senhor da minha vida, que, por toda 
a minha caminhada acadêmica, guiou meus caminhos, abriu portas e me 
capacitou mesmo quando não acreditava que era capaz, à minha família, 
meu orientador Professor Wendell Luis Rosa, por me auxiliar neste 
trabalho, de modo a enriquecer este estudo e a todos que colaboraram de 
uma maneira ou de outra durante minha trajetória. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“Mesmo desacreditado e ignorado por todos, não posso desistir, pois 
para mim, vencer é nunca desistir.” 
 Albert Einstein 
 
 
RESUMO 
 
 
JESUS, Wender Henrique Ribeiro. Lei Maria da Penha: as medidas protetivas e as 
práticas do sistema de justiça. 2019. 45 f. Trabalho de Curso (Graduação em Direito) – 
Universidade de Franca, Franca. 
 
 
O presente trabalho demonstra a evolução histórica da luta das mulheres desde o início do 
Brasil colônia, época em que as mulheres já sofriam violência e abusos que nem sempre eram 
considerados como violência, já que existiam leis que autorizavam essas agressões. Tal 
evolução foi impulsionada por medidas criadas pela legislação brasileira que contou com a 
participação de organizações internacionais como a Organização das Nações Unidas (ONU) e 
também a Organização dos Estados Americanos (OEA), onde houveram tratados 
internacionais com a participação do Brasil, com intuito de trazer medidas para prevenir e 
coibir a violência contra as mulheres. Um grande marco desta evolução se deu pela criação da 
Lei 11.340/2006, conhecida como Lei Maria da Penha que teve como principal elemento o 
caso n. 12.051/OEA, cujo fundamentos se baseiam no enfrentamento da violência doméstica e 
familiar. Este estudo tem como objetivo elencar os mecanismos de proteção à mulher em 
situação de violência doméstica, com foco nas medidas protetivas juntamente com as práticas 
do sistema de justiça. Os resultados do estudo mostraram a eficácia dos meios protetivos que 
a mulher, em situação de violência doméstica poderá usar contra seu agressor, e os meios que 
a justiça usará para a aplicação das medidas protetivas. 
 
 
Palavras–chave: Lei Maria da Penha; Violência Doméstica; Medidas Protetivas. 
 
 
RESUMEM 
 
 
JESUS, Wender Henrique Ribeiro. Lei Maria da Penha: as medidas protetivas e as 
práticas do sistema de justiça. 2019. 45 f. Trabalho de Curso (Graduação em Direito) – 
Universidade de Franca, Franca. 
 
 
El presente estudio demuestra la evolución de la lucha de las mujeres desde el comienzo del 
Brasil colonia, tiempos que las mujeres ya sufrían de la violencia y del abusos no considerado 
como violência, ya que había leyes que autorizaban estas agresiones. Esta evolución fue 
conducida por la criación de medidas por ley brasileña com la participacíon de las 
Organizaciones Internacionales como Las Naciones Unidas (ONU) y la Organización de los 
Estados Americanos (OEA), que por medio de tratados internacionales com la participación 
efectiva del Brasil, com el objetivo de traer medidas a prevenir y frenar la violencia contra las 
mujeres. Un gran momento en esta evolución fue por la criación de la Ley 11.340/2006, 
conocida como Ley Maria da Penha que tenía como elemento principal el caso n. 
12.051/OEA, fundamentada frente la violencia doméstica y familiar. El presente estudio 
objetiva listar los mecanismos de protección a las mujeres em situación de violencia 
doméstica, com enfoque en las medidas de protección junto con las prácticas del sistema de 
justicia. Los resultados del estudio mostró la efectividad de los meios protectivos, en que las 
mujeres em situación de violencia doméstica usará en contra de su agressor, y los medios que 
la justicia aplicará las medidas de protección. 
 
 
Palavras–chave: Ley Maria da Penha; Violencia doméstica; Medidas de protección. 
 
 
SUMÁRIO 
 
 
INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 9 
1 A VIOLÊNCIA CONTRA AS MULHERES ...................................................... 11 
1.1 VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER E A LEGISLAÇÃO BRASILEIRA .......... 11 
1.2 VIOLÊNCIA CONTRA AS MULHERES: UMA VIOLAÇÃO DA LEGISLAÇÃO 
INTERNACIONAL DE DIREITOS HUMANOS ................................................................ 14 
2 LEI MARIA DA PENHA ..................................................................................... 17 
2.1 SURGIMENTO DA LEI N. 11.340 DE 2006 ....................................................... 17 
2.2 PRINCIPAIS MUDANÇAS E AVANÇOS DA LEI MARIA DA PENHA .......... 20 
2.3 AÇÃO DECLARATÓRIA DE CONSTITUCIONALIDADE (ADC) 19 E A AÇÃO 
DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE (ADI) 4.424 ................................................. 21 
3 A LEI MARIA DA PENHA NA PRÁTICA ....................................................... 24 
3.1 CONCEITOS E FORMAS DE VIOLÊNCIA ........................................................ 24 
3.2 AS MEDIDAS PROTETIVAS E AS PRÁTICAS DO SISTEMA DE JUSTIÇA . 28 
3.2.1 Medidas protetivas de urgência que obrigam o agressor ........................................ 30 
3.2.2 A fiscalização do cumprimento de medidas protetivas e o direito comparado ....... 33 
3.2.3 Medidas protetivas de urgência à ofendida ............................................................. 34 
3.3 VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER EM DADOS .............................................. 37 
CONCLUSÃO ...................................................................................................................... 39 
REFERÊNCIAS .................................................................................................................. 41 
ANEXO ................................................................................................................................. 45 
9 
 
 
INTRODUÇÃO 
 
 
 A Lei n. 11.340 mais conhecida como Lei Maria da Penha, é uma Lei Federal 
brasileira, criada no ano de 2006, cujo objetivo principal é estipular punição adequada e coibir 
atos de violência doméstica contra a mulher. 
 A Lei Maria da Penha trouxe mecanismos inovadores que tem ganhado 
bastante importância na sociedade atual, através de meios de inibir e combater a violência 
doméstica. Destacando-se as medidas protetivas que são aplicadas por órgãos estatais através 
do sistema de justiça, na qual seráa questão central deste trabalho. 
 O principal objetivo do trabalho é o estudo da violência doméstica, conforme a 
Lei n. 11.340/2006. Tem como finalidade investigar os meios de proteção em favor da mulher 
vítima de violência doméstica, bem como suas medidas protetivas juntamente com as práticas 
do sistema de justiça. 
 No 1° capítulo será analisado a violência contra mulher no contexto histórico 
da legislação brasileira e as violações das legislações internacionais de direitos humanos 
criadas por organizações internacionais. 
 Já no 2° capítulo, consistirá na análise do surgimento e criação da Lei 
11.340/2006 e suas principais mudanças e avanços após entrar em vigor, e porque essa Lei 
recebeu o nome de Lei Maria da Penha. 
 Finalmente no 3° capítulo, abordará a Lei Maria da Penha na prática, o que 
levará a análise de seu conceito e a violência de gênero, na qual através destas serão 
analisadas suas medidas protetivas de urgência favoráveis a vítima e contra o agressor e sua 
consequência caso descumpra tal medida, e de que forma será aplicada pelo sistema de 
justiça. 
 Também será demonstrado neste último capítulo, qual é o meio de fiscalização 
do cumprimento dessas medidas protetivas e a analise em dados sobre a violência contra a 
mulher. 
 Para o desenvolvimento da pesquisa foi utilizado o método dedutivo-
bibliográfico, realizando-se uma revisão da bibliografia com sistematização e discriminação 
dos livros e demais materiais utilizados. 
10 
 Dentre eles, foi definida a bibliografia de livros nacionais, e artigos de sites 
jurídicos da Internet. 
 Os principais diplomas utilizados foram: Constituição Federal, Lei Maria da 
Penha, Código Penal, Código Civil, A Declaração Universal dos Direitos Humanos, A 
Convenção de Belém do Pará e Código Philipino. 
 Os processos metodológicos empregados na elaboração da pesquisa foram: 
dogmático jurídico, histórico e analítico sintético. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
11 
 
 
1 A VIOLÊNCIA CONTRA AS MULHERES 
 
 
Ao longo dos tempos e nos dias atuais, a violência contra as mulheres tornou-
se um problema social de grande repercussão nacional e mundial, independentemente da 
classe social, cultural, raça, idade e etnia, atingindo meninas e mulheres e consequentemente 
causando graves problemas a saúde da mulher e gerando conflitos na sociedade. 
 
 
1.1 VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER E A LEGISLAÇÃO BRASILEIRA 
 
 
 Desde o início do Brasil colônia as mulheres já sofriam violência e abusos que 
nem sempre eram considerados como violência, já que existiam leis que autorizavam essas 
agressões. Pois no Brasil colônia vigorava o patriarcalismo brasileiro onde era conferido aos 
homens uma hierarquia de poder e domínio contra as mulheres, existindo assim, leis que 
autorizavam os maridos a castigar e até assassinar suas próprias esposas. 
 Del Priore é claro ao afirmar que: “Não importa a forma como as culturas se 
organizaram, a diferença entre masculino e feminino sempre foi hierarquizada, sobretudo 
depois de concebido o sacramento do matrimônio1.” 
 Nessa época as leis eram regidas pela legislação portuguesa trazidas para o 
Brasil, tais leis que eram chamadas de Ordenações Filipinas (Código Filipino), existiam 
artigos que rebaixava e sujeitava a mulher a obedecer ao poder disciplinar do pai ou marido e 
em alguns casos inocentava o marido pelo assassinato de sua mulher. 
 Segundo o Código Filipino: 
 
E não somente poderá marido matar sua mulher e o adultero, que achar com ella em 
adultério, mas ainda os póde licitamente matar, sendo certo que lhe commetterão 
adultério (2) ; e entendendo assi provar, e provando depois o adultério por prova 
licita e bastante conforme á Direito, será livre sem pena alguma, [...]2. 
 
 
1 DEL PRIORE, Mary. História e Conversas de Mulheres. 1. ed. São Paulo: Planeta, 2013. p. 6 
2 PORTUGAL, Ordenações Filipinas. Código Philipino. Disponível em: 
<http://bd.camara.gov.br/bd/handle/bdcamara/22786> Acesso em 19 abr. 2019. 
12 
 Com o decorrer dos séculos as mulheres conquistaram grandes avanços 
decorrente de suas lutas na história brasileira. 
No ano de 1830 o Código Criminal afasta parte das normas que autorizavam as 
punições e a morte de mulheres, por adultério. A lei tentou igualar o homem e a mulher no 
crime de adultério, onde os dois, tanto a mulher quanto o homem responderiam caso 
cometesse adultério por penas de prisão e multa juntamente com o adultero. 
Já o Código Civil de 19163, por sua vez, não avançou no que diz respeito aos 
direitos das mulheres, onde continuou a hierarquização familiar e a incapacidade da mulher 
casada, que precisava em alguns casos da autorização do marido. 
 Com o avanço do Código Criminal de 18304 excluindo a possibilidade de 
maridos matarem suas mulheres no caso de adultério, o Código Penal de 1890, trouxe no 
campo da responsabilidade criminal, que não era tido como crimes aqueles que praticavam o 
fato em completa privação de sentido e de inteligência, ou seja, as mulheres eram 
assassinadas e como tese de defesa, os advogados dos uxoricidas alegavam legítima defesa da 
honra. 
 Em seguida o Código Penal de 1940 em seu artigo 28, traz no rol dos crimes 
passionais, alegações de legítima defesa da honra, que a emoção ou a paixão não excluem a 
responsabilidade penal. 
 Segundo Mariza Correia: 
 
O período romântico acabara e, lançado o novo argumento, a absolvição tornar-se á 
um pouco mais complicada, parecendo passar a ser, de fato, privilégio de poucos, já 
que será preciso “demonstrar” não só a infidelidade da companheira, mas também a 
honorabilidade de seu assassino. A dupla definição desta honorabilidade, através do 
trabalho, do valor social do homem e da necessária fidelidade de sua companheira, 
passa a estar ligada de forma permanente na argumentação de legítima defesa da 
honra5. 
 
 Durante um longo período, era acolhida pela justiça a legítima defesa da honra 
para absolver acusados de matar as mulheres. Somente no ano de 1991, essa tese foi afastada 
por decisão do Superior Tribunal de Justiça no Recurso Especial 1.517 de 11 de março de 
1991, com o argumento de que honra é atributo pessoal e, no caso, a honra atingida é a da 
 
3 BRASIL. Lei n. 3.071, de 1 de janeiro de 1916. Disponível em: 
<https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l3071.htm> Acesso em: 19 abr. 2019. 
4 Idem, Lei de 16 de dezembro de 1830. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lim/LIM-16-
12-1830.htm> Acesso em: 19 abr. 2019. 
5 CORRÊA, Mariza. Os Crimes da Paixão. São Paulo: Brasiliense, 1981. p. 61 
13 
mulher, quem cometeu a conduta (traição), e não a do marido que poderia por outros meios 
entrar com ação de separação ou divórcio na esfera civil. 
 Conforme ementa: 
 
Recurso especial. Tribunal do júri. Duplo homicídio praticado pelo marido que 
surpreende sua esposa em flagrante adultério. Hipótese em que não se configura 
legítima defesa da honra. Decisão que se anula por manifesta contrariedade a prova 
dos autos (art. 593, parágrafo 3., do cpp). Não há ofensa a honra do marido pelo 
adultério da esposa, desde que não existe essa honra conjugal. Ela e pessoal, própria 
de cada um dos cônjuges. O marido, que mata sua mulher para conservar um falso 
credito, na verdade, age em momento de transtorno mental transitório, de acordo 
com a lição de Himenez de Asua (el criminalista, ed. Zavalia, b. Aires, 1960, t. Iv, p. 
34), desde que não se comprove ato de deliberada vingança. O adultério não coloca 
o marido ofendido em estado de legítima defesa, pela sua incompatibilidade com os 
requisitos do art. 25, do código penal. A prova dos autos conduz a autoria e a 
materialidade do duplo homicídio (mulher e amante), não a pretendida legitimidade 
da ação delituosa do marido. A lei civil aponta os caminhos da separação e do 
divórcio. Nada justifica matar a mulher que, ao adulterar, não preservou a sua 
própria honra.Nesta fase do processo, não se há de falar em ofensa a soberania do 
júri, desde que os seus veredictos só se tornam invioláveis, quando não há mais 
possibilidade de apelação. Não é o caso dos autos, submetidos, ainda, a regra do 
artigo 593, parágrafo 3., do cpp. Recurso provido para cassar a decisão do júri e o 
acordão recorrido, para sujeitar o réu a novo julgamento. (STJ – Resp: 1517 pr 
1989/0012160-0, relator: Ministro José Candido de Carvalho Filho, data de 
julgamento: 11/03/1991)6. 
 
A cada década que se passa as mulheres vem conquistando seus direitos e 
buscando seu lugar e a igualdade na sociedade ainda machista. Destacando grandes avanços 
na legislação brasileira que foram reformadas no âmbito penal, leis discriminatórias foram 
excluídas ou alteradas do ordenamento jurídico, como é exemplo o crime de adultério, 
afastado depois de muito tempo pela Lei n. 11.106 de 28 de março de 2005. 
Também houve mudança em outras áreas da legislação brasileira a exemplo da 
Lei n. 4.121 de 27 de agosto de 19627, que dispõe sobre a situação da mulher casada, onde a 
lei suprimiu a incapacidade relativa da mulher casada e elevou a condição da mulher na 
família à colaboradora do homem; a Lei n. 6.515, de 26 de dezembro de 19778, que previu o 
dever de manutenção dos filhos por ambos os cônjuges, na proporção de seus recursos, e abriu 
uma nova possibilidade de separação, que em situação de violência refletiu positivamente 
para as mulheres. 
 
6 Superior Tribunal de Justiça. Acórdão Resp 1517. Disponível em: 
<https://ww2.stj.jus.br/processo/ita/listarAcordaos?classe=&num_processo=&num_registro=198900121600&dt
_publicacao=15/04/1991> Acesso em: 27 abr. 2019. 
7 BRASIL. Lei n. 4.121, de 27 de agosto de 1962. Disponível em: 
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/1950-1969/l4121.htm> Acesso em: 27 abr. 2019. 
8 Idem, Lei n. 6.515, de 26 de dezembro de 1977. Disponível em: 
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l6515.htm> Acesso em: 27 abr. 2019. 
14 
E enfim a Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 promulgada 
em 5 de outubro daquele ano, que trouxe outros grandes marcos na luta das mulheres, cabe 
destacar os dispositivos entre eles o art. 5°, I, que trata do princípio da igualdade entre 
homens e mulheres em toda vida civil e social, inclusive no art. 226, §5°, que trata da 
sociedade conjugal e, também, o art. 226, §8° que diz: “ o Estado assegurará a assistência à 
família na pessoa de cada um dos que a integram, criando mecanismos para coibir a violência 
no âmbito de suas relações9.” 
Na figura em anexo pode-se observar alguns dos principais marcos das leis de 
Igualdade de Gênero na linha do tempo. 
Assim, existem outros marcos que foram conquistados pela luta das mulheres 
em tratados e convenções internacionais, o qual estudaremos no próximo subtítulo. 
 
 
1.2 VIOLÊNCIA CONTRA AS MULHERES: UMA VIOLAÇÃO DA LEGISLAÇÃO 
INTERNACIONAL DE DIREITOS HUMANOS 
 
 
 A violência contra as mulheres é um problema de vários países pelo mundo, 
sendo assim, trouxe vários movimentos de mulheres que lutaram pelos seus direitos em 
organizações internacionais. 
 Destaca-se duas das principais organizações que contribuíram para o avanço 
dos direitos humanos em geral e no tocante ao direito das mulheres. A mais conhecida 
mundialmente chamada de Organização das Nações Unidas (ONU) e também a Organização 
dos Estados Americanos (OEA), que na questão de violência contra as mulheres teve um 
grande papel e contribuíram nas mudanças da legislação brasileira. 
 A Organização das Nações Unidas segundo o site oficial das Nações Unidas – 
Brasil explica que: “também conhecida pela sigla ONU, é uma organização internacional 
formada por países que se reuniram voluntariamente para trabalhar pela paz e o 
desenvolvimento mundiais10”. 
 Após o surgimento da Organização das Nações Unidas (ONU) que começou a 
existir oficialmente em 1945, foi criado um dos principais e mais importantes documentos 
 
9 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em: 
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm> Acesso em: 27 abr. 2019. 
10 Organizações das Nações Unidas – Brasil. Disponível em: <https://nacoesunidas.org/conheca/> Acesso em: 28 
abr. 2019. 
15 
protetivos, conhecido como A Declaração Universal dos Direitos Humanos11 proclamada pela 
assembleia geral das Nações Unidas em 1948, trazendo sobre ela os direitos mínimos da 
pessoa humana. 
 Aos poucos, o sistema de proteção se amplia e com a grande pressão dos 
movimentos das mulheres que passou a reivindicar uma convenção específica para a 
promoção da igualdade entre homens e mulheres na vida pública e privada, a ONU criou no 
ano de 1979 a Convenção para Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra a 
Mulher, (CEDAW – sigla da Convenção em inglês), que traz em seu primeiro artigo o 
seguinte texto: 
 
Artigo 1 Para os fins da presente Convenção, a expressão "discriminação contra a 
mulher" significará toda a distinção, exclusão ou restrição baseada no sexo e que 
tenha por objeto ou resultado prejudicar ou anular o reconhecimento, gozo ou 
exercício pela mulher, independente de seu estado civil, com base na igualdade do 
homem e da mulher, dos direitos humanos e liberdades fundamentais nos campos 
político, econômico, social, cultural e civil ou em qualquer outro campo12. 
 
 A convenção foi um avanço imenso para os direitos das mulheres, assim a 
ONU é conhecida por empregar mecanismos internacionais para promover o progresso 
econômico e social de todos os povos. 
 Na luta pelos direitos das mulheres temos também a Organização dos Estados 
Americanos (OEA) que foi criada em 1948. Hoje, a OEA reúne os 35 Estados independentes 
das Américas e constitui o principal fórum governamental político, jurídico e social do 
Hemisfério. 
 Segundo a página do site oficial: “para alcançar seus objetivos mais 
importantes, a OEA baseia-se em seus principais pilares, que são democracia, direitos 
humanos, segurança e desenvolvimento13”. 
 A OEA também teve seu marco na história, adotando em 1994, a Convenção 
Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência Contra a Mulher – Convenção de 
Belém do Pará (adotada em Belém do Pará, Brasil, em 9 de junho de 1994, no Vigésimo 
Quarto Período Ordinário de Sessão da Assembleia Geral). 
 
11 Organizações das Nações Unidas. A Declaração Universal dos Direitos Humanos. Disponível em: 
<https://www.un.org/es/universal-declaration-human-rights/index.html> Acesso em: 28 abr. 2019. 
12 Unesco - Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra a Mulher. Disponível 
em: <https://unesdoc.unesco.org/ark:/48223/pf0000139389> Acesso em: 28 abr. 2019. 
13 Organização dos Estados Americanos. Disponível em: <http://www.oas.org/es/acerca/quienes_somos.asp> 
Acesso em: 28 abr. 2019. 
16 
 A Convenção traz consigo artigos que diz respeito ao entendimento da 
violência contra mulher, e assim o art. 1º e 2º da Convenção dispõe que: 
 
Artigo 1 Para os efeitos desta Convenção, entender-se-á por violência contra a mulher 
qualquer ato ou conduta baseada no gênero, que cause morte, dano ou sofrimento 
físico, sexual ou psicológico à mulher, tanto na esfera pública como na esfera privada. 
Artigo 2 Entende-se que a violência contra a mulher abrange a violência física, sexual 
e psicológica: 
a - ocorrida no âmbito da família ou unidade doméstica ou em qualquer relação 
interpessoal, quer o agressor compartilhe, tenha compartilhado ou não a sua 
residência, incluindo-se, entre outras formas, o estupro, maus-tratos e abuso sexual; 
b - ocorrida na comunidade e cometida por qualquer pessoa, incluindo, entre outras 
formas, o estupro, abuso sexual, tortura, tráfico de mulheres, prostituição forçada, 
seqüestro e assédio sexual no local de trabalho, bem como em instituições 
educacionais, serviços de saúde ou qualquer outro local; e 
c - perpetrada ou toleradapelo Estado ou seus agentes, onde quer que ocorra14. 
 
 A aceitação ao sistema internacional e regional de direitos humanos é voluntária 
e pode ser aceito a qualquer momento, mas uma vez ratificada a Convenção ou outro ato 
internacional, o país se vincula à comunidade internacional e assim fica obrigado a cumprir as 
normas acordadas que será fiscalizada por um comitê que avaliará se as normas estão sendo 
cumpridas. 
 A partir dessa Convenção da OEA deu inicio a importante lei brasileira que 
protege as mulheres contra a violência, a chama Lei Maria da Penha que será estudada no 
próximo capítulo. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
14 Comissão Internacional de Direitos Humanos. Convenção de Belém do Pará. Disponível em 
<http://www.cidh.org/Basicos/Portugues/m.Belem.do.Para.htm> Acesso em: 28 abr. 2019. 
17 
 
 
2 LEI MARIA DA PENHA 
 
 
 Decretada pelo Congresso Nacional e sancionada pelo ex-presidente Luiz Inácio 
Lula da Silva em 7 de agosto de 2006, a Lei n. 11.340 entrou em vigor no dia 22 de setembro de 
2006. 
 Ementa da lei diz: 
 
Cria mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher, nos 
termos do § 8º do art. 226 da Constituição Federal, da Convenção sobre a Eliminação 
de Todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres e da Convenção 
Internacional para Prevenir, Punir, e Erradicar a Violência contra a Mulher; dispõe 
sobre a criação dos Juizados de Violência Domésticas e Familiar contra a Mulher; 
altera o Código de Processo Penal, o Código Penal e a Lei de Execução Penal; e dá 
outras providências15. 
 
 O advento da criação da lei trouxe medidas que encorajaram as mulheres de 
buscar proteção e ajuda por meios judiciais. 
 
 
2.1 SURGIMENTO DA LEI N. 11.340 DE 2006 
 
 
 O caso n. 12.051/OEA, de Maria da Penha Maia Fernandes, foi o caso que 
incentivou a edição da Lei n. 11.340/06 que como forma de homenagem levou o nome de Lei 
Maria da Penha. 
 Maria da Penha Maia Fernandes era casada com Marcos Antônio Heredia 
Viveros que cometeu violência doméstica durante o seu casamento. Em 1983, o marido por 
duas vezes, tentou assassiná-la. Na primeira vez, com arma de fogo, e na segunda, por 
eletrocussão e afogamento16. Após essa tentativa de homicídio Maria tomou coragem e 
denunciou seu marido. A justiça brasileira demorou para resolver o caso de Maria da Penha 
 
15 BRASIL. Lei n° 11.340, de 7 de agosto de 2006. Disponível em: 
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11340.htm > Acesso em: 26 mai. 2019. 
16 Huffpost. Disponível em: <https://www.huffpostbrasil.com/2016/08/03/meu-sofrimento-se-transformou-em-
luta-diz-maria-da-penha-sob_a_21694905/> Acesso em: 28 nov. 2019. 
18 
Maia Fernandes, o que levou o começo da luta pelos seus direitos para ver o seu agressor 
condenado. 
 Em razão desse fato, foi formalizado uma denúncia à Comissão Interamericana 
de Direitos Humanos da OEA, a qual foram responsáveis pela denúncia o Centro pela Justiça 
pelo Direito Internacional (CEJIL) e o Comitê Latino – Americano de Defesa dos Direitos da 
Mulher (CLADEM), juntamente com a vítima Maria da Penha. 
 O Brasil foi condenado por não dispor de mecanismos suficientes e eficientes 
para proibir a prática de violência doméstica contra mulher, segundo consta no relatório n. 
54/01 – caso 12.051, Maria da Penha Maia Fernandes de 4 de abril de 2001. 
 Segundo à Comissão Interamericana de Direitos Humanos afirma que: 
 
43. Quanto às obrigações do Estado relativamente à circunstância de que se tenha 
abstido de agir para assegurar à vítima o exercício de seus direitos, a Corte 
Interamericana se manifestou da seguinte maneira: A segunda obrigação dos Estados 
Partes é “garantir” o livre e pleno exercício dos direitos reconhecidos na Convenção 
a toda pessoa sujeita à sua jurisdição. Essa obrigação implica o dever dos Estados 
Partes de organizar todo o aparato governamental e, em geral, todas as estruturas 
mediante as quais se manifesta o exercício do poder público, de maneira que sejam 
capazes de assegurar juridicamente o livre e pleno exercício dos direitos humanos. 
Em conseqüência dessa obrigação, os Estados devem prevenir, investigar e punir 
toda violação dos direitos reconhecidos pela Convenção e, ademais, procurar o 
restabelecimento, na medida do possível, do direito conculcado e, quando for o caso, 
a reparação dos danos produzidos pela violação dos direitos humanos. 
44. No caso em apreço, os tribunais brasileiros não chegaram a proferir uma 
sentença definitiva depois de 17 anos, e esse atraso vem se aproximando da possível 
impunidade definitiva por prescrição, com a conseqüente impossibilidade de 
ressarcimento que, de qualquer maneira, seria tardia. A Comissão considera que as 
decisões judiciais internas neste caso apresentam uma ineficácia, negligência ou 
omissão por parte das autoridades judiciais brasileira e uma demora injustificada no 
julgamento de um acusado, bem como põem em risco definitivo a possibilidade de 
punir o acusado e indenizar a vítima, pela possível prescrição do delito. Demonstram 
que o Estado não foi capaz de organizar sua estrutura para garantir esses direitos. 
Tudo isso é uma violação independente dos artigos 8 e 25 da Convenção Americana 
sobre Direitos Humanos em relação com o artigo 1(1) da mesma, e dos artigos 
correspondentes da Declaração17. 
 
 A partir do caso da Maria da Penha Maia Fernandes e após a conclusão e 
recomendações da Comissão Interamericana de Direitos Humanos da OEA, em 2002 deu início 
a movimentos de organizações não governamentais de feministas com o objetivo de criar 
medidas legais contra a violência doméstica e apresentar ao Congresso Nacional uma proposta 
de adequação legislativa, com fundamento na Constituição Federal, Art. 226, § 8° , juntamente 
com as recomendação da Convenção de Belém do Pará. 
 
17 Comissão Interamericana de Direitos Humanos. Disponível em: 
<https://www.cidh.oas.org/annualrep/2000port/12051.htm > Acesso em: 26 mai. 2019. 
19 
 Dentre os projetos que foram estudados e criados por ongs, teve um grande 
reflexo a Lei n. 9.099, de 26 de setembro de 1995, que dispõe sobre Juizados Especiais Cíveis e 
Criminais, onde os crimes cometidos pela violência doméstica eram julgados pelo Juizado 
Especial Criminal (JECrim), que em primeiro momento pareceu interessante ter uma resposta 
rápida do poder judiciário, mais que no caso da violência doméstica eram julgados como crime 
de menor potencial ofensivo, ou seja, a época eram as contravenções penais que a lei comine 
pena máxima não superior a um ano, portanto os agressores em muitas vezes não eram 
condenados e quando era condenado, recebia como pena o pagamento de uma cesta básica para 
alguma instituição. 
 Conforme afirma Myllena Calazans e Iáris Cortes: 
 
No balanço dos efeitos da aplicação da Lei 9.099/1995 sobre as mulheres, diversos 
grupos feministas e instituições que atuavam no atendimento a vítimas de violência 
doméstica constataram uma impunidade que favorecia os agressores. Cerca de 70% 
dos casos que chegavam aos juizados especiais tinham como autoras mulheres 
vítimas de violência doméstica. Além disso, 90% desses casos terminavam em 
arquivamento nas audiências de conciliação sem que as mulheres encontrassem uma 
resposta efetiva do poder público à violência sofrida. Nos poucos casos em que 
ocorria a punição do agressor, este era geralmente condenado a entregar uma cesta 
básica a alguma instituição filantrópica. Os juizados especiais, no que pese sua 
grande contribuição para a agilização de processos criminais, incluíam no mesmo 
bojo rixas entre motoristas ou vizinhos, discussões sobre cercas ou animais e lesões 
corporais em mulheres por parte de companheiros ou maridos. Com exceção do 
homicídio, do abuso sexual e das lesões mais graves, todas as demais formas de 
violência contra a mulher, obrigatoriamente, eram julgadas nos juizados especiais, 
onde, devido a seu peculiar ritmo de julgamento, não utilizavamo contraditório, a 
conversa com a vítima e não ouviam suas necessidades imediatas ou não18. 
 
 Sendo assim, a Lei n. 9.099/1995, não respondia com o anseio das mulheres 
em ter medidas adequadas para ver o Estado punir o sujeito que cometesse o crime de 
violência doméstica. O Brasil ao ratificar a Convenção de Belém do Pará, gerou uma 
obrigação de tomar providencias contra a violência doméstica. 
 Então as ongs criaram um anteprojeto após alguns anos de estudo, para que 
pudesse ser criada uma lei específica. Foi apresentada segundo Calazans e Cortes, as 
seguintes propostas: 
 
a. conceituação da violência doméstica contra a mulher com base na Convenção de 
Belém do Pará, incluindo a violência patrimonial e moral; 
b. criação de uma Política Nacional de combate à violência contra a mulher; 
c. medidas de proteção e prevenção às vítimas; 
 
18 MATOS, Myllena Calazans; CORTES, Iáris. O Processo de Criação, Aprovação e 
Implementação da lei Maria da Penha. In: CAMPOS, Carmem Hein de. Lei Maria da 
Penha: comentada em uma Perspectiva jurídico-Feminina. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2011. P. 42 
20 
d. medidas cautelares referentes aos agressores; 
e. criação de serviços públicos de atendimento multidisciplinar; 
f. assistência jurídica gratuita para a mulheres; 
g. criação de um Juízo Único com competência cível e criminal através de Varas 
Especializadas, para julgar os casos de violência doméstica contra as mulheres e 
outros relacionados; 
h. não aplicação da Lei 9.099/1995 – Juizados Especiais Criminais – nos casos de 
violência doméstica contra as mulheres19. 
 
 Após vários estudos e debates que envolveram várias entidades do direito 
público e da sociedade em geral, principalmente de ongs e feministas que lutavam pelos 
direitos das mulheres, foi apresentada no Plenário da Câmara dos Deputados, no dia 3 de 
dezembro de 2004, o projeto de lei para o enfrentamento da violência doméstica e familiar, 
recebendo o número 4559/2004. 
 Na Câmara dos Deputados o PL 4559/200420 foi aprovado, seguindo para o 
Senado Federal no dia 30 de março de 2006, e no dia seguinte a PL 4559/2006, chegou à 
Subsecretaria de Coordenação Legislativa do Senado Federal, recebendo o número PLC 
37/2006.21 No Senado Federal também foi aprovado e encaminhado ao Presidente da 
República para a sanção presidencial. 
 Portanto, no dia 7 de agosto de 2006, o Presidente da República sancionou a 
nova lei aprovada pelo Congresso Nacional e conforme recomendação da OEA no caso Maria 
da Penha Fernandes, decidiu então de forma simbólica, nomeando a nova Lei n. 11.340/2006 
de Lei Maria da Penha. 
 
 
2.2 PRINCIPAIS MUDANÇAS E AVANÇOS DA LEI MARIA DA PENHA 
 
 
 Após a sanção Presidencial e com a entrada em vigor da nova Lei Maria da 
Penha, foram trazidos com ela novas mudanças e avanços na legislação brasileira. 
 Como previsto, uma das principais mudanças e que teve um grande avanço foi 
a ruptura com o modelo da Lei n. 9.099/1995, onde a maioria dos crimes praticados em 
 
19 MATOS, Myllena Calazans; CORTES, Iáris. O Processo de Criação, Aprovação e 
Implementação da lei Maria da Penha. In: CAMPOS, Carmem Hein de. Lei Maria da 
Penha: comentada em uma Perspectiva jurídico-Feminista. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2011. P. 44 
20 Câmara dos Deputados. Projeto de Lei 4559/2004. Disponível em: 
<https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=272058> Acesso em: 4 jun. 2019. 
21 Senado Federal. Projeto de Lei da Câmara n. 37, de 2006. Disponível em: 
<https://www25.senado.leg.br/web/atividade/materias/-/materia/77244> Acessado em: 4 jun. 2019. 
 
21 
situação de violência doméstica e familiar contra a mulher era admitida como crime de menor 
potencial ofensivo, e hoje a Lei Maria da Penha, Lei n. 11.340/06 traz em seu art. 41, o 
afastamento da Lei n. 9.099/1995. 
 Destaca-se também o artigo 17 da Lei, pois teve bastante relevância, ao trazer a 
proibição de pagamento de cestas básicas, multas ou quaisquer outras penas pecuniárias. 
 A Lei Maria da Penha trouxe em seu artigo 29 e seguintes a equipe de 
atendimento multidisciplinar, integrada por profissionais especializados nas áreas 
psicossocial, jurídica e de saúde, voltados para a ofendida, o agressor e os familiares, com 
especial atenção às crianças e aos adolescentes. 
 Recentemente foram incluídos e alterados artigos e incisos da Lei Maria da 
Penha, com a intensão de trazer melhores meios para combater a violência doméstica e de 
passar maior segurança à ofendida. 
 Algumas dessas mudanças foram acrescentadas pela Lei n. 13.880, de outubro 
de 2019, o inciso VI-A no artigo 12 e o inciso IV no artigo 18, dispondo que o juiz, ao receber 
os autos constando que o suposto agressor possui registro de porte ou posse de arma de fogo, 
deverá determinar, como medida cautelar, a apreensão imediata de arma de fogo sob a posse 
do agressor. 
 Outra alteração feita na Lei Maria da Penha foi a introdução da Lei n. 13.827, 
de 13 de maio de 2019, que inseriu o artigo 12-C, a mulher que é vítima de violência 
doméstica passa a ter a seu favor uma medida protetiva concernente ao imediato afastamento 
do agressor do lar ou local de convivência com a ofendida, nos casos em que há risco atual e 
iminente de vida ou à integridade física da mulher e seus familiares, ou seus dependentes. 
Essa medida poderá ser aplicada pela autoridade judicial, pelo delegado de polícia, quando o 
Município não for sede de comarca e pelo policial, quando o Município não for sede de 
comarca e não houver delegado disponível no momento da denúncia. 
 
 
2.3 AÇÃO DECLARATÓRIA DE CONSTITUCIONALIDADE (ADC) 19 E A AÇÃO 
DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE (ADI) 4.424 
 
 
22 
 Após entrada em vigor, a Lei Maria da Penha foi bastante contestada pela 
jurisprudência e por parte da doutrina quanto à sua constitucionalidade22. 
 Diante deste fato, foram criadas propostas perante o Supremo Tribunal Federal 
(STF), através da Ação Declaratória de Constitucionalidade (ADC) 19, pelo então Presidente 
da República Luiz Inácio Lula da Silva, no ano de 2007. 
 Tal ação visava eliminar a controvérsia referente ao art. 1° da Lei Maria da 
Penha, à suposta ofensa ao princípio da igualdade entre mulher e homem, a competência da 
qual o art. 33 menciona e o art. 41, que trata do afastamento da Lei n. 9.099/1995. 
 Conforme ementa: 
 
VIOLÊNCIA DOMÉSTICA – LEI Nº 11.340/06 – GÊNEROS MASCULINO E 
FEMININO – TRATAMENTO DIFERENCIADO. O artigo 1º da Lei nº 11.340/06 
surge, sob o ângulo do tratamento diferenciado entre os gêneros – mulher e homem 
–, harmônica com a Constituição Federal, no que necessária a proteção ante as 
peculiaridades física e moral da mulher e a cultura brasileira. COMPETÊNCIA – 
VIOLÊNCIA DOMÉSTICA – LEI Nº 11.340/06 – JUIZADOS DE VIOLÊNCIA 
DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A MULHER. O artigo 33 da Lei nº 
11.340/06, no que revela a conveniência de criação dos juizados de violência 
doméstica e familiar contra a mulher, não implica usurpação da competência 
normativa dos estados quanto à própria organização judiciária. VIOLÊNCIA 
DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A MULHER – REGÊNCIA – LEI Nº 
9.099/95 – AFASTAMENTO. O artigo 41 da Lei nº 11.340/06, a afastar, nos crimes 
de violência doméstica contra a mulher, a Lei nº 9.099/95, mostra-se em 
consonância com o disposto no § 8º do artigo 226 da Carta da República, a prever a 
obrigatoriedade de o Estado adotar mecanismos que coíbam a violência no âmbito 
das relações familiares. 
(ADC 19, Relator(a): Min. MARCO AURÉLIO, Tribunal Pleno, julgado em 
09/02/2012, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-080 DIVULG 28-04-2014 PUBLIC 
29-04-2014)23. 
 
 Além da ADC 19, a Procuradoria-Geral da República (PGR) propôs a Ação 
Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 4.424, que objetivava fazer uma interpretação 
conforme a Constituição dos artigos 12, I, 16 e 41, todos da Lei Maria da Penha, e assim, 
pediu ao Supremo Tribunal Federal para pacificar o entendimento relativo à necessidade ounão de representação da ofendida nos crimes de lesão corporal leve praticados em situação de 
violência doméstica24. 
 Conforme emenda: 
 
 
22 BIANCHINI, Alice. Coleção Saberes Monográficos - Lei Maria da Penha. 4. ed. São Paulo: Saraiva 
Educação, 2018. p. 266 
23 Supremo Tribunal Federal. Ação Declaratória de Constitucionalidade 19. Disponível em: 
<http://stf.jus.br/portal/jurisprudencia/listarJurisprudencia.asp?s1=%28ADC%24%2ESCLA%2E+E+19%2ENU
ME%2E%29+OU+%28ADC%2EACMS%2E+ADJ2+19%2EACMS%2E%29&base=baseAcordaos&url=http://
tinyurl.com/aylbg5b> Acesso em: 4 dez. 2019. 
24 Ibidem, p. 268 
23 
AÇÃO PENAL – VIOLÊNCIA DOMÉSTICA CONTRA A MULHER – LESÃO 
CORPORAL – NATUREZA. A ação penal relativa a lesão corporal resultante de 
violência doméstica contra a mulher é pública incondicionada – considerações. 
(ADI 4424, Relator(a): Min. MARCO AURÉLIO, Tribunal Pleno, julgado em 
09/02/2012, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-148 DIVULG 31-07-2014 PUBLIC 
01-08-2014)25. 
 
 As ações foram apreciadas, conjuntamente, pelo Plenário do Supremo tribunal 
Federal. A Ação Declaratória de Constitucionalidade 19 que ficou conhecida como ADC 19, 
foi julgada procedente por unanimidade. 
 Conforme decisão: 
 
O Tribunal, por unanimidade e nos termos do voto do Relator, julgou procedente a 
ação declaratória para declarar a constitucionalidade dos artigos 1º, 33 e 41 da Lei nº 
11.340/2006 (Lei Maria da Penha). Votou o Presidente, Ministro Cezar Peluso. 
Falaram, pelo Ministério Público Federal (ADI 4424), o Dr. Roberto Monteiro 
Gurgel Santos, Procurador-Geral da República; pela Advocacia-Geral da União, a 
Dra. Grace Maria Fernandes Mendonça, Secretária-Geral de Contencioso; pelo 
interessado (ADC 19), Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil, o Dr. 
Ophir Cavalcante Júnior e, pelo interessado (ADI 4424), Congresso Nacional, o Dr. 
Alberto Cascais, Advogado-Geral do Senado. Plenário, 09.02.201226. 
 
 Já a Ação Direta de Inconstitucionalidade conhecida como ADI 4.424, por 
maioria dos votos, também foi julgada procedente a ação direta no dia 9 de fevereiro de 2012. 
 É o que diz a decisão: 
 
O Tribunal, por maioria e nos termos do voto do Relator, julgou procedente a ação 
direta para, dando interpretação conforme aos artigos 12, inciso I, e 16, ambos da 
Lei nº 11.340/2006, assentar a natureza incondicionada da ação penal em caso de 
crime de lesão, pouco importando a extensão desta, praticado contra a mulher no 
ambiente doméstico, contra o voto do Senhor Ministro Cezar Peluso (Presidente). 
Falaram, pelo Ministério Público Federal (ADI 4424), o Dr. Roberto Monteiro 
Gurgel Santos, Procurador-Geral da República; pela Advocacia-Geral da União, a 
Dra. Grace Maria Fernandes Mendonça, Secretária-Geral de Contencioso; pelo 
interessado (ADC 19), Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil, o Dr. 
Ophir Cavalcante Júnior e, pelo interessado (ADI 4424), Congresso Nacional, o Dr. 
Alberto Cascais, Advogado-Geral do Senado. Plenário, 09.02.201227. 
 
Assim, no próximo capítulo serão debatidos como a Lei Maria da Penha é na prática, as 
medidas protetivas e as práticas do sistema de justiça. 
 
25 Supremo Tribunal Federal. Ação Direta de Inconstitucionalidade 4.424. Disponível em: 
<http://stf.jus.br/portal/jurisprudencia/listarJurisprudencia.asp?s1=%28ADI%24%2ESCLA%2E+E+4424%2EN
UME%2E%29+OU+%28ADI%2EACMS%2E+ADJ2+4424%2EACMS%2E%29&base=baseAcordaos&url=htt
p://tinyurl.com/b5n6sld> Acesso em: 4 dez. 2019. 
26 Idem. Decisão ADC 19. Disponível em: 
<http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=5719497> Acesso em: 4 dez. 2019. 
27 Idem. Decisão ADI 4.424. Disponível em: 
<http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=6393143> Acesso em 4 dez. 2019. 
24 
 
 
3 A LEI MARIA DA PENHA NA PRÁTICA 
 
 
 Neste capítulo será abordado um pouco mais sobre os aspectos da Lei Maria da 
Penha, os conceitos e forma de violência contra as mulheres, a prevenção, proteção, as 
medidas protetivas e as práticas do sistema de justiça. 
 
 
3.1 CONCEITOS E FORMAS DE VIOLÊNCIA 
 
 
 O objetivo da Lei Maria da Penha é coibir e prevenir a violência de gênero no 
âmbito doméstico, familiar ou de uma relação íntima de afeto. O art. 5°, caput da Lei Maria 
da Penha, não trata de toda a violência contra a mulher, mas somente daquela baseada no 
gênero. 
 Para Maria Amélia Teles e Mônica de Melo, a violência de gênero representa: 
 
Uma relação de poder de dominação do homem e de submissão da mulher. 
Demonstra que os papéis impostos às mulheres e aos homens, consolidados ao longo 
da história e reforçados pelo patriarcado e sua ideologia, induzem relações violentas 
entre os sexos28. 
 
 No entanto, existe uma limitação para a aplicação das normas contidas na Lei 
Maria da Penha referente ao contexto em que a violência tenha ocorrido. A violência tem 
como base uma questão de gênero, e além disso, há exigências para que a Lei Maria da Penha 
tenha de incidir com o contexto que a violência ocorreu. 
 Tem como exigência três situações, ele há de ser doméstico ou familiar da ação 
ou por ocasião de uma relação íntima de afeto. Essas incidências encontram-se no Art. 5° da 
Lei Maria da Penha, que segundo seus incisos diz: 
 
I - no âmbito da unidade doméstica, compreendida como o espaço de convívio 
permanente de pessoas, com ou sem vínculo familiar, inclusive as esporadicamente 
agregadas; 
 
28 TELES, Maria A. de Almeida. MELO, Mônica. O que é violência contra a mulher. São Paulo: Brasiliense, 
2002. 
25 
II - no âmbito da família, compreendida como a comunidade formada por indivíduos 
que são ou se consideram aparentados, unidos por laços naturais, por afinidade ou 
por vontade expressa; 
III - em qualquer relação intima de afeto, na qual o agressor conviva ou tenha 
convivido com a ofendida, independentemente de coabitação29. 
 
 A Lei Maria da Penha aplica-se especial proteção à mulher vítima de violência 
no ambiente doméstico e familiar, ao passo que a proteção conferida pela Convenção de 
Belém do Pará é mais abrangente, ou seja, protege a mulher de qualquer tipo de violência. 
 Para que haja incidência da Lei Maria da Penha e sujeição do autor da agressão 
a todas as implicações que decorrem da Lei Maria da Penha, é necessário que a mulher 
pertença à família, ou seja, ostente estreita ligação com os demais membros da unidade 
doméstica. Tal assertiva não exige que haja apenas ligação por laços naturais, sendo possível, 
nos termos do art. 5º, I, que seja por afinidade ou vontade expressa. 
 A Lei Maria da Penha exige, portanto, ligação entre a mulher ofendida e o 
autor da agressão, razão pela qual se a mulher agredida não pertencer ao ambiente doméstica 
não há que se falar em aplicação da Lei Maria da Penha. Da mesma forma, se a companheira 
ou esposa for agredida na rua ou em um estabelecimento comercial, por exemplo, haverá 
incidência da Lei Maria da Penha em razão da ligação entre autor da agressão e a mulher 
vítima. 
 Outro assunto que teve bastante repercussão a respeito do Art. 5º da Lei Maria 
da Penha, discutida no seguinte aspecto, se a lei exigia ou não a coabitação entre autor e 
vítima nos casos de relação de namorados ou ex-namorados para a aplicação da Lei Maria da 
Penha, o que obrigou o Superior Tribunal de Justiça a elaborar a Súmula 600 que trata do 
requisito de coabitação que diz: “Súmula 600: Para configuração da violência doméstica e 
familiar prevista no artigo 5º da Lei n. 11.340/2006 (Lei Maria da Penha) não se exige a 
coabitação entre autor e vítima. (Súmula 600, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 22/11/2017, 
DJe 27/11/2017)”30. 
 Já o Art. 7º da Lei n. 11.340/06 (Lei Maria da Penha), traz expressamente as 
formas de violência contra a mulher, cinco são as formas de violência mencionadas na lei: 
física, psicológica, sexual, patrimonial e moral. O rol é meramente ilustrativo, visto que o 
 
29 BRASIL. Lei n° 11.340, de 7 de agosto de 2006. Disponível em: 
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2006/Lei/L11340.htm#art46>Acesso 19 jun. 2019. 
30 Superior Tribunal de Justiça. Súmula 600. Disponível em: 
<https://scon.stj.jus.br/SCON/sumanot/toc.jsp?livre=(sumula%20adj1%20%27600%27).sub.#TIT1TEMA0> 
Acesso em: 23 jun. 2019. 
26 
dispositivo faz menção à expressão “entre outra”, ou seja, pode ser incluída outras formas que 
não sejam mencionadas no mesmo artigo. 
 Alice Bianchini, traz exemplo do que poderia ser incluída na expressão “entre 
outra” do caput do Art. 7º da Lei Maria da Penha: 
 
Como exemplo de forma de violência não expressamente mencionada pela Lei, pode 
ser citada a violência espiritual (destruir as crenças culturais ou religiosas ou obrigar 
a que se aceite um determinado sistema de crenças), sempre que ela se basear em 
uma questão de gênero. Exemplo clássico é o do marido que exige que a mulher 
professe determinado credo, entendendo que ela, por conta de sua situação de 
casada, não pode escolher a sua religião31. 
 
 Conforme mencionado acima, a lei trouxe ilustrativamente cinco formas de 
violência de gênero contra mulher, que será analisado conforme expresso no art. 7º da Lei 
Maria da Penha: 
 
Art. 7º São formas de violência doméstica e familiar contra a mulher, entre outras: 
I – a violência física, entendida como qualquer conduta que ofenda sua integridade 
ou saúde corporal; 
II – a violência psicológica, entendida como qualquer conduta que lhe cause dano 
emocional e diminuição da autoestima ou que lhe prejudique e perturbe o pleno 
desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas ações, comportamentos, 
crenças e decisões, mediante ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação, 
isolamento, vigilância constante, perseguição contumaz, insulto, chantagem, 
violação de sua intimidade, ridicularização, exploração e limitação do direito de ir e 
vir ou qualquer outro meio que lhe cause prejuízo à saúde psicológica e à 
autodeterminação; 
III – a violência sexual, entendida como qualquer conduta que a constranja a 
presenciar, a manter ou a participar de relação sexual não desejada, mediante 
intimidação, ameaça, coação ou uso da força; que a induza a comercializar ou a 
utilizar, de qualquer modo, a sua sexualidade, que a impeça de usar qualquer método 
contraceptivo ou que a force ao matrimônio, à gravidez, ao aborto ou à prostituição, 
mediante coação, chantagem, suborno ou manipulação; ou que limite ou anule o 
exercício de seus direitos sexuais e reprodutivos; 
IV – a violência patrimonial, entendida como qualquer conduta que configure 
retenção, subtração, destruição parcial ou total de seus objetos, instrumentos de 
trabalho, documentos pessoais, bens, valores e direitos ou recursos econômicos, 
incluindo os destinados a satisfazer suas necessidades; 
V – a violência moral, entendida como qualquer conduta que configure calúnia, 
difamação ou injúria32. 
 
 Inciso I, a violência física, compreendida como qualquer conduta que ofenda 
sua integridade ou saúde corporal. Por meio de socos, empurrões, facadas, tapas, surras, 
 
31 BIANCHINI, Alice. Coleção Saberes Monográficos - Lei Maria da Penha. 4. ed. São Paulo: Saraiva 
Educação, 2018. p. 50 
32 BRASIL. Lei n° 11.340, de 7 de agosto de 2006. Disponível em: 
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11340.htm#art46 > Acesso 23 jun. 2019. 
27 
queimaduras, asfixia, ou outras agressões. Podem ser tipificadas como lesão corporal, tortura 
ou feminicídio. 
 Inciso II, a violência psicológica, entendida como qualquer conduta que lhe 
cause diminuição da autoestima e danos emocional ou que lhe prejudique e perturbe o pleno 
desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas ações, comportamentos, crenças e 
decisões. 
 Mediante ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento, 
vigilância constante, perseguição contumaz, insulto, chantagem, violação de sua intimidade, 
ridicularização, exploração e limitação do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe 
cause prejuízo à saúde psicológica e à autodeterminação. 
 Inciso III, violência sexual, entendida como qualquer conduta que a constranja 
a presenciar, a manter ou a participar de relação sexual não desejada. 
 Mediante intimidação, ameaça, coação ou uso da força; que a induza a 
comercializar ou a utilizar, de qualquer modo, a sua sexualidade, que a impeça de usar 
qualquer método contraceptivo ou que a force ao matrimônio, à gravidez, ao aborto ou à 
prostituição, mediante coação, chantagem, suborno ou manipulação; ou que limite ou anule o 
exercício de seus direitos sexuais e reprodutivos. 
 Nessa modalidade se encontram as diversas formas de estupro nas relações 
domésticas e familiares, entre as quais o estupro de vulnerável, menor de 14 anos, e estupro 
nas relações conjugais. 
 Nem sempre as mulheres reconhecem como violência a relação sexual não 
desejada nas relações afetivas. 
 Segundo Valéria Fernandes: 
 
A sexualidade é para o homem a principal manifestação do poder masculino. A 
noção de que a mulher lhe pertence e deve servi-lo faz com que o estupro dentro do 
casamento ou da união estável seja considerado ato normal entre os parceiros. Nem 
mesmo a vítima, muitas vezes, tem a noção de que pode se recusar à pratica 
sexual33. 
 
 Inciso IV, a violência patrimonial, entendida como qualquer conduta que 
configure retenção, subtração, destruição parcial ou total de seus objetos, instrumentos de 
trabalho, documentos pessoais, bens, valores e direitos ou recursos econômicos, incluindo os 
destinados a satisfazer suas necessidades. 
 
33 FERNANDES, Valéria Diez Scarance. Lei Maria da Penha: O Processo Penal no Caminho da Efetividade: 
Abordagem Jurídica e Multidisciplinar. São Paulo: Atlas. 2015. p. 99 
28 
 É de suma importância tal preocupação, posto que a ausência de autonomia 
econômica e financeira da mulher contribui para sua subordinação e submissão, ao 
enfraquece-la, colocando-a em situação de vulnerabilidade. 
 Conforme afirma Virgínia Feix: 
 
A retenção, subtração ou destruição de bens, ainda que parcial, e o impedimento a 
sua utilização enfraquecem e a colocam em situação de vulnerabilidade, atingindo 
diretamente a segurança e dignidade, pela redução ou impedimento da capacidade de 
tomar decisões independentes e livres, podendo ainda alimentar outras formas de 
dependência como a psicológica. 
Também o abandono material decorrente do não pagamento de pensão alimentícia 
ou prejuízo financeiro infligido como castigo pela iniciativa na separação devem ser 
considerados formas de retenção ou subtração de recursos financeiros necessário 
para satisfação de suas necessidades, caracterizando a violência patrimonial, referida 
na lei34. 
 
 E inciso V, a violência moral, entendida como qualquer conduta que configure 
calúnia, difamação ou injúria. 
 Por meio de conduta que ofenda a dignidade ou o decoro, consistente na 
imputação falsa de fato criminoso ou divulgação de fatos que ofendam a reputação. 
 
 
3.2 AS MEDIDAS PROTETIVAS E AS PRÁTICAS DO SISTEMA DE JUSTIÇA 
 
 
 As medidas protetivas foram criadas pelo legislador visando a proteção da 
mulher em situação de violência doméstica. A Lei Maria da Penha traz medidas que são de 
urgência relacionadas à ofendida e também medidas protetivas de urgência que obrigam o 
agressor a cumprir determinadas ordens. 
 A pedido da ofendida ou requerimento do Ministério Público, o juiz poderá 
conceder as medidas protetivas de urgência de imediato, sem a necessidade de audiência das 
partes e de manifestação do Ministério Público, que serão aplicadas isolada ou 
cumulativamente, podendo ser revista aquelas medidas já concedidas ou aplicar outras 
medidas protetivas de maior eficácia, caso a lei seja violada. 
 
34 FEIX, Virginia. Das formas de violência contra a mulher – art. 7º. In: CAMPOS, Carmen Hein de. Lei Maria 
da Penha comentada em uma perspectiva jurídico-feminista. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2011. p. 208 
29 
 O agressor que violar tal medida protetiva aplicada, o juiz poderá concedera 
prisão preventiva, de ofício, a requerimento do Ministério Público ou mediante representação 
de autoridade policial, em qualquer fase do inquérito policial ou da instrução criminal. 
 É o que diz a emenda: 
 
DESCUMPRIMENTO DE MEDIDA PROTETIVA. PRISÃO PREVENTIVA. 
Cabimento: “o paciente, após ter sido informado acerca das medidas protetivas 
deferidas em favor de sua ex-companheira, continuou a perturbar esta. 2. Não se 
pode olvidar que diante dos dispositivos da lei 11.340/06 e o ocorrido no caso 
concreto, o decreto de provisória segregação [era] medida imperativa, muito bem 
perpetrada pelo magistrado que conduz o feito. 3. Nada adiantaria existir as medidas 
protetivas de urgência previstas na lei maria da penha se estas pudessem ser 
desrespeitadas pelos agressores sem consequência alguma. 4. Adequada à hipótese 
dos autos a prisão preventiva, que encontra o devido amparo legal, não identificando 
qualquer ilegalidade a ser sanada pela presente ação constitucional; 5. Ordem 
conhecida e denegada” (TJMA, HC 0026349-75.2009.8.10.0000, Relator: 
Desembargador Raimundo Nonato Magalhães Melo, julgado em 13/01/2010)35. 
 
 Recentemente a Lei n. 13.641, de 3 de abril de 2018, altera a Lei Maria da 
Penha, para tipificar o crime de descumprimento de medidas protetivas de urgência, previsto 
no artigo 24-A na seção IV do Capítulo II da Lei. 
 O art. 24-A dispõe que: 
 
Art. 24-A. Descumprir decisão judicial que defere medidas protetivas de urgência 
previstas nesta Lei: 
Pena – detenção, de 3 (três) meses a 2 (dois) anos. 
§ 1º A configuração do crime independe da competência civil ou criminal do juiz 
que deferiu as medidas. 
§ 2º Na hipótese de prisão em flagrante, apenas a autoridade judicial poderá 
conceder fiança. 
§ 3º O disposto neste artigo não exclui a aplicação de outras sanções cabíveis36. 
 
 Trata-se de crime próprio, pois só pode ser cometido por quem deve 
observância às medidas protetivas decretas. 
 A Lei Maria da Penha prevê dois tipos de medidas protetivas de urgência, estas 
divididas em medidas protetivas de urgência que obrigam o agressor, usada contra o autor da 
violência e medidas protetivas de urgência à ofendida, para mulher em situação de violência. 
 
 
 
35 Portal do Poder Judiciário do Estado de Maranhão. Disponível em: <http://www.tjma.jus.br/> Acesso em: 23 
out. 2019. 
36 BRASIL. Lei n. 13.641, de 3 de abril de 2018. Disponível em: 
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2018/lei/l13641.htm> Acesso 25 nov. 2019. 
30 
3.2.1 Medidas protetivas de urgência que obrigam o agressor 
 
 
 A Lei Maria da Penha traz em seu art. 22, as medidas protetivas que obrigam o 
agressor, resguardando assim a vítima de violência doméstica. 
 Estabelece o art. 22 que: 
 
Art. 22. Constatada a prática de violência doméstica e familiar contra a mulher, nos 
termos desta Lei, o juiz poderá aplicar, de imediato, ao agressor, em conjunto ou 
separadamente, as seguintes medidas protetivas de urgência, entre outras: 
I - suspensão da posse ou restrição do porte de armas, com comunicação ao órgão 
competente, nos termos da Lei n. 10.826, de 22 de dezembro de 2003; 
II - afastamento do lar, domicílio ou local de convivência com a ofendida; 
III - proibição de determinadas condutas, entre as quais: 
a) aproximação da ofendida, de seus familiares e das testemunhas, fixando o limite 
mínimo de distância entre estes e o agressor; 
b) contato com a ofendida, seus familiares e testemunhas por qualquer meio de 
comunicação; 
c) freqüentação de determinados lugares a fim de preservar a integridade física e 
psicológica da ofendida; 
IV - restrição ou suspensão de visitas aos dependentes menores, ouvida a equipe de 
atendimento multidisciplinar ou serviço similar; 
V - prestação de alimentos provisionais ou provisórios37. 
 
 A suspensão da posse ou restrição do porte de armas deverá ser acompanhada 
da comunicação ao órgão competente, nos termos da Lei n. 10.826/2003. 
 Tal medida está relacionada à posse e porte de arma de fogo, quando há 
respectivamente registro e autorização. A Lei Maria da Penha determina que o juiz 
comunique aos respectivos órgãos segundo qual a Lei n. 10.826/2003, no caput e incisos do 
art. 6º, onde encontra-se o agressor nas condições mencionada na lei. 
 Essa medida é de suma importância no sentido de evitar a prática de uma 
violência ou a sua reiteração, afirmado por Valéria Fernandes: 
 
Essa medida cautelar é muito importante para a efetividade da proteção da mulher. 
A presença de arma de fogo no contexto da violência pode levar a um resultado mais 
gravoso, tornando-se prudente evitar que o agressor tenha à sua disposição 
instrumento capaz de matar a vítima. Assim, além de determinar a cautela, o juiz 
deverá ordenar a busca e apreensão da arma nos termos do art. 240, §1°, d, do 
Código de Processo Penal38. 
 
 
37 BRASIL. Lei n° 11.340, de 7 de agosto de 2006. Disponível em: 
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2006/Lei/L11340.htm#art46> Acesso 24 out. 2019. 
38 FERNANDES, Valéria Diez Scarance. Lei Maria da Penha: O Processo Penal no Caminho da Efetividade: 
Abordagem Jurídica e Multidisciplinar. São Paulo: Atlas. 2015. p. 153 
31 
 O afastamento do lar, domicílio ou local de convivência com a ofendida, foi 
uma medida que modificou o art. 69, parágrafo único, da Lei n. 9.099/1995, modificação essa 
dada pela Lei n. 10.455 de 13 de maio de 2002, possibilitando o afastamento do agressor do 
lar para os casos de violência doméstica. 
 Afastar o agressor do lar é uma medida que se dá para preservar a vítima de 
possíveis agressões psicológicas e físicas após a denúncia, com objetivo de trazer mais 
tranquilidade e prevenção para a vítima, e muita das vezes evitando que o agressor possa 
destruir seu patrimônio mantendo assim o bem preservado. 
 Foi o que ocorreu no caso RHC 26.499, julgado no Superior Tribunal de 
Justiça, em que a medida de afastamento do lar foi utilizada após o agressor ameaçar a 
mulher, mãe de seus filhos, de quem está separado de fato. Cita-se: 
 
PROCESSUAL PENAL. RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. LEI 
MARIA DA PENHA. MEDIDAS PROTETIVAS. CONSTRANGIMENTO 
ILEGAL. AUSÊNCIA DE FUNDAMENTAÇÃO. INOCORRÊNCIA. EXCESSO 
DE PRAZO PARA A INSTAURAÇÃO DO INQUÉRITO POLICIAL. 
SUPRESSÃO DE INSTÂNCIA. RECURSO DESPROVIDO. I - A manutenção da 
medida protetiva combatida encontra fundamento, precipuamente, na necessidade de 
garantia da segurança pessoal da ora recorrida, em razão, principalmente, da suposta 
ameaça de morte que estaria sofrendo. II - In casu, foram aplicadas ao recorrente as 
medidas protetivas de urgência previstas no art. 22, incisos II e III, da Lei n. 
11.340/06 (Lei Maria da Penha), uma vez que teria praticado, em tese, o delito 
tipificado no art. 7º do mesmo diploma legal. III - Dessa forma, devidamente 
fundamentada a manutenção da medida protetiva ora imposta (afastamento do lar), 
pelo que não se vislumbra, na hipótese e por ora, configurado constrangimento 
ilegal. IV - Impossibilidade de análise do alegado excesso de prazo para instauração 
de inquérito policial, sob pena de supressão de instância (precedente). Recurso 
ordinário desprovido. (STJ, RHC 41.826/BA, 5ª Turma, julgado 28/04/2015, DJe 
21/05/2015)39. 
 
 Já o inciso III do art. 22 da Lei Maria da Penha, traz algumas proibições de 
determinadas condutas em suas alíneas as quais mencionaremos nos próximos parágrafos. 
 Proibição de aproximação da ofendida, de seus familiares e das testemunhas, 
fixando o limite mínimo de distância entre estes e o agressor. Sua principal função é manter 
um limite de distância entre a ofendida e o agressor, evitando novas agressões, ameaças e 
intimidações por parte do agressor. Tal medida também é utilizada para assegurar familiares e 
testemunhas da vítima. 
 Segundo Renato Brasileiro de Lima, essa medida protetiva não caracteriza 
constrangimento ilegal à liberdade de locomoção do agressor: 
 
39 Superior Tribunal de Justiça. RHC41826. Disponível em: 
<https://ww2.stj.jus.br/processo/revista/inteiroteor/?num_registro=201303539908&dt_publicacao=21/05/2015> 
Acesso em: 24 out. 2019. 
32 
 
Esta vedação não caracteriza constrangimento ilegal à liberdade de locomoção do 
agressor, vez que seu direito de ir e vir não pode ser utilizado como instrumento para 
a prática de novas infrações penais. Por isso, é perfeitamente possível a fixação, em 
metros, da distância a ser mantida pelo agressor da vítima, sendo, pois, 
desnecessário nominar quais os lugares a serem evitados, uma vez que, se assim 
fosse, lhe resultaria burlar essa proibição e assediar a vítima em locais que não 
constam da lista de lugares previamente identificados40. 
 
 A proibição de contato com a ofendida, seus familiares e testemunhas por 
qualquer meio de comunicação, visa a proibição de contato que diz respeito a comunicação, 
pessoal, direto, telefônico, mensagens eletrônicas como e-mail, redes sociais, qual seja por 
palavras, por gestos e escrito. Com o mesmo objetivo que a proibição de aproximação, com 
intuito de preservar as vítimas, seus familiares e testemunhas de agressão psicológica, 
ameaças e chantagens. 
 Frequentação de determinados lugares a fim de preservar a integridade física e 
psicológica da ofendida. A medida cautelar proíbe o agressor de frequentar lugares em que a 
vítima costuma sempre frequentar, ou seja, em seu local de trabalho, escola, faculdade, 
residência de parentes e amigos, evitando constrangimento público, intimidação e medo da 
vítima com o agressor. 
 Sendo assim, quando o magistrado for aplicar a medida protetiva, deve ser 
especificado quais lugares que o acusado não pode frequentar, pois se o juiz não mencionar 
tais lugares específicos, somente mencionando locais em termos genéricos, poderá 
caracterizar ao agressor constrangimento ilegal a sua liberdade de ir e vir. 
 No inciso IV do art. 22 da Lei Maria da Penha, traz uma medida que envolve 
os filhos das partes, o qual veremos a seguir. 
 Restrição ou suspenção de visitas aos dependentes menores, ouvida a equipe 
de atendimento multidisciplinar ou serviço similar. O legislador mencionou a necessidade de 
uma avaliação técnica para verificar se tal violência sofrida pela mãe terá efeitos danosos nos 
filhos, pois nem sempre a agressão à mulher justifica restringir ou limitar a visita dos filhos 
pelo agressor. 
 É o que afirma Alice Bianchini: 
 
Apesar de o artigo mencionar que a equipe de atendimento deve ser ouvida, o 
parecer técnico, nos casos em que há risco à integridade da mulher ou de seus filhos, 
 
40 LIMA, Renato Brasileiro de. Legislação criminal especial comentada. 4. ed. Salvador: JusPODIVM. 2016. p. 
949 
33 
não precisa anteceder a adoção da medida. Além disso, mesmo que o parecer tenha 
sido realizado, o juiz a ele não fica vinculado41. 
 
 E por ultimo o inciso V do Art. 22 da Lei Maria da Penha, que trata sobre a 
prestação de alimentos provisionais ou provisórios. 
 A finalidade de prestação de alimentos é no sentido da subsistência da mulher 
e de seus filhos, quando a vítima é impossibilitada de alguma forma a se manter 
economicamente, gerando assim após a violência doméstica sofrida, a medida de urgência 
como prestação de alimentos que deve seguir as determinações do artigo 1.694 do Código 
Civil. 
 
 
3.2.2 A fiscalização do cumprimento de medidas protetivas e o direito comparado 
 
 
 Na legislação brasileira, não há previsão legal para o monitoramento das 
medidas protetivas de afastamento. 
 Alice Bianchini, cita que: 
 
Alguns autores consideram a utilização de monitoração eletrônica – prevista na 
legislação pátria como medida cautelar, de descarcerização e/ou de controle de 
condenados – possibilidade viável para a fiscalização e garantia da decisão judicial 
de afastamento prevista na Lei Maria da Penha42. 
 
 Em alguns países já adotam esse sistema de monitoramento eletrônico a anos, 
a exemplo os Estados Unidos, que tem como meio de fiscalização um sistema de 
monitoramento por GPS, de acordo com a advogada e professora da Universidade de Harvard, 
Diane Rosenfeld, explica como é o funcionamento desse sistema de GPS. 
 Diane Rosenfeld é claro ao afirmar que: 
 
A ideia é que as mulheres não devem ter de se esconder, recorrer a abrigos ou fugir 
para proteger sua vida, enquanto os homens podem aproveitar sua liberdade e todos 
os seus direitos. Essa é uma injustiça estrutural e o GPS busca resolver isso. Ele 
pode ser usado em dois casos: ou quando um agressor viola a ordem de proteção da 
Justiça, ou seja, volta a aterrorizar a vítima; ou quando o caso é de alto risco e o juiz 
pede que o agressor seja monitorado por GPS. O sistema foi desenvolvido e 
 
41 BIANCHINI, Alice. Coleção Saberes Monográficos - Lei Maria da Penha. 4. ed. São Paulo: Saraiva 
Educação, 2018. p. 190 
42 Ibidem, p. 197 
34 
aprovado primeiramente em uma área do Estado de Massachusetts em 2004. Nessa 
região, o sistema funcionou muito bem. Tivemos 100% de sucesso, o que significa 
que nenhum dos agressores violou a ordem de proteção ou voltou a agredir a 
mulher43. 
 
 Assim, tramita no Senado Federal um Projeto de Lei do Senado (PLS) n. 
288/2018, que visa alterar a Lei Maria da Penha para garantir à vítima, mediante pedido desta, 
um dispositivo que comunique o descumprimento de medida de afastamento caso ultrapasse o 
limite mínimo de distância44. 
 Além do PSL n. 288/2018, existe também um projeto-piloto denominada de 
Botão do Pânico criado através de uma parceria entre o Tribunal de Justiça do Estado do 
Espírito Santo e a Prefeitura da cidade de Vitória, Espírito Santo, com o propósito de prevenir 
a violência doméstica e familiar contra as mulheres e contribuir com a fiscalização do 
cumprimento de medidas protetivas. 
 O projeto experimental trouxe um resultado positivo, que conforme os dados 
esse botão foi acionado 23 vezes durante um período de teste e resultou em 11 prisões em 
flagrante, não havendo registro de agressões concretizadas ou feminicídio45. 
 Outras iniciativas também tem o intuito de fiscalizar o cumprimento de 
medidas e auxiliar as vítimas, como o exemplo da Policia Militar de alguns Estados do Brasil, 
que tem como projeto denominado Ronda Maria da Penha46, são unidades especializadas no 
combate a violência doméstica e familiar, os policiais militares fazem visitas aleatórias nas 
casas das vítimas, com intuito de inibir o agressor de desrespeitar as medidas protetivas de 
afastamento ou também caso a mulher vítima se sinta ameaçada pode acionar as viaturas da 
Ronda Maria da Penha. 
 
 
3.2.3 Medidas protetivas de urgência à ofendida 
 
 
 
43 FGV SB. Disponível em: <http://bibliotecadigital.fgv.br/ojs/index.php/getulio/article/view/61914/60086> 
Acesso em: 4 dez. 2019. 
44 Senado Federal. Projeto de Lei do Senado n. 288, de 2018. Disponível em: 
<https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2019/01/30/agressor-podera-ser-obrigado-a-usar-
monitoramento-eletronico> Acessado em: 4 dez. 2019. 
45 Tribunal de Justiça do Estado do Espírito Santo. Disponível em: <http://www.tjes.jus.br/botao-do-panico-
dispositivo-de-seguranca-que-ajuda-a-proteger-mulheres-vitimas-de-violencia-domestica-completa-6-anos/> 
Acesso em: 4 dez. 2019. 
46 UOL. Disponível em: <https://atarde.uol.com.br/muito/noticias/1911632-o-crime-que-a-gente-combate-e-
eminentemente-cultural> Acesso em 4 dez. 2019. 
35 
 Criadas pelo legislador as medidas de urgência expressas nos artigos 23 e 24 
da Lei Maria da Penha, visando a proteção física, psicológica e patrimonial da vítima de 
violência doméstica, não possuindo caráter criminal, podendo ser cumulada com outras 
medidas, no qual será analisada a seguir. 
 Conforme o artigo 23 da Lei Maria da Penha, o juiz poderá, quando necessário 
e sem prejuízo de outras medidas: 
 
Art. 23. Poderá o juiz, quando necessário, sem prejuízo de outras medidas: 
I - encaminhar a ofendida e seus dependentes a programa oficialou comunitário de 
proteção ou de atendimento; 
II - determinar a recondução da ofendida e a de seus dependentes ao respectivo 
domicílio, após afastamento do agressor; 
III - determinar o afastamento da ofendida do lar, sem prejuízo dos direitos relativos 
a bens, guarda dos filhos e alimentos; 
IV - determinar a separação de corpos. 
V - determinar a matrícula dos dependentes da ofendida em instituição de educação 
básica mais próxima do seu domicílio, ou a transferência deles para essa instituição, 
independentemente da existência de vaga47. 
 
 O inciso I, é dada como medida de natureza civil, demonstra a preocupação do 
legislador de proteger e auxiliar a vítima e sua família, com programas oficiais e 
comunitários, com objetivo de dar suporte psicológico, social e econômico. Pode ser 
determinada pelo juiz de ofício, ou a pedido da vítima ou Ministério Público, além disso a 
autoridade policial, no caso o Delegado de Polícia pode independente de ordem judicial, dar 
encaminhamento da vítima aos programas conforme os incisos do artigo 11 da Lei n. 
11.340/2006. 
 Já no inciso II, tal medida tem relação com o artigo 22, III, da Lei n. 
11.340/2006, que diz sobre o afastamento do agressor do lar, e assim a recondução da vítima e 
seus dependentes ao seu domicílio, é o que diz Valéria Fernandes: “para garantir efetividade à 
proteção da vítima, além do afastamento e recondução, é importante inviabilizar a 
aproximação do agressor do lar, impondo-se as medidas do art. 22, III, da Lei n. 
11.340/2006.”48 
 No inciso III, essa medida pode ser solicitada pela vítima perante autoridade 
policial sem qualquer formalidade, e tem como objetivo resguardar os direitos da vítima, e em 
caso de afastar-se do lar, a separação pode ter fundamento no art. 1.573, IV, do Código Civil, 
que fala sobre o abandono voluntário do lar conjugal, durante um ano contínuo. 
 
47 BRASIL. Lei n° 11.340, de 7 de agosto de 2006. Disponível em: 
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2006/Lei/L11340.htm#art46> Acesso 25 out. 2019. 
48 FERNANDES, Valéria Diez Scarance. Lei Maria da Penha: O Processo Penal no Caminho da Efetividade: 
Abordagem Jurídica e Multidisciplinar. São Paulo: Atlas. 2015. p. 161 
36 
 O inciso IV, é tido como medida cautelar na Lei Maria da Penha, a separação 
de corpos também está prevista no Código Civil, no art. 1.562, Valéria Fernandes, diz que: 
“trata-se de uma medida cautelar com finalidade eminentemente civil, que não deveria constar 
da Lei Maria da Penha, já que o afastamento do agressor era suficiente para preservar a 
mulher.”49 
 A medida cautelar de separação de corpos dá a possibilidade à vítima de 
violência doméstica do pedido de divórcio, segundo art. 1.580, caput, do Código Civil: 
“Decorrido um ano do trânsito em julgado da sentença que houver decretado a separação 
judicial, ou da decisão concessiva da medida cautelar de separação de corpos, qualquer das 
partes poderá requerer sua conversão em divórcio.”50 
 A Lei Maria da Penha dispõe, também, no artigo 24 e seus incisos, medidas 
que buscam resguardar os bens da ofendida, de eventual violência patrimonial, sendo quatro 
as medidas protetivas que diz respeito à proteção patrimonial dos bens da sociedade conjugal 
ou daqueles de propriedade particular da mulher. 
 No Artigo 24, caput, diz: “Para a proteção patrimonial dos bens da sociedade 
conjugal ou daqueles de propriedade particular da mulher, o juiz poderá determinar, 
liminarmente, as seguintes medidas, entre outras:”51 
 Inciso I, incide sobre bens moveis que tenham sido indevidamente subtraídos 
da vítima pelo agressor ou estejam na iminência de sê-los. Tais bens são compreendidos 
como, bens da relação conjugal e do patrimônio particular da mulher vítima de violência 
doméstica, que visa tão somente a preservação do patrimônio. 
 Já no inciso II, como forma de resguardar os interesses econômicos da vítima, 
o juiz poderá determinar a proibição temporária para a celebração de atos e contratos de 
compra, venda e locação de propriedade em comum, e deferida a medida, deverá o juiz oficiar 
ao cartório competente para a devida averbação. 
 No inciso III, não se fala em revogação e sim em suspensão, pois o legislador 
aqui procurou mais uma vez trazer a proteção do patrimônio da ofendida, possibilitando o juiz 
de suspender procurações que a vítima tenha depositado em seu agressor, de gerir certos bens, 
resguardando a vítima de danos irreparáveis. O juiz ao proferir tal medida, deverá comunicar 
ao Cartório de Registro de Notas. 
 
49 FERNANDES, Valéria Diez Scarance. Lei Maria da Penha: O Processo Penal no Caminho da Efetividade: 
Abordagem Jurídica e Multidisciplinar. São Paulo: Atlas. 2015. p. 162 
50 BRASIL. Lei n° 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Disponível em: 
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/2002/L10406.htm> Acesso 7 out. 2019. 
51 Idem. Lei n° 11.340, de 7 de agosto de 2006. Disponível em: 
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2006/Lei/L11340.htm#art46> Acesso 7 out. 2019. 
37 
 Por fim, o inciso IV vem com a finalidade de assegurar a indenização e já na 
sentença condenatória, o juiz determinar ao agressor o ressarcimento do prejuízo causado por 
ele, é dada a medida de caução provisória. 
 Portanto, as medidas protetivas descritas no artigo 24 da Lei n. 11.340/2006 
são fundamentais para proteger a mulher contra a violência patrimonial sofrida e deverão ser 
aplicadas pelo magistrado, se necessário, em conjunto com outras medidas protetivas prevista 
na Lei n. 11.340/2006. 
 
 
3.3 VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER EM DADOS 
 
 
 No Brasil, segundo dados do Atlas da Violência edição 201952, indica que 
houve no ano de 2017 crescimento dos homicídios femininos. Um total de 4.936 mulheres 
mortas, ou seja, 13 assassinatos por dia, sendo assim, o maior número registrado desde 2007. 
 No ano de 2007 a 2017 a taxa de homicídios de mulheres negras cresceu 
29,9%, contra 4,5% de mulheres não negras. Também nesse período os homicídios fora da 
residência caem 3,3%, enquanto isso os homicídios dentro de casa crescem 17,1%. O numero 
de mulheres mortas por arma de fogo na residência cresce 17,1% e fora da residência 6,2%. 
 Segundo dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública 201953, os 
feminicídios correspondem a 29,6% dos homicídios dolosos de mulheres em 2018. Foram 
1.151 casos em 2017 e 1.206 em 2018, um crescimento de 4% nos números absolutos. Desde 
que a Lei entrou em vigor, os casos de feminicídio subiram 62,7%4. 
 O art. 121 do Código Penal estabelece que: 
 
Art. 121. Matar alguém: 
Pena - reclusão, de seis a vinte anos. 
Feminicídio 
VI - contra a mulher por razões da condição de sexo feminino: 
VII – contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da Constituição 
Federal, integrantes do sistema prisional e da Força Nacional de Segurança Pública, 
no exercício da função ou em decorrência dela, ou contra seu cônjuge, companheiro 
ou parente consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa condição: 
 
52 Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada. Atlas da Violência 2019. Disponível em: 
<http://www.ipea.gov.br/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=34784&Itemid=432> Acesso 
em: 5 dez. 2019. 
53 Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2019. Disponível em: 
<http://www.forumseguranca.org.br/publicacoes/13-anuario-brasileiro-de-seguranca-publica/> Acesso em: 5 
dez. 2019. 
38 
Pena - reclusão, de doze a trinta anos. 
§ 2o-A Considera-se que há razões de condição de sexo feminino quando o crime 
envolve: 
I - violência doméstica e familiar; 
II - menosprezo ou discriminação à condição de mulher54. 
 
 O perfil de raça/cor das vítimas revela a maior vulnerabilidade das mulheres 
negras, elas são 61% das vítimas, contra 38,5% de brancas, 0,3% indígenas e 0,2% amarelas. 
 A relação entre a vulnerabilidade social e a violência também pode ser 
percebida a partir da escolaridade: 70,7%

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