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ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO PEDAGÓGICO NA EDUCAÇÃO IFANTIL

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Prévia do material em texto

ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO 
PEDAGÓGICO NA EDUCAÇÃO 
IFANTIL 
Natália Gomes dos Santos 
CONHECENDO A DISCIPLINA 
Deseja ouvir este material? 
A disciplina de Organização do Trabalho Pedagógico na Educação 
Infantil tem como objetivo apresentar recursos e caminhos para 
direcionar sua futura prática com as crianças de zero a cinco anos. 
A educação infantil é uma etapa de ensino assegurada pela 
legislação que tem uma função crucial para o desenvolvimento e a 
aprendizagem dos educandos, visto que se configura como a base 
para a construção dos saberes ao longo da trajetória escolar dos 
indivíduos. Para que o ensino propiciado nesta etapa aconteça com 
qualidade, os professores precisam ter uma preparação adequada 
para que possam estruturar de forma efetiva suas práticas 
pedagógicas. 
Por meio dos estudos, você compreenderá o impacto do contexto 
social, histórico e educacional da respectiva etapa de ensino 
analisada e compreenderá também quais são as principais políticas 
educacionais que subsidiam o trabalho desenvolvido na educação 
infantil. 
Os aspectos teóricos apresentados nesta obra te auxiliarão no 
entendimento da concepção de infância ao longo do tempo. Você 
também vai se apropriar dos aportes científicos que dão suporte para 
a compreensão do desenvolvimento e da aprendizagem das crianças 
e das práticas que devem ser realizadas para que elas tenham 
sucesso nesses campos. 
A partir das discussões deste material, você compreenderá as 
diversas formas de organizar, planejar e estruturar as atividades 
realizadas na educação infantil e também vai refletir sobre a 
importância da adequação das práticas aos arranjos curriculares, os 
quais favorecem a efetivação dos direitos de aprendizagem. 
Para que você tenha acesso às competências mencionadas 
anteriormente, o livro está organizado em quatro unidades. Na 
primeira, você realizará uma análise sobre a educação infantil no 
Brasil, a partir de discussões sobre a concepção de infância, 
organização desta etapa de ensino e compreensão sobre o papel da 
legislação educacional para a efetivação da aprendizagem. 
Na segunda unidade, você terá a oportunidade de refletir sobre as 
concepções e finalidades da educação infantil, a partir da articulação 
entre as infâncias e as tendências pedagógicas e dos objetivos e 
propostas educacionais voltadas ao trabalho com as crianças de zero 
a cinco anos. 
Na terceira unidade, as discussões serão sobre a interface entre a 
educação infantil e a Base Nacional Comum Curricular, para se 
compreender os eixos estruturantes, os direitos de aprendizagem e 
o modo como deve se estruturar o trabalho pedagógico nesta etapa 
de ensino. 
Por fim, a quarta unidade abordará a avaliação na educação infantil, 
de modo que serão propiciadas reflexões sobre como deve ser feita 
a avaliação das crianças, a forma de registrar e documentar os 
resultados de aprendizagem e o papel da avaliação no processo para 
os avanços pedagógicos. 
Estudante, este material foi construído para que você reflita sobre o 
funcionamento da educação infantil e compreenda a importância do 
seu futuro papel para a promoção de uma aprendizagem significativa. 
Será um espaço de muitas experiências e trocas. 
 
NÃO PODE FALTAR 
UNIDADE1 
CONCEPÇÃO DE CRIANÇA E INFÂNCIA NO BRASIL 
INFÂNCIA NO BRASIL 
Natália Gomes dos Santos 
O QUE SIGNIFICA INFÂNCIA? 
Ao longo deste material, veremos que a percepção sobre a infância 
vem se alterando ao longo do tempo, mediante mudanças históricas, 
econômicas, sociais e educacionais. 
 
Fonte: Shutterstock. 
Deseja ouvir este material? 
CONVITE AO ESTUDO 
A educação infantil é uma etapa de ensino que gera muita 
curiosidade ao futuro pedagogo. É um momento de descobertas e 
experiências em que o lúdico e a construção de saberes se fazem 
presentes, tanto para as crianças quanto para os professores. Para 
que esse trabalho aconteça de forma adequada, o docente deve ter 
conhecimentos sobre o que antecedeu a configuração da educação 
infantil que temos atualmente, assunto que estudaremos nesta 
unidade. 
Na primeira seção, a reflexão será sobre como a criança era 
entendida desde o período colonial e como as percepções sobre ela 
foram se alterando ao longo do tempo. Compreenderemos de que 
forma os contextos social, político e econômico influenciaram a 
maneira como a criança é enxergada e atendida no contexto 
brasileiro. Também teremos inúmeros espaços para uma análise 
crítica, para que possamos problematizar como as desigualdades 
afetam a vida dos pequenos brasileiros. Entenderemos como a 
educação infantil avançou com o rompimento da perspectiva 
assistencialista e observaremos quais foram as primeiras instituições 
que atenderam as crianças no país. 
Na segunda seção, analisaremos a importância das políticas 
educacionais para a educação infantil, verificando como elas foram 
se constituindo ao longo dos momentos históricos. Traçaremos um 
panorama dos avanços que as normativas propiciaram para o 
trabalho com as crianças e as lacunas que ainda existem hoje, as 
quais dificultam a universalização da educação infantil. Vamos 
conhecer como alguns documentos tratam do assunto: Constituição 
Federal de 1988, Lei de Diretrizes e Bases da Educação de 1996, 
Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil, 
Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil e Estatuto 
da Criança e do Adolescente. Também vamos analisar quais são as 
orientações internacionais para o atendimento da educação infantil e 
como elas são implementadas no contexto brasileiro. 
Na última seção, estudaremos as especificidades das diferentes 
possiblidades de oferta na educação infantil, como creche e pré-
escola. Compreendemos como ocorre o regime de colaboração entre 
os munícipios, estados e a União, e perceberemos quais são as 
condições fundamentais para que a educação infantil seja ofertada 
para oportunizar o desenvolvimento das crianças. E, por fim, 
estudaremos as diferentes possibilidades de funcionamento da 
educação infantil no país, analisando como o trabalho pode ser 
desenvolvido em tempo integral, parcial e as diferenças na 
estruturação de turmas e grupos, visando atender às necessidades 
das diversas faixas etárias do público-alvo desta etapa de ensino. 
Por meio deste breve panorama, já é possível observar quantos 
assuntos fundamentais trataremos neste estudo inicial. Será o 
começo de vários questionamentos e aprendizados. 
PRATICAR PARA APRENDER 
Iniciaremos nossas análises nesta disciplina destacando que ela tem 
um papel fundamental na carreira que você escolheu, pois o 
pedagogo é o profissional habilitado para direcionar as práticas 
pedagógicas na educação infantil. Na primeira seção, faremos um 
resgate no tempo para compreender como a educação infantil se 
constituiu no Brasil. 
O modo como a criança é entendida, seu papel social e as 
implicações da realidade em que ela está inserida são aspectos 
importantes para verificar como o sistema de ensino organiza os 
processos de aprendizagem. No entanto, essa preocupação nem 
sempre fez parte da vida de milhares de crianças brasileiras, e a 
história nos mostra que os direitos atuais dessa parcela da população 
são resultados de inúmeras lutas. 
Para que possamos manter os avanços já conquistados e alcançar 
novos, é fundamental analisar as concepções de infância, o modo 
como a criança foi entendida ao longo do tempo, os diversos 
contextos que impactaram as decisões e ações sobre a educação 
dos pequenos, a ruptura com uma perspectiva filantrópica e 
assistencialista e o conhecimento sobre as primeiras instituições de 
educação infantil no Brasil. 
O contexto de aprendizagem desta unidade se refere à realidade da 
pedagoga Rafaela, que trabalha no Centro de Educação Infantil 
Cecília Meireles. Ela organiza o processo de gestão da escola e 
também auxilia os professores com o planejamento das turmas, 
sempre em busca de articulação entre as práticas pedagógicas e o 
currículo da escola. 
Rafaela começoua ficar intrigada com a fala de alguns docentes, 
pois muitos desses profissionais tinham uma visão de infância 
equivocada e entendiam que a criança deveria realizar atividades 
que, muitas vezes, não coincidiam com sua faixa etária. Em outros 
casos, os professores compreendiam o trabalho na educação infantil 
como um cuidado assistencial, perdendo, em muitos momentos, o 
caráter educacional. 
Preocupada com esta situação, a pedagoga conversa com a diretora 
Helena e, juntas, organizam uma formação continuada na escola 
para que os docentes possam refletir sobre a constituição da 
educação infantil no Brasil. A formação intitulada “Conhecer a história 
para compreender a criança” acontecerá em três momentos, nos 
quais serão resgatados os avanços e desafios da educação infantil 
em seus aspectos históricos, políticos e sociais. 
Nesta primeira seção, a situação-problema vivenciada é o primeiro 
encontro da formação continuada, em que a professora Carolina foi 
convidada para ministrar os estudos sobre a temática do papel da 
criança na realidade brasileira. A docente relata a necessidade de 
conhecer todo o contexto que impulsionou a educação infantil até os 
dias atuais para compreender como a criança era vista em momentos 
anteriores e como ocorreram as mudanças nessa visão ao longo dos 
anos. Após sua fala inicial, a professora indicou algumas leituras e 
pediu para os docentes refletirem sobre três questões: 
 Quais foram os conceitos de infância ao longo da educação 
brasileira e o que se modificou no processo? 
 Como os contextos sociais, históricos e econômicos 
impactaram a infância das crianças brasileiras? 
 Quais foram as primeiras instituições de educação infantil no 
país? Elas contribuíram para a configuração da educação na 
atualidade? 
Agora é com você! Se coloque no lugar dos professores e reflita 
sobre os questionamentos apresentados. 
Você realizará discussões novas, instigantes e que vão auxiliá-lo na 
construção dos saberes docentes. Espero que você extraia deste 
momento conhecimentos, experiências e reflexões para que o 
passado seja ressignificado e o futuro seja aperfeiçoado. 
CONCEITO-CHAVE 
OS ASPECTOS HISTÓRICOS, SOCIAIS E ECONÔMICOS QUE 
PERPASSARAM AS CONCEPÇÕES DE INFÂNCIA NO BRASIL 
Para você, o que significa infância? Quais são as implicações de ser 
criança e como se modificou o entendimento sobre este conceito ao 
longo do tempo? É importante refletir que nem sempre a criança foi 
compreendida como um sujeito de direitos sociais. A percepção 
sobre a infância vem se alterando constantemente, mediante 
mudanças históricas, econômicas, sociais e educacionais. 
Por meio deste contexto, observa-se a relevância de todos os 
professores realizarem análises sobre como a criança foi sendo 
compreendida ao longo da história, para que nos dias atuais, em 
todos os espaços sociais, ela tenha condições efetivas de se 
desenvolver e de ser protagonista das suas ações. 
CRIANÇA COMO ADULTO EM MINIATURA 
No que tange a um regaste histórico, verifica-se que a criança 
no Brasil Colônia era compreendida como uma “folha em branco” 
que deveria incorporar conhecimentos religiosos e disciplinares. A 
concepção de infância como adulto em miniatura ainda se fazia 
presente naquele momento e tais indivíduos não haviam ganhado um 
espaço de centralidade no seu próprio desenvolvimento e 
aprendizagem (ÁRIES, 1981). Encontravam-se diferenças de ensino 
entre as crianças brancas, filhas de portugueses enviados para 
colonizar as terras brasileiras, e as crianças nativas. 
Para as crianças brancas, o ensino deveria perpetuar os costumes e 
preservar a classe a que pertenciam. Já as crianças indígenas tinham 
acesso à instrução, doutrinação e imposição da cultura europeia, 
sem qualquer consideração ao conhecimento e às crenças dos seus 
povos, os quais já se encontravam aqui. 
Nesse momento, temos o início da construção da desigualdade no 
país (CHAMBOULEYRON, 2010). 
Outra questão que perpassa o entendimento da realidade da criança 
na colonização eram os altos percentuais de mortalidade infantil. 
Isso era efeito da realidade precária de vida de inúmeras famílias que 
eram assoladas por enfermidades, tais como: sarna, impige, 
sarampo etc. A eficácia dos medicamentos existentes na época era 
mínima e as enfermidades levavam inúmeras crianças ao óbito. 
Outro dado sobre este período diz respeito aos castigos físicos aos 
quais as crianças eram submetidas. Tais castigos eram fruto das 
ações jesuítas e foram introduzidas no século XVI. Registros 
apontam que esse ato era repudiado pelos indígenas, os quais 
entendiam o ato de corrigir como afetuoso, e não punitivo. Até mesmo 
em momentos de ensino, como observado nas Aulas Régias, que 
ocorreram no século XVIII, o modo de corrigir os alunos era a 
palmatória. Essa difícil realidade já vivenciada no Brasil é 
apresentada para que possamos pensar a relevância do direito 
humano da criança e a necessidade da manutenção e preservação 
desse direito. É preciso refletir sobre o passado para ressignificar o 
presente, considerando que “fome, abandono, instabilidade 
econômica e social deixaram marcas em muitas crianças” (PRIORE, 
2010, p. 98). 
Quando analisamos as concepções de infância e os impactos dos 
diferentes contextos na vida das crianças brasileiras ao longo da 
história, é inevitável a discussão sobre classe social. O Brasil tem 
em suas marcas a divisão da sociedade por grupos que possuem 
interesses e realidades antagônicas. Isso também se reflete na vida 
das crianças, pois as condições econômicas que favorecem o 
desenvolvimento infantil interferem diretamente no modo como a 
criança se constitui. 
Segundo Mauad (2010), no final do século XVIII as crianças da 
elite se vestiam como os adultos e tinham acesso a brinquedos, 
livros e instrumentos musicais. Em contrapartida, a vida 
das crianças escravizadas não era igual, pelo contrário. Nessa 
época, muitas não chegavam à vida adulta, por conta de maus tratos 
e negligência. Os estudos de Góes e Fiorentino (2010) apontam que 
várias crianças não completavam cinco anos de idade. Os pequenos 
que não faleciam eram separados de seus pais e, em vários casos, 
tornavam-se órfãos. 
Diferentemente das crianças ricas, as escravizadas viviam em uma 
realidade precária, com poucos recursos de higiene e alimentação. 
No lugar dos brinquedos encontravam ferramentas para o trabalho 
nas lavouras e na casa-grande. 
Esses fatores de desigualdade devem fazer parte das nossas 
análises, pois ainda vivemos em uma sociedade com resquícios 
escravocratas, em que os recursos financeiros determinam as 
condições de vida de várias crianças. 
NECESSIDADE DE DIFERENCIAR A CRIANÇA DO ADULTO 
No Ocidente, em meados dos séculos XVIII e XIX, a noção de 
infância estava vinculada à necessidade de diferenciar a criança do 
adulto. Nesse processo, a família tinha o papel de propiciar 
as condições básicas de subsistência, e a mulher era a principal 
responsável pelo cuidado dos filhos (ANDRADE, 2010). 
TRABALHO INFANTIL 
Com a modernização do país e o desenvolvimento industrial, a partir 
da década de 1930, as crianças da classe trabalhadora não tiveram 
uma infância fácil. Os pequenos encontravam-se nas fábricas, 
exercendo atividades manuais por várias horas e com uma 
remuneração pequena. Dessas crianças eram retiradas as 
possibilidades de acolhimento, cuidado e educação. Elas eram 
inseridas neste contexto para atendimento dos interesses 
dominantes. 
Também vale destacar que neste momento histórico as poucas 
prerrogativas legais que asseguravam a proteção dos pequenos 
brasileiros não se efetivavam na realidade. Na zona rural, as 
crianças também eram submetidas aos trabalhos no campo, tanto 
para o auxílio da agricultura familiar como para o desenvolvimento de 
produção das fazendas no país. A exigência das crianças pobres aos 
afazeres laborais era uma demanda do contexto capitalista, “[...] o 
qual gera pobreza e cria as condições para a reprodução do 
fenômenoda inserção precoce de crianças no trabalho” (FEITOSA; 
DIMENSTEIN, 2004, p. 62). 
O trabalho infantil é um tema sério que deve ser até hoje 
problematizado. A construção da sociedade que temos foi fruto da 
participação infantil na indústria, considerando que as crianças 
realizavam atividades laborais em espaços insalubres e com longas 
jornadas. 
O período marcado pela ditadura militar, de meados de 1960 a 
1980, foi outro momento difícil para as famílias e crianças pobres. A 
situação era grave por conta da inexistência de recursos, da falta de 
políticas democráticas, da falta de educação e da inserção dos 
pequenos brasileiros no trabalho. Na atualidade, temos direitos 
garantidos para as crianças brasileiras e o trabalho infantil é proibido 
por lei. Entretanto, segundo os dados demográficos do censo de 
2010, registrado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística 
(IBGE), mais de três milhões de pessoas entre 10 e 17 anos exerciam 
atividades laborais (BRASIL, 2010). 
NECESSIDADE DE ASSEGURAR A DIGNIDADE HUMANA 
A partir das discussões sobre a necessidade de assegurar a 
dignidade humana, a infância ganhou espaço significativo e o direito 
às condições básicas de subsistência começou a se materializar 
nas políticas públicas. Todo esse percurso é circunscrito de 
contradições, precariedades e lutas. Assim, as diversas concepções 
de infância encontram-se entrelaçadas com a realidade social. 
DIMENSÕES INDIVIDUAL E COLETIVA DE INFÂNCIA 
A infância é uma condição de ser criança, de modo que ela se 
constitui a partir da realidade objetiva e das relações estabelecidas. 
“O termo infância apresenta um caráter genérico, cujo significado 
resulta das transformações sociais, o que demonstra que a vivência 
da infância modifica-se conforme os paradigmas do contexto 
histórico e outras variantes sociais como raça, etnia e condição 
social” (ANDRADE, 2010, p. 55, grifo do original). 
De acordo com Júnior e Vasconcellos (2017), a infância pode ser 
analisada por dois vieses: a dimensão individual, que está 
vinculada a um período da vida do indivíduo, e a dimensão coletiva, 
referindo-se ao conjunto de crianças que vivem em determinado 
contexto. Destaca-se que na própria dimensão coletiva se encontram 
diferenças, pois, como apontado anteriormente, ser uma criança rica 
no Brasil coloca o indivíduo em uma condição de privilégio em 
comparação com uma criança pobre. 
REFLITA 
Muitas vezes analisamos determinada situação com base em nossas 
experiências e o que já ouvimos falar sobre. No que se refere à 
infância e ao papel da criança, podemos já ter ouvido que se refere 
ao “melhor momento da vida” ou “é uma fase que não precisa se 
preocupar”. Atualmente, nossas crianças são entendidas como 
sujeitos de direito e devem ter condições para se desenvolver e 
aprender, entretanto nem sempre foi assim, como já vimos. A partir 
do exposto e considerando sua futura prática, como você enxerga 
a função do professor na luta pelos direitos das crianças? 
Deste modo, devemos analisar a concepção de infância a partir do 
contexto histórico, social, político e econômico para que possamos 
desconstruir ideais que atribuem a responsabilidade da condição de 
vida da criança a ela ou à sua família. Constatamos que as 
precariedades sociais e estruturais da nossa realidade impactam a 
vida dos pequenos brasileiros ao longo da história, e todo educador 
deve considerar essa conjuntura para que possa lutar por 
possibilidades educacionais que rompam com essa lógica. 
AS PRIMEIRAS INSTITUIÇÕES DE EDUCAÇÃO INFANTIL E O 
ROMPIMENTO COM A PERSPECTIVA ASSISTENCIALISTA NO 
PAÍS 
No passado, o cuidar e o educar eram vinculados diretamente à 
família, em especial, era uma função exercida exclusivamente pela 
mulher. Os serviços da educação infantil iniciaram a partir do 
desenvolvimento industrial, pois homens e mulheres tinham extensas 
jornadas de trabalho e as crianças que ainda não tinham condições 
de acompanhar seus pais nos serviços laborais precisavam de algum 
local para ficar. Essas instituições eram, na maioria dos casos, 
de caráter filantrópico e tinham a finalidade de ofertar aos 
pequenos cuidados enquanto os pais estavam nas fábricas. 
As instituições confessionais também apresentaram significativa 
participação. Vinculadas à fraternidade e caridade, essas instituições 
tinham práticas que valorizavam a moralidade, obediência e devoção 
(OLIVEIRA, 2011). 
A ainda era marcada pelo caráter filantrópico dos serviços voltados 
às crianças, entretanto já se encontravam posicionamentos e 
perspectivas que compreendiam o papel da educação e a 
necessidade de os pequenos brasileiros terem acesso aos espaços 
educativos. Vale ressaltar que vários estudiosos europeus já haviam 
pontuado em séculos anteriores a importância da atenção às 
necessidades das crianças. Entre esses pensadores, podemos 
analisar as contribuições de Jean-Jacques Rousseau, as quais 
explicitam a valorização que deveria se ter sobre a educação na 
primeira infância, visto que esse era um momento da vida do sujeito 
que deveria prepará-lo para a vida adulta e por isso seu 
desenvolvimento deveria ser estimulado (OLIVEIRA, 2011). 
Em meados da década de 1930 foram criados parques infantis que 
tinham o objetivo de atender crianças de três a sete anos dando-lhes 
o acesso à higiene e alimentação. Segundo Brites (2000), os 
parques infantis eram localizados em São Paulo e se configuravam 
como espaços privilegiados. Vale ressaltar que a educação estava 
vinculada a ensinamentos de moral e bons costumes e não tinha 
caráter ou perspectiva pedagógica. Os profissionais que atuavam 
nestes parques eram principalmente da área da saúde. Na metade 
desta década, o governo federal toma para si a responsabilidade 
pelos parques e o foco passa a ser na formação de cidadãos que se 
encaixavam na lógica política e econômica do país. Deste modo, os 
espaços eram destinados para o atendimento de crianças da classe 
trabalhadora e os serviços prestados tinham caráter 
assistencialista. 
ASSIMILE 
Vamos retomar a questão do assistencialismo na educação infantil. 
Essa perspectiva fez parte do atendimento das crianças por muito 
tempo, em que os cuidados com higiene e alimentação eram o foco 
dos serviços voltados para os pequenos. Não estamos questionando 
a relevância dos cuidados com a criança, pois isso também é um 
direito garantido na legislação e na organização da educação infantil. 
Entretanto, a assistência não pode ser tomada como única via de 
atendimento. Estudos apontam que o desenvolvimento e a 
aprendizagem ocorrem desde o nascimento, de modo que a criança 
se humaniza ao ter contato com a cultura e com o outro. Sendo 
assim, um trabalho educativo deve acontecer com as crianças de 
zero a cinco anos de modo planejado e sistematizado, subsidiado 
pelas normativas curriculares. Você deve ter isso sempre em mente. 
Educação é o ponto central, e nossas crianças devem ter todas as 
condições para aprender. 
Houve uma ampliação das necessidades de organizar espaços para 
o acolhimento das crianças, visto o aumento da inserção de muitas 
brasileiras no mercado de trabalho. Desta forma, a década de 
1960 é marcada pela expansão de atendimento com novas 
modalidades de serviços. Essas instituições eram públicas, privadas, 
filantrópicas, com diversas denominações (jardins de infância, 
escolas maternais, parques infantis, entre outros), no entanto 
todas tinham um mesmo viés: o assistencialismo. 
Vale destacar que na década de 1970 se iniciou um momento 
alicerçado pelas pesquisas sobre a infância e o desenvolvimento da 
criança. Nos estudos era apregoada a relevância de se pensar em 
uma educação de cunho pedagógico, que priorizasse a 
estimulação e construção de habilidades que se tornariam a base 
para o percurso escolar, evitando a elevada evasão na escola. 
Também estava em pauta o debate sobre a educação 
compensatória, visto que as crianças das classes populares se 
encontravam em desvantagem em comparaçãocom as crianças da 
elite brasileira. É fundamental ressaltar que essa desvantagem não 
era derivada de uma falta e/ou culpa da criança pobre, mas sim por 
conta da conjuntura social injusta que não dava oportunidade para 
todos, tampouco o mesmo acesso aos bens materiais e culturais. 
“Neste momento, aumentaram as críticas quanto aos parques 
infantis, pois se considerava que eles eram estritamente assistenciais 
e que não ajudavam as crianças em suas dificuldades de 
aprendizagem” (SILVA, 2014, p. 19). 
É necessário destacar que a quebra com a perspectiva 
assistencialista na educação infantil e a necessidade de espaços 
de qualidade para atendimento das crianças foi fruto de lutas de 
inúmeros movimentos sociais. No período da ditadura militar não se 
tinha a preocupação com a educação dos pequenos, algumas 
iniciativas eram de disponibilizar nas escolas primárias classes extras 
para acolher as crianças, sem estrutura para um trabalho efetivo e 
preocupado com as reais necessidades deste público. A partir da luta 
por garantia de condições tanto para mães trabalhadoras quanto 
para as crianças, começou um embate para se assegurar uma “pré-
escola pública, democrática e popular” (KUHLMANN JR., 2000, p. 
11). 
EXEMPLIFICANDO 
Articulando teoria e prática, podemos resgatar a discussão sobre a 
ruptura com a perspectiva assistencialista para auxiliar o trabalho em 
sala de aula. Muitas pessoas ainda acreditam que o atendimento dos 
bebês na educação infantil é apenas o de cuidar, a partir das ações 
em relação à alimentação, sono e higiene. Entretanto, a organização 
das práticas deve ser, principalmente, de caráter pedagógico, pois o 
momento do brincar, da contação de histórias e da estimulação são 
vivências que as crianças têm o direito de experimentar. Vale 
ressaltar que cuidar e educar são realizados de forma concomitante 
e devem possuir objetivos pedagógicos. Muitas atividades são 
realizadas com os bebês e tornam-se experiências educativas 
fundamentais para o seu desenvolvimento e aprendizagem. 
De acordo com Rosemberg (2003), os movimentos de 
luta pretendiam dar a oportunidade de um atendimento de caráter 
educacional que vislumbrava na educação infantil uma possibilidade 
de combate às desigualdades. As justificativas para a expansão da 
educação infantil em um caráter educativo permeavam a relevância 
dessa etapa de ensino para a minimização da pobreza e melhora dos 
estudos das crianças no ensino fundamental. Vale ressaltar que o 
poder público implementou um modelo de educação infantil próximo 
ao que temos atualmente e a ampliação dos investimentos foi 
acompanhada pela expansão das políticas sociais. 
O final da década de 1980 foi um marco para a sociedade brasileira. 
Com o fim da ditadura militar e o entendimento social de que os 
direitos humanos deveriam ser assegurados, começou um novo 
momento no país. Ele foi marcado pela Constituição Federal de 
1988 que assegura, até a atualidade, os direitos sociais de todos os 
brasileiros. Esse momento é crucial para o rompimento da educação 
infantil em um viés assistencialista, pois ela é apresentada na Carta 
Magna como “uma extensão do direito universal à educação para as 
crianças de 0 a 6 anos e um direito de homens e mulheres 
trabalhadores a terem seus filhos pequenos cuidados e educados em 
creches e pré-escolas” (ROSEMBERG, 2003, p. 183). 
A ampliação de pesquisas sobre a educação infantil gerou avanços 
no que diz respeito à necessidade de desvincular esta etapa de 
ensino do quadro assistencialista. Os centros de pesquisa 
produziram conhecimentos que trouxeram à tona a relevância de se 
olhar para as infâncias e considerar a criança como sujeito que se 
apropria e produz cultura e conhecimento, devendo ser valorizados 
os saberes que a ela traz consigo. 
É neste contexto que o caráter educacional da educação infantil 
ganha espaço e as políticas foram construídas para a ampliação de 
oferta da respectiva etapa de ensino. Também se observa a 
discussão sobre a relevância de formação de professores para a 
atuação com crianças e de se estruturar normativas 
curriculares para o atendimento deste público (KRAMER, 2006). 
A quebra da perspectiva assistencialista, que tem seus requisitos até 
a atualidade, acontece quando se compreende que a educação é 
um direito prioritário da criança para ela se desenvolver e 
aprender, e não apenas um espaço de cuidado enquanto os pais 
exercem as atividades laborais. Vale destacar o desafio de se 
entender a educação infantil em uma perspectiva educacional por 
duas questões: a primeira se refere à falta de qualificação dos 
professores para atuarem com os pequenos brasileiros e a segunda 
estava relacionada com o perfil maternal que perpassava a atuação 
das docentes. Esse último ponto era fortemente presente, pois, na 
história, a docência era exercida predominantemente pelas mulheres 
e se tinha uma ideia de que elas, por conta das responsabilidades 
com a família, tinham maiores condições de atuação e cuidado com 
os pequenos (KUHLMANN JR., 2000). 
A força do debate sobre a necessidade da educação das crianças 
estava sustentada por pesquisas educacionais. De acordo com 
Kramer (2006), o acesso às creches e pré-escolas potencializava o 
desenvolvimento de seu público. Sendo assim, as crianças se 
inseriam no ensino fundamental com uma bagagem de saberes que 
dava suporte para a continuidade de seus estudos de forma efetiva. 
Entretanto, os desafios para que ela se universalizasse foram 
grandes, e um deles é a falta de investimentos para atender a 
ampliação dos espaços, a formação dos professores e a articulação 
entre o cuidar e o educar, de modo que o primeiro citado não 
extrapole as práticas do último. 
POR DENTRO DA BNCC 
Você sabia que a BNCC apresenta os direitos de aprendizagem das 
crianças? Eles são: conviver, brincar, participar, explorar, expressar 
e conhecer-se. Esses direitos refletem o modo com a criança é 
entendida na atualidade, ou seja, um indivíduo com potencial que 
teve ter condições de se desenvolver e aprender. Mas, nem sempre 
foi assim na história da educação. As primeiras instituições tinham 
um caráter de assistência que não atendida às necessidades 
educativas. Sendo assim, os direitos que encontramos na BNCC são 
reflexos de mudanças nos processos sociais, históricos e 
educacionais do modo de compreender a infância, e para que 
possamos manter e melhorar as condições de educação dos nossos 
pequenos brasileiros é necessário olhar de forma crítica para tudo 
que antecedeu o momento atual. 
Para que seja garantido do acesso à educação infantil e a 
concretização de práticas educacionais, é preciso: 
 Constante diálogo entre os centros de pesquisa que investigam 
os desafios e as possibilidades. 
 Responsabilidade efetiva do poder público no suporte ao 
acesso, permanência e sucesso escolar. 
 Problematização e reivindicação da sociedade sobre os diretos 
das crianças ao ensino gratuito e de qualidade. 
Assim, para que a educação infantil seja ofertada de forma efetiva é 
necessário: 
 Considerar sua estruturação e articulação com o ensino 
fundamental, a partir do foco de uma transição que favoreça o 
aprendizado. 
 Consolidar as normativas curriculares e o suporte do Ministério 
da Educação e das secretarias para a efetivação de práticas 
pedagógicas concretas. 
 Avaliar a implementação de políticas educacionais voltadas 
para a educação infantil, visando realizar um balanço do que 
se materializou e do que ainda precisa acontecer na realidade 
(KRAMER, 2006). 
Atualmente, os centros de educação infantil podem ser de caráter 
público e privado. Sobre os serviços gratuitos, eles estão sob a 
atuação prioritária das instâncias municipais e recebem recursos do 
Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de 
Valorização dos Profissionais da Educação (FUNDEB). Os serviços 
ofertados nestes espaços devem ser subsidiados pelas normativas 
curriculares, tais como a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), 
quese configura como um documento norteador para a elaboração 
dos currículos escolares. Se examinarmos os atendimentos às 
crianças no passado até os dias atuais vamos nos deparar com 
inúmeros avanços no que diz respeito ao reconhecimento das 
singularidades e dos direitos desses brasileiros. Entretanto, ainda 
nos deparamos com vários desafios e lacunas que permitem a 
manutenção de desigualdades de atendimento e acesso, causando 
prejuízos severos para o público que compõe a classe popular. Tanto 
no âmbito das práticas quanto no âmbito das políticas nota-se a 
relevância de análise crítica de todos os sujeitos, pesquisadores, 
profissionais da educação, representantes governamentais e 
sociedade civil, para que todas as crianças, independentemente da 
classe e condição social em que vivem, tenham o direito ao ensino 
garantido na política e na realidade. 
FOCO NA BNCC 
A BNCC apresenta aprendizagens essenciais que os educandos 
devem se apropriar, sendo assim os direitos de aprendizagem e os 
campos de experiências foram formulados considerando as 
necessidades das crianças, seu desenvolvimento e faixas etárias. 
Isso só foi possível por conta de um processo histórico de 
concepções e paradigmas que foram desconstruídos e reconstruídos 
para que hoje possamos considerar as crianças no centro do 
processo. Dentre os direitos de aprendizagem podemos citar o de 
“expressar” em que a criança pode dialogar, descobrir e expor suas 
dúvidas e opiniões de diversas formas. Agora a criança tem o direito 
de se colocar no mundo como cidadã. É importante considerarmos 
que todos os processos históricos e as concepções de infância 
impulsionaram mudanças e melhorias para se pensar a educação 
das crianças de zero a cinco anos. 
Quantos pontos importantes estudamos juntos, não é verdade? 
Estudamos aspectos históricos para compreender a atualidade. 
Também analisamos o quanto é fundamental problematizar a 
conjuntura social, sem julgar os sujeitos, pois ainda é preciso 
caminhar mais para que todas as crianças tenham seus direitos de 
aprendizagem garantidos. 
FAÇA A VALER A PENA 
Questão 1 
Sobre a infância, leia o excerto a seguir: 
“A importância da infância ainda é, de uma forma geral, uma 
perspectiva pouco con¬siderada tanto na produção acadêmica 
quanto nas decisões políticas e econômicas das sociedades em 
geral. Demonstra, assim, que é possível e necessário conectar a 
infância às análises sociais e econômicas, incluindo-a e 
compreendendo-a como uma categoria coprodutora da realidade 
social” (JÚNIOR; VASCONCELLOS, 2017, p. 274). 
Como podemos observar na citação, ainda encontramos inúmeros 
desafios sobre o entendimento da infância. Entretanto, no passado a 
situação era ainda mais delicada. Considerando a criança no período 
colonial, avalie as afirmativas a seguir: 
I. As crianças eram compreendidas como adulto em miniatura e 
as instruções dadas a elas eram modeladoras e disciplinares. 
II. As crianças tinham o mesmo tratamento e condição de 
subsistência, independentemente de sua classe social. 
III. As crianças eram entendidas como cidadãos em potencial e por 
isso foram inseridas no processo de trabalho industrial para 
favorecer o desenvolvimento social. 
É correto o que se afirma em: 
a. I, apenas. 
b. I e II, apenas. 
c. I, II e III. 
d. II, apenas. 
e. III, apenas. 
Questão 2 
“Como ensinar solidariedade e justiça social, respeitar as diferenças 
e atuar contra a discriminação e a dominação? Estão nossas 
crianças e jovens aprendendo a rir da dor do outro, a humilhar, a 
serem humilhadas, a não mais se sensibilizar? Perdemos o diálogo? 
Como recuperá-lo? As práticas, desenvolvidas com as crianças, 
humanizam-nas?” (KRAMER, 2006, p. 812). 
Esse excerto se refere à problematização sobre a configuração da 
educação infantil no Brasil. Sabe-se que as mazelas sociais e as 
diferenças no acesso aos bens materiais e imateriais assolam a vida 
de todos os brasileiros. Nossas crianças se constituem neste 
contexto e por isso uma educação de qualidade deve ser 
possibilitada para que esse cenário se modifique. No que se refere 
ao papel dos movimentos sociais na luta pela educação, avalie as 
asserções e a relação proposta entre elas: 
I. No período da redemocratização, os movimentos sociais 
tiveram papel preponderante para a garantia dos direitos das 
crianças 
PORQUE 
II. A luta mobilizada pelos movimentos considerava as 
necessidades das crianças em terem acesso a um ensino que 
potencialize o desenvolvimento e a aprendizagem. 
A respeito dessas asserções, assinale a alternativa correta: 
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a. As asserções I e II são proposições verdadeiras, mas a II não 
justifica a I. 
b. As asserções I e II são proposições verdadeiras e a II justifica a I. 
c. A asserção I é uma proposição verdadeira e a II, falsa. 
d. A asserção I é uma proposição falsa e a II, verdadeira. 
e. As asserções I e II são proposições falsas. 
Questão 3 
De acordo com Andrade (2010, p. 131): “As políticas públicas para a 
infância brasileira do século XIX até as primeiras décadas do século 
XX são marcadas por ações e programas de cunho médico-sanitário, 
alimentar e assistencial, predominando uma concepção psicológica 
e patológica de criança, inexistindo um compromisso com o 
desenvolvimento infantil e com os direitos fundamentais da infância”. 
Sobre o rompimento da perspectiva assistencialista no Brasil, avalie 
as afirmativas e marque V para verdadeiro e F para falso: 
( ) O assistencialismo perdeu força na realidade brasileira a partir das 
discussões sobre a relevância da ênfase educacional no atendimento 
das crianças. 
( ) O assistencialismo foi retirado do cenário brasileiro a partir da 
reivindicação do poder público que pretendia assegurar 
financeiramente todas as necessidades educativas. 
( ) O assistencialismo foi problematizado, pois houve o 
reconhecimento de que o espaço educativo deve possibilitar o pleno 
desenvolvimento da crianças. 
Agora, assinale a alternativa CORRETA: 
a. V-V-F. 
b. V-V-V. 
c. F-F-F. 
d. F-V-F. 
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e. V-F-V. 
REFERÊNCIAS 
AGUIAR JÚNIOR, V. S.; VASCONCELLOS, L. C. F. A importância 
histórica e social da infância para a construção do direito da saúde 
no trabalho. Revista saúde e sociedade. São Paulo, v. 26, n.1, p. 
71-285, 2017. 
ANDRADE, L. B. P. Tecendo os fios da infância. In: ANDRADE, L. B. 
P. (Org.). Educação infantil: discurso, legislação e práticas 
institucionais. São Paulo: Editora UNESP, 2010, p. 47-77. 
ÁRIES, P. História social da criança e da família. Trad. Dora 
Flaksman. 2. ed. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e Científicos, 1981. 
BRITES, O. Crianças de Revista (1930/1950). Educação e 
pesquisa. São Paulo, v. 26, n. 1, p. 161-176, 2000. 
CHAMBOULEYRON, R. Jesuítas e as crianças no Brasil 
quinhentista. In: PRIORE, M. D. (Org.). História das crianças no 
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FEITOSA, I. C. N.; DIMENSTEIN, M. Trabalho infantil e ideologia nas 
falas de mães de crianças trabalhadoras. Estudos e pesquisa em 
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GOÉS, J. R.; FIORENTINO, M. Crianças escravas, crianças dos 
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KRAMER, S. As crianças de 0 a 6 anos nas políticas educacionais 
no Brasil: educação infantil e/é fundamental. Educação & 
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KUHLMANN JÚNIOR, M. Histórias da educação infantil 
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MAUAD, A. M. A vida das crianças de elite durante o Império. In: 
PRIORE, M. D. (Org.). História das crianças no Brasil. São Paulo: 
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OLIVEIRA, Z. R. Educação infantil: fundamentos e métodos. 7 ed. 
São Paulo: Cortez, 2011. (Coleção Docência em Formação) 
PRIORE, M. D. O cotidiano da criança livre no Brasil entre a Colônia 
e o Império. PRIORE, M. D. (Org.). História das crianças no Brasil. 
São Paulo: Contexto, 2010, p. 84-106. 
ROSEMBERG, F. Sísifo e a educação infantil brasileira. Pró-
Posições. Campinas, v. 14, n. 1, p. 177-194, 2003. 
Bons estudos! 
 
FOCO NO MERCADO DE TRABALHO 
CINFÂNCIA NO BRASIL 
CONCEPÇÃO DE CRIANÇA E INFÂNCIA NO BRASIL 
Natália Gomes dos Santos 
FORMAÇÃO CONTINUADA 
Você refletirá sobre o papel da criança na realidade brasileira. 
 
Fonte: Shutterstock. 
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SEM MEDO DE ERRAR 
A situação-problema desta seção se refere ao início do curso de 
formação intitulado “Conhecer a história para compreender a 
criança”. Nele, a professora Carolina aborda o contexto que 
impulsionou a educação infantil até os dias atuais. A proposta para 
esse primeiro encontro foi a realização de algumas leituras e 
reflexões sobre três questões levantadas por Carolina, e agora, após 
nossos estudos, vamos nos colocar no lugar dos docentes para 
resolver esses desafios. 
O primeiro questionamento se refere à concepção de infância ao 
longo da educação brasileira e o que se modificou ao longo desse 
processo. Com base na literatura, verificamos que no passado as 
crianças eram compreendidas como adultos em miniatura e as 
instruções voltadas a elas deveriam moldá-las a partir de 
pressupostos morais, doutrinadores e disciplinares. Os professores 
também devem destacar nas análises que as condições de 
desigualdades entre as crianças acontecem desde o período 
colonial, em que membros da elite tinham possibilidade de manter a 
condição social em que viviam, enquanto os pequenos escravizados 
sobreviviam em situações precárias e a manutenção de suas vidas 
tinha o objetivo de continuar servindo aos senhores. 
O olhar para a criança passa a ocorrer nas primeiras décadas do 
século XIX, com influência de estudos realizados por teóricos 
europeus, que apontaram a relevância de considerar as 
especificidades das crianças e o olhar para seu desenvolvimento. A 
luta por direitos e a realização das pesquisas sobre infância foram 
cruciais para a modificação da compreensão dessa etapa da vida 
humana. A criança não é um sujeito inferior ao adulto e não deve ser 
um depósito de costumes e conhecimentos, mas sim um cidadão que 
deve ter acesso aos saberes para se constituir e atuar de forma 
significativa. 
Outro questionamento realizado por Carolina foi sobre o modo como 
os contextos sociais, históricos e econômicos impactaram a infância 
das crianças brasileiras. O primeiro ponto que deve ser abordado 
pelos docentes é a influência econômica e a estrutural como base na 
atuação de todos os indivíduos na sociedade. A realidade brasileira 
sempre foi dividida entre os que detinham os recursos materiais, os 
explorados e os que vendiam sua mão de obra para sobreviver. Esse 
contraste se reflete no modo como as pessoas são vistas e nas 
oportunidades dadas a elas. As crianças fazem parte deste contexto 
e a classe social à qual pertencem também direciona o modo como 
terão (ou não) acesso aos bens econômicos e culturais. 
Os docentes devem problematizar essa realidade para não fazerem 
análises preconceituosas sobre seus alunos. Muitas crianças 
chegam aos espaços educativos sem nunca terem contato com livros 
antes, letras e outros aspectos ligados ao ensino. Isso pode colocá-
las em desvantagem em comparação com crianças de classes 
sociais abastadas que possuem tais acessos deste o berço. O 
exercício que os professores precisam ter é o de não culpabilizar a 
criança e sua família por sua condição, mas questionar as injustiças 
que impossibilitam o acesso para tantos. Esse é o primeiro ponto 
para se avançar nas lutas e melhorias de uma educação infantil 
efetivamente universalizada. 
Por fim, o último questionamento do encontro foi sobre as primeiras 
instituições de educação infantil no país. A partir das leituras, os 
professores poderão perceber que os primeiros serviços eram de 
caráter assistencialista, propiciando um local para acolher as 
crianças enquanto seus pais trabalhavam nas indústrias. A 
contribuição foi o questionamento sobre esses serviços, pois tanto os 
pesquisadores sobre a infância quanto os movimentos sociais 
compreendiam que a educação infantil não deveria ser um direito 
apenas dos pais, mas das crianças. 
PESQUISE MAIS 
Para que você amplie ainda mais seus conhecimentos sobre a 
temática que estamos trabalhando, sugerimos a leitura de um trecho 
do livro denominado Tecendo os fios da infância, de Lucimary 
Bernadé Pedrosa de Andrade. O trecho sugerido é intitulado 
“Infâncias e crianças” (p. 47-55) e retrata o panorama de como as 
concepções foram se modificando. 
ANDRADE, L. B. P. Tecendo os fios da infância. In: ANDRADE, L. B. 
P. (Org). Educação infantil: discurso, legislação e práticas 
institucionais. São Paulo: Editora UNESP, 2010, p. 47-77. 
AVANÇANDO NA PRÁTICA 
O FOCO NO TRABALHO PEDAGÓGICO COM OS BEBÊS 
Mariana é estudante de pedagogia e está realizando seu estágio no 
Centro de Educação Infantil Pedro Bandeira. Ela acompanhará as 
atividades da sala da professora Laura, que atua com este público há 
35 anos. Laura apresenta para Mariana o planejamento pedagógico 
e como se configura a rotina da turma, visto que os alunos que ela 
atende possuem 1 ano de idade. Mariana agradece a disponibilidade 
e atenção da professora e questiona como ela estrutura as práticas 
dando o enfoque na perspectiva pedagógica e não assistencialista, 
já queo trabalho com os bebês requer cuidados de higiene e 
alimentação. A partir dessa indagação de Mariana, se coloque no 
lugar de Laura e responda para a estagiária quais foram as 
mudanças e quais são as possíveis modificações sobre o trabalho 
com ênfase no âmbito pedagógico. 
RESOLUÇÃO 
Laura pode iniciar sua conversa com Mariana relatando que, quando 
começou sua atuação com os bebês na década de 1980, o trabalho 
com a educação infantil tinha um viés de cuidado e acolhimento, que 
se configurava como um direito dos pais de ter um espaço para as 
crianças ficarem, enquanto eles trabalhavam. No entanto, discussões 
surgiram e a educação destas crianças começou a ser pensada para 
potencializar o seu desenvolvimento e aprendizagem. Assim, Laura 
relata que após alguns anos foram elaboradas políticas educacionais 
que apresentaram o direito à educação para as crianças. A partir 
deste contexto, ocorreu um redimensionado das práticas para 
atender às necessidades de cunho pedagógico. 
Laura também aponta que foi preciso ingressar em um curso de 
pedagogia, pois sua inserção na docência se deu a partir do 
magistério. A professora disse que essa nova etapa foi um divisor de 
águas, visto que no curso ela entendeu que os objetivos pedagógicos 
deveriam estar presentes em todas as atividades e ações realizadas 
com os bebês. Hoje em dia, seu planejamento possui uma finalidade 
pedagógica, ou seja, não é apenas uma vivência de cuidado da 
criança, mas sim o vínculo desta necessidade com experiências que 
auxiliam o desenvolvimento e a aprendizagem dos pequenos. Por 
exemplo: no momento do banho, a professora trabalha a percepção 
do corpo com o bebê, a partir de músicas para potencializar a 
estimulação sensorial. Ela também confecciona livros de plástico, a 
prova d’agua, para trabalhar as cores, entre outras estratégias. Laura 
destaca que o cuidar não é retirado da educação infantil, mas se 
compreende como uma possibilidade de aprendizado para a criança. 
 
UNIDADE 1.2 
NÃO PODE FALTAR 
LEGISLAÇÃO DA EDUCAÇÃO INFANTIL 
Natália Gomes dos Santos 
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OFERTA DE EDUCAÇÃO INFANTIL 
As concepções das propostas pedagógicas devem apresentar a 
relação entre família e escola sobre a educação e o cuidado com as 
crianças, com promoção de igualdade de oportunidade, para que 
todas as crianças tenham acesso ao saber e à construção de formas 
de sociabilidade e subjetividade que garantam a democracia e a 
minimização das desigualdades sociais. 
 
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PRATICAR PARA APRENDER 
Estudante, estamos iniciando mais um momento de reflexões na 
disciplina de Organização do Trabalho Pedagógico na Educação 
Infantil. Já discutimos como se constituiu a educação infantil na 
história do país e verificamos que nem sempre a criança foi 
compreendida como um sujeito de direitos. Mas isso se modificou a 
partir de inúmeras reivindicações. As políticas são frutos destas lutas 
e por isso elas serão nosso objeto de análise nesta seção. Sendo 
assim, vamos conhecer as principais legislações educacionais que 
marcaram o processo de democratização do ensino para as crianças 
brasileiras. Estudaremos o papel da Constituição de 1988 e da Lei de 
Diretrizes e Bases da Educação Nacional de 1996, compreendo-as 
como políticas que subsidiam todas as normativas posteriores. 
Também estudaremos as políticas que foram construídas para 
garantir a organização das propostas pedagógicas na educação 
infantil, as quais consideram o brincar, educar e cuidar como 
aspectos fundamentais para a efetivação de práticas pedagógicas 
significativas. Por fim, vamos problematizar os limites para que essas 
políticas se efetivem e o papel que o professor deve assumir na luta 
pela construção de uma educação de qualidade. 
O contexto de aprendizagem desta unidade se refere à realidade da 
pedagoga Rafaela, que trabalha no Centro de Educação Infantil 
Cecília Meireles. Ela organiza o processo de gestão da escola e 
também auxilia os professores com o planejamento das turmas, 
sempre em busca de articulação entre as práticas pedagógicas e o 
currículo da escola. Rafaela começou a ficar intrigada com a fala de 
alguns docentes, pois muitos destes profissionais tinham uma visão 
de infância equivocada e entendiam que a criança deveria realizar 
atividades que, muitas vezes, não coincidiam com sua faixa etária. 
Em outros casos, os professores compreendiam o trabalho na 
educação infantil como um cuidado assistencial, perdendo, em 
muitos momentos, o caráter educacional. Preocupada com esta 
situação, a pedagoga conversa com a diretora Helena e, juntas, 
organizam uma formação continuada na escola para que os docentes 
possam refletir sobre a constituição da educação infantil no Brasil. A 
formação intitulada “Conhecer a história para compreender a criança” 
acontecerá em três momentos, nos quais serão resgatados os 
avanços e desafios da educação infantil em seus aspectos históricos, 
políticos e sociais. 
Após o primeiro encontro na formação continuada, verificaram-se 
novos posicionamentos por parte dos professores sobre a 
necessidade de entender o percurso histórico da infância para 
compreender a criança na atualidade e o papel da escola em sua 
formação. No segundo dia de estudos, a professora Carolina propôs 
aos docentes uma atividade investigativa, em que eles deveriam se 
organizar em trios e realizar uma pesquisa sobre as principais 
políticas que subsidiam o direito à educação das crianças. A 
ministrante relatou que os professores deveriam buscar as 
informações na fonte, ou seja, nas próprias políticas, e nas 
discussões da literatura da área da educação para se entender os 
limites e as possibilidades das políticas educacionais. A busca 
deveria ser realizada a partir dos seguintes questionamentos: 
 Quais políticas são fundamentais para a organização da 
educação infantil no Brasil? 
 Quais são os impactos das políticas educacionais na vida 
escolar do alunado da educação infantil? 
 Quais contribuições as políticas educacionais possibilitam para 
o trabalho desenvolvido pelo professor na educação infantil? 
Pense como os professores que estão em formação e reflita sobre 
esses questionamentos. 
EXEMPLIFICANDO 
Para compreender como as políticas se materializam na prática 
pedagógica, sugerimos que você pense a educação infantil como 
uma construção: antes de se levantar as paredes, construir os 
cômodos de uma casa ou escolher uma decoração é preciso ter uma 
planta, elaborada por um engenheiro. Na planta, temos as medidas, 
os materiais e as projeções, para que a obra seja elaborada de forma 
segura e sólida. É a mesma coisa na escola: quando pensamos as 
ações e práticas na educação infantil devemos considerar que tudo 
é baseado na planta, ou seja, nas políticas. Desde os aspectos de 
gestão escolar até as práticas desenvolvidas em sala de aula, 
absolutamente tudo é realizado a partir de lei, decreto, emenda e 
diretriz. Por isso você deve conhecer as políticas vinculadas à 
educação infantil, questionar o que está dando certo e o que ainda 
precisa melhorar nesse contexto. Só assim teremos fundamentos 
para a realização do nosso trabalho na escola. 
Vamos realizar novas descobertas e reflexões sobre o direito e 
organização da primeira etapa de ensino da educação básica. 
CONCEITO-CHAVE 
DIREITO À EDUCAÇÃO BÁSICA 
Atualmente, nossas crianças têm o direito ao acesso à educação 
básica. No entanto, como vimos anteriormente, nem sempre esta 
realidade fez parte da vida de inúmeras delas e lutas aconteceram 
para que esse cenário se modificasse. As lutas sobre os direitos das 
crianças tiveram início nas discussões internacionais. Dentre elas, 
podemos observar as contribuições da Declaração Universal dos 
Direitos das Crianças de 1959, a qual pontua que: 
A criança gozará de proteção especiale disporá de oportunidade e 
serviços, a serem estabelecidos em lei por outros meios, de modo 
que possa desenvolver-se física, mental, moral, espiritual e 
socialmente de forma saudável e normal, assim como em condições 
de liberdade e dignidade. Ao promulgar leis com este fim, a 
consideração fundamental a que se atenderá será o interesse 
superior da criança. (ONU, 1959, [s.p.]) 
O respectivo documento afirma a necessidade de a criança ser 
atendida em todos os aspectos que garantam seu desenvolvimento 
e sua sobrevivência, a saber: a saúde, a assistência, os cuidados e 
a educação. No que se refere à educação, é pontuada a relevância 
de um ensino gratuito que permita a construção de saberes que lhe 
preparem para a atuação em sociedade. O lazer também é 
apresentado na declaração, a partir da afirmação de que a criança 
deve desfrutar de momentos de brincadeiras e jogos, os quais devem 
estar presentes em todos os ambientes sociais dos quais ela faz 
parte (ONU, 1959). 
No Brasil, as mudanças foram expressivas a partir do período de 
redemocratização. Após anos de ditadura militar, os direitos sociais 
ganharam espaço na conjuntura brasileira. Vale destacar o papel das 
discussões e dos documentos internacionais para que esse processo 
acontecesse também no Brasil. 
A Constituição Federal de 1988 marca esse processo no país. O 
capítulo três, seção um deste documento, é destinado para as ações 
relacionadas à educação. O artigo 205 apresenta que a educação é 
direito de todos os cidadãos e dever do Estado e da família. Deste 
modo, os brasileiros devem ter condições objetivas que possibilitem 
o acesso e a aprendizagem nos espaços escolares. No texto também 
são apresentados os princípios que devem direcionar os processos 
educativos, tais como: liberdade de aprender e ensinar, garantia do 
padrão de qualidade, gratuidade do ensino público, pluralismo de 
ideias e concepções pedagógicas. 
Sobre a obrigatoriedade da educação básica, a Emenda 
Constitucional nº 59 de 2009 afirma que todas as pessoas de 4 a 17 
anos devem estar matriculadas no sistema de ensino. Atendimentos, 
por meio de programas suplementares de transporte, material 
didático-escolar, alimentação e assistência à saúde devem ser 
possibilitados para os educandos (BRASIL, 2009). 
A partir da Constituição novas políticas foram construídas para que o 
direito universal ao ensino se concretizasse. Essa discussão fica 
evidente na Lei nº 8.069/1990 que dispõe o Estatuto da Criança e 
do Adolescente (ECA). A lei foi elaborada para formalizar os direitos 
humanos deste público e a relevância de atenção às necessidades 
básicas dos indivíduos. O capítulo quatro apresenta dispositivos 
vinculados ao direto à educação, à cultura, ao esporte e ao lazer de 
crianças e jovens. Segundo a lei, toda criança e todo adolescente 
tem o direito de acesso e permanência no espaço educativo, a partir 
da oferta de um ensino gratuito em instituição próxima de sua 
residência. No que se refere às responsabilidades do Estado, a lei 
indica no artigo 54 que deve ser ofertado “atendimento em creches e 
pré-escolas às crianças de zero a cinco anos de idade” (BRASIL, 
1990, p. 18). 
Como pontuado na Constituição, o ECA também apresenta 
normativas relacionadas aos deveres dos pais, de modo que eles são 
responsáveis por matricular seus filhos na escola e, caso não 
atendam às suas atribuições de tutela e cuidados, a instituição 
escolar deverá acionar o Conselho Tutelar, caso haja sinais de maus 
tratos e faltas injustificadas que levem à evasão. No ECA também é 
afirmado o compromisso com o respeito aos valores culturais, 
artísticos e históricos da realidade das crianças, propiciando 
liberdade de criação e acesso aos conhecimentos culturais (BRASIL, 
1990). 
PESQUISE MAIS 
O momento de estudo é repleto de descobertas. Por esse motivo, 
segue indicação de leitura: 
ANDRADE, L. B. P. Educação infantil: na trilha do direito In: 
ANDRADE, L. B. P. (Org). Educação infantil: discurso, legislação e 
práticas institucionais. São Paulo: Editora UNESP, 2010, p. 127-168. 
O material apresenta uma discussão sobre os impactos das 
principais políticas no fazer pedagógico. 
Boa leitura! 
Neste cenário também podemos observar a Lei de Diretrizes e 
Bases da Educação Nacional nº 9.394/1996. Ela foi elaborada para 
direcionar todas as ações da educação brasileira, em diversos níveis, 
etapas e modalidades de ensino. No que tange à educação infantil, 
ela é compreendida como a primeira etapa da educação básica e tem 
o objetivo de propiciar o desenvolvimento integral da criança de zero 
até cinco anos. Suas ações devem favorecer a aquisição de saberes 
e habilidades que potencializam os aspectos psicológico, intelectual, 
físico e social da criança (BRASIL, 1996). 
Sobre o atendimento, a LDB/1996 pontua que: 
 Crianças de zero a três anos devem estar inseridas em creches 
ou entidades equivalentes. 
 Crianças de quatro a cinco anos devem estar matriculadas nas 
pré-escolas. 
 A avaliação das crianças nesta etapa de ensino deve acontecer 
de forma processual, por meio de acompanhamento e registro 
sobre o seu desenvolvimento. 
 Há necessidade de cumprimento de carga horária mínima 
anual, de oitocentas horas, distribuídas em duzentos dias 
letivos (BRASIL, 1996). 
Verificamos que o acesso ao ensino das crianças está garantido. No 
entanto, para que as práticas aconteçam de forma efetiva, é 
fundamental a organização curricular dos sistemas de ensino. 
CURRÍCULO 
O primeiro ponto para essa análise é o entendimento de currículo. De 
acordo com Sacristán (2013), o currículo escolar é uma organização 
dos conteúdos e saberes que os alunos devem aprender, de modo 
que tais conhecimentos regularão as práticas pedagógicas nos 
espaços educativos. Desse modo, ele deve ser construído na escola, 
respeitando necessidades, etapa de ensino e faixa etária dos alunos, 
mas, como é pontuado tanto na Constituição como na LDB, deve-se 
ter uma base comum entre os conhecimentos sobre os quais as 
pessoas vão se apropriar, ou seja, a garantia de que todos os alunos 
de determinada etapa de ensino terão acesso aos mesmos 
conteúdos, respeitando as especificidades regionais, culturais e 
econômicas. Para isso, diretrizes curriculares para todas as etapas 
de ensino foram construídas, visando atender a essas normativas 
previstas nas políticas citadas anteriormente. 
Em relação à educação infantil, em 1998 foi publicado o primeiro 
volume do Referencial Curricular Nacional para a Educação 
Infantil. O RCNEI foi construído para direcionar a implementação de 
práticas educativas nos centros de educação infantil, atentando às 
necessidades das crianças. Dentre os princípios apresentados no 
RCNEI, podemos observar o respeito à dignidade das crianças, o 
direito ao brincar como forma de expressão e relação com o mundo, 
o acesso dos educandos aos bens socioculturais, a socialização das 
crianças e o atendimento aos cuidados primordiais (BRASIL, 1998a). 
Os pilares da educação infantil foram explicitados nas discussões 
apresentadas no documento. O primeiro deles é o educar, que 
significa 
propiciar situações de cuidados, brincadeiras e aprendizagens 
orientadas de forma integrada e que possam contribuir para o 
desenvolvimento das capacidades infantis de relação interpessoal, 
de ser e estar com os outros em uma atitude básica de aceitação, 
respeito e confiança, e o acesso, pelas crianças, aos conhecimentos 
mais amplos da realidade social e cultural. (BRASIL, 1998a, p. 23) 
Nesta lógica, o ensino tem a finalidade de dar a oportunidade 
de desenvolvimento da capacidade de aquisição de saberes 
fundamentais para todas as crianças, tais como: corporais, afetivos, 
emocionais, estéticos e éticos. O desenvolvimento da criança é um 
fator essencial para que ela entenda o mundo, estabeleça relações 
com o outro e adquira futuros conhecimentos (BRASIL, 1998a). 
O primeiro volume do RCNEI também apresenta o cuidar como 
pilar. Ele não é visto em uma perspectivaassistencialista, mas antes 
é entendido como parte integrante da educação. O cuidar é 
compreendido como a forma de valorizar e estimular as 
possibilidades de desenvolvimento das crianças. Assim, o cuidado 
na educação infantil deve envolver a dimensão afetiva e as 
necessidades biológicas do cidadão, considerando a alimentação, a 
saúde e a higiene. Vale destacar o cuidado que o adulto deve ter no 
processo de interação com a criança e atendimento às suas 
necessidades, pois ele deve estabelecer comunicação e 
compreender os sinais sobre o que a criança precisa em cada faixa 
etária. Por isso, a responsabilidade do profissional que atua na 
educação infantil e o seu preparo são aspectos fundamentais para a 
potencialização do desenvolvimento e da aprendizagem das crianças 
(BRASIL, 1998a). 
No mesmo ano foi publicado o segundo volume do RCNEI, que 
tinha enquanto tema a formação social e pessoal da criança. O 
documento aborda inúmeros aspectos fundamentais para a 
construção dos currículos desta etapa de ensino, dentre eles os 
objetivos destinados às crianças atendidas na educação infantil. O 
primeiro ponto discutido no documento diz respeito às finalidades dos 
trabalhos realizados com as crianças de zero a três anos. 
Segundo o RCNEI, os centros de educação infantil devem propiciar 
um ambiente acolhedor que possibilite ao seu público expressar seus 
desejos e sentimentos de forma autônoma. O aluno também deve 
conhecer o corpo e aprender a ter cuidado com ele, brincar de 
diversas formas e relacionar-se com seus pares e com os 
profissionais da instituição (BRASIL, 1998b). 
O documento também sinaliza os objetivos destinados ao ensino das 
crianças de quatro a seis anos. Destaca-se que as crianças com seis 
anos no momento histórico em que foi construído o referencial faziam 
parte do público desta etapa de ensino. Assim, as finalidades para 
elas eram construir uma imagem positiva e de autoconfiança de si 
mesmas, identificar e enfrentar situações de conflito, valorizar ações 
de solidariedade e cooperação, brincar e se expressar de diversos 
modos, adotar ações de autocuidado e compreender sua 
participação nos diversos grupos sociais, visando a compreensão 
das regras de convívio social e da diversidade (BRASIL, 1998b). 
O último volume do RCNEI discute o conhecimento de mundo que 
a criança deve ter nessa etapa de ensino. O documento apresenta 
objetivos, conteúdos e ações da proposta que deve ser trabalhada 
para que as crianças se apropriem de saberes referentes a 
movimento, artes visuais, linguagem oral e escrita, natureza e 
sociedade, música e matemática. Algo que merece ser destacado é 
que, em todas as áreas do conhecimento denominadas 
anteriormente, os jogos e as brincadeiras estão presentes como 
instrumento mediador para que os alunos se apropriem dos saberes 
(BRASIL, 1998c). 
Os três documentos são compreendidos como direcionamentos que 
possibilitaram para o momento histórico a marca desta etapa de 
ensino como um espaço de educação que deve considerar as 
crianças em seu desenvolvimento integral. Eles foram adotados 
como um guia de reflexão das instituições de ensino de como deviam 
ser estruturados os conteúdos, objetivos e orientações didáticas para 
os profissionais, com vistas a dar aos alunos uma base sólida de 
conhecimentos que permitissem a construção de novos saberes nas 
demais etapas de ensino. 
Outro aspecto que deve ser considerado é que os volumes do RCNEI 
são frutos das exigências apontadas na LDB/96, as quais visam a 
qualidade de ensino e a formação integral das capacidades das 
crianças (BRASIL, 1998). 
REFLITA 
O Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil é 
composto por três volumes. Ele não se refere apenas a benefícios no 
campo do direito, mas também como um instrumento para a 
organização das propostas e práticas pedagógicas que marcaram o 
início do século XXI no país. Com base nas questões que discutimos 
sobre o RCNEI em relação a educar e cuidar, você observa 
progressos na concepção de criança e no trabalho pedagógico, ao 
compará-lo com o histórico registrado no passado da educação 
infantil no Brasil? 
Em 2010, foi publicado um importante documento, que se refere 
às Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil, 
que tem por finalidade estabelecer normativas que, vinculadas às 
Diretrizes Nacionais da Educação Básica, permitissem a organização 
das propostas pedagógicas na respectiva etapa de ensino. O 
documento reúne fundamentos, princípios e procedimentos que 
propiciam a efetivação das práticas na educação infantil. Conforme 
apresentado na nomenclatura, as DCNEI são um direcionamento 
para a organização pedagógica. Assim, a legislação estadual e 
municipal deve se adequar para atender à normativa nacional, 
considerando as necessidades e peculiaridades de cada realidade. 
No que tange à orientação pedagógica, verifica-se que: 
Proposta pedagógica ou projeto político pedagógico é o plano 
orientador das ações da instituição e define as metas que se pretende 
para a aprendizagem e o desenvolvimento das crianças que nela são 
educados e cuidados. É elaborado num processo coletivo, com a 
participação da direção, dos professores e da comunidade escolar. 
(BRASIL, 2010, p. 13) 
Essas ações e práticas devem ser realizadas por meio de princípios 
que considerem a autonomia, a responsabilidade e o respeito às 
diferenças. Também é necessário propiciar a efetivação dos direitos 
de cidadania e do exercício da criticidade. Por meio da educação, 
devem ser ofertadas às crianças a liberdade, a criatividade, a 
sensibilidade e a expressão das diferentes manifestações artísticas 
e culturais. 
Em relação às concepções das propostas pedagógicas das 
instituições que ofertam educação infantil, elas devem apresentar, 
tanto no texto como no contexto, a relação entre família e escola 
sobre a educação e cuidado com as crianças, com promoção de 
igualdade de oportunidade, para que todas as crianças tenham 
acesso ao saber e à construção de formas de sociabilidade e 
subjetividade que garantam a democracia e a minimização das 
desigualdades sociais (BRASIL, 2010). 
Outro aspecto interessante no documento é a necessidade de 
alinhamento entre a proposta pedagógica e as condições de um 
trabalho colaborativo desenvolvido por todos. Nesta perspectiva, a 
educação e o cuidado devem ser compreendidos como aspectos 
indissociáveis, de modo que as dimensões afetiva, motora, cognitiva, 
linguística, ética, estética e sociocultural sejam trabalhadas 
concomitantemente. A comunicação e escuta das famílias também 
apresentam benefícios para o fazer pedagógico, e ele deve se dar a 
partir de uma gestão democrática, em que todos os envolvidos 
pensarão as possibilidades de avanços e melhorias na realidade 
educativa (BRASIL, 2010). 
Outro ponto que deve ser atendido no momento de estruturação das 
ações pedagógicas é o respeito às crianças, considerando as 
singularidades de cada faixa etária. Também é pontuada no 
documento a necessidade de as crianças terem contato com os 
conhecimentos histórico-culturais dos povos indígenas e 
afrodescendentes, asiáticos, europeus e de outros países da 
América. 
Uma questão relevante que é tratada na DCNEI é a necessidade de 
acessibilidade e adaptação de espaços e práticas para as crianças 
público-alvo da educação especial, como forma de promoção e 
efetivação da inclusão escolar (BRASIL, 2010). 
Para que todos os indicativos normativos já citados se concretizem 
na realidade é fundamental fazer investimentos em recursos 
financeiros. Por isso, a educação infantil é incluída nos fundos 
vinculados ao financiamento do ensino. Essa afirmação pode ser 
verificada a partir de 2007 com a implementação do Fundo de 
Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de 
Valorização dos Profissionais da Educação (FUNDEB). Este 
fundo foi criado para atender ao artigo 212 da Constituição e seus 
recursos são derivados de impostos e transferências. Ele é composto 
por 27 fundosque representam cada estado brasileiro mais o Distrito 
Federal, e a distribuição é realizada a partir do número de alunos 
registrados no censo escolar do ano anterior (BRASIL, 2007). 
ASSIMILE 
Como podemos observar em nossos estudos, as políticas que 
antecederam 2005 apresentavam como faixa etária da educação 
infantil as crianças de zero a seis anos. Isso se modificou a partir da 
Lei nº 11.114 de 2005 que sancionou a ampliação do ensino 
fundamental em nove anos. Sendo assim, as crianças com seis anos 
deveriam ser inseridas na segunda etapa de ensino da educação 
básica. Na época, o Ministério da Educação argumentou essa 
mudança colocando a necessidade de universalizar, principalmente 
para as crianças das camadas populares, o acesso ao ensino 
obrigatório, visto que neste momento histórico a Constituição 
apresentava apenas o ensino fundamental como etapa obrigatória. 
Tanto a ampliação do ensino fundamental de nove anos (2005) 
quanto a expansão do ensino obrigatório para as pessoas de quatro 
a dezessete anos (2009) são avanços no campo das políticas, visto 
que o Estado deve se responsabilizar, impreterivelmente, com a 
educação. 
Como podemos verificar, a política brasileira é a expressão da 
relação de necessidades e interesses entre o Estado e a sociedade 
civil. Para que as ações aconteçam de forma organizada e 
sistematizada, textos normativos são construídos, visando ao 
atendimento dos direitos e deveres dos cidadãos. Ao analisarmos as 
principais políticas mencionadas anteriormente verificamos que seus 
benefícios são evidentes e, se aplicadas na realidade, propiciam 
inúmeros avanços para a escolarização das crianças. Entretanto, 
devemos analisar para além do que está colocado no texto, pois nem 
sempre tais dispositivos se concretizam totalmente na realidade. 
De acordo com Saviani (2008) encontram-se no contexto brasileiro 
algumas dificuldades no campo das políticas educacionais, que 
podem influenciar a realidade. É por esse fator que vemos nas 
normativas políticas, por exemplo, um discurso de universalização do 
ensino e propostas pedagógicas que favorecem a educação, 
entretanto as escolas precisam de mais investimentos, os 
professores necessitam de maiores incentivos financeiros e 
pedagógicos para aprimorar suas práticas. 
A educação infantil é uma etapa de ensino crucial para o 
desenvolvimento do indivíduo, por isso um trabalho bem elaborado 
que propicie a transição entre esta etapa e o ensino fundamental é 
necessário para que não se apresentem problemas educacionais 
futuros na vida dos sujeitos, tais como o insucesso e a evasão 
escolar. Para que isso ocorra, a qualidade precisa deixar de ser uma 
palavra na política e se tornar uma realidade educativa. Segundo 
Dourados (2007, p. 940): 
A busca por melhoria da qualidade da educação exige medidas não 
só no campo do ingresso e da permanência, mas requer ações que 
possam reverter a situação de baixa qualidade da aprendizagem na 
educação básica, o que pressupõe, por um lado, identificar os 
condicionantes da política de gestão e, por outro, refletir sobre a 
construção de estratégias de mudança do quadro atual. 
Por essas questões é fundamental que você, enquanto futuro 
educador, problematize as políticas educacionais, considerando o 
momento em que foram elaboradas, suas intenções e efetivação (ou 
não) na realidade. É importante conhecer o projeto de educação que 
está posto, e sabemos que em uma sociedade de classes ele não 
está a serviço das classes trabalhadoras. Isso se reflete nas 
condições precárias que temos observado na educação pública 
brasileira. Kremer (2006) questiona essa conjuntura relatando a 
dificuldade de ensinar para as crianças solidariedade e justiça, 
enquanto vivemos em um contexto que tem a injustiça e dominação 
como base. 
Temos de lutar por uma sociedade e educação que não façam 
distinção das possibilidades de acesso ao saber pela condição 
econômica. As crianças que se encontram na creche, por exemplo, 
não estão incluídas na idade obrigatória, e isso se reflete na não 
universalização deste público no espaço educativo. No entanto, as 
crianças advindas da elite têm condições de estar inseridas desde o 
nascimento em espaços educativos particulares, enquanto muitos 
bebês e crianças bem pequenas não estão nas creches por falta de 
vaga. Vale ressaltar que essa diferença não é uma questão de mérito, 
mas de desigualdades estruturais. Esse é o abismo social e 
econômico, e você enquanto futuro professor deve questionar essa 
condição neste momento de formação e na sua futura atuação. O 
direito das crianças foi conquistado por meio de muita luta e as únicas 
coisas que devemos aceitar são avanços, não retrocessos. 
FOCO NA BNCC 
Você sabia que as políticas são elaboradas mediante as demandas 
educacionais, sociais e econômicas de determinado momento 
histórico? É por meio das dinâmicas e das novas necessidades que 
vão sendo construídas que ocorrem modificações no modo de 
direcionar as práticas pedagógicas. Na atualidade, a Base Nacional 
Comum Curricular se configura como o documento norteador para a 
construção dos currículos das escolas brasileiras, sendo assim 60% 
do currículo deve atender ao que está posto na base e 40% é 
diversificado, compreendendo as necessidades daquele local. No 
tocante à educação infantil, notamos o papel preponderante dos 
direitos de aprendizagem e dos campos de experiência para o 
trabalho desenvolvido pelo professor. Eles apresentam benefícios 
para a educação e só obtemos essa organização pelo fato de outras 
políticas terem sido construídas anteriormente. Tanto o RCNEI 
quanto as DCNEI são compreendidos como documentos 
fundamentais para os avanços que temos atualmente na educação. 
Destacamos que a BNCC não é uma “versão melhorada” destas 
políticas, mas sim a continuidade de normativas que consideram as 
necessidades das crianças e da educação na contemporaneidade. 
Quantos aspectos interessantes estudamos juntos nesta seção! 
Foi possível observar que as políticas educacionais apresentam uma 
dimensão fundamental na realização das práticas pedagógicas, e é 
por isso que você deve analisá-las com criticidade e compromisso. 
FAÇA A VALER A PENA 
Questão 1 
Vitória é professora em um centro de educação infantil e está fazendo 
um estudo no curso de formação continuada. As análises da 
professora se referem à articulação entre políticas educacionais e as 
práticas pedagógicas. Dentre as atividades propostas no curso, 
Vitória terá de refletir sobre as normativas apresentadas na Lei de 
Diretrizes e Bases da Educação Nacional de 1996. Considerando 
este contexto, analise as afirmativas e marque V para verdadeiro e F 
para falso: 
( ) Vitória constatou na LDB/96 que os alunos de zero a três anos são 
atendidos na creche e os educandos de quatro a cinco anos são 
matriculados na pré-escola. 
( ) Vitória observou na LDB/96 que a educação infantil é apresentada 
como primeira etapa da educação básica. 
( ) Vitória verificou que, segundo a LDB/96, os aspectos físico, 
psicológico, intelectual e social devem ser desenvolvidos na criança. 
Agora, assinale a alternativa CORRETA: 
a. V-V-V. 
b. F-F-F. 
c. V-F-F. 
d. F-V-V. 
e. V-F-V 
Questão 2 
De acordo com o terceiro volume do Referencial Curricular Nacional 
para a Educação Infantil: 
“O movimento é uma importante dimensão do desenvolvimento e da 
cultura humana. As crianças se movimentam desde que nascem, 
adquirindo cada vez maior controle sobre seu próprio corpo e se 
apropriando cada vez mais das possibilidades de interação com o 
mundo. Engatinham, caminham, manuseiam objetos, correm, 
saltam, brincam sozinhas ou em grupo, com objetos ou brinquedos, 
experimentando sempre novas maneiras de utilizar seu corpo e seu 
movimento” (BRASIL, 1998c, p. 15). 
No que se refere ao trabalho realizado na escola para permitir 
experiências em relação ao movimento pela criança, avalie as 
afirmativas a seguir: 
https://conteudo.colaboraread.com.br/202101/INTERATIVAS_2_0/ORGANIZACAO_DO_TRABALHO_PEDAGOGICO_NA_EDUCACAO_INFANTIL/LIVRO_DIGITAL/npf_u1s2.html#accordion-1%20.item-1

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