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Plantas medicinais APRESENTAÇÃO Ultimamente, o Brasil tem valorizado mais a sua rica flora como importante fonte de novas moléculas com atividade biológica e medicamentos fitoterápicos; afinal, boa parte da população de baixa renda ainda depende da medicina tradicional como única forma de acesso aos cuidados básicos de saúde, inclusive das práticas complementares e alternativas disponíveis no Sistema Único de Saúde. Além disso, também é possível observar maior consumo de plantas medicinais e fitoterápicos entre a população brasileira, cada vez mais preocupada com a própria saúde e bem informada sobre os riscos decorrentes do uso crônico de fármacos sintéticos convencionais, inclusive dos seus elevados custos de aquisição. Nesta Unidade de Aprendizagem, você vai aprender sobre o importante papel do profissional de saúde na utilização de fitoterápicos, o potencial do Brasil para o uso de plantas medicinais e as principais políticas públicas e programas a respeito de práticas tradicionais, integrativas e complementares. Bons estudos. Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Explicar a Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares do Ministério da Saúde. • Relacionar aspectos fitoquímicos e terapêuticos na utilização de plantas medicinais.• Reconhecer as melhores abordagens no preparo de plantas medicinais no âmbito farmacêutico. • DESAFIO Durante o decorrer da história da humanidade, é possível observar que o homem sempre fez uso de recursos naturais, como as plantas, por exemplo, para atender às suas necessidades básicas de sobrevivência e qualidade de vida, seja como alimento, seja para o preparo de remédios caseiros para a prevenção e o tratamento de doenças. Muitos desses conhecimentos práticos adquiridos ao longo dos anos sobre o uso de plantas com propriedades medicinais passaram de uma geração para outra e atualmente continuam válidos, inclusive servindo de base para a pesquisa e o desenvolvimento de novos medicamentos e uma série de outros produtos médicos e farmacêuticos. Estudos revelam que cerca de 60% dos medicamentos quimioterápicos são derivados de plantas medicinais, movimentando cerca de 50 bilhões de dólares por ano. Além disso, aproximadamente 30% de todos os medicamentos disponíveis no mercado atualmente derivam (direta ou indiretamente) de alguma erva medicinal. Atualmente, as plantas medicinais, os fitoterápicos e outros produtos naturais isolados representam um mercado de bilhões de dólares. Apenas em 2008, os fitoterápicos movimentaram US$ 21 bilhões em todo o mundo. No Brasil, os fitoterápicos movimentam cerca de US$ 400 milhões por ano. Como se sabe, o Brasil apresenta, em seu território, quase um terço da flora mundial; inclusive, a Amazônia comporta a maior reserva de produtos naturais com ação fitoterápica do planeta. Por isso, a facilidade em adquirir plantas medicinais com potencial terapêutico e a forte tradição no uso de plantas medicinais são fatores que favorecem o desenvolvimento da fitoterapia no País. Tudo isso contribui para que uma mesma planta medicinal seja usada em formulações caseiras e de fácil preparação para o tratamento alternativo de diferentes enfermidades, suprindo, inclusive, a falta de acesso a medicamentos convencionais na maioria dos serviços básicos de saúde pública. Porém, apesar de as plantas medicinais e os fitoterápicos serem uma opção vantajosa, é importante lembrar que também requerem uma série de cuidados, principalmente com relação à automedicação, já que muitos dos seus usuários desconhecem os diversos problemas decorrentes do uso incorreto e irracional dessas plantas, como possíveis efeitos adversos e as interações medicamentosas. Assim, é fundamental que o farmacêutico comunitário possa orientar os usuários sobre o uso correto e racional de plantas medicinais e fitoterápicos, sem a perda de efetividade dos seus compostos bioativos (princípios ativos) e sem o risco de intoxicação por uso inadequado, seja por sobredosagens, seja por interações com outros medicamentos ou alimentos, por exemplo. Em geral, 75% das pessoas que usam fitoterápicos ou suplementos alimentares deixam de compartilhar essa informação com seus médicos. Diante de tais circunstâncias, responda de acordo com a análise de cada paciente: a) Você pode atender esse paciente ou deve encaminhá-lo para outro setor de atendimento? Justifique. b) Você pode indicar algum medicamento à base de alguma planta medicinal? Em caso positivo, indique a norma oficial que regulamenta essa atividade. c) Qual planta medicinal que poderia ser indicada para o paciente? Indique a forma caseira de preparo e a posologia correta. INFOGRÁFICO Embora as plantas medicinais e os fitoterápicos sejam excelentes opções, inclusive para a população mais carente e com dificuldade de acesso a serviços de saúde, deve-se ter em mente que tais medicamentes também requerem uma série de cuidados, principalmente com relação à automedicação e aos possíveis efeitos adversos e às interações medicamentosas. Neste Infográfico, você revisará os principais pontos sobre a assistência farmacêutica com relação à indicação e à dispensação de plantas medicinais. CONTEÚDO DO LIVRO É possível observar que, nos últimos anos, o consumo de plantas e fitoterápicos tem aumentado consideravelmente entre boa parte da população, que está cada vez mais preocupada com a própria saúde e bem informada sobre os riscos decorrentes do uso crônico de fármacos sintéticos e os seus elevados custos de aquisição. Nesse sentido, a adoção de práticas de saúde não convencionais, como o uso de plantas medicinais e fitoterápicos, pode ser extremamente útil para complementar as terapias medicamentosas alopáticas no Sistema Único de Saúde (SUS) do Brasil e melhorar o atendimento primário à saúde, especialmente para a população de menor renda. No capítulo Plantas medicinais, da obra Farmacognosia aplicada, base teórica desta Unidade de Aprendizagem, você vai conhecer mais sobre o importante papel do farmacêutico comunitário na utilização de fitoterápicos e o potencial do Brasil para o uso de plantas medicinais, bem como as políticas e os programas brasileiros a respeito de práticas tradicionais, integrativas e complementares. Boa leitura. FARMACOGNOSIA APLICADA João Fhilype Andrade Souto Maior Plantas medicinais Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Explicar a Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares do Ministério da Saúde. � Relacionar aspectos fitoquímicos e terapêuticos na utilização de plantas medicinais. � Reconhecer as melhores abordagens no preparo de plantas medicinais no âmbito farmacêutico. Introdução Atualmente, as práticas de saúde não convencionais, principalmente o uso de plantas medicinais e fitoterápicos, estão ganhando novos adeptos e se desenvolvendo constantemente. Isso pode ser útil para comple- mentar as terapias medicamentosas alopáticas, além de ser uma forma extremamente eficaz e alternativa de atendimento primário à saúde, especialmente para a população de menor renda. A demanda cada vez maior por tratamentos alternativos está relacio- nada à percepção das limitações da medicina convencional, ao aumento das doenças iatrogênicas e crônicas, ao enfraquecimento da relação médico-paciente e à busca por atenção integral à saúde, além das ques- tões financeira e de inclusão social relacionadas a essas terapias. Nesse sentido, o uso de plantas medicinais e fitoterápicos, que compreendem um conjunto de sistemas, procedimentos e produtos de uso clínico, foi institucionalizado no Sistema Único de Saúde (SUS) do Brasil por meio da Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares e da Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos. Neste capítulo você vai estudar o importante papel do profissionalde saúde na utilização de fitoterápicos e o potencial do Brasil para o uso de plantas medicinais. Também vai ler sobre as políticas e os programas bra- sileiros a respeito de práticas tradicionais, integrativas e complementares. 1 Breve história das plantas medicinais Desde a pré-história o homem sempre fez uso de produtos naturais, princi- palmente de origem vegetal, seja para atender as suas necessidades básicas de sobrevivência e qualidade de vida (como alimentação, por exemplo), seja para o preparo de fórmulas caseiras para a prevenção e o tratamento de diversas doenças. Ao longo do tempo, muitos dos conhecimentos empíricos adquiridos sobre o uso de plantas com propriedades terapêuticas (medicinais) passaram de uma geração para outra. Segundo Monteiro e Brandelli (2017) e Simões et al. (2017), esses conhecimentos continuam válidos até hoje, inclusive têm servido como base para a pesquisa e o desenvolvimento de novos medicamentos e/ou produtos médicos e farmacêuticos. Para você ter uma ideia da importância das plantas medicinais, aproximadamente 60% dos medicamentos quimioterápicos são derivados dessas plantas, movimentando cerca de 50 bilhões de dólares por ano. Além disso, aproximadamente 30% de todos os medicamentos disponíveis no mercado atualmente derivam (direta ou indiretamente) de ervas medicinais (SIMÕES et al., 2017; CECHINEL FILHO; YUNES, 1998). Pela grande biodiversidade da flora do Brasil, que comporta cerca de 20% de todas as espécies vegetais do planeta, o país se apresenta com enorme potencial para a pesquisa de novos fármacos úteis para o desenvolvimento de medicamentos de elevado valor econômico e social para a população. Inclusive, apenas 5% dessa rica flora (aproximadamente 55 mil espécies identificadas) foi investigada até o momento sob o ponto de vista fitoquímico e farmacológico (SIMÕES et al., 2017; CECHINEL FILHO; YUNES, 1998). Felizmente o Brasil voltou a valorizar sua flora como importante fonte de novas moléculas com atividade biológica e de medicamentos fitoterápicos. Em vários outros países do mundo as plantas medicinais e os fitoterápicos deixaram de ser tratados apenas como terapia alternativa para problemas de saúde. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (VEIGA JUNIOR; PINTO; MACIEL, 2005), em muitos países em desenvolvimento, incluindo o Brasil, cerca de 80% da população dependem da medicina tradicional como única forma de acesso aos cuidados básicos de saúde (NICOLETTI, 2007). Plantas medicinais2 Nos últimos anos o consumo de plantas e fitoterápicos tem aumentado consi- deravelmente entre boa parte da população, que está cada vez mais preocupada com a própria saúde e bem informada sobre os riscos decorrentes do uso crônico de fármacos sintéticos, além de seus elevados custos de aquisição. Uma com- binação de outros motivos fortalece o interesse pelo uso de plantas medicinais e fitoterápicos, como os listados a seguir (MONTEIRO; BRANDELLI, 2017): � a falta de acesso da população aos medicamentos sintéticos; � a crescente consciência ecológica e sustentável das pessoas; � a valorização de produtos naturais pelos meios de comunicação; � a crença de que o “natural” é saudável e inofensivo; � a ação terapêutica comprovada de muitas plantas medicinais; � a não necessidade de prescrição médica para o uso de muitas plantas e fitoterápicos. A medicina tradicional, segundo a OMS, “[...] compreende diversas práticas, enfoque, conhecimentos e crenças sanitárias que incluem plantas, animais e/ou medicamentos baseados em minerais, terapias espirituais, técnicas manuais e exercícios, aplicados individualmente ou em combinação para manter o bem-estar, além de tratar, diag- nosticar e prevenir as enfermidades” (BRASIL, 2016, documento on-line). Sabe-se que, no Brasil, bem como em outros países em desenvolvimento, a maior parte das práticas da medicina tradicional (cerca de 85%) envolve o uso de plantas ou de seus extratos. 2 Conceito e aspectos gerais das plantas medicinais Plantas medicinais são espécies vegetais, cultivadas ou não, utilizadas com propósitos terapêuticos. Elas podem ser usadas logo após a sua colheita — plantas frescas — ou após processo de secagem e estabilização — plantas secas. Segundo a OMS, planta medicinal é “[...] todo e qualquer vegetal que possui, em um ou mais órgãos, substâncias que podem ser utilizadas com fins terapêuticos (prevenir, aliviar, curar ou modificar um processo fisiológico normal ou patológico), ou como fonte de fármacos ou de seus precursores” (MONTEIRO; BRANDELLI, 2017, documento on-line). 3Plantas medicinais De modo geral, podemos dizer que as plantas medicinais têm tradição, já que são usadas como remédio entre determinada população ou comunidade. No entanto, para utilizar uma planta, é necessário conhecê-la, saber onde colhê-la e como prepará-la, e ter, inclusive, informações sobre sistemas de manejo (cultivo). A aplicação apropriada dos princípios ativos de uma planta exige conhecimentos específicos sobre o seu modo de preparo para garantir a eficácia, segurança, reprodutibilidade e constância de sua qualidade. De acordo com Monteiro e Brandelli (2017), para cada parte da planta a ser usada, para cada classe de molécula bioativa a ser extraída e para cada doença a ser tratada, existe uma forma de preparo e de uso corretas. Um método de preparo que utiliza calor em excesso pode reduzir ou eliminar o efeito terapêutico de uma planta devido à degradação de substâncias termossensíveis, o que é muito comum quando folhas ou flores são submetidas ao calor excessivo. Já a utilização de métodos menos agressivos pode não extrair de modo eficaz os compostos de interesse terapêutico presentes em determinada planta (CORRER; OTUKI, 2013; CECHINEL FILHO; YUNES, 1998). Entre os principais métodos de extração de princípios ativos de plantas medicinais, podemos citar os seguintes (CORRER; OTUKI, 2013): � Maceração: consiste no contato da droga vegetal com água, em tem- peratura ambiente, por tempo determinado para cada planta. � Infusão: consiste em verter água fervente sobre a droga vegetal e, em seguida, tampar o recipiente por um tempo determinado. Esse método é indicado para partes das plantas de consistência menos rígida (folhas, flores, inflorescências e frutos). � Decocção: preparação que consiste na ebulição da droga vegetal em água potável por tempo determinado. Esse método é indicado para partes das plantas com consistência rígida (cascas, raízes, rizomas, caules, sementes e folhas coriáceas). Plantas medicinais4 Após o preparo, a indicação terapêutica da planta medicinal definirá a forma de utilização do medicamento. Por exemplo, a Malva sylvestris pode ser usada para o tratamento de disfunções na pele e, nesse caso, deve ser administrada de maneira tópica, em forma de compressa. Por outro lado, uma infusão dessa mesma erva por via oral pode ser usada para o tratamento de afecções respiratórias (CORRER; OTUKI, 2013). Entre as formas de administração caseiras mais comuns de plantas medi- cinais (in natura, trituradas ou pulverizadas) temos as seguintes (CORRER; OTUKI, 2013): � Banho de assento: imersão em água morna, na posição sentada, co- brindo apenas as nádegas e o quadril, geralmente em bacia ou em louça sanitária adequada. � Compressa: forma de tratamento que consiste em colocar sobre o local lesionado um pano ou gaze umedecida com um infuso ou decocto, frio ou aquecido, dependendo da indicação de uso. � Gargarejo: agitação de infuso, decocto ou maceração na garganta pelo ar que se expele da laringe. Após o procedimento o líquido deve ser descartado. � Inalação: administração de produto pela inspiração (nasal ou oral) de vapores pelo trato respiratório. Também existem formas de administração de plantas medicinais um pouco mais elaboradas, como extratos brutos, extratos padronizados, extratos fluidos, óleos, ceras, tinturas, comprimidos, cápsulas, entre outras (MONTEIRO; BRANDELLI, 2017).As plantas medicinais também podem ser submetidas a diversos outros processos mais precisos de extração e purificação para isolar moléculas bio- ativas de interesse terapêutico. As moléculas assim obtidas podem ser utili- zadas como fármacos e, nesse caso, podem ser chamadas de fitofármacos (MONTEIRO; BRANDELLI, 2017; CECHINEL FILHO; YUNES, 1998). A Figura 1 mostra exemplos de processos de extração e purificação e os produtos obtidos conforme o processo. 5Plantas medicinais Figura 1. Processos de extração e purificação e os produtos obtidos a partir de uma planta medicinal. Fonte: Adaptada de Monteiro e Brandelli (2017). Plantas medicinais Planta in natura Extrato total Extrato puri�cado Princípio ativo isolado Fitocomplexo Puri�cação Semissíntese Remédio �toterápico Medicamento �toterápico Medicamento químico As plantas medicinais não podem ser consideradas fitoterápicos. O fitoterápico é um medicamento vegetal, resultado da industrialização de uma planta medicinal. A principal diferença entre planta medicinal e fitoterápico consiste no processamento da planta para uma formulação específica, o que caracteriza um fitoterápico. Além disso, os fitoterápicos industrializados devem ser registrados na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) antes de serem comercializados (MONTEIRO; BRANDELLI, 2017; NICOLETTI, 2007). Medicamento fitoterápico, de acordo com a Anvisa, pode ser definido como: […] medicamento obtido empregando-se exclusivamente matérias- -primas ativas vegetais. É caracterizado pelo conhecimento da eficácia e dos riscos de seu uso, assim como pela reprodutibilidade e constância de sua qualidade. Sua eficácia e segurança é validada através de levanta- mentos etnofarmacológicos de utilização, documentação tecnocientífica em publicações ou ensaios clínicos fase 3. Não se considera medicamento fitoterápico aquele que, na sua composição, inclua substâncias ativas isoladas, de qualquer origem, nem as associações destas com extratos vegetais (BRASIL, 2004, documento on-line). Plantas medicinais6 Nesse sentido, a fitoterapia se caracterizada pela utilização de plantas medicinais em suas diferentes preparações farmacêuticas, porém sem o uso de substâncias ativas isoladas, ainda que de origem vegetal. Ainda segundo a Anvisa, não podem ser considerados fitoterápicos os seguintes produtos (BRASIL, 2014): � Chás: no Brasil são considerados como alimentos. � Medicamentos homeopáticos: são produzidos de forma diferente dos fitoterápicos e têm princípios ativos de vegetais, animais e minerais. � Partes de plantas medicinais: podem ser comercializadas em farmácias e ervanárias, porém não devem apresentar indicações terapêuticas. 3 Fitoterapia no Brasil e no mundo No cenário mundial, temos a Alemanha como o primeiro e maior incentivador das terapias naturais, principalmente da fitoterapia. Nesse país, os produtos florais chegam a corresponder a cerca de 40% das prescrições. Outros países como França, Bélgica, Suécia, Suíça, Japão e Estados Unidos também adotam a fitoterapia de forma expressiva e contribuem com muitos estudos científicos nessa área. E, claro, vale lembrar da China, que é a campeã na utilização de medicamentos naturais — sua população apenas recorre a medicamentos alo- páticos quando não se encontra um substituto na flora chinesa (MONTEIRO; BRANDELLI, 2017). As plantas medicinais, as preparações fitofarmacêuticas e os produtos naturais isolados representam um mercado que movimenta bilhões de dólares. Apenas em 2008, os fitoterápicos movimentaram US$ 21 bilhões ao redor do mundo. No Brasil, os fitoterápicos movimentam cerca de US$ 400 milhões por ano, o que corresponde em torno de 6,7% das vendas de medicamentos no país (MONTEIRO; BRANDELLI, 2017). Como sabemos, o Brasil merece destaque nesse setor, já que tem em seu território quase um terço da flora mundial — inclusive a Amazônia comporta a maior reserva de produtos naturais com ação fitoterápica do planeta. Por isso, a facilidade em adquirir plantas medicinais com potencial terapêutico e a compatibilidade cultural são fatores importantes que favorecem o desen- volvimento da fitoterapia em nosso país (MONTEIRO; BRANDELLI, 2017; SIMÕES et al., 2017). 7Plantas medicinais Além disso, a diversidade étnica, cultural e socioeconômica contribui para que o Brasil tenha uma forte tradição no uso de plantas medicinais com conhecimento associado. Isso permite que uma mesma planta seja usada em formulações caseiras e de fácil preparação para o tratamento alternativo de diferentes enfermidades, suprindo até mesmo a falta de acesso a medicamentos convencionais na maioria dos serviços básicos de saúde pública (MONTEIRO; BRANDELLI, 2017). Como os fitoterápicos são uma alternativa para a obtenção de medicamentos mais acessíveis e mais baratos do que os medicamentos de origem sintética para boa parte da população brasileira, o Ministério da Saúde organizou uma lista com 71 plantas medicinais que podem ser usadas como medicamento pelo SUS. Essas plantas têm poderosos princípios ativos, que, nas dosagens certas, podem ser tão ou mais eficazes e menos agressivos ao organismo do que os demais medicamentos industrializa- dos, além da vantagem de muitas serem isentas de prescrição médica (MONTEIRO; BRANDELLI, 2017). Apesar de as plantas medicinais e os fitoterápicos serem uma opção van- tajosa, é importante lembrar que também devem ser tratados como os de- mais produtos farmacêuticos. Dessa forma merecem uma série de cuidados, principalmente com relação à automedicação, já que muitos dos usuários desconhecem os diversos problemas decorrentes do uso incorreto e irracional dessas plantas, como possíveis efeitos adversos e as interações medicamentosas (MONTEIRO; BRANDELLI, 2017; NICOLETTI, 2007). Tendo isso em vista, é fundamental planejar uma assistência à saúde que leve em conta os fatores culturais que envolvem a população e a utilização dos recursos fitoterápicos. Tal assistência, no entanto, apenas terá impacto na melhoria da saúde e da qualidade de vida da população quando os profissionais de saúde estiverem munidos com informações básicas sobre plantas medicinais e fitoterápicos, como as seguintes (MONTEIRO; BRANDELLI, 2017): � propriedades terapêuticas de plantas que são usadas localmente; � conhecimento técnico para a preparação de fitoterápicos; � conhecimento sobre as indicações, os cuidados e as dosagens; � experiência sobre a percepção da relação saúde-doença. Plantas medicinais8 A automedicação é uma prática comum e observada não só no Brasil como em vários outros países do mundo. Ela corresponde à situação em que o usuário obtém ou produz e utiliza, por conta própria, certos medicamentos que acredita que serão benéficos para o tratamento de suas doenças ou alívio de sintomas, sem qualquer forma de intervenção médica, seja no diagnóstico da doença, seja na prescrição do medicamento ou no acompanhamento da terapia. A automedicação também pode ser efetuada com o uso de medicamentos isentos (ou não) de prescrição, o que inclui medicamentos que sobraram de tratamentos prévios ou medicamentos de outras pessoas, como familiares ou membros do círculo social (CORRER; OTUKI, 2013). Assim, é de fundamental importância que o farmacêutico comunitário possa orientar os usuários sobre o uso correto e racional de plantas medici- nais e fitoterápicos, sem a perda de efetividade dos seus compostos bioativos (princípios ativos) e sem o risco de intoxicação por uso inadequado, seja por sobredosagens ou interações com outros medicamentos ou alimentos, por exemplo (MONTEIRO; BRANDELLI, 2017; CORRER; OTUKI, 2013). Também é importante ressaltar que a indicação de fitoterápicos na medicina (com ou sem prescrição) não tem o propósito de substituir os medicamentos alopáticos já registrados e comercializados com eficácia e segurança com- provadas. Na verdade, o objetivo é enriquecer as opções terapêuticas dos profissionais de saúde, ofertandomedicamentos equivalentes, igualmente registrados e com eficácia comprovada, para as mesmas indicações terapêu- ticas e complementares às existentes (MONTEIRO; BRANDELLI, 2017; CORRER; OTUKI, 2013). 4 Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares As plantas medicinais ganharam mais espaço nas políticas públicas nacionais e internacionais a partir da criação do Programa de Medicina Tradicional pela OMS, nos anos 1970 (MONTEIRO; BRANDELLI, 2017). 9Plantas medicinais Segundo a OMS, medicinal tradicional (MT) corresponde ao: […] conjunto de conhecimentos, habilidades e práticas baseados em teorias, crenças e experiências indígenas de diferentes culturas, explicáveis ou não, utilizadas na manutenção da saúde, tão bem quanto em prevenções, diag- nósticos ou tratamentos de doenças físicas e mentais […] (MONTEIRO; BRANDELLI, 2017). Já a medicina complementar alternativa (MCA) compreende o: […] conjunto de práticas sanitárias de cuidado em saúde que não são tradicio- nalmente utilizadas ou não estão integradas ao sistema de saúde dominante do país. Em ambos os casos, a prevenção, o diagnóstico e o tratamento de enfermidades físicas e mentais são conduzidos com certa eficácia e legitimi- dade social (WHO, 2002, documento on-line). A MCA também pode ser denominada “medicina natural”, “medicina não convencional” e “medicina holística”, que adota uma visão da saúde como bem- -estar em sua forma ampla, envolvendo uma interação de diversos fatores físicos, sociais, mentais, emocionais e espirituais. O organismo humano é compreendido como um campo de energia, diferentemente da visão biomédica, que vê o corpo como um conjunto de partes (MONTEIRO; BRANDELLI, 2017; FIGUEREDO; GURGEL; GURGEL JUNIOR, 2014). Portanto, trata-se de uma visão integrativa e sistêmica, que exige uma terapia multidimensional e um esforço multidisciplinar no processo saúde-doença-cura. Assim, é uma “visão do todo”, na qual se enfatiza a integração dos cuidados (MONTEIRO; BRANDELLI, 2017). O Brasil tem avançado de forma significativa no que diz respeito ao uso de plantas medicinais e fitoterápicos. O país criou políticas públicas — a Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares e a Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos — que garantem o acesso e promovem o uso de plantas medicinais e fitoterápicos no seu sistema de saúde, o SUS. Isso se deve ao fato de que tais medicamentos são uma alternativa viável à população mais carente ou que reside fora das zonas urbanas, com acesso restrito aos centros de atendimento hospitalares, à obtenção de exames e aos medicamentos industrializados, mais caros (MONTEIRO; BRANDELLI, 2017; FIGUEREDO; GURGEL; GURGEL JUNIOR, 2014). Plantas medicinais10 A Portaria do Ministério da Saúde nº. 971, de 3 de maio de 2006, instituiu a Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC), que autoriza o uso de práticas de terapias da MT, da MT chinesa (MTC) e da medicina complementar (MC) no SUS, atendendo à demanda da OMS e da população brasileira, além de à necessidade de normatização dessas práticas na rede pública de saúde (MONTEIRO; BRANDELLI, 2017; FIGUEREDO; GURGEL; GURGEL JUNIOR, 2014). A OMS recomenda aos seus Estados-membros a elaboração de políticas nacionais voltadas à integração e à inserção da MT/MCA aos sistemas oficiais de saúde, com foco na atenção primária à saúde. A organização promove eventos e reuniões técnicas com os Estados-membros para formular documentos, discutir estratégias e promover a cooperação entre os países, visando ao desenvolvimento da MT. Na reunião técnica da OMS ocorrida em Genebra, Suíça, de 12 a 14 de junho de 2006, sobre o tema “Integração da MT aos sistemas nacionais de saúde”, o Brasil passou a fazer parte do grupo de países que têm políticas nacionais de MT/MCA, com a aprovação da PNPIC no SUS (MONTEIRO; BRANDELLI, 2017). A PNPIC traz diretrizes e ações para a inserção de serviços e produtos relacionados à MTC/acupuntura, homeopatia e plantas medicinais/fitoterapia, assim como de observatórios de saúde do termalismo social e da medicina antroposófica no SUS. Contempla, ainda, responsabilidades dos entes fe- derais, estaduais e municipais. Entre os objetivos da PNPIC, podemos citar os seguintes (MONTEIRO; BRANDELLI, 2017; FIGUEREDO; GURGEL; GURGEL JUNIOR, 2014): � contribuir para o aumento da resolubilidade no sus; � ampliar o acesso às práticas integrativas e complementares; � garantir qualidade, eficácia, eficiência e segurança no uso das práticas integrativas e complementares; � promover a racionalização das ações de saúde; � estimular o uso de alternativas inovadoras e socialmente contributivas ao desenvolvimento sustentável de comunidades. 11Plantas medicinais Para implementar as plantas medicinais e os fitoterápicos como instrumento de políticas, programas e projetos são necessárias ações intersetoriais que ul- trapassam o setor da saúde, já que envolvem a agricultura, o meio ambiente, o desenvolvimento agrário, a indústria e a ciência e tecnologia. Assim, durante as discussões para a formulação das diretrizes para plantas medicinais e fitoterapia no SUS inseridas na PNPIC, houve a necessidade de construção de uma política nacional que contemplasse o desenvolvimento de toda a cadeia produtiva de plantas medicinais e fitoterápicos, com todas as oportunidades que o Brasil oferece para o crescimento do setor, a rica biodiversidade do país e tecnologia para o desenvolvimento de medicamentos a partir da flora brasileira. Dessa forma, em 2006 foi criada a Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos (PNPMF), pelo Decreto da Presidência da República nº. 5.813, de 22 de junho de 2006, com diretrizes e ações para toda a cadeia produtiva de plantas medicinais e fitoterápicos, cujos objetivos principais são os seguintes (MONTEIRO; BRANDELLI, 2017; FIGUEREDO; GURGEL; GURGEL JUNIOR, 2014): � garantir à população brasileira o acesso seguro e o uso racional de plantas medicinais e fitoterápicos; � promover o uso sustentável da biodiversidade; � promover o desenvolvimento da cadeia produtiva e da indústria nacional. Já os objetivos específicos da PNPMF podem ser listados desta maneira (MONTEIRO; BRANDELLI, 2017; FIGUEREDO; GURGEL; GURGEL JUNIOR, 2014): � ampliar as opções terapêuticas aos usuários, com garantia de acesso a plantas medicinais, fitoterápicos e serviços relacionados à fitoterapia, com segurança, eficácia e qualidade, na perspectiva da integralidade da atenção à saúde, considerando o conhecimento tradicional sobre plantas medicinais; � construir o marco regulatório para produção, distribuição e uso de plantas medicinais e fitoterápicos a partir dos modelos e experiências existentes no brasil e em outros países; � promover pesquisa e desenvolvimento de tecnologias e inovações em plantas medicinais e fitoterápicos nas diversas fases da cadeia produtiva; � promover o desenvolvimento sustentável das cadeias produtivas de plantas medicinais e fitoterápicos e o fortalecimento da indústria far- macêutica nacional nesse campo; Plantas medicinais12 � promover o uso sustentável da biodiversidade e a repartição dos benefí- cios decorrentes do acesso aos recursos genéticos de plantas medicinais e ao conhecimento tradicional associado. Também foi criado um Programa Nacional de Plantas Medicinais e Fito- terápicos, aprovado por meio da Portaria Interministerial nº. 2.960, de 9 de dezembro de 2008. A mesma portaria criou o Comitê Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos, com representantes de órgãos governamentais e não governamentais de todos os biomas brasileiros. O Programa Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos, em conformi- dade com as diretrizes da PNPMF e da PNPIC, abrange toda a cadeia produtiva, cujo objetivo envolve os seguintes aspectos (MONTEIRO; BRANDELLI, 2017; FIGUEREDO; GURGEL; GURGEL JUNIOR, 2014): � respeitar os princípios de segurança e eficácia na saúde pública;� conciliar desenvolvimento socioeconômico e conservação ambiental, tanto no âmbito local quanto em escala nacional; � respeitar as diversidades e particularidades regionais e ambientais. Com relação à inserção das plantas medicinais e fitoterápicos e ao desen- volvimento do serviço no SUS, atualmente, merecem destaque as seguintes ações (MONTEIRO; BRANDELLI, 2017; FIGUEREDO; GURGEL; GURGEL JUNIOR, 2014): � estruturar e fortalecer a atenção em fitoterapia, a participação e a cor- responsabilização com as equipes de saúde da família, com ênfase na atenção básica, por meio de ações de prevenção de doenças e de promoção e recuperação da saúde; � estabelecer critérios técnicos para o uso de plantas medicinais e fito- terápicos, em todos os níveis de complexidade, para garantir a oferta de serviços seguros, efetivos e de qualidade; � apoiar técnica ou financeiramente projetos de qualificação de profissio- nais que atuem na área de informação, comunicação e educação popular; na estratégia de saúde da família; e como agentes comunitários de saúde. � estabelecer intercâmbio técnico-científico e cooperação técnica, visando ao conhecimento e à troca de informações decorrentes das experiên- cias no campo de atenção à saúde, formação, educação permanente e pesquisa, com unidades federativas e países onde a fitoterapia esteja integrada ao serviço público de saúde. 13Plantas medicinais Desde a criação da PNPMF, em 2006, muitas estados e municípios brasileiros criaram políticas locais para a sua implementação. Além disso, diversos serviços de saúde passaram a oferecer esse tipo de tratamento, e o número de profissionais que utilizam a fitoterapia no tratamento de seus pacientes tem aumentado por meio desse incentivo (MONTEIRO; BRANDELLI, 2017; FIGUEREDO; GURGEL; GURGEL JUNIOR, 2014). A fitoterapia tem sido inserida em muitos cursos de graduação da área da saúde, inclusive alguns programas de pós-graduação já têm linhas de pesquisa sobre plantas medicinais. Contudo, esse crescimento ainda não é suficiente para torná-la uma prática frequente nos serviços de saúde. Além disso, segundo Monteiro e Brandelli (2017) e Figueredo, Gurgel e Gurgel Junior (2014), várias dificuldades impedem que o potencial da fitoterapia como tratamento alter- nativo e complementar seja explorado, o que seria um benefício e um grande avanço para a saúde da população, para o SUS e para o Brasil. A implementação da fitoterapia no SUS representa, além de mais uma alternativa terapêutica à disposição dos profissionais de saúde, o resgate de práticas milenares, em que o conhecimento científico e o conhecimento popular se complementam, assim como seus diferentes entendimentos sobre a doença e suas formas de tratá-la (MONTEIRO; BRANDELLI, 2017; FIGUEREDO; GURGEL; GURGEL JUNIOR, 2014). BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Medicamentos fitoterápicos. 2014. Disponível em: http://portal.anvisa.gov.br/resultado-de-busca?p_p_id=101&p_p_ lifecycle=0&p_p_state=maximized&p_p_mode=view&p_p_col_id=column- -1&p_p_col_count=1&_101_struts_action=%2Fasset_publisher%2Fview_con- tent&_101_assetEntryId=352238&_101_type=content&_101_groupId=33836&_101_ urlTitle=medicamentos-fitoterapicos&inheritRedirect=true. Acesso em: 16 abr. 2020. BRASIL. Política e programa nacional de plantas medicinais e fitoterápicos. Brasília: Minis- tério da Saúde, 2016. (E-book). Plantas medicinais14 Os links para sites da web fornecidos neste capítulo foram todos testados, e seu fun- cionamento foi comprovado no momento da publicação do material. No entanto, a rede é extremamente dinâmica; suas páginas estão constantemente mudando de local e conteúdo. Assim, os editores declaram não ter qualquer responsabilidade sobre qualidade, precisão ou integralidade das informações referidas em tais links. BRASIL. Resolução-RDC nº. 48 de 16 de março de 2004. Dispõe sobre o registro de medicamentos fitoterápicos. Diário Oficial da União, Brasília, 18 mar. 2004. Disponível em: https://www.arca.fiocruz.br/bitstream/icict/19131/2/11.pdf. Acesso em: 16 abr. 2020. CECHINEL FILHO, V.; YUNES, R. A. Estratégias para a obtenção de compostos farmacolo- gicamente ativos a partir de plantas medicinais: conceitos sobre modificação estrutural para otimização da atividade. Química Nova, v. 21, nº. 1, p. 99–105, 1998. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-40421998000100015. Acesso em: 16 abr. 2020. CORRER, C. J.; OTUKI, M. F. A prática farmacêutica na farmácia comunitária. Porto Alegre, Artmed, 2013. FIGUEREDO, C. A.; GURGEL, I. G. D.; GURGEL JUNIOR, G. D. A política nacional de plantas medicinais e fitoterápicos: construção, perspectivas e desafios. Physis: Revista de Saúde Coletiva, v. 24, nº. 2, p. 381–400, 2014. MONTEIRO, S. da C.; BRANDELLI, C. L. C. Farmacobotânica: aspectos teóricos e aplicação. Porto Alegre, Artmed, 2017. (E-book). NICOLETTI, M. A. et al. Principais interações no uso de medicamentos fitoterápicos. Infarma, v. 19, nº. 1/2, p. 32–40, 2007. Disponível: http://www.revistas.cff.org.br/?jou rnal=infarma&page=article&op=download&path%5B%5D=222&path%5B%5D=210. Acesso em: 16 abr. 2020. SIMÕES, C. M. O. et. al. Farmacognosia: do produto natural ao medicamento. Porto Alegre: Artmed, 2017. VEIGA JUNIOR, V. F.; PINTO, A. C.; MACIEL, M. A. M. et al. Plantas Medicinais: cura segura? Química Nova, v. 28, nº. 3, p. 519–528, maio/jun. 2005. Disponível em: http://www. scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-40422005000300026. Acesso em: 16 abr. 2020. WHO. Traditional medicine strategy 2002 – 2005. 2002. Disponível em: http://whqlibdoc. who.int/hq/2002/WHO_EDM_TRM_2002.1.pdf. Acesso em: 10 jan. 2003. 15Plantas medicinais DICA DO PROFESSOR Como se sabe, o Brasil é um país dotado de biodiversidade extremamente rica, comportando cerca de 20% de todas as espécies vegetais do planeta. Além disso, a diversidade cultural e econômica da população contribui para que o Brasil tenha forte tradição no uso de plantas medicinais com valioso conhecimento associado. Porém, é preciso lembrar que as plantas medicinais e os fitoterápicos requerem uma série de cuidados, principalmente com relação à sua falsificação, ao desvio de qualidade e à automedicação. Nesse sentido, visando à maior segurança e ao maior controle na utilização de medicamentos fitoterápicos, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) dispõe de várias Resoluções (RDCs), cujas definições e termos técnicos devem ser bem compreendidos por todos os profissionais da saúde. Na Dica do Professor, conheça algumas definições importantes e fundamentais para a correta implementação de diretrizes presentes na Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! EXERCÍCIOS 1) As plantas medicinais são uma alternativa para a obtenção de medicamentos mais acessíveis e mais baratos que aqueles de origem sintética para boa parte da população brasileira. Tais plantas contêm compostos bioativos que, nas dosagens certas, podem ser tão eficazes e menos agressivos ao organismo que os demais medicamentos, além da vantagem de muitas serem isentas de prescrição médica. Assim, de acordo com a Anvisa, indique a expressão a seguir que melhor define uma planta medicinal após os processos de coleta, estabilização e secagem. A) Planta fresca. B) Derivado de droga vegetal. C) Fruto in natura. D) Fitoterápico. E) Droga vegetal. 2) Sabe-se que a aplicação correta dos princípios ativos de uma planta medicinal exige conhecimento sobre o seu modo de preparo para garantir a eficácia, a segurança, a reprodutibilidade e a constância de sua qualidade. Contudo, após o preparo, será a indicação terapêutica da planta medicinal que vai determinar a sua forma de utilização. Assim, para uma planta indicada para o tratamento de feridas na pele e outra indicada para inflamação da garganta, aponte, a seguir, a opção correta que correspondeàs respectivas formas de administração: A) Banho de assento e compressa. B) Compressa e gargarejo. C) Gargarejo e inalação. D) Compressa e tintura. E) Infusão e gargarejo. As plantas medicinais e os fitoterápicos são uma opção vantajosa para a população, porém devem ser tratados como os demais produtos farmacêuticos, já que muitos dos seus usuários desconhecem os diversos problemas decorrentes do uso incorreto e irracional dessas plantas, como possíveis efeitos adversos e interações medicamentosas. Sobre os problemas relacionados ao uso racional de medicamentos (URM) fitoterápicos e plantas medicinais, selecione V (verdadeiro) ou F (falso) e 3) escolha alternativa com a sequência correta: ( ) Pessoas idosas acreditam que a fitoterapia não traz nenhum prejuízo pelo fato de sua origem ser natural. ( ) Existe falta de conhecimento sobre o preparo e a utilização das plantas medicinais; por exemplo, o ideal é que folhas e flores sejam submetidas à decocção. ( ) Os profissionais de saúde costumam ter amplo conhecimento sobre fitoterápicos, porém a população não confia na indicação desses profissionais. ( ) A falta de integração entre diferentes áreas do conhecimento, como botânica, farmacologia e química, dificulta a obtenção de matérias-primas vegetais. A) V – F – F − V. B) V – V – F − F. C) F – V – V − F. D) F – F – V − V. E) V – F – V – F. 4) De acordo com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), fitoterápico pode ser definido como: “[...] medicamento obtido empregando-se exclusivamente matérias-primas ativas vegetais. É caracterizado pelo conhecimento da eficácia e dos riscos de seu uso, assim como pela reprodutibilidade e constância de sua qualidade. Não se considera medicamento fitoterápico aquele que, na sua composição, inclua substâncias ativas isoladas, de qualquer origem, nem as associações destas com extratos vegetais." Nesse sentido, assinale a alternativa que melhor representa um exemplo de fitoterápico: A) Cápsulas da planta medicinal. B) Chá da planta medicinal. C) Medicamento homeopático. D) Fruto da planta medicinal. E) Folhas da planta medicinal. 5) O Brasil tem avançado de forma significativa no que diz respeito ao uso de plantas medicinais e fitoterápicos, chegando a criar políticas públicas, como a Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC) e a Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos (PNPMF), que garantem o acesso às plantas medicinais e aos fitoterápicos e promovem seu uso no Sistema Único de Saúde. Com relação às políticas públicas e aos programas sobre medicina tradicional e medicina complementar alternativa, considere a alternativa correta: A) A portaria que aprovou a PNPIC também criou o Comitê Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos. B) A PNPIC traz diretrizes e ações para a inserção de serviços e produtos relacionados à homeopatia e a plantas medicinais/fitoterapia. C) As diretrizes e ações da Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos (PNPMF) se concentram no setor da saúde. D) A PNPMF tem como principal objetivo promover o desenvolvimento da cadeia produtiva e da indústria nacional. E) O Programa Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos tem como objetivo conciliar o desenvolvimento socioeconômico. NA PRÁTICA Um dos principais problemas relacionados ao uso de fitoterápicos e plantas medicinais é o hábito da automedicação, já que muitos pacientes, principalmente idosos, acreditam que essa terapia, por ser de origem natural, não traz qualquer malefício, como efeitos adversos ou interações medicamentosas. Além disso, é sabido que as plantas e os fitoterápicos apresentam diferentes formas de utilização, o que depende da espécie e da parte específica da planta que contém o princípio ativo de interesse. Outra dificuldade é o fato de que muitos medicamentos dessa classe são de venda livre e isentos de prescrição. Veja, Na Prática, outros graves problemas associados ao consumo de plantas medicinais e fitoterápicos que impedem o desenvolvimento desse mercado e a capacitação dos profissionais da saúde. SAIBA + Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor: Conheça e saiba usar 37 plantas medicinais Para conhecer mais sobre plantas medicinais e dicas preciosas sobre seu uso caseiro, acesse o guia ilustrado a seguir, que conta com mais de 30 espécies de ervas da nossa flora com excelentes propriedades terapêuticas. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino!
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