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LIVRO_Gallahue_Compreendendo o Desenvolvimento Motor (7 edição)

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140 Gallahue, Ozmun & Goodway
CONCEITO-CHAVE
O estudo dos reflexos e dos padrões de comporta­
mento estereotipados dos bebês revela informações 
úteis para a compreensão do processo do desenvol­
vimento motor.
O
s movimentos reflexos são evidentes 
em todos os fetos, neonatos e bebês em 
maior ou menor grau, de acordo com a idade e 
a constituição neurológica. Os movimentos re­
flexos são reações involuntárias do corpo a vá­
rias formas de estimulação externa. A maioria 
dos reflexos são subcorticais, no sentido de que 
são controlados por centros cerebrais inferiores, 
responsáveis também por numerosos proces­
sos involuntários de manutenção da vida, como 
a respiração. Embora não seja um tópico deste 
capítulo, os reflexos de equilíbrio são mediados 
pelo córtex cerebral. O controle motor voluntá­
rio na criança normal é uma função do córtex ce­
rebral em maturação. Movimentos controlados 
conscientemente resultam de impulsos nervo­
sos transmitidos do córtex cerebral ao longo dos 
neurônios motores.
Muitos reflexos iniciais estão relacionados 
à sobrevivência do bebê (reflexos de sobrevi­
vência primitivos), enquanto outros são pre­
cursores de movimentos voluntários que apare­
cem entre o nono e o décimo quinto mês após 
o nascimento (reflexos posturais primitivos). 
Os movimentos reflexos de caminhar, nadar, 
engatinhar e subir foram relatados por Shirley 
(1.931), McGraw (1939) e Ames (1937). Esses re­
flexos são inibidos antes do surgimento das suas 
contrapartes voluntárias, mas a sua simples pre­
sença é uma indicação de quanto as atividades 
locomotoras estão profundamente enraizadas 
no sistema nervoso.
CONCEITO 7.1
Os reflexos são a primeira forma de movimento hu­
mano e fornecem dicas interessantes sobre o proces­
so do desenvolvimento motor.
Aproximadamente a partir do quarto mês da 
vida fetal até o quarto mês da vida do bebê, a 
maioria dos movimentos são reflexos. As reações
involuntárias resultam de mudanças na estimu­
lação exercida pela pressão, pela visão, pelo som 
e pelo tato. Esses estímulos e as respostas for­
mam a base do estágio de coleta de informações, ou 
estágio de codificação, da fase de movimento 
reflexo. Nesse ponto da vida da criança, os re­
flexos são o instrumento primário de coleta de 
informações a serem armazenadas no córtex em 
desenvolvimento.
Quando os centros cerebrais adquirem maior 
controle sobre o aparato sensório-motor, o bebê 
torna-se capaz de processar informações com 
mais eficiência. Esse estagio de processamento de 
informações, ou estágio de decodificação, é se­
melhante aos três primeiros estágios de Piaget, o 
sensório-motor do desenvolvimento, ou seja, o 
uso dos reflexos, as reações circulares primárias 
e as reações circulares secundárias.
Conceito 7.2
Os comportamentos reflexos do bebê são a fonte 
primária de coleta de informações durante o período 
neonatal.
COMPORTAMENTO REFLEXO E 
M O VIM E N TO VOLUNTÁRIO
Duas funções essenciais dos reflexos de sobrevi­
vência primitivos são buscar nutrição e proteção. 
Vários reflexos primitivos, no início do período 
de bebê, lembram movimentos voluntários pos­
teriores. Esses reflexos posturais, como são às 
vezes chamados, têm sido tema de considerável 
debate ao longo dos anos. Nas últimas décadas, 
foi elaborada e demonstrada a hipótese de que 
esses movimentos reflexos formam a base do 
movimento voluntário posterior (Bower, 1976; 
McGraw, 1954; Thelen, 1980; Zelazo, 1976). À 
medida que o córtex amadurece, ele assume 
o controle sobre os reflexos posturais de pisar, 
engatinhar e nadar. Três décadas atrás, Zelazo 
questionava a posição dualista dos anatomistas 
em defesa da visão hierárquica; segundo ele:
Realmente, pesquisas comportamentais e 
neurológicas atuais com bebês alteram a 
validade e a generalidade da suposta inde­
pendência entre o comportamento reflexivo 
inicial e o comportamento instrumental pos­
terior. Uma hipótese alternativa afirma que os 
reflexos do bebê não desaparecem, mas retêm
Compreendendo o Desenvolvimento Motor 141
a sua identidade dentro da hierarquia do com­
portamento controlado, (p. 88)
Anatomistas e neurologistas, em contrapar­
tida, argumentam que há uma lacuna visível, de 
vários meses, entre a inibição do reflexo postural 
e o surgimento do movimento voluntário (Kes- 
sen et al., 1970; Pontius, 1973; Prechtl e Beinte- 
ma, 1964; Wyke, 1975). Esse intervalo de tempo, 
segundo eles, indica de modo claro que não há 
ligação direta entre os reflexos posturais e o m o­
vimento voluntário posterior. Portanto, a visão 
de Zelazo foi duramente criticada. Além disso, 
os anatomistas e neurologistas argumentaram 
que a perfornmnce dos movimentos reflexos e 
dos voluntários era controlada por centros ce­
rebrais diferentes. Bower (1976), entretanto, 
defendia que "esses resultados apontavam para 
a possibilidade de que a razão do desapareci­
mento das capacidades era o fato de não serem 
exercitadas" (p. 40).
Conce ito 7.3
Parece haver uma ligação entre o comporta­
mento reflexo inicial e o movimento voluntário 
posterior.
Do ponto de vista teórico do anatomista, 
parecia haver pouco fundamento para a suposi­
ção de que os primeiros movimentos reflexos do 
bebê preparavam-no para o movimento volun­
tário posterior de modo direto. Em meados de 
1970, foi proposto que os resultados da ativida­
de reflexa inicial do bebê seriam internalizados 
e que essas informações ficariam armazenadas 
para uso futuro (Zelazo, 1976).Thelen (1985) ar­
gumentou, ainda, que os estudos demonstram 
continuidade entre o andar reflexo e o voluntá­
rio. Ela afirmou, assim como fizera Bower (1976), 
que o período de inibição desaparece caso o 
reflexo seja exercitado. Thelen sustentou que o 
reflexo desaparece porque a massa da pem a au­
menta. A preservação do reflexo fortalece a per­
na e a parte inferior do corpo, permitindo, assim, 
que o bebê continue a se movimentar com pou­
ca ou nenhum a lacuna entre o reflexo locomotor 
e a sua contraparte voluntária. Explicações des­
se tipo respondem por pelo menos uma ligação 
indireta entre os reflexos posturais do bebê e o 
movimento voluntário posterior.
Qualquer interessado no estudo do movi­
mento precisa ter uma compreensão mais cla­
ra das primeiras formas do comportamento de 
movimento. Duas teorias que tentam esclarecer 
essa área são as teorias neuromaturacional e a 
dos sistemas dinâmicos.
A teoria neuromaturacional do desenvol­
vimento motor (Eckert, 1987) sustenta que, à 
medida que se desenvolve, o córtex inibe algu­
mas das funções das camadas subcorticais e vai 
assumindo cada vez mais o controle neuromus- 
cular. O córtex envolve-se na própria capaci­
dade de armazenar informações recebidas por 
meio dos neurônios sensoriais. Esse fenômeno 
fica evidente na interrupção dos comportamen­
tos reflexos e na aquisição de movimentos vo­
luntários pelo bebê. A formação concomitante 
de mielina prepara o corpo para o estado neu- 
romuscular maduro. Os movimentos tomam-se 
mais localizados, enquanto os trajetos neurais 
funcionais agem em regiões isoladas do corpo 
com maior precisão e acurácia.
Mais recentemente, a teoria dos sistemas 
dinâmicos defende que a neuromaturação serve 
de restrição ao desenvolvimento e é apenas um 
dos muitos limitadores de taxa que influenciam 
a emergência do movimento voluntário contro­
lado (Thelen, 1986b; Thelen et al., 1987; Thelen 
e Ulrich, 1991). A dinâmica do sistema forma o 
movimento, e o limitador de taxa é algo do indiví­
duo, da tarefa e/ou do ambiente que condiciona 
ou restringe o movimento coordenado, para que 
não ocorra com pouco input central. Itens como 
proporções corporais, mielinização insuficiente, 
peso corporal, força muscular ou uma série de 
condições ambientais inibem ou promovem a 
progressão da fase reflexiva para a fase de movi­
mento rudimentar do desenvolvimento.
DIAGNÓSTICO DE DISTÚRBIOS DO 
SISTEMA NERVOSO CENTRAL
É comum que o pediatra tente trazer à tona re­
flexos primitivos e posturais no neonato e no 
bebê. Se algum reflexo estiverausente, irregular 
ou desigual em termos de força, suspeita-se de 
disfunção neurológica. A ausência de movimen­
tos reflexos normais ou da continuação prolon­
gada de vários reflexos além dos seus períodos 
nonnais faz o médico suspeitar de dano neuro­
lógico.
142 Gallahue, Ozmun & Goodway
Con ceito 7 .4
O co mportamento reflexo do bebê pode ser usado 
como uma ferramenta diagnostica efetiva para ava­
liar a integridade do sistema nervoso central.
O uso dos reflexos desenvolvimentais como 
ferramenta de diagnóstico de distúrbios no sis­
tema nervoso central tem se disseminado. Ao 
longo dos anos, cientistas compilaram um cro- 
nograma aproximado do surgimento e inibição 
de comportamentos do neonato e do bebê. A 
posição de descanso do recém-nascido, por 
exemplo, tende a ser a posição flexionada. Os 
flexores são dominantes sobre os extensores no 
início do período de bebê. Entretanto, em resu­
mo, o maior controle cortical permite ao neo ­
nato normal levantar a cabeça a partir da posi­
ção pronada. A falta dessa resposta de levantar 
a cabeça na primeira ou segunda semana após o 
nascimento sugere a possibilidade de anormali­
dades neurológicas.
Existem vários outros exemplos significati­
vos disso. Os movimentos de olhos-de-boneca do 
neonato permitem que ele m antenha a cons­
tância da imagem da retina. Quando a cabeça 
é inclinada para trás, os olhos miram o queixo, 
embaixo, e, quando a cabeça é inclinada para 
a frente, os olhos miram a testa, acima. Essa 
resposta quase sempre é observada em bebês
prematuros e no primeiro dia em seguida ao 
nascimento de neonatos normais; depois ela é 
substituída pelos movimentos voluntários dos 
olhos. A continuidade desse reflexo pode indicar 
atraso na maturação cortical.
Um meio de diagnosticar possíveis distúr­
bios no sistema nervoso central, portanto, é a 
permanência dos reflexos. A ausência completa 
de um reflexo costuma ser menos significante 
do que a sua permanência por tempo demais. 
Outro indício de possível dano fica claro quan­
do um reflexo é forte ou fraco demais. O reflexo 
que gera uma resposta mais forte em um lado do 
corpo do que no outro também indica disfunção 
do sistema nervoso. Um reflexo tônico assimé­
trico no pescoço, por exemplo, que apresenta ex­
tensão completa de um braço e apenas extensão 
fraca do extensor do outro, quando esse outro 
lado é estimulado, também fornece indícios de 
dano.
Somente um examinador treinado deve ins­
pecionar e avaliar os comportamentos reflexos 
do neonato. Para os médicos, os exames são um 
recurso primário de diagnóstico da integridade 
do sistema nervoso central em bebês nascidos 
no prazo normal, em prematuros e nos que cor­
rem riscos.
Além disso, eles servem de base para a in ­
tervenção de médicos e terapeutas ocupacionais 
que trabalham com indivíduos com comporta-
PERSPECTIVAS INTERNACIONAIS
Reflexos do bebê: um fenôm eno m undial 
com conseqüências s ignificativas
Os reflexos do bebê são controlados subcorticalmen- 
te e fundamentados na maturação. Por isso, são os 
mesmos no mundo inteiro em neonatos com desen­
volvimento típico. Não importa se o bebê nasceu na 
África, na Ásia, na América do Norte ou na América 
do Sul, todos os bebês com desenvolvimento típico 
apresentam os mesmos reflexos primitivos e postu­
rais. Além disso, eles aparecem e "desaparecem" do 
mesmo modo e no mesmo ritmo.
Apenas em casos de privação extrema, incluindo 
prematuridade extrema e peso de nascimento extre­
mamente baixo, é que realmente observamos mu­
danças no ritmo de surgimento dos comportamentos 
reflexos. Um período de gestação mais curto, menos
de 27 semanas, não é suficiente para que o sistema 
nervoso fique suficientemente maduro no ventre. 
Em conseqüência disso, várias reações, inclusive os 
reflexos de busca e sucção, típicos do neonato, ficam 
fracos ou até mesmo ausentes. 0 cuidado especiali­
zado, em uma unidade de tratamento intensivo de 
neonatos, proporciona um tempo precioso para o 
amadurecimento dessas respostas, enquanto é for­
necida nutrição intravenosa. Entretanto, nos países 
em desenvolvimento, essa tecnologia médica muitas 
vezes não está disponível, levando a complicações 
adicionais que ameaçam a própria sobrevivência do 
neonato, em função da sua incapacidade de buscar 
e sugar a nutrição do seio da mãe. No contexto in­
ternacional, muito precisa ser feito para melhorar o 
resultado dos bebês nascidos prematuramente.
Compreendendo o Desenvolvimento Motor 143
mentos reflexos patológicos, além dos períodos 
de inibição esperados. É possível suspeitar de 
disfunção neurológica quando pelo menos uma 
dessas condições surge:
1. A permanência de um reflexo além da 
idade em que ele deveria ser inibido 
pelo controle cortical
2. Ausência completa de um reflexo
3. Respostas de reflexo bilateral desiguais
4. Respostas fortes ou fracas demais.
C once ito 7.5
O s reflexos do bebê aparecem e são inibidos de 
acordo com um cronogram a de ritmo e seqüência 
previsível.
REFLEXOS PRIMITIVOS
Os reflexos primitivos estão estreitamente as ­
sociados com a obtenção de nutrição e proteção 
pelo bebê. Eles surgem durante a vida fetal e per­
sistem até o primeiro ano. A seguir apresentamos 
uma lista parcial de numerosos reflexos primiti­
vos exibidos pelo feto e pelo recém-nascido. Os 
seus tempos aproximados de surgimento e inibi­
ção são encontrados na Tabela 7.1, que também 
inclui informações sobre reflexos posturais.
Reflexos de Moro e de alarme
Para despertar os reflexos de Moro e de alarme, 
coloca-se o bebê na posição supino e dá-se um 
tapinha em seu abdome ou produz-se alguma 
sensação de insegurança de apoio (p. ex., deixar
1 Seqüência do desenvolvim ento e taxa aproxim ada de surgim ento e inibição de 
determ inados reflexos primitivos e posturais
Mês
Reflexos primitivos 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 1 0 11 1 2
De Moro X X X X X X X
De alarme X X X X
De busca X X X X X X X X X X X X
De sucção X X X X
Palmar-mental X X X
Palmar-mandibular X X X X
De preensão palmar X X X X X
De Babinski X X X X
De preensão plantar X X X X X X X X X
Tônico do pescoço X X X X X X X
Reflexos posturais
Endireitamento labiríntico X X X X X
Endireitamento óptico X X X X X X X
Flexão X X X X X X X X X X
Paraquedas e extensão X X X X X X X X X
Endireitamento do pescoço X X X X X X X
Endireitamento do corpo X X X X X X X
De engatinhar X X X X
De caminhar X X X X X X
De nadar X X X X X X
144 Gallahue, Ozmun & Goodway
a cabeça cair um pouco para trás de repente). Ele 
também pode ser autoinduzido por um som alto 
ou quando o bebê tosse ou espirra.
No reflexo de Moro, há extensão e abaulamen- 
to dos braços e esticamento dos dedos das mãos. 
As pernas e os dedos do pé executam as mesmas 
ações, porém com menos vigor. Após, os membros 
retornam à posição flexionada normal, junto ao 
corpo (Fig. 7.1). O reflexo de alarme é similar ao de 
Moro em todos os aspectos, exceto por envolver a 
flexão dos membros sem extensão prévia.
O reflexo de Moro está presente ao nasci­
mento e durante os primeiros seis meses. Ele 
tem sido uma das ferramentas mais amplamen­
te usada em exames neurológicos de bebês. A 
reação é mais acentuada durante as primeiras 
semanas de vida. A intensidade da resposta di­
minui de forma gradual até ser caracterizada, 
finalmente, por um movimento de arranco do 
corpo em resposta ao estímulo (reflexo de alar­
me). A persistência do reflexo além do sexto mês 
pode ser indicativa de disfunção neurológica. A 
assimetria no reflexo de Moro possivelmente in­
dica paralisia de Erb ou lesão no membro.
Reflexos de busca e sucção
Os reflexos de busca ou descoberta e de sucção 
permitem ao recém-nascido a obtenção de nu ­
trição da mãe. Em resultado da estimulação da 
área em torno da boca (reflexo de busca), o bebê 
vira a cabeça na direção da fonte da estimulação. 
O reflexo de busca é mais forte nas três primeiras 
semanas e, gradualmente, cede espaço à respos­
ta de virar a cabeça de modo direcionado, que se 
toma refinada e parece umcomportamento com 
o propósito de colocar a boca em contato com 
o estímulo. É mais fácil obter o reflexo de busca 
quando o bebê está com fome, dormindo ou na 
posição normal de amamentação. A estimula­
ção dos lábios, gengivas, língua ou palato duro 
provoca um movimento de sucção (reflexo de 
sucção) na tentativa de receber nutrição. Geral­
mente, a ação de sucção é ritmicamente repeti­
tiva. Se isso não acontecer, a movimentação leve 
do objeto dentro da boca irá produzir a sucção. 
O reflexo de sucção tem duas fases - expressiva 
e de sucção.
Durante a fase expressiva, o mamilo é aper­
tado entre a língua e o palato. Durante a fase de
Figura 7.1
Reflexo de Moro: (a) fase de extensão, (b) fase de flexão.
Compreendendo o Desenvolvimento Motor 145
é aplicada pressão à palma das duas mãos. As 
respostas incluem abrir a boca, fechar os olhos e 
flexionar a cabeça para a frente. Esse reflexo co­
meça a diminuir durante o primeiro mês após o 
nascimento e, geralmente, não é mais observado 
após o terceiro mês.
Reflexo de preensão palmar
Durante os primeiros dois meses, o bebê cornu- 
mente mantém as mãos bem fechadas. Quando 
há estimulação da palma, a mão se fecha com 
força em tomo do objeto, sem o uso do polegar. A 
pegada fica mais apertada quando é exercida for­
ça contra os dedos flexionados. Com frequência, 
a pegada é tão forte que o bebê consegue sus­
tentar o próprio peso quando suspenso (Fig. 7.2).
O reflexo de preensão normalmente está 
presente ao nascimento e persiste durante os 
quatro primeiros meses. A intensidade da res­
posta tende a aumentar durante o primeiro mês 
e diminui aos poucos depois disso. Uma pre­
ensão fraca ou a persistência do reflexo após o 
primeiro ano pode ser um sinal de atraso no de­
senvolvimento motor ou de hemiplegia, quando 
ocorre em um único lado.
Figura 7.2
Reflexo de preensão palmar.
sução, é produzida pressão negativa na cavidade 
bucal. Esse reflexo é provocado diariamente nos 
horários da amamentação no caso do neonato 
saudável. Além disso, a estimulação de recém- 
-nascidos de alto risco para geração de reflexos 
de sucção e deglutição tem se mostrado benéfica 
na redução da necessidade de alimentação in- 
travenosa.
Esses dois reflexos estão presentes em todos 
os recém-nascidos com desenvolvimento típico. 
O reflexo de busca pode persistir até o final do 
primeiro ano; o movimento de sucção em ge­
ral desaparece como reflexo no final do terceiro 
mês, mas persiste como resposta voluntária.
Ref lexos mãos-boca
Dois reflexos mãos-boca são encontrados em 
recém-nascidos. O reflexo palmar-mental, p ro ­
vocado quando se esfrega levemente a base da 
palma, causa contração dos músculos do queixo, 
erguendo-o. Esse reflexo tem sido observado em 
recém-nascidos, mas desaparece relativamente 
cedo.
O reflexo palmar-mandibular ou reflexo de Ba- 
bkin, como às vezes é chamado, surge quando
146 Gallahue, Ozmun & Goodway
Reflexos de Babinski e preensão plantar
Em recém-nascidos, o reflexo de Babinski é evo­
cado pelo toque na sola dos pés. A pressão causa 
a extensão dos dedos do pé. Quando o sistema 
neuromuscular amadurece, o reflexo de Babinski 
cede espaço ao reflexo plantar, uma contração 
dos dedos em resposta à estimulação da sola do 
pé (Fig. 7.3).
O reflexo de Babinski normalmente está pre­
sente ao nascimento, mas cede espaço, em torno 
do quarto mês, ao reflexo de preensão plantar, 
que pode persistir até por volta do décimo segun­
do mês. O reflexo plantar de preensão pode ser 
facilmente provocado pela pressão dos polegares 
contra o terço anterior do pé do bebê. A persis­
tência do reflexo de Babinski além do sexto mês é 
indicativo de uma lacuna desenvolvimental.
Reflexos tônicos assimétrico 
e simétr ico do pescoço
O reflexo tônico assimétrico do pescoço é, prova­
velmente, o mais pesquisado na literatura tera­
pêutica. Para evocá-lo, um examinador treinado 
coloca o bebê na posição supina e vira o pescoço 
dele de modo que a cabeça fique voltada ora para 
um lado, ora para o outro. Os braços assumem 
posição similar à do esgrimista"en garde". Ou
seja, o braço se estende do lado do corpo para 
o qual a cabeça está voltada, e o outro braço as­
sume uma posição bem flexionada. Os membros 
inferiores ficam em posição similar à dos braços. 
O reflexo tônico simétrico do pescoço pode ser 
provocado na posição sentada, com apoio. A ex­
tensão da cabeça e do pescoço produz a exten­
são dos braços e a flexão das pernas. Quando a 
cabeça e o pescoço são flexionados, os braços 
flexionam-se e as pem as estendem-se (Fig. 7.4).
Os dois reflexos tônicos do pescoço são ob­
servados na maioria dos bebês prematuros, mas 
não são uma resposta obrigatória em recém- 
-nascidos (ou seja, eles não ocorrem sempre que 
a cabeça do bebê é virada). Entretanto, o bebê 
de 3 a 4 meses de idade assume a posição assi­
métrica cerca de 50% do tempo e depois ela vai 
desaparecendo de forma gradual. A persistência 
além do sexto mês pode ser indicativa de falta 
de controle dos centros cerebrais superiores so­
bre os inferiores. A persistência do reflexo tônico 
assimétrico do pescoço no começo da infância 
pode impedir o desenvolvimento de tarefas m o­
toras como rolar o corpo, cruzar a linha média 
corporal, coordenar os olhos e vários tipos de 
nado. Crianças e adultos com paralisia cerebral 
grave com frequência exibem reflexo tônico assi­
métrico persistente (Sherrill, 2004).
Figura 7.3
Reflexo de preensão plantar.
Compreendendo o Desenvolvimento Motor 147
Figura 7.4
(a) Reflexo tônico assimétrico do pescoço e (b e c) reflexo tônico simétrico do pescoço.
REFLEXOS POSTURAIS
Os reflexos posturais lembram os movimentos 
voluntários posteriores. Eles permitem, de forma 
automática, que o indivíduo mantenha a posição 
ereta em relação ao seu ambiente. Os reflexos 
posturais são encontrados em todos os bebês 
normais durante os primeiros meses do pós-na­
tal e podem, em alguns poucos casos, persistir 
durante todo o primeiro ano. As seções a seguir 
abordam os reflexos posturais que interessam 
mais ao estudante do desenvolvimento motor. 
Esses reflexos estão associados com o comporta­
mento do movimento voluntário posterior e de­
vem ser cuidadosamente estudados por todos os 
interessados no desenvolvimento dos padrões 
voluntários de movimento. (O período aproxi­
mado de surgimento e inibição desses reflexos 
também é encontrado naTab. 7.1, na p. 143).
Conceito 7.6
Os reflexos posturais lembram os movimentos volun­
tários posteriores e podem estar ligados a eles.
Reflexos de endireitamento 
labiríntico e óptico
Os reflexos de endireitamento labiríntico e óp­
tico são provocados quando o bebê é mantido 
na posição ereta e inclinado para a frente, para 
trás ou para os lados. A criança responde com 
a tentativa de manter a posição ereta da cabeça,
movimentando-a na direção oposta à do m o­
vimento do tronco. Por exemplo, se o bebê for 
mantido na posição pronada e for inclinado para 
trás, ele responderá erguendo a cabeça (Fig. 7.5). 
O reflexo de endireitamento óptico é similar ao 
de endireitamento labiríntico, exceto pelo fato 
de que é possível observar que os olhos seguem 
a condução da cabeça para cima.
No reflexo de endireitamento labiríntico, os 
impulsos que emergem do otólito do labirinto 
fazem com que o bebê mantenha o alinhamento 
apropriado da cabeça em relação ao ambiente, 
inclusive quando outros canais sensórios (i.e., a 
visão e o tato) são excluídos. O reflexo de en ­
direitamento labiríntico surge pela primeira vez 
em torno do segundo mês e persiste até cerca 
de 6 meses de idade, quando a visão geralmente 
se toma um fator importante. O reflexo continua 
ao longo do primeiro ano como reflexo de en ­
direitamento óptico. Esse último, junto com seu 
similar mais primitivo, ou seja, o reflexo de en ­
direitamento labiríntico, ajuda o bebê a colocar 
a cabeça e o corpo na posição ereta e a manter 
essa posição e contribui para o movimento do 
bebê para a frente, que ocorre cm torno do final 
do primeiro ano.
Reflexode flexão
O reflexo de flexão dos braços é uma tentativa 
involuntária, por parte do bebê, de manter a po­
sição ereta. Se o colocarmos sentado, o segurar­
mos assim com uma das mãos ou com as duas e
148 Gallahue, Ozmun & Goodway
o empurrarmos levemente para trás, ele flexio­
nará os braços, tentando permanecer ereto. E 
fará a mesma coisa se for empurrado para a fren­
te. A reação de flexão reflexa dos braços costuma 
aparecer em torno do terceiro ou quarto mês e, 
com frequência, continua ao longo do primeiro 
ano (Fig. 7.6).
Reflexos de paraquedas e de extensão
As reações de paraquedas e de extensão são m o­
vimentos protetores dos membros na direção da 
força aplicada. Esses movimentos reflexos ocor­
rem em resposta a uma força de aplicação súbita 
ou quando o bebê não consegue mais manter o 
equilíbrio. Os reflexos de proteção dependem da 
estimulação visual e, portanto, não ocorrem no 
escuro. Eles podem ser uma forma de reflexo de 
susto.
A reação de paraquedas para a frente pode 
ser observada quando o bebê é mantido vertical­
mente no ar e, em seguida, inclinado em direção 
ao solo. Ele estende os braços para baixo, em uma
aparente tentativa de amortecer a suposta queda 
(Fig. 7.7). As reações de paraquedas para trás po­
dem ser observadas quando o bebê é mantido na 
posição ereta e rapidamente abaixado em direção 
ao solo. Os membros inferiores ficam em exten­
são, tensão e abdução. Os reflexos de extensão 
podem ser provocados quando o bebê é tirado 
do equilíbrio na posição sentada, empurrando-o 
para a frente ou para trás. As reações de paraque­
das para a frente e para trás começam a acontecer 
em torno do quarto mês. A reação de extensão 
para os lados emerge pela primeira vez em torno 
do sexto mês. A reação para trás é observada pela 
primeira vez entre o décimo e o décimo segundo 
mês. Cada uma dessas reações tende a persistir 
além do primeiro ano e é necessária antes de o 
bebê aprender a andar.
Reflexos de endireitamento 
do pescoço e do corpo
O reflexo de endireitamento do pescoço é obser­
vado quando o bebê é colocado na posição supi-
Figura 7.5
Reflexos labirínticos em três posições: (a) ereta, (b) inclin ada para trás e (c) pronada.
Figura 7.6
Reflexo de flexão.
Compreendendo o Desenvolvimento Motor 149
Figura 7.7
Reflexo de paraquedas.
na, com a cabeça voltada para o lado. O restan­
te do corpo movimenta-se de modo reflexo na 
mesma direção da cabeça. Primeiro os quadris 
e as pem as viram-se de modo alinhado, segui­
dos pelo tronco. No reflexo de endireitamento 
do corpo, acontece o reverso. Quando testado 
na posição deitado de lado, com as pernas e o 
tronco voltados para o lado, o bebê vira a cabeça 
de modo reflexo na mesma direção e corrige a 
posição do corpo, buscando o alinhamento com 
a cabeça (Fig. 7.8, p. 150). O reflexo de endirei­
tamento do pescoço desaparece em tomo dos 6 
meses de idade. O reflexo de endireitamento do 
corpo emerge em tom o do sexto mês e persiste 
até cerca dos 18 meses. O reflexo de endireita­
mento do corpo forma a base do movimento vo­
luntário de rolar, que ocorre a partir do final do 
quinto mês.
Reflexo de engatinhar
O reflexo de engatinhar é observado quando o 
bebê é colocado na posição pronada e aplica- 
-se pressão à sola do seu pé. De modo reflexo, 
ele assume uma posição de engatinhar, usando 
tanto os membros superiores como os inferiores. 
A pressão na sola de ambos os pés gera o retor­
no da pressão por parte do bebê. A pressão na 
sola de um dos pés produz o retomo da pressão 
e um empurrão extensor da perna oposta (Fig. 
7.9, p. 150).
O reflexo de engatinhar geralmente está pre­
sente ao nascimento e desaparece por volta do 
terceiro ou quarto mês. Há uma lacuna entre o 
engatinhar reflexo e o voluntário, que aparece 
por volta do sétimo mês.
Reflexo primário de marcha 
automática
Quando seguramos o bebê na posição ereta, 
com o peso do corpo sustentado em uma su ­
perfície plana, ele responde "andando" para a 
frente. Esse movimento de andar envolve ape­
nas as pernas (Fig. 7.10, p. 152). O reflexo pri­
mário de pisar normalmente está presente nos 
primeiros seis meses e desaparece em torno do 
quinto mês. Zelazo (1976) e Bower (1976) estu­
daram como a prática precoce e persistente do 
reflexo primário de marcha afeta o surgimento 
do comportamento voluntário de andar. Os re­
sultados dessas investigações revelaram que a 
idade do caminhar independente foi acelerada 
por meio do condicionamento do reflexo de pi­
sar no grupo experimental; o grupo de controle 
não apresentou aceleração do desenvolvimento. 
Com base nessas descobertas, Thelen (1986a) foi 
capaz de provocar um reflexo de pisar em bebês 
vários meses depois do período em que já deve­
ria ter sido inibido, mas antes do surgimento da 
marcha voluntária. Ela sugeriu que o condicio­
namento do reflexo melhora a força nos m em ­
bros exercitados, tornando-se, portanto, um 
estímulo do caminhar voluntário precoce. Várias 
pesquisas têm usado esse trabalho pioneiro para 
explorar a facilitação da caminhada voluntária 
em bebês com síndrome de Down (Ulrich e Ul- 
rich, 1995; Ulrich et al., 1995; Ulrich et al., 1997; 
Ulrich et al., 2001).
Reflexo de nadar
Quando colocado na posição pronada dentro ou 
sobre a água, o bebê exibe movimentos rítmicos
150 Gallahue, Ozmun & Goodway
(a) Reflexo de endireitamento do pescoço e (b) reflexo de
Figura 7.9
Reflexo de engatinhar.
Compreendendo o Desenvolvimento Motor 151
DlLEMA DO DESENVOLVIMENTO
Olha! O bebê está começando a andar!
Com frequência, os pais de recém-nascidos ficam 
atentos a qualquer movimento de seus filhos, espe­
cialmente no primeiro ano de vida, tão repleto de 
eventos. Um dos primeiros e mais reveladores mar­
cos é aprender a ficar de pé e a caminhar com inde­
pendência. As faixas de variação típicas vão de 9 a 
18 meses de idade, com a média em tom o dos 12.
Com frequência os pais começam a colocar o 
bebê na posição ereta com sustentação logo de­
pois do nascimento e ficam surpresos ao ver que 
ele trava o quadril e as articulações do joelho e pa­
rece fazer um verdadeiro esforço para ficar de pé e 
caminhar. Então eles dizem à fam ília e aos amigos 
que o filho está "começando a andar" e, uma vez 
que isso está acontecendo tão cedo, esse seria ape­
nas o primeiro de muitos comportamentos preco­
ces que certamente virão. Ah, como os pais ficam 
orgulhosos.
Junto com outras pessoas que acompanham o 
processo de longe, várias semanas depois, mamãe 
e papai ficam desapontados quando o filho não de­
monstra mais aquelas habilidades precoces de "ca­
minhar". Na verdade, quando é colocado na posição
ereta, com os pés plantados em uma superfície dura, 
o bebê age mais como um macarrão úmido e escor­
regadio do que como um superfilho tentando ficar 
de pé e caminhar.
O primeiro reflexo de marcha aparece logo após 
o nascimento e persiste ao longo dos primeiros 4 ou 
5 meses. Ele não é, de jeito nenhum, uma a t ivida­
de motora voluntária, pois é controlado de modo 
subcortical. Entretanto, ele pode fo rnecer ao bebê 
informações valiosas, que serão usadas mais tarde, 
quando os centros cerebrais superiores amadure­
cem e a musculatura corpo ral torna-se forte o su­
ficiente para suportar o ato voluntário de ficar de 
pé e caminhar.
Tem sido demonstrado que o uso do reflexo 
primário de pisar para a "p rá t ica" inicial da cami­
nhada promove a aceleração dos comportamentos 
voluntários de cam inhar em bebês. A prática parece 
melhorar a força dos membros e a coordenação assi­
métrica. No entanto, se excessiva, ela pode estressar 
os ossos e as articulações. Então o d i lema: em que 
condições a prática precoce do comportamento de 
marcha é aconselhada e em que condições ela é in­
sensata? Por quê?
extensores e flexores dos braços e das pernas 
como se estivesse nadando. Os movimentos são 
bem organizados e parecem mais avançados do 
que qualquer dos outros reflexos locomotores. 
McGraw (1939) filmou movimento reflexos de 
natação em bebês humanos bemcedo, no déci­
mo primeiro dia após o nascimento. Esses movi­
mentos involuntários geralmente desaparecem 
em torno do quarto mês.
McGraw descobriu que o reflexo de pren ­
der a respiração é evocado quando o rosto do 
bebê é colocado na água e que os movimentos 
de natação são mais acentuados nessa posição. 
Desde então, McGraw (1954) tem especulado 
a respeito da teoria de que o reflexo de nadar 
do bebê é um precursor do caminhar. "Basica­
mente, os mecanismos neuromusculares que 
mediam os movimentos de nadar reflexos p o ­
dem ser, em essência, os mesmos ativados no 
engatinhar reflexo e nos movimentos de pisar 
do bebê" (p. 360). É interessante refletir sobre 
a relação entre os reflexos de engatinhar, pisar 
e nadar.
ESTEREOTIPO S RÍTMICOS
Há várias décadas os pesquisadores vêm d e ­
monstrando interesse por muitas questões in ­
trigantes relativas aos reflexos do bebê. Essas 
pesquisas têm importante implicações no diag­
nóstico de distúrbios do sistema nervoso central 
e no trabalho de fisioterapeutas e terapeutas 
ocupacionais com indivíduos que apresentam 
diversas condições patológicas. Além disso, o 
estudo da origem dos reflexos e da sua relação 
com os comportamentos voluntários posteriores 
tem forjado novas incursões na teoria do apren­
dizado e do modo como o ser humano se orga­
niza para o aprendizado de novas habilidades de 
movimento.
CONCEITO 7.7
Os estereótipos rítmicos do bebê fornecem indícios 
de que o desenvolvimento motor humano é um sis­
tema auto-o rganizado, empenhado em aumentar o 
controle motor.
152 Gallahue, Ozmun & Goodway
Figura 7.10
Reflexo primário de pisar.
Apenas nas últimas duas décadas os pes­
quisadores foram além da catalogação e des­
crição de comportamentos reflexos do bebê e 
tentaram examinar os mecanismos subjacentes. 
Esther Thelen está entre os primeiros que ten ­
taram responder às muitas questões levantadas 
pelos comportamentos estereotipados do bebê. 
Ela estudou os estereótipos rítmicos em b e ­
bês humanos normais, a fim de classificar esses 
movimentos e explicar as suas ocorrências. (Os 
estereótipos são comportamentos rítmicos reali­
zados repetidas vezes de forma espontânea.) Em 
crianças e adultos, os estereótipos são conside­
rados indício de comportamento anormal, mas 
em bebês eles são normais.
Thelen (1979,1981,1996) observou e catalo­
gou os estereotipados rítmicos de bebês normais 
de 4 semanas a 1 ano de idade. As suas observa­
ções revelaram 47 comportamentos estereotipa­
dos, que foram subdivididos em quatro grupos: 
(1) movimentos das pernas e dos pés; (2) m o­
vimentos do torso; (3) movimentos dos braços, 
das mãos e dos dedos; e (4) movimentos da
cabeça e da face. De acordo com Thelen (1979), 
"esses comportamentos mostraram regularida- 
des desenvolvimentais, assim como constância 
de forma e distribuição". Os grupos de estereóti­
pos que envolvem partes ou posturas específicas 
do corpo apresentam idade de surgimento, pico 
de performance e declínio específicos" (p. 699).
Os movimentos rítmicos de dados sistemas 
corporais tendem a aum entar pouco antes da 
aquisição do controle voluntário do sistema pelo 
bebê. Portanto, o nível maturacional do bebê 
parece controlar os estereótipos rítmicos. The­
len e colaboradores (Thelen et al., 1985; Thelen 
et al., 1987) defendem que a presença de com­
portamentos estereotipados em bebês humanos 
normais é indício de um programa motor central 
auto-organizado para o controle do desenvolvi­
mento motor do bebê.
Pernas e pés
Thelen (1979,1985) descobriu que os movimen­
tos rítmicos de chutar das pernas e dos pés eram 
observados mais cedo. A maioria dos chutes
Compreendendo o Desenvolvimento Motor 153
rítmicos acontecia quando os bebês eram colo­
cados nas posições pronada ou supinada. A po ­
sição supinada permitia aos bebês o maior grau 
de liberdade em relação à flexibilidade tanto nas 
articulações do quadril como do joelho. Quando 
chutavam nessa posição de costas, as pernas dos 
bebês ficavam levemente flexionadas nos qua­
dris, joelhos e tornozelos, com moderada rota­
ção externa dos quadris. A partir dessa posição, 
os bebês conseguiam chutar alternadam ente 
as pernas, em uma ação que lembrava o "peda­
lar". Na posição pronada, o chute alternado das 
pernas ficava mais restrito e acontecia apenas 
a partir da articulação do joelho. Thelen notou 
que os estereótipos das pernas e dos pés come­
çavam por volta da quarta semana após o nas­
cimento, mais cedo para os braços, e alcançava 
o pico de ocorrênica entre o vigésimo quarto e o 
trigésimo segundo mês de idade. Outras formas 
de chutar observadas foram o esfregar dos pés 
a partir de uma posição relatada e o chutar com 
uma única perna a partir das posições pronada 
e supinada.
Torso
Thelen (1979) também observou vários estereó­
tipos rítmicos do torso. O mais comum acon­
tecia a partir da posição pronada. O bebê ar- 
queava as costas, erguia os braços e as pernas, 
tirando-os da superfície de apoio e balança- 
vam-nos ritmicamente para trás e para a frente, 
na posição de um aeroplano. Outro estereótipo 
do torso observado com frequência ocorreu na 
posição pronada de engatinhar com as mãos e 
os joelhos. A partir dessa posição, o bebê m o­
vimentava o corpo para a frente, estendendo a 
perna na posição superior e mantendo estacio­
nária a que está na posição inferior. Os braços 
permanecem estendidos o tempo todo, mas se 
movem para a frente na hora do empurrão das 
pernas para trás.
Outros estereótipos comuns do torso, po ­
rém observados com m enor frequência, in ­
cluem ações rítmicas a partir das posturas sen ­
tada, ajoelhada e de pé. Na posição sentada, 
tanto com suporte como sem, o bebê balança 
ritmicamente o torso para a frente e para trás. 
Os estereótipos rítmicos a partir da posição 
ajoelhada incluem balançar para a frente e para 
trás, de um lado para o outro e para cima e para
baixo. Os estereótipos de pé eram comuns e 
geralmente ocorriam a partir da posição com 
apoio. O bebê dobra os joelhos e executa um 
movimento de balançar rítmico para cima e 
para baixo. Os bebês também podem balançar 
de forma rítmica para a frente e para trás e de 
um lado para o outro.
Braços, mãos e dedos
Estereótipos rítmicos dos braços, das mãos e 
dos dedos foram observados em todos os bebês 
da amostra de Thelen. O acenar (ações sem um 
objeto) e o esmurrar (ações com um objeto ao 
alcance do bebê) foram observados com mais 
frequência. Ambos tinham o m esmo padrão 
motor e envolviam um movimento rítmico em 
uma ação vertical a partir do ombro. O esmur­
rar diferia do acenar só pelo fato de que o bebê 
fazia contato com a superfície na ação descen­
dente. O bater palmas rítmico à frente do corpo 
foi outro estereótipo comum, como no balanço 
dos braços. O estereótipo do balanço dos bra­
ços é evocado, entretanto, apenas quando o 
bebê está segurando um objeto e envolve uma 
ação iniciada no ombro, em direção à frente do 
corpo.
Cab eça e face
Os estereótipos rítmicos da cabeça e da face, de 
acordo com Thelen (1979), são muito menos fre­
qüentes. Eles envolvem ações como o balançar 
rítmico da cabeça de um lado a outro ("não") e 
para cima e para baixo ("sim"). O movimento 
rítmico de colocar a língua para fora e puxá-la 
de novo foi observado rotineiramente, junto com 
comportamentos de sucção sem nutrição.
Dos 47 estereótipos rítmicos observados 
por Thelen, os movimentos das pernas e dos 
pés foram os mais comuns, tendo o seu início e 
pico entre 24 e 32 semanas de idade. Os este­
reótipos dos braços e das mãos tam bém eram 
comuns, mas o seu pico acontecia mais tarde, 
entre 34 e 42 semanas. Os estereótipos do tor­
so, embora comuns, são menos freqüentes do 
que os movimentos das pernas e dos pés e dos 
braços e das mãos. Além disso, os estereótipos 
do torso nas posições sentada, ajoelhada ou de 
pé tendem a apresentar o pico mais tarde do 
que os outros.
154 Gallahue, Ozmun & Goodway
Resumo
Reflexos primitivos, sob o controle das camadas cerebrais subcorticais, são observados nofeto a 
partir, mais ou menos, da décima oitava semana de 
gestação. Em geral, os reflexos têm a dupla função de 
ajudar o recém-nascido a garantir nutrição e prote­
ção. Muitos dos movimentos representam métodos 
iniciais de aquisição de informações sobre o ambiente 
do bebê.
No feto normal, à medida que o desenvolvimento 
neurológico progride, e mais tarde no neonato normal, 
os reflexos aparecem e desaparecem de acordo com 
um cronograma bastante padronizado, porém infor­
mal. A presença de um reflexo primitivo ou postural é 
indício do controle subcortical sobre algumas funções 
neuromusculares. Embora o controle cortical logo pas­
se a dominar, a função do subcórtex nunca é comple­
tamente inibida. Ao longo de toda a vida, ele mantém 
o controle sobre atividades como tossir, espirrar e bo­
cejar, assim como sobre os processos de sobrevivência 
involuntários. O córtex media o comportamento mais 
intencional, enquanto o comportamento subcortical é 
limitado e estereotipado.
Embora ainda não seja possível determinar se 
existe relação direta entre o comportamento reflexo 
e o movimento voluntário posterior, é seguro afirmar 
que há, pelo menos, uma ligação indireta. Essa ligação 
pode estar associada com a capacidade do córtex em 
desenvolvimento de armazenar informações recebidas 
dos órgãos sensoriais finais relativas à performance do 
movimento involuntário. Ou então isso pode ocorrer 
devido ao aumento da força na parte do corpo exerci­
tada de forma involuntária (de modo reflexo).
Q U E S T Õ E S P A RA R E F L E X Ã O
1. Quais são os principais reflexos primitivos e pos­
turais do recém-nascido?
2. Qual é o objetivo do médico ao testar as respos­
tas reflexas do recém-nascido?
3. Em que diferem os estágios de codificação e de 
decodificação de informações da fase reflexa do 
desenvolvimento motor?
4. O que são os estereótipos rítmicos e por que eles 
são considerados importantes no desenvolvi­
mento motor dos bebês?
5. Os reflexos do bebê estão relacionados com os 
comportamentos voluntários posteriores obser­
vados na fase de movimento rudimentar do de­
senvolvimento motor e depois dela?
L e i t u r a básica
Sherrill, C. (2004). Adapted Physical Activity, Recreation 
and Sport: Crossdisciplinary and Lifespan, 6th ed. 
(Chapter 10). St. Louis: McGraw-Hill.
Snow, C. W., & McGaha, C. G. (2003). Infant 
Development, 3rd ed. (Chapter 6). Upper Saddle 
River, N j; Prentice Hall.
Thelen, E. (1996). Normal infant stereotypies: A 
dynamic systems approach. In R. L. Sprague & K. 
M. Newell (Eds.) Stereotyped Movements: Brain and
RECURSOS NA WEB
w w w . a p t a . o r g
Homepage da American Physical Therapy Association. 
A APTA é uma organização profissional cujo objetivo 
consiste em estimular avanços na prática, na pesquisa 
e no ensino da fisioterapia. O site fomece notícias, 
questões governamentais, publicações de grupos de 
membros e um centro de emprego/carreira.
Behavior Relationships. (pp. 139-165).Washington 
DC: American Psychological Association.
Thelen, E. (1986).Treadmill-elicited steppingin 
seven-month-old infants. Child Droelopment, 57, 
1498-1506.
Ulrich, B. D., Ulrich, D. A., Angulo-Barroso, R., & 
Yun, J. K. (2001).Treadmill training in infants with 
Down syndrome: Evidence-based developmental 
outeomes. Pediatrics, 108, e84.
w w w . i s i s w e b . o r g
Homepage da International Societv on Infant Studies. 
A ISIS é uma organização"devotada à promoção e 
disseminação de pesquisas sobre o desenvolvimento 
de bebês". O site contém uma descrição da sociedade, 
notícias recentes e boletins.
Compreendendo o Desenvolvimento Motor 157
O domínio das capacidades de movimen to rudi­
mentar do bebê é reflexo do aumen to do controle 
motor e da competência de movimento, estimulado 
por fatores da tarefa e do ambiente, assim como do 
indivíduo.
Todos nós somos produtos de estruturas genéticas específicas e do total de expe­riências que acumulamos desde a concepção. 
Desse modo, a criança não é um a folha em 
branco, pronta para ser preenchida de acordo 
com nossos caprichos ou com um padrão pre- 
definido. Pesquisas têm deixado bem claro que 
os bebês são capazes de processar muito mais 
informações do que suspeitávamos. Eles pen ­
sam e usam o movimento como um modo pro­
positado, embora inicialmente impreciso, de 
adquirir informações sobre os seus ambientes. 
Cada criança é um indivíduo, e nenhum indi­
víduo responde exatamente igual a outro. A 
base hereditária e a experiência da criança, as­
sim como as dem andas específicas das tarefas 
de movimento, têm um efeito profundo sobre a 
taxa de aquisição das capacidades de movimen­
to rudimentar do bebê.
No estudo do desenvolvimento motor, é im­
portante começar com as experiências iniciais de 
movimento do bebê, para então chegar a uma 
melhor compreensão do desenvolvimento que 
acontece antes do ingresso da criança na escola 
e para aprender mais sobre o conceito desen­
volvimental de como os humanos aprendem a 
movimentar-se.
Adquirir controle sobre a musculatura, 
aprender a lidar com a força da gravidade e 
movimentar-se de modo controlado no espa­
ço são as principais tarefas desenvolvimentais 
enfrentadas pelo bebê. No período neonatal, o 
movimento é mal definido e mal controlado. Aos 
poucos, os reflexos são inibidos e tem início o 
estágio de inibição dos reflexos (ver Fig. 3.1). 
Esse período estende-se pela maior parte do pri­
meiro ano de vida do bebê. De modo gradual, 
ele passa ao movimento rudimentar controlado, 
que representa uma conquista monumental na
direção da supressão dos reflexos e da integra­
ção dos sistemas sensório e motor no movimen­
to propositadamente controlado.
Q uando os reflexos primitivos e posturais 
da fase anterior começam a enfraquecer, os 
centros cerebrais superiores assumem o contro­
le de muitas das funções dos músculos esquelé­
ticos dos centros cerebrais inferiores. O estágio 
de inibição dos reflexos começa, essencialmen­
te, no nascimento. A partir desse momento, o 
recém -nascido recebe m uitas estimulações 
visuais, sonoras, olfativas, táteis e cinestésicas. 
A tarefa consiste em ordenar essa. estim ula­
ção sensória. As respostas reflexas iniciais são 
inibidas ao longo do primeiro ano de vida, até 
por volta do primeiro aniversário, quando o 
bebê apresenta notável progresso no sentido 
de mostrar uma aparência de controle do seu 
movimento.
O período que vai do décimo segundo até 
o décimo oitavo a vigésimo quarto mês repre­
senta um tempo para a prática e o domínio de 
muitas tarefas rudimentares iniciadas durante o 
primeiro ano. O bebê começa a exercer controle 
sobre os movimentos durante esse período pré- 
-controle. O estág io de pré-controle estende- 
-se mais ou menos entre o primeiro e o segundo 
aniversário. Durante esse estágio, o bebê começa 
a adquirir maior controle e precisão nos movi­
mentos. A diferenciação e a integração dos pro­
cessos sensório e motor torna-se altamente de­
senvolvida, e os limitadores de taxa do período 
inicial do bebê ficam menos acentuados.
Quando faz tentativas grosseiras, mas pro­
positadas, de realização de uma série de tarefas 
de movimento, o bebê deve ser estimulado. Um 
ambiente que forneça estimulação suficiente, 
com abundantes oportunidades de prática e 
incentivo positivo, pode se mostrar benéfico à 
aceleração do desenvolvimento das tarefas rudi­
mentares de estabilidade, locomoção e manipu­
lação. Entretanto, devemos perguntar: quais são 
os benefícios da aquisição precoce de habilida­
des motoras? A resposta é clara, sendo possível 
defender com fundamento o estímulo da aquisi­
ção precoce de habilidades motoras por parte de 
bebês de desenvolvimento normal (Nash, 1997), 
assim como em bebês com deficiências desen­
volvimentais (Greenspan, 1997).
158 Gallahue, Ozmun & Goodway
ESTUDO DO DESENVOLVIMENTO 
M OTOR
O estudo das capacidades de movimento rudi­
mentar do bebê foi impulsionado nas décadas 
de 1930 e 1940, quando foram acumuladas vá­
rias informações de observações feitas por psicó­logos desenvolvimentais. Muitos desses estudos 
tomaram-se clássicos e têm sobrevivido aos tes­
tes do tempo em razão de seus controles cuida­
dosos e da sua eficácia. Os trabalhos de H. M. 
Halverson, Mary Shirley, Nancy Bayley e Arnold 
Gesell são particularmente dignos de nota.
O trabalho de H. M. Halverson (1937) pro­
vavelmente é o mais abrangente na seqüência 
de emergência do comportamento voluntário 
de pegada do bebê. Com base na análise de fil­
mes de bebês da décima sexta à quinquagésima 
segunda semana de idade, ele descreveu três 
estágios distintos de abordagem de um cubo e 
o desenvolvimento do uso da oposição dedos- 
-polegar no comportamento de pegar.
O estudo pioneiro de Mary Shirley (1931) 
com 25 bebês, desde o nascimento até os 2 anos, 
permitiu que ela descrevesse a progressão se­
qüencial do desenvolvimento de atividades que 
levam à postura ereta e ao andar. Ela observou 
que "cada estágio separado era um passo fun­
damental no desenvolvimento e que cada bebê 
avançava de um estágio a outro na mesma or­
dem" (p. 98). A pesquisadora notou também que, 
embora houvesse uma seqüência fixa, diferenças 
individuais eram expressas em variações no rit­
mo de desenvolvimento entre os bebês.
Nancy Bayley (1935) realizou um estudo ex­
tensivo similar ao de Shirley. Em resultado da 
observação de bebês, ela foi capaz de descrever 
uma série de capacidades locomotoras emer­
gentes, que progrediam do engatinhar reflexo 
até o andar descendo um lance de escadas, em 
um padrão de pé alternado. Com base nessas 
informações, Bayley desenvolveu uma escala 
cumulativa de desenvolvimento motor infantil, 
que tem sido am plamente usada como ferra­
menta de diagnóstico para determinar o estado 
desenvolvimental do bebê.
Arnold Gesell (1945) realizou estudos ex­
tensivos sobre o desenvolvimento motor infan­
til. Ele via a postura (i.e., a estabilidade) como 
a base de todas as formas de movimento. Por­
tanto, de acordo com o autor, qualquer forma
de locomoção ou manipulação do bebê é uma 
série estreitamente relacionada de ajustes pos­
turais seqüenciais. A seqüência do desenvol­
vimento m otor é predeterm inada por fatores 
biológicos inatos, que cruzam todas as frontei­
ras sociais, culturais, étnicas e raciais. Essa base 
comum do desenvolvimento motor durante os 
primeiros anos de vida tem levado muitos es­
pecialistas a sugerir que alguns movimentos 
voluntários (em especial, os movimentos loco- 
motores) são filogenéticos (Eckert, 1973) e que, 
por terem base maturacional, não estão sob 
controle desenvolvimental voluntário (Helle- 
brandt et al., 1961). Essa visão com frequência 
tem levado à suposição errônea de que os bebês 
e, em particular as crianças mais novas, adqui­
rem capacidades de movimento mais ou menos 
na mesma idade cronológica apenas pela ação 
da maturação neural e com pouca dependência 
da experiência.
CON CEITO 8.1
A seqüência do desenvolvimento motor infantil é 
previsível, mas o ritmo varia.
Embora a seqüência de aquisição das habi­
lidades geralmente seja invariável no período 
do bebê e no começo da infância, o ritmo de 
aquisição difere de acordo com a criança. Isso 
faz surgir a hipótese de que o desenvolvimento 
motor inicial não é apenas função da maturação 
neurológica, mas também de um sistema auto- 
-organizado, que envolve as exigências da tarefa 
de movimento, as condições do ambiente ime­
diato e a biologia do indivíduo. Assim como na 
fase reflexiva, a maturação neural é apenas um 
de uma série de fatores que influenciam o rit­
mo desenvolvimental das capacidades de movi­
mento rudimentar das crianças. De acordo com 
o Modelo da Ampulheta Triangulada para o de­
senvolvimento motor, apresentada no Capítulo
3, é hora de enxergar além da maturação neu ­
ral e de não considerá-la como o único meio de 
explicação do desenvolvimento motor do bebê. 
Agora os pesquisadores estão olhando mais 
atentamente os processos transacionais corpo- 
rificados na tarefa, no indivíduo e no ambiente, 
usando uma perspectiva de restrições (Alexan- 
der et al., 1993; Getchell e Gagen, 2006; Newell, 
1992; Thelen, 1998; Thelen et al., 1987).
Compreendendo o Desenvolvimento Motor 159
A partir do momento do nascimento, o bebê 
encontra-se em luta constante para conseguir 
dominar o ambiente para sobreviver. Nos es­
tágios iniciais do desenvolvimento, a interação 
primária com o ambiente acontece por meio do 
movimento. O bebê tem de começar a dominar 
as três categorias primárias de movimento n e ­
cessárias à sobrevivência e à interação efetiva 
e eficiente com o mundo. Em primeiro lugar, o 
bebê tem de estabelecer e manter a relação en ­
tre o corpo e a força da gravidade para alcan­
çar uma postura ereta quando sentado e de pé 
(estab i lidade). Em segundo lugar, a criança 
tem de desenvolver capacidades básicas para se 
movimentar pelo ambiente (locomoção). Em 
terceiro, o bebê tem de desenvolver capacidades 
rudimentares de alcançar, pegar e soltar para 
fazer contato significativo com objetos (mani­
p u lação).
Conceito 8 .2
As variações na taxa do desenvolvimento motor 
do bebê apoiam a proposição de que o desenvolvi­
mento é um processo dinâmico, dentro de um siste­
ma auto-organizado.
As capacidades de movimento rudim en­
tar do bebê são o alicerce do desenvolvimento 
mais extensivo das habilidades de movimento 
fundamental no início da infância e das habili­
dades de movimento especializado além do fi­
nal da infância. Essas capacidades chamadas de 
movimento rudimentar são tarefas altamente 
envolventes para o bebê. A importância do seu 
desenvolvimento não pode ser desprezada nem 
minimizada. Surge a seguinte questão: existem 
restrições identificáveis que incrementam ou 
limitam o desenvolvimento das capacidades de 
movimento rudimentar? A resposta é que tanto 
as affordances, como os limitadores da taxa en ­
contrados na biologia do indivíduo, como as exi­
gências da tarefa de movimento e as condições 
do ambiente do aprendizado causam impacto 
no desenvolvimento do bebê. Embora a biologia 
desempenhe um papel poderoso nessa fase, as 
capacidades de movimento rudimentar não são 
geneticamente determinadas a ponto de não 
serem suscetíveis a modificações. O enrique­
cimento inicial realmente parece influenciar o 
desenvolvimento posterior, mas são necessárias
mais informações sobre seu tipo, sua época, seu 
grau e sua duração.
ESTABILIDADE
O bebê está em luta constante contra a força da 
gravidade para alcançar e manter a postura ere­
ta. Estabelecer controle sobre a musculatura, em 
oposição à gravidade, é um processo que per­
corre uma seqüência previsível em todos os be­
bês. Os eventos que levam à postura de pé ereta 
começam com a aquisição de controle sobre a 
cabeça e o pescoço e prosseguem em um movi­
mento descendente, na direção do tronco e das 
pernas. A operação do princípio de desenvol­
vimento cefalocaudal geralmente fica aparente 
quando o bebê progride, de modo seqüencial, da 
posição deitado à posição sentado e, finalmente, 
à posição de pé ereto. A Tabela 8.1 fornece um 
resumo da seqüência de desenvolvimento e da 
idade aproximada de surgimento de determina­
das capacidades de estabilidade rudimentar.
Conceito 8 .3
A estabilidade é a mais básica das três categorias de 
movimento, pois todo movimento voluntário envol­
ve um elemento de estabilidade.
Controle da cabeça e do pescoço
Ao nascer, o bebê tem pouco controle sobre 
os músculos da cabeça e do pescoço. Se ele for 
mantido com o tronco ereto, a cabeça cairá para 
a frente. Em torno do final do primeiro mês, o 
bebê adquire controle sobre esses músculos e 
torna-se capaz de manter a cabeça ereta quando 
sustentado na base do pescoço. No final do pri­
meiro mês, ele já deve ser capaz de elevar o quei­
xo, tirando-o do travesseiro, quando deitado na 
posição pronada. Em torno do quinto mês, deve 
ser capaz de levantar a cabeça do travesseiro, no 
berço, quando deitado na posição supina.
Controle do tronco
Depois que os bebês adquirem domínio dos 
músculos da cabeça e dopescoço, começam a 
conquistar o controle dos músculos das regiões 
torácica e lom bar do tronco. O desenvolvi­
m ento do controle do tronco começa em tor­
no do segundo mês. Ele pode ser visto quando
160 Gallahue, Ozmun & Goodway
Tabela 8.1 Seqüência desenvolvimental e idade aproximada de surgimento de capacidades de 
estabilidade rudimentar
Tarefas de estabilidade Capacidades específicas
Idade de surgimento 
aproximada
Controle da cabeça V ira para um lado Nascimento
e do pescoço Vira para ambos os lados 1 semana
Mantém com apoio Primeiro mês
Tira o queixo da superfície de contato Segundo mês
Controla bem a posição pronada Terceiro mês
Controla bem a posição supinada Quinto mês
Controle do tronco Levanta a cabeça e o peito Segundo mês
Tenta mudar da posição supinada para a pronada Terceiro mês
Consegue rolar da posição supinada para a pronada Sexto mês
Rola da posição pronada para a supinada Oitavo mês
Sentado Senta com apoio Terceiro mês
Senta com autoapoio Sexto mês
Senta sozinho Oitavo mês
Fica de pé com apoio Sexto mês
De pé Sustenta-se com apoio das mãos Décimo mês
Empurra na posição de pé com apoio Décimo primeiro mês
Fica de pé sozinho Décimo segundo mês
o bebê é segurado pela cintura e se observa a 
capacidade de fazer ajustes posturais necessá­
rios à manutenção da posição ereta. No final do 
segundo mês, o bebê deve ser capaz de elevar 
o peito do chão, quando colocado na posição 
pronada.
Depois que começa a elevar o peito, o bebê 
inicia o movimento de levar os joelhos para 
cima, na direção do peito, e depois de em purrá- 
-los subitamente, como se estivesse nadando. 
Isso costuma ocorrer em torno do sexto mês. 
Outra indicação do crescente controle sobre 
os músculos do tronco é a capacidade de virar 
da posição supinada para a pronada. Em geral, 
isso é feito em torno do sexto mês e é alcança­
do com facilidade pela flexão dos quadris e pelo 
alongamento das pernas, em um ângulo reto em 
relação ao tronco. O domínio no rolar da posição 
pronada para a supinada costuma acontecer um 
pouco mais tarde.
Sentado
Sentar-se sozinho é uma conquista que exige 
controle completo sobre todo o tronco. O bebê 
de 4 meses geralmente é capaz de se sentar com 
apoio na região lombar. Ele tem controle sobre 
a parte superior do tronco, mas não sobre a in­
ferior. Um mês ou dois depois, o bebê adquire 
controle, gradualmente, sobre a parte inferior 
do tronco. Os primeiros esforços de sentar sozi­
nho são caracterizados por uma inclinação exa­
gerada para a frente, a fim de conseguir maior 
apoio para a região lombar. De modo gradual, 
desenvolve-se a capacidade de sentar ereto com 
quantidade limitada de apoio. Em torno do sé­
timo mês, o bebê em geral é capaz de sentar 
sozinho, completamente sem apoio. Nesse m o­
mento crítico, ele já possui controle sobre a parte 
inferior do corpo (Fig. 8.1). Ao mesmo tempo 
que está aprendendo a sentar sozinho, o bebê 
já desenvolve o controle dos braços e das mãos
- exemplo complem entar do funcionamento 
dos princípios cefalocaudal e proximodistal de 
desenvolvimento descritos anteriormente, neste 
capítulo.
De pé
A adoção da posição de pé ereta pelo bebê re­
presenta um marco desenvolvimental na busca 
pela estabilidade. É uma indicação de que foi 
conquistado o controle muscular a tal ponto que 
a força da gravidade já não pode mais aplicar 
aquelas restrições ao movimento. Agora o bebê 
está prestes a locomover-se de pé (andando),
Compreendendo o Desenvolvimento Motor 161
Figura 8.1
Três es tágios da conquista do sentar independente: (a) terceiro mês, (b) sexto mês e (c) oitavo mês. '
um feito anunciado solenemente por pais e pe­
diatras como a tarefa mais espetacular do desen­
volvimento motor.
As primeiras tentativas voluntárias de ficar 
de pé ocorrem em torno do quinto mês. Q uan­
do alguém segura o bebê pelas axilas e coloca 
os seus pezinhos em uma superfície de apoio, 
ele estende o quadril voluntariamente, estica e 
tensiona os músculos das pernas e mantém a 
posição de pé com considerável apoio externo. 
Em torno do nono ou décimo mês, os bebês são 
capazes de ficar de pé ao lado dos móveis e sus­
tentar o próprio peso por um tempo considerá­
vel. Aos poucos, o bebê começa a apoiar-se com 
menos força no objeto de sustentação e, com 
frequência, pode ser visto testando o equilíbrio, 
sem nenhum apoio por um breve instante. En­
tre o décimo primeiro e o décimo segundo mês,
aprende a empurrar o próprio corpo para ficar 
de pé, primeiro se colocando de joelhos, depois 
empurrando as pernas enquanto os braços es­
tendidos forçam para cima. Ficar de pé sozinho 
por períodos longos costuma acontecer quando 
os bebês começam a andar de forma indepen­
dente e, em muitos deles, não aparece separa­
damente. O surgimento da postura de pé ereta 
normalmente ocorre entre o décimo primeiro e 
o décimo terceiro mês (Fig. 8.2). Nesse ponto, o 
bebê adquire considerável controle sobre a m us­
culatura e pode realizar a difícil tarefa de levan- 
tar-se a partir da posição deitada, ficando de pé 
completamente sem ajuda.
De uma perspectiva desenvolvimental, é im­
portante perceber que os padrões de movimento 
demonstrados por bebês e crianças de 1 a 3 anos 
para sair da posição supinada e ficar em pé m u­
Figura 8.2
Três estágios da conquista da posição de pé: (a) sexto mês, (b) décimo mês e (c) décimo segundo mês.
162 Gal lahue, Ozmun & Goodway
dam à medida que a criança cresce (Marsala e 
VanSant, 1998).
LOCOMOÇÃO
O movimento do bebê no espaço depende das 
capacidades emergentes de lidar com a força da 
gravidade. A locomoção não se desenvolve in ­
dependentem ente da estabilidade; a primeira 
baseia-se muito na segunda. O bebê apenas será 
capaz de movimentar-se livremente quando ti­
ver mestria nas tarefas desenvolvimentais rudi­
mentares da estabilidade. A seguir abordamos as 
formas mais freqüentes de locomoção em que o 
bebê se envolve enquanto aprende a lidar com a 
força de gravidade. Essas formas de locomoção 
também estão resumidas na Tabela 8.2.
Conceito 8 .4
O desenvolvimento de capacidades locomotoras ru­
dimentares fornece ao bebê recursos para explorar 
um mundo em rápida expansão.
Rastejar
Os movimentos de rastejamento do bebê são as 
primeiras tentativas de locomoção propositada. 
O rastejar evolui à medida que o bebê adqui­
re controle dos músculos da cabeça, do pescoço 
e do tronco. Na posição pronada e usando um 
padrão homolateral, o bebê pode alcançar um 
objeto à sua frente, tirando a cabeça e o peito 
do chão. Ao voltar, os braços estendidos a em ­
purram de volta na direção dos pés. O resultado
desse esforço combinado é um leve movimento 
de deslizamento para a frente (Fig. 8.3). As per­
nas em geral não são usadas nessas primeiras 
tentativas de rastejar. O rastejar aparece nos be­
bês em torno do sexto mês, mas podem surgir 
bem antes, lá pelo quarto mês.
Engatinhar
O engat i nhar evolui a partir do rastejar e, m ui­
tas vezes, chega a uma forma bastante eficiente 
de locomoção para o bebê. O engatinhar difere 
do rastejar pelo fato de que pernas e braços são 
usados em oposição. As primeiras tentativas do 
bebê de engatinhar são caracterizadas por m o­
vimentos deliberados de um membro de cada 
vez. Quando a proficiência do bebê aumenta, os 
movimentos tornam -se sincrônicos e mais rá ­
pidos. Os engatinhadores mais eficientes usam 
um padrão contralateral (braço direito e per­
na esquerda). Certos indícios sugerem que os 
bebês que pularam o rastejar e passaram dire­
tamente ao engatinhar eram menos eficientes 
nos movimentos de engatinhar do que aqueles 
que haviam experimentado primeiro o rastejar 
(Adolph,Vereijken e Denny, 1998).Ver na Figura 
8.4 a representação visual do engatinhar contra­
lateral.
Marcha ereta
A aquisição da marcha ou do andar na posição 
ereta depende da estabilidade do bebê. Em pri­
meiro lugar, o bebê precisa ser capaz de contro­
lar o corpo na posição de pé, antes de manejar 
as mudanças posturais dinâmicas necessárias à
I Seqüência desenvolvimental e idade aproximadado surgimento de capacidades 
locomotoras rudimentares
Tarefas de locomoção Capacidades específicas
Idade de surgimento 
aproximada
Movimentos horizontais 
Marcha ereta
Rastejar sentado 
Rastejar 
Engatinhar 
Andar de quatro 
Andar com apoio
Andar com alguém segurando as mãos 
Andar com a condução de alguém 
Andar sozinho (mãos para cima)
Andar sozinho (mãos para baixo)
Terceiro mês 
Sexto mês 
Nono mês
Décimo primeiro mês 
Sexto mês 
Décimo mês 
Décimo primeiro mês 
Décimo segundo mês 
Décimo terceiro mês
Compreendendo o Desenvolvimento Motor 163
Figura 8.3
Rastejar.
Figura 8.4
Engatinhar.
locomoção na posição ereta. As primeiras ten ­
tativas de andar com independência costumam 
acontecer em algum momento entre o décimo 
e o décimo quinto mês e são caracterizadas por 
uma base de apoio, pés virados para fora e joe­
lhos levemente flexionados. Esses primeiros m o­
vimentos de andar não são sincrônicos e fluidos. 
São irregulares, hesitantes e desacompanhados 
de movimentos recíprocos dos braços. Foi de­
monstrado que, enquanto aprendem a andar, os 
bebês exibem padrões de cocontração em vários 
grupos musculares da parte inferior do corpo. 
Os grupos musculares agonistas e antagonis­
tas são ativados ao mesmo tempo, na tentativa 
de manter a estabilidade do corpo (Okamoto e 
Okamoto, 2001).
Enquanto a maturação do sistema nervoso 
central é extremamente importante para o ad ­
vento do andar, outros fatores orientados para 
o indivíduo, como as qualidades elásticas dos 
músculos, as propriedades anatômicas de ossos 
e articulações e a energia transmitida aos m em ­
bros que se movem, servem de sistemas inte­
rativos críticos (Thelen, 1992). Fatores ambien­
tais adicionais, como o estímulo e a assistência 
dos pais e a disponibilidade de móveis para se 
apoiar, podem contribuir para o mom ento de 
surgimento do andar independente.
Shirley (1931) identificou quatro estágios 
pelos quais passa o bebê enquanto aprende a 
andar sem ajuda:"(a) um periodo inicial de pi­
sar, em que se faz um leve progresso (3 a 6 me-
164 Gallahue, Ozmun & Goodway
DlLEMA DO DESENVOLVIMENTO
O engatinhar facil ita a organização 
ne uroló gica. Ou a promove?
Tem havido considerável questionamento sobre a 
importância do engatinhar no desenvolvimento 
motor da criança e sobre o método "adequado" de 
engatinhar. O princípio da organização neurológica, 
com frequência chamado de padrão neurológico, 
creditou grande importância às técnicas adequadas 
de engatinhar e rastejar como um estágio necessário 
à aquisição da dominância hemisférica cortical.
De acordo com o princípio da dominância, é ne­
cessário um lado do córtex para a organização neu­
rológica apropriada. Uma organ ização problemática, 
supõe-se, causa problemas motores, perceptivos e 
de linguagem na criança e no adulto.
Durante anos, neurologistas, pediatras e pes­
quisadores da área do desenvolvimento infantil 
atacaram vigorosamente essa hipótese. Porém, ela 
continua a surgir como tópico de discussão em rela­
ção aos programas de estimulação do bebê, embora
em 1982 e de novo em 1999 a American Acade­
my of Pediatrics tenha declarado que os programas 
de tratamento de padrão neurológico não têm ne­
nhum mérito especial e que as afirmações de seus 
proponentes continuam sem provas. Na verdade, 
a academia é enfática ao condenar os tratamentos 
de padrão neurológico, dizendo: "Esse tratamento 
baseia-se em uma teoria de desenvolvimento do cé­
rebro antiquada e extremamente simplificada". In­
fo rmações atuais não sustentam as afirmações dos 
proponentes de que esse tratamento é eficaz, e o 
seu uso continua sem garantias.
O desenvolvimento do cérebro é complexo, e o 
desenvolvimento motor inicial, durante o período 
do bebê, desempenha papel importante, mas ain­
da indeterminado. Os dados atuais, entretanto, não 
sustentam as afirmações feitas pelos adeptos da 
teoria da dominância hemisférica e pelos advogados 
da padronização, que insistem em que o engatinhar 
"apropriado" é necessário à organização apropriada 
do cérebro.
ses); (b) um período de ficar de pé com ajuda (6 
a 10 meses); (c) um período de andar conduzido 
por alguém (9 a 12 meses); (d) um período de 
andar sozinho (12 a 15 meses)" (p. 18). À pro­
porção que o bebê passa por cada um desses 
estágios e progride em direção a um padrão de 
andar maduro, ocorrem várias mudanças. Em 
primeiro lugar, a velocidade do andar acelera-se 
e o tamanho do passo aumenta. Em segundo, 
a largura do passo aum enta até que se estabe­
leça o andar independente e depois decresce 
um pouco. Em terceiro lugar, a eversão do pé 
diminui de modo gradual, até que os pés fiquem 
bem apontados para a frente. Em quarto lugar, a 
marcha com andar ereto aos poucos se suaviza,
0 comprimento do passo torna-se regular, e os 
movimentos do corpo, sincrônicos. Logo depois 
de alcançar o andar independente, a criança de
1 a 3 anos vai experimentar o andar para os la­
dos, para trás (Eckert, 1973) e na ponta dos pés 
(Bayley, 1935).
MANIPULAÇÃO
Como acontece com a estabilidade e a locomo­
ção, as capacidades manipulativas do bebê evo­
luem ao longo de uma série de estágios. Nesta
seção, apenas os aspectos básicos da m anipu­
lação - alcançar, pegar e soltar - serão consi­
derados.
Como nas seções sobre estabilidade e loco­
moção, aqui as capacidades de manipulação do 
bebê podem ser suscetíveis a surgimento preco­
ce, embora o processo seja bastante influenciado 
pela maturação. Quando está pronta em termos 
de maturação, a criança beneficia-se de opor­
tunidades iniciais para praticar e aperfeiçoar as 
capacidades de manipulação rudimentar.
A seguir, estão os três passos gerais em que 
se envolve o bebê durante a aquisição das ca­
pacidades de manipulação rudimentar. A Tabela 
8.3 fom ece um resumo da seqüência desenvolvi­
mental e a idade aproximada de surgimento das 
capacidades de manipulação rudimentar.
A emergência das capacidades de manipulação ru­
dimentar possibilita ao bebê em desenvolvimento o 
primeiro contato com objetos no ambiente imediato.
Alcançar
Durante os quatro primeiros meses, o bebê não 
faz movimentos de alcançar em relação a ob­
Compreendendo o Desenvolvimento Motor 165
Seqüência desenvolvimental e idade aproximada de surgimento de capacidades 
manipulativas rudimentares
Tarefas de man ipulação Capacidades específicas Idade de surgimento aproximada
Alcançar Alcançar globular não efetivo Primeiro ao terceiro mês
Alcançar com captura definida Quarto mês
Alcançar controlado Sexto mês
Preensão Preensão reflexa Nascimento
Preensão voluntária Terceiro mês
Preensão palmar com as duas mãos Terceiro mês
Preensão palmar com uma das mãos Quinto mês
Preensão de pinça Nono mês
Preensão controlada Décimo quarto mês
Comer sem assistência Décimo oitavo mês
Soltar Soltar básico Décimo segundo ao décimo quarto mês
Soltar controlado Décimo oitavo mês
Tabela 8.3
jetos, embora possa fixar neles a sua atenção e 
fazer movimentos generalizados de abarcamen- 
to globular em sua direção. Em tom o do quarto 
mês, ele começa a fazer ajustes finos dos olhos 
e das mãos, necessários ao contato com o obje­
to. Com frequência, é possível observar o bebê 
alternando o olhar entre o objeto e a mão. Os 
movimentos são lentos e estranhos e envolvem, 
principalmente, o ombro e o cotovelo. Mais 
tarde o punho e a mão envolvem-se de forma 
mais direta. No final do quinto mês, o objetivo 
da criança é quase perfeito e ela já é capaz de 
alcançar objetos no ambiente e de fazer contato 
tátil com eles. Essa conquista é necessária antes 
que a criança possa, enfim, segurá-lo e prendê- 
-lo na mão. Foi demonstrado que alguns fatores, 
incluindo a velocidade do movimento (Thelen, 
Corbetta e Spencer, 1996) e a posição ou postura 
do corpo da criança no momento do movimento 
(p. ex., supino, sentado, de pé, andando) (Cor­
betta e Bojczyk, 2001; Rochat, 1992; Savelsber- 
gh e van der Kamp, 1994), afetam a precisão do 
bebê em alcançar objetos.
Preensão
O recém-nascido pega objetos que são coloca­dos na palma de sua mão. Essa ação, no en tan ­
to, é inteiramente reflexa até mais ou menos o 
quarto mês. A pegada voluntária terá de espe­
rar até que o mecanismo sensório-motor esteja 
desenvolvido a ponto de permitir a preensão e 
o contato significativo. Halverson (1937) iden­
tificou vários estágios no desenvolvimento da
preensão. No primeiro estágio, o bebê de 4 
meses não faz qualquer esforço voluntário real 
para entrar em contato tátil com o objeto. No 
segundo estágio, o bebê de 5 meses é capaz de 
alcançar o objeto e entrar em contato com ele. 
A criança é capaz de pegar o objeto com a mão 
inteira, mas sem firmeza. No terceiro estágio, 
os seus movim entos são gradualm ente refi­
nados, de m odo que em torno do sétimo mês 
a palma da mão e os dedos são coordenados. 
Ainda não há a capacidade de usar de modo 
efetivo o polegar e os dedos. No quarto está­
gio, em torno do nono mês, a criança começa 
a usar o indicador para pegar objetos. Aos 10 
meses, alcançar e pegar são coordenados em 
um único movimento contínuo. No quinto es­
tágio, o uso eficiente do polegar e do indicador 
acontece por volta do décimo segundo mês. 
No sexto estágio, quando a criança tem 14 m e­
ses, as capacidades de preensão são muito se ­
m elhantes às dos adultos. Os fatores am bien­
tais que parecem influenciar a qualidade do 
movimento de preensão incluem o tam anho, 
o peso, a textura e a forma do objeto que será 
segurado (Case-Smith, Bigsby e Clutter, 1998; 
Siddiqui, 1995).
A progressão desenvolvimental de alcançar 
e pegar é complexa. Landreth (1958) declarou 
que as coordenadas de seis com ponentes p a ­
recem estar envolvidas no desenvolvimento da 
preensão. Eckert (1987) resumiu com clareza 
esses seis atos desenvolvimentais na seguinte 
declaração:
166 Gallahue, Ozmun & Goodway
Esses atos envolvem transições e incluem 
passar: (1) da localização visual do objeto à 
tentativa de alcançá-lo; (2) da coordenação 
simples olho-mão à independência progres­
siva do esforço visual, com a expressão final 
em atividades como tocar piano e digitar;
(3) do envolvimento inicial da musculatura 
do corpo ao envolvimento mínimo e à maior 
economia do esforço; (4) da atividade pro- 
ximal dos mú sculos grandes dos braços e 
ombros à atividade muscular distai fina dos 
dedos; (5) dos movimentos de ajuntamento 
iniciais brutos na manipulação de objetos 
com as mãos à posterior precisão do tipo pin­
ça no controle com o indicador e o polegar 
em oposição; (6) do alcançar e manipular bi­
lateral inicial ao uso posterior da mão prefe­
rida. (p. 122-123)
Soltar
O frenético balançar do chocalho é um sinal fa­
miliar quando se observa um bebê de 6 meses 
brincando. Essa é uma atividade de aprendizado, 
normalmente acompanhada de muito riso, mur­
múrio e evidente satisfação. Entretanto, alguns 
minutos depois, podemos observar esse mesmo 
bebê sacudindo o chocalho com óbvia frustração 
e aparente raiva. A razão dessa mudança abrupta 
de humor pode ser o fato de que, aos 6 meses de 
idade, o bebê ainda não domina a arte de soltar 
o objeto. A criança consegue alcançar o choca­
lho, segurar na sua alça, mas não tem maturida­
de para comandar os músculos flexores dos de­
dos, fazendo com que eles relaxem a pegada no 
momento desejado. Aprender a encher um pote
com pedras, fazer uma torre de tijolinhos, lan­
çar uma bola e virar as páginas de um livro são 
exemplos aparentemente simples das tentativas 
de uma criança de aprender a soltar, mas, quan­
do comparadas com as tentativas anteriores de 
alcançar e pegar, consistem realmente em avan­
ços notáveis. Em torno dos 14 meses, a criança 
já domina os elementos rudimentares de soltar 
os objetos depois de tê-los segurado. A criança 
de 18 meses tem um controle bem coordenado 
de todos os aspectos do alcançar, pegar e soltar 
(Halverson, 1937).
A medida que o domínio do bebê nas capa­
cidades rudimentares de manipulação (alcançar, 
pegar e soltar) se desenvolve, as razões para 
segurar objetos são revisadas. Em vez de mani­
pular objetos simplesmente para tocar, sentir ou 
mordê-los, a criança começa a envolver-se no 
processo da manipulação de objetos para apren­
der mais a respeito do m undo em que vive. A 
manipulação de objetos é direcionada por per­
cepções apropriadas para alcançar objetivos sig­
nificativos (Fig. 8.5).
O desenvolvimento de capacidades de m o­
vimento de locomoção, estabilidade e m anipu­
lação em bebê é influenciado tanto pela matura­
ção como pelo aprendizado. Essas duas facetas 
do desenvolvimento estão inter-relacionadas e é 
por meio dessa interação que o bebê desenvolve 
e refina as capacidades de movimento rudimen­
tar. Essas capacidades de movimento são as ba ­
ses necessárias ao desenvolvimento dos padrões 
de movimento fundamental e das capacidades 
de movimento especializado.
Figura 8.5
Capacidades rudimentares: (a) alcançar, (b) pegar e (c) soltar.
Compreendendo o Desenvolvimento Motor 167
PROGRA MAS ESP ECIAIS 
PARA BEB ÊS
Há anos pais, pediatras, terapeutas e educadores 
reconhecem a importância de fornecer aos be ­
bês um ambiente rico e estimulante, em que ele 
possa crescer e desenvolver-se. Isso é particular­
mente evidente quando o bebê apresenta atraso 
desenvolvimental ou é uma criança de risco. Essa 
consciência levou, nos Estados Unidos, à aprova­
ção da Lei 99-457, em 1986, da sua reafirmação 
na Lei 108-446, em 2000, e finalmente, da IDEA, 
Individuais with Disabilities Education Act of 
2004 (Houston-Wilson, 2011), que determina 
serviços de in tervenção precoce para bebês e 
crianças com deficiências. Uma das estipulações 
desse ato jurídico é a elaboração de um plano de 
serviço familiar individualizado (IFSP - Indivi- 
dualized Family Service Plan) por uma equipe 
multidisciplinar, a fim de fornecer a estrutura e 
avaliação da estratégia para facilitação do desen­
volvimento saudável e redução ou eliminação de 
potenciais atrasos desenvolvimentais. O êxito da 
implementação desse tipo de plano depende da 
intensidade e da qualidade do programa de in ­
tervenção (Houston-Wilson, 2011). Além disso, 
deve ser desenvolvido o fundamento teórico em 
que serão baseadas as atividades de intervenção.
Enriquecer as experiências de movimento 
é, com frequência, parte importante da IFSP de 
bebês em risco. Movimentar-se e interagir com 
o ambiente é um dos principais recursos dc de­
senvolvimento cognitivo do bebê. Uma estraté­
gia de intervenção precoce recente e singular, 
que surge no horizonte, é a facilitação do andar 
independente de bebês com atraso desenvolvi­
mental, usando um paradigma de treinamento 
na esteira. Com base em estudos teóricos de 
Esther Thelen (1985, 1986a), Beverly e Dale Ul­
rich têm seguido uma linha de pesquisa cujo 
resultado é um procedimento que pode facilitar 
o surgimento do andar independente em bebês 
com síndrome de Down (Ulrich et al., 2001; Ul­
rich e Ulrich, 1995; Ulrich, Ulrich e Collier, 1992; 
Ulrich, Ulrich, Collier e Cole, 1995). A técnica 
envolve a sustentação do bebê na posição ereta 
sobre uma pequena esteira motorizada (ver Fig. 
8.6). Q uando a esteira começa a movimentar- 
-se, os bebês apresentam um padrão de passos 
alternados bem coordenados, embora não se­
jam capazes de andar de modo independente. 
Como resultado das sessões práticas de andar 
na esteira, os bebês com síndrome de Down ca­
minharam de modo independente meses antes 
dos seus colegas que não tinham essa prática. 
Essas descobertas podem ser resultantes de uma
Figura 8.6
Esteira para bebês.
168 Gallahue, Ozmun & Goodway
P e r s p e c t i v a s i n t e r n a c i o n a i s
Enfaixar bebês: a volta de uma prática 
centenária
Antes do século XVIII, o enfaixe de bebês, às vezes 
chamado de embrulho, com ou sem uma tábua de 
apoio, era uma prática aceita quase universalmente. 
O enfaixe ainda é uma prática comum em alguns 
países do Oriente Médio e da América do Sul e tem 
recuperado a popularidade nos Estados Unidos, Grã- 
-Bretanha e Países Baixos. A duração e o método 
de enfaixe variam muito

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