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Investigação Epidemiológica de surto por contaminação alimentar 2020.1 Prof. Wellington Costa wellington.costa@unifacs.br Escola de Ciências da Saúde Curso: Medicina Veterinária Disciplina: Higiene e Inspeção de P.O.A. DVA – relembrando!!! • Doença transmitida por alimento é um termo genérico, aplicado a uma síndrome geralmente constituída de anorexia, náuseas, vômitos e/ou diarreia, acompanhada ou não de febre, atribuída a ingestão de alimentos ou água contaminados. Apresentação Clínica Sintomas Extraintestinais: Neurológico: botulismo, listeriose, cisticercose; Renal: Síndrome Hemolítica Urêmica (SHU), estreptococose; Reprodutivo: toxoplasmose e brucelose. Definição de Surto de DTA • A ocorrência de, no mínimo, dois casos com o mesmo quadro clínico após ingestão do mesmo alimento ou água da mesma origem. • Mesmo alimento - Tempo e espaço Surto de DTA no Brasil Surto de DTA no Brasil Alimentos mais envolvidos nos surtos de DTA Fonte: SINAN/SVS/Ministério da Saúde Principais agentes etiológicos Fonte: SINAN/SVS/Ministério da Saúde Prevenção e controle Eixos da Investigação • investigação epidemiológica: onde são utilizados formulários com entrevistas aos envolvidos no surto (doentes e não doentes); • investigação ambiental: investigação do local de ocorrência/ambiente, cadeia de produção de alimentos (desde a matéria-prima, seu transporte, manipulação/preparo/fabricação) até chegar ao consumidor (para se detectar os fatores contribuintes que possibilitaram o surgimento do surto); • investigação laboratorial: coleta de amostras clínicas de pacientes, alimentos, utensílios e água para confirmação do agente etiológico. Por que investigar um surto? Identificar: etiologia da doença fonte de infecção modo de transmissão grupos e fatores associados ao risco Controlar o surto Prevenir novos surtos Conhecer mais sobre doenças novas ou já conhecidas Reduzir morbidade e/ou mortalidade Interesse público, legal ou político Processo de investigação Etapas da Investigação Compreende quatro etapas: Conhecimento da ocorrência Investigação de campo Processamento e análise de dados Acompanhamento Etapas da Investigação Fase 1: Informação do surto Preencher o formulário de notificação (Formulário 01) assim que receber a informação de ocorrência do surto; Verificar se a informação é de fato um surto: O número de casos caracteriza um surto? Há fontes suspeitas comuns (refeição/alimento/água suspeitos, local comum de ocorrência, outros casos na família com sintomas semelhantes, contatos com outros casos na escola/trabalho (datas). Etapas da Investigação Fase 1: Informação do surto Notificar ao nível hierárquico superior: passar por fax o Formulário para a Regional de Saúde; Acionar equipe de investigação epidemiológica das DTA: vigilância sanitária e ambiental; Etapas da Investigação Fase 2: Investigação de campo Deslocamento: Atentar para urgência – prazo suficiente para medidas de controle do surto Visita ao local para coleta de sobras – rapidamente Planejamento no local Surto em festa (buffet) ou serviço de refeições coletivas: comensais conhecidos - fácil coletar dados Surto em lanchonete ou restaurante: quase impossível identificar os comensais Surto em diferentes estabelecimentos servidos por mesmo fornecedor: até a caracterização de surto é comprometida Surto após ingestão de alimentos industrializados: surto ocorre em diferentes domicílios. Etapas da Investigação Fase 2: Investigação de campo Investigação de comensais Utilizar formulários para registro de informações: Nome, idade, dia e hora da refeição, dia e hora dos primeiros sintomas, etc. Investigação de manipuladores Investigar cada um Solicitar exames Investigação do local Instalações, equipamentos e utensílios Fornecedores Colheita de amostras: Sobras, matéria-prima, bebidas, ingredientes, água e gelo Principais microrganismos Etapas da Investigação Fase 3: Processamento dos dados da investigação Fazer distribuição dos casos por faixa etária, sexo e bairro para avaliar local e grupos mais atingidos (com maior número de casos absolutos); Fazer distribuição por semana epidemiológica para avaliar período com maior número de casos e tendência de aumento, declínio ou manutenção do surto; Calcular a Mediana do Período de Incubação e a Taxa de Ataque dos alimentos envolvidos. Período de incubação Exposição ao agente Infecção instalada Aparecimento dos sinais clínicos tempo Período de Latência Período de Incubação Como calcular o Período de Incubação Calcula-se usualmente o período de incubação de um surto através da Mediana. que é Mediana? É uma medida de tendência central. Número de observações é Ímpar: é o meio do conjunto de observações; Número de observações é Par: é a média dos pares do meio do conjunto das observações. Valor central da série de dados, quando os valores estão organizados em ordem crescente ou decrescente: 50% das observações ficam abaixo da mediana e 50% ficam acima. Não é afetada pelos valores extremos da série. Mediana Procedimento para o cálculo: Ordenar o conjunto de dados; Definir o centro da distribuição posição da mediana; Localizar a mediana. Mediana Para amostras ordenadas: Se n for ímpar: Posição da mediana Mediana = valor que ocupa a posição da mediana. Se n for par: Posição da mediana Mediana = média aritmética entre o valor que ocupa a posição da mediana e o valor subsequente. Mediana 2 1 n Md 2 n Md Como calcular a Mediana Ímpar: O surto envolveu 5 pessoas que começaram a apresentar os sintomas 1h, 3h, 2h, 4h e 3h após ingestão do alimento suspeito. Calcule a mediana: N = 5 (5 observações) Ordene os valores numéricos em ordem crescente: 1h, 2h, 3h, 3h e 4h Fórmula = (N + 1)/2 Termo = (5 + 1)/2 = 6 = 3ªposição Mediana das horas após ingestão do alimento suspeito do grupo = 3 horas. Como calcular a Mediana Par: O surto envolveu 10 pessoas que começaram a apresentar os sintomas 1h, 6h, 2h, 4h, 3h, 5h, 4h, 2h, 2h e 5h após ingestão do alimento suspeito. Calcule a mediana: N = 10 (10 observações) Ordene os valores numéricos em ordem crescente ou decrescente: 6h, 5h, 5h, 4h, 4h, 3h, 2h, 2h, 2h e 1h; Média aritmética = 4h + 3h/ 2 Mediana das horas após ingestão do alimento suspeito do grupo = 4h + 3h/ 2 = 3,5h. Md n 2 Como calcular a Taxa de Ataque que é Taxa de Ataque? É a incidência da doença calculada para cada fator de risco provável/causa (alimento), isto é, por alimento suspeito de causar o surto. Determinação do alimento suspeito através do cálculo de taxa de ataque específica. • Elaborar a tabela de taxa de ataque; • Por refeição ou por alimento suspeito Taxa de ataque (TA) = nº de pessoas doentes x100 nº de expostos Exemplo de quadro para o ordenamento dos dados em forma sumária Quadro sumário Pessoas doentes (D) Pessoa não doentes (ND) Pess . peru ervil has Sal. Quei jo leite pudi m Pess . peru ervilh as Sal quei jo leite pudi m D-1 C C C C X S-1 X C C C C D-2 X C X C X S-2 C X C X C D-3 C C C X X S-3 X C C C X D-4 C X C X X S-4 C X X C C D-5 X C C C C S-5 X C C X C D-6 C X C X X S-6 C C X X C D-7 C C C C X S-7 C X C C C D-8 C X C X C S-8 X C C C X C= comeram; X= não comeram. Taxa de Ataque em Pessoas Conforme os Alimentos Servidos Alimentos servidos ComeramNão comeram Dif. (%) D ND T TA (%) D ND T TA (%) Carne de porco 59 14 73 0 16 16 0 Arroz 49 27 76 10 3 13 77 Salame 38 17 55 21 13 34 62 Mostarda 48 28 76 11 2 13 85 Refrigera ntes 58 30 88 1 0 1 100 Pêssegos 46 28 74 13 2 15 72 D= Doentes; ND= Não doentes; T= Total; TA= Taxa de ataque Taxa de ataque específica 59 entre os que comeram = ----------------------------- X 100 = 81 carne de porco 73 A diferença entre as taxas de ataque é (+ 81), sendo que a mais alta indica que o alimento suspeito é a carne de porco. entre os que não comeram = ----------------------------- X 100 = 0 carne de porco 16 Taxa de ataque específica 0 Taxa de Ataque em Pessoas Conforme os Alimentos Servidos Alimentos servidos Comeram Não comeram Dif. (%) D ND T TA (%) D ND T TA (%) Carne de porco 59 14 73 81 0 16 16 0 +81 Arroz 49 27 76 10 3 13 77 Salame 38 17 55 21 13 34 62 Mostarda 48 28 76 11 2 13 85 Refrigera ntes 58 30 88 1 0 1 100 Pêssegos 46 28 74 13 2 15 72 D= Doentes; ND= Não doentes; T= Total; TA= Taxa de ataque Taxa de Ataque em Pessoas Conforme os Alimentos Servidos Alimentos servidos Comeram Não comeram Dif. (%) D ND T TA (%) D ND T TA (%) Carne de porco 59 14 73 81 0 16 16 0 +81 Arroz 49 27 76 64 10 3 13 77 -13 Salame 38 17 55 69 21 13 34 62 +7 Mostarda 48 28 76 63 11 2 13 85 -22 Refrigera ntes 58 30 88 66 1 0 1 100 -34 Pêssegos 46 28 74 62 13 2 15 72 -25 D= Doentes; ND= Não doentes; T= Total; TA= Taxa de ataque O alimento que tiver a mais alta taxa de ataque para pessoas que ingeriram o alimento e a mais baixa taxa de ataque para pessoas que não o comeram, ou seja, a maior diferença entre as duas taxas despertará suspeitas. Etapas da Investigação Fase 4: Acompanhamento Vigilância Novos doentes, óbitos, casos em outras regiões. Medidas de controle: implementadas pelo estabelecimento ou se há necessidade de interdição. relatório final Critério utilizado, agente etiológico, fotos, etc. Divulgação na mídia Evitar novos casos Local de Registro do Surto no Sinan Ficha de Investigação de Surto Vigilância Epidemiológica deve ser capaz de responder: Qual é o agente etiológico? Qual foi o alimento fonte de infecção? Qual foi o modo de contaminação? Quantas pessoas foram expostas ao alimento causa? Quantas pessoas ficaram doentes? Quais foram os fatores de risco? Qual a semana com maior número de casos Quanto tempo durou o surto? Referências Bibliográficas BRASIL. Secretaria de Vigilância em Saúde. Dados epidemiológicos – DTA, Período de 2000 a 2015. Brasília, 2015. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria Nacional de Vigilância Sanitária. Divisão Nacional de Vigilância Sanitária de Alimentos. Resolução nº 216. Diário Oficial da União, Brasília, DF. 15 de setembro 2004. GERMANO, P.M.L.; GERMANO, M.I.S. Higiene e vigilância sanitária de alimentos. São Paulo: Livraria Varela, 2015.