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Melissa Reis Martins REGIME DE BENS NO CASAMENTO E NA UNIÃO ESTÁVEL Porto Velho - RO 2020 Melissa Reis Martins REGIME DE BENS NO CASAMENTO E NA UNIÃO ESTÁVEL Artigo apresentado na disciplina de Direito Civil VI (Direito de Família), ministrada pelo Prof. Dr. Adolfo Theodoro Naujorks Neto, no Curso de Bacharelado em Direito.do Centro Universitário São Lucas, no 7º período, como requisito avaliativo no primeiro semestre de 2020. Porto Velho - RO 2020 1 INTRODUÇÃO CONTEXTO HISTÓRICO Segundo Maria Berenice (2016), quando da edição do Código Civil de 1916, somente era reconhecida a família constituída pelo casamento, que era indissolúvel, ensejando a união plena de vida e do patrimônio. Nessa época, o regime legal era o da comunhão universal de bens, todos os bens são do casal, de forma igualitária, não importando a origem do patrimônio ou a época de sua aquisição. Existia também o regime dotal: os bens da mulher eram entregues à administração do marido e os rendimentos eram destinados a atender aos encargos do lar. Por ter-se mostrado inútil, não se tem notícia de ter sido utilizado, daí sua revogação. Ainda conforme a autora, com caráter protetivo à mulher, o Estatuto da Mulher Casada (L 4.121/62) instituiu os bens reservados: a incomunicabilidade do patrimônio adquirido por ela com o fruto de seu trabalho. A consagração constitucional da igualdade entre o homem e a mulher levou ao reconhecimento da extinção do instituto, por afronta ao princípio da isonomia. A partir da Lei do Divórcio (L 6.515/77), o regime legal de bens passou a ser o da comunhão parcial, que afasta a comunicação do acervo adquirido antes do casamento. Não se comunicam heranças, legados e doações percebidos por um dos cônjuges, a qualquer tempo, antes ou durante o matrimônio. O estado de condomínio se estabelece somente com relação aos aquestos, isto é, os bens adquiridos no período da vida em comum. Destaca-se, ainda, que o Código Civil excluiu o regime dotal, incluindo o regime da participação final nos aquestos e a possibilidade de alteração do regime de bens na constância do casamento. Na união estável vigora o regime da comunhão parcial. Podem optar por outro regime via contrato de convivência; nada mais do que um pacto antenupcial, com acentuadas vantagens. 2 CASAMENTO Segundo Flávio Tartuce (2020) o casamento pode ser conceituado como a união de duas pessoas, reconhecida e regulamentada pelo Estado, formada com o objetivo de constituição de uma família e baseado em um vínculo de afeto. A Constituição Federal de 1988 trata da Família no art. 226, trazendo um rol exemplificativo, o qual não exclui a possibilidade de outros modelos de entidade familiar. Vejamos: Art. 226. A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado. § 1º O casamento é civil e gratuita a celebração. § 2º O casamento religioso tem efeito civil, nos termos da lei. § 3º Para efeito da proteção do Estado, é reconhecida a união estável entre o homem e a mulher como entidade familiar, devendo a lei facilitar sua conversão em casamento. § 4º Entende-se, também, como entidade familiar a comunidade formada por qualquer dos pais e seus descendentes. § 5º Os direitos e deveres referentes à sociedade conjugal são exercidos igualmente pelo homem e pela mulher. § 6º O casamento civil pode ser dissolvido pelo divórcio. (Redação dada Pela Emenda Constitucional nº 66, de 2010) § 7º Fundado nos princípios da dignidade da pessoa humana e da paternidade responsável, o planejamento familiar é livre decisão do casal, competindo ao Estado propiciar recursos educacionais e científicos para o exercício desse direito, vedada qualquer forma coercitiva por parte de instituições oficiais ou privadas. § 8º O Estado assegurará a assistência à família na pessoa de cada um dos que a integram, criando mecanismos para coibir a violência no âmbito de suas relações. Para o direito brasileiro, a família é considerada a família a base da sociedade, e por isso a instituição do casamento é por meio de normas imperativas, já que são de ordem pública. Assim, as partes que quiserem constituir o casamento devem passar por diversos requisitos, e por muitos anos tinha a ideia de dificultar a sua dissolução, criando prazos a serem cumpridos e a discussão da existência de culpa do desfecho do casamento. Conforme reiterado por Maria Berenice (2016), é sabido que o casamento estabelece plena comunhão de vida (CC 1.511) e impõe deveres e obrigações 3 recíprocos (CC 1.565). Ou seja, não é só uma comunhão de afetos. Também gera a solidariedade dos cônjuges entre si e frente à entidade familiar. Além de estabelecer a plena comunhão de vida, este ato solene gera a solidariedade entre os cônjuges para com a entidade familiar, também gera a assistência mútua, já que o casal responde pela criação dos filhos e a manutenção do lar comum. São ambos responsáveis pela subsistência da família, devendo cobrir os custos e suprir os gastos com suas rendas e bens, na medida da disponibilidade de cada um. Tornando a relação muito além do aspecto sentimento, o casamento traz o entrelaçamento dos bens e das responsabilidades, por isso o Estado faz com que algumas questões sejam tratadas antes das núpcias. Conforme apontado por Ana Cecília Alves (2019), a norma brasileira não só regulamenta a constituição e a dissolução do casamento, mas também estabelece e regulamenta questões de ordem pública ainda que durante sua vigência ou de união estável. A inclusão e a exclusão de bens, anteriores ou posteriores ao casamento, dão significados aos diversos regimes e servem para definir a origem, a titularidade e o destino do patrimônio conjugal. A separação ou a comunhão dos bens individuais, a comunicabilidade ou não do acervo amealhado depois da união é que permite diferenciar os diversos regimes de bens. Assim, antes do casamento, devem os noivos escolher um dos regimes existentes, criar um modelo novo da forma que melhor satisfaça os objetivos do casal, ou ainda usar os existentes e formatar um outro, feito por meio da junção de outros existentes. Os companheiros podem fazer isto antes de darem início à união estável e durante a sua vigência, de forma livre, sem a necessidade de interferência judicial. Pela doutrina são chamados de primários os quatro tipos de regime de bens previstos na lei e chama de secundários aqueles regimes em que os nubentes, por meio de pacto antinupcial ou contrato de convivência, criam um novo regime. 4 Entretanto, ainda que as partes possam exercer suas vontades a autonomia é relativa, já que existem algumas limitações quanto ao direito sucessório e sobre direito aos alimentos, tratados nos artigos 426 e 1.707 do Código Civil, mas quanto a questões patrimoniais, as partes podem dispor livremente, e, deixando de escolherem o regime de bens o Estado faz opção pelo regime de comunhão parcial, da mesma forma para a união estável. UNIÃO ESTÁVEL No decorrer dos anos, o Poder Judiciário foi acionado para dirimir conflitos da mesma natureza decorrentes da união entre casais, sem o ato solene do casamento. Dessa forma, diante da multiplicação das questões judiciais trazidas à juízo, tornou-se imperativo reavaliar a disciplina jurídica em vigor, bem como a adaptação para suprimir a proliferação de injustiças ocasionadas pela falta de amparo legal em relação a esse tipo de união. Paulo Dourado de Gusmão (2006) conceitua o concubinato em sua obra, como a união livre e estável de um homem com uma mulher, não resultante do casamento, que não altera o estado civil dos concubinários, na qual são mantidas relações sexuais e da qual é constituída uma família (família natural ou ilegítima), em que os concubinários convivem notoriamente sob o mesmo teto (more uxorio), como se marido e mulher fossem, com fidelidade recíproca. Note-se, que os elementos apresentados neste conceito clássico convergem para o fato essencial da constituição da família. E, verdadeiramente, a realidadesocial impôs tal conceito no plano jurídico, na medida em que seria de todo impossível, sob pena de grave desequilíbrio na proteção jurisdicional, desconhecer a existência de família assim constituída. Segundo Carlos Alberto Menezes (2004), entidade familiar tanto é a que se origina do casamento, como a que nasce da união estável, como, ainda, a comunidade formada por qualquer dos pais e seus descendentes, nos termos do supracitado art. 226 da Constituição Federal de 1988. 5 A união estável, entidade familiar formada por um homem e uma mulher, é a vida em comum, more uxorio, por período que revele estabilidade e vocação de permanência, com sinais claros, induvidosos da vida familiar, e com o uso em comum do patrimônio. Assim sendo, em conformidade com as transformações sociais e entendimentos adotados pelo texto constitucional, foram editadas leis de hierarquia inferior a respeito do assunto, devendo-se ressaltar as relativas à previdência social, que permitiram a inclusão do(a) companheiro(a) como dependente do segurado em condição igual à do cônjuge, e, principalmente, as Leis 8.971/94 e 9.278/96, que regulamenta o instituto e suas consequências jurídicas. Por fim, salienta-se que o Código Civil de 2002 cuida da união estável nos artigos 1723 a 1727, fazendo distinção entre união estável e concubinato ao estabelecer, no artigo 1727, que as relações não eventuais entre o homem e a mulher, impedidos de casar, constituem concubinato. MEAÇÃO Segundo Maria Berenice (2016), de um modo geral, o universo dos bens adquiridos durante o período de convivência - seja casamento, seja união estável - pertence a ambos. Cada um é titular da metade de cada um dos bens. Daí a expressão meação: metade dos bens comuns. A exceção fica por conta do regime de bens adotado, espontaneamente, pelo casal via pacto antenupcial ou contrato de convivência. Livremente o par pode pactuar de forma diferente. Em algumas hipóteses a lei impõe o regime da separação de bens: quando um ou ambos tiverem mais de 70 anos ou quando descumprirem a recomendação legal de não casar (CC 1.641). Os bens que integram a meação de cada um são de sua propriedade exclusiva, ainda que permaneçam em estado comum pertencente a ambos em partes iguais. 6 Conforme trazido por Pietro Perlingieri (2008), o regime de comunhão patrimonial de bens é o mais idôneo para a realização dos interesses da família, pois assegura a igualdade econômica dos cônjuges ou conviventes, mesmo porque são os bens conjugais que respondem pela manutenção da família, incluídas as despesas com a formação e educação dos filhos e todos os naturais e elevados custos provocados pela vida familiar. Dessa forma, é notável que a identificação do regime de bens tem grande significado durante o período da vida em comum e também quando do fim da convivência. Conforme aponta Maria Berenice (2016), o direito à meação é irrenunciável e durante o período de convívio não pode ser cedido e nem penhorado. No regime da comunhão universal, integra a meação todo o acervo: os bens particulares de ambos e os adquiridos, a qualquer título, antes e depois da união. Na comunhão parcial, a meação incide sobre os aquestos: o patrimônio adquirido no período da vida em comum. Mesmo na separação obrigatória (obrigatória porque é imposta por lei), existe direito à meação dos bens adquiridos, por força da Súmula 377 do STF. Enquanto isso, no regime da participação final nos aquestos, apenas cabe falar em meação quanto aos bens amealhados em comum. Os adquiridos em nome próprio, sujeitam-se à compensação, e não à divisão. Por fim, no regime da separação convencional, inexiste comunicação de patrimônios. Esta é a única hipótese em que, a princípio, não há direito à meação, mas a jurisprudência vem admitindo o direito à partilha mediante prova da contribuição na formação do acervo patrimonial. REGIME DE BENS Em primeiro lugar, conforme apontado por Marial Isabel Hughes (2009), há de se advertir que os efeitos econômicos de uma entidade familiar dizem 7 respeito a interesses disponíveis. Dessa forma, com base na autonomia privada, podem os nubentes escolher o regime de bens que melhor lhes aprouver. O regime de bens é uma das principais consequências jurídicas do casamento, estabelecendo-se as formas de contribuição dos cônjuges para o lar, a titularidade e administração dos bens comuns e particulares e, em que medida esses bens respondem por obrigações perante terceiros. Assim sendo, regime de bens é o estatuto que regula as relações patrimoniais entre os cônjuges e entre esses e terceiros. Cabe ainda ressaltar, em relação a estruturação do regime de bens, em conformidade com o descrito por Rosenwald (2008), que a liberdade de estruturação do regime de bens é total. Não impôs a lei a limitação da escolha a apenas um dos tipos previstos. Veja-se que cabe a fusão de tipos, com elementos ou partes de cada um, podendo-se, inclusive, criar outro regime não previsto em lei, enfatiza-se, no entanto, que desde que não caracterize qualquer tipo de fraude à lei. Ressalte-se que, qualquer que seja a escolha de regime de bens, sendo esta diferente do regime da comunhão parcial, dever-se-á celebrar, obrigatoriamente, um pacto antenupcial. Assim, na falta desse, ou em caso de invalidade, aplica-se o regime supletivo da comunhão parcial de bens (art.1658 a 1666 do CC), chamado de regime legal. DOS TIPOS DE REGIMES DE BENS O regime escolhido entra em vigor a partir da data do casamento (art.1639, §1º do CC), produzindo certos efeitos, tais quais: (a) surgimento de patrimônio comum, ou não; (b) a autonomia para praticar certos atos (dependendo do regime adotado); (c) direito na sucessão do outro cônjuge, entre outros. A distinção entre os diversos regimes de bens mais facilmente se percebe identificando o número de conjuntos ou massas que cada um deles compreende, conforme Maria Berenice (2016): 8 Comunhão universal de bens Neste regime matrimonial forma-se um único conjunto patrimonial para o casal. Todo o acervo patrimonial - tanto o preexistente ao casamento e pertencente a qualquer dos cônjuges, como tudo o que for adquirido durante a sua vigência - compõe uma só universalidade, a ser dividida igualmente entre os cônjuges, no fim do casamento, a título de meação. Isto posto, entende-se que este regime aduz uma fusão entre os acervos trazidos para o matrimônio por quaisquer dos nubentes. Dessa maneira, há uma única universalidade, agregando-se a ela tudo o que for adquirido na constância do casamento. Nota-se que, durante o casamento, não há distinção quanto à forma de aquisição dos bens, se a título oneroso ou gratuito. Há a fusão do patrimônio em um só, onde se comunicam os bens presentes, futuros e também as dívidas. Separação convencional ou legal Na separação convencional de bens, existem duas massas patrimoniais: (1) os bens de um e (2) os bens do outro cônjuge. Cada um é titular de seu próprio patrimônio, quer tenha sido adquirido antes ou na constância do casamento. Quando da separação, nada há a dividir, e cada um fica com os bens que lhe são próprios. Mediante pacto antenupcial, os nubentes podem optar pela incomunicabilidade total dos bens, a caracterizar verdadeira ausência de um regime patrimonial, pois o que existe são acervos separados. Assim sendo, poderá cada cônjuge usufruir dos seus bens, administrando como entenderem melhor, podendo inclusive aliená-los como pretenderem sem a anuência do outro. Dispõe o art. 1.687: “Estipulada a separação de bens, esses permanecerão sob a administração exclusiva de cada um dos cônjuges, que os poderá livremente alienar ou gravar de ônus real.” Isto posto, conforme observado por Maria Isabel Hughes, os cônjuges conservam o domínio e a administração de seus bens presentes e futuros, bem 9 como a responsabilidade pelas dívidas anteriores e posteriores ao casamento. Por esse motivo, tendo em vista que cada um é responsável pelas próprias dívidas,sem haver a vinculação do outro cônjuge, qualquer penhora que venha a ser determinada pelo juiz sobre bens pertencentes ao outro será considerada nula. Todavia, o fato de haver separação de bens não enseja a falta de obrigações concorrentes sobre as dívidas contraídas em favor da manutenção do lar. Assim, são de responsabilidade de ambos os cônjuges, indistintamente, as despesas oriundas da relação familiar, devendo contribuir para a manutenção da família na proporção das suas rendas. Neste aspecto, o art. Art. 1.688 disciplina que “ambos os cônjuges são obrigados a contribuir para as despesas do casal na proporção dos rendimentos de seu trabalho e de seus bens, salvo estipulação em contrário no pacto antenupcial”. Cabe ressaltar, ainda, que apesar de o Código Civil de 2002 ter adotado o princípio de liberdade de escolha em relação ao regime de bens escolhido pelos nubentes, a exceção a este princípio é a separação obrigatória de bens, à medida que os sujeitos elencados no rol legal são impedidos de contraírem núpcias em regime distinto do apontado pela lei, sendo obrigados a casarem pelo regime de separação total de bens. O regime da separação obrigatória de bens objetiva a proteção do patrimônio individual do cônjuge e dá-se nas hipóteses em que a vontade dos nubentes não é considerada. Prevê o Código Civil em seu artigo 1.641, que o regime da separação de bens será obrigatório quando o casamento se realiza contra a recomendação do legislador de que não devem casar (art. 1.523 do CC); quando qualquer dos nubentes tiver mais de 60 anos; e quando quaisquer dos nubentes depender de suprimento judicial para casar. A lei prevê, ainda, que os cônjuges casados sob esse regime não podem contrair sociedade entre si; não há necessidade de outorga conjugal para a venda de bens de ascendentes a descendentes; e podem os cônjuges, isoladamente, alienar, gravar de ônus real, bem como prestar fiança e aval. 10 Comunhão parcial É o regime matrimonial estabelecido na maioria dos casamentos celebrados no Brasil, no qual a comunhão se limita aos bens adquiridos a título oneroso ou eventual, na constância do casamento, permanecendo no patrimônio de cada cônjuge os bens trazidos para a sociedade conjugal e os adquiridos a título lucrativo. São três os conjuntos patrimoniais: (1) os bens particulares de um; (2) os bens particulares do outro, adquiridos antes do casamento; e (3) os aquestos - bens comuns adquiridos após o casamento, por ambos ou qualquer dos cônjuges. Solvido o casamento, cada um fica com seus bens particulares e mais a metade do patrimônio comum. Ressalta-se que nem todos os bens adquiridos após o casamento terão participação para ambos os cônjuges. Nesse caso, são chamados de bens particulares, ou seja, que não se comunicam. Como exemplo, tem-se o artigo 1.659 do CC que enumera todos os bens excluídos no regime da comunhão parcial, quais sejam: I – os bens que cada cônjuge possuir ao casar, e os que lhe sobrevierem, na constância do casamento, por doação ou sucessão, e os sub-rogados em seu lugar; II – os bens adquiridos com valores exclusivamente pertencentes a um dos cônjuges em subrogação aos bens particulares; III – as obrigações anteriores ao casamento; IV – as obrigações provenientes de atos ilícitos, salvo reversão em proveito do casal; V – os bens de uso pessoal, os livros e instrumentos de profissão; VI – os proventos do trabalho pessoal de cada cônjuge; e VII – as pensões, meios-soldos, montepios e outras rendas semelhantes Enquanto isso, os bens elencados no artigo 1.660 do CC são comunicáveis a ambos os cônjuges, quais sejam: I – os bens adquiridos na constância do casamento por título oneroso, ainda que só em nome de um dos cônjuges; II – os bens adquiridos por fato eventual, com ou sem o concurso de trabalho ou despesa anterior; III – os bens adquiridos por doação, herança ou legado, em 11 favor de ambos os cônjuges; IV – as benfeitorias em bens particulares de cada cônjuge; V – os frutos dos bens comuns, ou dos particulares de cada cônjuge, percebidos na constância do casamento, ou pendentes ao tempo de cessar a comunhão. Participação final nos aquestos Este é o regime matrimonial trazido de forma inovadora pelo Código Civil de 2002, neste regime há cinco universalidades de bens: (1) os bens particulares que um possuía antes de casar; (2) os bens que o outro já possuía. Depois do casamento, surgem mais três conjuntos: (3) o patrimônio adquirido por um dos cônjuges em nome próprio; (4) os adquiridos pelo outro em seu nome; e (5) os bens comuns adquiridos pelo casal. Segundo Maria Berenice (2016), no caso de dissolução do vínculo, cada cônjuge fica com seus bens particulares e com a metade dos comuns. Com relação aos bens próprios de cada um, adquiridos durante o casamento, são compensados os respectivos valores. No caso de desequilíbrio, surge o crédito de um junto ao outro. O artigo 1.672 do Código Civil dispõe que no regime de participação final nos aquestos, cada cônjuge possui patrimônio próprio consoante disposto no artigo seguinte, e lhe cabe, à época da dissolução da sociedade conjugal, direito à metade dos bens adquiridos pelo casal, a título oneroso, na constância do casamento. Trata-se, portanto, de um regime patrimonial híbrido, há uma mistura entre as regras do regime da separação convencional e da comunhão parcial de bens. Nota-se que, no decurso do casamento, este fica submetido às regras da separação convencional dos bens. Porém, quando do término do matrimônio, prevalecem as normas da comunhão parcial: comunicam-se os bens adquiridos onerosamente por cada cônjuge durante a constância do casamento. 12 Cabe ressaltar, ainda, que de acordo com o disposto no artigo 1.682 do CC o direito que cada cônjuge tem sobre a meação é irrenunciável e não admite cessão, bem como se apresenta impenhorável na constância do casamento. Para expressar a opção por este tipo de regime, os cônjuges deverão fazê-lo através de pacto antenupcial. Apesar de apresentar semelhanças ao regime da comunhão parcial de bens, o artigo 1.658 demonstra a diferença entre ambos, uma vez que, no primeiro, existe a comunicação dos bens que sobrevierem ao casal, na constância do casamento. Neste caso, a comunicação dá-se no ato da aquisição. Na participação nos aquestos, a divisão dos bens ocorre somente após a dissolução da sociedade conjugal, que se dá por morte ou por separação judicial, e unicamente àquele patrimônio formado pelos aquestos, que é o adquirido pelo casal a título oneroso, sem envolver os bens próprios quais sejam (artigo 1.674 do CC): I – os bens anteriores ao casamento; II – os que sobrevieram a cada cônjuge por sucessão ou liberalidade; III - as dívidas relativas a esses bens. Neste ínterim, em relação às dívidas, dispõe o artigo 1.677 do CC que as dívidas posteriores ao casamento, contraídas por um só dos cônjuges, somente a este responsabilizará, salvo prova de terem revertido, parcial ou totalmente, em benefício do outro. Enquanto isso, no que tange aos bens adquiridos através do trabalho de ambas as partes, terá cada um dos cônjuges em função do artigo 1.679 do CC, uma quota igual no condomínio. A maior dificuldade é o ônus da prova da proveniência do trabalho conjunto, que fica ao encargo de quem lhe impugna ou alega a titularidade, se pretendida por apenas um dos cônjuges. No que se refere aos bens imóveis, prevê o artigo 1.681 do CC que esses são de propriedade do cônjuge cujo nome constar no registro. Ou seja, os imóveis são havidos de propriedade da pessoa em cujo nome se encontre registrados/escriturados. Caso ocorra a impugnação da titularidade, o parágrafo único atribui ao cônjuge proprietário a prova da aquisição regular dos bens. 13 Ocorrerá, aí, então, a inversão do ônus da prova, eis que normalmente, cabe a quem alega o fato constitutivo de seu direito, por força do art. 333, inc. I, do Código de Processo Civil. Em se tratando de bens móveis a pessoa casadapoderá aliená-los livremente conforme previsão do artigo 1.673 do CC, notando-se, entretanto, que o artigo 1.674 do CC não entende por essa livre alienação. CONSIDERAÇÕES FINAIS REFERÊNCIAS ALVES, Ana Cecília. Regime de Bens entre Cônjuges: Análise de constitucionalidade do inciso II do artigo 1.641 do Código Civil brasileiro. Escola de Direito da Universidade Federal de Uberlândia, 2009. DIAS, Maria Berenice. Manual de Direito das Famílias. 10ª ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2016. GUSMÃO, Paulo Dourado. Dicionário de direito de família: verbetes com jurisprudência. 3ª ed. Imprenta: Rio de Janeiro, Forense, 2006. HUGHES, Maria Isabel. Os regimes de bens no casamento de acordo com o Código Civil de 2002. Escola da Magistratura do Estado do Rio de Janeiro, 2009. MADALENO, Rolf. Do regime de bens entre os cônjuges. Curso de Direito de Família. São Paulo: Forense, 2008. MENEZES, Carlos Alberto. Da união estável no novo Código Civil. Revista Direito Público, Instituto Brasileiro de Direito Público – IDP, 2004. PERLINGIERI, Pietro; DE CICCO, Maria. O direito civil na legalidade constitucional. Rio de Janeiro: Renovar, 2008. ROSENVALD, Nelson; Farias, Cristiano Chaves de. Direito das Famílias. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2008. 14 TARTUCE, Flávio Manual de direito civil: volume único. 10ª ed. São Paulo: MÉTODO, 2020. 15
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