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02 - (aula 2, 3, 4) Pessoa Natural, Personalidade

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(aula 02)
Pessoa Natural:
Personalidade jurídica: é a aptidão genérica para ser titular de direitos e deveres.
Os animais (semoventes) têm personalidade jurídica? Não. Eles são tratados como coisa.
Pessoas têm personalidade jurídica, logo são consideradas sujeitos de direito. Coisas não tem personalidade jurídica, logo não são sujeitos de direito, são objetos de direito.
2.1. O início da personalidade:
Art. 2º, CC. A personalidade civil da pessoa começa do nascimento com vida; mas a lei põe a salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro.
A opção do legislador no art. 2º do CC foi pela teoria natalista.
2.1.1. Teoria natalista: defende que o início da personalidade jurídica ocorre a partir do nascimento com vida. Enquanto nascituro, o ser humano teria apenas uma expectativa de direitos (= Direitos sob condição suspensiva).
Concepção		Nascimento com vida
						
		Nascituro		Personalidade jurídica
Enquanto nascituro todos os direitos ficam reservados aguardando um evento futuro e incerto, ou seja, nascer com vida.
O problema da teoria natalista é que ela não faz distinção entre os direitos patrimoniais e os direitos da personalidade, negando o exercício e a aquisição destes durante a concepção.
2.1.2. Teoria da Personalidade Condicional: defende que o início da personalidade ocorre a partir da concepção. Contudo, o nascituro não adquire a personalidade jurídica em definitivo, devendo ser aguardado o momento do nascimento com vida (personalidade condicional).
Concepção		Nascimento com vida (condição)
						
	Personalidade jurídica		Confirmação da personalidade.
2.1.3. Teoria Concepcionista: 
a) Visão radical: defende que a partir da concepção o nascituro já adquire todo e qualquer tipo de direito (patrimonial ou da personalidade), não tendo qualquer importância o momento do nascimento com vida. O problema desta visão é o fato de não realizar distinção entre a natureza dos direitos.
Concepção		
						
	Personalidade jurídica definitiva.	
	b) Visão Moderada (MHD): defende que a partir da concepção o nascituro adquire PERSONALIDADE JURÍDICA FORMAL, titularizando direitos da personalidade (direitos adquiridos).
	Com o nascimento com vida a pessoa passa a ter PERSONALIDADE JURÍDICA MATERIAL, titularizando direitos patrimoniais. Quanto a estes, antes do nascimento, o nascituro teria apenas expectativa de direitos.
Concepção			Nascimento com vida (condição)
						
	Personalidade jurídica formal	 Personalidade jurídica material
 (direitos da personalidade) 	 (direitos patrimoniais)
	De acordo com a jurisprudência do STF, o momento da concepção é o da nidação (fixação do embrião no útero). É por esta razão que o Supremo permitiu a utilização da pílula do dia seguinte.
	Lei de Alimentos Gravídicos: a doutrina diverge sobre a teoria adotada pela lei 11.804/08, pois embora reconheça a proteção ao nascituro defere o direito a alimentos a mulher gestante.
Capacidade Civil: é o exercício da personalidade. É a medida de extensão da personalidade.
3.1. Capacidade de direito / gozo: é a aptidão para ser titular de direitos e deveres. Para alguns autores a capacidade de direito é sinônimo de personalidade jurídica (Pontes de Miranda).
Para outros, a capacidade de direito é o exercício mínimo da personalidade jurídica. Desta forma, assim como toda pessoa tem personalidade jurídica também tem capacidade de direito.
NÃO EXISTE INCAPACIDADE DE DIREITO.
3.2. Capacidade de fato / exercício / ação: é a aptidão para exercer pessoalmente os atos da vida civil. É o exercício máximo da personalidade jurídica.
NEM TODA PESSOA POSSUI CAPACIDADE DE FATO (INCAPAZES).
O requisito para a capacidade de fato é o discernimento. A maioridade civil (18 anos) é tão só uma presunção legal relativa de discernimento.
A prova em sentido contrário é feita através do procedimento de interdição.
Em que momento a pessoa completa a maioridade? No primeiro segundo do dia do aniversário.
Incapacidades:
4.1. Incapacidade Absoluta: a vontade do incapaz é desprezada pelo operador do direito, devendo o mesmo ser representado nos atos da vida civil sob pena de nulidade absoluta (nulo).
4.1.1. Rol dos absolutamente incapazes (art. 3º, CC).
Os surdos-mudos continuam sendo tratados como absolutamente incapazes? No CC/02 os surdos-mudos não são tratados como incapazes. Se o indivíduo é surdo, mudo e cego, fica mais difícil de ele manifestar a sua vontade, nesse caso poderia se considerar como absolutamente incapaz.
4.2. Incapacidade relativa: a vontade do incapaz importa para o direito, porém é insuficiente, devendo o mesmo ser assistido nos atos da vida civil sob pena de nulidade relativa (anulável).
4.2.1. Rol dos relativamente incapazes (art. 4º, CC).
	Discernimento pleno Capacidade.
	Discernimento reduzido Incapacidade relativa.
	Discernimento ausente Incapacidade absoluta.
	Os índios (silvícolas) continuam sendo tratados como incapazes? No CC/16 eram tratados como relativamente incapazes. No CC/02 o legislador remete a questão da capacidade dos índios à legislação especial (art. 4º, parágrafo único – Estatuto do Índio, Lei 6.001/73). 
No Estatuto do Índio deve ser observado se o índio está ou não integrado à comunhão nacional:
Índio integrado: é regulamentado pelo CC/02. É aquele que estuda, assiste TV, tem acesso à internet, como qualquer pessoa.
Índio não integrado: é tratado como incapaz, mas sua incapacidade é especial e possui regras distintas das presentes no CC/02. Deve ser assistido nos atos da vida civil, sob pena de nulidade absoluta.
(aula 03)
Interdição:
5.1. Conceito: é o procedimento judicial de jurisdição voluntária que tem por objetivo analisar o grau de discernimento de uma pessoa e declará-la absolutamente ou relativamente incapaz.
5.1.1. Quem pode ser interditado?
Maiores de 18 anos;
Menor entre 16 e 17 anos (relativamente incapaz, pode ser interditado para ser declarado absolutamente incapaz);
Menor de qualquer idade emancipado.
5.1.2. Procedimento: na interdição será realizada uma perícia que deverá apontar o grau de discernimento do interditando. Havendo discernimento reduzido ou ausência de discernimento será proferida sentença declarando a incapacidade e nomeando curador para representar ou assistir o interditado. 
É o juiz quem determina os poderes e deveres do curador.
5.2. Natureza jurídica da sentença:
1ª corrente: defende que a sentença tem natureza declaratória. Esta é a posição majoritária entre os autores de direito civil.
2ª corrente: defende que a sentença tem natureza constitutiva. Esta é a posição majoritária entre os autores de direito processual civil.
3ª corrente: natureza declaratória constitutiva.
5.2.1. Quais são os efeitos da sentença de interdição?
1ª corrente: defende que a sentença produz efeitos não retroativos. Do momento da sentença para o futuro (ex nunc). Posição majoritária.
2ª corrente: defende que a sentença pode ter eficácia retroativa (ex tunc). MHD, Jurisprudência.
A sentença de interdição é de jurisdição voluntária, não tem lide.
Obs.: os autores da primeira corrente entendem que embora a sentença de interdição tenha eficácia ex nunc, é possível a propositura de ação própria com o objetivo de anular ou declarar nulo ato pretérito praticado pelo incapaz antes da interdição (incapacidade natural).
Requisitos para conseguir declarar nulo ou anulado o ato pretérito:
Incapacidade manifesta na época do negócio;
Má-fé do outro contratante;
Prejuízo do incapaz.
E se o interditado praticou o ato em um intervalo de lucidez? A doutrina e a jurisprudência brasileira não aceitam a alegação de que o ato foi praticado em um intervalo de lucidez pelo interditado com o objetivo de evitar a anulação ou declaração de nulidade do ato. 
A proteção conferida pela interdição é ininterrupta no tempo. Caso a pessoa interditada recupere o seu discernimento, deverá ser promovido um procedimento de desinterdição.
5.3. Incapacidade natural: (acima).
Cessação da incapacidade: é a extinção da incapacidadede fato / exercício / ação.
É gênero do qual decorre duas espécies:
6.1. Cessação da causa: é a hipótese em que desaparece o motivo pelo qual uma pessoa era considerada incapaz. Ex.: maioridade; cura de uma doença.
Obs.: a redução da maioridade civil para os 18 anos não afasta o direito a pensão previdenciária, que vai até os 21 anos. Entretanto, deve ser lembrado que se o menor de idade for emancipado cessará o direito a pensão.
6.2. Emancipação: emancipação é a antecipação da capacidade civil a um menor de idade. Não existe emancipação de maior. Com a emancipação o menor pode praticar todos os atos da vida civil.
Em regra os efeitos da emancipação estão restritos ao direito civil, logo o menor emancipado não tem responsabilidade criminal e não pode tirar carteira de habilitação.
6.2.1. Emancipação Voluntária: é aquela realizada pelos pais (pai e mãe, ambos) a favor do filho menor que tenha ao menos 16 anos completos. É realizada através de escritura pública que não precisa ser homologada judicialmente, mas deve ser registrada no Cartório de Registro Civil das Pessoas Naturais.
E se os pais estiverem divorciados ou solteiros? Deve SEMPRE ser praticada por ambos os pais. Só pode ser realizada por um dos pais na falta do outro (ex.: morte, destituição do poder familiar, etc.).
Os pais têm responsabilidade civil pelo ato do menor emancipado? De acordo com a Jurisprudência do STJ, os pais têm responsabilidade civil pelo ato do menor emancipado voluntariamente. O STJ presume a má-fé dos pais que emancipam seus filhos. Nesta hipótese os pais têm responsabilidade solidária junto ao filho emancipado.
Nas demais hipóteses de emancipação (judicial e legal) o STJ entende que os pais não têm responsabilidade.
6.2.2. Emancipação judicial: é aquela realizada pelo juiz a favor do menor tutelado que tenha 16 ou 17 anos.
O tutor não tem os mesmos poderes dos pais e não pode se livrar do munus publico que exerce sem uma decisão judicial.
Quem pode requerer?
O tutor;
O menor tutelado;
O menor e o tutor conjuntamente.
Obs.: independentemente de quem requeira a emancipação, a oitiva do tutor é obrigatória.
A emancipação judicial também é aceita pela jurisprudência na hipótese de haver divergência entre os pais.
ATENÇÃO: se ambos os pais recusarem a emancipação o menor não poderá solicitá-la ao juiz.
Segundo Caio Mário, o direito de emancipar os filhos é potestativo e exclusivo dos pais.
A emancipação é realizada através de sentença e deve ser registrada no Registro Civil.
6.2.3. Emancipação legal: é aquela que ocorre de forma automática quando presente uma das hipóteses do art. 5º, II a V do CC.
Não depende de escritura pública, sentença ou registro.
Direitos da personalidade: 
São os direitos subjetivos do ser humano defender tudo que é próprio.
7.1. Características dos direitos da personalidade:
Inatos: esses direitos surgiriam junto com os seres humanos;
1ª corrente: defende que são direitos inatos, isto é, não dependem do ordenamento jurídico (Jusnaturalistas, MHD).
2ª corrente: defende que não são direitos inatos, pois dependem para a sua proteção de previsão legal (positivistas, por exemplo, Miguel Reale).
Vitalícios: pois surgem e desaparecem com o ser humano. (art. 12, p. único, CC - dano moral reflexo ou em ricochete, por exemplo, dano moral de pessoa morta, atinge reflexamente seu cônjuge e familiares até o quarto grau);
A possibilidade de pleitear indenização pela ofensa dirigida ao morto se dá em razão dos vivos sofrerem as consequências desta ofensa (dor, tristeza, angústia, etc.).
Há quem entenda que a possibilidade de indenização existe em virtude do reconhecimento de que a pessoa morta tem direitos da personalidade.
Absoluto: os direitos da personalidade são direitos excludendi alios, isto é, gera um dever de abstenção para toda coletividade e também para o próprio titular;
Ilimitados: pois o rol do CC/02 e o da CF/88 não são exaustivos. A todo o momento podem ser criados novos direitos da personalidade;
Extrapatrimoniais: pois não são suscetíveis de valoração econômica. O fato de ser atribuído um valor para a indenização por dano moral não afasta esta característica;
Imprescritíveis: o direito da personalidade em si é imprescritível. Ex.: direito à honra.
Também são imprescritíveis as medidas de proteção e prevenção a lesões a direitos da personalidade. Ex.: ação judicial para recolher biografia não autorizada.
Interesse público x interesse do público.
Contudo, no que diz respeito a medidas de reparação a lesão de direito da personalidade (dano moral) doutrina e jurisprudência tem apontado a prescritibilidade.
CC/02: 03 anos (art. 206, §3º, V); CDC: 05 anos (art. 27).
Exceção: crime de tortura (STJ e STF entendem que o direito a indenização é imprescritível).
Intransmissíveis: os direitos da personalidade são intransmissíveis em vida e após a morte.
Indisponíveis / disponibilidade relativa: art. 11, CC/02. Para doutrina majoritária os direitos da personalidade têm disponibilidade relativa. Ex.: cessão de direito de imagem.
Irrenunciáveis: o titular pode não reivindicar sua proteção, mas não se admite renúncia a direitos da personalidade.
Inexpropriáveis: não podem ser penhorados nem alienados judicialmente. Mas, pode ser penhorado o rendimento obtido com a exploração de aspectos da personalidade. Ex.: renda obtida pela cessão da imagem de um atleta. (Art. 648, CPC).
Morte (fim da pessoa natural):
Alguns efeitos da morte:
Transmissão da herança;
Extinção da personalidade;
Término das relações de parentesco;
Dissolução do vínculo matrimonial ou da união estável.
Espécies de morte:
Morte civil: é a extinção da personalidade jurídica de uma pessoa viva. Não existe mais. Direito romano. Existe apenas um resquício da morte civil no direito das sucessões: exclusão por indignidade;
Morte real: é aquela certificada através de atestado médico de óbito. Na morte real é feita a prova direta da morte (o corpo do falecido). Em regra, apenas um médico assina o atestado. Para fins de transplante são exigidas as assinaturas de dois médicos que não façam parte da equipe de remoção;
Morte presumida: art. 7º, CC. O corpo não foi localizado. Não há corpo. Deve ser feita uma prova indireta da morte. Houve mudança no CC. Atualmente há duas formas de morte presumida:
Morte presumida sem decretação de ausência: é aquela que segue o procedimento de justificação e só pode ser invocada quando há uma enorme probabilidade da morte. Isto ocorre, de acordo com o CC/02, em duas hipóteses: I – Catástrofe (incêndio, tsunami, naufrágio, etc.); II – Guerra (02 anos após o fim).
Morte presumida com decretação de ausência: deve ser utilizado quando uma pessoa desaparece se deu domicílio sem deixar / enviar notícias e não se enquadrar nas hipóteses de catástrofe e guerra (Ex.: irmã do Victor Belfort).
(aula 04)
PROCEDIMENTO DE AUSÊNCIA: arts. 22 a 39, CC.
1ª fase: Curadoria dos bens do ausente. A curadoria não é do ausente, pois ele não é incapaz. Não temos uma cura persona e sim a cura rei.
Cura persona: é a curadoria do incapaz. Existe no procedimento de interdição e de tutela.
Cura rei: preocupação com o patrimônio do ausente.
Nesta fase é nomeado um curador para administrar provisoriamente os interesses patrimoniais do ausente. A ordem de quem deve ser nomeado curador está presente no art. 25, CC (I. cônjuge; II. pais, III. descendentes, na falta, fica a escolha do juiz).
A primeira fase pode ter duração de:
01 ano: quando o ausente desaparecer sem deixar mandatário;
03 anos: quando o ausente deixou mandatário, mas ocorreu algum problema (Ex.: o mandatário faleceu, se tornou incapaz, renunciou aos poderes, etc.).
2ª fase: sucessão provisória.
Nesta fase tem fim a curatela dos bens do ausente, ou seja, desaparece a pessoa do curador, é aberto o testamento e realizado o inventário dos bens.
Os herdeiros recebem a posse dos bens. Se forem descendentes, ascendentes ou cônjuge estão dispensados de prestar caução. Outros herdeiros estão obrigados a prestar caução.Esta fase tem duração de 10 anos.
3ª fase: sucessão definitiva.
O ausente é declarado morto.
As cauções são levantadas e os herdeiros recebem a propriedade resolúvel dos bens.
Se o ausente retornar no período de até 10 anos após a abertura da sucessão definitiva receberá de volta os bens no estado em que se encontrarem, os sub-rogados em seu lugar ou o produto obtido com a venda destes.
É somente após este prazo que a sucessão é considerada inabalável.
Obs.: no aspecto pessoal todos os efeitos da declaração de morte são cancelados com o retorno do ausente a qualquer momento (Ex.: deve ser cancelado o registro de óbito). Quanto ao casamento a posição majoritária é no sentido de que o ausente volta à condição de casado, devendo ser considerado nulo o segundo casamento do cônjuge abandonado.

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