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Avaliação 1 05/04/2021 ─ Camila Rodrigues Nunes Universidade Estadual do Rio de Janeiro Infância e Cultura Turma 1 Proposta Você consegue fazer alguma relação entre o que é apresentado no documentário “A invenção da infância”, dirigido por Liliana Suizbach, e os textos de Ariès e de Sarmento estudados na Unidade 1? Desenvolvimento Ariès relata em seu texto que no século XII a arte medieval não conhecia a infância ou simplesmente não a representava, isto é, possivelmente naquele tempo não existia lugar para a infância. Ele relata também que na obra de Parvuli, as crianças não obtinham características próprias de criança, mas sim características adultas em tamanho reduzido, ou seja, “mini adultos”. No entanto, Ariès explica que o fato do sentimento da infância não existir naquele tempo não significava que elas eram deixadas de lado, negligenciadas, descuidadas ou abandonadas. Segundo ele, o sentimento de infância “corresponde à consciência da particularidade infantil, essa particularidade que distingue essencialmente a criança do adulto, mesmo jovem”. "No início do século XVIII, um dicionário francês define o uso do termo criança. Criança, dizia, é um termo cordial utilizado para saudar ou agradar alguém, ou levá-lo a fazer alguma coisa: Minha criança, vá buscar meu copo. Um mestre dirá aos trabalhadores, mandando-os trabalhar: Vamos, crianças, trabalhem. Um capitão dirá aos seus soldados: Coragem, crianças, aguentem firme. E aos soldados da primeira fila, que estavam mais expostos ao perigo, ele os chamava de crianças perdidas."( (SULZBACH, Liliana. “A invenção da infância”. YouTube, 7:40, Postado por “Anonymous”, 8 de Jul. de 2015) Contudo, a indeterminação da idade naquele tempo encobria todas as atividades sociais, como: jogos, brincadeiras, profissões e até armas. Isto pode ser visto também no documentário “A invenção da infância”, em que, as crianças que vivem no meio rural tem que trabalhar para ajudar no sustento da família e o tempo que sobra é dividido entre o estudo e a infância de fato, o brincar e o ser criança. Todavia, como dito no documentário “ser criança não significa ter infância”, e isto é claramente explicitado ali, além da enorme diferença social que também é relatada no vídeo, percebe-se que até as preocupações vivenciadas por elas são distintas, em que umas preocupam-se com o trabalho e o ganho e outras com atividades como ballet, aprender inglês, entre outras. "A infância, como ideia de uma época especial para cada ser humano, surge no mesmo tempo das grandes descobertas. Já não se morria tão facilmente e começava a valer a pena o investimento nesses seres tão frágeis. Para as crianças, inventa-se a infância quando decide-se deixá-las brincar, ir à escola, ser criança." (SULZBACH, Liliana. “A invenção da infância”. YouTube, 5:55, Postado por “Anonymous”, 8 de Jul. de 2015) Ainda no texto de Ariès, com o passar dos anos o apego à infância e a sua particularidade não era mais voltado apenas à distração e brincadeiras, mas através do interesse psicológico e da preocupação moral, assim, a preocupação voltou-se para a formação dessas crianças como pessoas honradas e direitas (“probas”) e como homens racionais. Ou seja, como dito por Sarmento no texto “Visibilidade social e estudo da infância”, durante muito tempo a fixação de imagens relacionadas às crianças serviu “por vezes de forma inatendida, para o controlo e a regularização das suas vidas”. É nesse sentido que a invisibilidade histórica da infância implica diretamente na exclusão da voz das crianças, fazendo com que elas se comuniquem através da voz dos adultos, não permitindo assim que se expressem sem que se diferenciem deles. Dessa forma, o trecho “Um mundo onde adultos e crianças partilham da mesma realidade física e virtual é um mundo de iguais” dita no documentário, demonstra que não somente no século XII, onde a infância não existia, mas também na modernidade, a realidade das crianças e sua infância são negligenciadas e confundidas com a realidade adulta, provando mais uma vez que “ser criança não significa ter infância”. A transformação do sentimento de infância se deu desde sua primeira aparição, como “paparicação”– surgiu âmbito familiar, através de crianças menores–, seguindo para sua segunda aparição, através dos eclesiásticos, isto é, homens da lei – raros até o Séc. XVIII –, que se preocupavam com a disciplina e a racionalidade dos costumes, até sua terceira aparição, que se deu pela junção de suas duas primeiras aparições mais a preocupação com a higiene e a saúde física, o que transformou também o índice de mortalidade infantil que perdurou por séculos, outro fator que também prejudicou a superação do período em que crianças se confundiam com os adultos. Sarmento explicita em seu texto 3 formas de invisibilizar a infância, sendo elas a Invisibilidade Histórica, que conta a ausência ou carência de registros infantis na época, o que fez com que Ariès afirmasse a inexistência do “sentimento da infância”, a Invisibilidade Cívica, que retratava uma realidade social “caracterizadora da situação da infância, a partir do dealbar da modernidade”, isto é, o posicionamento da infância num ambiente social condicionado e controlado pelos adultos, e, por fim, a Invisibilidade Científica, que age como suporte das duas invisibilidades anteriores, ou seja, é construída a partir da inexistência de investigação sobre as crianças e a infância, bem como pelo tipo predominante de produção de conhecimento do período. Em conclusão, percebe-se que por muito tempo o sentimento de infância ficou excluído da sociedade, e muitas vezes ainda pode-se encontrar alguns aspectos excludentes na sociedade moderna, principalmente ao analisar o documentário que foi produzido no ano de 2000, ou seja, características vistas nos Séc. XII e XVIII pelos escritores Ariès e Sarmento puderam ser observadas por Liliana Sulzbach no Séc. XX, bem como podemos ver hoje no Séc. XXI. Ainda há muito a se fazer, o estudo da infância não pode ser excludente, nem negligenciador. Precisamos dar voz às crianças, e deixá-las expressarem seus sentimentos por si mesmas, sem que necessitem usar características adultas. Em suma, não podemos ignorar, nem reduzir o estudo da infância, mas sim permitir que ele se desenvolva e cresça para auxiliar as crianças de maneira abrangente e firme. Referências Bibliográficas I. ARIÈS, Philippe. História Social da Criança e da Família. Tradução de LTC- Livros Técnicos e Científicos, Rio de Janeiro, Editora S.A, 1981. II. SARMENTO, Manuel Jacinto (2007). Visibilidade Social e Estudo da Infância. In Vasconcellos & Sarmento (Org). Infância (In)Visível. Araraquara: Junqueira & Marin Editores (25-49). III. SULZBACH, Liliana. “A invenção da infância”. YouTube, Postado por “Anonymous”, 8 de Jul. de 2015. Disponível em: < https://m.youtube.com/watch?v=c0L82N1C7AQ> . Acesso em: 18 de Mar. De 2021. https://m.youtube.com/watch?v=c0L82N1C7AQ
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