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ecnologia ec nica MATERIAL INSTRUCIONAL DISCIPLINA DE TECNOLOGIA MECÂNICA I Curso Técnico em Fabricação Mecânica IFRS-Campus Rio Grande Professor: Flávio Galdino Xavier 2022 APRESENTAÇÃO Prezado estudante, Bem-vindo a mais uma disciplina do Curso Técnico em Fabricação Mecânica do IFRS-Campus Rio Grande. Este material Instrucional pretende abordar os conteúdos definidos na ementa e referentes ao primeiro, segundo e terceiros bimestres conforme consta no plano de ensino da disciplina de Tecnologia Mecânica I da modalidade Integrado. As fontes básicas que formam o texto desse material, que visa facilitar a compreensão dos estudantes são as obras de Givanildo Alves dos Santos, - Tecnologia dos materiais metálicos, propriedades, estruturas e processos de obtenção, a de Éder Cícero Adão Simêncio - Materiais de construção mecânica e a de Laurence H. Van Vlack - Princípio de Ciência e Tecnologia dos Materiais, bibliografias essas referenciadas no Plano de Ensino da disciplina. Para que se possa obter sucesso, o estudante deve se dedicar de forma centrada nas atividades propostas e utilizar todos os recursos e ferramentas disponíveis interagindo, não só com o material disponibilizado, como também explorar suas dúvidas acessando o professor através do próprio Ambiente Virtual (Moodle) ou outro meio proposto e disponível para isso. Sendo o ensino um processo individual que necessita de orientação e apoio, além de esclarecimento e motivação. Cabe ao professor ser esse agente indutor do empenho, inspiração, dedicação e vontade própria para que os resultados sejam alcançados. Assim, desejo sucesso aos meus estudantes e que Deus permita que todas as dificuldades sejam superadas. Professor Flávio Galdino Xavier Março de 2022 2 PLANO DE ENSINO DA DISCIPLINA Modalidade de Ensino: ( X ) Integrado ( ) Subsequente ( ) PROEJA ( ) Superior Nome do Componente Curricular (Disciplina): TECNOLOGIA MECÂNICA I Código: 110183 Série/Semestre: 2a Série Turma(s): 2F Nome do professor responsável: FLÁVIO GALDINO XAVIER Ementa: Carga horária: 74 horas Classificação dos Materiais; Propriedades dos Materiais; Materiais Metálicos; Estrutura Cristalina dos Metais; Defeitos Cristalinos; Atomística dos metais; Estrutura atômica; Sólidos cristalinos; Difusão atômica; Transformações de fases; Princípios de solidificação dos metais; Transformações no estado sólido; Diagrama de fases; Sistema ferro-carbono; Diagrama de fases e desenvolvimento microestrutural; Elementos de liga; Fases Metaestáveis; Propriedades mecânicas dos materiais metálicos; Conceitos de tensão e deformação; Dureza; Materiais Metálicos Ferrosos; Materiais Metálicos não Ferrosos; Materiais não Metálicos; Materiais Compostos; Cerâmicas; Processos de Fabricação e de Usinagem; Conceitos da Técnica de Usinagem; Geometria da Cunha Cortante; Mecanismo da Formação do Cavaco; Forças e Potências de Corte; Materiais para Ferramentas; Avarias e Desgastes; Fluídos de Corte. Objetivos: Promover o desenvolvimento de competências (conhecimentos, habilidades e atitudes) necessárias para: Caracterizar os materiais, suas propriedades, insumos e componentes. Identificar os tipos de materiais; Descrever propriedades físicas e mecânicas dos materiais; Especificar materiais para determinadas aplicações; Conceituar os processos de fabricação e usinagem dos metais. Bimestre Programa 1 Classificação dos Materiais; Propriedades dos Materiais; Materiais Metálicos; Estrutura Cristalina dos Metais; Defeitos Cristalinos; Atomística dos metais; Estrutura atômica; Sólidos cristalinos; Difusão atômica; Transformações de fases; Princípios de solidificação dos metais; Transformações no estado sólido; Diagrama de fases. 2 Sistema ferro-carbono; Diagrama de fases e desenvolvimento microestrutural; Elementos de liga; Fases Metaestáveis; Aulas práticas no Laboratório de Ensaios Metalúrgicos. 3 Propriedades mecânicas dos materiais metálicos; Conceitos de tensão e deformação; Dureza; Materiais Metálicos Ferrosos; Materiais Metálicos não Ferrosos; Materiais não Metálicos; Materiais Compostos; Cerâmicas; Aulas práticas no Laboratório de Ensaios Metalúrgicos. 4 Processos de Fabricação e de Usinagem; Conceitos da Técnica de Usinagem; Geometria da Cunha Cortante; Mecanismo da Formação do Cavaco; Forças e Potências de Corte; Materiais para Ferramentas; Avarias e Desgastes; Fluídos de Corte. Metodologia: Desenvolvimento do conteúdo através de aulas interativas, expositivas, dialogadas e práticas com a participação dos alunos em termos investigativos, de caráter argumentativo utilizando como auxílio: projetor multimídia, computador, quadro negro, giz, material instrucional impresso e digitalizado, bem como equipamentos encontrados no Laboratório de Ensaios Metalúrgicos. Proposta de integração interdisciplinar: Desenvolvimento do conteúdo embasando sempre a importância da relação dos materiais com a Fabricação Mecânica, disciplina a ser desenvolvida no 3º ano e subsidiando a disciplina de Tecnologia II, também do 3º ano. Avaliação: A avaliação dar-se-á de forma contínua através da execução de atividades em aula (teóricas e práticas) e outra ao final de cada bimestre que em conjunto a uma avaliação qualitativa comporá a nota de cada bimestre. Bibliografia: CHIAVERINI, V. Tecnologia Mecânica. Vol. 1,2,3. São Paulo. 1986. CHIAVERINI, V. Estrutura e Propriedades: Processo de Fabricação. Associação Brasileira de Metais, São Paulo, 1977. FERRARESI, Dino. Fundamentos da Usinagem dos Metais. vol. I São Paulo, Edgar Blücher Ltda., 1970. FREIRE, J. M. Tecnologia Mecânica. vol. IV. Rio de Janeiro, Livros Técnicos Científicos, 1975. GUY, A. G. Ciências dos Materiais. Rio de Janeiro: LTC, São Paulo, 1980. MARQUE, P. V. Tecnologia da Soldagem - Belo Horizonte, “O LUTADOR”, 1991. PADILHA, Ângelo Fernando. Materiais de Engenharia. Hemus. São Paulo, 1997. TELECURSO 2000. Mecânica. Rio de janeiro. Editora Globo. 2000. WAINER- Wainer, E.; Brandi, S. D. & Mello, F. D. Soldagem, Processos e Metalurgia. Edgard Blücher Ltda, São Paulo, 1992. WALTER M.; GREIF H; KAUFMAN H. & VOSSEBÜRGERE F. Tecnologia dos Plásticos. Edgard Blucher Ltda. São Paulo, 1992. 3 SUMÁRIO INTRODUÇÃO............................................................................................ 5 1. CLASSIFICACÃO DOS MATERIAIS .......................................................... 7 2. PROPRIEDADES DOS MATERIAIS .......................................................... 11 2.1. Propriedades Mecânicas ............................................................................ 12 2.2. Propriedades Tecnológicas ........................................................................ 15 2.3. Propriedades Térmicas .............................................................................. 17 2.4. Propriedades Elétricas ............................................................................... 17 2.5. Propriedades Eletromagnéticas ................................................................. 18 2.6. Propriedades Físicas .................................................................................. 18 2.7. Propriedades Químicas .............................................................................. 18 2.8. Propriedades Ópticas ................................................................................. 19 3. MATERIAIS METÁLICOS E ESTRUTURA CRISTALINA DOS METAIS .. 20 3.1. Estrutura dos Materiais .............................................................................. 28 3.2. Estrutura Cristalina ..................................................................................... 29 3.2.1. Sistemas cristalinos ............................................................................... 32 3.2.2. Alotropia ou polimorfismo ....................................................................... 35 4. DEFEITOSCRISTALINOS E ATOMÍSTICA DOS METAIS ....................... 36 4.1. Defeitos Pontuais ....................................................................................... 37 4.1.1. Defeitos de lacunas ................................................................................ 38 4.1.2. Defeitos de intersticiais .......................................................................... 38 4.1.3. Defeitos de substitucional ...................................................................... 40 4.1.4. Defeitos pontuais em sólidos iônicos ..................................................... 40 4.2. Defeitos Lineares (Discordâncias) ............................................................. 42 4.3. Defeitos Superficiais (Planares) ................................................................. 45 4.3.1. Superfícies externas .............................................................................. 46 4.3.2. Contorno de fase .................................................................................... 46 4.3.3. Contorno de grão ................................................................................... 46 4.3.4. Tamanho de grão ................................................................................... 48 4.3.5. Contorno de macla ................................................................................. 48 4.3.6. Defeitos de empilhamento ..................................................................... 49 4.4. Defeitos Tridimensionais ............................................................................ 49 5. DIFUSÃO E MOVIMENTOS ATÔMICOS:TRANSFERÊNCIA DE MASSA 51 5.1. O Fenômeno da Difusão ........................................................................... 53 5.2. Mecanismos de Difusão ............................................................................ 55 5.2.1. Difusão por lacunas ............................................................................... 55 5.2.2. Difusão intersticial .................................................................................. 56 5.3. Difusão Regime Estacionário ..................................................................... 57 5.4. Difusão Estado não-Estacionário ............................................................... 58 5.5. Efeito da Estrutura na Difusão ................................................................... 59 5.5.1. Efeito da Estrutura na Difusão ............................................................... 59 5.5.2. Fatores que dificultam a difusão ............................................................ 59 6. TRANSFORMAÇÕES DE FASES ............................................................. 60 6.1. Nucleação e Crescimento .......................................................................... 61 6.1.1. Nucleação .............................................................................................. 61 6.1.1.1. Inoculação e refino de grão ................................................................. 64 4 6.1.2. Crescimento ........................................................................................... 66 6.1.3. Segregações .......................................................................................... 68 7. PRINCÍPIO DE SOLIDIFICAÇÃO DOS METAIS E TRANSFORMAÇÕES NO ESTADO SÓLIDO .................................................................................. 70 7.1. Solidificação ............................................................................................... 71 8. DIAGRAMAS DE FASES E DIAGRAMAS TTT ............................................ 76 8.1. Diagrama de Fases .................................................................................... 77 8.1.1. Terminologias e conceitos ..................................................................... 78 8.1.2. Diagrama de fase isomorfo .................................................................... 79 8.1.3. Diagrama de fase eutético ..................................................................... 84 8.1.4. Diagrama de fase ferro-carbono ............................................................ 87 8.1.5. Polimorfismo dos aços na zona crítica ................................................... 89 8.2. Diagramas – TTT: Tempo-Temperatura-Transformação ........................... 93 8.2.1. Transformação isométrica ...................................................................... 94 8.2.2. Efeito da seção da peça. ..................................................................... 101 8.2.3. Fatores que alteram a forma dos diagramas TTT ............................... 102 9. MATERIAIS METÁLICOS FERROSOS ..................................................... 105 9.1. Beneficiamento das ligas de ferro ............................................................ 105 9.1.1. O processo siderúrgico ........................................................................ 107 9.1.2. Matérias-primas da indústria siderúrgica ............................................. 109 9.1.2.1. Minério de ferro .................................................................................. 110 9.1.2.2. Carvão coque .....................................................................................112 9.1.2.3. Fundentes .......................................................................................... 113 9.1.3. O Alto forno .......................................................................................... 113 9.1.4. Aciaria .................................................................................................. 116 9.2. Aços e ferros fundidos ............................................................................. 120 9.2.1. Ligas metálicas ferrosas ...................................................................... 121 9.2.2. Aços ..................................................................................................... 122 9.2.2.1. Aços carbono ..................................................................................... 124 9.2.2.2. Aços ligados .......................................................................................129 9.2.2.3. Ferro fundido ......................................................................................137 10. PROPRIEDADES MECÂNICAS DOS MATERIAIS METÁLICOS ........... 142 10.1. Ensaio de tração .................................................................................... 143 10.1.1. Tensão e deformação na tração ........................................................ 144 10.1.2. Equipamento e corpos de prova de um ensaio de tração ................. 146 10.1.3. Condução de um ensaio de tração .................................................... 149 10.1.4. Análise da curva tensão-deformação ................................................ 150 10.1.4.1. Tensão de escoamento do material (σe) ......................................... 151 10.1.4.2. Limite de resistência ou tensão máxima (σR ou σMAX) ..................... 152 10.1.4.3. Módulo de elasticidade ou módulo de rigidez do material (E) ......... 156 10.1.4.4. Plasticidade do material (ε) .............................................................. 158 10.1.4.5. Tenacidade com baixa velocidade de aplicação da força ............... 159 10.1.4.6. Fratura dos corpos de prova no ensaio de tração ........................... 160 10.2. Ensaio de dureza ................................................................................... 161 10.2.1. Ensaio de dureza Mohs ..................................................................... 162 10.2.2. Ensaio de dureza Brinell .................................................................... 163 10.2.3. Ensaio de dureza Rockwell ............................................................... 166 10.2.4. Ensaio de dureza Vickers .................................................................. 170 10.2.5. Ensaio de Impacto .............................................................................173 REFERENCIAS .............................................................................................. 180 5 INTRODUÇÃO Os materiais fazem parte do nosso dia a dia e a maioria de nós nem percebe sua presença. Eles estão presentes, por exemplo, nos transportes, nas casas, nas roupas, nos meios de comunicação, na recreação, e até na produção de alimentos entre outros e inevitavelmente todos segmentos de nossas vidas são influenciados de alguma maneira pelos materiais. O desenvolvimento e o avanço das sociedades ao longo da história estão ligados à habilidade em produzir e manipular os materiais em prol de suas necessidades. Tal fato é comprovado pelas primeiras civilizações que foram identificadas pelo nível de desenvolvimento de seus materiais (tais como, Idade da Pedra, Idade do Bronze, entre outras), quando também tinham acesso a um número muito limitado de materiais e todos eram retirados diretamente da natureza. Com o passar do tempo desenvolveram técnicas para produzir materiais com propriedades superiores aos naturais, alterando-as, por exemplo através de tratamentos térmicos ou pela adição de outras substâncias e novos materiais como a cerâmica e vários metais surgiram dessas técnicas. No início, os materiais eram selecionados conforme os que possuíam as melhores propriedades para determinada aplicação e somente recentemente com os estudos pode-se entender as relações entre as estruturas dos materiais e suas propriedades. Dessa maneira, muitos materiais diferentes evoluíram com características específicas e que satisfazem às nossas necessidades, tais como, metais, plásticos, vidros, entre outros. Novas tecnologias estão sempre associadas a materiais adequados e a compreensão de todas as características de um tipo de material é essencial para o desenvolvimento tecnológico. Por exemplo, todo o desenvolvimento na indústria automobilística nos últimos 50 anos só foi alcançado devido a disponibilidade de novos materiais e de sofisticados equipamentos eletrônicos que utilizam componentes fabricados com materiais chamados semicondutores. A escolha do material mais adequado, seja ele pelo projetista, engenheiro ou mesmo designer, está relacionado diretamente com sua eficaz aplicação para a condição de trabalho requerida, tanto do ponto de vista prático quanto 6 econômico, mas raramente o material possui a combinação ideal de todas as propriedades exigidas, sendo necessário na maioria das vezes optar por uma característica a outra ou um processo de fabricação que supra essa necessidade. Como exemplo, podemos citar as propriedades mecânicas de dureza e ductilidade, elas são inversamente proporcionais, ou seja, um material de alta dureza possui baixa ductilidade e em certos casos essas duas propriedades são requeridas, para esse caso podemos citar os dentes de uma engrenagem que necessita de dureza nos flancos para resistir ao desgaste e ductilidade em seu núcleo para suportar os impactos provenientes dos movimentos de engrenamento. Contudo, podemos dizer que um material que possui as qualidades ideais para o uso, poderá tornar-se inviável devido ao seu elevado custo e um grande desafio na evolução do estudo sobre os materiais está relacionado ao desenvolvimento de novas tecnologias que permitam o uso com viabilidade econômica. 7 CLASSIFICACÃO DOS MATERIAIS Os materiais sólidos são geralmente classificados em três classes principais independentes (figura 1) e uma composta denominadas: metais, polímeros, cerâmicas e compósitos. Este esquema é baseado principalmente em sua composição química e estrutura atômica, e os materiais entram em uma classe ou outra, embora haja alguns intermediários. Além destes, há os considerados materiais avançados, são eles: os biomateriais e os semicondutores. Figura 1 – Classificação Técnica dos Materiais. Metais - Metais são elementos químicos sólidos à temperatura ambiente (exceto o mercúrio), opacos, lustrosos, e quando polidos refletem a luz, além de serem bons condutores de eletricidade e calor. A maioria dos metais é forte, dúctil e maleável, e, em geral, de alta densidade. Possuem um grande número de elétrons livres; ou seja, estes elétrons não 1 8 são ligados a nenhum átomo em particular. Muitas das propriedades dos metais estão diretamente ligados a estes elétrons. Metais são os materiais estruturais primários de toda a tecnologia e inclui um grande número de ligas ferrosas (por exemplo, ferro-fundido, aço carbono, ligas de aços, etc.). Assim, pode-se dizer que metais são sustâncias inorgânicas compostas por um ou mais elementos metálicos, podendo conter elementos não-metálicos (por exemplo, Aço (Fe+C), Alumínio, Níquel, Latão (Zn+Cu). Polímeros - Dentre os polímeros incluem-se borrachas, plásticos, e muitos outros tipos de adesivos. São produzidos a partir da criação de grandes estruturas moleculares provenientes de moléculas orgânicas em um processo conhecido como polimerização. Os polímeros têm baixa condutividade térmica e elétrica, tem baixa resistência mecânica comparado a outros materiais utilizados em Engenharia, e não são adequados para utilização em altas temperaturas. Polímeros termoplásticos, nos quais as longas cadeias de moléculas não são rigidamente conectadas, tem boa ductilidade e formabilidade. Polímeros termo fixos são normalmente mais resistentes, porém, podem apresentar-se quebradiços pela sua cadeia molecular ser de forte conexão. Os materiais poliméricos são utilizados em inúmeras aplicações: embalagens, componentes de eletrodomésticos, brinquedos, peças técnicas e etc. Cerâmicos - Esta classe pode ser definida como qualquer material sólido inorgânico, não metálico, usado ou processado em temperaturas altas. Quando falamos em cerâmica, imediatamente nos vem à mente coisas tais como loucas sanitárias, pisos, azulejos, porcelana de mesa, etc. Frequentemente esquece-se das aplicações tecnológicas mais avançadas de óxidos, carbonetos e nitretos. Muitos 9 destes são de grande interesse industrial. Cerâmicas também incluem materiais como vidro, grafite, cimento (concreto), etc. Compósitos - Compósitos consistem na combinação de dois ou mais materiais diferentes. O Fiberglass é um exemplo bem familiar, onde as fibras de vidro são adicionadas a um material polimérico. Um compósito é desenvolvido para combinar as melhores propriedades dos materiais que o constituem. O Fiberglass, por exemplo, adquire a dureza do vidro e a flexibilidade do polímero. Muitos dos recentes materiais desenvolvidos atualmente são compósitos. Semicondutores - Semicondutores podem ser definidos como materiais que conduzem corrente elétrica melhor que os isolantes, mas não melhor que os metais. Um grande número de materiais satisfaz a estas condições. Em temperatura ambiente, a condutividade característica dos metais é da ordem de 104 à 106 ohm-1 cm-1, enquanto nos isolantes é da ordem de 10-25 a 10-9 ohm-1 cm-1. Os materiais classificados como semicondutores possuem condutividade entre 10-9 e 104 ohm-1 cm-1. Normalmente a condutividade dos metais diminui com o aumento da temperatura. Com os semicondutores ocorre o contrário, a condutividade aumenta com o aumento da temperatura. Nos semicondutores o processo de condução pode ocorrer de modo não iônico onde há o transporte de carga ou de massa (de elétrons). As propriedades únicas dos semicondutores dependem, acima de tudo, do número de portadores de corrente elétrica. Estes portadores podem ser de dois tipos: elétrons ou ”buracos”. O número de portadores pode variar dependendo da temperatura, luminosidade, partículas nucleares, campos elétricos, ou imperfeições no cristal na forma de átomos de impurezas ou do sistema cristalino. 10Biomateriais - Biomateriais são materiais empregados em componentes destinados ao implante no corpo humano, substituindo partes doentes ou danificadas. Esses materiais não devem produzir substancias tóxicas e deve ser compatível com os tecidos do corpo, isto é, não deve produzir reações biológicas adversas. Todas as classes de materiais podem ser utilizadas como biomateriais - metais, cerâmicos, polímeros, semicondutores, compósitos - desde que sejam cuidadosamente selecionados. A maioria das classificações dos materiais nasceu num tempo em que as propriedades mecânicas estavam em primeiro plano. Assim, a primeira associação de materiais é feita tendo-se em vista normalmente uma determinada propriedade mecânica ou estrutural: dureza, resistência, fragilidade, etc. Outras classificações podem ser feitas como, por exemplo, com base na Química (Tabela 1). Tabela 1 – Classificação química dos materiais. Ligação Menor Partícula Estrutura Metais Metálica Átomo Cristalina Semicondutores Covalente, (iônica) Átomo Cristalina (raramente amorfa) Cerâmicos Covalente, iônica Molécula Cristalina Vidros Covalente, iônica Molécula Amorfa Polímeros Covalente, ligações Secundárias Cadeia de moléculas Amorfa (raramente cristalina) OBS: Os termos referentes a ligações químicas, partícula e estrutura citados na tabela acima será estudado mais adiante no conteúdo de Estrutura dos Materiais. Uma classificação moderna e muito interessante dos materiais é aquela onde eles são divididos em apenas dois grandes grupos: 1. Materiais estruturais: que são todos os materiais para os quais as propriedades mecânicas têm um papel fundamental; 2. Materiais funcionais: que servem para cumprir um grupo de funções como, por exemplo, materiais ‘semicondutores’, materiais magnéticos, materiais condutores de eletricidade, luz, etc. 11 PROPRIEDADES DOS MATERIAIS O emprego de materiais em forma de produtos acabados precisa que tenhamos um profundo conhecimento das propriedades características e do comportamento dos materiais que se pode usar. Considere, por exemplo, a variedade de materiais usados na manufatura de um automóvel: ferro, aço, vidro, plásticos e borracha são apenas alguns. E, para ter uma ideia da grandeza, somente para o aço, há cerca de 3000 tipos ou modificações possíveis. Assim surge uma pergunta: Com que critério é feita a escolha do material adequado para uma determinada peça? Para fazer a sua escolha, o projetista deve levar em conta propriedades tais como resistência mecânica, condutividade elétrica e/ou térmica, densidade entre outras. Além disso, deve-se considerar o comportamento do material durante o seu processamento e o seu uso, onde plasticidade, usinabilidade, estabilidade elétrica, durabilidade química entre outras deve ser utilizada. Muitos projetos dependem do desenvolvimento de materiais completamente novos. Por exemplo, o transistor nunca poderia ter sido construído com os materiais disponíveis há 40 anos atrás; o desenvolvimento da bateria solar requereu um novo tipo de semicondutor e, embora os projetos de turbinas a gás estejam muito avançados, ainda se necessita de um material barato e que resista a altas temperaturas, para as pás da turbina. A figura 2, relaciona estruturas, propriedades e processamento dos materiais. 2 12 Figura 2 - Estruturas, propriedades e processamento dos materiais. Como é complexo para um projetista ter um conhecimento detalhado dos milhares de materiais atualmente disponíveis, bem como manter-se a par dos novos desenvolvimentos, é imprescindível que ele tenha um conhecimento adequado dos princípios gerais que governam as propriedades de todos os materiais. Dentre estas propriedades, pode-se destacar: 2.1 Propriedades Mecânicas São aquelas que definem o comportamento do material segundo um determinado esforço a que ele pode ser submetido. O conjunto de propriedades mecânicas é baseado nas seguintes características do material: Resistencia mecânica: É a propriedade apresentada pelo material em resistir a esforços externos, estáticos ou lentos. Tais esforços podem ser de natureza diversa, como sejam: tração, compressão, flexão, torção ou cisalhamento. Assim, os esquemas abaixo representam os esforços referidos: Figura 3 – Esforços mecânicos aos quais os corpos estão sujeitos. cizalhamento/ corte tração compreensão torção 13 Elasticidade: Propriedade apresentada pelos materiais em recuperar a forma primitiva tão logo cesse o esforço que tenha provocado a deformação. A deformação elástica é reversível e desaparece quando a tensão aplicada é removida. Uma característica da deformação elástica é que esta é praticamente proporcional à tensão aplicada. O módulo de elasticidade (módulo de Young) é o quociente entre a tensão aplicada e a deformação elástica resultante. Ele está relacionado com a rigidez do material. O módulo de elasticidade resultante de tração ou compressão é expresso em unidade de tensão (psi ou kgf/mm2). O valor deste módulo é primordialmente determinado pela composição do material e é apenas indiretamente relacionado com as demais propriedades mecânicas. O módulo de Young é determinado a partir do ensaio de tração. Plasticidade: É a propriedade que apresentam certos materiais de se deixarem deformar permanentemente assumindo diferentes tamanhos ou formas sem sofrerem rupturas, rachaduras ou fortes alterações de estrutura quando submetidos a pressões ou choques compatíveis com as suas propriedades mecânicas. A plasticidade é influenciada pelo calor (o aço ao rubro torna-se bastante plástico). O inverso da plasticidade é a fragilidade ou quebrabilidade; assim, um material é dito frágil ou quebradiço quando o mesmo ao romper-se apresenta uma pequena deformação. A plasticidade pode ser subdividida em: • Maleabilidade: É a maior ou menor facilidade apresentada pelo material em se deformar sob ação de uma pressão ou choque, compatível com a sua resistência mecânica. Um material é maleável quando sob ação do laminador ou do martelo da forja, não sofre rupturas ou fortes alterações na estrutura (endurecimento inadmissível). A maleabilidade pode ser a quente ou a frio. Se a maleabilidade a frio é muito grande o material é chamado plástico. • Ductilidade: É a capacidade que os materiais possuem de se deformar plasticamente até a ruptura. Deformação plástica é aquela que impõe ao material uma deformação permanente. Assim sendo, o seu valor pode ser expresso como alongamento e nas mesmas unidades de deformação. Um comprimento comum (embora não universal) para a medida do alongamento é 50mm. Como mostrado na Figura 3 a seguir, o comprimento considerado é importante pois a deformação plástica normalmente é localizada. Uma segunda medida da ductilidade é a 14 estricção que é a redução na área de seção reta do corpo, imediatamente antes da ruptura. Os materiais altamente dúcteis sofrem grande redução de área da seção reta antes de romper, este índice é sempre expresso em porcentagem e é calculado como se segue: Figura 4 – Corpo de prova antes e após o alongamento e estricção. Dureza: É definida pela resistência da superfície do material à penetração, ao desgaste, e ao atrito, embora a primeira definição seja a mais comumente aceita. Como se pode esperar, a dureza e a resistência à tração estão intimamente relacionadas. A determinação da dureza é obtida a partir de uma série de ensaios destinados especificamente para tal intento. Fluência (creep): Fenômeno de alongamento contínuo e que pode conduzir à ruptura é denominado fluência. Esta característica é típica de materiais ferrosos quando submetidos a cargas de tração constantes por longo tempo a elevadas temperaturas. Deformam-se continuamente mesmo quando a solicitação é menor do que a tensão de escoamentodo material naquela temperatura. A fluência ocorre mesmo quando o material é solicitado na temperatura ambiente, mas nessa temperatura a fluência é praticamente desprezível comparada com a que ocorre em temperaturas elevadas. O fenômeno da fluência ocorre nos instrumentos de corda, violão, por exemplo. É importante frisar que certas peças ficam inutilizadas se alongarem apenas 0,01%. 15 Resiliência: É a maior ou menor reação do material às solicitações dinâmicas, isto é, a propriedade do material resistir a esforços externos dinâmicos (choques, pancadas, etc.) sem sofrer deformação permanente. Como exemplo citamos as peças de um britador de mandíbulas, uma matriz para forjamento, uma ferramenta de corte, molas, etc. Assim, as molas são feitas de materiais de elevada resiliência. Tenacidade: É dada pela energia consumida para fraturá-lo. Em outras palavras, tenacidade mede a capacidade que o material tem de absorver de energia até fraturar-se incluindo a deformação elástica e plástica quando essa energia é absorvida progressivamente. A tenacidade é, pois, medida pela área total do diagrama tensão-deformação. Em geral diz-se que um material é tanto tenaz quanto maior é a sua resistência à ruptura por tração ou distensão; isto nem sempre é verdadeiro, pois alguns aços doces, por exemplo, são mais tenazes que os aços duros, isto porque os aços duros apresentam, na ruptura uma pouquíssima deformação. A tenacidade tem alguma relação com a resistência ao choque, porém os valores da energia medidos para ambos os casos não concordam para todos os materiais ou condições de ensaio. 2.2 Propriedades Tecnológicas São as que conferem ao material uma maior ou menor facilidade de se deixar trabalhar pelos processos de fabricação usuais. As propriedades tecnológicas são: Fusibilidade: É a propriedade que o material possui de passar do estado sólido para o líquido sob ação do calor. Todo metal é fusível, mas, para ser industrialmente fusível, é preciso que tenha um ponto de fusão relativamente baixo e que não sofra, durante o processo de fusão, oxidações profundas, nem alterações na sua estrutura e homogeneidade. Em se tratando de metais convém conhecer as temperaturas correspondentes à colocação que tomam quando aquecidas: 16 Principais temperaturas de fusão. Alumínio 650oC Ferro puro 1530oC Aços 1300oC a 1500oC Zinco 420oC Gusa e fofo 1150oC a 1300oC Chumbo 330oC Cobre 1080oC Estanho 235oC Soldabilidade: é a propriedade que certos metais possuem de se unirem, após aquecidos e suficientemente comprimidos. A soldabilidade depende do tempo em que o metal permanece num estado sólido - plástico, sob o efeito do calor produzido pela ação soldante. O metal ou liga que passar instantaneamente do estado sólido para o líquido é dificilmente soldável (ferro fundido, por exemplo). Temperabilidade: Propriedade que possuem alguns metais e ligas de modificarem a sua estrutura cristalina (endurecimento) após um aquecimento prolongado seguido de resfriamento brusco. Tal propriedade caracteriza o aço com certo teor de carbono, assim, como determinadas ligas de alumínio, transformando a estrutura cristalográfica do material que, em consequência, altera todas as propriedades mecânicas. Usinabilidade (ou maquinabilidade): É a propriedade de que se relaciona com a resistência oferecida ao corte e é medida pela energia necessária para usinar o material no torno, sob condições padrões. A usinabilidade de um material é obtida comparando-se com a de um material padrão cuja usinabilidade é convencionada igual a 100. (aço B1112). O conhecimento da usinabilidade de um material permite calcular os tempos necessários às operações de usinagem que é, portanto, indispensável na programação de uma fabricação. A usinabilidade é um fator que influi bastante na escolha de um material que deve ser usinado; assim, as máquinas automáticas dão grande produção quando usinam os chamados aços de corte 17 fácil (free cutting steels) também chamados de usinagem fácil, que são materiais com alta percentagem de enxofre, fósforo ou chumbo. Fadiga: Fadiga não chega a ser uma propriedade do material mais sim, um problema característico de materiais sujeitos a esforços cíclicos. Quando um material é sujeito a esforços dinâmicos, durante longo tempo, é observado um “enfraquecimento” das propriedades mecânicas ocasionando a ruptura. A fadiga pode ser também superficial, ocasionando desgaste de peças sujeitas a esforços cíclicos, como comumente ocorre em dentes de engrenagens. 2.3 Propriedades Térmicas Propriedades térmicas estão vinculadas às características dos materiais quando submetidos à variações de temperatura. Dentre estas propriedades destacam-se: Condutividade térmica: São propriedades que possuem certos corpos de transmitir mais ou menos calor. Neste caso, materiais bons condutores de calor, na ordem decrescente de condutibilidade: Ag, Cu, Al, latão, Zn, Aço e Pb. Corpos maus condutores de calor, na ordem decrescente de condutibilidade: pedra, vidro, madeira, papel, etc. Dilatação: Propriedade pela qual um corpo aumenta quando submetido à ação do calor. A capacidade de dilatação de um material está relacionada ao chamado coeficiente de dilatação térmica, que pode ser: linear, superficial e volumétrico. Esta característica dos materiais deve ser considerada quando o mesmo é submetido a variações consideráveis de temperatura. 2.4 Propriedades Elétricas A mais conhecida propriedade elétrica de um material é a condutividade elétrica. A condutividade elétrica é a propriedade que possuem certos materiais de permitir maior ou menor capacidade de transporte de cargas elétricas. Os corpos que permitem a eletricidade passar são chamados condutores, sendo uma característica dos materiais metálicos. Já os que não permitem tal 18 fenômeno são os chamados materiais isolantes. O cobre e suas ligas e o alumínio conduzem bem a eletricidade, sendo empregados na fabricação de linhas elétricas e aparelhagens; as ligas Cr-Ni, Fe-Ni conduzem mal, servido para construção de resistências elétrica, como reostatos, etc. Dentre os materiais isolantes destacam-se: madeira seca, baquelite, ebonite, etc. 2.5 Propriedades Eletromagnéticas A característica mais comumente associada às propriedades eletromagnéticas é: Suscetibilidade magnética: é a propriedade que caracteriza a maior ou menor facilidade com que os metais reúnem ou dispersam as linhas de força de um campo magnético. Os metais que reúnem de modo acentuado as linhas de força de um campo magnético se denominam “ferromagnéticos”. Exemplo: Fe, Ni e Co. Os metais que reúnem debilmente as linhas de força de um campo magnético são denominados ”paramagnéticos”. A maioria dos metais é paramagnético. Os metais que dispersam as linhas de força de um campo magnético são denominados ”diamagnéticos”. 2.6 Propriedades Físicas Dentre o conjunto de propriedades físicas destacam-se: Densidade: É a relação entre o peso de certo volume de um corpo e o peso de igual volume de água. É um número abstrato. Exemplo: Pb = 11,4 Cu = 8,9 Al = 2,7 Mg = 1,7. Peso específico: É o peso da unidade de volume do corpo. Por exemplo: o peso específico do aço é 7,8 kg/dm3. 2.7 Propriedades Químicas Resistencia à corrosão: Quase todos os materiais usados pelos projetistas são suscetíveis de corrosão por ataque químico. Para alguns 19 materiais, a solubilização é importante. Em outros casos, o efeito da oxidação direta de um metal ou de um material orgânico como a borracha é o mais importante. Além disso, a resistência do material à corrosão química, devido ao meio ambiente, é da maior importância. A atenção que damos aos nossos automóveis é um exemplo óbvio da nossa preocupação com a corrosão. Desde que frequentemente, oataque pela corrosão é irregular, é muito difícil medi-la. A unidade mais comum para a corrosão é polegadas de superfície perdida por ano. 2.8 Propriedades Ópticas Embora entre as propriedades ópticas importantes para a engenharia incluem-se o índice de refração, a absorção e a emissividade, apenas a primeira delas será discutida aqui, porque as outras duas já são mais especializadas. O índice de refração “η” é a razão entre a velocidade da luz no vácuo “c” e a velocidade da luz no material, “Vm”: η = 𝑐 𝑉𝑚 O índice também pode ser expresso em termos do ângulo de incidência “i” e do ˆangulo de refração “r”: η = sen i sen r 20 MATERIAIS METÁLICOS E ESTRUTURA CRISTALINA DOS METAIS INTRODUÇÃO O material apresenta um aspecto descontínuo desde o momento em que se acha constituído por partículas elementares, átomos e moléculas. Quando se consideram as características de uma substância não se leva somente em consideração o comportamento dos átomos isolados, mas também do conjunto de tudo aquilo que intervém em sua formação. O átomo, que não dá para a gente ver nem com um microscópio, determina se o material é aço, plástico, madeira ou ar. Estabelece a maneira como cada material se comporta na natureza e também como ele “funciona” diante dos processos de fabricação e da utilização do dia-a-dia. O conhecimento dos fatores que governam as propriedades dos materiais é importante para o profissional da indústria metalmecânica, cuja função é produzir materiais e peças com propriedades que atendam às mais diversas aplicações e solicitações de uso. Esses fatores estão relacionados com a estrutura geral do átomo que, no final, diferencia um material do outro. Sabendo isso, é possível prever o que vai acontecer quando um material é aquecido, resfriado, dobrado, esticado, torcido, lixado, cortado. Ou seja, tudo o que você faz quando quer fabricar qualquer coisa. O átomo e suas ligações atômicas Quando o átomo é dividido em partículas, ele libera grande quantidade de energia. Foi esse conhecimento que permitiu a criação da bomba atômica, cuja explosão é resultado de uma divisão do átomo. 3 21 Hoje sabemos que os átomos são formados de várias partículas ainda menores. Porém, esse conceito de indivisibilidade, vindo da antiguidade grega, ainda é válido e se transformou na base da Química moderna. E isso levou um bocado de tempo, porque foi só em 1808 que o químico inglês, John Dalton, estabeleceu sua Teoria Atômica. Em 1868, o russo Demitir Mendeleiev elaborou a primeira classificação geral dos elementos. Esse trabalho deu origem à tabela periódica que hoje conhecemos. Ele permitiu prever as propriedades e descobrir elementos que Demitir e cientistas de sua época ainda não conheciam. A tabela periódica (figura 5) reúne, em grupos, elementos que têm propriedades químicas e físicas (mecânicas, magnéticas e elétricas) semelhantes e conhecer as leis que comandam essas partículas permite, assim, explicar porque alguns materiais são mais resistentes ou mais frágeis que outros. Figura 5 - Tabela periódica. E o que você precisa saber sobre isso? Em primeiro lugar, que tudo o que existe é composto de átomos. E que os átomos são formados de várias partículas e que aquelas que mais nos interessam são os prótons, os elétrons e os neutros. A teoria diz que no átomo existe um núcleo formado pelos prótons e pelos neutros. Por convenção, os prótons são partículas com cargas positivas, e os neutros, partículas estáveis que têm pouca influência sobre as propriedades físicas e químicas mais comuns dos elementos. Os elétrons, carregados negativamente, giram em órbitas em volta desse núcleo, conforme figura 6. 22 Figura 6 – Modelo atômico de Bohr1. De acordo com esse modelo, as órbitas são arrumadas em até sete camadas, das quais a última é chamada de camada de valência. Para que um átomo seja estável, ele deve ter 8 elétrons nessa camada e para que isso aconteça combinam-se entre si, cedendo, recebendo ou compartilhando elétrons, até que a última camada de cada um fique com oito elétrons. É dessas combinações que surgem todos os materiais que conhecemos. Ligação Covalente Quando os átomos compartilham elétrons, acontece o que chamamos de ligação covalente. É o caso, por exemplo, da formação da molécula de água2, obtida pela união de dois átomos de hidrogênio com um átomo de oxigênio. Essa ligação é muito forte e está representada na figura 7. Figura 7 – Representação da ligação de dois átomos de hidrogênio com um de oxigênio (H2O). 1 Para saber mais acesse: https://www.stoodi.com.br/blog/quimica/modelo-atomico-de-bohr/ 2 Para saber mais acesse: https://www.stefanelli.eng.br/molecula-agua-animacao/ 23 O átomo de oxigênio: De símbolo “O” o elemento oxigênio é encontrado na família 16 ou VIA da tabela periódica, possui número atômico 8, com 8 elétrons, 8 nêutrons e 8 prótons e massa atômica 16u, seus elétrons estão distribuídos em 2 níveis - camadas K e L- com 2 elétrons na camada K e 6 elétrons na camada L -camada de valência-, ele é um ametal. Suas características, na sua forma molecular O2 e em temperatura ambiente: é um gás incolor, insípido, inodoro, comburente, não é combustível e pouco solúvel em água. O átomo do Hidrogênio: Elemento químico mais abundante no universo, de símbolo ‘H‘, pertence a família 1 ou IA -Família dos Metais Alcalinos, encontra-se nessa família por apresentar 1 elétron na camada de valência-, mesmo sendo muito abundante, existe naturalmente em pequenas quantidades na sua forma molecular. Apresenta 1 próton em seu núcleo e 1 elétron em seu único nível -K-, tem características sui generis, pois trata-se de um ametal. Na temperatura ambiente é um gás diatômico (isto significa que ele está combinado com outro átomo de hidrogênio – H2), é inflamável, incolor, inodoro, insípido, não é tóxico -contudo asfixia-, não é corrosivo -mas é altamente reativo- e insolúvel em água. Este elemento é considerado a base da economia do futuro, pois é o combustível principal das “Células a Combustível”3, que é um sistema que aproveita a energia elétrica liberada na combinação do hidrogênio com o oxigênio para mover automóveis, por exemplo. 3 Para saber mais acesse: https://www.stefanelli.eng.br/pemfc-energia-eletrica-hidrogenio/ Para saber mais 24 Esse tipo de ligação também é encontrado em sólidos elementares, tais como o diamante (carbono) (figura 8), silício e germânio. Assim como em compostos tais como arseneto de gálio (GaAs), antimoneto de índio (InSb). Figura 8 - Grafite e diamante – as duas outras fases sólidas do carbono. A ligação covalente pode ser muito forte como no diamante que tem uma temperatura de fusão maior que 3550°C, ou muito fraca, como no bismuto que tem uma temperatura de fusão de aproximadamente de 270°C. As energias de ligação e as temperaturas de fusão de uns poucos materiais ligados covalentemente estão apresentados na tabela 2. Os materiais poliméricos são típicos desse tipo de ligação, sendo a estrutura molecular básica desses materiais frequentemente composta por uma longa cadeia de átomos de carbono (figura 9). Figura 9 – Representação esquemática da cadeia do polietileno de alta densidade (PEAD) e ao lado embalagens de PEAD. 25 Ligação Iônica Quando um dos átomos cede, definitivamente, os elétrons da última camada e o outro recebe, definitivamente, esses elétrons, ocorre a chamada ligação iônica. Esse tipo de ligação ocorre entre átomos de metais (que têm a tendência de perder elétrons para ficarem estáveis) e átomos de hidrogênio, ametais e semimetais (que têm a tendênciade ganhar elétrons para ficarem estáveis). É o que acontece, por exemplo, na formação do cloreto de sódio, ou seja, o sal que a gente usa na cozinha, composto por um átomo de sódio e um átomo de cloro em que o sódio é um metal que tem a tendência de perder um elétron, enquanto o cloro é um ametal que tem a tendência de ganhar um elétron. Dessa forma, o sódio doa (seta vermelha) um elétron para o cloro, formando o sal, uma substância muito estável. Visto que se formam (seta preta) íons, que são espécies químicas com cargas opostas (+ e -), um íon atrai outro próximo e são formados aglomerados iônicos com um número enorme de íons, como são os cristais do sal de cozinha. A ilustração dessa ligação é mostrada na Figura 10. Figura 10 - Formação de cloreto de sódio por meio de ligação iônica. Devido à intensas forças eletrostáticas que mantêm os íons unidos, os sólidos iônicos, possuem altas temperatura de fusão, são duros e quebradiços, rígidos, resistentes e não conduzem bem a eletricidade (a não ser quando dissolvidos em água). A figura 11 mostra o mecanismo de fratura de sólidos iônicos. 26 Figura 11 - Mecanismo de fratura de sólidos iônicos. O golpe do martelo fará com que íons semelhantes se emparelhem, gerando forças de repulsão intensas que podem levar à fratura do material. Existe ainda um terceiro tipo de ligação: é a ligação metálica, responsável, entre outras propriedades, pela elevada condutividade térmica e elétrica que todos os metais possuem, causada pela mobilidade dos elétrons de valência e ocorre durante a solidificação de um metal, quando os seus átomos se arranjam em um denso empacotamento, de maneira organizada e repetitiva, a fim de diminuir a energia e chegar a um estado mais estável na forma de um sólido, assim criando ligações metálicas. E como a ligação metálica acontece? Para explicar isso, precisamos saber inicialmente que os átomos dos metais apresentam poucos elétrons na camada de valência. Esses elétrons podem ser removidos facilmente, enquanto que os demais ficam firmemente ligados ao núcleo. Isso origina uma estrutura formada pelos elétrons livres e por íons positivos constituídos pelo núcleo do átomo e pelos elétrons que não pertencem à camada de valência. Como os elétrons de valência podem se mover livremente dentro da estrutura metálica, eles formam o que é chamado de “nuvem eletrônica”. Os íons positivos e a nuvem eletrônica negativa originam forças de atração que ligam os átomos de um metal entre si. A representação desse tipo de ligação é mostrada na figura 12. São propriedades dos materiais com ligações metálicas o ponto de fusão moderado, os metais puros são maleáveis, excelentes condutores de eletricidade e excelentes condutores de calor. 27 Figura 12 – Modelo de representação da ligação metálica. Mapa Mental: Ligações Químicas 28 3.1 ESTRUTURA DOS MATERIAIS Como vimos anteriormente todos os materiais são constituídos de átomos e o conjunto desses átomos se agrupam para formar a estrutura desse material que está relacionada diretamente com seu estado físico. Esses agrupamentos atômicos se apresentam com características distintas assim, podemos observar como nos estados gasoso e líquido os átomos têm grande mobilidade e isso permite a eles adaptar-se a qualquer conformação externa que o contenha. Já no estado sólido os átomos apresentam certa permanência em suas posições o que confere ao material um certo grau de indeformabilidade, característico do estado sólido. Outros dois estados da matéria (plasma e BEC) podem ser visto na figura 13, mas não é objeto de nosso estudo. Figura 13 – Agrupamento dos átomos em função dos estados da matéria. Fonte: 29 Os materiais encontrados na natureza, ou mesmo fabricados podem ser classificados segundo uma regularidade em que átomos ou íons estão arranjados com respeito aos outros. Assim, pode-se encontrar os materiais ditos cristalinos e os não cristalinos ou amorfos. a) Materiais Cristalinos - Um material cristalino apresenta uma ordem de átomos que se repete periodicamente até grandes distâncias atômicos. Esta ordem de átomos se forma durante a solidificação do material, em três dimensões, e cada átomo é vinculado com átomos vizinhos. Dentre os materiais cristalinos podemos destacar: todos os metais; muitos materiais cerâmicos e alguns polímeros. b) Materiais amorfos (não-cristalinos) - Dentre os materiais amorfos (materiais literalmente ”sem-forma”) incluem os gases, os líquidos e os vidros. Os dois primeiros são fluidos e são de maior importância em engenharia, já que incluem muitos dos nossos combustíveis e o ar necessário à combustão, como também a água. O vidro, o último dos três materiais amorfos, é considerado um líquido rígido; entretanto, quando considerarmos a sua estrutura, vemos que ele é mais do que apenas um líquido super-resfriado. 3.2 ESTRUTURA CRISTALINA Se pudéssemos ampliar a maioria dos materiais sólidos a ponto de ver as partículas que o compõem, observaríamos que essas partículas se arrumam de uma forma muito organizada. Essa organização parece uma rede em três dimensões que se repete em todo o material. Ela é chamada de estrutura cristalina. Um exemplo desta regularidade estrutural pode ser observada no NaCl, conforme apresentado na Figura 14. 30 Figura 14 – Regularidade estrutural no NaCl. Materiais metálicos, como o ferro, o aço, o cobre e materiais não- metálicos, como a cerâmica, apresentam esse tipo de estrutura. No caso das pedras preciosas e do quartzo, por exemplo, essa repetição muitas vezes controla a forma externa do cristal. Entre todas as estruturas do sistema cristalino que veremos adiante, destacamos a seguir as três estruturas cristalinas mais comuns, a hexagonal compacta (HC), a cúbica de face centrada (CFC) e a cúbica de corpo centrado (CCC). Dependendo da forma geométrica que essas estruturas cristalinas apresentam, elas recebem um nome. Assim, se você tiver metais como berílio, zinco e cádmio, a estrutura formada será um prisma hexagonal, com três átomos dentro dela. Essa estrutura se chama hexagonal compacta ou HC (figura 15). Figura 15 - Estrutura hexagonal compacta ou HC. 31 Se os metais a sua disposição forem alumínio, níquel, cobre, prata, ouro, platina, chumbo, por exemplo, a estrutura terá a forma de um cubo com um átomo em cada uma de suas faces. Essa estrutura recebe o nome de estrutura cúbica de face centrada, ou CFC (figura 16). Figura 16 - Estrutura cúbica de face centrada ou CFC. Metais como ferro, cromo, tungstênio, molibdênio apresentam a estrutura em forma de cubo com um átomo extra, em seu centro. Essa estrutura recebe o nome de estrutura cúbica de corpo centrado, ou CCC (figura 17). Figura 17 - Estrutura cúbica de corpo centrado ou CCC. As principais estruturas que formam alguns dos metais mais utilizados são apresentados a seguir: CCC – Ba, Cr, Cs, Feα, Feβ, K, Li, Mo, Na, Nb, Ta, Tiβ, V, W e Zrβ. CFC – Ag, Al, Au, Ca, Coβ, Cu, Feɣ, Ni, Pb, Pt, Rh e Sr. HC – Be, Cd, Coα, Hfα, Mg, Os, Re, Ru, Ti a, Y, Zn e Zrα. 32 3.2.1 SISTEMAS CRISTALINOS Define-se um sistema cristalino como a forma do arranjo da estrutura atômica. A sua representação consiste em substituir átomos na rede espacial por conjunto de pontos. Chama-se célula unitária a menor porção constituinte de um reticulado cristalino, conforme apresentado na Figura 18. Figura 18 – Reticulado cristalino de uma estrutura CFC e sua célula unitária. A maioria dos materiais de interesse para a engenharia tem arranjos atômicos que se repetem nas três dimensões de uma unidade básica. Tais estruturas são denominadas cristais. Existem 7 tipos de principais de cristais, que são: cúbico, tetragonal,ortorrômbico, monoclínico, triclínico, hexagonal e romboédrico, conforme mostrado na figura 19. E 14 arranjos desses cristais denominado Rede de Bravais, que pode ser visto na figura 20. Figura 19 – Os 7 sistemas cristalinos. 33 Figura 20 – Sistemas cristalinos – Redes de Bravais. A organização tridimensional dos átomos (arranjo das células unitárias) se repete simetricamente até os contornos dos cristais (também chamados contornos de grãos). Na representação com esferas, observe como elas estão organizadas muito juntas. Porém, por mais juntas que estejam, há espaços vazios entre elas, como uma pilha de laranjas arrumadas na banca da feira. Quando os metais são deformados por processos mecânicos, como a laminação, as camadas de átomos deslizam umas sobre as outras ao longo dos planos de átomos que se formam nas estruturas cristalinas. Esses planos são chamados de planos cristalinos. As estruturas cristalinas cúbicas possuem mais planos de átomos do que as estruturas hexagonais. Por isso, é mais fácil deformar um material que possui estrutura cúbica, como o alumínio, o cobre e o ferro, do que um metal que possui estrutura hexagonal como o magnésio e o cádmio. 34 Ao estudar os metais e suas propriedades, você também ouvirá falar de defeitos cristalinos. Esses defeitos, que se formam na maioria das vezes durante o processo de fabricação, surgem na forma de contorno dos grãos, por exemplo. E como o contorno do grão se forma? É simples. Durante o processo de solidificação de qualquer metal, a formação dos cristais se inicia em diversos pontos ao mesmo tempo. Nos locais onde esses cristais se encontram, forma- se uma área de transição com átomos que não pertencem a nenhum dos cristais, é o contorno do grão (figura 21). Figura 21 – Formação dos contornos de grãos. a) início da solidificação, pequenos núcleos de sólidos (grãos) espaçados no líquido; b) os grãos seguem crescendo ainda envoltos por material líquido e c) grãos já formados e seus contornos de grãos. O tamanho e a orientação dos grãos são importantes na metalurgia e pode influenciar as propriedades mecânicas dos componentes de um mecanismo. Com tratamentos térmicos e deformações plásticas (figura 22) podemos modificar o tamanho e a forma dos grãos. Na região dos contornos dos grãos, a deformação é mais difícil, pois os planos cristalinos são interrompidos, dificultando o deslizamento. Por isso, a ruptura de um metal, na maioria dos casos, acontece no contorno do grão. 35 Figura 22 – Grãos deformados plasticamente em um processo de laminação. 3.2.2 ALOTROPIA OU POLIMORFISMO É a propriedade que possui um corpo de apresentar-se em dois ou mais estados cristalinos diferentes, seja pela simetria, seja pela estrutura reticular, de acordo com a mudança de temperatura. Assim, o ferro apresenta-se em três estados alotrópicos, conforme a temperatura em que é considerado. Essas três formas alotrópicas são definidas como: Ferro α (Ferro alfa) (CCC), Ferro ɣ (Ferro gama) (CFC) e Ferro δ (ferro delta) (CCC). Em temperatura ambiente, a forma alotrópica do ferro caracteriza-se pela estrutura CCC, sendo este conhecido como ferro α. Quando este é aquecido à 910°C, observa-se uma mudança radical na estrutura cristalina do ferro, e ele passa então a estrutura CFC, sendo denominado então ferro ɣ. Caso o material seja aquecido até 1400°C, a estrutura volta a ser CCC. Neste caso o ferro passa ser chamado de ferro δ. 36 DEFEITOS CRISTALINOS E ATOMÍSTICA DOS METAIS INTRODUÇÃO Embora até aqui se tenha representado uma estrutura cristalina como uma rede de pontos que se distribui regularmente pelo espaço com átomos a ela associados e também regularmente distribuídos, isto não acontece nos materiais cristalinos reais. Todos os materiais cristalinos possuem um certo número de defeitos os quais podem influir decisivamente em suas propriedades. Defeito cristalino é uma imperfeição ou um "erro" no arranjo periódico regular dos átomos em um cristal. Na realidade, os cristais nunca são perfeitos e contêm vários tipos de imperfeições e defeitos, que afetam muitas das suas propriedades físicas e mecânicas, o que, por sua vez, altera propriedades de engenharia importantes, tais como a plasticidade4 (a frio) das ligas, a condutividade eletrônica dos semicondutores (condutividade dos semicondutores depende das impurezas presentes) a velocidade de migração dos átomos nas ligas (a difusão atômica pode ser acelerada pelas impurezas e imperfeições) a cor e luminescência de muitos cristais se devem as impurezas ou imperfeições, assim como a corrosão dos metais. Os defeitos são importantes, mesmo em concentrações muito pequenas, porque podem causar uma mudança significativa nas propriedades de um material. Por exemplo, sem a presença de defeitos: • Os dispositivos eletrônicos do estado sólido não existiriam; • Os metais seriam muito mais resistentes; • os cerâmicos seriam muito mais tenazes; • Os cristais não teriam nenhuma cor. 4 Capacidade de um material de se deformar plasticamente, isto é, permanentemente. A plasticidade permite a conformação dos metais no estado sólido por meio de operações metalúrgicas, como: forjamento, laminação, estiramento, extrusão, estampagem, etc. 4 37 As imperfeições nas redes cristalinas são classificadas de acordo com a sua geometria e forma. Podem envolver uma irregularidade na posição dos átomos ou no tipo de átomos. O tipo e o número de defeitos dependem do material, do meio ambiente, e das circunstâncias sob as quais o cristal é processado. Os tipos de defeitos podem ser definidos como: • Defeitos pontuais: irregularidades que se estendem sobre somente alguns átomos (defeitos adimensionais - dimensão zero), podendo ser lacunas, intersticiais ou substitucionais; • Defeitos lineares: irregularidades que se estendem através de uma única fileira de átomos (unidimensionais), podendo ser discordâncias em hélice ou discordâncias em cunha; • Defeitos planares: irregularidades que se estendem através de um plano de átomos (bidimensionais, que incluem as superfícies exteriores e os limites de grão interiores), podendo ser contornos de pequeno ângulo, contornos de grão, interface precipitado - matriz; • Defeitos volumétricos: defeitos macroscópicos tridimensionais se estendem sobre o conjunto dos átomos na estrutura ou no volume. Como exemplos destes defeitos pode-se citar os poros, as fendas, os precipitados e as inclusões. 4.1 DEFEITOS PONTUAIS A figura 23 abaixo mostra os tipos de defeitos pontuais que podem ocorrer em uma estrutura cristalina e a seguir será definido cada um deles. Figura 23 – Tipos de defeitos pontuais. 38 4.1.1 DEFEITOS DE LACUNAS O defeito pontual mais simples é a lacuna, que corresponde a uma posição atômica na qual falta um átomo (figura 24). As lacunas podem ser originadas durante a solidificação, como resultado de perturbações locais durante o crescimento dos cristais, ou podem ser criadas pelo rearranjo dos átomos de um cristal, devido à mobilidade atômica. Figura 24 - Defeitos pontual de lacuna na rede de um metal sólido compacto. 4.1.2 DEFEITOS INTERSTICIAIS Um átomo de um cristal pode, por vezes, ocupar um interstício5 entre os átomos vizinhos em posições atômicas normais (figura 25). Este tipo de defeito pontual é designado por auto-intersticial ou intersticial. Assim, um defeito auto- intersticial deve-se a um átomo do cristal posicionado em um sítio intersticial, que em circunstâncias normais estaria vago (figura 26). Figura 25 - Defeito pontual auto-intersticial ou intersticial, na rede de um metal sólido compacto. 5 Espaçosvazios entre os átomos. 39 Figura 26 - Defeito auto-intersticial e sítio intersticial vago. A presença de um átomo em uma posição que não pertence à estrutura do cristal perfeito (figura 27) como a ocupação de um vazio intersticial, por exemplo, significa uma distorção na estrutura devido ao desajuste causado pela presença deste átomo (tem efeito endurecedor). É importante lembrar que desvios ou distorções na distância interatômica de equilíbrio causam aumento de energia. Ocorre quando átomos têm tamanho muito menor do que o solvente. Tem maior mobilidade na rede, pois interdifusão não exige mecanismo de lacunas. Caso do H e do C nos aços. Figura. 27 - Defeito intersticial. 40 4.1.3 DEFEITOS SUBSTITUCIONAL Ocorre quando átomos têm tamanhos próximos aqueles da matriz (figura 28) com diferenças entre raios menor que 15%. Gera distorção no reticulado: introduz tensões, atua como barreira ao movimento de discordâncias e aumenta a resistência do material. É mais difícil se mover (interdifusão) pela rede cristalina. Exemplos: Ni em aços inoxidáveis austeníticos esta dissolvido na austenita e Zn (abaixo de 30 %) no cobre forma latão. Figura 28 – (a) substitucional átomo grande e (b) substitucional átomo pequeno. 4.1.4 DEFEITOS PONTUAIS EM SÓLIDOS IÔNICOS Nos cristais iônicos, os defeitos pontuais são mais complexos, devido à necessidade de manter a neutralidade elétrica. Quando, num cristal iônico, faltam dois íons de cargas contrárias, origina-se uma bilacuna cátion-ânion que é conhecida por defeito de Schottky (figura 29). Se, num cristal iônico, um cátion se move para um interstício, cria-se uma lacuna catiônica no local onde o íon se encontrava. Este par lacuna-intersticial é designado por defeito de Frenkel (figura 29). A presença destes defeitos nos cristais iônicos aumenta a sua condutibilidade elétrica. 41 Figura 29 - Representação bidimensional de um cristal iônico, mostrando um defeito de Frenkel e um defeito de Schottky. Átomos de impurezas do tipo substitucional ou intersticial também são defeitos pontuais e podem surgir em cristais metálicos ou covalentes. Por exemplo, pequenas quantidades de átomos de impurezas substitucionais podem afetar fortemente a condutibilidade elétrica do Silício puro usado em dispositivos eletrônicos. Nos cristais iônicos, os átomos de impurezas também são considerados defeitos pontuais. A figura 30, a esquerda, mostra os defeitos pontuais de vazios ou lacunas e intersticiais em um modelo de estrutura cristalina em duas dimensões (2D) e as linhas de distorção causadas por esses defeitos nos planos de átomos, a direita uma representação em três dimensões (3D) desses defeitos mais o substitucional. Figura 30 –Representação em 2D e 3D dos defeitos pontuais na estrutura cristalina 42 4.2 DEFEITOS LINEARES (DISCORDÂNCIAS) Nos sólidos cristalinos, os defeitos lineares ou discordâncias são defeitos que originam uma distorção da rede centrada em torno de uma linha. As discordâncias são originadas durante a solidificação dos sólidos cristalinos. Podem também ser originadas por deformação plástica, ou permanente, de sólidos cristalinos, por condensação de lacunas e por desajustamentos atômicos em soluções sólidas. Os dois principais tipos de defeitos lineares são: discordâncias em linha, cunha (aresta) e em hélice espiral (ou parafuso). A combinação destes dois tipos origina as discordâncias mistas, que têm componentes cunha (aresta) e parafuso (espiral). Pode-se criar uma discordância em cunha (aresta), num cristal, por inserção de um semi-plano atômico adicional (ou extra), resultante do deslocamento de um plano atômico em sentidos opostos, (figura 31a), imediatamente acima do símbolo T. O "tê" invertido. ⊥, indica uma discordância cunha positiva, enquanto que o "tê" normal, T, indica uma discordância cunha negativa. O deslocamento dos átomos em torno da discordância é designado por vetor de escorregamento ou vetor de Burgers b e é perpendicular à linha da discordância cunha (Figura 31b). Figura 31 - (a) Discordância cunha (aresta) positiva, numa rede cristalina. Aparece um defeito linear na região imediatamente acima do "tê" invertido, ⊥, onde um semiplano atômico foi introduzido. (b) Discordância cunha (aresta) com indicação da orientação do vetor de Burgers ou de escorregamento b. 43 As discordâncias são defeitos de não-equilíbrio e armazenam energia na região distorcida da rede cristalina, em torno da discordância. Na discordância cunha (aresta) existe uma região em compressão, do lado em que o semiplano adicional se encontra, e uma região em tração abaixo do semiplano atômico adicional (figura 32). Figura 32 – Campos de deformação de compressão e tração em torno de uma discordância cunha (aresta). Uma discordância em hélice espiral (ou parafuso) pode ser formada num cristal perfeito aplicando tensões de corte, para cima e para baixo, em regiões do cristal perfeito que foram separadas por um plano de corte, como se mostra na Figura 33. Estas tensões de corte introduzem uma região com a rede cristalina distorcida, com a forma de uma rampa, em espiral, de átomos distorcidos em torno da linha da discordância parafuso (Figura 33). A região distorcida não é bem definida e tem um diâmetro de, pelo menos, vários átomos. A energia é armazenada na região distorcida criada em torno da discordância parafuso (Figura 34). O vetor de escorregamento ou de Burgers da discordância parafuso (espiral) é paralelo à linha da discordância, como se mostra na Figura 33. 44 Figura 33 – Discordância parafuso (espiral) numa rede cristalina cúbica. Figura 34 - Campo de deformação em torno de uma discordância parafuso (espiral). A discordância parafuso é criada por aplicação, num plano de corte, de tensões de corte (ou tangenciais), para cima e para baixo. Uma discordância parafuso consiste numa rampa, em espiral, de átomos distorcidos e é representada, no desenho, por uma linha. O alcance da distorção não está 45 definido, mas é, pelo menos, de vários átomos. O vetor de escorregamento (vetor de Burgers) da discordância parafuso é paralelo à linha da discordância. Nos cristais, a maior parte das discordâncias é do tipo misto, tendo componentes cunha (aresta) e parafuso (espiral). A discordância curvilínea representada na figura 35, é parafuso no ponto, à esquerda, onde entra no cristal, e cunha no ponto, à direita, onde sai do cristal. No interior do cristal, a discordância é mista, com componentes cunha e parafuso (aresta e espiral). Figura 35 - Discordância mista num cristal. A discordância, de linha AB, é parafuso no ponto, à esquerda, em que entra no cristal, e cunha no ponto, à direita, onde sai do cristal. 4.3 DEFEITOS SUPERFICIAIS (PLANARES) Os defeitos superficiais são defeitos bidimensionais ou interfaciais que compreendem regiões do material com diferentes estruturas cristalinas e/ou diferentes orientações cristalográficas. Estes defeitos incluem: • Superfícies externas; • Contornos de fase; • Contorno de grão; • Contornos de macla; • Defeitos de empilhamento. 46 4.3.1 SUPERFÍCIES EXTERNAS Átomos da superfície apresentam ligações químicas insatisfeitas e em virtude disto, estão em um estado de energia mais elevado que os átomos do núcleo (com menor número de coordenação). As ligações insatisfeitas dos átomos da superfície dão origem a uma energia de superfície ou energia interfacial (J/m2). A redução desta energia adicional (tudo tende a menor energia) é obtida pela redução da área superficial. No caso de gotas de líquido, estas tendem a assumir a forma esférica (maior volume com a menor área exposta). 4.3.2 CONTORNO DE FASE Os contornos de fase são as fronteiras que separam fases com estruturas cristalinase composições distintas (figura 36). Figura 36 - Exemplo de contorno de fase. 4.3.3 CONTORNO DE GRÃO Os contornos de grão são defeitos interfaciais, em materiais policristalinos, que separam grãos (cristais) com diferentes orientações. Nos materiais metálicos, os contornos de grão formam-se durante a solidificação, quando os cristais, gerados a partir de diferentes núcleos, crescem 47 simultaneamente e se encontram. A forma dos limites de grão é determinada pelas restrições impostas pelo crescimento dos grãos vizinhos. Na figura 37, mostram-se, esquematicamente, as superfícies dos limites de grão de uma estrutura de grãos aproximadamente equiaxiais e, na figura 38, mostram-se grãos reais. Figura 37 - Esquema mostrando a relação entre a estrutura bidimensional de um material cristalino e a rede tridimensional subjacente. Apenas se mostram partes do interior e das faces dos grãos. Figura 38 - Limites de grão na superfície de amostras polidas e atacadas quimicamente, observadas em microscopia ótica. Aço de baixo carbono (Ampliação 1005 x). 48 4.3.4 TAMANHO DE GRÃO O tamanho de grão dos metais policristalinos é importante, já que a área de limites de grão tem um efeito importante em muitas propriedades dos metais, especialmente na resistência mecânica. À temperaturas mais baixas (inferiores a cerca de metade da temperatura absoluta de fusão), os limites de grão provocam um aumento da resistência mecânica dos metais, porque dificultam o movimento das discordâncias sob tensão. A temperaturas elevadas, pode ocorrer o escorregamento ao longo dos limites de grão e estes tornam-se regiões de fraqueza nos metais policristalinos. 4.3.5 CONTORNO DE MACLA As maclas são um tipo especial de contorno de grão no qual existe uma simetria especular, ou seja, os átomos de um lado do contorno estão localizados em uma posição que é a posição refletida do outro lado (figura 39). A região de material entre os contornos é chamada macla. As maclas são resultantes de deslocamentos atômicos produzidos por tensões de cisalhamento (maclas de deformação) ou durante tratamento térmico (maclas de recozimento). A formação de maclas (maclação) ocorre em planos cristalográficos definidos e direções cristalográficas específicas, que são dependentes da estrutura cristalina. Maclas de recozimento ocorrem em metais com estrutura CFC e maclas de deformação ou mecânicas são observáveis em metais CCC e HC. Figura 39 - Contorno de macla (‘twin boundary’) que separa duas regiões cristalinas, que são, estruturalmente, imagem especular uma da outra. 49 4.3.6 DEFEITOS DE EMPILHAMENTO São comuns em materiais cúbicos de face centrada (CFC), ocorrem nos materiais quando há uma interrupção na sequência de empilhamento, por exemplo na sequência ABCABCABC....(figura 40) dos planos compactos dos cristais CFC. Figura 40 – Sequencias de empilhamento de planos compactos. Nos cristais CFC esta sequência é do tipo ABCABCABC..., nos cristais hexagonais compactos (HC) ela é ABABAB..., uma sequência ABCABABCABC...em uma região do cristal CFC, caracteriza uma falha de empilhamento, que vem a ser uma pequena região HC dentro do cristal CFC. 4.4 DEFEITOS TRIDIMENSIONAIS São as partículas de segunda fase, poros e trincas. Os precipitados são divididos em dois tipos: partículas de segunda fase e inclusões, isto porque quando dois componentes são misturados, podem acontecer basicamente três situações: • caso 1 - solubilização total de um componente no outro: como é o caso da mistura de água com álcool - a solução resultante é uma mistura homogênea na qual não se consegue mais distinguir os componentes que lhe deram origem. 50 • caso 2 - solubilização parcial de um componente no outro: como é o caso da mistura de água com açúcar - a solução resultante depende das proporções relativas de cada um dos componentes – se adicionarmos uma colher de açúcar a um copo de água teremos uma solução homogênea (uma água adocicada), solução esta que também não permite distinguir os componentes que lhe deram origem; Contudo, se adicionarmos cinco colheres de açúcar a um copo de água veremos que parte do açúcar se dissolverá na água, mas parte dele ficará sedimentado no fundo do copo. Em casos como este se diz que há solubilidade parcial entre os componentes da mistura. • caso 3 - solubilização nula de um componente no outro: como é o caso da mistura de água com óleo - não há solução, e sim uma mistura de dois componentes, o de maior densidade ficando no fundo do copo. Tanto no caso 2 como no caso 3 temos misturas heterogêneas, formadas por duas fases distintas: caso 2 - a primeira fase (fase a) é a solução água adocicada e a segunda fase (fase b) é a sedimentação do fundo do copo; caso 3 - a primeira fase (fase a) é a água e a segunda fase (fase b) é o óleo. A ocorrência de uma segunda fase deve-se ao grau de solubilidade entre os componentes da mistura. Estes são exemplos de precipitados chamados de partículas de segunda fase. A mistura água com açúcar foi feita de propósito. Como a solubilidade do açúcar na água é limitada, pode haver o aparecimento de uma segunda fase se adicionarmos açúcar em quantidade exagerada. Mas, se adicionarmos açúcar em quantidade exagerada pode aparecer também uma abelha e cair dentro do copo. Bem, a abelha é o que se poderia chamar de inclusão. Aparece lá sem que a gente tenha propositadamente adicionado. É o caso dos óxidos e de outras partículas como sulfetos e fosfetos, por exemplo. Elas são decorrentes de reações de oxi-redução entre o oxigênio do ar com os metais componentes da mistura, ou advém de reações entre componentes da matéria-prima utilizada (por exemplo, o enxofre que está presente no coque que por sua vez é utilizado na fabricação do aço) com os componentes da mistura. 51 DIFUSÃO E MOVIMENTOS ATÔMICOS: TRANSFERÊNCIA DE MASSA INTRODUÇÃO Difusão é o transporte de matéria no estado sólido, induzido por agitação térmica. Outra definição: é o movimento de uma espécie química de uma região de alta concentração para outra de baixa concentração. Muitas reações e processos industriais importantes no tratamento de materiais dependem do transporte de massa de uma espécie sólida, liquida ou gasosa (a nível microscópico) em outra fase sólida. Isso é realizado obrigatoriamente através da difusão. A difusão pode ser definida então, como sendo o mecanismo pelo qual a matéria é transportada através da matéria. Os átomos, em gases, líquidos e sólidos, estão em movimento constante e migram ao longo do tempo. Nos gases, os movimentos atômicos são relativamente rápidos, conforme mostra o movimento rápido dos odores culinários ou do fumo. Nos líquidos, os movimentos atômicos são, em geral, mais lentos do que nos gases, como é evidenciado pelo movimento da tinta em água líquida. Nos sólidos, os movimentos atômicos são dificultados devido à ligação dos átomos em posições de equilíbrio. Contudo, as vibrações térmicas que ocorrem nos sólidos permitem o movimento de alguns átomos. Nos metais e ligas metálicas, a difusão dos átomos é particularmente importante, já que a maior parte das reações no estado sólido envolve movimentos atômicos. Como exemplos de reações no estado sólido, temos a precipitação de uma segunda fase a partir de uma solução sólida e a nucleação e crescimento de novos grãos, durante a recristalização de um metal deformado a frio. Como exemplos importantes do efeito da difusão na Engenharia Mecânica pode-se citar a cementação, a sinterização, a soldagem por difusão, tratamentos térmicos, (galvanização e tempera) e as operações de transferência de massa 5 52 na Engenharia Química. Na Engenharia Elétrica a difusão de impurezas em bolachas de silício, de modo a alterar as propriedades elétricas, é importante
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