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1 UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLANDIA CURSO DE DIREITO Gabriel Silva de Oliveira - 11911DIR233 TURMA 78 MATUTINO DIREITO CIVIL II Atividade Avaliativa I Classificação das Obrigações MEDINA – MG 2020 2 O direito pode ser dividido em dois grandes ramos, o dos direitos não patrimoniais, que são aqueles referentes à pessoa humana e o dos direitos patrimoniais, esses são os que possuem valoração econômica, esse ramo é dividido em direitos reais e obrigacionais, o direito real recai sobre a coisa, direta e imediatamente, vinculando-a a seu titular e conferindo-lhe o direito de sequela e o direito de preferência, podendo ser exercido contra todos; os direitos obrigacionais, pessoais ou de crédito, compõem o direito das obrigações. O conceito de obrigação pode ser definido como um vínculo jurídico que confere ao credor (sujeito ativo) o direito de exigir do devedor (sujeito passivo) o cumprimento de determinada prestação. Corresponde a uma relação de natureza pessoal, de crédito e débito, de caráter transitório, (extingue-se por meio do seu cumprimento), cujo objeto consiste numa prestação economicamente aferível. O patrimônio do devedor responde por suas obrigações, ele constitui a garantia do adimplemento com que o credor pode contar. As obrigações instituídas pelo Código Civil se classificam em várias modalidades: 1. Obrigação de dar (obrigação de dar coisa certa): É aquela em que o devedor se obriga a dar coisa individualizada (art. 313), que se distingue por características próprias, móvel ou imóvel; o devedor não pode, assim, modificar unilateralmente o objeto da prestação, isso também vale para o credor, o credor não pode exigir coisa diferente, ainda que menos valiosa. Confere ao credor simples direito pessoal, por isso, quando não cumprida, não podia o adquirente reivindicar a coisa, por não lhe ter o domínio, entretanto, tem o direito de entrar com a ação de perdas e danos e com a resolução da avença (art. 389 e 475). Abrange os acessórios da coisa, salvo convenção em contrário (art. 233), é uma decorrência da regra geral de que o acessório segue o principal, nada obsta a que se convencione o contrário. No silêncio do contrato quanto a esse aspecto, a venda de um terreno com árvores frutíferas inclui os frutos pendentes; a alienação de um imóvel inclui, como acessório, o ônus dos impostos; a de um veículo abrange os acessórios colocados pelo vendedor. Exemplo: a venda de determinado modelo de automóvel, o veículo é coisa especifica, individualizada e determinada. 1.1. Obrigação de entregar e de restituir (tradição): A obrigação de dar coisa certa é cumprida mediante entrega (como na compra e venda) ou restituição (como no 3 comodato), alguns autores resumem esses dois em uma palavra, tradição. Consiste na devolução de um bem do credor, que já é seu dono. Nessa modalidade, se a coisa teve melhora ou acréscimo, “sem despesa ou trabalho do devedor, lucrará o credor, desobrigado de indenização” (art. 241). Exemplo: entrega, foi estabelecido um contrato de aluguel, o devedor é o locatário que tem a obrigação de entregar o imóvel ao credor, locador; restituição, ao fim do contrato, o credor passar a ser o locador, pois esse espera do locatário a entrega do imóvel. 1.2. Perda ou Deterioração da Coisa: Em caso de perda total da coisa antes da entrega ou restituição, é preciso verificar se o fato ocorreu por culpa ou não do devedor. Não havendo culpa deste, fica resolvida a obrigação para ambas as partes, que voltam à primitiva situação (art. 234 e art. 238). Dessa maneira, se o vendedor já recebeu o preço da coisa, que veio a perecer sem culpa sua, deve devolvê-lo ao adquirente, em virtude da resolução do contrato, não sendo obrigado a pagar por perdas e danos. Quem sofre o prejuízo, na obrigação de entregar, é próprio alienante, pois continua sendo proprietário, até a tradição. Segundo o princípio que vem do direito romano, a coisa perece para o dono (res perit domino). Na obrigação de restituir coisa certa ao credor, o prejudicado estará na condição de dono. É possível ilustrar a situação no seguinte exemplo, um fazendeiro emprestou uma vaca para seu caseiro, certo dia um raio a atingiu, aconteceu o perecimento da coisa, ou seja, perda total sem culpa do comodatário, assim, a obrigação do comodatário se resolve e ele não precisará responder por perdas e danos (observado o art. 399), “ressalvados os seus direitos até o dia da perda” (art. 238). A culpa acarreta a responsabilidade pelo pagamento de perdas e danos, sendo assim, ocorrendo o perecimento do objeto, tem o credor direito a receber o seu equivalente em dinheiro, mais as perdas e danos comprovados, tanto na obrigação de entregar (art. 234), como na de restituir (art. 239). Pode-se usar o caso do empréstimo de um cão de caça por exemplo, um fazendeiro emprestou um cão para um caçador, no processo, o comodatário atirou no cão acidentalmente, este o veio a falecer, ele é obrigado a restituir o credor, mais perdas e danos. Em caso de deterioração (perda parcial), também é importante saber se houve culpa do devedor ou não. Sem culpa, na obrigação de entregar, poderá o credor resolver a obrigação, por não lhe interessar receber o bem danificado, voltando 4 as partes, neste caso, ao estado anterior; ou aceita-lo no estado em que se acha, com abatimento do preço, proporcional à perda (art. 235). Na obrigação de restituir, recebe- o no estado em que estiver, sem direito a qualquer indenização (art. 240). O caso de deterioração sem culpa do devedor pode ser ilustrado pelo seguinte exemplo, se o credor adquire um cavalo para corrida e o animal é picado por uma cobra e fica manco, ele passa a servir apenas para reprodução, o comprador poderá dar por resolvida a obrigação, se não pretender a coisa, ou receber o semovente, abatendo-se o preço respectivo, levando-se em conta o valor de um animal para reprodução e não mais para competições. Havendo culpa pela deterioração, se tratando da obrigação de entregar, as alternativas que o credor dispõe são as mesmas do art. 235, diz que se pode resolver a obrigação, exigindo o equivalente em dinheiro, ou pode aceitar a coisa; mas havendo culpa, em qualquer caso ele tem direito à indenização de pernas e danos (art. 236); na obrigação de restituir o credor também poderá exigir o equivalente em dinheiro, mais perdas e danos. Pode-se observar que de forma geral, sem culpa, resolve-se a obrigação, sendo as partes repostas ao estado anterior, sem perdas e danos. Havendo culpa, estas são devidas, respondendo o culpado, ainda, pelo equivalente em dinheiro da coisa. 2. Obrigação de dar coisa incerta: O Código Civil explicita que “a coisa incerta será indicada, ao menos, pelo gênero e pela quantidade” (art. 243). A expressão coisa incerta indica que a obrigação tem objeto indeterminado, mas não totalmente, porque deve ser indicada, ao menos, pelo gênero e pela quantidade. É, portanto, indeterminada, mas determinável. Falta apenas determinar a sua qualidade, enquanto a qualidade não for determinada, a coisa permanece incerta. Exemplo: entregar dez caminhões de areia. A determinação se dá pela escolha. Feita esta, e cientificado o credor, acaba a incerteza, e a coisa se torna certa, vigorando as normas de dar coisa certa. O ato unilateral de escolha denomina-se concentração. Para que a obrigação se concentre em determinada coisa não basta a escolha. É necessário que ela se exteriorize pela entrega, pelo depósito em pagamento, pela constituição em mora ou por outro ato jurídico que importe a cientificação do credor. O direito de escolha compete ao devedor, como explicita o art. 244, se o contrário não resultar do título da obrigação. Portanto, só competirá ao credor se o contrato assim dispuser. Sendoomisso, pertencerá ao devedor. Entretanto existem limites 5 à atuação do devedor, o código estabelece que “o devedor não poderá dar a coisa pior, nem será obrigado a prestar a melhor”. Deve então, guardar o meio-termo entre os congêneres da melhor e da pior qualidade. Podem as partes convencionar que a escolha se dará por terceiro, estranho à relação obrigacional, aplicando-se, por analogia, o disposto no art. 1930. Determinada a qualidade, torna-se a coisa individualizada, ou seja, certa. Antes da escolha, “não poderá o devedor alegar perda ou deterioração da coisa, ainda que por força maior ou caso fortuito” (art. 246), pois o gênero nunca perece. Se por exemplo, alguém se obrigar a entregar dez sacos de milho, não se eximirá da obrigação, ainda que se percam todas os sacos que possui, porque pode obter, no mercado, o milho prometido. Entram nessa categoria também as obrigações em dinheiro, pois o devedor não se exonera se vem a perder as cédulas que havia separado para perder a dívida. Diferente será a solução de obrigar-se a dar coisa certa, que venha a perecer, sem culpa sua, ou caso se trate de gênero limitado, são os que se encontram em determinado lugar, como animais de determinada fazenda. Sendo delimitado dessa forma o genus, o perecimento de todas as espécies que o componham acarretará a extinção da obrigação. 3. Obrigação de fazer: Nessa modalidade das obrigações, a obrigação consiste em atos ou serviços a serem executados pelo devedor. Diferentemente das obrigações de dar, o credor pode, conforme as circunstâncias, não aceitar a prestação por terceiro, enquanto nestas se admite o cumprimento por outrem, estranho aos interessados (art. 305). Exemplo prático: 6 Foi realizada uma compra na loja “Be Stronger”, o prazo de entrega é de seis dias úteis após a confirmação do pagamento, como o pagamento exemplificado já foi aprovado, eles têm a obrigação de entregar a mercadoria no prazo de seis dias. Esse é um exemplo real da obrigação de fazer. Quando for convencionado que o devedor cumpra pessoalmente a prestação, ou a própria natureza desta impedir a sua substituição, estaremos diante de obrigação de fazer personalíssima, infungível ou imaterial (arts. 247 e 248). Exemplo: O paciente exige que sua cirurgia plástica seja feita por determinado cirurgião. A infungibilidade pode decorrer da própria natureza da prestação, ou seja, das qualidades artísticas ou profissionais do contratado, sendo neste caso, subtendida, ou do contexto da avença, por convencionado que o devedor a cumpra pessoalmente. Quando não há tal exigência, nem se trata de ato ou serviço cuja execução depende de qualidade pessoais do devedor, podendo ser realizado por terceiro, diz-se que a obrigação de fazer é impessoal, fungível ou material art. 249. Exemplo: Determinado pedreiro é o mestre de determinada obra, porém esse pode transferir esse papel a outro para realizar outras obras. A obrigação de fazer também pode derivar de um contrato preliminar, chamado de pacto de contrahendo, e consiste em emitir declaração de vontade, como, por exemplo, outorgar escritura definitiva em cumprimento a compromisso de compra e venda ou endossar o certificado de propriedade de veículo. 3.1. Inadimplemento da obrigação de fazer: a impossibilidade de o devedor cumprir a obrigação de fazer, bem como a recusa em executá-la, acarretam o inadimplemento contratual. Se “ a prestação do fato se tornar impossível sem culpa do devedor, resolver-se-á a obrigação (art. 248), desde que a impossibilidade seja absoluta, vide art. 106. Se decorrer de culpa deste, ou seja, se o próprio devedor criou a impossibilidade, responderá ele por perdas e danos (art. 248). Como ninguém pode fazer algo impossível, resolve-se a obrigação, sem consequências para o devedor sem culpa, e com a responsabilidade pela satisfação de perdas e danos, para o culpado. Exemplo: O ator que fica impedido de se apresentar em determinado espetáculo em razão de acidente a que não deu causa, ocorrido no trajeto para o teatro, sendo hospitalizado, não responde por perdas e danos. Mas a resolução do contrato o obriga a restituir eventual adiantamento da remuneração. Responde por elas, entretanto, se a 7 impossibilidade foi por ele criada, ao viajar para local distante, às vésperas da apresentação contratada. Em caso de recusa do devedor e cumprir a prestação a ele só imposta no contrato, ou só por ele exequível devido a suas qualidades pessoais (obrigação personalíssima ou infungível), haverá a responsabilização pelo pagamento das perdas e danos (art. 247). A recusa voluntária induz a culpa. Exemplo: O cantor que se recusa a se apresentar no espetáculo contratado responde pelos prejuízos acarretados aos promotores do evento. A recusa ao cumprimento de obrigação de fazer infungível resolve-se, em perdas e danos, pois não se pode constranger fisicamente o devedor a executá-la. Se tratando de obrigação de fazer fungível, que pode ser executada por terceiro, “será livre ao credor manda-lo executar à custa do devedor, havendo recusa ou mora deste, sem prejuízo da indenização cabível”. Em caso de urgência, “pode o credor, independentemente de autorização judicial, executar ou mandar executar o fato, sendo depois ressarcido” (art. 249). Para o credor, o que interessa é o cumprimento, a utilidade prometida. 4. Obrigação de não fazer: A obrigação de não fazer, ou obrigação negativa, impõe ao devedor um dever de abstenção: o de não praticar o ato que poderia livremente fazer, se não se houvesse obrigado. Exemplo: O adquirente que se obriga a não construir, no terreno adquirido, prédio além de certa altura, ou o jogador de futebol que se compromete a não usar roupas e acessórios de outras marcas, além daquela para qual foi contratado. Se o sujeito praticar o ato ao que se obrigou a não praticar, tornar-se-á inadimplente, podendo o credor exigir, com base no art. 251, o desfazimento do que foi realizado, “sob pena de se desfazer à sua custa, ressarcindo o culpado perdas e danos”. 5. Obrigação Simples x Obrigação Composta: A obrigação simples é aquela que apresenta todos os elementos no singular, ou seja, um sujeito ativo, um sujeito passivo e um objeto. Exemplo: João se comprometeu a doar para Pedro um bezerro. A obrigação composta ou complexa, diferente da primeira, apresenta qualquer um dos elementos, ou todos, no plural. Exemplo: Os cirurgiões Henrique e Gabriel se comprometeram a fazer a cirurgia no João. 6. Obrigação Cumulativa x Alternativa: A obrigações complexas ou compostas, se dividem ainda em cumulativas e alternativas. As cumulativas são aquelas em que os objetos aparecem relacionados com a conjunção “e”. Somando-se, então, 8 os dois objetos. Exemplo: Antônio se comprometeu a doar para José um bezerro e um cavalo Mangalarga marchador. A obrigação alternativa é composta pela multiplicidade de objetos. Tem por conteúdo duas ou mais prestações, das quais somente uma será acolhida para pagamento ao credor e liberação do devedor. Os objetos são ligados pela disjuntiva “ou”. Difere da cumulativa, em que também há uma pluralidade de prestações, mas todas devem ser solvidas. O direito de escolha caberá ao devedor, “se outra coisa não se estipulou” (art. 252). Exemplo: Pedro deve certo valor para João, a prestação irá se resolver com a entrega de uma caminhonete ou de um trator. A consequências do inadimplemento estão dispostas nos arts. 253, 254, 255 e 256; em caso de culpa do devedor, o credor poderá reclamar o valor equivalente a prestação mais perdas e danos, não havendo culpa, extinguir-se-á a obrigação. 7. Obrigações Divisíveis x Indivisíveis: As obrigações divisíveis são aquelas cujo objeto pode ser dividido entre os sujeitos; exemplo: uma casa de arroz é um objeto que pode ser dividido porque, apesar de fracionada, ainda mantém suas propriedadese mesma valoração econômica em proporção. O que não ocorre com as indivisíveis, “a obrigação é indivisível quando a prestação tem por objeto uma coisa ou um fato não suscetível de divisão, por sua natureza, por motivo de ordem econômica, ou dada razão determinante do negócio jurídico” (art. 258). Exemplo: Não se pode dividir uma coleção de livros raros, pois sua valoração econômica será reduzida drasticamente. As obrigações divisíveis e indivisíveis possuem uma série de efeitos que devem ser listados para melhor compreensão: a) Há presunção, no caso da obrigação divisível, de que está repartida em tantas obrigações, iguais e distintas, quantos os credores e devedores (art. 257). b) Cada devedor se libera pagando sua quota, e cada credor nada mais poderá exigir, recebida sua parte na prestação. c) Quando a obrigação é indivisível, e há pluralidade de devedores, “cada um será obrigado pela dívida toda” (art. 259), somente porque o objeto não pode ser dividido. d) Se a pluralidade for de credores, “poderá cada um deles exigir a dívida inteira; mas o devedor ou devedores se desobrigarão, pagando: I – a todos conjuntamente; II – a um, dando este caução de ratificação dos outros credores” (art. 260). 9 e) Se um dos credores remitir (perdoar) a dívida, não ocorrerá a extinção da obrigação com relação aos demais credores. f) Perde a qualidade de indivisível a obrigação que se resolver em perdas e danos, em caso de perecimento com culpa do devedor (art. 263). 8. Obrigações solidárias: Obrigação solidária é aquela em que, havendo vários devedores, cada um responde pela dívida inteira, como se fosse o único devedor. Se a pluralidade for de credores, pode qualquer deles exigir a prestação integral, como se fosse único credor (art. 264). A solidariedade não se presume; resulta da lei ou da vontade das partes (art. 265). Exemplo: numa solidariedade ativa entre os co-credores João e Mateus e o devedor Josias, o vínculo interno se forma entre João e Mateus, já o vínculo externo entre João, Mateus e Josias. Nesse exemplo, o credor que é beneficiado com o pagamento, ou algum outro modo de extinção da obrigação, responderá aos outros pelas partes que lhes competem. As obrigações solidárias têm algumas características importantes: pluralidade de credores, de devedores ou de uns e de outros; Integralidade da prestação; corresponsabilidade dos interessados. São constituídas por três espécies: Obrigação solidária ativa, se vários forem credores; Obrigação solidária passiva, se houver pluralidade de devedores; Obrigação solidária recíproca ou mista, se houver simultaneidade de credores e de devedores. Além disso, é importante destacar as diferenças entre solidariedade e indivisibilidade: a) Se cada devedor solidário pode ser compelido a pagar sozinho a dívida inteira, tal fato se dá por der devedor do todo. Nas obrigações indivisíveis, contudo, o codevedor só deve a sua quota-parte. Se pode ser compelido ao pagamento da totalidade do objeto é porque não se pode fracioná-lo. b) Perde a qualidade de indivisível a obrigação que se resolver em perdas e danos (art. 263). Na solidariedade, entretanto, tal não ocorre, pois, cada devedor continuará responsável pelo pagamento integral do equivalente em dinheiro do objeto perecido. Na solidariedade ativa concorrem dois ou mais credores, podendo qualquer deles receber integralmente a prestação devida (art. 267). A solidariedade ativa também possui alguns efeitos a serem destacados: a) O devedor libera-se pagando a qualquer dos credores, por sua vez, pagará aos demais a quota de cada um. 10 b) Enquanto algum dos credores solidários não demandar o devedor comum, a qualquer deles poderá este pagar (art. 268). Cessa esse direito, porém, se um deles já ingressou em juízo com ação de cobrança, pois só a ele o pagamento pode ser efetuado. c) Convertendo-se a prestação em perdas e danos, subsiste, para todos os efeitos, a solidariedade (art. 271). d) O credor que tiver remitido a dívida, ou recebido o pagamento, responderá aos outros pela parte que lhes caiba (art. 272), podendo ser convencido em ação regressiva por estes movida. A solidariedade passiva é a relação obrigacional pela qual o credor tem direito a exigir e receber de um, de alguns ou de todos os devedores, parcial ou totalmente, a dívida comum (art. 275). Esta também tem seus efeitos: a) O devedor que satisfez a dívida por inteiro tem direito a exigir de cada um dos codevedores a sua quota, dividindo-se igualmente por todos a do insolvente, se houver, presumindo-se iguais, no débito, as partes de todos os codevedores (art. 283). b) Se a dívida solidária interessar exclusivamente a um dos devedores, ou seja, ao emitente de nota promissória, por exemplo, responderá este por toda ela para com que pagar (art. 285). c) Qualquer alteração posterior do contrato, estipulada entre um dos devedores solidários e o credor, que venha a agravar a situação dos demais, só terá validade se for efetivada com a concordância destes (art. 278). d) É permitido ao credor, sem abrir mão de seu crédito, “renunciar à solidariedade em favor de um, de alguns ou de todos os devedores” (art. 282). 9. Obrigações de Meio x de Resultado: Pode-se entender como obrigação de meio o dever de desempenho, de uma atividade contratada, com diligência, zelo, ou mesmo com o emprego da melhor técnica e perícia para se chegar no resultado pretendido. Exemplo: O médico que se obriga a utilizar seus melhores esforços e usar de todos os meios disponíveis para a cura do paciente que o contratou, mas sem jamais garantir o resultado, ou seja, a própria cura. Quer dizer que ao exercer a atividade, o contratado não se obriga à ocorrência do resultado, mas apenas age na intenção de que ele aconteça. Dessa maneira, é de responsabilidade do credor a prova da conduta ilícita do devedor, devendo demonstrar que este, na atividade desenvolvida, não agiu com a diligência e os 11 cuidados necessários para a correta execução do contrato. Já na obrigação de resultado o devedor se obriga a alcançar um fim específico. É possível verificar a inadimplência do contratado se o resultado contratado não ocorrer, sujeitando- se a responder por perdas e danos. Exemplo: contrato de prestação de serviço de pintura de parece, onde o pintor se obriga à completude de sua pintura. Assim, basta ao credor prejudicado a demonstração do descumprimento do contrato por meio da comprovação de não ter sido alcançado o resultado, restando ao devedor responder por perdas e danos. 10. Obrigações Principais x Acessórias: Via de regra, as obrigações são autônomas, dotadas de existência própria, mas excepcionalmente há obrigações que dependem de outras. Assim sendo, a obrigação existente por si, abstrata ou concretamente, sem qualquer sujeição a outras relações jurídicas, denomina-se obrigação principal. Exemplo: a do vendedor, que se obriga, ao alienar um bem, a entregá-lo ao comprador. Aquela em que a existência supõe a da principal designa-se obrigação acessória. Há acessoriedade, nos juros (arts. 232, 406 e 407), por exemplo, pois dependem, para existir, de uma obrigação principal, a que aderem (arts. 92 e 206). 11. Obrigações propter rem: A obrigação propter rem passa a existir quando o titular do direito real é obrigado, devido à sua condição, a satisfazer certa prestação. É uma espécie jurídica que fica entre o direito real e o pessoal, consistindo nos direitos e deveres de natureza real que emanam do domínio. Tais obrigações só existem em razão da detenção ou propriedade da coisa. A força vinculante das obrigações propter rem manifesta-se conforme a situação do devedor ante uma coisa, seja como titular do domínio, seja como possuidor. Assim, nesse tipo de obrigação, o devedor é determinado segundo sua relação perante uma coisa, que é conexa com o débito. Exemplo: a contribuiçãomensal do condomínio, para a conservação da coisa comum; as do proprietário de apartamento, num edifico em condomínio, de não alterar a forma externa da fachada (art. 1297 e art. 1336). A obrigação propter rem possui três características: a) Vinculação a um direito real, ou seja, a determinada coisa de que o devedor é proprietário ou possuidor; b) Possibilidade de exoneração do devedor pelo abandono do direito real, renunciando o direito sobre a coisa; 12 c) Transmissibilidade por meio de negócios jurídicos, caso em que a obrigação recairá sobre o adquirente. Exemplo: se alguém adquirir, por herança, uma quota de condomínio, será sobre o novo condômino que incidirá a obrigação de contribuir para as despesas de conservação da coisa. Assim, pode-se dizer que obrigação propter rem é a que recai sobre uma pessoa por força de um determinado direito real, permitindo sua liberação pelo abandono do bem. 12. Obrigações Puras e Simples: São aquelas que não se sujeitam a nenhuma condição, termo ou encargo. Exemplo: Obrigação de dar um celular sem por que, para que, por quanto e nem em que tempo. 13. Obrigações Condicionadas, Modais e a Termo: A obrigação condicional é a que contém cláusula que subordina seu efeito a evento futuro e incerto (art. 121). Logo, para sua configuração será necessária a ocorrência de dois requisitos essenciais: a futuridade e a incerteza. Exemplo: João se compromete a dar sua caminhonete para o seu neto quando for aprovado na faculdade de Direito. Quanto às condições, cumpre observar as seguintes regras: a capacidade das partes e a forma do negócio regem-se pela norma jurídica que vigorar no tempo de sua constituição; o direito condicional é transmissível por ato inter vivos ou causa mortis; reputa-se verificada a condição cujo implemento for maliciosamente obstado pela parte a quem favorecer; do mesmo modo sucede com a condição dolosamente levada a efeito por aquele a quem aproveita o seu implemento (art. 129). A obrigação modal é a que se encontra onerada com um modo ou encargo, isto é, por cláusula acessória, que impõe um ônus à pessoa natural ou jurídica comtemplada pela relação creditória. É o caso por exemplo, da obrigação imposta ao donatário de construir no terreno doado um prédio para escola. O onerada passa, então, a ter o dever de empregar o bem recebido pela maneira e com a finalidade estabelecida pelo instituidor, de tal sorte que, se não houvesse essa cláusula, ele não estaria vinculado a qualquer prestação, pois o modo, em regra, adere-se a atos de liberalidade. A obrigação modal pode ter por objeto uma ação (dar ou fazer) ou uma abstenção (não fazer) do onerado, em favor do disponente, de terceiro ou do próprio beneficiário, sendo que, neste último caso, o encargo assume a forma de um conselho, cujo descumprimento não acarretará nenhum efeito de direito, visto que não é admitida a reunião do 13 débito e do crédito numa só pessoa. A obrigação com encargo acarreta os seguintes efeitos: a) Não suspende a aquisição nem o exercício do direito, salvo quando expressamente imposto no ato negocial, pelo disponente, como condição suspensiva (art. 136). b) A iliceidade ou impossibilidade física ou jurídica do encargo leva a considera-lo como não escrito, libertando a obrigação de qualquer restrição, exceto se, se apurar ter sido ele a causa determinante do negócio, caso em que se terá a anulação do ato; fora disto, porém este se aproveita como puro e simples (art. 137). c) Gera uma declaração de vontade qualificada ou modificada que não pode ser destacada do negócio; daí sua compulsoriedade. Dessa forma, o beneficiário deverá cumprir o encargo, sob pena de se revogar a liberalidade. Deve ser cumprido no prazo fixado pelo disponente e se este não o houver estipulado, cabe ao magistrado estabelecê-lo de acordo com a vontade presumida do disponente. Se o encargo consistir em prestação personalíssima, falecendo o devedor sem o cumprir, resolve-se o ato negocial, voltando o bem ao poder do disponente ou dos herdeiros. Se não disser respeito a obrigação desse tipo, o dever de cumpri-lo transmite-se aos herdeiros do gravado (arts. 553, 555, 1938 e 1949). d) Podem exigir o cumprimento do encargo o próprio instituidor, seus herdeiros, as pessoas beneficiadas ou representante do Ministério Público, se se contiver em disposição testamentária ou for de interesse público (art. 553). e) A resolução do negócio jurídico em virtude de inadimplemento do modo não prejudica os direitos de terceiros. A obrigação a termo é aquela em que as partes subordinam os efeitos do ato negocial a um acontecimento futuro e certo. Termo é o dia em que começa ou se extingue a eficácia do negócio jurídico; não atua, portanto, sobre a validade da relação obrigacional, mas apenas sobre seus efeitos. O termo pode ser: a) inicial (dies a quó) ou suspensivo, se fixa o momento em que a eficácia do negócio deve-se iniciar, retardando o exercício do direito. b) final (dies ad quem) ou resolutivo, se determina a data da cessação dos efeitos do ato negocial, extinguindo as obrigações dele oriundas. Exemplo: a locação que se deverá findar dentro de dois anos (art. 135). 14 c) certo, quando estabelece uma data do calendário, dia, mês e ano. Por exemplo, 20 de setembro de 2021, ou então quando se fixa um certo lapso de tempo, como, por exemplo, daqui a seis anos ou no dia em que alguém atingir a maioridade. d) incerto, se se referir a um acontecimento futuro, que ocorrerá em data determinada, como por exemplo, quando determinado imóvel passar a ser de outrem, a partir da morte de seu proprietário. A morte é sempre certa; a data em que vai ocorrer é que é incerta. Sobre a exigibilidade da obrigação a termo, a obrigação constituída sem prazo reputar-se-á exequível desde logo, salvo se a execução tiver de ser feita em local diverso ou depender de tempo (art. 134). A obrigação a termo só poderá ser exigida depois de expirado o termo. Por ser a obrigação a termo, enquanto este não for atingido, é ela inexigível, visto que não nasce para o credor a pretensão; logo, não há prescrição, pois esta só terá início no momento em que o direito creditório se tornar exequível. 14. Obrigações Líquidas e Ilíquidas: A obrigação líquida é aquela obrigação certa, quanto à sua existência, e determinada quanto ao seu objeto. Seu objeto é certo e individuado; logo, sua prestação é relativa a coisa determinada quanto à espécie, quantidade e qualidade. É expressa por um algarismo, que se traduz por uma cifra. O inadimplemento da obrigação positiva e líquida, no seu termo, constitui de pleno direito o devedor em mora. Não havendo prazo assinado, começa ela desde a interpelação judicial ou extrajudicial. Exemplo: João deve dar a Pedro R$ 500,00 ou cinco sacos de arroz. A obrigação ilíquida é aquela incerta quanto à sua quantidade e que se torna certa pela liquidação, que é o ato de fixar o valor da prestação momentaneamente indeterminada, para que esta se possa cumprir; logo, sem liquidação dessa obrigação, o credor não terá possibilidade de cobrar seu crédito. Depende, portanto, de prévia apuração, por ser incerto o montante de sua prestação, tendendo a converter-se em obrigação líquida. Tal conversão se realiza, processualmente, mediante liquidação, que lhe fixará o valor, mas pode advir de transação, quando os transigentes acomodam seus interesses como julgarem conveniente, isto é, por força de ajuste entre as partes e de acordo com a lei (arts. 948 e 954). A liquidação dá-se sempre que não houver a legal e a convencional. Exemplo: Pedro deve dar vegetais a João, não se sabe quanto nem qual vegetal. 15 REFERENCIAS DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro: Teoria Geral das Obrigações. 22. ed. São Paulo: Editora Saraiva, 2007. GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito das Obrigações: ParteGeral. 12. ed. São Paulo: Editora Saraiva, 2011.
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