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140 Gallahue, Ozmun & Goodway CONCEITO-CHAVE O estudo dos reflexos e dos padrões de comporta mento estereotipados dos bebês revela informações úteis para a compreensão do processo do desenvol vimento motor. O s movimentos reflexos são evidentes em todos os fetos, neonatos e bebês em maior ou menor grau, de acordo com a idade e a constituição neurológica. Os movimentos re flexos são reações involuntárias do corpo a vá rias formas de estimulação externa. A maioria dos reflexos são subcorticais, no sentido de que são controlados por centros cerebrais inferiores, responsáveis também por numerosos proces sos involuntários de manutenção da vida, como a respiração. Embora não seja um tópico deste capítulo, os reflexos de equilíbrio são mediados pelo córtex cerebral. O controle motor voluntá rio na criança normal é uma função do córtex ce rebral em maturação. Movimentos controlados conscientemente resultam de impulsos nervo sos transmitidos do córtex cerebral ao longo dos neurônios motores. Muitos reflexos iniciais estão relacionados à sobrevivência do bebê (reflexos de sobrevi vência primitivos), enquanto outros são pre cursores de movimentos voluntários que apare cem entre o nono e o décimo quinto mês após o nascimento (reflexos posturais primitivos). Os movimentos reflexos de caminhar, nadar, engatinhar e subir foram relatados por Shirley (1.931), McGraw (1939) e Ames (1937). Esses re flexos são inibidos antes do surgimento das suas contrapartes voluntárias, mas a sua simples pre sença é uma indicação de quanto as atividades locomotoras estão profundamente enraizadas no sistema nervoso. CONCEITO 7.1 Os reflexos são a primeira forma de movimento hu mano e fornecem dicas interessantes sobre o proces so do desenvolvimento motor. Aproximadamente a partir do quarto mês da vida fetal até o quarto mês da vida do bebê, a maioria dos movimentos são reflexos. As reações involuntárias resultam de mudanças na estimu lação exercida pela pressão, pela visão, pelo som e pelo tato. Esses estímulos e as respostas for mam a base do estágio de coleta de informações, ou estágio de codificação, da fase de movimento reflexo. Nesse ponto da vida da criança, os re flexos são o instrumento primário de coleta de informações a serem armazenadas no córtex em desenvolvimento. Quando os centros cerebrais adquirem maior controle sobre o aparato sensório-motor, o bebê torna-se capaz de processar informações com mais eficiência. Esse estagio de processamento de informações, ou estágio de decodificação, é se melhante aos três primeiros estágios de Piaget, o sensório-motor do desenvolvimento, ou seja, o uso dos reflexos, as reações circulares primárias e as reações circulares secundárias. Conceito 7.2 Os comportamentos reflexos do bebê são a fonte primária de coleta de informações durante o período neonatal. COMPORTAMENTO REFLEXO E M O VIM E N TO VOLUNTÁRIO Duas funções essenciais dos reflexos de sobrevi vência primitivos são buscar nutrição e proteção. Vários reflexos primitivos, no início do período de bebê, lembram movimentos voluntários pos teriores. Esses reflexos posturais, como são às vezes chamados, têm sido tema de considerável debate ao longo dos anos. Nas últimas décadas, foi elaborada e demonstrada a hipótese de que esses movimentos reflexos formam a base do movimento voluntário posterior (Bower, 1976; McGraw, 1954; Thelen, 1980; Zelazo, 1976). À medida que o córtex amadurece, ele assume o controle sobre os reflexos posturais de pisar, engatinhar e nadar. Três décadas atrás, Zelazo questionava a posição dualista dos anatomistas em defesa da visão hierárquica; segundo ele: Realmente, pesquisas comportamentais e neurológicas atuais com bebês alteram a validade e a generalidade da suposta inde pendência entre o comportamento reflexivo inicial e o comportamento instrumental pos terior. Uma hipótese alternativa afirma que os reflexos do bebê não desaparecem, mas retêm Compreendendo o Desenvolvimento Motor 141 a sua identidade dentro da hierarquia do com portamento controlado, (p. 88) Anatomistas e neurologistas, em contrapar tida, argumentam que há uma lacuna visível, de vários meses, entre a inibição do reflexo postural e o surgimento do movimento voluntário (Kes- sen et al., 1970; Pontius, 1973; Prechtl e Beinte- ma, 1964; Wyke, 1975). Esse intervalo de tempo, segundo eles, indica de modo claro que não há ligação direta entre os reflexos posturais e o m o vimento voluntário posterior. Portanto, a visão de Zelazo foi duramente criticada. Além disso, os anatomistas e neurologistas argumentaram que a perfornmnce dos movimentos reflexos e dos voluntários era controlada por centros ce rebrais diferentes. Bower (1976), entretanto, defendia que "esses resultados apontavam para a possibilidade de que a razão do desapareci mento das capacidades era o fato de não serem exercitadas" (p. 40). Conce ito 7.3 Parece haver uma ligação entre o comporta mento reflexo inicial e o movimento voluntário posterior. Do ponto de vista teórico do anatomista, parecia haver pouco fundamento para a suposi ção de que os primeiros movimentos reflexos do bebê preparavam-no para o movimento volun tário posterior de modo direto. Em meados de 1970, foi proposto que os resultados da ativida de reflexa inicial do bebê seriam internalizados e que essas informações ficariam armazenadas para uso futuro (Zelazo, 1976).Thelen (1985) ar gumentou, ainda, que os estudos demonstram continuidade entre o andar reflexo e o voluntá rio. Ela afirmou, assim como fizera Bower (1976), que o período de inibição desaparece caso o reflexo seja exercitado. Thelen sustentou que o reflexo desaparece porque a massa da pem a au menta. A preservação do reflexo fortalece a per na e a parte inferior do corpo, permitindo, assim, que o bebê continue a se movimentar com pou ca ou nenhum a lacuna entre o reflexo locomotor e a sua contraparte voluntária. Explicações des se tipo respondem por pelo menos uma ligação indireta entre os reflexos posturais do bebê e o movimento voluntário posterior. Qualquer interessado no estudo do movi mento precisa ter uma compreensão mais cla ra das primeiras formas do comportamento de movimento. Duas teorias que tentam esclarecer essa área são as teorias neuromaturacional e a dos sistemas dinâmicos. A teoria neuromaturacional do desenvol vimento motor (Eckert, 1987) sustenta que, à medida que se desenvolve, o córtex inibe algu mas das funções das camadas subcorticais e vai assumindo cada vez mais o controle neuromus- cular. O córtex envolve-se na própria capaci dade de armazenar informações recebidas por meio dos neurônios sensoriais. Esse fenômeno fica evidente na interrupção dos comportamen tos reflexos e na aquisição de movimentos vo luntários pelo bebê. A formação concomitante de mielina prepara o corpo para o estado neu- romuscular maduro. Os movimentos tomam-se mais localizados, enquanto os trajetos neurais funcionais agem em regiões isoladas do corpo com maior precisão e acurácia. Mais recentemente, a teoria dos sistemas dinâmicos defende que a neuromaturação serve de restrição ao desenvolvimento e é apenas um dos muitos limitadores de taxa que influenciam a emergência do movimento voluntário contro lado (Thelen, 1986b; Thelen et al., 1987; Thelen e Ulrich, 1991). A dinâmica do sistema forma o movimento, e o limitador de taxa é algo do indiví duo, da tarefa e/ou do ambiente que condiciona ou restringe o movimento coordenado, para que não ocorra com pouco input central. Itens como proporções corporais, mielinização insuficiente, peso corporal, força muscular ou uma série de condições ambientais inibem ou promovem a progressão da fase reflexiva para a fase de movi mento rudimentar do desenvolvimento. DIAGNÓSTICO DE DISTÚRBIOS DO SISTEMA NERVOSO CENTRAL É comum que o pediatra tente trazer à tona re flexos primitivos e posturais no neonato e no bebê. Se algum reflexo estiverausente, irregular ou desigual em termos de força, suspeita-se de disfunção neurológica. A ausência de movimen tos reflexos normais ou da continuação prolon gada de vários reflexos além dos seus períodos nonnais faz o médico suspeitar de dano neuro lógico. 142 Gallahue, Ozmun & Goodway Con ceito 7 .4 O co mportamento reflexo do bebê pode ser usado como uma ferramenta diagnostica efetiva para ava liar a integridade do sistema nervoso central. O uso dos reflexos desenvolvimentais como ferramenta de diagnóstico de distúrbios no sis tema nervoso central tem se disseminado. Ao longo dos anos, cientistas compilaram um cro- nograma aproximado do surgimento e inibição de comportamentos do neonato e do bebê. A posição de descanso do recém-nascido, por exemplo, tende a ser a posição flexionada. Os flexores são dominantes sobre os extensores no início do período de bebê. Entretanto, em resu mo, o maior controle cortical permite ao neo nato normal levantar a cabeça a partir da posi ção pronada. A falta dessa resposta de levantar a cabeça na primeira ou segunda semana após o nascimento sugere a possibilidade de anormali dades neurológicas. Existem vários outros exemplos significati vos disso. Os movimentos de olhos-de-boneca do neonato permitem que ele m antenha a cons tância da imagem da retina. Quando a cabeça é inclinada para trás, os olhos miram o queixo, embaixo, e, quando a cabeça é inclinada para a frente, os olhos miram a testa, acima. Essa resposta quase sempre é observada em bebês prematuros e no primeiro dia em seguida ao nascimento de neonatos normais; depois ela é substituída pelos movimentos voluntários dos olhos. A continuidade desse reflexo pode indicar atraso na maturação cortical. Um meio de diagnosticar possíveis distúr bios no sistema nervoso central, portanto, é a permanência dos reflexos. A ausência completa de um reflexo costuma ser menos significante do que a sua permanência por tempo demais. Outro indício de possível dano fica claro quan do um reflexo é forte ou fraco demais. O reflexo que gera uma resposta mais forte em um lado do corpo do que no outro também indica disfunção do sistema nervoso. Um reflexo tônico assimé trico no pescoço, por exemplo, que apresenta ex tensão completa de um braço e apenas extensão fraca do extensor do outro, quando esse outro lado é estimulado, também fornece indícios de dano. Somente um examinador treinado deve ins pecionar e avaliar os comportamentos reflexos do neonato. Para os médicos, os exames são um recurso primário de diagnóstico da integridade do sistema nervoso central em bebês nascidos no prazo normal, em prematuros e nos que cor rem riscos. Além disso, eles servem de base para a in tervenção de médicos e terapeutas ocupacionais que trabalham com indivíduos com comporta- PERSPECTIVAS INTERNACIONAIS Reflexos do bebê: um fenôm eno m undial com conseqüências s ignificativas Os reflexos do bebê são controlados subcorticalmen- te e fundamentados na maturação. Por isso, são os mesmos no mundo inteiro em neonatos com desen volvimento típico. Não importa se o bebê nasceu na África, na Ásia, na América do Norte ou na América do Sul, todos os bebês com desenvolvimento típico apresentam os mesmos reflexos primitivos e postu rais. Além disso, eles aparecem e "desaparecem" do mesmo modo e no mesmo ritmo. Apenas em casos de privação extrema, incluindo prematuridade extrema e peso de nascimento extre mamente baixo, é que realmente observamos mu danças no ritmo de surgimento dos comportamentos reflexos. Um período de gestação mais curto, menos de 27 semanas, não é suficiente para que o sistema nervoso fique suficientemente maduro no ventre. Em conseqüência disso, várias reações, inclusive os reflexos de busca e sucção, típicos do neonato, ficam fracos ou até mesmo ausentes. 0 cuidado especiali zado, em uma unidade de tratamento intensivo de neonatos, proporciona um tempo precioso para o amadurecimento dessas respostas, enquanto é for necida nutrição intravenosa. Entretanto, nos países em desenvolvimento, essa tecnologia médica muitas vezes não está disponível, levando a complicações adicionais que ameaçam a própria sobrevivência do neonato, em função da sua incapacidade de buscar e sugar a nutrição do seio da mãe. No contexto in ternacional, muito precisa ser feito para melhorar o resultado dos bebês nascidos prematuramente. Compreendendo o Desenvolvimento Motor 143 mentos reflexos patológicos, além dos períodos de inibição esperados. É possível suspeitar de disfunção neurológica quando pelo menos uma dessas condições surge: 1. A permanência de um reflexo além da idade em que ele deveria ser inibido pelo controle cortical 2. Ausência completa de um reflexo 3. Respostas de reflexo bilateral desiguais 4. Respostas fortes ou fracas demais. C once ito 7.5 O s reflexos do bebê aparecem e são inibidos de acordo com um cronogram a de ritmo e seqüência previsível. REFLEXOS PRIMITIVOS Os reflexos primitivos estão estreitamente as sociados com a obtenção de nutrição e proteção pelo bebê. Eles surgem durante a vida fetal e per sistem até o primeiro ano. A seguir apresentamos uma lista parcial de numerosos reflexos primiti vos exibidos pelo feto e pelo recém-nascido. Os seus tempos aproximados de surgimento e inibi ção são encontrados na Tabela 7.1, que também inclui informações sobre reflexos posturais. Reflexos de Moro e de alarme Para despertar os reflexos de Moro e de alarme, coloca-se o bebê na posição supino e dá-se um tapinha em seu abdome ou produz-se alguma sensação de insegurança de apoio (p. ex., deixar 1 Seqüência do desenvolvim ento e taxa aproxim ada de surgim ento e inibição de determ inados reflexos primitivos e posturais Mês Reflexos primitivos 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 1 0 11 1 2 De Moro X X X X X X X De alarme X X X X De busca X X X X X X X X X X X X De sucção X X X X Palmar-mental X X X Palmar-mandibular X X X X De preensão palmar X X X X X De Babinski X X X X De preensão plantar X X X X X X X X X Tônico do pescoço X X X X X X X Reflexos posturais Endireitamento labiríntico X X X X X Endireitamento óptico X X X X X X X Flexão X X X X X X X X X X Paraquedas e extensão X X X X X X X X X Endireitamento do pescoço X X X X X X X Endireitamento do corpo X X X X X X X De engatinhar X X X X De caminhar X X X X X X De nadar X X X X X X 144 Gallahue, Ozmun & Goodway a cabeça cair um pouco para trás de repente). Ele também pode ser autoinduzido por um som alto ou quando o bebê tosse ou espirra. No reflexo de Moro, há extensão e abaulamen- to dos braços e esticamento dos dedos das mãos. As pernas e os dedos do pé executam as mesmas ações, porém com menos vigor. Após, os membros retornam à posição flexionada normal, junto ao corpo (Fig. 7.1). O reflexo de alarme é similar ao de Moro em todos os aspectos, exceto por envolver a flexão dos membros sem extensão prévia. O reflexo de Moro está presente ao nasci mento e durante os primeiros seis meses. Ele tem sido uma das ferramentas mais amplamen te usada em exames neurológicos de bebês. A reação é mais acentuada durante as primeiras semanas de vida. A intensidade da resposta di minui de forma gradual até ser caracterizada, finalmente, por um movimento de arranco do corpo em resposta ao estímulo (reflexo de alar me). A persistência do reflexo além do sexto mês pode ser indicativa de disfunção neurológica. A assimetria no reflexo de Moro possivelmente in dica paralisia de Erb ou lesão no membro. Reflexos de busca e sucção Os reflexos de busca ou descoberta e de sucção permitem ao recém-nascido a obtenção de nu trição da mãe. Em resultado da estimulação da área em torno da boca (reflexo de busca), o bebê vira a cabeça na direção da fonte da estimulação. O reflexo de busca é mais forte nas três primeiras semanas e, gradualmente, cede espaço à respos ta de virar a cabeça de modo direcionado, que se toma refinada e parece umcomportamento com o propósito de colocar a boca em contato com o estímulo. É mais fácil obter o reflexo de busca quando o bebê está com fome, dormindo ou na posição normal de amamentação. A estimula ção dos lábios, gengivas, língua ou palato duro provoca um movimento de sucção (reflexo de sucção) na tentativa de receber nutrição. Geral mente, a ação de sucção é ritmicamente repeti tiva. Se isso não acontecer, a movimentação leve do objeto dentro da boca irá produzir a sucção. O reflexo de sucção tem duas fases - expressiva e de sucção. Durante a fase expressiva, o mamilo é aper tado entre a língua e o palato. Durante a fase de Figura 7.1 Reflexo de Moro: (a) fase de extensão, (b) fase de flexão. Compreendendo o Desenvolvimento Motor 145 é aplicada pressão à palma das duas mãos. As respostas incluem abrir a boca, fechar os olhos e flexionar a cabeça para a frente. Esse reflexo co meça a diminuir durante o primeiro mês após o nascimento e, geralmente, não é mais observado após o terceiro mês. Reflexo de preensão palmar Durante os primeiros dois meses, o bebê cornu- mente mantém as mãos bem fechadas. Quando há estimulação da palma, a mão se fecha com força em tomo do objeto, sem o uso do polegar. A pegada fica mais apertada quando é exercida for ça contra os dedos flexionados. Com frequência, a pegada é tão forte que o bebê consegue sus tentar o próprio peso quando suspenso (Fig. 7.2). O reflexo de preensão normalmente está presente ao nascimento e persiste durante os quatro primeiros meses. A intensidade da res posta tende a aumentar durante o primeiro mês e diminui aos poucos depois disso. Uma pre ensão fraca ou a persistência do reflexo após o primeiro ano pode ser um sinal de atraso no de senvolvimento motor ou de hemiplegia, quando ocorre em um único lado. Figura 7.2 Reflexo de preensão palmar. sução, é produzida pressão negativa na cavidade bucal. Esse reflexo é provocado diariamente nos horários da amamentação no caso do neonato saudável. Além disso, a estimulação de recém- -nascidos de alto risco para geração de reflexos de sucção e deglutição tem se mostrado benéfica na redução da necessidade de alimentação in- travenosa. Esses dois reflexos estão presentes em todos os recém-nascidos com desenvolvimento típico. O reflexo de busca pode persistir até o final do primeiro ano; o movimento de sucção em ge ral desaparece como reflexo no final do terceiro mês, mas persiste como resposta voluntária. Ref lexos mãos-boca Dois reflexos mãos-boca são encontrados em recém-nascidos. O reflexo palmar-mental, p ro vocado quando se esfrega levemente a base da palma, causa contração dos músculos do queixo, erguendo-o. Esse reflexo tem sido observado em recém-nascidos, mas desaparece relativamente cedo. O reflexo palmar-mandibular ou reflexo de Ba- bkin, como às vezes é chamado, surge quando 146 Gallahue, Ozmun & Goodway Reflexos de Babinski e preensão plantar Em recém-nascidos, o reflexo de Babinski é evo cado pelo toque na sola dos pés. A pressão causa a extensão dos dedos do pé. Quando o sistema neuromuscular amadurece, o reflexo de Babinski cede espaço ao reflexo plantar, uma contração dos dedos em resposta à estimulação da sola do pé (Fig. 7.3). O reflexo de Babinski normalmente está pre sente ao nascimento, mas cede espaço, em torno do quarto mês, ao reflexo de preensão plantar, que pode persistir até por volta do décimo segun do mês. O reflexo plantar de preensão pode ser facilmente provocado pela pressão dos polegares contra o terço anterior do pé do bebê. A persis tência do reflexo de Babinski além do sexto mês é indicativo de uma lacuna desenvolvimental. Reflexos tônicos assimétrico e simétr ico do pescoço O reflexo tônico assimétrico do pescoço é, prova velmente, o mais pesquisado na literatura tera pêutica. Para evocá-lo, um examinador treinado coloca o bebê na posição supina e vira o pescoço dele de modo que a cabeça fique voltada ora para um lado, ora para o outro. Os braços assumem posição similar à do esgrimista"en garde". Ou seja, o braço se estende do lado do corpo para o qual a cabeça está voltada, e o outro braço as sume uma posição bem flexionada. Os membros inferiores ficam em posição similar à dos braços. O reflexo tônico simétrico do pescoço pode ser provocado na posição sentada, com apoio. A ex tensão da cabeça e do pescoço produz a exten são dos braços e a flexão das pernas. Quando a cabeça e o pescoço são flexionados, os braços flexionam-se e as pem as estendem-se (Fig. 7.4). Os dois reflexos tônicos do pescoço são ob servados na maioria dos bebês prematuros, mas não são uma resposta obrigatória em recém- -nascidos (ou seja, eles não ocorrem sempre que a cabeça do bebê é virada). Entretanto, o bebê de 3 a 4 meses de idade assume a posição assi métrica cerca de 50% do tempo e depois ela vai desaparecendo de forma gradual. A persistência além do sexto mês pode ser indicativa de falta de controle dos centros cerebrais superiores so bre os inferiores. A persistência do reflexo tônico assimétrico do pescoço no começo da infância pode impedir o desenvolvimento de tarefas m o toras como rolar o corpo, cruzar a linha média corporal, coordenar os olhos e vários tipos de nado. Crianças e adultos com paralisia cerebral grave com frequência exibem reflexo tônico assi métrico persistente (Sherrill, 2004). Figura 7.3 Reflexo de preensão plantar. Compreendendo o Desenvolvimento Motor 147 Figura 7.4 (a) Reflexo tônico assimétrico do pescoço e (b e c) reflexo tônico simétrico do pescoço. REFLEXOS POSTURAIS Os reflexos posturais lembram os movimentos voluntários posteriores. Eles permitem, de forma automática, que o indivíduo mantenha a posição ereta em relação ao seu ambiente. Os reflexos posturais são encontrados em todos os bebês normais durante os primeiros meses do pós-na tal e podem, em alguns poucos casos, persistir durante todo o primeiro ano. As seções a seguir abordam os reflexos posturais que interessam mais ao estudante do desenvolvimento motor. Esses reflexos estão associados com o comporta mento do movimento voluntário posterior e de vem ser cuidadosamente estudados por todos os interessados no desenvolvimento dos padrões voluntários de movimento. (O período aproxi mado de surgimento e inibição desses reflexos também é encontrado naTab. 7.1, na p. 143). Conceito 7.6 Os reflexos posturais lembram os movimentos volun tários posteriores e podem estar ligados a eles. Reflexos de endireitamento labiríntico e óptico Os reflexos de endireitamento labiríntico e óp tico são provocados quando o bebê é mantido na posição ereta e inclinado para a frente, para trás ou para os lados. A criança responde com a tentativa de manter a posição ereta da cabeça, movimentando-a na direção oposta à do m o vimento do tronco. Por exemplo, se o bebê for mantido na posição pronada e for inclinado para trás, ele responderá erguendo a cabeça (Fig. 7.5). O reflexo de endireitamento óptico é similar ao de endireitamento labiríntico, exceto pelo fato de que é possível observar que os olhos seguem a condução da cabeça para cima. No reflexo de endireitamento labiríntico, os impulsos que emergem do otólito do labirinto fazem com que o bebê mantenha o alinhamento apropriado da cabeça em relação ao ambiente, inclusive quando outros canais sensórios (i.e., a visão e o tato) são excluídos. O reflexo de en direitamento labiríntico surge pela primeira vez em torno do segundo mês e persiste até cerca de 6 meses de idade, quando a visão geralmente se toma um fator importante. O reflexo continua ao longo do primeiro ano como reflexo de en direitamento óptico. Esse último, junto com seu similar mais primitivo, ou seja, o reflexo de en direitamento labiríntico, ajuda o bebê a colocar a cabeça e o corpo na posição ereta e a manter essa posição e contribui para o movimento do bebê para a frente, que ocorre cm torno do final do primeiro ano. Reflexode flexão O reflexo de flexão dos braços é uma tentativa involuntária, por parte do bebê, de manter a po sição ereta. Se o colocarmos sentado, o segurar mos assim com uma das mãos ou com as duas e 148 Gallahue, Ozmun & Goodway o empurrarmos levemente para trás, ele flexio nará os braços, tentando permanecer ereto. E fará a mesma coisa se for empurrado para a fren te. A reação de flexão reflexa dos braços costuma aparecer em torno do terceiro ou quarto mês e, com frequência, continua ao longo do primeiro ano (Fig. 7.6). Reflexos de paraquedas e de extensão As reações de paraquedas e de extensão são m o vimentos protetores dos membros na direção da força aplicada. Esses movimentos reflexos ocor rem em resposta a uma força de aplicação súbita ou quando o bebê não consegue mais manter o equilíbrio. Os reflexos de proteção dependem da estimulação visual e, portanto, não ocorrem no escuro. Eles podem ser uma forma de reflexo de susto. A reação de paraquedas para a frente pode ser observada quando o bebê é mantido vertical mente no ar e, em seguida, inclinado em direção ao solo. Ele estende os braços para baixo, em uma aparente tentativa de amortecer a suposta queda (Fig. 7.7). As reações de paraquedas para trás po dem ser observadas quando o bebê é mantido na posição ereta e rapidamente abaixado em direção ao solo. Os membros inferiores ficam em exten são, tensão e abdução. Os reflexos de extensão podem ser provocados quando o bebê é tirado do equilíbrio na posição sentada, empurrando-o para a frente ou para trás. As reações de paraque das para a frente e para trás começam a acontecer em torno do quarto mês. A reação de extensão para os lados emerge pela primeira vez em torno do sexto mês. A reação para trás é observada pela primeira vez entre o décimo e o décimo segundo mês. Cada uma dessas reações tende a persistir além do primeiro ano e é necessária antes de o bebê aprender a andar. Reflexos de endireitamento do pescoço e do corpo O reflexo de endireitamento do pescoço é obser vado quando o bebê é colocado na posição supi- Figura 7.5 Reflexos labirínticos em três posições: (a) ereta, (b) inclin ada para trás e (c) pronada. Figura 7.6 Reflexo de flexão. Compreendendo o Desenvolvimento Motor 149 Figura 7.7 Reflexo de paraquedas. na, com a cabeça voltada para o lado. O restan te do corpo movimenta-se de modo reflexo na mesma direção da cabeça. Primeiro os quadris e as pem as viram-se de modo alinhado, segui dos pelo tronco. No reflexo de endireitamento do corpo, acontece o reverso. Quando testado na posição deitado de lado, com as pernas e o tronco voltados para o lado, o bebê vira a cabeça de modo reflexo na mesma direção e corrige a posição do corpo, buscando o alinhamento com a cabeça (Fig. 7.8, p. 150). O reflexo de endirei tamento do pescoço desaparece em tomo dos 6 meses de idade. O reflexo de endireitamento do corpo emerge em tom o do sexto mês e persiste até cerca dos 18 meses. O reflexo de endireita mento do corpo forma a base do movimento vo luntário de rolar, que ocorre a partir do final do quinto mês. Reflexo de engatinhar O reflexo de engatinhar é observado quando o bebê é colocado na posição pronada e aplica- -se pressão à sola do seu pé. De modo reflexo, ele assume uma posição de engatinhar, usando tanto os membros superiores como os inferiores. A pressão na sola de ambos os pés gera o retor no da pressão por parte do bebê. A pressão na sola de um dos pés produz o retomo da pressão e um empurrão extensor da perna oposta (Fig. 7.9, p. 150). O reflexo de engatinhar geralmente está pre sente ao nascimento e desaparece por volta do terceiro ou quarto mês. Há uma lacuna entre o engatinhar reflexo e o voluntário, que aparece por volta do sétimo mês. Reflexo primário de marcha automática Quando seguramos o bebê na posição ereta, com o peso do corpo sustentado em uma su perfície plana, ele responde "andando" para a frente. Esse movimento de andar envolve ape nas as pernas (Fig. 7.10, p. 152). O reflexo pri mário de pisar normalmente está presente nos primeiros seis meses e desaparece em torno do quinto mês. Zelazo (1976) e Bower (1976) estu daram como a prática precoce e persistente do reflexo primário de marcha afeta o surgimento do comportamento voluntário de andar. Os re sultados dessas investigações revelaram que a idade do caminhar independente foi acelerada por meio do condicionamento do reflexo de pi sar no grupo experimental; o grupo de controle não apresentou aceleração do desenvolvimento. Com base nessas descobertas, Thelen (1986a) foi capaz de provocar um reflexo de pisar em bebês vários meses depois do período em que já deve ria ter sido inibido, mas antes do surgimento da marcha voluntária. Ela sugeriu que o condicio namento do reflexo melhora a força nos m em bros exercitados, tornando-se, portanto, um estímulo do caminhar voluntário precoce. Várias pesquisas têm usado esse trabalho pioneiro para explorar a facilitação da caminhada voluntária em bebês com síndrome de Down (Ulrich e Ul- rich, 1995; Ulrich et al., 1995; Ulrich et al., 1997; Ulrich et al., 2001). Reflexo de nadar Quando colocado na posição pronada dentro ou sobre a água, o bebê exibe movimentos rítmicos 150 Gallahue, Ozmun & Goodway (a) Reflexo de endireitamento do pescoço e (b) reflexo de Figura 7.9 Reflexo de engatinhar. Compreendendo o Desenvolvimento Motor 151 DlLEMA DO DESENVOLVIMENTO Olha! O bebê está começando a andar! Com frequência, os pais de recém-nascidos ficam atentos a qualquer movimento de seus filhos, espe cialmente no primeiro ano de vida, tão repleto de eventos. Um dos primeiros e mais reveladores mar cos é aprender a ficar de pé e a caminhar com inde pendência. As faixas de variação típicas vão de 9 a 18 meses de idade, com a média em tom o dos 12. Com frequência os pais começam a colocar o bebê na posição ereta com sustentação logo de pois do nascimento e ficam surpresos ao ver que ele trava o quadril e as articulações do joelho e pa rece fazer um verdadeiro esforço para ficar de pé e caminhar. Então eles dizem à fam ília e aos amigos que o filho está "começando a andar" e, uma vez que isso está acontecendo tão cedo, esse seria ape nas o primeiro de muitos comportamentos preco ces que certamente virão. Ah, como os pais ficam orgulhosos. Junto com outras pessoas que acompanham o processo de longe, várias semanas depois, mamãe e papai ficam desapontados quando o filho não de monstra mais aquelas habilidades precoces de "ca minhar". Na verdade, quando é colocado na posição ereta, com os pés plantados em uma superfície dura, o bebê age mais como um macarrão úmido e escor regadio do que como um superfilho tentando ficar de pé e caminhar. O primeiro reflexo de marcha aparece logo após o nascimento e persiste ao longo dos primeiros 4 ou 5 meses. Ele não é, de jeito nenhum, uma a t ivida de motora voluntária, pois é controlado de modo subcortical. Entretanto, ele pode fo rnecer ao bebê informações valiosas, que serão usadas mais tarde, quando os centros cerebrais superiores amadure cem e a musculatura corpo ral torna-se forte o su ficiente para suportar o ato voluntário de ficar de pé e caminhar. Tem sido demonstrado que o uso do reflexo primário de pisar para a "p rá t ica" inicial da cami nhada promove a aceleração dos comportamentos voluntários de cam inhar em bebês. A prática parece melhorar a força dos membros e a coordenação assi métrica. No entanto, se excessiva, ela pode estressar os ossos e as articulações. Então o d i lema: em que condições a prática precoce do comportamento de marcha é aconselhada e em que condições ela é in sensata? Por quê? extensores e flexores dos braços e das pernas como se estivesse nadando. Os movimentos são bem organizados e parecem mais avançados do que qualquer dos outros reflexos locomotores. McGraw (1939) filmou movimento reflexos de natação em bebês humanos bemcedo, no déci mo primeiro dia após o nascimento. Esses movi mentos involuntários geralmente desaparecem em torno do quarto mês. McGraw descobriu que o reflexo de pren der a respiração é evocado quando o rosto do bebê é colocado na água e que os movimentos de natação são mais acentuados nessa posição. Desde então, McGraw (1954) tem especulado a respeito da teoria de que o reflexo de nadar do bebê é um precursor do caminhar. "Basica mente, os mecanismos neuromusculares que mediam os movimentos de nadar reflexos p o dem ser, em essência, os mesmos ativados no engatinhar reflexo e nos movimentos de pisar do bebê" (p. 360). É interessante refletir sobre a relação entre os reflexos de engatinhar, pisar e nadar. ESTEREOTIPO S RÍTMICOS Há várias décadas os pesquisadores vêm d e monstrando interesse por muitas questões in trigantes relativas aos reflexos do bebê. Essas pesquisas têm importante implicações no diag nóstico de distúrbios do sistema nervoso central e no trabalho de fisioterapeutas e terapeutas ocupacionais com indivíduos que apresentam diversas condições patológicas. Além disso, o estudo da origem dos reflexos e da sua relação com os comportamentos voluntários posteriores tem forjado novas incursões na teoria do apren dizado e do modo como o ser humano se orga niza para o aprendizado de novas habilidades de movimento. CONCEITO 7.7 Os estereótipos rítmicos do bebê fornecem indícios de que o desenvolvimento motor humano é um sis tema auto-o rganizado, empenhado em aumentar o controle motor. 152 Gallahue, Ozmun & Goodway Figura 7.10 Reflexo primário de pisar. Apenas nas últimas duas décadas os pes quisadores foram além da catalogação e des crição de comportamentos reflexos do bebê e tentaram examinar os mecanismos subjacentes. Esther Thelen está entre os primeiros que ten taram responder às muitas questões levantadas pelos comportamentos estereotipados do bebê. Ela estudou os estereótipos rítmicos em b e bês humanos normais, a fim de classificar esses movimentos e explicar as suas ocorrências. (Os estereótipos são comportamentos rítmicos reali zados repetidas vezes de forma espontânea.) Em crianças e adultos, os estereótipos são conside rados indício de comportamento anormal, mas em bebês eles são normais. Thelen (1979,1981,1996) observou e catalo gou os estereotipados rítmicos de bebês normais de 4 semanas a 1 ano de idade. As suas observa ções revelaram 47 comportamentos estereotipa dos, que foram subdivididos em quatro grupos: (1) movimentos das pernas e dos pés; (2) m o vimentos do torso; (3) movimentos dos braços, das mãos e dos dedos; e (4) movimentos da cabeça e da face. De acordo com Thelen (1979), "esses comportamentos mostraram regularida- des desenvolvimentais, assim como constância de forma e distribuição". Os grupos de estereóti pos que envolvem partes ou posturas específicas do corpo apresentam idade de surgimento, pico de performance e declínio específicos" (p. 699). Os movimentos rítmicos de dados sistemas corporais tendem a aum entar pouco antes da aquisição do controle voluntário do sistema pelo bebê. Portanto, o nível maturacional do bebê parece controlar os estereótipos rítmicos. The len e colaboradores (Thelen et al., 1985; Thelen et al., 1987) defendem que a presença de com portamentos estereotipados em bebês humanos normais é indício de um programa motor central auto-organizado para o controle do desenvolvi mento motor do bebê. Pernas e pés Thelen (1979,1985) descobriu que os movimen tos rítmicos de chutar das pernas e dos pés eram observados mais cedo. A maioria dos chutes Compreendendo o Desenvolvimento Motor 153 rítmicos acontecia quando os bebês eram colo cados nas posições pronada ou supinada. A po sição supinada permitia aos bebês o maior grau de liberdade em relação à flexibilidade tanto nas articulações do quadril como do joelho. Quando chutavam nessa posição de costas, as pernas dos bebês ficavam levemente flexionadas nos qua dris, joelhos e tornozelos, com moderada rota ção externa dos quadris. A partir dessa posição, os bebês conseguiam chutar alternadam ente as pernas, em uma ação que lembrava o "peda lar". Na posição pronada, o chute alternado das pernas ficava mais restrito e acontecia apenas a partir da articulação do joelho. Thelen notou que os estereótipos das pernas e dos pés come çavam por volta da quarta semana após o nas cimento, mais cedo para os braços, e alcançava o pico de ocorrênica entre o vigésimo quarto e o trigésimo segundo mês de idade. Outras formas de chutar observadas foram o esfregar dos pés a partir de uma posição relatada e o chutar com uma única perna a partir das posições pronada e supinada. Torso Thelen (1979) também observou vários estereó tipos rítmicos do torso. O mais comum acon tecia a partir da posição pronada. O bebê ar- queava as costas, erguia os braços e as pernas, tirando-os da superfície de apoio e balança- vam-nos ritmicamente para trás e para a frente, na posição de um aeroplano. Outro estereótipo do torso observado com frequência ocorreu na posição pronada de engatinhar com as mãos e os joelhos. A partir dessa posição, o bebê m o vimentava o corpo para a frente, estendendo a perna na posição superior e mantendo estacio nária a que está na posição inferior. Os braços permanecem estendidos o tempo todo, mas se movem para a frente na hora do empurrão das pernas para trás. Outros estereótipos comuns do torso, po rém observados com m enor frequência, in cluem ações rítmicas a partir das posturas sen tada, ajoelhada e de pé. Na posição sentada, tanto com suporte como sem, o bebê balança ritmicamente o torso para a frente e para trás. Os estereótipos rítmicos a partir da posição ajoelhada incluem balançar para a frente e para trás, de um lado para o outro e para cima e para baixo. Os estereótipos de pé eram comuns e geralmente ocorriam a partir da posição com apoio. O bebê dobra os joelhos e executa um movimento de balançar rítmico para cima e para baixo. Os bebês também podem balançar de forma rítmica para a frente e para trás e de um lado para o outro. Braços, mãos e dedos Estereótipos rítmicos dos braços, das mãos e dos dedos foram observados em todos os bebês da amostra de Thelen. O acenar (ações sem um objeto) e o esmurrar (ações com um objeto ao alcance do bebê) foram observados com mais frequência. Ambos tinham o m esmo padrão motor e envolviam um movimento rítmico em uma ação vertical a partir do ombro. O esmur rar diferia do acenar só pelo fato de que o bebê fazia contato com a superfície na ação descen dente. O bater palmas rítmico à frente do corpo foi outro estereótipo comum, como no balanço dos braços. O estereótipo do balanço dos bra ços é evocado, entretanto, apenas quando o bebê está segurando um objeto e envolve uma ação iniciada no ombro, em direção à frente do corpo. Cab eça e face Os estereótipos rítmicos da cabeça e da face, de acordo com Thelen (1979), são muito menos fre qüentes. Eles envolvem ações como o balançar rítmico da cabeça de um lado a outro ("não") e para cima e para baixo ("sim"). O movimento rítmico de colocar a língua para fora e puxá-la de novo foi observado rotineiramente, junto com comportamentos de sucção sem nutrição. Dos 47 estereótipos rítmicos observados por Thelen, os movimentos das pernas e dos pés foram os mais comuns, tendo o seu início e pico entre 24 e 32 semanas de idade. Os este reótipos dos braços e das mãos tam bém eram comuns, mas o seu pico acontecia mais tarde, entre 34 e 42 semanas. Os estereótipos do tor so, embora comuns, são menos freqüentes do que os movimentos das pernas e dos pés e dos braços e das mãos. Além disso, os estereótipos do torso nas posições sentada, ajoelhada ou de pé tendem a apresentar o pico mais tarde do que os outros. 154 Gallahue, Ozmun & Goodway Resumo Reflexos primitivos, sob o controle das camadas cerebrais subcorticais, são observados nofeto a partir, mais ou menos, da décima oitava semana de gestação. Em geral, os reflexos têm a dupla função de ajudar o recém-nascido a garantir nutrição e prote ção. Muitos dos movimentos representam métodos iniciais de aquisição de informações sobre o ambiente do bebê. No feto normal, à medida que o desenvolvimento neurológico progride, e mais tarde no neonato normal, os reflexos aparecem e desaparecem de acordo com um cronograma bastante padronizado, porém infor mal. A presença de um reflexo primitivo ou postural é indício do controle subcortical sobre algumas funções neuromusculares. Embora o controle cortical logo pas se a dominar, a função do subcórtex nunca é comple tamente inibida. Ao longo de toda a vida, ele mantém o controle sobre atividades como tossir, espirrar e bo cejar, assim como sobre os processos de sobrevivência involuntários. O córtex media o comportamento mais intencional, enquanto o comportamento subcortical é limitado e estereotipado. Embora ainda não seja possível determinar se existe relação direta entre o comportamento reflexo e o movimento voluntário posterior, é seguro afirmar que há, pelo menos, uma ligação indireta. Essa ligação pode estar associada com a capacidade do córtex em desenvolvimento de armazenar informações recebidas dos órgãos sensoriais finais relativas à performance do movimento involuntário. Ou então isso pode ocorrer devido ao aumento da força na parte do corpo exerci tada de forma involuntária (de modo reflexo). Q U E S T Õ E S P A RA R E F L E X Ã O 1. Quais são os principais reflexos primitivos e pos turais do recém-nascido? 2. Qual é o objetivo do médico ao testar as respos tas reflexas do recém-nascido? 3. Em que diferem os estágios de codificação e de decodificação de informações da fase reflexa do desenvolvimento motor? 4. O que são os estereótipos rítmicos e por que eles são considerados importantes no desenvolvi mento motor dos bebês? 5. Os reflexos do bebê estão relacionados com os comportamentos voluntários posteriores obser vados na fase de movimento rudimentar do de senvolvimento motor e depois dela? L e i t u r a básica Sherrill, C. (2004). Adapted Physical Activity, Recreation and Sport: Crossdisciplinary and Lifespan, 6th ed. (Chapter 10). St. Louis: McGraw-Hill. Snow, C. W., & McGaha, C. G. (2003). Infant Development, 3rd ed. (Chapter 6). Upper Saddle River, N j; Prentice Hall. Thelen, E. (1996). Normal infant stereotypies: A dynamic systems approach. In R. L. Sprague & K. M. Newell (Eds.) Stereotyped Movements: Brain and RECURSOS NA WEB w w w . a p t a . o r g Homepage da American Physical Therapy Association. A APTA é uma organização profissional cujo objetivo consiste em estimular avanços na prática, na pesquisa e no ensino da fisioterapia. O site fomece notícias, questões governamentais, publicações de grupos de membros e um centro de emprego/carreira. Behavior Relationships. (pp. 139-165).Washington DC: American Psychological Association. Thelen, E. (1986).Treadmill-elicited steppingin seven-month-old infants. Child Droelopment, 57, 1498-1506. Ulrich, B. D., Ulrich, D. A., Angulo-Barroso, R., & Yun, J. K. (2001).Treadmill training in infants with Down syndrome: Evidence-based developmental outeomes. Pediatrics, 108, e84. w w w . i s i s w e b . o r g Homepage da International Societv on Infant Studies. A ISIS é uma organização"devotada à promoção e disseminação de pesquisas sobre o desenvolvimento de bebês". O site contém uma descrição da sociedade, notícias recentes e boletins. Compreendendo o Desenvolvimento Motor 157 O domínio das capacidades de movimen to rudi mentar do bebê é reflexo do aumen to do controle motor e da competência de movimento, estimulado por fatores da tarefa e do ambiente, assim como do indivíduo. Todos nós somos produtos de estruturas genéticas específicas e do total de experiências que acumulamos desde a concepção. Desse modo, a criança não é um a folha em branco, pronta para ser preenchida de acordo com nossos caprichos ou com um padrão pre- definido. Pesquisas têm deixado bem claro que os bebês são capazes de processar muito mais informações do que suspeitávamos. Eles pen sam e usam o movimento como um modo pro positado, embora inicialmente impreciso, de adquirir informações sobre os seus ambientes. Cada criança é um indivíduo, e nenhum indi víduo responde exatamente igual a outro. A base hereditária e a experiência da criança, as sim como as dem andas específicas das tarefas de movimento, têm um efeito profundo sobre a taxa de aquisição das capacidades de movimen to rudimentar do bebê. No estudo do desenvolvimento motor, é im portante começar com as experiências iniciais de movimento do bebê, para então chegar a uma melhor compreensão do desenvolvimento que acontece antes do ingresso da criança na escola e para aprender mais sobre o conceito desen volvimental de como os humanos aprendem a movimentar-se. Adquirir controle sobre a musculatura, aprender a lidar com a força da gravidade e movimentar-se de modo controlado no espa ço são as principais tarefas desenvolvimentais enfrentadas pelo bebê. No período neonatal, o movimento é mal definido e mal controlado. Aos poucos, os reflexos são inibidos e tem início o estágio de inibição dos reflexos (ver Fig. 3.1). Esse período estende-se pela maior parte do pri meiro ano de vida do bebê. De modo gradual, ele passa ao movimento rudimentar controlado, que representa uma conquista monumental na direção da supressão dos reflexos e da integra ção dos sistemas sensório e motor no movimen to propositadamente controlado. Q uando os reflexos primitivos e posturais da fase anterior começam a enfraquecer, os centros cerebrais superiores assumem o contro le de muitas das funções dos músculos esquelé ticos dos centros cerebrais inferiores. O estágio de inibição dos reflexos começa, essencialmen te, no nascimento. A partir desse momento, o recém -nascido recebe m uitas estimulações visuais, sonoras, olfativas, táteis e cinestésicas. A tarefa consiste em ordenar essa. estim ula ção sensória. As respostas reflexas iniciais são inibidas ao longo do primeiro ano de vida, até por volta do primeiro aniversário, quando o bebê apresenta notável progresso no sentido de mostrar uma aparência de controle do seu movimento. O período que vai do décimo segundo até o décimo oitavo a vigésimo quarto mês repre senta um tempo para a prática e o domínio de muitas tarefas rudimentares iniciadas durante o primeiro ano. O bebê começa a exercer controle sobre os movimentos durante esse período pré- -controle. O estág io de pré-controle estende- -se mais ou menos entre o primeiro e o segundo aniversário. Durante esse estágio, o bebê começa a adquirir maior controle e precisão nos movi mentos. A diferenciação e a integração dos pro cessos sensório e motor torna-se altamente de senvolvida, e os limitadores de taxa do período inicial do bebê ficam menos acentuados. Quando faz tentativas grosseiras, mas pro positadas, de realização de uma série de tarefas de movimento, o bebê deve ser estimulado. Um ambiente que forneça estimulação suficiente, com abundantes oportunidades de prática e incentivo positivo, pode se mostrar benéfico à aceleração do desenvolvimento das tarefas rudi mentares de estabilidade, locomoção e manipu lação. Entretanto, devemos perguntar: quais são os benefícios da aquisição precoce de habilida des motoras? A resposta é clara, sendo possível defender com fundamento o estímulo da aquisi ção precoce de habilidades motoras por parte de bebês de desenvolvimento normal (Nash, 1997), assim como em bebês com deficiências desen volvimentais (Greenspan, 1997). 158 Gallahue, Ozmun & Goodway ESTUDO DO DESENVOLVIMENTO M OTOR O estudo das capacidades de movimento rudi mentar do bebê foi impulsionado nas décadas de 1930 e 1940, quando foram acumuladas vá rias informações de observações feitas por psicólogos desenvolvimentais. Muitos desses estudos tomaram-se clássicos e têm sobrevivido aos tes tes do tempo em razão de seus controles cuida dosos e da sua eficácia. Os trabalhos de H. M. Halverson, Mary Shirley, Nancy Bayley e Arnold Gesell são particularmente dignos de nota. O trabalho de H. M. Halverson (1937) pro vavelmente é o mais abrangente na seqüência de emergência do comportamento voluntário de pegada do bebê. Com base na análise de fil mes de bebês da décima sexta à quinquagésima segunda semana de idade, ele descreveu três estágios distintos de abordagem de um cubo e o desenvolvimento do uso da oposição dedos- -polegar no comportamento de pegar. O estudo pioneiro de Mary Shirley (1931) com 25 bebês, desde o nascimento até os 2 anos, permitiu que ela descrevesse a progressão se qüencial do desenvolvimento de atividades que levam à postura ereta e ao andar. Ela observou que "cada estágio separado era um passo fun damental no desenvolvimento e que cada bebê avançava de um estágio a outro na mesma or dem" (p. 98). A pesquisadora notou também que, embora houvesse uma seqüência fixa, diferenças individuais eram expressas em variações no rit mo de desenvolvimento entre os bebês. Nancy Bayley (1935) realizou um estudo ex tensivo similar ao de Shirley. Em resultado da observação de bebês, ela foi capaz de descrever uma série de capacidades locomotoras emer gentes, que progrediam do engatinhar reflexo até o andar descendo um lance de escadas, em um padrão de pé alternado. Com base nessas informações, Bayley desenvolveu uma escala cumulativa de desenvolvimento motor infantil, que tem sido am plamente usada como ferra menta de diagnóstico para determinar o estado desenvolvimental do bebê. Arnold Gesell (1945) realizou estudos ex tensivos sobre o desenvolvimento motor infan til. Ele via a postura (i.e., a estabilidade) como a base de todas as formas de movimento. Por tanto, de acordo com o autor, qualquer forma de locomoção ou manipulação do bebê é uma série estreitamente relacionada de ajustes pos turais seqüenciais. A seqüência do desenvol vimento m otor é predeterm inada por fatores biológicos inatos, que cruzam todas as frontei ras sociais, culturais, étnicas e raciais. Essa base comum do desenvolvimento motor durante os primeiros anos de vida tem levado muitos es pecialistas a sugerir que alguns movimentos voluntários (em especial, os movimentos loco- motores) são filogenéticos (Eckert, 1973) e que, por terem base maturacional, não estão sob controle desenvolvimental voluntário (Helle- brandt et al., 1961). Essa visão com frequência tem levado à suposição errônea de que os bebês e, em particular as crianças mais novas, adqui rem capacidades de movimento mais ou menos na mesma idade cronológica apenas pela ação da maturação neural e com pouca dependência da experiência. CON CEITO 8.1 A seqüência do desenvolvimento motor infantil é previsível, mas o ritmo varia. Embora a seqüência de aquisição das habi lidades geralmente seja invariável no período do bebê e no começo da infância, o ritmo de aquisição difere de acordo com a criança. Isso faz surgir a hipótese de que o desenvolvimento motor inicial não é apenas função da maturação neurológica, mas também de um sistema auto- -organizado, que envolve as exigências da tarefa de movimento, as condições do ambiente ime diato e a biologia do indivíduo. Assim como na fase reflexiva, a maturação neural é apenas um de uma série de fatores que influenciam o rit mo desenvolvimental das capacidades de movi mento rudimentar das crianças. De acordo com o Modelo da Ampulheta Triangulada para o de senvolvimento motor, apresentada no Capítulo 3, é hora de enxergar além da maturação neu ral e de não considerá-la como o único meio de explicação do desenvolvimento motor do bebê. Agora os pesquisadores estão olhando mais atentamente os processos transacionais corpo- rificados na tarefa, no indivíduo e no ambiente, usando uma perspectiva de restrições (Alexan- der et al., 1993; Getchell e Gagen, 2006; Newell, 1992; Thelen, 1998; Thelen et al., 1987). Compreendendo o Desenvolvimento Motor 159 A partir do momento do nascimento, o bebê encontra-se em luta constante para conseguir dominar o ambiente para sobreviver. Nos es tágios iniciais do desenvolvimento, a interação primária com o ambiente acontece por meio do movimento. O bebê tem de começar a dominar as três categorias primárias de movimento n e cessárias à sobrevivência e à interação efetiva e eficiente com o mundo. Em primeiro lugar, o bebê tem de estabelecer e manter a relação en tre o corpo e a força da gravidade para alcan çar uma postura ereta quando sentado e de pé (estab i lidade). Em segundo lugar, a criança tem de desenvolver capacidades básicas para se movimentar pelo ambiente (locomoção). Em terceiro, o bebê tem de desenvolver capacidades rudimentares de alcançar, pegar e soltar para fazer contato significativo com objetos (mani p u lação). Conceito 8 .2 As variações na taxa do desenvolvimento motor do bebê apoiam a proposição de que o desenvolvi mento é um processo dinâmico, dentro de um siste ma auto-organizado. As capacidades de movimento rudim en tar do bebê são o alicerce do desenvolvimento mais extensivo das habilidades de movimento fundamental no início da infância e das habili dades de movimento especializado além do fi nal da infância. Essas capacidades chamadas de movimento rudimentar são tarefas altamente envolventes para o bebê. A importância do seu desenvolvimento não pode ser desprezada nem minimizada. Surge a seguinte questão: existem restrições identificáveis que incrementam ou limitam o desenvolvimento das capacidades de movimento rudimentar? A resposta é que tanto as affordances, como os limitadores da taxa en contrados na biologia do indivíduo, como as exi gências da tarefa de movimento e as condições do ambiente do aprendizado causam impacto no desenvolvimento do bebê. Embora a biologia desempenhe um papel poderoso nessa fase, as capacidades de movimento rudimentar não são geneticamente determinadas a ponto de não serem suscetíveis a modificações. O enrique cimento inicial realmente parece influenciar o desenvolvimento posterior, mas são necessárias mais informações sobre seu tipo, sua época, seu grau e sua duração. ESTABILIDADE O bebê está em luta constante contra a força da gravidade para alcançar e manter a postura ere ta. Estabelecer controle sobre a musculatura, em oposição à gravidade, é um processo que per corre uma seqüência previsível em todos os be bês. Os eventos que levam à postura de pé ereta começam com a aquisição de controle sobre a cabeça e o pescoço e prosseguem em um movi mento descendente, na direção do tronco e das pernas. A operação do princípio de desenvol vimento cefalocaudal geralmente fica aparente quando o bebê progride, de modo seqüencial, da posição deitado à posição sentado e, finalmente, à posição de pé ereto. A Tabela 8.1 fornece um resumo da seqüência de desenvolvimento e da idade aproximada de surgimento de determina das capacidades de estabilidade rudimentar. Conceito 8 .3 A estabilidade é a mais básica das três categorias de movimento, pois todo movimento voluntário envol ve um elemento de estabilidade. Controle da cabeça e do pescoço Ao nascer, o bebê tem pouco controle sobre os músculos da cabeça e do pescoço. Se ele for mantido com o tronco ereto, a cabeça cairá para a frente. Em torno do final do primeiro mês, o bebê adquire controle sobre esses músculos e torna-se capaz de manter a cabeça ereta quando sustentado na base do pescoço. No final do pri meiro mês, ele já deve ser capaz de elevar o quei xo, tirando-o do travesseiro, quando deitado na posição pronada. Em torno do quinto mês, deve ser capaz de levantar a cabeça do travesseiro, no berço, quando deitado na posição supina. Controle do tronco Depois que os bebês adquirem domínio dos músculos da cabeça e dopescoço, começam a conquistar o controle dos músculos das regiões torácica e lom bar do tronco. O desenvolvi m ento do controle do tronco começa em tor no do segundo mês. Ele pode ser visto quando 160 Gallahue, Ozmun & Goodway Tabela 8.1 Seqüência desenvolvimental e idade aproximada de surgimento de capacidades de estabilidade rudimentar Tarefas de estabilidade Capacidades específicas Idade de surgimento aproximada Controle da cabeça V ira para um lado Nascimento e do pescoço Vira para ambos os lados 1 semana Mantém com apoio Primeiro mês Tira o queixo da superfície de contato Segundo mês Controla bem a posição pronada Terceiro mês Controla bem a posição supinada Quinto mês Controle do tronco Levanta a cabeça e o peito Segundo mês Tenta mudar da posição supinada para a pronada Terceiro mês Consegue rolar da posição supinada para a pronada Sexto mês Rola da posição pronada para a supinada Oitavo mês Sentado Senta com apoio Terceiro mês Senta com autoapoio Sexto mês Senta sozinho Oitavo mês Fica de pé com apoio Sexto mês De pé Sustenta-se com apoio das mãos Décimo mês Empurra na posição de pé com apoio Décimo primeiro mês Fica de pé sozinho Décimo segundo mês o bebê é segurado pela cintura e se observa a capacidade de fazer ajustes posturais necessá rios à manutenção da posição ereta. No final do segundo mês, o bebê deve ser capaz de elevar o peito do chão, quando colocado na posição pronada. Depois que começa a elevar o peito, o bebê inicia o movimento de levar os joelhos para cima, na direção do peito, e depois de em purrá- -los subitamente, como se estivesse nadando. Isso costuma ocorrer em torno do sexto mês. Outra indicação do crescente controle sobre os músculos do tronco é a capacidade de virar da posição supinada para a pronada. Em geral, isso é feito em torno do sexto mês e é alcança do com facilidade pela flexão dos quadris e pelo alongamento das pernas, em um ângulo reto em relação ao tronco. O domínio no rolar da posição pronada para a supinada costuma acontecer um pouco mais tarde. Sentado Sentar-se sozinho é uma conquista que exige controle completo sobre todo o tronco. O bebê de 4 meses geralmente é capaz de se sentar com apoio na região lombar. Ele tem controle sobre a parte superior do tronco, mas não sobre a in ferior. Um mês ou dois depois, o bebê adquire controle, gradualmente, sobre a parte inferior do tronco. Os primeiros esforços de sentar sozi nho são caracterizados por uma inclinação exa gerada para a frente, a fim de conseguir maior apoio para a região lombar. De modo gradual, desenvolve-se a capacidade de sentar ereto com quantidade limitada de apoio. Em torno do sé timo mês, o bebê em geral é capaz de sentar sozinho, completamente sem apoio. Nesse m o mento crítico, ele já possui controle sobre a parte inferior do corpo (Fig. 8.1). Ao mesmo tempo que está aprendendo a sentar sozinho, o bebê já desenvolve o controle dos braços e das mãos - exemplo complem entar do funcionamento dos princípios cefalocaudal e proximodistal de desenvolvimento descritos anteriormente, neste capítulo. De pé A adoção da posição de pé ereta pelo bebê re presenta um marco desenvolvimental na busca pela estabilidade. É uma indicação de que foi conquistado o controle muscular a tal ponto que a força da gravidade já não pode mais aplicar aquelas restrições ao movimento. Agora o bebê está prestes a locomover-se de pé (andando), Compreendendo o Desenvolvimento Motor 161 Figura 8.1 Três es tágios da conquista do sentar independente: (a) terceiro mês, (b) sexto mês e (c) oitavo mês. ' um feito anunciado solenemente por pais e pe diatras como a tarefa mais espetacular do desen volvimento motor. As primeiras tentativas voluntárias de ficar de pé ocorrem em torno do quinto mês. Q uan do alguém segura o bebê pelas axilas e coloca os seus pezinhos em uma superfície de apoio, ele estende o quadril voluntariamente, estica e tensiona os músculos das pernas e mantém a posição de pé com considerável apoio externo. Em torno do nono ou décimo mês, os bebês são capazes de ficar de pé ao lado dos móveis e sus tentar o próprio peso por um tempo considerá vel. Aos poucos, o bebê começa a apoiar-se com menos força no objeto de sustentação e, com frequência, pode ser visto testando o equilíbrio, sem nenhum apoio por um breve instante. En tre o décimo primeiro e o décimo segundo mês, aprende a empurrar o próprio corpo para ficar de pé, primeiro se colocando de joelhos, depois empurrando as pernas enquanto os braços es tendidos forçam para cima. Ficar de pé sozinho por períodos longos costuma acontecer quando os bebês começam a andar de forma indepen dente e, em muitos deles, não aparece separa damente. O surgimento da postura de pé ereta normalmente ocorre entre o décimo primeiro e o décimo terceiro mês (Fig. 8.2). Nesse ponto, o bebê adquire considerável controle sobre a m us culatura e pode realizar a difícil tarefa de levan- tar-se a partir da posição deitada, ficando de pé completamente sem ajuda. De uma perspectiva desenvolvimental, é im portante perceber que os padrões de movimento demonstrados por bebês e crianças de 1 a 3 anos para sair da posição supinada e ficar em pé m u Figura 8.2 Três estágios da conquista da posição de pé: (a) sexto mês, (b) décimo mês e (c) décimo segundo mês. 162 Gal lahue, Ozmun & Goodway dam à medida que a criança cresce (Marsala e VanSant, 1998). LOCOMOÇÃO O movimento do bebê no espaço depende das capacidades emergentes de lidar com a força da gravidade. A locomoção não se desenvolve in dependentem ente da estabilidade; a primeira baseia-se muito na segunda. O bebê apenas será capaz de movimentar-se livremente quando ti ver mestria nas tarefas desenvolvimentais rudi mentares da estabilidade. A seguir abordamos as formas mais freqüentes de locomoção em que o bebê se envolve enquanto aprende a lidar com a força de gravidade. Essas formas de locomoção também estão resumidas na Tabela 8.2. Conceito 8 .4 O desenvolvimento de capacidades locomotoras ru dimentares fornece ao bebê recursos para explorar um mundo em rápida expansão. Rastejar Os movimentos de rastejamento do bebê são as primeiras tentativas de locomoção propositada. O rastejar evolui à medida que o bebê adqui re controle dos músculos da cabeça, do pescoço e do tronco. Na posição pronada e usando um padrão homolateral, o bebê pode alcançar um objeto à sua frente, tirando a cabeça e o peito do chão. Ao voltar, os braços estendidos a em purram de volta na direção dos pés. O resultado desse esforço combinado é um leve movimento de deslizamento para a frente (Fig. 8.3). As per nas em geral não são usadas nessas primeiras tentativas de rastejar. O rastejar aparece nos be bês em torno do sexto mês, mas podem surgir bem antes, lá pelo quarto mês. Engatinhar O engat i nhar evolui a partir do rastejar e, m ui tas vezes, chega a uma forma bastante eficiente de locomoção para o bebê. O engatinhar difere do rastejar pelo fato de que pernas e braços são usados em oposição. As primeiras tentativas do bebê de engatinhar são caracterizadas por m o vimentos deliberados de um membro de cada vez. Quando a proficiência do bebê aumenta, os movimentos tornam -se sincrônicos e mais rá pidos. Os engatinhadores mais eficientes usam um padrão contralateral (braço direito e per na esquerda). Certos indícios sugerem que os bebês que pularam o rastejar e passaram dire tamente ao engatinhar eram menos eficientes nos movimentos de engatinhar do que aqueles que haviam experimentado primeiro o rastejar (Adolph,Vereijken e Denny, 1998).Ver na Figura 8.4 a representação visual do engatinhar contra lateral. Marcha ereta A aquisição da marcha ou do andar na posição ereta depende da estabilidade do bebê. Em pri meiro lugar, o bebê precisa ser capaz de contro lar o corpo na posição de pé, antes de manejar as mudanças posturais dinâmicas necessárias à I Seqüência desenvolvimental e idade aproximadado surgimento de capacidades locomotoras rudimentares Tarefas de locomoção Capacidades específicas Idade de surgimento aproximada Movimentos horizontais Marcha ereta Rastejar sentado Rastejar Engatinhar Andar de quatro Andar com apoio Andar com alguém segurando as mãos Andar com a condução de alguém Andar sozinho (mãos para cima) Andar sozinho (mãos para baixo) Terceiro mês Sexto mês Nono mês Décimo primeiro mês Sexto mês Décimo mês Décimo primeiro mês Décimo segundo mês Décimo terceiro mês Compreendendo o Desenvolvimento Motor 163 Figura 8.3 Rastejar. Figura 8.4 Engatinhar. locomoção na posição ereta. As primeiras ten tativas de andar com independência costumam acontecer em algum momento entre o décimo e o décimo quinto mês e são caracterizadas por uma base de apoio, pés virados para fora e joe lhos levemente flexionados. Esses primeiros m o vimentos de andar não são sincrônicos e fluidos. São irregulares, hesitantes e desacompanhados de movimentos recíprocos dos braços. Foi de monstrado que, enquanto aprendem a andar, os bebês exibem padrões de cocontração em vários grupos musculares da parte inferior do corpo. Os grupos musculares agonistas e antagonis tas são ativados ao mesmo tempo, na tentativa de manter a estabilidade do corpo (Okamoto e Okamoto, 2001). Enquanto a maturação do sistema nervoso central é extremamente importante para o ad vento do andar, outros fatores orientados para o indivíduo, como as qualidades elásticas dos músculos, as propriedades anatômicas de ossos e articulações e a energia transmitida aos m em bros que se movem, servem de sistemas inte rativos críticos (Thelen, 1992). Fatores ambien tais adicionais, como o estímulo e a assistência dos pais e a disponibilidade de móveis para se apoiar, podem contribuir para o mom ento de surgimento do andar independente. Shirley (1931) identificou quatro estágios pelos quais passa o bebê enquanto aprende a andar sem ajuda:"(a) um periodo inicial de pi sar, em que se faz um leve progresso (3 a 6 me- 164 Gallahue, Ozmun & Goodway DlLEMA DO DESENVOLVIMENTO O engatinhar facil ita a organização ne uroló gica. Ou a promove? Tem havido considerável questionamento sobre a importância do engatinhar no desenvolvimento motor da criança e sobre o método "adequado" de engatinhar. O princípio da organização neurológica, com frequência chamado de padrão neurológico, creditou grande importância às técnicas adequadas de engatinhar e rastejar como um estágio necessário à aquisição da dominância hemisférica cortical. De acordo com o princípio da dominância, é ne cessário um lado do córtex para a organização neu rológica apropriada. Uma organ ização problemática, supõe-se, causa problemas motores, perceptivos e de linguagem na criança e no adulto. Durante anos, neurologistas, pediatras e pes quisadores da área do desenvolvimento infantil atacaram vigorosamente essa hipótese. Porém, ela continua a surgir como tópico de discussão em rela ção aos programas de estimulação do bebê, embora em 1982 e de novo em 1999 a American Acade my of Pediatrics tenha declarado que os programas de tratamento de padrão neurológico não têm ne nhum mérito especial e que as afirmações de seus proponentes continuam sem provas. Na verdade, a academia é enfática ao condenar os tratamentos de padrão neurológico, dizendo: "Esse tratamento baseia-se em uma teoria de desenvolvimento do cé rebro antiquada e extremamente simplificada". In fo rmações atuais não sustentam as afirmações dos proponentes de que esse tratamento é eficaz, e o seu uso continua sem garantias. O desenvolvimento do cérebro é complexo, e o desenvolvimento motor inicial, durante o período do bebê, desempenha papel importante, mas ain da indeterminado. Os dados atuais, entretanto, não sustentam as afirmações feitas pelos adeptos da teoria da dominância hemisférica e pelos advogados da padronização, que insistem em que o engatinhar "apropriado" é necessário à organização apropriada do cérebro. ses); (b) um período de ficar de pé com ajuda (6 a 10 meses); (c) um período de andar conduzido por alguém (9 a 12 meses); (d) um período de andar sozinho (12 a 15 meses)" (p. 18). À pro porção que o bebê passa por cada um desses estágios e progride em direção a um padrão de andar maduro, ocorrem várias mudanças. Em primeiro lugar, a velocidade do andar acelera-se e o tamanho do passo aumenta. Em segundo, a largura do passo aum enta até que se estabe leça o andar independente e depois decresce um pouco. Em terceiro lugar, a eversão do pé diminui de modo gradual, até que os pés fiquem bem apontados para a frente. Em quarto lugar, a marcha com andar ereto aos poucos se suaviza, 0 comprimento do passo torna-se regular, e os movimentos do corpo, sincrônicos. Logo depois de alcançar o andar independente, a criança de 1 a 3 anos vai experimentar o andar para os la dos, para trás (Eckert, 1973) e na ponta dos pés (Bayley, 1935). MANIPULAÇÃO Como acontece com a estabilidade e a locomo ção, as capacidades manipulativas do bebê evo luem ao longo de uma série de estágios. Nesta seção, apenas os aspectos básicos da m anipu lação - alcançar, pegar e soltar - serão consi derados. Como nas seções sobre estabilidade e loco moção, aqui as capacidades de manipulação do bebê podem ser suscetíveis a surgimento preco ce, embora o processo seja bastante influenciado pela maturação. Quando está pronta em termos de maturação, a criança beneficia-se de opor tunidades iniciais para praticar e aperfeiçoar as capacidades de manipulação rudimentar. A seguir, estão os três passos gerais em que se envolve o bebê durante a aquisição das ca pacidades de manipulação rudimentar. A Tabela 8.3 fom ece um resumo da seqüência desenvolvi mental e a idade aproximada de surgimento das capacidades de manipulação rudimentar. A emergência das capacidades de manipulação ru dimentar possibilita ao bebê em desenvolvimento o primeiro contato com objetos no ambiente imediato. Alcançar Durante os quatro primeiros meses, o bebê não faz movimentos de alcançar em relação a ob Compreendendo o Desenvolvimento Motor 165 Seqüência desenvolvimental e idade aproximada de surgimento de capacidades manipulativas rudimentares Tarefas de man ipulação Capacidades específicas Idade de surgimento aproximada Alcançar Alcançar globular não efetivo Primeiro ao terceiro mês Alcançar com captura definida Quarto mês Alcançar controlado Sexto mês Preensão Preensão reflexa Nascimento Preensão voluntária Terceiro mês Preensão palmar com as duas mãos Terceiro mês Preensão palmar com uma das mãos Quinto mês Preensão de pinça Nono mês Preensão controlada Décimo quarto mês Comer sem assistência Décimo oitavo mês Soltar Soltar básico Décimo segundo ao décimo quarto mês Soltar controlado Décimo oitavo mês Tabela 8.3 jetos, embora possa fixar neles a sua atenção e fazer movimentos generalizados de abarcamen- to globular em sua direção. Em tom o do quarto mês, ele começa a fazer ajustes finos dos olhos e das mãos, necessários ao contato com o obje to. Com frequência, é possível observar o bebê alternando o olhar entre o objeto e a mão. Os movimentos são lentos e estranhos e envolvem, principalmente, o ombro e o cotovelo. Mais tarde o punho e a mão envolvem-se de forma mais direta. No final do quinto mês, o objetivo da criança é quase perfeito e ela já é capaz de alcançar objetos no ambiente e de fazer contato tátil com eles. Essa conquista é necessária antes que a criança possa, enfim, segurá-lo e prendê- -lo na mão. Foi demonstrado que alguns fatores, incluindo a velocidade do movimento (Thelen, Corbetta e Spencer, 1996) e a posição ou postura do corpo da criança no momento do movimento (p. ex., supino, sentado, de pé, andando) (Cor betta e Bojczyk, 2001; Rochat, 1992; Savelsber- gh e van der Kamp, 1994), afetam a precisão do bebê em alcançar objetos. Preensão O recém-nascido pega objetos que são colocados na palma de sua mão. Essa ação, no en tan to, é inteiramente reflexa até mais ou menos o quarto mês. A pegada voluntária terá de espe rar até que o mecanismo sensório-motor esteja desenvolvido a ponto de permitir a preensão e o contato significativo. Halverson (1937) iden tificou vários estágios no desenvolvimento da preensão. No primeiro estágio, o bebê de 4 meses não faz qualquer esforço voluntário real para entrar em contato tátil com o objeto. No segundo estágio, o bebê de 5 meses é capaz de alcançar o objeto e entrar em contato com ele. A criança é capaz de pegar o objeto com a mão inteira, mas sem firmeza. No terceiro estágio, os seus movim entos são gradualm ente refi nados, de m odo que em torno do sétimo mês a palma da mão e os dedos são coordenados. Ainda não há a capacidade de usar de modo efetivo o polegar e os dedos. No quarto está gio, em torno do nono mês, a criança começa a usar o indicador para pegar objetos. Aos 10 meses, alcançar e pegar são coordenados em um único movimento contínuo. No quinto es tágio, o uso eficiente do polegar e do indicador acontece por volta do décimo segundo mês. No sexto estágio, quando a criança tem 14 m e ses, as capacidades de preensão são muito se m elhantes às dos adultos. Os fatores am bien tais que parecem influenciar a qualidade do movimento de preensão incluem o tam anho, o peso, a textura e a forma do objeto que será segurado (Case-Smith, Bigsby e Clutter, 1998; Siddiqui, 1995). A progressão desenvolvimental de alcançar e pegar é complexa. Landreth (1958) declarou que as coordenadas de seis com ponentes p a recem estar envolvidas no desenvolvimento da preensão. Eckert (1987) resumiu com clareza esses seis atos desenvolvimentais na seguinte declaração: 166 Gallahue, Ozmun & Goodway Esses atos envolvem transições e incluem passar: (1) da localização visual do objeto à tentativa de alcançá-lo; (2) da coordenação simples olho-mão à independência progres siva do esforço visual, com a expressão final em atividades como tocar piano e digitar; (3) do envolvimento inicial da musculatura do corpo ao envolvimento mínimo e à maior economia do esforço; (4) da atividade pro- ximal dos mú sculos grandes dos braços e ombros à atividade muscular distai fina dos dedos; (5) dos movimentos de ajuntamento iniciais brutos na manipulação de objetos com as mãos à posterior precisão do tipo pin ça no controle com o indicador e o polegar em oposição; (6) do alcançar e manipular bi lateral inicial ao uso posterior da mão prefe rida. (p. 122-123) Soltar O frenético balançar do chocalho é um sinal fa miliar quando se observa um bebê de 6 meses brincando. Essa é uma atividade de aprendizado, normalmente acompanhada de muito riso, mur múrio e evidente satisfação. Entretanto, alguns minutos depois, podemos observar esse mesmo bebê sacudindo o chocalho com óbvia frustração e aparente raiva. A razão dessa mudança abrupta de humor pode ser o fato de que, aos 6 meses de idade, o bebê ainda não domina a arte de soltar o objeto. A criança consegue alcançar o choca lho, segurar na sua alça, mas não tem maturida de para comandar os músculos flexores dos de dos, fazendo com que eles relaxem a pegada no momento desejado. Aprender a encher um pote com pedras, fazer uma torre de tijolinhos, lan çar uma bola e virar as páginas de um livro são exemplos aparentemente simples das tentativas de uma criança de aprender a soltar, mas, quan do comparadas com as tentativas anteriores de alcançar e pegar, consistem realmente em avan ços notáveis. Em torno dos 14 meses, a criança já domina os elementos rudimentares de soltar os objetos depois de tê-los segurado. A criança de 18 meses tem um controle bem coordenado de todos os aspectos do alcançar, pegar e soltar (Halverson, 1937). A medida que o domínio do bebê nas capa cidades rudimentares de manipulação (alcançar, pegar e soltar) se desenvolve, as razões para segurar objetos são revisadas. Em vez de mani pular objetos simplesmente para tocar, sentir ou mordê-los, a criança começa a envolver-se no processo da manipulação de objetos para apren der mais a respeito do m undo em que vive. A manipulação de objetos é direcionada por per cepções apropriadas para alcançar objetivos sig nificativos (Fig. 8.5). O desenvolvimento de capacidades de m o vimento de locomoção, estabilidade e m anipu lação em bebê é influenciado tanto pela matura ção como pelo aprendizado. Essas duas facetas do desenvolvimento estão inter-relacionadas e é por meio dessa interação que o bebê desenvolve e refina as capacidades de movimento rudimen tar. Essas capacidades de movimento são as ba ses necessárias ao desenvolvimento dos padrões de movimento fundamental e das capacidades de movimento especializado. Figura 8.5 Capacidades rudimentares: (a) alcançar, (b) pegar e (c) soltar. Compreendendo o Desenvolvimento Motor 167 PROGRA MAS ESP ECIAIS PARA BEB ÊS Há anos pais, pediatras, terapeutas e educadores reconhecem a importância de fornecer aos be bês um ambiente rico e estimulante, em que ele possa crescer e desenvolver-se. Isso é particular mente evidente quando o bebê apresenta atraso desenvolvimental ou é uma criança de risco. Essa consciência levou, nos Estados Unidos, à aprova ção da Lei 99-457, em 1986, da sua reafirmação na Lei 108-446, em 2000, e finalmente, da IDEA, Individuais with Disabilities Education Act of 2004 (Houston-Wilson, 2011), que determina serviços de in tervenção precoce para bebês e crianças com deficiências. Uma das estipulações desse ato jurídico é a elaboração de um plano de serviço familiar individualizado (IFSP - Indivi- dualized Family Service Plan) por uma equipe multidisciplinar, a fim de fornecer a estrutura e avaliação da estratégia para facilitação do desen volvimento saudável e redução ou eliminação de potenciais atrasos desenvolvimentais. O êxito da implementação desse tipo de plano depende da intensidade e da qualidade do programa de in tervenção (Houston-Wilson, 2011). Além disso, deve ser desenvolvido o fundamento teórico em que serão baseadas as atividades de intervenção. Enriquecer as experiências de movimento é, com frequência, parte importante da IFSP de bebês em risco. Movimentar-se e interagir com o ambiente é um dos principais recursos dc de senvolvimento cognitivo do bebê. Uma estraté gia de intervenção precoce recente e singular, que surge no horizonte, é a facilitação do andar independente de bebês com atraso desenvolvi mental, usando um paradigma de treinamento na esteira. Com base em estudos teóricos de Esther Thelen (1985, 1986a), Beverly e Dale Ul rich têm seguido uma linha de pesquisa cujo resultado é um procedimento que pode facilitar o surgimento do andar independente em bebês com síndrome de Down (Ulrich et al., 2001; Ul rich e Ulrich, 1995; Ulrich, Ulrich e Collier, 1992; Ulrich, Ulrich, Collier e Cole, 1995). A técnica envolve a sustentação do bebê na posição ereta sobre uma pequena esteira motorizada (ver Fig. 8.6). Q uando a esteira começa a movimentar- -se, os bebês apresentam um padrão de passos alternados bem coordenados, embora não se jam capazes de andar de modo independente. Como resultado das sessões práticas de andar na esteira, os bebês com síndrome de Down ca minharam de modo independente meses antes dos seus colegas que não tinham essa prática. Essas descobertas podem ser resultantes de uma Figura 8.6 Esteira para bebês. 168 Gallahue, Ozmun & Goodway P e r s p e c t i v a s i n t e r n a c i o n a i s Enfaixar bebês: a volta de uma prática centenária Antes do século XVIII, o enfaixe de bebês, às vezes chamado de embrulho, com ou sem uma tábua de apoio, era uma prática aceita quase universalmente. O enfaixe ainda é uma prática comum em alguns países do Oriente Médio e da América do Sul e tem recuperado a popularidade nos Estados Unidos, Grã- -Bretanha e Países Baixos. A duração e o método de enfaixe variam muito
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