Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Olá! Os profissionais de enfermagem possuem um importante papel a desempenhar no tratamento e cuidado de feridas e para isso, precisam estar cientes de suas responsabilidades. É evidente que tal papel deve ser visto no contexto da equipe multidisciplinar, pois as feridas não devem ser encaradas como algo isolado do resto do corpo. Assim, diferentes especialidades médicas estão envolvidas no tratamento de feridas, de modo que os membros da equipe variam de acordo com as necessidades do paciente. Para tanto, este material foi organizado pensando na abordagem da prática em curativos, de forma que o professional de enfermagem possa reconhecer o seu papel quando presta uma assistência humanizada e holística. A organização deste curso está articulada para que ao final, o profissional participante do curso seja capaz de: 1. Compreender acerca da anatomia e fisiologia do Sistema tegumentar 2. Refletir sobre as principais categorias das lesões além de características específicas como o processo de cicatrização 3. Conhecer a assistência de enfermagem frente a prática de tratamento de lesões, especialmente no conhecimento acerca dos tipos e curativos disponíveis. Bons estudos! O sistema tegumentar é constituído pela pele e seus anexos que envolve: pelos, unhas e glândulas sebáceas e sudoríparas. O conhecimento sobre sua constituição e função é essencial para diagnosticar lesões que acometem a pele, assim como avaliar o processo cicatricial, obter informações importantes para o planejamento da assistência de enfermagem ao indivíduo com lesão cutânea. A imagem abaixo demonstra a descrição da pele e anexos. A pele é reconhecida como o maior órgão do corpo humano, sendo constituída de três camadas: a epiderme, mais externa; a derme, segunda camada; e a hipoderme ou tecido celular subcutâneo. Juntas, elas desempenham diversas funções importantes para que o organismo funcione e seja protegido contra traumas, radiações, frio, calor e bactérias, vírus ou fungos. EPIDERME: é a camada externa, possui alta capacidade regenerativa e é avascular DERME: é a segunda camada e se apresenta mais espessa e com vascularização HIPODERME: é a última camada, mais profunda e envolve vasos sanguíneos, nervos e vasos linfáticos. Também conhecida como tecido subcutâneo. Fisiologicamente a pele atua com um mecanismo de regulação chamado homeostase, porém, quando sofre estímulos estressores entra em um processo de adaptação celular com respostas que ajudam a célula a sobreviver. Essas respostas adaptativas consistem em hipertrofia, hiperplasia, atrofia ou metaplasia, que após a eliminação do agente causador, podem retornar ao estado celular inicial. No entanto, se a exposição aos agentes lesivos permanecer, ou houver algum desequilíbrio de nutrientes ocorrerá uma sequência de eventos conhecida como lesão celular, que, a depender da intensidade e da persistência do estímulo, pode ocorrer morte celular através de necrose ou apoptose. TUDO QUE AGRIDE OU MODIFICA A ESTRUTURA DA PELE E REGIÕES ASSOCIADAS, PODE SER CONSIDERADA UMA LESÃO, PORÉM, EXISTEM VÁRIOS TIPOS, COMO É O CASO DAS FERIDAS. • Lesão por pressão • Úlcera venosa • Úlcera arterial • Pé diabético • Queimaduras • Feridas traumáticas • Feridas operatórias • Dermatites • Deiscência • Úlceras oncológicas As lesões/feridas podem ser classificadas quanto ao processo de cicatrização, formas de cicatrização, além de considerar o conteúdo microbiano: Quanto ao processo de cicatrização feridas que persistem até 14 dias após início. Exemplo: queimaduras, lacerações. feridas que persistem após 6 meses e necessitam de tratamento. Exemplo: úlceras, lesão por pressão. Quanto as formas de cicatrização 1° INTENÇÃO Aproximação de margens em ferida não infectada com cicatrização em torno de 8 a 10 dias. Exemplo: suturas. 2° INTENÇÃO Lesões abertas de modo intencional ou não, evoluem com tecido de granulação e cicatrizam da borda para o centro e posteriormente reepitalização. Exemplo: úlceras e lesões. 3° INTENÇÃO Feridas não suturadas inicialmente ou quando a deiscência e após aplicação de tratamentos o processo de fechamento é realizado. Quanto ao conteúdo microbiano LIMPAS: feridas sem contaminação, resultante de cirurgia eletiva não contaminada. LIMPAS CONTAMINADAS: ferida sem contaminação significativa com tempo menor que 6 horas entre o trauma e assistência CONTAMINADAS: ferida sem sinais de infecções, com tempo maior que 6 horas para o atendimento da lesão. INFECTADAS: feridas com presença de agente infecioso e intensa resposta inflamatória. Visto isso, para compreender melhor algumas características específicas das feridas, vale salientar suas fases de cicatrização. FASE COAGULATIVA • Formação inicial de coágulos de fibrina, associados a vasoconstrição, logo após a ocorrência de lesão FASE INFLAMATÓRIA • Ocorre de forma seguida ao trauma, de modo a reparar e substituir células danificadas por saudáveis, onde se pode perceber sinais de inflamação como: dor, calor, rubor e edema. Ocorre logo após a fase coagulativa, por meio da migração de leucócitos FASE PROLIFERATIVA • Nessa fase há produção de colágeno, angiogênese, formação de tecido granulativo, contração tecidual e reepitalização. Inicia no 4° dia após a lesão e perdure até o 14° dia. FASE DE REMODELAÇÃO • A última fase do processo de cicatrização envolve a deposição de colágeno no local. É importante destacar que ao avaliar uma lesão, o profissional deve observar o paciente como um todo, considerando seus hábitos de vida, doenças preexistentes (o diabetes mellitus por exemplo, pode ser um fator que dificulta a fase inflamatória da cicatrização), fatores nutricionais, condições socioeconômicas, conhecimentos prévios, idade, dentre outros. Ademais, algumas características relacionadas as lesões devem ser observadas, principalmente no que se refere a avaliação da ferida para escolha de curativos e coberturas. Ao observar uma lesão, o profissional que presta os cuidados deve identificar a característica dos tecidos lesionados, a fim de direcionar melhor qual curativo deve ser realizado, qual a cobertura apropriada e se há a necessidade de um procedimento específico como é o caso do desbridamento. Para tanto, alguns aspectos importantes serão destacados abaixo: Tecido viável, brilhante de coloração rósea ou avermelhada, tendo em vista ser composto por vasos e fibroblastos Tecido morto desvitalizado de consistência fina, solto ou aderido ao leito da lesão, com coloração amarelada ou branca Tecido morto desvitalizado de consistência dura ou seca, solto ou aderido ao leito da lesão, com coloração preta, marrom ou acinzentada Lesão profunda em que há visualização de estruturas como tendões, fáscia muscular e ossos Excesso de hidratação da ferida, com extravasamento de exsudato ALGINATO DE CÁLCIO Promove hemostasia, tecido de granulação e absorve exsudato. Indicado para feridas com ou sem exsudato, infecção, sangramento e tecido necrótico ÁCIDOS GRAXOS ESSENCIAIS AGES Auxilia na hidratação e na circulação do local. Indicado para hidratação de pele íntegra e auxilia no processo de granulação CARVÃO ATIVADO Tecido de carvão ativado com ação bactericida. Indicado para lesões infectadas e exsudativas COLAGENASE Participa do desbridamento enzimático, com separação do tecido desvitalizado do tecido viável, pois possui ação de destruição de fibrina, colágeno e elastina FILME TRANSPARENTE Facilita cicatrização e proporciona meio úmido. Indicado para proteção de proeminência óssea e cobertura secundária oclusiva HIDROCOLOIDE Estimula granulação, angiogênese, absorve exsudação excessiva e mantém a temperatura adequada dalesão. Indicado para lesões exsudativas, com ou sem necrose e queimaduras. HIDROGEL Mantém umidade e participa do desbridamento autolítico PAPAÍNA Promove desbridamento químico e possui ação bactericida CURATIVO DE FERIDAS COM CICATRIZAÇÃO POR PRIMEIRA INTENÇÃO (SUTURAS, FERIDAS OPERATÓRIAS LIMPAS E OUTROS) MATERIAIS Bandeja contendo: luvas de procedimento; luvas estéreis (na falta, utilizar pacote de curativo estéril); gases estéreis; soro fisiológico a 0,9% e/ou antisséptico; esparadrapo ou micropore; cobertura escolhida. PROCEDIMENTO • Higienizar as mãos; • Reunir o material; • Apresentar-se e explicar o procedimento ao paciente garantindo a sua privacidade; • Calçar EPIs, inclusive as luvas de procedimento • Retirar o curativo anterior, utilizando solução fisiológica para umedecer caso esteja aderido. Desprezar o curativo retirado e as luvas; • Higienizar novamente as mãos e abrir o pacote de curativo com técnica asséptica. Organizar gazes e esparadrapo suficiente, dispondo-os em ambiente estéril; • Limpar a incisão cirúrgica e laterais, utilizando as duas faces da gaze, em movimento unidirecional; • Secar a incisão e laterais, com leves toques de gaze seca; • Ocluir a incisão com a cobertura selecionada e fixar com esparadrapo ou micropore; • Na presença de drenos e fixadores, limpar ao redor do orifício de inserção com gaze estéril umedecida com SF 0,9%, secar e cobrir com gazes estéreis secas. Para os fixadores, acrescentar a aplicação de solução antisséptica (PVPI tópico, solução alcoólica de clorexidina 0,5%); • Deixar o paciente confortável e organizar o ambiente, inclusive descartando corretamente os materiais utilizados; • Higienizar as mãos; • Realizar registro do procedimento, contendo as características da lesão, os materiais utilizados, assim como as orientações fornecidas. CURATIVO DE FERIDAS COM CICATRIZAÇÃO POR SEGUNDA INTENÇÃO (LESÃO POR PRESSÃO) MATERIAIS Bandeja contendo: luvas de procedimento; luvas estéreis (na falta, utilizar pacote de curativo estéril); gases estéreis; soro fisiológico a 0,9% e/ou antisséptico; esparadrapo ou micropore; seringa 20 ml, com agulha 40x12; cobertura escolhida. Caso necessário, adicionar: atadura de crepe; lâmina de bisturi n° 11 com cabo (para desbridamento instrumental conservador); sonda uretral, para limpeza de feridas profundas e cavitarias e régua para medição. PROCEDIMENTO • Higienizar as mãos; • Reunir o material; • Apresentar-se e explicar o procedimento ao paciente garantindo a sua privacidade; • Calçar EPIs, inclusive as luvas de procedimento • Retirar o curativo anterior, utilizando solução fisiológica para umedecer caso esteja aderido. Desprezar o curativo retirado e as luvas; • Higienizar novamente as mãos e abrir o pacote de curativo com técnica asséptica. Organizar gazes e esparadrapo suficiente, além da seringa e agulha, dispondo-os em ambiente estéril; • Limpar a área perilesional, bordas e leito da ferida utilizando as duas faces da gaze umedecida com SF 0,9%, em movimento unidirectional; • Na presença de infecção ou colonização, utilizar antisséptico para o processo de limpeza; • Remover tecidos desvitalizados quando necessário; • Realizar irrigação do leito da ferida com SF 0,9%, mediante pequenos jatos, utilizando a seringa e agulha; • Realizar secagem da lesão e laterais, com leves toques de gaze seca; • Cobrir o leito da ferida com a cobertura primária. Caso necessário, proteger a área perilesional com produtos de barreira; • Ocluir a ferida com a cobertura secundária e fixar com esparadrapo ou outro material escolhido • Deixar o paciente confortável e organizar o ambiente, inclusive descartando corretamente os materiais utilizados; • Higienizar as mãos; • Realizar registro do procedimento, contendo as características da lesão, os materiais utilizados, assim como as orientações fornecidas. Desse modo, a enfermagem deve estar sempre atualizada acerca dos tratamentos adequados, conhecimentos de anatomia, fisiologia e processo de cicatrização, promovendo um cuidado integral ao paciente, visando melhorias de forma geral. A instalação de uma lesão causa impactos no âmbito biopsicossocial do indivíduo e de seus familiares. Portanto, o enfermeiro deve realizar uma abordagem holística e humanizada, que deve envolver uma avaliação clínica criteriosa (anamnese e o exame físico geral e específico da ferida). Na anamnese devem ser consideradas as percepções de suas condições gerais de saúde observando o padrão de oxigenação, a perfusão tissular, a mobilidade física, o estado nutricional, as doenças crônicas associadas, o uso de drogas, os medicamentos e as condições emocionais e psicossociais. O exame físico geral deve ser realizado na intenção de observar outras complicações que não foram relatadas pelo paciente, estabelecendo padrões de prioridade para os achados. No que compete a avaliação específica da lesão, deve-se realizar uma avaliação clínica minuciosa, observando as características da lesão como: complexidade, etiologia, localização anatômica, presença de exsudato, grau de contaminação, classificação da perda tecidual, tecido presente em seu leito, bordas/margens e pele perilesional, mensuração e dor. Após a avaliação minuciosa dos parâmetros estabelecidos o enfermeiro atua na realização do tratamento tópico, onde deve realizar a limpeza, desbridamento (quando houver necrose) e cobertura, que constitui o curativo da lesão. A limpeza da lesão é feita através de solução fisiológica e caso haja tecido necrótico, realizar desbridamento logo após o processo de limpeza, finalizado a lesão deve ser coberta com o tipo de cobertura ideal. Para manter a integridade cutânea o enfermeiro atua na prevenção de lesões através de orientações sobre os cuidados com a pele, realizando ações educativas e orientações sobre higienização, hidratação, cuidados com lesões e outros assuntos que se fizerem pertinentes. Em pacientes acamados por muito tempo, cabe a equipe de enfermagem mudar o decúbito destes a cada duas horas, utilizar coxins nas estruturas mais susceptíveis ao desenvolvimento de lesões por pressão, realizar massagem com óleo ou hidrante após o banho, enfatizando sempre orientações acerca dos cuidados necessários, aos pacientes e familiares. No cuidado de feridas crônicas é necessário após cada troca de curativo que o profissional enfermeiro realize as anotações de enfermagem pertinentes contendo todas as informações acerca da lesão, do procedimento realizado e dos materiais utilizados, pois essa prática respalda o professional e auxilia na adequação do cuidado. POTTER, Patrícia A.; PERRY, Anne Griffin. Guia completo de procedimentos e competências de enfermagem. 9 ed. Rio De Janeiro: Elsevier, 2021. NETTINA, Sandra M. Prática de enfermagem – 10. ed. – [Reimpr.] - Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2017. BRUNNER, Hinkle; SUDDARTH, Janice L. Tratado de enfermagem médico- cirúrgica - 14. ed. - Rio de Janeiro, Guanabara Koogan, 2020. WWW.ENFERMAGEMADISTANCIA.COM.BR https://www.enfermagemadistancia.com.br/?utm_source=curativos&utm_medium=Ebook_curativos_home&utm_id=Ebook https://www.enfermagemadistancia.com.br/?utm_source=curativos&utm_medium=Ebook_curativos_home&utm_id=Ebook https://www.enfermagemadistancia.com.br/?utm_source=curativos&utm_medium=Ebook_curativos_curso64&utm_id=Ebook
Compartilhar