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DES116 - Teoria Geral do Estado I - Pinto Neves - (183-11)

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Teoria Geral do Estado I – Prof. Associado Marcelo da Costa Pinto Neves 
Turma 183 – Sala XI – 1º Semestre 1
 
 
 
 
 
 
 
Teoria Geral do Estado I (DES116) 
Prof. Associado Marcelo da Costa Pinto Neves 
 
Tópico I: Da sociedade ao Estado 
 
1. Conceitos Preliminares 
1.1. Sociedade – o que é sociedade? 
a) De um conceito antropocêntrico, passando por conceitos centrados 
na cultura ou no Estado, para um conceito sociocêntrico de sociedade. 
b) Sociedade como sistema social mais abrangente; sistema social 
como sistema de comunicações. 
 
- Conceito Antropocêntrico: conjunto de indivíduos 
- Conceito Cultural: unidade de cultura, identidade de valores 
- Sociedade é maior do que o Estado, não se confunde com ele 
- Conceito atual é um conceito sociocêntrico: sociedade como sistema 
social mais abrangente, baseado num sistema de comunicação entre 
indivíduos. 
 
1.2. Comunicação – o que é comunicação? 
a) Concepção dicotômica de comunicação: é elementar 
 Emissor (sujeito) TRANSMITE UMA IDÉIA a um Receptor (sujeito) 
b) Concepção tricotômica: comunicação como unidade elementar da 
sociedade 
A pessoa/homem compõe o ALTER, que transmite uma mensagem 
dotada de informação. A compreensão se dá por parte do EGO, que também é 
composto por uma pessoa/homem. (VER ESQUEMA DO SLIDE) 
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 Explicação: 
 O que chega ao receptor é filtrado pelo emissor. Comunicação fica 
numa “nuvem” na sociedade. Exemplo: até hoje estudamos filósofos de quem 
não temos a menor noção concreta, mas suas ideias ainda estão presentes na 
“nuvem” de nossa sociedade. 
O homem é precursor da comunicação e a sociedade é o conjunto de 
comunicações. 
 
1.3. Estrutura – a estrutura da sociedade – as expecativas de 
comportmanento. 
- A estrutura da sociedade delimita as possibilidades, as potências 
humanas, criando expectativas de comportamento e delimitando as 
comunicações. 
- Tipos de expectativas: 
 - cognitivas: orientada para o conhecimento, o receptor está 
disposto a aprender o certo, quando age de maneira errada. Ex: ciências. 
- normativas: o receptor, em princípio, quando age de maneira 
errada, não se dispõe a mudar e agir de modo correto, não está disposto a 
aprender, normalmente, por já possuir valores éticos (suas próprias 
expectativas normativas). 
 
2. Modelo Hierárquico da Sociedade Pré-Moderna 
A cosmovisão moral-religiosa (bem/mal) e o poder enquanto 
dominação (poder superior/poder inferior), influenciam as diversas esferas da 
sociedade: economia, ciência, amor, família, medicina, direito, educação, 
arte). (VER ESQUEMA DO SLIDE) 
 
3. Modelo Heterárquico da Sociedade Moderna 
3.1. Sociedade Moderna como Sociedade Mundial: desde as Grandes 
Navegações a comunicação não se restringe a um território ou a um Estado. 
3.2. Sociedade Moderna como Sociedade Multicêntrica: � qualquer 
tentativa de expansão/prevalência de um sistema sobre outro gera crise. 
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Portanto, todos devem ficar em “consonância”, como se estivessem em um 
círculo fechado (família, amor, arte, moral, religião, protesto, política, direito, 
educação, medicina, técnica, ciência, economia). 
 
4. A política como sistema da sociedade mundial. 
- Diferenciações da Política: 
• Funcional: função específica de tomada de decisão 
coletivamente vinculante. 
• Segmentária: divisão em sistemas políticos territoriais 
(diferença entre Estados em diferentes territórios). 
• Centro e periferia do sistema político territorial: divisão 
interna entre centro e periferia. 
Estado como centro do sistema político territorial 
 
5. Estado como organização central do sistema político territorial 
Dentro da política mundial inserem-se sistemas políticos territoriais, e 
dentro destes inserem-se os Estados. (VER ESQUEMA DO SLIDE) 
 
Observações finais 
1. O Estado não é o centro da sociedade moderna (esta última é mais 
ampla). 
2. O Estado é a organização central do sistema político territorial. 
3. Qual o significado do Estado para a sociedade contemporânea? 
Comentário: o Estado não perdeu seu significado. Isso só ocorre se 
entendemos o Estado contemporâneo como o Pré-Moderno, já ultrapassado. 
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Tópico II: Objeto e método da Teoria do Estado. O conceito de 
Estado na perspectiva da Teoria do Estado. 
 
1. Introdução 
1.1. Classificação tradicional dos objetos de conhecimento 
(cognoscíveis): 
a) Objetos reais: empíricos, não tem valoração, estão na realidade, 
conhecidos mediante modelos indutivos de observação (indução). Ex: física e 
química. 
b) Objetos ideais: sem realidade empírica. Construídos 
intelectualmente: abstrações que apenas supõem a realidade. São conceituais, 
abstratos, insuscetíveis de sensações. Ex: matemática. 
c) Objetos culturais ou sociais: contêm tanto realidade empírica quanto 
valorações. Abstratos, mas vinculados a uma realidade concreta. Não são 
puramente empíricos. Passíveis de normativização. Ex: direito / relação 
dialética entre realidade e idealidade 
d) Objetos psíquicos: há um substrato real, mas com sentidos ideais 
(abstratos). Duplicidade real X ideal / natureza X valoração. 
 
1.2. Método: conceito e função – o que é método (método do 
conhecimento)? 
a) Realismo clássico (Aristóteles e São Tomás de Aquino): método 
como caminho para o sujeito chegar cognoscivamente à realidade objeto (ao 
objeto). Realidade: pronta e acabada. 
b) Idealismo moderno (Immanuel Kant): método como forma do 
sujeito cognoscente construir seu objeto de conhecimento. Há diferença entre 
objeto construído e objeto dado bruto. O método é construtor de seu objeto: 
atuação de um sujeito racional e suscetível a falhas. 
c) Positivismo lógico (década de 1920): método como controle de 
adequação semântica entre proposição e objeto. Afasta-se do objeto 
cognoscente. O importante não é conhecer, mas adequar à verdade. 
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d) Virada Linguística e teoria do consenso (décade de 1950 – 
Habermas): método com meio de alcançar argumentativamente um consenso 
racional: verdade como consenso. O importante é que todos os envolvidos 
aceitem a proposição sobre o objeto. É um modelo pragmático. 
e) Perspectiva da Teoria dos Sistemas (Niklas Luhmann): método como 
construção da respectiva ciência ou área do saber, que mediante comunicação 
DETERMINA o objeto (campo do real) a partir de dados relevantes do ambiente 
do sistema. O dado (realidade bruta) é selecionado e delimitado, 
transformando-se em objeto. 
OBS: - semântica: relação de sujeito/linguagem e objeto 
 - pragmática: relação da linguagem tratada subjetivamente 
 
1.3. O Estado como dado complexo: Estado como objeto diverso 
conforme a área do saber. 
 
2. Perspectivas básicas de estudo da Teoria do Estado. 
1. Perspectiva sociológica-política: estudo do Estado a partir das 
relações fáticas de poder (detentor do poder x não detentor de poder). Plano 
do SER. 
2. Perspectiva jurídica: ênfase do estudo do Estado no ordenamento 
jurídico. Análise normativa-jurídica do campo fático (campo do ser). Estudo, 
portanto, no plano do DEVER SER. 
3. Perspectivas filosóficas: 
a) Axiológica: valores. Discussão sobre o tipo ideal de Estado. Estado 
com princípios e valores moralmente aceitáveis. 
b) Ontológica: definiçãodo que é a essencia do Estado (em última 
instância)/petende entender a ESSÊNCIA do Estado.. Busca a característica 
específica do Estado, busca uma síntese que englobe todas as facetas do 
Estado. 
 
 
 
 
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3. Qual a perspectiva da Teoria do Estado? 
1. Os modelos realistas (Ferdinand Lassale – razões reais do poder, 
Carl Schmitt, Léon Duguit, Georges Burdeau): Estado com relação fática, 
processo real de poder, fenômeno de decisões. 
Problema: despreza a dimensão normativa, o aspecto jurídico. 
OBS: Estado Totalitário � ordem jurídica tem papel secundário. 
2. Os modelos jurídicos: Estado como ordem jurídica (Kelsen) ou 
Estado como instituição jurídica (Santi Romano). 
Problema: desconsidera o Estado em perspectivas não-juridicas. Ex: 
atuações ilegais. 
3. Modelo dualista (Georg Jellinek): Estado em dois níveis: um social e 
outro jurídico (duas teorias: social e jurídica). Apenas soma os dois modelos 
anteriores. 
4. Modelo de síntese (Hermann Heller): Estado como síntese do poder 
político (SER) e ordem jurídica (DEVER SER). Norma deve ter validade social 
(eficácia). Tensão entre esses dois fatores é objeto da TGE. 
 
4. O método da Teoria Geral do Estado 
a) Aplicação do princípio da imputação normativa (enquadrar os fatos 
concretos em normas jurídicas) e da causalidade (funcionalidade causal – 
discussão das condições e conseqüências dos atos relevantes à ordem estatal). 
TGE oscila entre esses dois focos. 
b) Modelo de síntese dialética (síntese sistêmica): método de 
integração entre diferença e unidade das perspectivas normativas e cognitivas. 
- Cognitivo: perspectiva do ser. Orientado para o conhecimento 
- Normativo: perspectiva do dever-ser. Orientado para o cumprimento 
da norma. 
Intercambismo metodológico. 
c) Modelo sistemático-generalizador: 
c1) Teoria do Estado versus história do Estado: quer-se compreender 
o sistema e organização atual e não apenas a historicidade. 
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c2) Teoria (Geral) do Estado (procura elementos característicos do 
Estado em geral) versus teoria individual (um único Estado) e teoria particular 
(um tipo/grupo de Estado) do Estado (Georg Jellinek). 
 
5. O conceito de Estado da Teoria Geral do Estado 
1. Estado como realidade de poder juridicamente organizada 
(organização político-jurídica). 
2. Estado como organização política territorial. 
3. Estado como organização jurídico-política soberana: 
 - não subordinada normativamente a outro Estado. 
 - ordem imediatamente abaixo da ordem internacional (ordem 
jurídico política imediata à ordem internaciona. 
 - questão do supra-nacionalismo. Ex: (à rigor) União Européia 
� o Estado como soberano relega sua soberania a outrem. 
 
Conclusão: fim da Teoria do Estado? 
1. Especialização e diferenciação: perdeu a funcionalidade diante da 
ciência política, da sociologia política, teoria do direito público e do direito 
constitucional. Divisão da Teoria do Estado em disciplinas mais especializadas. 
Absorção do conteúdo de outras a tornou abrangente demais. 
1. Re-especificação funcional 
 - Uma nova teoria da organização: teoria espacial da 
organização estatal, nos planos SER (fático) e DEVER SER (normativo). 
 - Uma nova teoria da Constituição. Ex: 
Transconstitucionalismo, do Marcelo Neves. 
≠ 
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Tópico III: Os componentes, âmbitos de vigência e o contexto 
social do Estado 
 
1. Pressupostos de fato do Estado: território e população 
1 – Território 
- Aspecto físico: espaço geográfico (substrato físico) – objeto da 
geografia, geologia etc. 
- Aspecto jurídico: local onde se aplicam as normas de um 
ordenamento jurídico. 
 
 2 – População 
- Substrato humano 
- Objeto da demografia, geografia humana etc. 
OBS: Povo ≠ Nação ≠ População 
 
 2. Componentes sistêmicos constitutivos do Estado: poder político 
e direito positivo 
1. O Poder Político 
- Poder ≠ Força 
- Relação de mando e obediência 
- Relação entre governantes e governados 
- Plano do “ser” do Estado 
- Força é um dos requisitos para o cumprimento do poder. 
 
2. Direito Positivo 
- Ordenamento jurídico estatal 
- Estrutura normativa do Estado 
- Plano do “dever-ser” 
- Ordem coercitiva; “Coerção é o medo das conseqüências da 
violação da norma jurídica que reside na consciência e exerce pressão 
sobre a vontade livre do obrigado” – Maria Helena Diniz 
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- “Conjunto de normas vigentes estabelecidas pelo poder vigente” 
– Maria Helena Diniz 
 
3. Âmbitos de vigência da ordem jurídico-politica do Estado 
(elementos do Estado): pessoal (povo), espacial (o território em sentido 
jurídico), material e temporal 
 
1. Âmbito pessoal (povo) - conceitos 
a) O conceito de POVO (conceito jurídico-político): 
- Pessoas com vínculo permanente e generalizado à ordem jurídico-
política do Estado (“nacionalidade” ou “cidadania” como pertinência à 
organização estatal; membership). 
- Os estrangeiros domiciliados: vínculo especial com a ordem estatal 
(restrição a direitos e deveres). 
b) O conceito de POPULAÇÃO: pessoas sob jurisdição do Estado. 
- Estrangeiros, por exemplo, fazem parte da população, mas não do 
povo. Tem um vínculo especial, restrição a direitos e deveres. No 
passado, os escravos. 
c) O conceito de NAÇÃO: conceito cultural, unidade de valores. 
d) o conceito de COLÉGIO ELEITORAL: cidadania ativa, povo em sentido 
estrito. 
 
Problemas: 
- Povo (conceito jurídico-politico) ≠ população 
- Povo (conceito jurídico-politico) ≠ nação (conceito cultural) 
- Povo ≠ colégio eleitoral (“cidadania ativa” ou povo em sentido estrito). 
- Quem tenta unir povo e nação, tende ao totalitarismo 
 
e) Critérios básicos para pertinência ao povo (“nacionalidade”, 
citizenship, Staatsangehörigkeit) 
- jus soli (nascer no território) e jus sanguinis (descendência e 
ascendência sanguínea em relação a cidadãos). 
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- Naturalização: concessão de cidadania a estrangeiros que preencham 
certos requisitos, mas com restrições definidas em lei. (CF, art. 12). 
- Outros critérios e novas perspectivas: imigração e blocos (UE, 
MERCOSUL, etc.). 
 
2. Âmbito espacial (o território em sentido jurídico-político) 
a) O conceito de território: espaço no qual a ordem política vigora. 
b) Unidade do território estatal (unidade jurídico-política não é 
necessariamente física. Ex: EUA – Alasca). 
c) Limitação do âmbito espacial de vigência pelo direito internacional 
público: principio da efetividade (Hans Kelsen) – se não há ordem do Estado A 
vigendo em um espaço, então tal espaço, ainda que fisicamente o seja, não faz 
parte desse Estado A. 
d) Impenetrabilidade do território: exclusividade da ordem jurídica-
política do Estado em seu próprio território. Não é absoluta, pois há ligações 
estrangeiras, tratados, etc. 
e) Sedentariedade 
f) Mutações ocorrem apenas excepcionalmente no território. 
g) Relação entre o Estado e o território 
- Território-sujeito (Carré de Malberg): território incorporado à pessoa 
do Estado. 
- Território-objeto (Paul Labanda, A Georg Jellinek): território como 
sendoum objeto, uma propriedade do Estado. 
- Território-limite (Hans Kelsen, Fricker): território como limite da 
vigência do ordenamento jurídico daquele Estado. 
g) Delimitação, extensão, aquisição e perda dos territórios 
g1) Classificação das fronteiras 
- Esboçadas: ainda tratadas e discutidas 
 - Vivas: objeto de litígio, em conflito. 
 - Mortas: fronteiras onde não há mais divergências. 
- Naturais ou Artificias 
g2) Extensão do território: superfície, subsoslo, mar territorial) e 
especo aéreo 
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- Tridimensionalidade 
- Mar territorial (Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar – 
Montego Bay): até 12 milhas a partir da costa. País, entretanto, não pode 
impedir a passagem de embarcações “inocentes”, 
• Águas interiores (internas): águas continentais. País pode impedir 
passagem de embarcações. 
• Zona Contigua: 12 até 20 milhas a partir da costa. Não é mais 
território, mas o país pode fazer fiscalizações. 
• Zona Econômica Exclusiva: Estado tem direito exclusivo de 
explorar área de até 200 milhas a partir de sua costa, se não 
realizá-lo, outro país pode fazê-lo. 
• Plataforma Continental: relativo a cada território. Área econômica 
EXCLUSIVA. Sem exceções. 
-Espaço aéreo e subsolo: até onde o Estado conseguir exercer sua 
soberania. 
g3) Aquisição e perda de território 
- Aquisição da terra nullius: princípio da contiguidade - aquisição de 
terra que não é denominado por nenhum Estado. 
- Conquista (debellatio) 
- Cessão onerosa ou gratuita 
- Perda temporária e definitiva 
 
3. Âmbito material (competências do Estado) 
- Delimitação pelo direito internacional público *externa) e pela 
Constituição (interna). 
 
4. Âmbito temporal: sugimento e desaparecimento dos Estados 
- Estado tem período de vida, de vigência. É o tempo em que a ordem 
jurídico-politica vigora em determinado território. 
 
4. O contexto social do Estado: condições e limites do Estado 
Diversidade de condições e limites sociais do Estado: Estado é o 
que une a política ao Direito, condicionado pela estrutura social como um todo. 
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O tipo de Estado depende de vários fatores (economia, ciência/técnica, 
educação, família, arte, religião, valores culturais e morais), que são sistemas 
que interagem permanentemente. (VER ESQUEMA DO SLIDE) 
 
 
Observações Finais 
1 – Cabe distinguir os pressupostos de fato, componentes, âmbitos de 
vigência e o contexto social do Estado. 
2 – Os pressupostos de fato (território e população) encontram-se no 
“ambiente” do Estado. 
3 – Os componentes básicos do Estado são o poder político e o direito 
positivo. 
4 – O âmbito de vigência do Estado distingue-se em quatro dimensões: 
pessoal (povo), espacial (território em sentido jurídico-político), material 
(competências) e temporal. 
5 – O contexto social do Estado é constituído por condições e limites os 
mais diversos. 
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Tópico IV: Teorias sobre a origem do Estado. A formação de estados. 
 
1. Ponto de Partida 
1. Origem do Estado: quando o Estado surge no processo histórico. 
Estado em geral, ou seja, Estado como instituição 
Formação dos Estados: como se forma um Estado em particular/ 
formação de um determinado Estado. 
Os defensores afirmam que, como ambos são formados a partir de 
relações de poder, não há porque separá-los. 
2. Origem do Estado como origem da sociedade (Edward Mayer e 
Wilhelm Koppers): Estado e sociedade se confundem. 
3. Origem do Estado como Estado Moderno (Balladori Pallieri): a 
origem do Estado estaria ligada a Paz de Westfalia (1648), que delimitou as 
fronteiras internas da Europa; trata-se do Estado como o compreendemos 
hoje. 
4. Origem do Estado na antiguidade: conceito utilizado por nós, pois 
a TGE se preocupa também com as formas mais antigas de Estado. Estado na 
fase embrionária. Tendência ao monopólio da força. 
 
2. Teorias empíricas sobre a origem do Estado (na Antiguidade) 
OBS: Teorias empíricas – formação natural/partem da realidade. 
1. Teoria da origem familiar do Estado (Filmer, Maine): ideológica, 
associa a figura do rei à figura do pai. Estado como família ampliada, extensão 
das relações familiares. 
Combatida por Hobbes: não se trata de um sem avanço teórico, serve 
apenas para justificar o absolutismo inglês. 
Outros problemas: ocorre justamente o contrário do que diz essa 
teoria, ou seja, o fator essencial para a origem do Estado é o momento em que 
a diferenciação social deixa de ser as relações parentais. Portanto, quando 
surge o poder político (diferente do poder familiar), é que surge o Estado. 
2. Teoria da origem violenta (com finalidade econômica) do Estado 
(Ludwig, Gumplowicz, Franz Oppenheimer): Parte da heteronomia social 
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(heterogeneidade inicial). Formação dividida em três momentos: 1- Dois 
grupos, um nômade coletor e um nômade pastoril. 2 – Conflito entre ambos, 
finalidade é a exploração econômica. 3 – Vencedor se impõe. E é essa 
imposição que faz nascer o Estado. 
Problema: não há informação de que isso sempre tenha ocorrido/ não 
há elementos históricos que comprovem essa origem para todos os Estados. 
3. Teoria da origem econômica do Estado (Karl Marx, Friedrich 
Engels): parte-se de uma sociedade homogênea ma origems, tribal e arcaica 
em um comunismo primitivo: abundância de alimentos, harmonia com a 
natureza, mas sem civilização. Quando surgem problemas de escassez na 
agricultura, uma comunidade controla os meios de produção (classe 
dominante). Ocorre uma luta de classes. A classe dominante estrutura seu 
poder em instituições (Estado capitalista): 
Revolução � Ditadura � Socialismo � Comunismo. 
Problema: não há comprovação empírica dessa teoria na história. 
4. Teoria da formação natural ou teoria eclética: formação do Estado 
está ligada a vários fatores, como por exemplo: fatores políticos, econômicos, 
biológicos, psicológicos, técnicos, etc. (“um pouquinho de cada coisa”). É 
conseqüência do desenvolvimento interno da sociedade. 
Teoria é correta, porém tem o problema de ser muito vaga, não ser 
especifica/objetiva. 
 
3. Teorias hipotéticas sobre origem do Estado (teorias justificativas) 
OBS: Teorias hipotéticas – formação contratual (hipótese de origem = 
contratualistas). 
- Teorias justificativas, e não explicativas. 
 
1. Thomas Hobbes (Leviatã, 1651) 
 - Escreve o livro Leviatã, em 1651, obra fundamental para a 
compreensão do Estado Moderno. 
 - Segundo o livro, o homem sem Estado, vive sob um Estado 
Natural, que prejudica a todos, pois os homens tornam-se dominados por suas 
paixões humanas, liberando o desejo pelo poder e, conseqüentemente, tem-se 
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uma luta de todos contra todos. Solução: homens renunciam à sua liberdade 
natural, transferindo seu poder a um soberano, que garantirá a segurança, a 
ordem e a paz.. Forma-se o Estado. 
- Soberano só é legitimo enquanto tem condições de cumprir sua parte, 
dessa forma, qualquer um pode se rebelar contra ele, se não estiverem sendo 
garantidas a paz, a segurança e a ordem. 
 
2. John Locke (Segundo Tratado sobre o Governo Civil, 1690) 
- Escreve o livroSegundo Tratado sobre o Governo Civil, 1690. 
- Visão positiva do ser humano. No Estado de Natureza, há liberdade e 
propriedade (a vida e os bens). 
- Depois de determinado tempo, iniciam-se os conflitos. A partir de 
então, deve haver transferência do poder para o soberano. Não há alienação 
da liberdade (como acredita Hobbes), apenas transformação da liberdade 
natural em liberdade civil (organizada). 
- Estado como protetor da vida, da liberdade e da propriedade. 
 
3. Jean Jacques Rousseau (Discurso sobre a origem e o fundamento 
da desigualdade entre os homens, 1754 e Do contrato social, 1762) 
- Mito do bom selvagem � homem no estado de natureza era bom, 
vivia em paz, havia um convívio social harmônico. 
- A partir de um momento, não é mais possível a prevalência da 
vontade de todos. Então, o Estado surge como um mal necessário. Estado 
como um soberano democrático que se legitima pela vontade geral. 
- Vontade geral como vontade do corpo político, e não como soma das 
vontades individuais. 
- Pessoa concorda como cidadão, mas pode discordar como indivíduo. 
Não é um modelo individualista. 
- Problema: acredita na homogeneidade do corpo social, desconsidera a 
pluralidade. 
 
 
 
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RESUMO 
- Hobbes: segurança e paz. 
- Locke: estado de natureza insustentável; Estado para proteger a 
propriedade, a liberdade e a vida. 
- Rousseau: Estado para manter a harmonia; formação democrática da 
vontade geral. 
- Teorias que mais justificam do que explicam a atuação do Estado. 
 
4. O surgimento do Estado no processo de evolução social 
1. Surgimento do Estado como processo de incremento de 
complexidade e diferenciação da sociedade (Robert Lowie, Origin of the State, 
1927; Niklas Luhmann): 
O Estado só surge efetivamente quando se alcança certo grau de 
diferenciação social – sem ela, não há pressuposto para essa formação. 
Para Luhmann: 
- Complexidade: as possibilidades presentes são em número muito 
maior do que as que podem ser atualizadas. Sociedade moderna caracteriza-se 
pela hipercomplexidade. 
- Diferenciação: trata-se de uma estruturação diferenciada. 
Estruturação como organização, funcionamento. 
 
2. Sociedades arcaicas (pré-estatais): 
Não há diferenciação hierárquica de poder, mas segmentária, ou seja, 
divisão em unidades iguais quanto à sua natureza. Ex: clãs, famílias, tribos. 
Essas sociedades vão se complexando: escrita, técnicas agrícolas, etc. 
 
3. Sociedades diferenciadas hierarquicamente: política como esfera 
suprema: 
Política como esfera SUPREMA. O importante não é mais o clã, mas a 
detenção do poder. Religião ajuda a dar legitimidade, em alguns casos. 
3.1. Estado Antigo (da passagem da pré-história para a historia; Estado 
= sociedade); Organização política hierárquica e centralizada (ponto 
fundamental); sociedade como organização política: 
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Unidade política de base territorial. Ainda não é o Estado como 
conhecemos hoje. Sociedade dividida com base no poder (inferior e superior). 
Poder é centralizado no território, é personalizado (e não institucionalizado), é 
centralizado (não é difuso). 
Sociedade como organização política. Ou seja, Sociedade = Estado. 
Não havia sociedade não-estatal. 
3.2. Estado Moderno ≠ sociedade (se distinguem) 
Essa diferenciação é que leva alguns pensadores (entre eles Marcelo 
Neves) a afirmar que o Estado “de verdade” só nasceu na Era Moderna. 
Sociedade é baseada na divisão hierárquica de poder. No arcaico, 
pertencer a um grupo, já era suficiente para fazer parte dele. No estatal, deve 
haver relação de poderes. Indivíduo passa a ter um vínculo funcional com a 
sociedade. Diferenciação entre soberano e súdito. 
 
4. A formação de Estados (determinados) 
1. Originária: 
- Casos históricos 
- Estado surge onde não havia Estado antes 
- Idéia de evolução, vista no tópico anterior. 
 
2. Derivada: 
- Já havia Estado. Houve alguma transformação social e política 
- Separatismo. Ex: Uruguai. Separa-se de um Estado “principal”. 
- Desagregação. Ex: Iugoslávia. “Implosão”, Estado se fragmenta. 
- União. Ex: EUA. Vários Estados se unem 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Observações finais 
1 – O Estado no sentido amplo do termo: surgimento na antiguidade. 
2 – O Estado no sentido estrito do termo: Estado moderno. 
3 – Origem versus justificação do Estado 
4 – O Estado e a evolução da sociedade: o Estado é 
decorrência/conseqüência dessa evolução. 
5 – O surgimento de novos Estado na atualidade: tendências 
centrifugas e centrípetas. 
- Centrífugas – Estado com tendência à separação. Ex: URSS e 
Iugoslávia 
- Centrípeta – Estado com tendência à união. Ex: Alemanha, Itália, 
União Europeia, 13 colônias (EUA). 
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Turma 183 – Sala XI – 1º Semestre 19
 
Tópico V: O Estado como Organização de Poder 
 
1. Considerações preliminares sobre o conceito de poder 
1. Poder em sentido amplo: poder não social e poder social (poder 
sobre coisas). 
- “Poder é a capacidade de realizar algo” (Berthand Russel) – definição 
muito ampla. 
- Poder é um conceito quantitativo: quem consegue mais, tem mais 
poder. 
- Poder não social: instrumental, condições de fazer – não interessa à 
TGE. 
- Poder social: implica relação de alteridade (entre duas ou mais 
pessoas). Poder como relação intersubjetiva: alter e ego como pólos de 
comunicação. Implica uma relação minimamente bilateral. 
 
2. Poder social e influência 
- Poder Social em sentido amplo inclui a influência sobre outro. 
- “Mera influência”, como conceito, depende da motivação do outro. Ex: 
uma pessoa por ser muito bonita ou muito inteligente influencia outra. 
- Poder Social: determina como o outro age de modo vinculante, 
independe da motivação, da “boa vontade” do outro em agir desse modo. 
 
2. Do poder social em geral ao poder político 
1. O Conceito de poder político na tradição weberiana da Teoria do 
Estado. 
- Poder 
“Poder significa toda probabilidade de impor a própria vontade numa 
relação social, mesmo contra resistências, seja qual for o fundamento dessa 
probabilidade” (Max Weber, Wirschaft und Gesellschaft, 1922, Capítulo I, § 16, 
p. 28 [33]). 
Teoria Geral do Estado I – Prof. Associado Marcelo da Costa Pinto Neves 
Turma 183 – Sala XI – 1º Semestre 20
- Poder político não se restringe a mera aplicação de força de coação 
material, mas ela pode aparecer se necessário. Parte muito da 
intersubjetividade: teoria da ação (ação dirigida de um sujeito a outro). 
 
-Dominação 
“Dominação é a probabilidade de encontrar obediência a uma ordem de 
determinado conteúdo, entre determinadas pessoas indicáveis” (Mas Weber, 
ibidem, p. 28-9 [33]). 
 
- Poder político 
“O poder de dominação pod definir-se como um poder da vontade que 
se faz obedecer pela disposição e o emprego de uma força de coação material“ 
(Jellinek). 
 
2. O conceito de poder político na perspectiva da teoria dos sistemas. 
- Poder político mais como a condição de que a ação de um seja 
condição para a ação do outro. Limitação do espaço de ação do outro. 
- Poder assegura a cadeia de eventos independentemente da vontade 
do agente – consiste em modificar as vontades, e não em dobrá-las. 
- Conceito de poder vai além da política, pois é difuso. 
- Poderpolítico (conceito): tomada de decisões coletivamente 
vinculantes. O fato de ser coletivamente vinculante é que o diferencia dos 
outros tipos de poder. Não há como manter um poder político particularista. 
 
3. Do poder político em geral ao poder do Estado 
1. Notas básicas distintivas do poder estatal 
a) Sempre tende a afetar interesses gerais: ainda que o poder político 
seja coletivamente vinculante, nem sempre afeta interesses gerias – poder 
político usado em interesses particulares. 
b) Monopólio do uso legítimo da violência dentro do território respectivo 
(Max Weber): na Idade Media, não havia tal monopólio – sem poder estatal 
(que só começou na Era Moderna), mas havia poder feudal, papal, etc. 
Teoria Geral do Estado I – Prof. Associado Marcelo da Costa Pinto Neves 
Turma 183 – Sala XI – 1º Semestre 21
 - Há áreas em que se perde o controle – é o problema da 
legitimidade. Ex: FARC, favelas, etc. 
 - Não pode haver dois poderes estatais no mesmo território. 
c) Poder de decisão em última instancia (“soberano”): decorrente do 
monopólio do uso da força. Está em crise, pois a transnacionalização do poder 
criou instâncias de decisão acima do Estado. Se ele não consegue tomar 
decisões, está em crise. O poder do Estado não está acima de tudo: há 
limitações (ex: sociais, econômicas). 
 
2. Características do poder do Estado 
a) Relativamente centralizado (Kelsen, Luhmann): não é absolutamente 
centralizado, mas também não é difuso (como o poder político ou o 
internacional) – Luhmann afirma que o poder internacional é tribal. 
 Não possui necessariamente um único núcleo, como no absolutismo. 
Órgãos centrais e internos que regulam esse poder. 
b) Impessoalidade (Burdeau): poder do Estado não está vinculado a 
uma pessoa determinada. Ex: ao assinar um tratado, não é o presidente em si 
que assina, mas o país que ele representa – não é entre Lula e Obama, mas 
sim um poder próprio da instituição/organização. Implica a continuidade das 
decisões estatais. Há meios de se retirar essa impessoalidade. Ex: nazi-
fascismo. 
c) Unidade (Heller): apesar de haver conflito entre os diversos 
detentores de poder e os destinatários, o poder estatal se firma como unidade, 
pois sua decisão vincula toda a coletividade. Se cada grupo estatal (ex: partido 
político ou Poder [Executivo, Judiciário ou Legislativo]) decidisse de uma 
forma, não haveria Estado. 
 Pode haver contradições internas, mas é função do próprio Estado 
resolvê-las. Ex: antinomias de normas. Solução sempre orientada no sentido 
de vincular a coletividade. 
d) Binariedade (Luhmann): 
- poder inferior/poder superior 
- governo/oposição 
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Turma 183 – Sala XI – 1º Semestre 22
Há no poder do Estado sempre uma relação entre alter e ego de uma 
comunicação. 
 Poder superior entre Brasil e EUA. 
 É /inferior = detentor/destinatário 
 Governo/oposição = poder/não-poder 
 e) Bilateralidade (Heller): Como acima, mas com foco na 
intersubjetividade: núcleo de poder X destinatários do núcleo de poder. 
 f) Trilateralidade (Heller): Relação no núcleo de poder entre os que 
são favoráveis a ele e os que são contra: núcleo de poder X os que apóiam o 
núcleo de poder X os que se opõem ao núcleo de poder. 
 g) Pluralidade: Executivo X Legislativo X Judiciário X os que 
apóiam o núcleo de poder X os que se opõem ao núcleo de poder. 
 
3. Poder do Estado, sobre o Estado e no Estado 
- Distinção elaborada por Heller: 
• “do Estado”: organização como um todo (Poder do Estado, 
caracterizado no item anterior). 
• “sobre Estado”: formação/ruptura do Estado (poder sobre a 
organização estatal. É o Poder Constituinte, pois apenas ele 
delimita o Estado). 
• “no Estado”: poder dos governantes/ núcleo de poder (poder dos 
governantes, aplicando a regulação do Estado). 
 
4. Questões básicas do poder estatal 
a) Quem manda? (detentor) 
b) Quem obedece? (destinatários) 
c) Como se manda? (procedimento) 
d) O que se manda? (conteúdo) 
e) Para que se manda (finalidade do poder: programa finalístico) 
 
 
 
 
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Turma 183 – Sala XI – 1º Semestre 23
4. Poder do Estado e direito 
1. Poder do Estado enquanto problema jurídico: Entra na questão do 
dever-ser, o que é devido, é um dever-ser jurídico, não moral nem 
consuetudinário. 
2. Poder jurídico como competência (o problema do poder como 
competencia). 
a) Generalidade: competência é uma palavra ambígua; nesse caso, é 
saber se há normas no sistema que autorizam tais atos de poder. 
b) Questões básicas do poder jurídico (competência): 
- Quem manda? (titularidade, investidura, exercício) 
• Titular do poder: não é perguntar quem manda, mas sim quem 
deve mandar. Isso mostra a diferença entre o titular e um 
detentor eventual. 
• Investidura: alguém só é titular porque foi investido no poder 
por um ato jurídico – se houver irregularidade na investidura, o 
poder não é válido. 
- Quem deve obedecer? (destinatário) 
• Destinatário: a quem se aplicam as normas. 
- Como se deve mandar? (procedimento) 
• Procedimento: como se deve elaborar uma lei. 
Inconstitucionalidade formal é um erro de procedimento 
- O que se deve mandar? (conteúdo) 
• Conteúdo: limites referentes à matéria. Inconstitucionalidade 
material é uma extrapolação dos limites. 
 
- Para que se deve mandar? (finalidade) 
• Finalidade: para que se deve mandar. É o maior dos limites, 
mas o mais difícil de identificar. 
 
3. Poder de ato e poder de direito 
- Poder de fato surge numa situação de governo de fato. Ex: interregno 
constitucional. 
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- Poder invisível (Loewenstein): incontrolável pelo Direito. Não é uma 
questão de ilicitude, é apenas incontrolável. Ex: influências externas a um 
governo. 
- Poder ilícito: é reconhecido pelo direito e sofre sanções (controle do 
poder ilícito). 
- Corrupção Sistêmica: é ilícito, mas é tão comum que há grande 
dificuldade de imposição de sanções (provocaria grande ineficácia do poder 
jurídico). 
 
 5. Legitimidade do poder estatal 
1. Três tipos de dominação legítima segundo Max Weber: 
- Dominação tradicional: decorre de uma repetição do que está 
sedimentado no passado. Ex: formas pré-modernas de organização. Tradição é 
quase animalesca, não tem crítica. 
 - Dominação carismática: afetividade a admiração. Típica das 
sociedades pré-modernas, mas que voltou a tona no presente. Ex: Stálin, Mao, 
Hitler. 
OBS: Ato extraordinário: alguém que se destaca com grande 
capacidade retórica para impor dominação, aliado a um elemento afetivo e de 
dominação. 
- Dominação legal-racional: baseado em estatutos colocados 
legalmente no ordenamento, típica do Estado moderno, crença na legalidade 
como a própria legitimidade. 
 
 
 2. Legalidade como qualidade do exercício de poder e legitimidade 
como qualidade do título do poder (Bobbio, Lafer) 
 - Qualidade do exercício de poder é a legalidade. Legitimidade 
apenas para garantir o título deste poder. 
 
 3. Legitimidade como internalização das instituições (Parsons) 
 - Quando permitirmos que a ordem imposta se internalize em nossa 
esfera individual, ela tem legitimidade. Quando reagimos (não permitimos), 
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Turma 183 – Sala XI – 1º Semestre 25
sua ordem não é internalizada e ela não tem legitimidade – legitimidade psico-
social.Crítica de Luhmann: internaliza o quê? 
 
4. Legitimidade procedimental do poder na Teoria do Discurso 
(Habermas) 
- Discurso: interação comunicativa que não se propõe a trocar 
informações sobre algo, mas a fundamentar as pretensões de validade 
levantadas na ação comunicacional. 
- Ação ≠ Discurso. Na ação, tomamos a validade de forma ingênua. No 
discurso, acreditamos porque nos tentam convencer, temos mais consciência. 
- Discursos: 
• Ético-político: baseado nos valores comuns da sociedade 
• Moral: o que devido por todos e qualquer um 
• Pragmático: qual o melhor meio para alcançar o fim 
- Para o poder ser legitimo, sua esfera pública deve ser aceita por 
consenso através de discursos éticos, morais e pragmáticos. 
- O poder é legitimo quando consegue ou busca o consenso através dos 
três discursos citados acima 
- O legítimo é a orientação na busca discursiva do consenso. 
- Os discursos da ética e da moral estudam o fim. O pragmático discute 
o meio. 
- Depois de passar por todos esses discursos, ainda deve passar pelos 
filtros da política (compromisso entre os membros da comunidade) e do 
Direito. 
- Crítica de Marcelo Neves: o consenso em si não é a legitimação, mas 
a abertura do sistema a críticas na esfera pública e preparação para possíveis 
transformações. Além disso, não é um modelo aplicável nas atuais sociedades 
complexas. 
 
5. Legitimidade procedimental no sistema político democrático 
(Luhmann, Neves) 
- Há sempre uma incerteza inicial; não há como prever todas as 
decisões vinculantes, por mais lógicas que sejam tais previsões. 
Teoria Geral do Estado I – Prof. Associado Marcelo da Costa Pinto Neves 
Turma 183 – Sala XI – 1º Semestre 26
- Existe legitimidade quando a parte “derrotada” continua seguindo o 
procedimento – parte que perde cumpre e segue a decisão ainda que 
revoltada. 
- “Eu reconheço a legitimidade do juiz; como tudo foi feito de acordo 
com os procedimentos corretos, por isso eu cumprirei a sentença, ainda que 
me seja desfavorável”. 
- Marcelo Neves: o que caracteriza a legitimidade no Estado 
Democrático de Direito é o dissenso quanto ao conteúdo, junto com o 
consenso quanto ao procedimento. 
- Legitimidade é absorver dissensos. 
- O que não é legitimo é respeitar os procedimentos na esfera privada e 
não fazê-lo na prática. Também não é legitimo que o procedimento seja 
privatista (atende apenas aos interesses de um grupo). 
- O fundamental é a manutenção do consenso dissensuítico em função 
do consenso procedimental. 
- Num momento de crise, pode ser necessário romper a ordem 
normativa. 
- Para Luhmann: tudo é um grande sistema político-juridico. 
- Para Neves: nem tudo é sistema – esfera pública é um dissenso (ela 
tenta influenciar o sistema, mas não faz parte dele). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Teoria Geral do Estado I – Prof. Associado Marcelo da Costa Pinto Neves 
Turma 183 – Sala XI – 1º Semestre 27
Observações finais 
1 - Conceito de poder social apresenta-se como uma das formas de 
alteridade social: todo social tem alteridade, mesmo a moral. Para Habermas, 
moral é intersubjetiva, só tem efeito na frente do outro. 
2 - O poder político importa a capacidade de impor a decisão contra a 
própria resistência e relaciona-se com a tomada de decisão coletivamente 
vinculante: é uma decisão política, que por natureza busca decidir de forma 
coletivamente vinculante. 
3 - O poder do Estado é um tipo especial de poder político. 
4 - O poder político relaciona-se com o direito, mas não se confunde 
com as competências em sentido jurídico: uma coisa é o poder na 
factualidade, outra coisa são as competências no plano do dever-ser. 
5 - A legitimidade do poder político relaciona-se com o apoio 
generalizado e com a capacidade de reorientar as expectativas dos 
destinatários do poder: apoio generalizado – neutralização dos particulares. 
Não precisa do apoio deste ou daquele grupo para ser válido. Povo como fonte 
da legitimidade. 
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Turma 183 – Sala XI – 1º Semestre 28
 
Tópico VI: A personalidade jurídica do Estado. O Estado como sujeito 
de direitos e deveres. 
 
1. Teorias sobre a personalidade jurídica do Estado 
1. Teorias Negatórias 
 A unidade estatal é resultante da co-titularidade de direitos e de 
um regime de administração para interesses comuns (M. Berthélemy). 
“O Estado é simplesmente o indivíduo ou os indivíduos investidos, de 
fato, do poder; os governantes” (Léon Duguit). 
- Teorias que negam a personalidade jurídica em geral. Personalidade 
jurídica refere-se tanto a pessoas físicas quanto jurídicas. 
- Para Berthélemy, Estado seria como um condomínio. 
- Para Duguit, Estado são os governantes. Isto é errado, pelo o que se 
entende atualmente, pois o indivíduo não participa do Estado (sua “pessoa”), 
mas sim seu “papel social”. 
 
2. Teoria da ficção (Friedrich Von Savigny � Ducrocq, Bourcart, Orban) 
- Personalidade jurídica existe apenas para a pessoa física, pessoa 
jurídica seria apenas uma ficção, apesar de seu significado prático. 
- O ato, entretanto, vincula-se sempre à pessoa física. 
Problema: em relação à imputação, como saber quando é o indivíduo 
ou o órgão que agiu? 
 
3. Teoria da personalidade real anterior à personalidade jurídica: 
Direito apenas formaliza a realidade pré-existente da personalidade do Estado. 
3.1. Teoria do interesese (Rudolf Von Ihering � L. Michoud): 
- Personalidade é um conjunto de interesses. 
- Estado é uma unidade de interesses. 
3.2. Teoria da vontade (Gierke [Escola Orgânica] e Zitelmann): 
– Essa formalização se dá pela vontade dos “criadores” do Direito. 
 
4. O Estado como personificação da nação (Carré de Malberg) 
Teoria Geral do Estado I – Prof. Associado Marcelo da Costa Pinto Neves 
Turma 183 – Sala XI – 1º Semestre 29
- Estado é uma roupagem jurídica para os valores morais que formam 
a nação. 
- Realismo: pressupõe algo anterior a própria personificação jurídica. 
- Alguns autores juntam essa teoria à anterior 
- Nação como personalidade moral; Estado como personalidade 
jurídica. 
Problema: nação é uma “noção cultural”, falta conceituação. 
 
5. Teoria da imputação (Hans Kelsen) (parecida co a da ficção) 
- A rigor, conduta seria apenas a humana. Portanto, personalidade 
seria apenas a humana. 
- Atribui-se os atos das pessoas estatais, como “ação do Estado” 
(atribuição ao Estado). 
- Ajuda a compreender a ordem estatal como uma unidade. 
Problema: não se pode entender uma imputação advinda do Direito 
Internacional por essa teoria. 
 
6. Teorias que limitam a personalidade do Estado a algumas de suas 
manifestações 
- Tem personalidade em caráter patrimonial ou no Direito Internacional 
- Teoria ultrapassada 
 
2. A personalidade jurídica do Estado entre suporte fáctico social e 
imputação normativa 
1. Personalidade jurídica: necessidade de substrato biopsíquico ou 
social 
Personalidade física: ser humano como substrato 
Pessoa jurídica: organização como substrato 
 
2. O Estado como organização político-jurídica 
Organização porque possui membros e divisão do trabalho. Além disso, 
há hierarquia orgânica. 
 
Teoria Geral do Estado I – Prof. Associado Marcelo da Costa Pinto Neves 
Turma 183 – Sala XI – 1º Semestre 30
3. Personificação como fato jurídico e a personalidade como situação 
jurídica 
- Personalidade decorre de um fato (nascimento), qualificado como 
situação jurídica. 
- Situação jurídica implica em uma ampla gama de direitos (diferente 
de “relação jurídica”), 
 
A personificação (fatojurídico), através da imputação eficacial, torna-se 
personalidade (situação jurídica de sujeito de direitos e deveres). Esses três 
elementos são regulados por Normas Jurídicas (através do Estado como 
organização social). (VER ESQUEMA DO SLIDE) 
 
- Uma norma jurídica é que estabelece os pressupostos para o 
surgimento do Estado. 
- Normalmente, é uma norma do Direito Internacional Publico. 
- Reconhecimento de um Estado é difuso na ordem internacional. 
- Estado tem direitos e deveres porque se lhes imputa a eles. 
 
3. Unidade da personalidade do Estado e descentralização mediante 
pessoas jurídicas 
1. Personalidade de direito público e de direito privado: atos de império 
e atos de gestão 
- Atos de império: atos administrativos praticados pelo Poder Público, 
ordenando ou proibindo algo, usando sua autoridade. 
- Atos de gestão: atos do Pode Público sem usar os poderes de 
comando. 
- Há uma assimetria, no Direito Público, entre o Estado e o particular, 
pois ele impõe sanções pelos atos de império. 
- Contudo, o Estado pode atuar no Direito Privado, como particular, 
com atos de gestão. 
Problema: a personalidade é a mesma, não pode ser dividida apenas 
pelo campo em que age. 
- Não é adequada 
Teoria Geral do Estado I – Prof. Associado Marcelo da Costa Pinto Neves 
Turma 183 – Sala XI – 1º Semestre 31
 
2. Personalidade interna e internacional 
- Não é adequada 
2.1. Pluralistas: sustentam a dualidade por entenderem a absoluta 
independência entre a ordem estatal e a internacioanl. 
– São duas ordens sem relação de congruência. Divide a personalidade. 
- Num modelo mais avançado, torna-se insustentável. 
2.2. Monistas (moderados ou radicais): – Âmbitos de validades 
diferentes. 
- Conexão entre ambos os níveis/veem as ordens como um todo. Não 
há porque distinguir as pessoas do Estado. 
- Creem na ordem jurídica como um todo, em ambos os níveis. 
- Pode até haver conflitos entre as ordens, mas isso é algo político, 
juridicamente apenas se escolhe a norma prevalecente (solução de 
antinomias). 
 
***3. Unidade da personalidade e pluralidade de sua atuação como 
sujeito de direitos e deveres 
- Estado como unidade normativa. 
- Personalidade jurídica internacional está vinculada às normas 
internacionais. 
- Personalidade jurídica interna está vinculada às normas internas. 
- Contudo, a personalidade é a mesma. 
 
4. Descentralização territorial: Estados-Membros, Municípios, 
Territórios, Distrito Federal; Províncias, Departamentos, Regiões 
- Autonomia política e administrativa 
- Entre os tipos de autonomia, o Estado da Federação é o mais 
autônomo. 
- Ainda que externamente seja/pareça unitário, isso não impede que 
exista descentralização interna. 
 
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Turma 183 – Sala XI – 1º Semestre 32
5. Descentralização funcional (pessoas jurídicas criadas pelo Estado): 
Autarquias, sociedades de economia mista, empresas públicas, fundações 
governamentais 
- Relativo à Administração Pública 
- Órgãos do governo: delegação de funções. Facilita a atuação do 
Estado no meio público. 
- Também pode criar entidades no Direito Privado. Ex: empresas de 
economia mista. Facilita a atuação do Estado no meio privado. 
 
 
 
 
 
Observações finais 
1 - A personalidade jurídica do Estado não existe sem que surja uma 
organização territorial de poder com certas características específicas. 
2 - A personalidade do Estado depende de uma imputação normativo-
jurídica positiva. 
3 - A unidade da personalidade não exclui a pluralidade de posição de 
sujeito de direitos e deveres. 
4 - O Estado se descentraliza territorial ou não territorialmente 
mediante pessoas jurídicas. 
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Turma 183 – Sala XI – 1º Semestre 33
 
Tópico VII: A relação entre Estado e direito. A noção de Estado 
de Direito 
 
1. A relação entre Estado e direito no âmbito de Teoria Geral do Estado 
1. Conceito político realista: 
- Estado como realidade de poder ou dominação. 
- O direito como um fenômeno secundário (o fundamental é a relação 
fática de poder; o direito, por ser normativo, é secundário). 
 
2. Estado como ordem ou instituição jurídica, personificação de 
Ordenamento Jurídico 
- Kelsen: o Estado é a personificação da ordem jurídica. Estado = 
Direito. 
- Distinção deixa de ser prática, fica teórica. 
- Santi Romano: Estado como instituição jurídica 
- Ambos tem em comum a base: a estrutura que implica um conjunto 
de normas. 
 
3. Do modelo dualista para o conceito de síntese 
- Jellinek: uma coisa é o Estado como realidade social de poder (teoria 
social do Estado), outra é o Estado como ordem normativa (teoria jurídica do 
Estado). São entidades separadas. 
- Marcelo Neves: Estado é primariamente uma ordem normativa – 
elementos do poder político + sistema jurídico. Sistema jurídico é orientado 
para estabilizar expectativas normativas através de normas jurídicas. Conexão 
entre poder e direito na estrutura organizacional. 
- “Estado de Direito”: se nós partirmos da premissa de que todo Estado 
tem uma ordem normativa, a expressão é um pleonasmo, como afirma Kelsen. 
A expressão, no entanto, é utilizada para demonstrar um tipo especial 
de Estado surgido na Era Moderna. 
 
2. Características do Estado de Direito 
Teoria Geral do Estado I – Prof. Associado Marcelo da Costa Pinto Neves 
Turma 183 – Sala XI – 1º Semestre 34
1. Diferenciação funcional entre direito e política 
- Quando o Direito é um fenômeno derivado do poder (ex: sociedades 
primitivas ou regimes totalitários), não há esse tipo de Estado 
- Tal diferenciação não significa que estejam separados – há 
interpenetrações. 
- No Estado de Direito, uma norma jurídica não é fundamentada 
imediatamente no poder, mas estão relacionados. 
- Nas sociedades primitivas e regimes totalitários, quem tem mais 
poder, tem mais direito. No Estado de Direito não é assim. 
- Pode ocorrer de o Estado de Direito não se concretizar, ficando 
apenas no texto constitucional. Ex: Poder Invisível (Bobbio), corrupção 
sistêmica. 
- Estado de Direito = autonomia do sistema jurídico 
- Democracia = autonomia do sistema político. 
 Autopoiese: não-intereferência de outros subsistemas sociais (ex: 
Igreja, moral, etc). 
OBS: O Estado moderno está em crise, cuja principal causa é a 
tentativa de fazer com que a lei ascenda à posição de fonte primordial do 
Direito o Estado consiga deter o monopólio da produção de normas jurídicas. 
Todavia, a lei não mais consegue ser a única fonte do Direito e sofre 
interferência de ouros centros produtores. Para explicar tal problema, 
Luhmann, em seu livro Teoria dos Sistemas, apóia-se nos conceitos de 
alopoiese e autopoiese. Um sistema alopoiético é aquele submisso a 
interferências externas, de “subsistemas”, enquanto um sistema autopoiético é 
imune à interferência de qualquer outro sistema, ou seja, é auto-referente. 
 
2. A relevância do direito: código lícito/ilícito como segundo código do 
poder. 
-Código primário é o poder/oposição (poder/não-poder) 
-Secundariamente, o governo subordina-se lícita/ilicitamente ao direito. 
-No autoritarismo, por exemplo, não há como atribuir-se licitude ou 
ilicitude, pois há completa ausência de controle jurídico. 
Teoria Geral do Estado I – Prof. Associado Marcelo da Costa Pinto Neves 
Turma 183 – Sala XI – 1º Semestre 35
OBS: poder também está vinculado ao lícito;ilícito; Poder X não poder/ 
governo X oposição. 
 
3. Cisão da cúpula do poder: governo/oposição 
- Poder se separa emgoverno e oposição. Sem essa distinção, não há 
Estado de Direito. 
- Sem elas, o governo fica sem limitação. Oposição serve para limitar, 
controlar. 
 
4. Princípio da distribuição e princípio da organização 
- Princípio da Distribuição: no Estado de Direito, na relação entre 
Estado e cidadãos, estes, em principio, têm direitos ilimitados em face do 
Estado; só podem ser limitados se o individuo cometer algum abuso. 
- Princípio da Organização: é o controle inter-orgânico de poder; a 
separação de poderes. Sem esse controle inter-orgânico, não há garantia do 
cumprimento dos Direitos Fundamentais. 
- No Estado de Direito, o princípio da distribuição só tem viabilidade 
prática, se vinculado ao principio da organização. 
 
5. Princípio da legalidade e da constitucionalidade 
- “Atuar segunda a lei e a Constituição” vale tanto para os cidadãos, 
quanto para o Estado. 
- No Estado de Direito, há critérios legais e constitucionais que limitam 
o poder do governante e regulam a atividade dos cidadãos e funcionários. 
 
3. Juridificação e Estado de Direito 
- Juridificação mediante direito positivo, não natural. 
- Fundamental para o surgimento do Estado de Direito. 
- Habbermas: 4 níveis (“fornandas”) de juridificação: Estado burguês 
absoluto, Estado burguês de direito, Estado democrático de direito e Estado 
Social de direito. 
 
1. Estado burguês ou absoluto 
Teoria Geral do Estado I – Prof. Associado Marcelo da Costa Pinto Neves 
Turma 183 – Sala XI – 1º Semestre 36
- Não é o de Direito ainda, pois a juridificação se dá apenas nas 
relações privadas. 
- Direitos e deveres apenas entre súditos (direitos privados), não com o 
Estado. 
 
2. Estado burguês de direito: liberdade-autonomia 
- É o Estado Liberal de Direito. 
- É de Direito, mas apenas em relação a autonomia. 
- Liberdade e autonomia dos CIDADÃOS que têm direitos públicos 
perante o Estado (não há súditos, e sim cidadãos; há maior liberdade e 
autonomia). 
- Possuem direitos exercíveis contra o soberano (ex: ir e vir, habeas 
corpus). 
- Liberdade negativa: direitos civis (proteção da esfera individual). 
- A questão é problemática, pois o Estado atua também na proteção da 
liberdade (liberdade positiva). Se o Estado fosse só de abstenção (liberdade 
negativa), não haveria a complexa estrutura de segurança que ele projeta. Ex: 
polícia, tribunais. 
 
3. Estado democrático de direito: liberdade-participação 
- Não se trata de limitar os poderes do Estado (princípio da 
distribuição) ou exercer os direitos civis frente ao soberano, é participar dos 
procedimentos de legislação e tomada de decisões vinculantes 
- Tal participação pode ser: direta (exercida pelo próprio cidadão; p. 
ex. plebiscito e referendos) ou indireta (representação; a participação é na 
formação do órgão competente para legislar – é o paradigma atual, devido à 
complexidade dos Estados). 
 
4. Estado democrático e social de direito: direito de prestação; droits-
créances 
- droits-créances (do francês: droits = direito, créances = crédito; 
portanto, é o direito de obter reembolso). 
Teoria Geral do Estado I – Prof. Associado Marcelo da Costa Pinto Neves 
Turma 183 – Sala XI – 1º Semestre 37
- Incorpora outros elementos ao conteúdo do Estado Democrático de 
Direito. 
- Direito de prestação: cidadão tem direito a uma ação (prestação 
positiva) do Estado para satisfazer suas necessidades ou direitos. Ex: 
educação, saúde, previdência social. 
- Direitos sociais são condições para o pleno exercício dos direitos civis. 
Hoje são lugares-comuns, mas muitos deles ainda não foram concretizados. 
- Marshall: introduzir medidas no capitalismo para harmonizá-lo com a 
noção de cidadania. 
 
5. Tendências desjuridificantes 
- O paradoxo da desjuridificação 
- Tendência à redução da participação do direito no Estado e da 
redução da participação juridificante do Estado em outros setores sociais (ex: 
economia). 
 - Paradoxo da desjuridificação: apenas aparentemente se reduz essa 
participação. Por um lado, a “privatização do Estado” reduz sua participação 
direta, mas cria-se também um complexo aparato de códigos de regulação. Ao 
liberar um campo, torna-se necessário maior controle estatal (com novos 
custos e estrutura) para fiscalizar os particulares. 
 
6. Limites do modelo linear de evolução 
- A maioria dessas teorias é eurocêntrica, nem sempre funcionam para 
países periféricos. 
- Mesmo nos países centrais, essa evolução não foi linear. 
6.1. Experiências totalitárias do Século XX 
- Desdiferenciação entre direito e política. Confusão entre poder e 
oposição. 
 
6.2. Fortificação do fundamentalismo 
- Implica uma negação das possibilidades do Estado de Direito (modelo 
de retrocesso às formas pré-modernas de dominação – religião e moral � 
alopoiese). 
Teoria Geral do Estado I – Prof. Associado Marcelo da Costa Pinto Neves 
Turma 183 – Sala XI – 1º Semestre 38
 
6.3. Corrupção sistêmica do Direito no Estado Periférico 
- Postura que atinge a própria elaboração de normas fundamentais. 
- Às vezes, o texto é bem aperfeiçoado e democrático, mas, na prática, 
o Direito é corrompido por pressões políticas e econômicas, a ponto de impedir 
sua concretização. Estado de Direito torna-se um Estado de Direito de 
Fachada. 
- Direito não tem consistência, se dilui no social e perde a capacidade 
de responder à demanda. 
 
4. Crise do Estado de Direito 
1. Aumento das tarefas e incapacidade regulatória 
- Paradoxo: existe cada vez mais Estado, mas ele fica cada vez menos 
eficiente. 
2. Limites da efetivação do direito 
- Limitações não-estruturais; não é bem consertar o modelo, mas 
adaptá-la às novas circunstâncias. Ex: ordem internacional desenvolvida 
demais, poder invisível (Bobbio), corrupção sistêmica, direito alternativo 
(Adeodato). 
3. Limites da soberania: internacionalismo, supranacionalismo, 
transnacionalismo, localismo. 
- Internacionalismo – limitação das ações de um Estado por uma ordem 
superior (ordem internacional). Evita abusos de poder de fato por parte de um 
país. 
- Supranacionalismo: surgimento de uma ordem vinculante acima do 
Estado. Ex: União Europeia. 
- Transnacionalismo: às vezes, figuram na ordem internacional 
entidades privadas, não públicas. Ordens que não são de Estados. Ex: Tribunal 
Arbitral de Esportes, Lex Mercatoria. 
- Localismo: aceitação de ordens políticas e/ou antropológicas locais. 
Ex: indígenas e separatistas. Localismo é aceitável, pois Estado de Direito 
pressupõe uma pluralidade de aspectos internos. 
 
Teoria Geral do Estado I – Prof. Associado Marcelo da Costa Pinto Neves 
Turma 183 – Sala XI – 1º Semestre 39
- Glocalização: neologismo, fusão de “globalização” com “localização”. 
Estado fica comprimido entre o internacionalismo (pressão internacional) e o 
localismo (pressão das minorias). Dificulta a atuação dos Estados, mesmo dos 
mais “avançados”. 
Observações finais 
1 - Todo Estado tem um direito: mesmo aqueles que não são Estados 
de Direito possuem ordenamentos jurídicos próprios. 
2 - Nem todo Estado é um Estado de Direito. 
3 - A realização do Estado de Direito é ocorreu em um grupo limitado 
de Estado. 
4 - O Estado de Direito é apenas uma das expressões do modelo de 
rule of law (rule of law: governo do Direito, em oposição ao governo dos 
homens; mesmo o soberano pode ser punido, pois ele também está 
subordinado ao Direito). 
 
 
 
 
 
Sala XI – Turma 183 
1º Semestre 2010 
 
 
Anotações 
Ana Luiza Tesser Arguello 
Antonio Alberto Rondina Cury 
 
Digitação 
André Yukio Iochida Lacerda 
 
Revisão 
Ariel Engel Pesso

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