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Módulo 1 - Obrigações

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DIREITO CIVIL II - OBRIGAÇÕES
PROFA. KALYNE MONTE
módulo 1 
DIREITO DAS OBRIGAÇÕES - PARTE GERAL (arts. 233 a 420 do CC)
1. DISTINÇÕES TERMINOLÓGICAS
Importa observar, de início, que o termo “obrigação” é usado, tanto na linguagem jurídica como leiga, com vários significados.
É comum que se diga, por exemplo, que todos têm obrigação de fazer caridade aos mais pobres; que todos têm obrigação de respeitar a vida e os demais direitos da personalidade das outras pessoas; que o proprietário tem obrigação de dar passagem ao vizinho dono de um imóvel encravado etc.
Entretanto, em nenhuma das hipóteses acima apontadas o termo “obrigação” aparece no sentido técnico-jurídico utilizado pelo legislador no Livro I da Parte Geral do Código Civil.
Em primeiro lugar, obrigação, no sentido estrito não se confunde com dever.
DEVER é a necessidade que todos têm de observar ordens ou comandos, sob pena de sanção. Existem vários tipos de deveres: os sociais, os religiosos, os morais, e, por fim, os jurídicos. O que varia em relação ao descumprimento de cada um deles é a natureza da sanção (reprovação social, temor de castigo divino, remorso, ou uma medida imposta coercitivamente pelos poderes encarregados de zelar pela observância da norma)
De todas as acepções, a que mais importa é a de dever jurídico. Trata-se de uma categoria bastante ampla, à qual pertence a própria ideia de obrigação. Dever jurídico é uma ordem que vem acompanhada de uma sanção, ou seja, de uma conseqüência desfavorável que atinge aquele que violou a regra. O traço que distingue a sanção jurídica das sanções sociais, religiosas ou morais é a coercibilidade, a imperatividade daquela.
As OBRIGAÇÕES EM SENTIDO ESTRITO, como se verá abaixo, são uma espécie do gênero dever jurídico, já que o seu descumprimento sujeita o infrator a uma sanção.
Outra ideia que não pode ser confundida com obrigação é a de estado de sujeição, que representa a necessidade de um sujeito suportar as consequências jurídicas do exercício regular de um direito potestativo do outro. Potestativo é o poder que um sujeito tem de, por sua vontade, alterar uma situação jurídica que atinja a outrem. O atingido fica sujeito às consequências do exercício de tal direito potestativo e nada pode fazer para evitar seus efeitos. Por exemplo, o vizinho está sujeito de dar passagem ao dono do prédio encravado; o advogado sujeita-se à revogação do mandato outorgado pelo cliente etc. Na sujeição verifica-se uma verdadeira impotência do sujeito para obstar que sobre si sejam produzidos os efeitos jurídicos desencadeados por uma decisão alheia.
Por fim, também não se pode confundir a noção de obrigação com ônus jurídico, que é a necessidade de agir de certo modo para tutela de interesse próprio. Trata-se de necessidade de se adotar um certo comportamento como meio de obtenção ou manutenção de uma vantagem para o próprio agente onerado. É por isso que se diz que o registro do título aquisitivo no registro imobiliário, caso queira adquirir a propriedade; que a produção de provas é ônus para o autor da demanda judicial. Não se trata de dever, porque sua observância não vem acompanhada de nenhuma sanção, mas se deixa de obter uma vantagem que seria alcançada caso tivesse sido verificado determinado comportamento.
2. CONCEITO
Todo direito encerra sempre uma idéia de obrigação. Podemos dizer que não existe direito sem obrigação e nem obrigação sem o correspondente direito.
Podemos assim, conceituar obrigação como sendo a relação jurídica, de caráter transitório, estabelecida entre devedor e credor, e cujo objeto consiste numa prestação pessoal econômica, positiva ou negativa, devida pelo primeiro ao segundo garantindo-lhe o adimplemento através de seu patrimônio. 
Confere-se, assim, ao sujeito ativo o direito de exigir do passivo o cumprimento de determinada prestação. Vejam que o conceito é longo, possui diversos elementos.
3. DISTINÇÃO ENTRE DIREITOS REAIS E PESSOAIS
Os direitos de natureza patrimonial podem ser divididos basicamente em duas categorias: reais e pessoais. Por ora, importa apontar as principais diferenças entre o regime jurídico de cada um desses direitos:
	CLASSIFICAÇÃO QUANTO
	DIREITO PESSOAL (Direitos obrigacionais ou de créditos)
	DIREITO REAL
	Ao objeto
	Incide sobre a sua prestação, ou seja, uma atividade da pessoa do devedor. 
	Encontra-se numa situação jurídica que o vincula diretamente à coisa, o que representa uma atribuição do bem ao seu titular.
	Ao sujeito passivo
	É determinado ou determinável. O credor sabe, ou tem meios de apurar, quem é o devedor, ou seja, aquele que está vinculado ao cumprimento da prestação
	Não há exatamente sujeito passivo, uma vez que não existe verdadeira relação, mas uma situação jurídica que liga o titular direta e imediatamente à coisa. Assim, é dever de todos respeitar o direito real que o titular tem sobre o bem.
	À duração
	Têm caráter transitório, uma vez que tendem a desaparecer com o cumprimento da prestação. O direito de crédito uma vez exercido, extingue-se.
	Os direitos reais são perpétuos, permanentes, e sua tendência é durar indefinidamente.
	À limitação
	São ilimitados, ou seja, é possível que sejam criados, em razão da autonomia da vontade privada, inúmeros direitos pessoais, ainda que não tratados pela lei.
	Só existe se houver previsão expressa na lei, em numerus clausus, em rol taxativo.
	À oponibilidade
	Sujeitam-se ao princípio da relatividade, ou seja, só podem ser opostos, em regra, aos sujeitos que fizeram parte da relação jurídica que a eles deu causa.
	São absolutos, no sentido em que podem ser opostos erga omnes, contra todos, em razão de serem dotados do direito de sequela e preferência.
Com fundamento na doutrina do genial ARRUDA ALVIM, poderíamos enumerar as seguintes características dos direitos reais, para distingui-los dos direitos de natureza pessoal:
a) legalidade ou tipicidade – os direitos reais somente existem se a respectiva figura estiver prevista em lei (art. 1225, CC-02);
b) taxatividade – a enumeração legal dos direitos reais é taxativa (numerus clausus), ou seja, não admite ampliação pela simples vontade das partes;
c) publicidade – primordialmente para os bens imóveis, por se submeterem a um sistema formal de registro, que lhes imprime esta característica;
d) eficácia erga omnes – os direitos reais são oponíveis a todas as pessoas, indistintamente. Consoante vimos acima, esta característica não impede, em uma perspectiva mais imediata, o reconhecimento da relação jurídica real entre um homem e uma coisa. Ressalte-se, outrossim, que esta eficácia erga omnes deve ser entendida com ressalva, apenas no aspecto de sua oponibilidade, uma vez que o exercício do direito real – até mesmo o de propriedade, mais abrangente de todos – deverá ser sempre condicionado (relativizado) pela ordem jurídica positiva e pelo interesse social, uma vez que não vivemos mais a
era da ditadura dos direitos;
e) inerência ou aderência –o direito real adere à coisa, acompanhado-a em todas as suas mutações. Esta característica é nítida nos direitos reais em garantia (penhor, anticrese, hipoteca), uma vez que o credor (pignoratício, anticrético, hipotecário), gozando de um direito real vinculado (aderido) à coisa, prefere outros credores desprovidos desta prerrogativa;
f) seqüela – como conseqüência da característica anterior, o titular de um direito real poderá perseguir a coisa afetada, para buscá-la onde se encontre, e em mãos de quem quer que seja. É aspecto privativo dos direitos reais, não tendo o direito de seqüela o titular de direitos pessoais ou obrigacionais;
4. OBRIGAÇÕES PROPTER REM E COM EFICÁCIA REAL
Há uma gama de verdadeiras obrigações- no sentido técnico, estrito, da expressão – que são consideradas pela doutrina (Pablo Stolze e Rodolfo Pamplona) como pertencentes a uma zona intermediária e que podem ser chamadas de “figuras híbridasentre direitos pessoais e reais”. Muitos são os termos utilizados pela doutrina para identificar esta modalidade de obrigações. Fala-se em obrigações in rem, ob rem, propter rem, obrigações reais ou mistas, obrigações reipersecutórias ou, ainda, ambulatórias (abulant cum domino). 
Obrigações Propter Rem são obrigações híbridas – parte direito real, parte direito pessoal. Recaem sobre uma pessoa, por força de um direito real (ex.: obrigação de um proprietário de não prejudicar a segurança, sossego e saúde dos vizinhos; a do condômino de contribuir para a conservação da coisa comum ou de não alterar a fachada externa do edifício; adquirente de imóvel hipotecado de pagar o débito que o onera, etc.). O exemplo mais comum é o do condômino que, devendo contribuições condominiais, vende sua unidade; a pessoa que adquiriu o apartamento não devia nada ao condomínio, mas quando se torna proprietário assume as dívidas do bem, inclusive as contribuições passadas e não pagas pelo antigo proprietário (art. 1.345 do CC). O adquirente, no entanto, tem direito de regresso contra o alienante. Trata-se, portanto de obrigação que acompanha a coisa. Vai aqui um conselho de ordem prática, para nosso dia-a-dia. Se você for comprar um apartamento, exija do vendedor uma declaração do síndico do prédio de que ele (vendedor) está quite com as obrigações condominiais. Essa simples declaração pode evitar grandes dissabores no futuro.
A doutrina distingue, no entanto, as ditas obrigações reais das obrigações com eficácia real (Sílvio Venosa) que são aquelas que devem ser respeitadas por terceiros, ou seja, são aquelas que têm eficácia real, à semelhança do que acontece com os direitos reais. O exemplo é o contrato de locação por tempo determinado, com cláusula de vigência, averbado no registro do imóvel, quando o bem for alienado. Neste caso, o adquirente do bem, embora não tenha participado do contrato, deve-se respeitar a locação (art. 8 da LI e art. 576 do CC); daí a eficácia contra todos, que é comum aos direitos de natureza real. Lembre-se, no entanto, que a locação tem natureza pessoal, mas que, na hipótese específica, gera efeitos em relação ao adquirente. Trata-se de mais uma exceção ao princípio da relatividade dos direitos obrigacionais.
5. ELEMENTOS CONSTITUTIVOS
São Elementos Constitutivos das Obrigações:
• Subjetivo (Ativo e Passivo)
• Objetivo
• Vínculo Jurídico
5.1 - Elemento Subjetivo – são os sujeitos (ou partes) de uma obrigação:
• Sujeito Ativo - é o credor, o beneficiário da obrigação; é a pessoa (física ou jurídica) a quem a prestação (positiva ou negativa) é devida, tendo, para isso, direito de exigi-la.
• Sujeito Passivo - é o devedor; aquele que deve cumprir a obrigação, efetuar a prestação.
Observação – é possível que os pólos (passivo e/ou ativo) sejam ocupados por uma ou várias pessoas (naturais ou jurídicas) ou que haja alteração de um dos sujeitos (ex.: sub-rogação, ou seja, transferência do crédito ou da dívida, conforme veremos adiante).
5.2 - Elemento Objetivo (ou material) – é o objeto de uma obrigação: O objeto da obrigação é a prestação (positiva ou negativa), que pode consistir em dar, fazer ou não fazer. Deve ser lícita, possível (física e juridicamente), determinada ou determinável e economicamente apreciável. É admissível a obrigação que tenha por objeto um bem não econômico, desde que seja digno de tutela o interesse das partes. 
5.3 - Vínculo Jurídico - é o elo que sujeita o devedor a determinada prestação (positiva ou negativa) em favor do credor. É o liame legal que une o devedor ao credor. Abrange o dever da pessoa obrigada (chama-se isso de debitum) e sua responsabilidade em caso de não cumprimento (obligatio). Exemplo: podemos dizer que um contrato de locação de uma casa (ou qualquer outro contrato) é o vínculo. É este contrato que irá ligar o locador (proprietário), o locatário (inquilino) e o bem que está sendo alugado. Vejam que locador e locatário fazem parte do Elemento Subjetivo. A casa é o Elemento Objetivo. E o contrato é o Vínculo.
6. FONTES DAS OBRIGAÇÕES
Fonte é uma expressão figurada, indicando o elemento gerador, o fato jurídico que deu origem ao vínculo obrigacional. Podemos reconhecer como fontes de obrigações:
• Lei – fonte primária ou imediata de obrigações (“Ninguém é obrigado a fazer ou deixar de fazer senão em virtude da Lei”).
• Negócio Jurídico Bilateral – Duas pessoas se obrigam. Ex: Contratos - na compra e venda uma pessoa se obriga a pagar o preço e a outra a entregar a coisa; na locação ocorre o mesmo, etc.
• Negócio Jurídico Unilateral – Ato unilateral de vontade. Apenas uma pessoa se obriga. Ex.: na promessa de recompensa, eu coloco uma faixa na rua “perdeu-se cachorrinho... recompensa-se bem” (quem já não viu uma faixa dessa? – pois isso é uma declaração unilateral de vontade; é uma promessa de recompensa; apenas uma pessoa está se obrigando). Outros exemplos: o testamento, um título ao portador, etc.
• Atos Ilícitos – Dever de reparar eventuais prejuízos sofridos. Ex.: danos causados por acidente de veículos. Quem comete ato ilícito (arts. 186 e 187 CC) fica obrigado a reparar o dano (art. 927 CC). Portanto, o ato ilícito é fonte de obrigação também.
7. CLASSIFICAÇÃO DAS OBRIGAÇÕES
De acordo com a importância e aplicabilidade prática, podemos classificar as obrigações em diversas categorias. 
CLASSIFICAÇÃO:
I – QUANTO AO OBJETO
A) Positivas
1 – Obrigação de Dar
a) coisa certa
b) coisa incerta
2 – Obrigação de Fazer
a) fungível
b) infungível
B) Negativas
1 - Obrigação de Não Fazer
II – QUANTO A SEUS ELEMENTOS
A) Simples - um sujeito ativo, um sujeito passivo e um objeto.
B) Compostas – Pluralidade de Objetos ou Sujeitos.
1 – Pluralidade de Objetos
a) cumulativa
b) alternativa
2 – Pluralidade de Sujeitos
- Solidária
a) ativa
b) passiva
III – Quanto aos Elementos Acidentais
• puras e simples
• condicionais
• a termo
• modais
IV – Outras Modalidades
• líquidas ou ilíquidas
• divisíveis ou indivisíveis
• de resultado, ou de meio, ou de garantia
• instantâneas, fracionadas, diferidas ou de trato sucessivo
• principais ou acessórias
• propter rem
• naturais
I - OBRIGAÇÃO POSITIVA DE DAR
Obrigação de dar é aquela pela qual o devedor se compromete a entregar alguma coisa (transferindo a propriedade, a posse ou apenas o uso de uma coisa). Também é chamada de obrigação de prestação de coisa. Ela pode ser de dar a coisa certa (ex.: uma jóia, um carro, etc.) ou incerta (ex.: a obrigação de dar um boi, dentre uma boiada). 
A) OBRIGAÇÃO DE DAR COISA CERTA (arts. 233/242 CC)
O devedor se obriga a dar uma coisa individualizada (ex.: a vaca Mimosa ou o cavalo Furacão), podendo ser móvel ou imóvel. O credor não é obrigado a receber outra coisa, ainda que mais valiosa. O devedor somente se desonera da obrigação com a entrega do bem que foi contratado. Abrange a obrigação de transferir a propriedade (ex.: compra e venda), entregar a posse (ex.: locador ou comodante que deve entregar a coisa) e restituir (ex.: locatário ou comodatário de devolver 	‘a coisa quando termina o contrato).
Essa obrigação abrange os acessórios, salvo se as partes estipularem de modo diverso (art. 233 CC). Cumpre-se a obrigação mediante a tradição (que significa entrega da coisa na compra e venda ou restituição no caso do comodato). Até a entrega da coisa esta pertence ao devedor.
Conseqüências jurídicas da perda da coisa antes da tradição:
a) sem culpa do devedor (caso fortuito, força maior) – resolve-se a obrigação, para ambas as partes, que voltam à situação primitiva; se o vendedor já recebeu o preço da coisa que pereceu, sem culpa sua, deve devolvê-lo com correção monetária.
b) com culpa do devedor – indenização pelo valor da coisa mais perdas e danos. 
Conseqüências jurídicas da deterioração (destruição parcial) dacoisa antes da tradição:
sem culpa do devedor – resolve-se a obrigação, com restituição do preço mais correção monetária ou abatimento proporcional no preço.
com culpa do devedor – resolve-se a obrigação em perdas e danos; recebimento da coisa no estado em que se achar mais abatimento proporcional no preço.
No caso de devolução de bens (que se encontram com outrem – ex.: comodato), aplica-se a regra res perit domino (a coisa perece para o dono). Esta é uma frase em latim muito conhecida no mundo jurídico.
Se a obrigação for de restituir coisa certa e esta se perder antes da tradição, sem culpa do devedor, sofrerá o credor a perda e a obrigação se extinguirá, ressalvados os seus direitos até o dia da perda.
Cômodos – é um termo usado pela doutrina. Cômodos são as vantagens produzidas pela coisa. Até a tradição a coisa pertence ao devedor, com seus melhoramentos e acrescidos, pelos quais poderá pedir aumento no preço (ex.: uma pessoa vende uma vaca, que antes da entrega deu uma cria; o devedor ou não entrega o filhote, ou o entrega com aumento de preço.) Quanto aos frutos, os percebidos pertencem ao devedor; os pendentes pertencem ao credor.
B) OBRIGAÇÃO DE DAR COISA INCERTA (arts. 243/246 CC)
Coisa incerta indica que a obrigação tem objeto indeterminado (o objeto é indicado de forma genérica no início da obrigação), no entanto deve ser indicada, ao menos pelo gênero e quantidade, faltando determinar a qualidade (ex.: entregar dez bois = já há determinação quanto ao gênero - bois - e quanto à quantidade - dez - falta individualizar quais os bois que serão entregues). Assim, coisa incerta não quer dizer qualquer coisa, mas coisa indeterminada, porém suscetível de determinação futura. Por isso a indeterminação é relativa.
Não se admite a indeterminação absoluta, pois inviabilizaria o futuro cumprimento da obrigação, visto que qualquer vício no objeto (objeto impossível, ilícito, etc.) torna nulo o contrato. Se o bem ainda não foi determinado, um dia haverá a sua individualização. Essa individualização se faz pela escolha. 
O ato unilateral de escolha chama-se concentração, que se exterioriza pela pesagem, medição, contagem, etc. Escolha e concentração são termos sinônimos. 
A escolha cabe, em regra ao devedor, salvo se for estabelecido de modo diverso no contrato (neste caso, por exceção, a escolha caberá ao credor ou a uma terceira pessoa estranha ao negócio). Realizada a escolha acaba a incerteza; a obrigação de dar a coisa incerta transforma-se em obrigação de dar a coisa certa. 
No momento da escolha o devedor (ou quem o contrato determinar) pode escolher qualquer bem? Não! Vejam a regra que nosso Código estabeleceu:
Na falta de disposição contratual, estabelece a lei que o devedor não poderá dar a coisa pior, nem ser obrigado a prestar melhor (art. 244 do CC).
Obrigação Pecuniária
Obrigação pecuniária ou obrigação de solver dívida em dinheiro é uma espécie de obrigação de dar que abrange prestação em dinheiro, reparação de danos e pagamento de juros. 
O pagamento em dinheiro será feito em moeda corrente no lugar do cumprimento da obrigação e pelo valor nominal, ou seja, em real (que é nossa unidade monetária atual), segundo o art. 315 do CC. São nulas as convenções de pagamento em ouro ou em moeda estrangeira (obrigação valutária – valutaria = valuta = divisa, moeda estrangeira), salvo os contratos e títulos referentes à importação e exportação (art. 318 do CC). 
Na obrigação pecuniária o devedor sofrerá com as conseqüências da desvalorização da moeda, mas pode-se incluir em algumas convenções cláusula de atualização da prestação.
II - OBRIGAÇÃO POSITIVA DE FAZER (arts. 247/249 CC)
Obrigação de Fazer consiste na prestação de um serviço ou ato positivo (material ou imaterial) do devedor (ex.: trabalho manual, intelectual, científico ou artístico, etc.). Também é chamada de obrigação de prestação de fato.
A impossibilidade do devedor de cumprir a obrigação de fazer, bem como a recusa em executá-la, acarretam o inadimplemento contratual (que significa o não cumprimento do contrato). Se o próprio devedor criou a impossibilidade, responderá ele por perdas e danos. A recusa voluntária induz culpa. Se não houver culpa (força maior ou caso fortuito) resolve-se a obrigação sem indenização (ex.: cantor que ficou afônico). Repõem-se as partes no estado anterior da obrigação.
Espécies:
• Obrigação de Fazer Fungível – a prestação do ato pode ser realizada pelo devedor ou por terceira pessoa (ex.: obrigação de pintar um muro - em tese qualquer pessoa pode pintar um muro, por isso é uma obrigação fungível). Se houver recusa ou mora (que á a demora) no cumprimento da obrigação, sem prejuízo da cabível ação de indenização por perdas e danos, o credor pode mandar executar o serviço à custa do devedor. O credor está interessado no resultado da atividade do devedor, não se exigindo capacidade especial deste para realizar o serviço.
• Obrigação de Fazer Infungível – a prestação só pode ser executada pelo próprio devedor; não há a possibilidade de substituição da pessoa que irá cumprir a obrigação, pois esta pessoa, contratualmente falando, é insubstituível (ante a natureza da prestação ou disposição contratual). Ex.: contrata artista famoso para pintar um quadro; ou um cirurgião famoso para realizar uma operação, ou um advogado famoso para fazer um Júri, etc. A obrigação de fazer infungível também é chamada de prestação intuitu personae. 
A recusa ao cumprimento da obrigação resolve-se, tradicionalmente, em perdas e danos (art. 247 CC), pois não se pode constranger fisicamente o devedor a executá-la. No entanto, atualmente, admite-se a execução específica da obrigação. Isto é, pode ser imposta pelo Juiz, uma multa periódica (chamada de astreinte – trata-se mais uma expressão criada pela doutrina e não prevista no Código).
Astreinte é uma expressão francesa; trata-se de uma multa. Apesar de ser um tema do Direito Processual Civil e não do Direito Civil é importante compreender este instituto jurídico. Podemos conceituá-la com sendo uma penalidade imposta ao devedor, mediante ação (daí ser processual civil), consistente em uma prestação periódica, que vai sendo acrescida enquanto a obrigação não é cumprida, ainda que não haja no contrato a cláusula penal. 
Está previsto no artigo 461 e seu §4º do C.P.C.: O Juiz concede prazo para o devedor cumprir a obrigação. Não o fazendo deverá pagar multa diária até o seu cumprimento. Pela recente reforma do Código de Processo Civil, atualmente há a possibilidade do juiz fixar astreintes ou preceito cominatório nas obrigações de fazer, não fazer e também para a obrigação de dar coisa certa, conclusão retirada dos artigos 461-A e seu §3º e 621, parágrafo único, do C.P.C. em vigor. 
Essa regra, segundo a melhor doutrina, não vale para a obrigação de dar coisa incerta, para a obrigação de pagar quantia em dinheiro e para a obrigação de restituir dívida em dinheiro, isso por falta de previsão legal no caso concreto. O inadimplemento de emitir declaração de vontade (ex.: compromisso de compra e venda) dá ensejo à propositura de ação de adjudicação compulsória. A decisão judicial supre a vontade da parte inadimplente.
Observação: As diferenças entre a obrigação de dar e fazer repousam no fato de que na obrigação de dar o devedor não precisa fazê-la previamente, enquanto na obrigação de fazer o devedor deve confeccionar a coisa para depois entregá-la. Além disso, na obrigação de dar, que requer a tradição, a prestação pode ser fornecida por terceiro, estranho aos interessados, enquanto nas de fazer, em princípio, o credor pode exigir que a prestação seja realizada exclusivamente pelo devedor.
III - OBRIGAÇÃO NEGATIVA DE NÃO FAZER (arts. 250/251 CC)
Obrigação de não fazer é aquela pela qual o devedor se compromete a não praticar certo ato que poderia livremente praticar se não houvesse se obrigado (ex.: proprietário se obriga a não edificar a certaaltura para não obstruir a visão do vizinho; inquilino se obriga a não trazer animais domésticos para o cômodo alugado, etc.). Se praticar o ato que se obrigou a não praticar, tornar-se-á inadimplente e o credor pode exigir o desfazimento do que foi realizado. 
Há casos em que somente resta o caminho da indenização (ex.: pessoa se obriga a não revelar um segredo industrial). É sempre pessoal e só pode ser cumprida pelo próprio devedor.
IV - OBRIGAÇÕES QUANTO A SEUS ELEMENTOS
No tocante a esta classificação as obrigações podem ser divididas em:
1 - OBRIGAÇÕES SIMPLES (ou singulares) - são as que se apresentam com um sujeito ativo, um sujeito passivo e um único objeto, destinando-se a produzir um único efeito. É bem simples = um credor, um devedor e um objeto. Ex. “A” empresta para “B” a quantia de cem reais. 
2 - OBRIGAÇÕES COMPOSTAS (complexas ou plurais) - são as que se apresentam com pluralidade de objetos (obrigações cumulativas ou alternativas) ou pluralidade de sujeitos (obrigações solidárias):
a) OBRIGAÇÕES CUMULATIVAS (ou conjuntivas) - são as compostas pela multiplicidade de objetos; o devedor deve entregar dois ou mais objetos, decorrentes da mesma causa ou mesmo título (ex.: obrigação de dar um carro e um apartamento). O inadimplemento de uma envolve o descumprimento total; o devedor só se desonera cumprindo todos os objetos.
b) OBRIGAÇÕES ALTERNATIVAS (ou disjuntivas – arts.252/256) - também são compostas pela multiplicidade de objetos, porém estes estão ligados pela disjuntiva “ou”, podendo haver duas ou mais opções. O devedor se desonera com o cumprimento de qualquer uma das prestações. Deve-se entregar uma coisa ou outra (ex.: obrigo-me a entregar um touro ou dois cavalos). 
Há uma variante, não prevista pela lei, mas aceita pela doutrina, que é a obrigação facultativa, em que a obrigação inicialmente é simples, mas há a possibilidade para o devedor em substituir o objeto (ex.: agência de viagens que oferece determinado brinde, mas se reserva no direito de substituí-lo por outro).
Nas obrigações alternativas, a escolha, em regra, pertence ao devedor, se o contrário não for estipulado no contrato. Comunicada a escolha (lembrem-se, chamada também de concentração), não se pode mais modificar o objeto. Se uma das prestações não puder ser objeto de obrigação, ou se tornar inexeqüível, subsistirá o débito quanto à outra. Se a impossibilidade for de todas as prestações, resolve-se (extingue-se) a obrigação. Se houver culpa, mas cabia-lhe (ao devedor) a escolha, ficará obrigado a pagar o valor da que por último se impossibilitou (mais perdas e danos). Se a escolha era do credor, pode ele exigir o valor de qualquer das prestações (mais perdas e danos).
c) OBRIGAÇÕES SOLIDÁRIAS (arts. 264 a 285 CC) - ocorrem quando há pluralidade de credores ou devedores (ou de ambos), sendo que eles têm direitos ou obrigações pelo total da dívida.
Havendo vários devedores cada um responde pela dívida inteira, como se fosse um único devedor. O credor pode escolher qualquer um e exigir a dívida toda. Se houver vários credores, qualquer um deles pode exigir a prestação integral, como se fosse único credor (art. 264 CC).
• Solidariedade Ativa - pluralidade de credores (ex.: conta bancária “e/ou” qualquer correntista é credor solidário dos valores depositados e pode exigir do banco a entrega de todo o numerário; mandato outorgado a vários advogados, sendo que qualquer um deles pode exigir os honorários integralmente do cliente).
• Solidariedade Passiva - pluralidade de devedores (ex.: o credor pode demandar tanto o devedor principal, como o seu avalista, pois ambos são devedores solidários).
• Solidariedade Mista (ou recíproca) - pluralidade de devedores e de credores.
Regra básica – “A solidariedade não se presume, resultando da lei ou da vontade das partes” (art. 265 CC).
1 - Solidariedade Ativa
Aplicam-se as seguintes regras na solidariedade ativa:
• cada um dos credores pode exigir a prestação por inteiro (art. 267 CC); também poderá promover medidas assecuratórias do direito do crédito e constituir o devedor em mora, sem o concurso dos demais credores.
• qualquer co-credor poderá ingressar em juízo; mas só poderá executar a sentença o próprio credor-autor, e não outro estranho á lide.
• se um dos credores se tornar incapaz, este fato não influenciará a solidariedade.
• enquanto não for demandado por algum dos co-credores, o devedor pode pagar a qualquer um (art.268 CC).
• o pagamento feito a um dos credores extingue inteiramente a dívida, o mesmo ocorrendo em caso de novação, compensação e remissão.
• a conversão da prestação em perdas e danos não extingue a solidariedade; os juros de mora revertem em proveito de todos os credores.
• o credor que tiver remitido (perdoado) a dívida ou recebido o pagamento responde aos outros pela parte que lhes caiba (art. 272 CC).
Extinção
• Se os credores desistirem dela pactuando que o pagamento da dívida será pro rata (rateio, cada um será responsável por sua quota).
• Se um dos credores falecer seu crédito passará a seu herdeiro sem a solidariedade (salvo se a prestação for indivisível).
2 - Solidariedade Passiva
Aplicam-se as seguintes regras na solidariedade passiva:
• o credor pode escolher qualquer devedor para cumprir a prestação; pode exigir e receber de um ou de alguns dos devedores, parcial ou totalmente o valor da dívida comum; no primeiro caso, os demais devedores continuam obrigados solidariamente pelo resto (art. 275 CC).
• morrendo um dos devedores, cada herdeiro só responde por sua quota da dívida, salvo se indivisível a obrigação; todos os herdeiros reunidos são considerados como um devedor solidário em relação aos demais devedores (art. 276 CC).
• o pagamento parcial feito por um devedor ou a remissão (perdão da dívida) obtida só aproveitam aos demais devedores pelo valor pago ou relevado (art. 277 CC).
• nenhuma cláusula estipulada entre um devedor e o credor pode agravar a situação dos demais devedores, sem o consentimento deles (art. 278 CC).
• impossibilitando-se a prestação: a) sem culpa dos devedores – extingue a obrigação; b) por culpa de um devedor – a solidariedade continua para todos, que continuam com a obrigação de pagar; mas só o culpado responde por perdas e danos (art. 279 CC).
• todos os devedores respondem pelos juros de mora, ainda que a ação tenha sido proposta contra um, mas o culpado responde aos outros pelo acréscimo (art. 280 CC).
• propondo a ação contra um devedor, o credor não fica inibido de acionar os demais (art. 281 CC).
• o devedor pode opor as exceções pessoais e as comuns a todos; não pode opor as pessoais de outro devedor.
• se o credor renunciar à solidariedade em favor de um ou de alguns devedores, só poderá acionar os demais abatendo o valor do débito a parte ou àqueles correspondentes, entretanto, se um dos co-obrigados for insolvente, o rateio da obrigação atingirá também o exonerado da solidariedade.
• o devedor que paga toda a dívida tem o direito de regresso, isto é, pode exigir a quota dos demais, rateando-se entre todos o quinhão do insolvente, se houver; presumem-se iguais as partes de cada devedor; essa presunção admite
prova em contrário.
• se a dívida interessa apenas a um dos devedores, responde este perante quem a paga.
Extinção
• Morrendo um dos co-devedores, desaparece a solidariedade em relação a seus herdeiros, embora continue a existir quanto aos demais co-obrigados.
• Renúncia total do credor.
Observação – Se um devedor solidário for demandado sozinho em um processo de conhecimento, poderá trazer os demais devedores a este processo, utilizando-se do chamamento ao processo, que é uma forma de intervenção de terceiros (isto, na verdade é matéria de Direito Processual Civil), a fim de que a sentença disponha sobre a responsabilidade de todos os envolvidos.
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