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Estudo de caso Análise de uma fobia em um menino de cinco anos

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ESTUDO DE CASO PSICANALÍTICO: ANÁLISE DE UMA FOBIA EM UM MENINO DE 5 ANOS
1. INTRODUÇÃO
 O estudo desse caso é feito a partir do artigo de Sigmund Freud que tem como nome “Análise de uma fobia em um menino de cinco anos”. Tal texto encontra-se no volume X de suas obras psicológicas completas. A análise será realizada em torno não só do decorrer da doença do pequeno Hans, mas também levando em consideração a forma que se deu início até a forma em que foi dada seu encerramento.
2. APRESENTAÇÃO
Hans é uma criança que ao apresentar sinais de fobia por volta dos seus 5 anos de idade, é levado a uma consulta com Freud pelo pai, cujo tinha interesse pela psicanálise. Vale salientar que, antes desse encontro, que ocorreu apenas uma vez por meio de uma breve conversa, o pai já entrara em contato com o médico através de cartas, onde relatava descritivamente o decorrer da doença do filho e seu tratamento. Isto é, Hans foi analisado pelo próprio pai, o qual efetuou o tratamento com a supervisão de Freud a distância. O menino sempre se mostrou aberto e colaborativo com o próprio caso, relatando seus sonhos, sentimentos e vontades, sabendo que tudo iria ser anotado e enviado à Freud. O mesmo o fazia com animação, pois o que mais queria era ser curado de sua “bobagem”, expressão dada a sua doença. Seu humor era descrito como alegre e animado, apesar de seu receio em sair à rua. Ele morava com seus pais e sua irmã mais nova, e sempre possuiu muitos questionamentos a respeito dos órgãos sexuais e suas diferenças anatômicas.
3. QUEIXA
De início, o pai de Hans confessa sua preocupação em relação a um “distúrbio nervoso” que o menino vinha apresentando, no qual ele e sua esposa não estavam conseguindo corrigir.
O jovem garoto estava com temor de sair de casa. Tal temor foi descoberto posteriormente que se tratava de um medo de cavalos e medo de ser mordido por eles, consequentemente, o fazendo ter pavor de sair de casa já que na época o transporte público era composto por muitas charretes. Com o passar do tempo, Hans apresentou um medo específico de cavalos grandes com antolhos e algo no rosto que o incomodava, “uma coisa preta” presente na boca deles. Ademais, também surgiu o medo de charretes, caixas e caixotes grandes quando estão cheios ou carregados, e até mesmo de ônibus cheios. Também foi descoberto que ele não tinha apenas medo do cavalo o morder, mas também de que ele sofresse uma queda. Toda essa fobia relacionada a cavalos gerava problemas de limitação em seu cotidiano.
4. CONDUTA TERAPÊUTICA
Trabalhou-se procurando fazer com o que o pequeno Hans percebesse de onde estava vindo seu medo. Como dito anteriormente, o papel de Freud frente ao caso foi a distância, servindo apenas como orientação e supervisão para o pai do garoto, quem realmente lidou com o caso diretamente. Diante dos relatos feitos pelo pai, Freud optou por começar examinando todos os elementos que tinha sobre o caso. Por conseguinte, combinou com o pai de Hans que ele diria ao filho que toda sua fobia não passava de uma bobagem, que a verdade é que ele gostava muito de sua mãe e que queria que ela o levasse para sua cama. A partir disso, Freud sugeriu que o pai começasse a dar a Hans mais esclarecimentos a respeito do conhecimento sexual. Porém, apesar dos esclarecimentos terem sido efetuados, o medo ainda não havia diminuído e o pai levou Hans ao consultório do médico, ocorrendo assim, a única análise direta de Freud perante o menino. Durante a consulta, ao se deparar com pai e filho lado a lado, percebeu um elemento novo para a solução: Assim como os cavalos que Hans tinha medo, o pai do garoto também tinha uma coisa preta em seu rosto, isto é, um bigode. E enquanto os cavalos que Hans tinha medo possuíam antolhos, seu pai tinha óculos em seu rosto. Com isso, Freud notou a transferência que o garoto fazia do pai para o cavalo e revelou para ele que ele tinha medo do pai por gostar muito da mãe. Contou também da possibilidade de ele achar que o pai estava aborrecido com ele por esse motivo, mas que não era verdade, pois, seu pai o amava muito. Dias após essa revelação, já era possível enxergar uma melhora significativa no comportamento de Hans. 
5. NATUREZA DO SOFRIMENTO PSÍQUICO
É de se pensar que Hans está passando por um quadro de neurose fóbica, pois, o sofrimento tem relação com o mundo externo. Isto é, os conteúdos do inconsciente que são intoleráveis, são consequentemente projetados para algum elemento do ambiente externo, no qual se torna o objeto ameaçador. 
O sofrimento psíquico dele começou com alguns pensamentos apreensivos e ternos durante o verão. Segundo seu pai, à noite ele ficava muito sentimental em relação a mãe, imaginando como seria ficar sem ela. Tal sentimentalismo fazia com que a mesma o levasse para dormir junto de si. O tempo se passou e no início de 1908, quando Hans tinha 4 anos e 9 meses, ele teve um sonho de ansiedade que o afligiu ao ponto de fazê-lo acordar chorando. O conteúdo desse sonho tinha relação com o afastamento de sua mãe: ela indo embora e ele ficando sem suas carícias. Nesses primeiros acontecimentos já é possível observar uma afeição por ela fortemente intensa. Alguns dias depois, Hans, juntamente de sua babá, foi fazer um passeio. Essa prática já era um costume, porém, nesse dia em específico ele começou a chorar, pedindo que fosse levado para casa de volta para sua mãe.  Até esse ponto, o que Hans sentia ainda não era medo, era uma ansiedade gerada pelo aumento contínuo de afeição pela mãe, não tinha um objeto com que dar saída. No dia seguinte, o passeio de Hans foi feito com a própria mãe. Ele estava com o objeto ansiado, porém, ainda assim sofria de ansiedade. Essa ansiedade, no entanto, era uma forma que sua ânsia erótica reprimida se apresentava. Foi nesse passeio junto de sua mãe que sua ansiedade encontrou um objeto de saída: O medo de que um cavalo o mordesse. Assim se deu início a sua fobia, um sintoma advindo de conteúdo do inconsciente que tentavam ter acesso ao consciente, isto é, houve o que Freud designou de “retorno do recalcado” alguns anos depois. Durante o processo de análise, foi descoberta a natureza da fobia de Hans. Ela se instalou quando ele viu em sua frente a queda de um cavalo grande e pesado, e, com a cena, percebeu seu desejo de que seu pai caísse daquela mesma forma e morresse. 
Levando em consideração que o ego procura realizar os desejos do id e atender às exigências de moral do superego, é possível perceber que o ego de Hans trabalhou com os mecanismos de defesa de deslocamento e formação reativa. A formação reativa ocorreu quando o ego inverteu a pulsão de agredir para ser agredido, ou seja, o ódio que o menino possui pelo pai sofreu repressão e foi substituído por ter medo dele. Já o deslocamento, ocorreu quando houve mudança do objeto, que no caso de Hans, foi do pai para o cavalo. O papel do deslocamento como sintoma é permitir a satisfação pulsional do Id de forma velada, para com isso, também atender às exigências do superego, tendo em vista o que é moralmente aceito. Porém é uma solução falsa, levando em consideração que, apesar de não existir conflito com o pai, há a presença da inibição: não poder sair à rua.
6. HIPÓTESE INTERPRETATIVA
Freud intuiu que o medo de Hans de ser mordido por um cavalo podia ser, na verdade, um protótipo para o sentimento de ameaça corporal ligado à fantasia de castração. Ou seja, o temor que ele possuía de perder os dedos em uma mordida, por exemplo, era um símbolo do temor de perder seu pênis. Posteriormente, descobriu-se que Hans tinha medo não apenas do cavalo o morder, mas também tinha medo dele cair. Com isso, reforça-se a teoria do que realmente estava por trás da sua fobia: O complexo de Édipo juntamente com a angústia de castração. Quando Hans era mais novo e se deparou com o órgão genital de sua irmã, em sua própria concepção ele entendeu que ela não tinha um pênis pelo fato de ter sido removido. Assim, ao sentir desejos inconscientes pela sua figura materna, o mesmo buscava afastar o pai que eravisto como rival e, ao fazer isso, desenvolvia o medo de que ele cortasse seu órgão genital como forma de punição. No caso, o cavalo era seu pai que o morderia como punição pelo desejo que Hans sentia de que ele caísse. O estabelecimento do complexo de Édipo estaria, para Freud, ligado ao momento em que Hans, seu pai e sua mãe vão passar uma temporada em uma cidade chamada Gmünd. Nessa época o pai voltava a cidade natal para trabalhar e ia para Gmünd de vez em quando visitar a família. Quando o mesmo não estava presente, Hans dormia com a mãe. Durante esses momentos sem o pai, o menino passou a descobrir prazeres em relação a figura materna, prazeres esses proporcionados ao ficar sozinho com ela. E quando o pai voltava, ele sentia que esse momento de afeto era interrompido e interditado pela figura paterna. Gerando, dessa forma, os sonhos de angústia e o início da fobia. Na medida em que foi sendo esclarecido para Hans o motivo de seu medo, a fobia foi se transformando, passando a ser direcionada a cavalos com charretes cheias. Tais charretes seriam o símbolo de sua mãe grávida de sua irmã mais nova, a qual Hans também enxergava como um obstáculo para a realização de seu desejo. Logo, o medo de caixotes, caixas e até mesmo ônibus também cheios, se davam a partir de sua simbologia parecida com a da charrete.
7. FECHAMENTO DO ATENDIMENTO:
Apesar de Hans ter demonstrado uma melhora significativa após a primeira parcela de esclarecimento feita por Freud, o menino ainda possuía traços de grande ansiedade. Por conseguinte, Hans tivera duas fantasias responsáveis pelo fim de sua fobia. Uma deu um “final feliz” para suas expectativas criadas no complexo de Édipo e a outra cessou a ansiedade que restava provocada pelo complexo de castração. A primeira se tratava de uma nova elaboração do quadro familiar onde Hans casara e tinha filhos com sua mãe. Seu pai, por outro lado, também casara com a própria mãe e era o avô de seus filhos, gerando assim uma conclusão satisfatória, pois, desta forma ele não precisaria tirar seu pai do caminho enxergando-o como ameaça. E a última consistia em um sonho onde um bombeiro chegava com um par de pinças, castrava seu órgão, mas logo em seguida voltava com um maior para devolvê-lo. Por fim, o menino manteve apenas o instinto normal de fazer perguntas, mas sua fobia foi eliminada.
8. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A análise do caso do menino Hans feita em grupo mostrou diversos aspectos e características da psicanálise de forma prática, como um sintoma de neurose age e acontece na vida de alguém, como começa e se agrava e como com a psicanálise de Freud passamos a entender e tratar. No caso, passamos a ver um tipo particular, e único caso que foi realmente com uma criança nos relatos de Freud, isso trouxe reflexões e entendimentos incríveis, pois sabemos como a infância pode ser importante na psicanálise. 
Nele pudemos observar o aparecimento de concepções da teoria freudiana, como complexo de édipo, castração, em visão clínica na criança, entendendo aquilo diretamente com uma criança. Entendendo o quanto o sintoma é importante para o entendimento e tratamento, a escuta é essencial para que se compreenda a origem do sintoma e que se chegue em um tratamento. Passando a decifrar aquele sintoma, analisando o sistema psíquico, como os desejos recalcados para o inconsciente são emergidos de volta no consciente por meio de deslocamento e substituição; como o ego, superego e id funcionam nesse processo. 
No todo foi aprendido de forma completa, integrada, a teoria e prática, o sintoma, a doença, o tratamento e diagnóstico pela clínica psicanalítica. 
REFERÊNCIAS
_______. Duas Histórias Clínicas O “Pequeno Hans” e o “Homem dos Ratos” (1909). In: Obras psicológicas completas de Sigmund Freud: Imago Editora, Rio de Janeiro. 1996. Vol.X
FREUD, S. Um Caso de Histeria, Três Ensaios sobre a Sexualidade e outros Trabalhos (1901-1905). In: Obras psicológicas completas de Sigmund Freud: Imago Editora, Rio de Janeiro. 1996. Vol.VII. p. 119-126.
SILVA, C.S.C. O entendimento psicanalítico da fobia. Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2005
FREUD, S.(1926). Inibições, sintomas e angústia. Rio de Janeiro:Imago,1980 (Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud,v. XX).
FREUD, S. (1909). Análise de uma Fobia em um Menino de Cinco Anos. Rio de Janeiro:Imago,1990 (Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud,v. X).
FREUD, S. (1894) Obsessões e Fobias. Rio de Janeiro:Imago,1986, 2.ed. (Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud,v. III).

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