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9 UNIDADE 1 FUNDAMENTOS DA AUTOMAÇÃO 1.1 BREVE HISTÓRICO A prática de controle dos processos industriais teve início muito antes que métodos teóricos e analíticos fossem desenvolvidos. Sistemas de controle eram projetados através de procedimentos empíricos baseados na intuição e experiência cumulativa, ou seja, a maioria dos raciocínios envolvidos não eram baseados em cálculos matemáticos. Contudo, esta aproximação não cientifica e por tentativas, como foi, satisfez as necessidades de controle por longo tempo. No século XX o homem presenciou o maior desenvolvimento tecnológico de sua existência. Uma das tecnologias que mais repercussão alcançou e mantém-se em constante desenvolvimento é a do controle automático de processos industriais. Sua importância sustenta-se não só em substituir o trabalho humano nas tarefas monótonas, repetitivas, inseguras e cansativas, mas, principalmente, no fato de permitir sensível melhoria na qualidade dos processos, com baixo custo de investimento e que possibilita ao produto fabricado ser competitivo no mercado gerando lucros razoáveis. Você sabia? � Que ainda, nos dias atuais, consideramos que a base fundamental desse avanço é o conceito de realimentação (feedback) de sinais, aplicada pela primeira vez na máquina a vapor de James Watt, por volta de 1756. O controle aplicado à produção industrial, ao longo de seu desenvolvimento, tem sido alvo de grandes polêmicas, quanto à definição ou classificação mais adequada tendo em vista a sua evolução. De acordo com as Associações de Normas Técnicas e uma grande maioria de profissionais, é importante que você diferencie comando de controle e automatização de automação. A palavra controle pode ser empregada para designar o ato de regular, dirigir ou comandar uma variável de forma manual ou automática. Aglutinando essas definições, podemos definir sistema de controle como: � Uma disposição de componentes físicos, conectados ou relacionados de maneira a comandar, dirigir, regular/controlar a si mesmos ou a outros sistemas. Se você fizer uma comparação criteriosa, poderá perceber que diversas técnicas aplicadas ao controle de processos industriais são semelhantes às praticadas pelos órgãos do corpo humano. O que nos leva a concluir que alguns dos desenvolvimentos teóricos do 10 controle automático tomaram por princípio o próprio ser humano. Com base nessa teoria, podemos dizer que o controle de processo pode ser: natural ou artificial. O que significa controle de processo natural? � Controle de Processo Natural são as operações que regulam algumas características físicas de suma importância para a vida humana, tais como a temperatura do corpo, a pressão sangüínea, a intensidade de luz na retina, o equilíbrio de líquidos no corpo, etc. O processamento das informações no ser humano é desenvolvido primeiramente pelos órgãos dos sentidos; em seguida, pelo sistema nervoso central e periférico, que recebem e transmitem as informações captadas através dos elementos periféricos; e finalmente o cérebro, que processa as informações e estabelece o produto final, o qual é levado aos músculos por meio dos nervos periféricos. Qualquer fábrica moderna ou instituição social possui sistema semelhante. O Diagrama de blocos, da figura 1.1, ilustra esse sistema de controle. Fig. 1.1 – Diagrama de blocos do sistema de processamento de informação do ser humano. O que significa controle de processo artificial? � O Controle de Processo Artificial são operações que controlam alguns dos parâmetros físicos do meio em que o homem vive, a fim de manter as suas condições de vida. Dentro dos controles de processo artificiais, encontramos o “controle automático de processos industriais”, que envolve duas denominações distintas: automatização e automação. O que significa automatização? � A palavra automatização resultou da aglutinação de automatic control and instrumentation. Segundo o dicionário Aurélio, automatização é o sistema automático pelo qual os mecanismos controlam seu próprio funcionamento, quase sem interferência do homem. 11 Você sabia? O que significa automação? O vocábulo empregado nos dias atuais é AUTOMAÇÃO, e este não consta nos dicionários de língua portuguesa. Essa denominação toma por referência o desenvolvimento do programa do equipamento (controlador), o qual fará o controle do processo e que terá por base as técnicas da eletrônica digital. � Segundo Horta Santos (1987), a AUTOMAÇÃO é o conjunto das técnicas que permitiram a criação de dispositivos capazes de estender o nosso sistema nervoso e a nossa capacidade de pensar. Para ele, o homem, desde os seus primórdios, tem lutado para superar as suas limitações, criando dispositivos que possibilitem estender as suas capacidades/poderes, tais como: � criou habitações e vestuários para se proteger, como extensão de sua epiderme; � inventou a piroga, carroça/carro, trem, avião, foguete, etc., ampliando seu aparelho locomotor; � inventou as máquinas para ampliar o poder de seus músculos e agir sobre a natureza; � criou o rádio, o telefone, para ouvir e falar mais longe; � inventou o telescópico, a televisão e o radar, para amplificar a sua própria capacidade de ver; � criou o computador, que aumentou e aperfeiçoou o seu poder de comunicação e controle. Considera, também, que a automação só foi possível graças ao aparecimento de uma nova ciência, a CIBERNÉTICA, e suas realizações concretas apoiadas pelo avanço da eletrônica, especialmente no domínio dos COMPUTADORES. Você sabia? O que significa cibernética? � Segundo Gordon Pask (1961), a CIBERNÉTICA é uma ciência que corta transversalmente os entrincheirados departamentos da ciência natural: o céu, a terra, os animais e as plantas. Seu caráter interdisciplinar emerge quando considera a Economia não como um economista, a Biologia não como um biólogo, e as Máquinas não como um engenheiro. Em cada caso seu tema permanece o mesmo, isto é, como os sistemas se regulam, se reproduzem, evoluem e aprendem. Seu ponto alto é de como os sistemas se organizam. 12 Por outro lado, sabe-se que as inovações mecânicas e as modernas tecnologias produzem desemprego nas áreas industriais; porém os economistas, os sociólogos e outros estudiosos do assunto nunca chegaram a um consenso se esse desemprego é transitório ou permanente. Da mesma forma, não sabem se a automação contribui para a promoção ou aviltamento dos trabalhadores. Mas é importante que você saiba que a automação destina-se a estimular a produtividade e reduzir o custo unitário da produção. Por essas características ela tem sido o grande propulsor da chamada “globalização”, interferindo nos canais de comunicação, na diplomacia e por fim no volume do comércio internacional. 1.2 EVOLUÇÃO DAS TÉCNICAS INDUSTRIAS No mundo ocidental, até 1750, a indústria humana evoluiu com grande lentidão, pois as sociedades antigas viviam de uma economia agrária e artesanal, com uma produção domiciliar, voltada para um pequeno mercado interno. As técnicas utilizadas eram rudimentares, baseadas em processos empíricos, transmitidos, de geração em geração, não utilizavam máquinas e, por isso, a energia empregada era a muscular de origem humana ou animal. Um dos componentes mais importante na evolução industrial tem sido a energia empregada para a produção. As técnicas de geração dessa energia começou a ser empregada de formas mais eficazes pelos europeus da Idade Média, os quais criaram métodos de utilização das energias naturais mais eficiente em benefício do homem. Essas energias eram a eólica e a hidráulica, que já vinham sendo empregadas deforma incipiente lá algum tempo. As primeiras aplicações do aproveitamento da energia eólica foram na propulsão dasembarcações, depois nos moinhos de vento da agricultura européia (finais do século XV) e atualmente nos geradores eólicos de energia elétrica. Fig. 1.2 – Posicionador automático da hélice do moinho de vento – Meikle. Fig. 1.3 – Energia eólica empregada na propulsão de embarcação. 13 O aperfeiçoamento do funcionamento do moinho de vento fez aparecer um dos primeiros instrumentos de controle automático, que foi o aparelho de posicionamento automático da hélice do moinho de vento, inventado por Meikle em 1750. Esse aparelho fazia o ajuste automático do eixo da hélice visando a uma melhor posição relativa ao vento. Ele é mostrado na figura 1.2, e funcionava da seguinte maneira: a pequena hélice h é um motor que gira enquanto o vento não está a 90º de seu eixo. Sua rotação gira toda a estrutura superior e carrega o eixo da hélice principal H. Quando a pequena hélice pára com seu eixo a 90º do vento, a grande pára na direção do vento, obtendo assim a posição de máxima captação de energia. O emprego da energia hidráulica aplicada às rodas hidráulicas (figura 1.4), que não tendo o inconveniente de depender da irregularidade do vento, e sim dos leitos regulares dos rios e de suas características menos caprichosas, moviam os pesados martelos para forjar o ferro, os foles das forjas, as mós para moer o trigo e para afiar as ferramentas, etc. Mais tarde passaram a distribuir (bombear) água tanto para as cidades como para o campo. Nos dias atuais esse tipo de energia serve para acionar as turbinas das hidrelétricas, as quais produzem energia elétrica. Fig. 1.4 – Tipos de rodas hidráulicas empregadas para converter energia hidráulica em energia mecânica ou elétrica. Você sabia? � As primeiras indústrias eram pequenas oficinas, denominadas de “artesanato das guildas“, onde o artesão trabalhava duramente, ao mesmo tempo que dirigia outros trabalhadores da oficina. Esse tipo de indústria sobrevive, com todas as suas características, até aos dias de hoje. Para conhecê-las, basta que nos desloquemos a um pequeno povoado distante grandes centros. ���� Exemplos típicos de artesão são: oleiro, ferreiro, construtor de carroça, produtores de aguardente, de rapadura, etc. 14 Esse método de produção não foi capaz de atender ao aumento da demanda, sendo obrigado a se modificar. Apareceu, então, a “manufatura”, o embrião do capitalismo industrial, em que um significativo número de trabalhadores passa a ser empregado de um patrão, que detém o controle da comercialização da produção. As primeiras unidades eram pequenas e a produção tinha como insumo a lã de carneiro. As unidades de manufatura, para proteção de seus interesses, organizavam-se em associações corporativistas com o capitalista financiando a produção (compra das matérias primas, pagamento dos empregados diaristas, aprendizes e do artesão), ou formavam uma cooperativa de trabalhadores. Com a evolução da manufatura e a intensificação do comércio marítimo, apareceram outras unidades de produção que dependiam da importação de matéria-prima, das técnicas estrangeiras, como exemplo o algodão importado da Índia, do linho e da seda e da exportação da sua produção. As primeiras fábricas que trabalhavam com algodão não foram bem recebidas pelos industriais e trabalhadores da lã. Esses, alegando que haveria queda no preço dos produtos baseados na lã, incendiaram as indústrias e conseguiram, em 1700, que o governo inglês proibisse a importação de tecidos de algodão. Essa proibição incentivou a produção de algodão na própria Inglaterra, fez surgir diversos inventos mecânicos e agrícolas que levaram ao grande desenvolvimento da indústria têxtil. Você sabia? � As invenções no campo da indústria têxtil fizeram aparecer as primeiras técnicas de controle automático da produção industrial e conseqüentemente os primeiros choques entre os trabalhadores e a tecnologia, ou melhor, entre o trabalho manual e a máquina. Grandes invenções ... Dessas invenções as que consideramos mais importantes relacionadas ao controle automático da produção industrial foram: � O tear mecânico de fazer meias inventado por volta de 1589, por William Lee pároco de Calverton. Nesse tipo de tear, o operador era não só uma fonte de energia, mas também um meio de coordenar os movimentos das diversas peças da máquina. � As grandes vantagens da máquina inventada foram: fazer a teia da meia para costura até o pé; fabricar finas meias de seda e de fantasia, sem perder a velocidade de funcionamento; produzir de 1000 a 1500 malhas por minuto, enquanto que as pessoas que faziam malhas manuais chegavam no máximo a 100 malhas por minutos; e por fim podia ser operada por uma criança de doze ou treze anos, que acionava a máquina por meio de um pedal e com as mãos controlava a fiação. � O aperfeiçoamento do tear de fitas foi feito por John Kay e Vaucanson em 1745. Patentearam um sistema mecânico que tornou possível fazer a lançadeira movimentar- se de uma extremidade da tela à outra. 15 John Kay criou uma espécie de corredeira, que era acionada por cordas e alavancas do comando dos pedais por meio de excêntricos, sincronizando, assim, os movimentos da máquina. A invenção foi batizada de “lançadeira volante”. Por causa desse invento, sua casa foi depredada por trabalhadores da indústria têxtil, e ele teve de fugir da Inglaterra. Vaucanson criou a barra de acionamento, o movimento de cremalheira e roda dentada para acionar os eixos. Fig. 1.5 – Exemplo da técnica de eixo e excêntricos (cames) empregada, em anos recentes, no controle automático de purificadores de óleo. � Fuso (spinning-jenny) de Hargreaves. Este tecelão e carpinteiro inventou, na década de 1760, uma roda de fiar com vários fusos, que funcionava à mão, mas propiciava o aumento da produção. Uma pessoa que antes fiava um fio por vez, após esta invenção, passou a fabricar oito ou mais fios. Porém, o fio era pouco resistente, servindo apenas para o trançado; � A fiadeira de Arkwright. Barbeiro e fabricante de peruca, Richard Arkwright patenteou em 1769 a máquina water-frame. Essa máquina esticava os fios antes que se enrolassem no fuso e utilizava força hidráulica para movimentar o cilindro. Podia fiar algodão mais rapidamente do que a velha roca e produzia um fio mais resistente. Tornou possível produzir, em 1773, um tecido feito exclusivamente de algodão e não mesclado com linho, como era o costume; � A mula (mule-jenny) de Samuel Crompton, inventada por volta de 1779. � Cromptom unificou a técnica de Hargreaves e a de Arkwright, fazendo com que os fusos fossem montados em um carril móvel e as agulhas fizessem um duplo movimento para esticar os fios em volta do cilindro, reproduzindo o movimento do fio, tal qual se realizava na fiação manual. A máquina inventada funcionava à energia hidráulica e mais tarde passou a ser por meio de máquina a vapor. � A técnica “automática” de reprodução de gravuras, papelão perfurados, criadas pelo francês Basile Bouchon, por volta de 1725. 16 Fig. 1.6 – Tear de Basile Bouchon. � Orifícios eram feitos em um rolo de papel de acordo com o desenho que se desejava tecer. Quando esse papel em código era pressionado contra uma fileira de agulhas, as que coincidiam com as perfurações permaneciam na mesma posição; as demais moviam-se para frente, formando assim o desenho do tecido. Era uma máquina simples, comandava uma única fileira de agulha. � Anos mais tarde, Joseph-Marie Jacquard aperfeiçoou a idéia de Bouchon, passando para cartões perfurados e conseguiu a patente do primeiro tear automatizado. � A linguagem empregada por esses inventores para estabelecer uma comunicação com a máquina resumia-se a nada mais do que: orifício e não-orifício. Semelhante aosistema binário atual, empregado nos cartões perfurados das máquinas de controle numérico de nosso século (torno mecânico e fresadora). O aproveitamento da energia do vapor d’água pela ciência ocidental deu-se a partir de 1700, com o inglês chamado Thomas Savery, inventando uma máquina a vapor para bombear água das minas (bomba a vapor). Por volta desta mesma época, entre 1705 e 1712, um americano, Newcomen, cria, também, uma máquina a vapor para bombear água de poço (figura 1.7). No entanto, é por volta de 1769 que James Watt, instalando o condensador e o regulador de velocidade, consegue a aplicação prática da máquina a vapor e obtém a primeira patente de uma máquina alternativa a vapor. Com essa nova tecnologia romperam-se as amarras da corrente que emperrava a produção industrial, dando origem às fábricas modernas. Fig. 1.7 – Máquina alternativa a vapor de Newcomen. A máquina a vapor substituiu o trabalho físico dos homens e dos animais. Energias muito mais poderosas eram postas a serviço do homem, permitindo-lhe uma maior ação sobre a natureza. Essa revolução iniciou-se na Inglaterra, nas indústrias têxteis e se estendeu depois à América e ao resto da Europa Ocidental. Por volta de 1800, já havia pelo menos 500 máquinas alternativas a vapor em funcionamento. 17 Foram aceleradas e aperfeiçoadas as comunicações, os transportes e a fabricação. O comércio mundial foi estimulado. Houve um rápido aumento da população e o crescimento urbano das cidades até chegar aos nossos dias com as megametrópoles. Mas foi só no século XIX que os franceses classificaram esse ato como a “Primeira Revolução Industrial”. 1.2.1 Evolução das Técnicas Industr ia is Modernas. Até o aparecimento da máquina a vapor e durante muitos anos de sua aplicação, uma unidade fabril era dependente de uma única fonte de potência mecânica. As fábricas dispunham de energia gerada por uma roda d’água ou por uma máquina alternativa a vapor acoplada a um eixo que se estendia ao longo da fábrica. Desse eixo, por meio de correias, as máquina fabris recebiam a energia mecânica necessária ao seu funcionamento. Assim, o controle era interdependente e centralizado. A partir da criação do regulador de velocidade das máquinas a vapor de James Watt e de outros avanços tecnológicos, as máquinas passaram a dispor de um motor dedicado e o controle foi descentralizado. O Regulador Centrífugo, de James Watt, em 1775 (figura 1.8), foi o segundo aparelho de controle automático que o homem criou, e foi o percursor da aplicação do conceito de realimentação (Feedback). Neste tipo de regulador, quando a velocidade do eixo E ultrapassa o valor desejado, a força centrífuga sobre cada massa M tem uma componente normal à haste de suporte, que vence a componente da força-peso; as massas M se afastam do eixo vertical e o cursor C sobe; o cursor C aciona a válvula de controle de vapor, reduzindo sua vazão e por sua vez reduzindo a velocidade do motor e do eixo E. O inverso ocorre quando a velocidade esta abaixo da desejada. Fig. 1.8 – Regulador centrífugo de velocidade das máquinas a vapor – James Watt. 18 Você sabia? � A principal característica do método de controle por realimentação é de estar sempre buscando eliminar o desvio (erro de offset) da variável controlada em relação ao valor desejado (set-point) Com a “Primeira Revolução Industrial”, começou a desaparecer o artesanato medieval e consequentemente o ofício do artesão; deu-se início ao sistema corporativo e o declínio do aprendizado. Houve uma maior interdependência entre o capital e o trabalho, começando a aparecer a produção em massa e a padronização dos produtos, dando origem à chamada “produção em série”. Você sabia? � O percursor da técnica de produção em serie foi o americano Eli Whitney, que criou o sistema de peças permutáveis (estandardizada) ao utilizá-la na fabricação na sua máquina de descaroçar algodão e de um rifle para o exército americano. Essa padronização permitiu automatizar a execução dessas tarefas, tendo como conseqüência maior precisão no trabalho e aquisição, pelos trabalhadores, de habilidades mais restritas, levando-os a perderem a noção do que e para que produziam. Na cadeia de produção em massa (produção em série), todos os movimentos das máquinas são sincronizados, temporizados e repetitivos. Você sabia? � Na indústria que opera baseada na produção em série, o controle é feito por operadores humanos, de forma que a máquina fornece a força e o operador (a) o pensamento. Este dispõe de informações sensoriais, dos dados dos instrumentos de medição e de informações de varias ordens, faz a correção necessária com vistas a atingir a melhor performance do sistema. Neste caso o operador (a) é o senhor (a) da máquina, pois pode comandá-la e pará- la quando desejar. Por outro lado, a máquina exige que operador acompanhe os seus movimentos, sejam eles lentos, sejam rápidos, dentro de rigorosos limites de tempo. Qualquer falha do operador pode provocar grandes prejuízos e acidentes fatais. Diz-se, então, que o operador fica reduzido a condição de escravo da máquina, sem nenhuma possibilidade de alterar seu comportamento. Essa fase da industrialização, ainda hoje encontrada, é definida como mecanização ou automatização. Mais adiante, vamos estudar a automatização com mais detalhes. A automatização produziu muito reflexos econômicos e sociais saudáveis. Houve um aumento da produtividade, e uma diversidade de produtos manufaturados foram lançados no mercado em grandes quantidades e com preços mais baixos. O comércio e os transportes desenvolveram-se para atender ao aumento do fluxo de mercadorias. E uma grande parte da humanidade emergiu da miséria que tinha vivido até então. 19 A primeira revolução industrial trouxe de fato um progresso nunca antes alcançado, com o aumento da riqueza e do nível de qualidade de vida para uma parte da população. Porém, para a grande maioria da população, a industrialização mostrou-se danosa devido aos distúrbios sociais que provocou (migração do camponês para a cidade, declínio do artesão e do aprendiz, etc.) e não forneceu a sonhada distribuição de renda, permaneceu a pobreza e a miséria, entre outras. Você sabia? � Com a automatização o homem aprendeu a dominar a forças bruta das ferramentas mecânicas, mas não as forças que se desenvolveram no mundo capitalista: as crises econômicas, as lutas de classes, crises de desemprego e outras mais. Com a evolução tecnológica surgiram as grandes empresas e com estas uma nova classe social: os trabalhadores urbanos. Também romperam-se os dois fatores de produção: capital e trabalho, que até então tinham convivido juntos. Apareceram as teorias econômicas e os conceitos de sucesso financeiro, as técnicas de contabilidade e o mercado de capital. Sociólogos, filósofos e outros profissionais analisaram o trabalho em todos os seus aspectos, de tal forma que a maioria das funções dos trabalhadores, principalmente na área industrial, foi reduzida a gestos simples e mecanizados (linha de produção). Desses estudos, os mais conhecidos foram o estudo do rendimento das máquinas-ferramentas de Taylor e a definição de normas de controle dimensional dos produtos fabricados. 1.2.2 Revolução Industria l Contemporânea Vivemos uma era, considerada por muitos como uma Segunda ou Terceira Revolução Industrial, que provavelmente teve seu início por volta de 1945, com a introdução do computador em nossas vidas e conseqüentemente com o advento da automação propriamente dita. Pode se dizer, então, que o computador é a principal causa da “revolução industrial contemporânea” por ser o principal componente da moderna automação. Em uma unidade fabril, ou mesmo em qualquer que seja a atividade econômica,o fato primordial é o processamento das informações. Atualmente, a melhor ferramenta disponível para a execução desse trabalho é o computador interligado em sistemas de comunicação que possibilita a volta da centralização do controle do processo, mas de forma flexível, em que o gerenciamento é feito por setores ou mesmo de máquinas através de microcomputadores (PCs) que transmitem e recebem as informações dos computadores principais. Desta forma as funções da atual automação resumem-se em : a) comunicação (informação); b) computação; e c) controle. 20 Observamos em todos os noticiários as mesmas crises vividas na primeira revolução industrial, o grande desequilíbrio entre a oferta e a procura por postos de trabalho, ou seja, desemprego maciço nos setores que automatizam sua produção e, desta vez, as inovações tecnológicas invadem todos os setores da cadeia produtiva, da comercialização, dos escritórios de negócio, da comunicação, etc. Atualmente as técnicas e recursos de automação empregados na área industrial são: a) CAD (Computer Aided Design) – Trata-se do projeto assistido por computador. Utiliza-se o computador para modelamento matemático bastante poderoso quanto a cálculos e integração gráfica. As chamadas estações de trabalho substituem, em princípio, as pranchetas de desenho dos projetistas e desenhistas. b) CNC ( Computerized Numerical Control) – Utilizam-se computadores dedicados e específicos para controlar máquinas ferramentas por meio de controle numérico. Um programa especificamente elaborado é inserido no computador com vistas a controlar os diversos órgãos da máquinas para execução de tarefas, tais como: trajetória da ferramenta, velocidade de corte, seleção de ferramentas, etc. c) Robótica – Um robô industrial é um elemento multifuncional projetado para, por meio de movimentos programados, executar tarefas diversificadas (movimentar peças, ferramentas ou dispositivos; pintar; soldar; etc.). d) Controle Automatizado de Processos – É um sistema que, baseado em um objetivo preestabelecido, acompanha a evolução do processo e, dispondo de um modelo de controle, monitora as funções necessárias à realização desse objetivo. O acompanhamento da evolução do processo pode ser feito em “tempo real” ou em medições efetuadas em intervalos de tempo preestabelecido. O modelo de controle é um programa que contém a lógica de medição x ação, podendo utilizar funções matemáticas e tabelas de referência. O controle pode ser dinâmico (o próprio computador dispara as ações) ou estático (o computador informa ao operador, e esse efetua a ação). e) Tecnologia de Grupo – É a técnica de apoio à manufatura que permite reconhecer e explorar semelhanças, identificando e agregando peças ou componentes em um único processo produtivo. O método baseia-se nas características e condição dos elementos, de tal modo que sejam formadas famílias de elementos, considerando a empresa como um todo. Essa técnica permite a produção em massa de lotes médios e pequenos de peças. f) Sistemas Flexíveis de Manufatura – É o conjunto de duas ou mais unidades de manufatura, interconectadas por equipamentos de manipulação de material, sob supervisão de um ou mais computadores de dedicação plena. Esses sistemas possibilitam a utilização plena de máquinas CNC, robôs manipuladores e técnicas organizacionais do tipo tecnologia de grupo. Consiste no emprego de “células de fabricação”, e cada célula tem autonomia e pode executar peças de algumas famílias. Cada célula é interdependente das demais e constitui um universo próprio. O fluxo integrado e automático das informações constitui a base para todas as atividades dos sistemas flexíveis de manufatura. Isto compreende: 21 � armazenamento, transferência e transporte automático da matéria- prima; � distribuição e carregamento automático das unidades que compõem o sistema; e � identificação das partes e seleção de programas das máquinas CNC. g) CIM (Computer Integrated Manufacturing) – É a utilização das diversas ferramentas computacionais disponíveis (computadores de diversos portes, redes locais, bancos de dados, CAD, CAM, CNC, Robótica), com o objetivo de integrar o fluxo de informações de cada departamento e processo de fabricação com o fluxo de informações administrativas e gerenciais da empresa. O CIM parte do pressuposto de que a informação é o elemento chave da boa administração e que o melhor meio de obtê-la rápida e corretamente é através do uso integrado dos diversos recursos computacionais existentes na atualidade. O CIM permite uma alimentação “do que fazer” pelos grandes sistemas aos níveis operacionais de fábrica e uma realimentação “do que foi feito” por esses mesmos sistemas. Na base de operação dessas técnicas existe um Controlador Programável (CP), que tem um funcionamento semelhante ao do computador. Esse equipamento apareceu no final dos anos 60 e inicio dos anos 70, devido ao advento da eletrônica digital com a invenção do microprocessador, com o passar dos anos o CP evoluiu para o atual Controlador Ló- gico Programável (CLP) (Programable Logic Controller - PLC) (figura 1.9). Fig. 1.09 – Modelos de controladores lógicos programáveis (CLP). 1.2.3 Estágios de Desenvolvimento da Informática. O aparecimento do computador é um marco nas relações sociais dos homens, talvez seja, das nossas invenções, a máquina que causou o maior impacto na vida do cidadão contemporâneo. Os computadores podem ser digitais ou analógicos. 22 Você sabia? � Os computadores analógicos operam diretamente com os números e utilizam no seu funcionamento a analogia entre os valores tomados no momento em que há uma variação no processo que esta controlando e certas grandezas físicas (variáveis), como tensões e correntes elétricas, distância, rotação de um eixo, etc. Os sinais analógicos correspondem a informações distintas de um domínio de valores de maneira contínua, ponto a ponto. � Os computadores digitais utilizam os números binários sob forma de sinais para processar números e símbolos. Portanto, são constituídos de elementos que só podem assumir um dos dois estados possíveis, semelhante a um interruptor elétrico que esteja aberto, ou fechado. Uma das suas principais características é a capacidade de armazenar grandes quantidades de informações. O sinal binário corresponde ao sinal de um parâmetro com apenas dois domínios de valores: 0 e 1. Nos dias atuais, quase só encontramos computadores digitais. Há, entretanto, os que têm as propriedades das duas categorias: são os computadores híbridos. � Os aspectos mais notáveis do computador são: a - a capacidade de memória; a velocidade de atuação; b - a execução de certas tarefas mentais mais rápidas e perfeitas que o homem; c - substituir o homem no controle de certos processos industriais cujas tarefas físicas são enfadonhas, repetitivas e até perigosas; d - a sua produção é constante e previsível; e - pode controlar grande variedade de tarefas, sem “adoecer ou cansar”; e f - são poucos os seus erros. Por volta de 1955, surgiu o transistor. Esse novo componente eletrônico veio substituir à válvula eletrônica com grandes vantagens . Você sabia? � Que o transistor foi fruto de pesquisa desenvolvida no Laboratório da Bell, a partir de 1948, por uma equipe formada por John Bardee, Walter Brattain e William Schockley, os quais ganharam o Prêmio Nobel de Física, em 1956. Seu advento marcou o início da segunda geração de computadores. O transistor trouxe a redução do tamanho dos circuitos eletrônicos digitais, permitindo que fossem construídos computadores de menor tamanho sob o ponto de vista físico. As pesquisas desenvolvidas em torno do transistor levou o aparecimento do circuito integrado (conhecido como chip), nome dado aocomponente eletrônico resultante da montagem de um conjunto de diversos transistores interligados, de acordo com um plano definido, em uma única pastilha de silício. 23 Você sabia? � O Chip ou CI surgiu quando, através de processos de “contaminação” de cristais de silício, foi possível obter dispositivos capazes de produzir efeitos elétricos semelhantes àqueles obtidos com transistores. É uma pequena pastilha de silício na qual está montado um circuito eletrônico digital. � O silício é o elemento químico, metalóide, com número atômico 14 e massa atômica 28,09. � O Circuito Eletrônico Digital é um conjunto de transistores interligados de acordo com um projeto lógico preestabelecido (portas lógicas). Fig. 1.10 – O chip e o circuito eletrônico de portas lógicas. A resposta para os problemas que estamos vivendo com o advento da automação, certamente há de vir daqueles que detêm em suas mãos o conhecimento tecnológico e o poder de tomada de decisão. No entanto, é necessário que essas pessoas se dediquem a um estudo profundo dos benefícios e males causados pela introdução de novas tecnologias. OBSERVAÇÃO IMPORTANTE! A evolução da tecnologia da produção pode ser dividida em três estágios, a saber: � 1º estágio - MECANIZAÇÃO SIMPLES seria aquele em que dispositivos mecânicos simples, tais como a alavanca, roldanas, etc. auxiliam o ser humano em seu esforço físico pela multiplicação de esforços; � 2º estágio – MECANIZAÇÃO PRÓPRIAMENTE DITA é a substituição do esforço físico do ser humano pela máquina, permanecendo os comandos a cargo do ser humano; � 3º estágio – AUTOMAÇÃO é aquele em que os esforços físico e mental do ser humano são substituídos pela máquina. A tomada de dados, a análise, decisão e ação são executados pela máquina, dispensando a presença do ser humano. No quadro a seguir, faz-se um resumo dos fatos mais interessantes com relação à revolução da energia motora e com a revolução da informação. Nota-se que, nos últimos tempos, a evolução tecnológica tem sido mais aplicada no processamento da informação, ou melhor, nos meios de comunicação. 24 DESENVOLVIMENTO DA ENERGIA MOTORA DESENVOLVIMENTO DA INFORMÁTICA AVANÇO DA TECNOLOGIA ♦ (229 ANOS) - Máquina de Newcome (1708) - Máquina de James Watt (1775) - Ferrovia (1829) - Automóvel FORD (1909) - Avião a Jato (1937) ♦ (36 ANOS) - Computador da 1ª geração (1946). - Computador da 2ª geração (1956). - Computador da 3ª geração (1965). - Microprocessador (1973). - Computador da 4ª geração (1982). DIFUSÃO DE MÁQUINAS E SISTEMAS - 1.500 Máquinas a vapor, de 1708 a 1800 (92 anos) - 1.000 Máquinas industriais de fiar, de 1784 a 1833 (49 anos) - 30 mil Computadores de 1946 a 1966 (20 anos). DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL - Construção da Ferrovia Transcontinental Americana, de 1828 a 1859 (41 anos). - Estabelecimento das Indús- trias de Manufatura, de 1708 a 1909 (201 anos). - Processamento de dados para Gestão de Empresas, de 1946 a 1955 (9 anos). - Formação da Rede Nacional de Informação Americana, de 1965 a 1972 (7 anos). - Estabelecimento das indústrias de Informação, de 1946 a 1990 (44 anos). DESENVOLVIMENTO SOCIAL - Sociedade de consumo, de 1708 a 1930 (222 anos). - Sociedade do conhecimento, de 1946 a 2010 ? (64 anos). TABELA 1 – Comparação entre o desenvolvimento da energia motora e da informática. 25
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