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Ficha Técnica: Título: comunicação Visual, Design e Publicidade autor: Francisco Mesquita Revisão de texto: Fernando hilário e GMorais Consultor científico: Daniel Brandão composição do miolo e conceção de capa: Joana Matos Edição e copyright: adverte ISBN: 978-989-729-135-7 [...] TUDO O QUE OS NOSSOS OLHOS VÊEM É “COMUNICAÇÃO VISUAL”; UMA NUVEM, UMA FLOR, UM DESE- NHO TÉCNICO, UM SAPATO, UM PANFLETO, UMA LIBÉLULA, UM TELEGRAMA, UMA BANDEIRA. Bruno Munari Prefácio Vive-se em um mundo surpreendentemente visual. Pode-se até dizer que a civilização, há longuíssimo tempo, vem se estruturando sobre códigos, formas, conteúdos que se expressam e se identificam visualmente o tempo todo. Pois tudo nela tem, ainda que abstratamente, uma representação visual. A começar da origem religiosa hebraico-cristã, na qual se assenta a ideia de que o criador concebera o ser humano a sua imagem e semelhança. Na antiguidade clássica, por sua vez, as divindades foram construídas à imagem do próprio ser humano. Os índios americanos, que viviam de observar a natureza, nominavam os recém nascidos a partir do que avistavam imediatamente após o nascimento das crianças. Modos de crer no Oriente, que dispõem de deuses também projetados em figuras, quando não representam pessoas, distribuem a forma de pessoas sobre animais, criando seres híbridos que sempre remetem ao desenho da forma humana. Já se cogitou a capacidade telepática que, no passado, os indivíduos teriam para se comunicar. Como também já se pensou, falou e escreveu à exaustão sobre essa condição que se tem de verbalizar. Contudo, importa mesmo é entender que tudo na cultura dispõe de um descritivo visual. Não interessa se o conhecimento se agrega em acervos densos de ideias escritas, pois tudo que se escreve acaba se convertendo em imagens. Como também não interessa a condição de enxergar, propriamente dita, porque há uma condição natural para se formular visualmente tudo do que se intui abstratamente. Ou seja, quem enxerga e quem não enxerga sempre formula figuras mentais daquilo que percebe, intui ou deseja expressar. Estas observações que precedem o que se possa dizer da presente obra destinam-se, sobretudo, a configurar a importância do trabalho de Francisco Mesquita, em comunicação visual, design e publicidade – da teoria à prática. na contemporaneidade, quando se assume a comunicação visual em ampla dimensão, não se pode olvidar, ou mesmo subestimar, a função visual da comunicação. Função esta indispensável e essencial ao processo de transmissão dos conteúdos e formas que emanam de qualquer ato comunicativo. Conhecer tal processo, saber como explora-lo em sua mais efetiva aplicação, é requisito profissional ao êxito de tudo que se cria e se expressa. Eis a razão deste livro, que compreende uma notável estrutura pedagógica, voltada à formação de quem se dedica, ou pretende se dedicar a uma das mais complexas especialidades da área: a comunicação visual. Aborda não apenas conceitos, mas toda uma muito bem ordenada descrição dos elementos que compõem o design. Discute os princípios básicos da comunicação visual, como os modos (dos mais comuns aos mais complexos) mediante os quais esse gênero comunicativo é formulado. Discute o design a partir de metodologias e projetos, além de propor uma utilização fundamentada, para utilização em publicidade e propaganda. Por último, oferece um bem engendrado capítulo sobre produção gráfica, a propósito do qual se poderia dizer tratar-se de um excelente manual de utilidade nesse terreno. Francisco Mesquita, o autor, é professor e pesquisador, tendo atuado profissionalmente em incontáveis projetos bem sucedidos, sabe muito bem do que está falando. Victor aquino Universidade de São Paulo Brasil 2. 3. 4. 5. 6. 1. 1. ELEMENTOS BÁSICOS DA COMUNICAÇÃO VISUAL 13 1.1 Mensagem Visual 14 1.2 Elementos Básicos da Comunicação Visual 16 1.2.1 O Plano 16 1.2.2 O Ponto 16 1.2.3 A Linha 19 1.2.4 A Cor 21 1.2.4.1 Código Hsb, Cmyk E Rgb 24 1.2.4.2 Simbologia das Cores 27 1.2.5 O Volume 27 1.2.6 A Forma e Representações 28 1.2.7 A Textura 30 2. OS PRINCÍPIOS BÁSICOS DA COMUNICAÇÃO VISUAL 33 2.1 Aproximação à Semiótica 34 2.2 Gestalt 35 2.3 O Ritmo 38 2.4 O Equilíbrio 39 2.5 O Contraste 40 2.6 A Hierarquia Visual 40 2.7 As Grelhas 43 2.8 O Design Modular 44 2.9 A Regra dos Terços 46 3. EXPRESSÕES DA COMUNICAÇÃO VISUAL 49 3.1 A Fotografia 50 3.1.1 Disposições Mais Comuns 51 3.1.2 Resolução da Imagem 54 3.1.3 Diretrizes Sobre a Fotografia na Imprensa 55 3.2 Banco de Imagens On-Line 56 3.2.1 Direitos de Imagem 57 3.3 Imagem Vetorial vs Imagem Bitmap 58 3.4 A Tipografia 60 3.4.1 A Tipografia Na Era Digital 62 3.4.2 Anatomia Da Letra 63 3.4.3 Kerning, Tracking E Leading 64 3.4.4 Tamanhos e Disposições 64 3.5 A Criatividade 67 3.5.1 Cérebro: Hemisfério Direito e Hemisfério Esquerdo 68 3.5.2 Criatividade e Pensamento 69 3.5.3 O Ser Criativo 70 3.5.4 Criatividade em Grupo 71 3.5.5 Técnicas de Criatividade 72 4. DESIGN, METODOLOGIA E PROJETO 79 4.1 Nota Prévia 80 4.2 Uma Aproximação ao Design 81 4.3 Dados para uma Definição de Design 83 4.4 Metodologia Projetual 84 4.4.1 Do Problema à Solução 86 4.4.1.1 O Problema 88 4.4.1.2 Identificação 88 4.4.1.3 A Ideia 89 4.4.1.4. Componentes Do Problema 90 4.4.1.5 Recolha de Dados 90 4.4.1.6 Análise e Síntese 91 4.4.1.7 A Mensagem 91 4.4.1.8 Ferramentas de Trabalho 91 4.4.1.9 Design Gráfico 92 4.4.1.10 O Protótipo 92 4.4.3.11 Verificação 92 4.4.1.12 Solução 93 4.5 Tipologias de Projetos 93 4.5.1 Logótipo e Imagótipo 93 4.5.1.1 Casos Famosos 94 4.5.1.2 Metodologia Simplificada de Desenvolvimento Gráfico 95 4.5.1.3 O Manual de Identidade Visual 96 4.5.2 A Infografia 99 4.5.2.1 Uma Definição 99 4.5.2.2 As Unidades da Infografia 103 4.5.2.3 Tipos de Infografias 107 4.5.2.4 A Construção da Infografia 109 4.5.2.4.1 Dicas para o Design da Infografia 110 4.5.2.5 Campos de Atuação da Infografia 111 4.5.3 O Cartaz 112 4.5.3.1 O Desenho De Cartaz 113 4.5.3.2 Técnicas Visuais Aplicadas ao Cartaz 115 5. A COMUNICAÇÃO PUBLICITÁRIA 119 5.1 O Conceito de Publicidade 120 5.2 Uma Nota Sobre Propaganda 121 5.3 A Agência de Publicidade 123 5.3.1 Estrutura e Funções 123 5.3.2 Um Novo Conceito 126 5.4 Identidade Verbal 127 5.4.1 Dicas para um Bom Nome 127 5.4.2 O Slogan 128 5.4.3 Casos Famosos 129 5.5 A Campanha De Publicidade 130 5.5.1 O Briefing 130 5.5.2 A Estratégia Base 130 5.3.3 Objetivos de Marketing vs Publicidade 132 5.5.4 Do Mercado ao Mercado 133 5.5.4.1 O Homem De Estudos 134 5.5.4.2 A Estratégia Publicitária 134 5.5.4.3 O Eixo 136 5.5.4.4 O Conceito de Comunicação 137 5.5.4.5 O Manifesto Base 137 5.5.4.6 Criativo 137 5.5.4.7 Mercado 138 5.5.5 Quatro Perguntas-Chave 138 5.5.6 Os Meios Convencionais e Alternativos 140 5.5.7 Meios Alternativos de Grande Impacto 143 5.5.8 Dez Erros a Evitar Numa Campanha de Publicidade 144 5.5.8.1 Outros Erros a Evitar 147 6. A PRODUÇÃO GRÁFICA 149 6.1 Nota Prévia 150 6.2 Pré-Impressão 150 6.3 Processos de Impressão 152 6.4 Materiais de Impressão 154 6.5 Acabamentos 156 Índice Índice de Figuras Figura 1 - Elementos da comunicação visual 15 Figura 2 - Princípios da comunicação visual 15 Figura 3 - Plano físico e plano digital 16 Figura 4 - Variedade do ponto 18 Figura 5 - O ponto no espaço 18 Figura 6 - O ponto na fotografia 18 Figura 7 - O ponto: irradiação, alternânicia e repetição 19 Figura 8 - A linha: formas básicas 19 Figura 9 - A cadeira de de Gerrit Rietveld 20 Figura 10 - A linha horizontal, vertical e oblíqua 20 Figura 11 - O peso visual 22 Figura 12 - Fundo e superfície 22 Figura 13 - Cor e perceção 23 Figura 14 - Brilho e unidade gráfica 23 Figura 15 - Escala de cinza 23 Figura 16 - Cores RGB e CMYK 24 Figura 17 - O volume 27 Figura 18 - Imagem “realismo” 28 Figura 19 - Imagem “distorção” 28 Figura20 - Imagem “abstração” 29 Figura 21 - Imagem “estilização” 29 Figura 22 - Imagem “sem objetividade” 29 Figura 23 - Texturas 31 Figura 24 - Signo icónico 34 Figura 25 - Signo indicial (pegada de cão) 34 Figura 26 - Signo simbólico 34 Figura 27 - Significante e significado 34 Figura 28 - Paisagem do Douro, Ferradosa, São João da Pesqueira 35 Figura 29 - Lei do Fechamento 36 Figura 30 - Lei do Fechamento (marcas visuais) 36 Figura 31 - Lei da Continuidade 36 Figura 32 - Lei da Continuidade (Eight) 36 Figura 33 - Lei da Proximidade 36 Figura 34 - Lei da continuidade (Unilever) 37 Figura 35 - Lei da Similaridade ou Semelhança 37 Figura 36 - Lei da Similaridade ou Semelhança (Seed media) 37 Figura 37 - Logótipo “Jogos Olímpicos” 37 Figura 38 - Figura fundo 37 Figura 39 - Forma e fundo 38 Figura 40 - Forma e fundo (Toblerone) 38 Figura 41 - Forma e fundo (Hope for African Children Iniciative) 38 Figura 42 - O ritmo visual 38 Figura 43 - O ritmo na arquitetura 39 Figura 44 - Equilíbrio: composições 39 Figura 46 - Hierarquia com a tipografia 40 Figura 45 - Contraste: composições 40 Figura 47 - Jornal de Notícias (JN) 41 Figura 48 - Grelha 42 Figura 49 - Layout 44 Figura 50 - Centro geométrico e centro ótico 45 Figura 51 - Regra dos terços 46 Figura 52 - O centro geométrico e centro ótico na publicidade 47 Figura 53 - A câmara escura 51 Figura 54 - Datas importantes da fotografia 52 Figura 56 - Fotografia vertical 53 Figura 57 - Fotografia quadrada 53 Figura 55 - Fotografia horizontal 53 Figura 58 - Tamanho e resolução da imagem 54 Figura 59 - Uma Polegada 54 Figura 60 - Resolução da imagem e diferente tamanho 54 Figura 61 - Foto de Vale de Vila, com diferente resolução 55 Figura 62 - Imagem com várias resoluções 55 Figura 63 - Imagem vetorial 59 Figura 64 -Imagem bitmap 59 Figura 65 - Alfabeto moderno 61 Figura 66 - Jornal Expresso 62 Figura 67 - Jornal El País 62 Figura 68 - Fonte EDP 62 Figura 69 - Anatomia da letra 63 Figura 70 - Tipografia com e sem serifa 63 Figura 71 - Kerning, Tracking e Leading 64 Figura 73 - Estilo da tipografia 65 Figura 75 - Fontes com igual tamanho 65 Figura 74 - Contraste na tipografia 65 Figura 72 - Fonte cursiva 65 Figura 76 - Helvética em vários tamanhos 66 Figura 78 - “Rios” num parágrafo 66 Figura 77 - Alinhamentos do texto 66 Figura 79 - “Viúvas“ e “Órfãs” no parágrafo 67 Figura 80 -Translineação 67 Figura 81 - Fases do brainstorming, Baseado em Ricarte (1998: 182) 72 Figura 82 - Mapa mental de manual, por Tschimmel (2011) 75 Figura 83 - KISS / Less is More 81 Figura 84 - Metodologia de Bruno Munari 85 Figura 85 - Metodologia de Norberto Chaves 85 Figura 86 - Metodologia de Maurício Vianna et. al. 86 Figura 87 - Metodologia “do problema à solução” 87 Figura 88 - Logótipos 94 Figura 89 - Identidade visual adaptada a determinado público 94 Figura 90 - Imagótipos 94 Figura 91 - Marcas famosas 94 Figura 92 - Logótipo da Fedex 95 Figura 93 - Imagótipo do Carrefour 95 Figura 94 - Esboços da marca Daily Papers 95 Figura 95 - Metodologia para desenhar marca visual 97 Figura 96 - Manual de identidade visual simplificado 98 Figura 97 - O regresso do elétrico à Baixa, Infografia da IMAISG 101 Figura 98 - O regresso do elétrico à Baixa 101 Figura 99 - Diagrama retilíneo 104 Figura 100 - Organigrama 104 Figura 101 - Infogramas 105 Figura 102 - Mapa 106 Figura 103 - Cartoon, por Luís Afonso 106 Figura 104 - Infografia comparativa 108 Figura 105 - Infografia documental 108 Figura 106 - Infografia cénica 108 Figura 107 - Marcos importantes da história do cartaz 113 Figura 108 - Técnicas visuais do cartaz, adaptado de Dondis (2000) 117 Figura 109 - Atributos para um bom nome 127 Figura 110 - Funções básicas do slogan 128 Figura 111 - O Z criativo, adaptado de Joannis (1990) 135 Figura 112 - Quatro perguntas-chave 139 Figura 113 - Circuito convencional vs circuito digital 151 Figura 114 - Margem de segurança para corte (bleed) 152 Figura 115 - Plano de impressão frente para 16 páginas 155 Figura 116 - Categorias e características do papel 156 Figura 117 - Vincos e dobras mais comuns 157 Índice de Tabelas Tabela 1 26 Tabela 2 68 Tabela 3 69 Tabela 4 69 Tabela 5 70 Tabela 6 71 Tabela 8 124 Tabela 9 131 Tabela 10 152 Tabela 11 153 Breve nota à presente edição Passados que estão quatro anos após a primeira edição, publica-se agora a segunda edição de “Comunicação Visual, Design e Publicidade“, com conteúdo (texto e imagem) revisto e melhorado. como se dizia na primeira edição, este livro resultou da atividade profissional do autor, enquanto docente uni- versitário, publicitário e designer. Nesta medida, a obra concilia as exigência da docência e práticas de mercado, no que respeita a algumas metodologias de trabalho. Tenta-se, assim, fornecer ao leitor, essencialmente alunos de comunicação gráfica / visual, um manual que conclie a teoria com a prática. não houve a pretensão de fazer uma abordagem apro- fundada aos temas propostos. Tal não seria possível, dado o leque variado das matérias tratadas. Tentou-se sim fornecer um conhecimento e pistas orientadoras sobre questões relacionadas com o visual. Assim, começamos com a exposição do “alfabeto visual”, evo- luindo depois para a construção da própria comunica- ção visual, nas suas múltiplas expressões, o que ocupa os primeiros quatro capítulos. No capítulo seguinte, mantendo-nos no mesmo uni- verso, direcionamo-nos para a publicidade, indicando metodologias de desenvolvimento, para depois, no sexto capítulo, fazermos uma breve reflexão sobre as problemáticas da produção gráfica. A todos quantos pretendam aprofundar as matérias abordadas, é apresentada uma bibliografia no final do livro que reúne obra importantes dos temas tratados. 10 11Elementos Básicos da Comunicação Visual 1. ELEMENTOS BÁSICOS DA COMUNICAÇÃO VISUAL A expressão visual são muitas coisas, em muitas circunstâncias e para muitas pessoas. É o produto de uma inteligência humana altamente completa que desgraçadamente conhecemos muito mal. D. A. Dondis 12 1.1 MENSAGEM VISUAL a imagem “constitui um dos fenómenos mais importantes, uma das realidades mais vivas, mais apaixonadas do meio ambiente do Homem civilizado” (Casasús, 1979: 25). Para encontrarmos as suas raízes, teremos de recuar aos tempos ancestrais dos nossos antepassados, que deixaram nas grutas de Altamira e Lascaux dois exemplos dessa marca indelével do início da cultura dos “sinais”. No segundo quartel do século XlX, surge oficialmente a fotografia, forma mecânica de obtenção de imagens. Esta invenção contribuiu decididamente para a construção da civilização da imagem na qual vivemos e que, pelos sinais que nos chegam, vai perdurar no futuro. O desenvolvimento tecnológico, que a Revolução industrial protagonizou, permitiu o nascimento de outas formas de obtenção de imagem, nomeadamente imagens em movimento. Mais recentemente, com a tecnologia digital, foram desenvolvidas e disponibilizadas ferramentas que popularizam a imagem. Em termos semânticos, algumas línguas antigas, tais como o latim, utilizam a mesma palavra (imago) para significar imagem, sombra e alma, (Gubern, 1996: 9). Daqui se depreendem significações opostas do termo imagem, que marcaram a antiguidade, com posições antagónicas de Platão e aristóteles e que, curiosamente, se mantêm ainda atuais. Se cada um vê aquilo que sabe, como nos diz Munari (1995), significa que olhar e ver uma imagem, qualquer que ela seja, pode ser um processo para o qual transportamos tudo quanto somos, e, nesta perspetiva, cada imagem é também o resultado de nós próprios. As nossas ideias, vivências, memórias e anseios estão presentes nesse diálogo. Interagir com as imagens que vemos no nosso dia-a-dia “significa também alargar as possibilidadesde contacto com a realidade; significa ver mais e perceber mais” (Munari, 1995: 19-20). Este é, de facto, o poder da imagem: ver o mundo com os nossos próprios olhos e desse contacto visual resultar conhecimento e diferentes formas de ver. A comunicação visual, cuja base assenta justamente na imagem, é uma forma de expressão com o recurso a fotografias, signos, ícones, gráficos, infografias e outras representações. Com exceção da fotografia, como já referido, todos os outros têm a sua base no desenho, considerado a expressão visual de uma ideia, ideia esta 13Elementos Básicos da Comunicação Visual transmitida em forma de composição, através do tamanho, posição e direção (Wong, 1998: 3). Tal como acontece com o texto, que se rege por regras, também a comunicação visual tem uma gramática própria que define a organização do espaço gráfico. Essas regras incidem sobre os elementos da comunicação visual (Figura 1). De algum modo, estes elementos são comparáveis ao texto na comunicação verbal e às notas de música na comunicação musical. São a base, “o alfabeto”, as ferramentas para se criar. Porém, para produzirmos determinada obra, utilizando esse “alfabeto”, temos que lhe dar uma ordem inteligível, que faça sentido, tal como estas palavras que estamos a ler se fundamentam num pensamento e numa estrutura léxico-sintática corrente para os conhecedores da língua portuguesa. As regras que são aplicadas, quer na construção da obra musical, quer na obra literária, são equivalentes aos princípios que o designer tem para construir a sua obra visual. Em todos estes casos, o que determina o valor da obra são as escolhas feitas pelo “artista”. Muito embora existam regras para a organização de cada uma destas linguagens, essas regras não podem nem devem limitar a criatividade individual do poeta, do compositor ou do designer. Essas regras, que na comunicação gráfica podemos definir por princípios da comunicação visual (Figura 2) têm a função de nos orientar na elaboração de uma melhor comunicação visual. Ou, se quisermos, são regras de comunicação que permitem cumprir cabalmente o objetivo principal: uma descodificação da mensagem pelo recetor que vá de encontro ao que o emissor quis dizer. Uma analogia com a comunicação visual, que nos parece oportuno aqui podermos fazer, é a culinária. Não basta termos os ingredientes para cozinhar um bom prato. Existe todo um conhecimento e um ritual de preparação que um bom cozinheiro domina e que faz a diferença no resultado final, comparativamente com um simples curioso da cozinha. Por conseguinte, produzir uma boa comunicação visual exige, também, o conhecimento e o domínio das várias matérias que este livro trata. Esse know how não é suficiente, por si só, para criar uma grande obra, mas são as ferramentas e a base essencial para lá chegar. Figura 2 - Princípios da comunicação visual Figura 1 - Elementos da comunicação visual 14 1.2 ELEMENTOS BÁSICOS DA COMUNICAÇÃO VISUAL Os elementos da comunicação visual são as ferramentas utilizadas para a sua produção e os princípios constituem a forma como essas ferramentas devem ser usadas na organização do espaço gráfico. O seu conhecimento e domínio são determinantes na qualidade da obra final. Nas próximas páginas, fazemos uma exposição dessas matérias com algumas das considerações que nos pareçam mais oportunas no âmbito deste trabalho. 1.2.1 O PLANO O plano é o espaço confinado ao trabalho gráfico, constituído por duas linhas horizontais e duas linhas verticais, formando quatro lados. De alguma forma, podemos considerar o plano um organismo vivo, mas primitivo, que se transforma com a ação do artista que nele se exprime. O seu espaço divide-se em “cimo” e “baixo”. O primeiro espaço, o “cimo”, evoca flexibilidade, leveza e liberdade; enquanto que o “baixo” tem um sentido oposto, determinado pela densidade, peso e limitação (Kandinsky, 1996: 114-115). Dos atributos assinalados resultam diferentes tensões no plano, com cada um dos lados produzindo uma sonoridade própria, tensões estas que condicionam a intervenção do artista ou designer e, por consequência, a própria obra. Na Figura 3, apresentamos duas imagens com informação sobre os planos de papel mais comuns (plataformas físicas) e alguns planos para plataformas digitais (ecrãs). O plano físico tem como unidade de medida o milímetro, ou o centrímetro, e como referência o formato A4, do qual é possível definir todos os outros formatos. O plano para as plataformas digitais tem o pixel como unidade de medida e cujo nome deriva da palavra picture element, 1.2.2 O PONTO O ponto pode ser definido como sendo o elemento mínimo da comunicação visual, que marca presença em todos os objetos gráficos. É uma manifestação irredutível que parece simbolizar o princípio das “coisas” e que vai para além da componente gráfica. O ponto na folha de texto, o ponto no horizonte, o ponto no Figura 3 - Plano físico e plano digital 16 firmamento (as estrelas) são sinais de construção (Kandinsky, 1996). O ponto é resultante do “primeiro encontro do utensílio com a superfície material, com o plano original. Papel, madeira, tela, estuque, metal, etc., podem constituir essa superfície material” Kandinsky (1996: 38). Lápis, caneta, goiva, pincel, cinzel são alguns desses utensílios utilizados, sendo que cada um deles fecunda (utilizando uma expressão de Kandinsky) a superfície do material. Falamos do ponto analógico, o qual pode ter várias formas, tantas quantas os utensílios que se utilizarem e uma infinidade de tamanhos (Figura 4). Para além do ponto analógico, existe também o ponto digital, designado por pixel (picture element), e que é materializado através do computador. Em termos geométricos, o ponto é representado num modelo formado pelas coordenadas de um vetor plano X-Y, marcando uma posição no plano. A sua posição gera diferentes tensões, de acordo com o espaço em que se situa. Um ponto, no meio do plano, transmite calma (Figura 5, em cima), mas o mesmo ponto deslocado para a direita (Figura 5, em baixo), já nos transmite uma sensação de desequilíbrio e assimetria. O ponto é um elemento de construção gráfica. A textura, por exemplo, é formada por uma concentração de pontos e linhas que se repetem, rodando, sobrepondo-se, engajando-se de forma a constituírem uma superfície com determinadas características. a fotografia analógica, cujo processo já referimos, é uma representação visual formada por pontos. A maior ou menor concentração de pontos no espaço, define as propriedades da imagem respetiva, em termos de claro, escuro e sombras (Figura 6). Na pintura, o pontilhismo, corrente estética dos finais do século XlX, que teve com Georges Seurat (1859 - 1891) a sua expressão máxima, utilizava o ponto como o único elemento gráfico na construção da obra plástica. na Figura 7, apresentam-se três composições gráficas, nas quais o ponto participa, estabelecendo relações de simetria na irradiação (à esquerda), alternância (ao centro) e repetição (à direita). Na primeira imagem, o tamanho crescente do ponto, do centro para a periferia, cria a ilusão ótica de um espaço circular que se propaga para o infinito, bem como um movimento de rotação de cada um Figura 6 - O ponto e fotografia Figura 5 - O ponto e espaço Figura 4 - Variedade do ponto 17Elementos Básicos da Comunicação Visual dos eixos. Na imagem ao centro, a composição apresenta dois tamanhos diferentes de pontos. As duas linhas formadas por cada um desses pontos, uma linha fina outra mais espessa, criam uma alternância entre elas e um ritmo variável. Na imagem à direita, os pontos, todos do mesmo tamanho, formam uma imagem plana, sem que exista qualquer diferenciação visual. Por outro lado, as linhas horizontais e verticais que se formam, conferem um ritmo constante à composição. 1.2.3 A LINHA a linha é um ponto em deslocação no espaço, “é o rasto do ponto em movimento,portanto, é o seu produto”, tal como a definiu Kandinsky (1996: 61). É, neste sentido, uma infinidade de pontos, resultando da conexão entre dois pontos separados entre si. A linha pode ter múltiplas formas, Figura 8, sendo que as duas mais básicas são a linha reta e a linha curva. Vários movimentos estético-culturais se expressaram por uma ou outra tipologia de linha. Se pensarmos na linha curva, vem-nos à memória a Arte Nova, um importante movimento surgido no final do século XlX, por muitos considerado um estilo total, na medida em que abraçou várias áreas, tais como o design, arquitetura e artes decorativas, joalharia, mobiliário, têxtil, entre outras. Os artistas da Arte Nova conseguiram uma expressividade de contornos fluidos e orgânicos que conferiu às suas obras um enorme poder de sedução. A natureza e o corpo da mulher foram a fonte de inspiração dessa estética. Alphonso Mucha foi por muitos considerado o grande cartoonista do movimento. O trabalho que realizou para a peça de teatro Gismonda, em 1894, em Paris, marcou um estilo inconfundível. a linha curva marcou indelevelmente toda a expressão Figura 7 - O ponto: irradiação, alternânicia e repetição Figura 8 - A linha: formas básicas 18 artística do Homem até aos inícios do século XX, caraterizada, fundamentalmente, pela manualidade do gesto. no sentido oposto, a linha reta parece estar associada a uma postura mecânica. De alguma maneira, a linha reta é uma invenção do Homem “novo” que surgiu com a Revolução Industrial. Vários movimentos enquadrados no modernismo, surgido nos primeiros anos do século XX, expressaram-se tendo a linha reta como base. O movimento De Stjl, por exemplo, fundado em 1917, é um exemplo, cuja obra foi muito marcada pelo trabalho de Piet Mondrian, um dos seus membros mais influentes. A redução da forma ao essencial, simplificando a composição, através de planos horizontais e verticais, e a utilização de cores primárias marcaram a estética deste estilo. A partir do século XX, a linha curva deixa de ser tão preponderante. a introdução da máquina no processo produtivo, levou a que a forma sofresse alterações profundas. A linha reta e respetivos contornos eram de fácil “materialização” pela máquina, em detrimento dos ondulatórios, em que não era tão eficaz e/ou mais demorada a concretização da obra. A “cadeira vermelha e azul” (Figura 9), criada por Gerrit Rietveld, arquiteto e figura destacada do movimento Stjl, assinala bem esta questão. Em termos de características mais determinantes, a linha tem o poder de criar superfícies e volumes. Neste atributo reside a sua força e utilização nas artes visuais. Por outro lado, a linha indica uma direção na composição gráfica e uma forma de transmitir um olhar do mundo. a linha vertical sugere-nos estabilidade e equilíbrio resultantes da Figura 9 - A cadeira de Gerrit Rietveld Figura 10 - A linha horizontal, vertical e oblíqua Linha horizontal Linha vertical Linha Oblíqua 19Elementos Básicos da Comunicação Visual nossa postura corporal, quando estamos de pé. Na linha horizontal, porém, mais facilmente revemos uma situação de calma, sossego e uma postura estática, decorrente da posição que mantemos quando dormimos. Já na linha diagonal, denotamos ação e tensão. Quando corremos ou participamos em atividades físicas, o nosso corpo tende a expressar essa postura (Figura 10). a linha reta, vertical ou horizontal, produz uma impressão de tranquilidade, de solidez, de serenidade; a linha curva, uma impressão de instabilidade, de doçura, de graciosidade, de alegria. A linha fina produz uma impressão de delicadeza; a linha grossa, uma impressão de energia; a linha carregada, uma impressão de resolução, de violência. a linha comprida dá um sentimento de vivacidade; a linha curta, um sentimento de firmeza. A linha vertical atrai o olhar para o alto, Hass (s/d: 111). a linha pode ser indisciplinada, quando fazemos um esboço; pode ser vacilante, indecisa e interrogante, quando expressamos graficamente uma ideia não bem solidificada; pode expressar a intenção inconsciente do “artista”, seus sentimentos e emoções, tornando-se tão pessoal como um manuscrito; tal como pode ser objetiva e rigorosa no desenho de um cartaz (Dondis, 2000: 58). Certo é que a linha tem uma postura vinculativa que interpela o olhar e, juntamente com o ponto, é a base da comunicação visual. 1.2.4 A COR Os três primeiros pioneiros no estudo da teoria da cor foram Newton, Goethe e Schopenhauer. Newton descreveu as cores como produto das propriedades dos raios que compõem as fontes luminosas; Goethe proclamou a contribuição dos meios e as superfícies de materiais para descobrir a luz no seu caminho, a partir da sua nascente até aos olhos do observador; Schopenhauer intui, numa teoria caprichosa mas curiosamente profética, a função das respostas retinianas dos olhos (Arnheim, 2000: 338). a cor é constituída por três parâmetros: matiz, saturação e brilho. Em termos simples, a matiz significa a própria cor, abrangendo todas as cores do espetro: vermelho, azul, amarelo, etc. A saturação está relacionada com a pureza da cor, enquanto que o brilho define a intensidade luminosa da cor, ou seja, se a cor é mais ou menos clara (Wolf, 2014: 30). a cor impressiona, expressa e constrói. A cor é vista pela nossa Ponto - Calma. Linha - Tensão interior ativa, nascida do movimento. Os dois elementos [...] criaram a sua própria “linguagem” inacessível às palavras. Wassily Kandinsky 20 retina, prendendo o nosso olhar; sentimo-la, dado que ela provoca uma emoção; é construtiva, na medida em que veicula significados, tendo uma linguagem própria (Farina, 1975: 3). Para Kandinsky (1998: 60), “A cor é o toque, o olho, o martelo que faz vibrar a alma, o instrumento de mil cordas”. Tal como nos diz ainda Farina, “Nem a captação instantânea do objeto pode produzir o impacto emocional que nos é proporcionado pela cor” (ibidem). Por si só, a cor é uma linguagem com significados próprios e uma sintaxe autónoma de todos os restantes elementos gráficos. É um atributo com o qual nos relacionamos subjetivamente, mas é também uma manifestação cultural dos povos e um elemento estético de características poderosas que não nos deixam indiferentes. A cor faz parte do nosso dia-a-dia de múltiplas e variadas formas: informa, alerta, destaca, seduz, comunica e diferencia. É, pois, um referencial importante nas nossas vidas, dando-nos as mais variadas orientações no nosso quotidiano. a cor tem um papel muito relevante a muitos outros níveis, como é o caso do clima. No inverno, usamos normalmente cores escuras, enquanto que, no verão, utilizamos cores claras. A razão prende-se com o facto das cores escuras absorverem o calor, ao contrário do que se passa com as cores claras, que o irradiam. Existe um determinado peso visual, que pode variar face a determinadas circunstâncias. Na Figura 11, as mesmas três formas básicas são apresentadas duas vezes. Na imagem em baixo, existe um peso equivalente, distribuído por todos esses elementos, conferido pelo cinza. Tal já não acontece na imagem em cima, na qual o cinza do triângulo foi substituído pelo preto, conferindo ao lado direito do plano um maior peso visual. as cores claras estão mais próximas do branco, enquanto que as cores escuras se aproximam do preto. Porém, esta simplificação em muitos casos é redutora. Qualquer classificação ao nível da cor, precisa de ter como base uma situação comparativa. Como podemos verificar na Figura 12, o cinza do círculo da esquerda parece mais claro do que o cinza do círculo da direita. Porém, o valor do cinza é exatamente o mesmo. O que realmente muda é o fundo em ambas as situações. Os fundos escuros dão-nos a perceção de que as cores sobre eles colocados ficam mais claras, ao contrário do que se passa em fundos claros. Figura 11 - Peso visual Figura 12 - Fundo e superfície 21Elementos Básicos da Comunicação VisualPor conseguinte, muito embora cada uma das cores tenha propriedades específicas, inclusive simbólicas, o seu funcionamento depende muito do próprio ambiente cromático em que elas estão inseridas. Ou seja, a forma como percecionamos determinada cor, está intrinsecamente relacionada com as cores que lhe estão próximas. Pelo exemplo já apresentado, admitimos que os nossos olhos nos podem enganar. Abordámos já esta questão de forma breve, quando se coloca a mesma cor num fundo escuro e num fundo claro. Porém, há outros casos que fundamentam a variabilidade da cor na sua conjugação com diferentes cores e/ou valores. Na Figura 13, apresentamos um caso, desenvolvido pelo professor do MiT Edward H. Adelson, no qual se demonstra que em certos contextos o que vemos não corresponde à realidade. Podemos observar, na mesma figura, um tabuleiro dividido em ladrilhos, alternadamente a cinza escuro e claro, no qual é projetada a sombra de um cilindro. Vemos duas dessas casas assinaladas com “A” e “B”, de fundo cinza escuro e cinza claro, respetivamente. Quando fixamos a imagem, associamos o fundo da casa “A” com o cinzento mais escuro, enquanto que atribuímos à casa “B” o cinza mais claro. Na imagem em baixo, através da colocação de um escadote a cinza uniforme, verificamos que “A” e “B” têm exatamente o mesmo valor do cinza. O que realmente muda é o contexto no qual cada um dos ladrilhos está inserido. A partir deste exemplo elucidativo, pode concluir-se que a cor é fortemente condicionada pela sua ambiência e, desta forma, podemos percecionar determinado valor que não corresponde ao real. Figura 14 - Brilho e unidade gráfica Figura 13 - Cor e perceção Figura 15 - Escala de cinza Publicação autorizada pelo Prof. Edward H. Adelson. A A B B 22 Brilho O brilho é um atributo que descreve a luz e a escuridão. Associando uma simbologia ao branco e ao preto, dizendo-se que o primeiro é alegria e vida e o segundo tristeza e angústia, podemos inferir que o brilho se manifesta entre a luz e as trevas. Ou seja, o brilho percorre os caminhos intermédios que vão da claridade à escuridão. O brilho cria espaço e determina o peso dos elementos da composição, tal como pode criar unidade. Se repararmos na Figura 14, temos os mesmos elementos gráficos na composição em ambas as imagens, mas facilmente associamos à imagem da esquerda uma unidade gráfica que não encontramos na imagem da direita. Todas as cores podem ter uma infinidade de diferentes brilhos, cuja variação apenas está dependente da percentagem de branco (claridade) ou preto (escuridão) que lhes adicionarmos (Figura 15). Figura 16 - Cores RGB e CMYK 1.2.4.1 CÓDIGO HSB, CMYK E RGB Em termos de utilização da cor nas artes gráficas analógicas e digitais, existem três acrónimos importantes: HSB, CMYK e RGB. HSB define os três importantes parâmetros de cor Hue (matiz), Saturation (saturação) e brightness (brilho); CMYK significa Cyan (ciano), Magenta (magenta), Yelow (amarelo) e Black (preto); RGB indica Red (vermelho), Green (verde) e Blue (azul). Dos três acrónimos apresentados, fazemos de seguida uma breve análise dos códigos CMYK e RGB (Figura 16). as cores CMYK constituem as cores base para impressão (offset, por exemplo). Cada uma das cores representa uma chapa de impressão. Da sobreposição das cores resultam todas as outras cores. Para formarmos, por exemplo, o verde (ausente deste código) teremos de 23Elementos Básicos da Comunicação Visual sobrepor o ciano com o amarelo, tal como o laranja é formado pelo magenta e o amarelo. A letra K, atribuída ao preto no acrónimo CMYK – a cor chave do processo –, parece estar relacionada com a chave (key). Ou seja, ela constitui o fecho da impressão, ao eliminar falhas, e define detalhes da imagem (Gater, 2005: 31). Por conseguinte, com estas quatro cores (ciano, magenta, amarelo e preto) é impressa toda a comunicação gráfica que consumimos: jornais, revistas, livros, cartazes, catálogos, etc. Ambos os acrónimos representam cores primárias. Ou seja, cores que não resultam da soma de outras cores, tal como acontece com as cores secundárias. O código RGB representa as cores base para os sistemas eletrónicos, tais como: TV, computadores, câmaras digitais e todos os outros artefactos que têm como base a tecnologia digital e o ecrã como interface. O CMYK é uma síntese subtrativa, enquanto que o RGB é uma síntese aditiva. No caso CMYK, a mistura de todas as cores resulta teoricamente no preto, uma vez que na prática não se consegue o preto puro, mas sim uma cor próxima. No caso do RGB, da conjugação das três cores resulta o branco. O Adobe Kuler (https://kuler.adobe.com) permite criar e guardar esquemas de cor em conjuntos de cinco. Descarregando o Adobe Labs, os utilizadores da versão Kuler de ambiente de trabalho podem exportar esquemas de cor para o adobe Photoshop, adobe Illustrator e Adobe InDesign. O Kuler serve, também, para fazer exercícios de cor, nomeadamente importando-se imagens, cujas cores o programa identifica imediatamente, segundo as nossas preferências. Este software torna- se particularmente útil na determinação das cores complementares, que são cores opostas no círculo cromático, e, com frequência, são também opostas em termos de luz-sombra e quente-frio. código Pantone No que diz respeito ao Pantone, trata-se de um código que diferencia cada uma das cores existentes e lhes atribui uma denominação única, 24 Tabela 1 - O significado das cores Fonte: Adaptado de Pastoureau (1993) e Hass (s/d) Simbologia das Cores Vermelho O vermelho, cor quente, atua com vivacidade. É uma cor dinâmica, que não se contrai sobre si própria, mas antes avança para o espetador, corre, precipita-se sobre ele. O vermelho não aceita o domínio de nenhuma outra cor, reinando como senhor em qualquer composição gráfica. Amor, orgulho, desejo, agressividade, violência e poder. Cor de Laranja O cor de laranja é a mais quente das cores, possui uma espécie de poder hipnótico, parece penetrar em nós, enraizar-se dentro de nós. Glória, esplendor, vaidade e progresso. Verde O verde nasce da mistura de uma cor fria (azul) com uma cor quente (amarelo). A maior ou menor percentagem de cada uma destas cores atrai ou repele o espetador. Esperança, verde e ecologia. Azul O azul é a mais fria das cores, com uma fraca luminosidade, parecendo recuar no espaço. Acentua o dinamismo das cores quentes e, por esta razão, é muitas vezes utilizado como fundo. Suavidade, lealdade, fidelidade, sonho, virtude. Violeta Formado pela mistura do azul e vermelho, o violeta dá a sensação de tendência para um ponto de repouso, sobretudo quando tem muito vermelho. Insatisfação, oscilação, seriedade, melancolia, riqueza (associação a pompa, majestade, aparato), insuportável. Castanho Mistura do cor de laranja e cinzento ou preto. Revela um sentimento de materialidade, severidade, constrangimento, gravidade. Preto Qualquer cor colocada sobre um fundo preto ganha intensidade. O preto, colocado sobre fundos de cores vivas, espalha brilho, graças ao poder iluminante do fundo. Utilizado com o branco, dá uma sensação de solidez e solenidade. Morte, luto, terror, ignorância e solidão. Branco Qualquer outra cor perde tonalidade quando colocada num fundo branco. Colocado ao lado de outra cor, adquire a cor complementar (parece laranja ao lado do azul e esverdeado ao lado do vermelho. Pureza, perfeição, frio, inocência, castidade, modéstia, timidez, calma e paz). Cinzento O cinzento tem uma ação compensadora de ligação. É uma cor adequada para um fundo. Tristeza, gravidade, austeridade, indigência e desespero. 25Elementos Básicos da Comunicação Visual com base em números e letras. Ou seja, cada uma das cores tem um código atribuído, conferindo-lhe uma fácil identificação entre todos os operadores. 1.2.4.2 SIMBOLOGIA DAS CORES a cor é um dos principais elementos da linguagem visual. Cada um de nós reage à cor de acordocom a sua condição física e influências culturais. Porém, a cor tem uma sintaxe que pode ser ensinada e cujo conhecimento se torna muito útil em vários campos do saber, nomeadamente na comunicação visual (Farina, 1975: 4). A cor não é uma matéria, mas sim uma sensação dependente da natureza dos objetos que olhamos e da luz que sobre eles incide. na Tabela 1, apresentamos dados sobre as cores com alguma informação relevante sobre a sua utilização. Trata-se, nesta medida, de informação prática sobre a utilização da cor em vários contextos. É indicado, por exemplo, que “qualquer cor perde tonalidade quando colocada num fundo branco” e, por contraste, “qualquer cor colocada sobre um fundo preto ganha intensidade”. 1.2.5 O VOLUME O volume é a caraterística que define a tridimensionalidade dos objetos e comporta as três dimensões (3D) - largura, altura e profundidade (Figura 17). Este elemento da comunicação visual apenas se pode representar no espaço 2D por ilusão ótica. Disciplinas como a escultura e a arquitetura permitem, de facto, a sua materialização. Esta afirmação leva-nos a concluir que desenhar objetos numa superfície plana, nos quais se possa percecionar o volume, obriga a fazer uma tradução de alguns elementos estruturais do respetivo objeto. a representação bidimensional trouxe grandes enriquecimentos ao Homem. Oferece a extensão do espaço e, nesta perspetiva, a diversidade de tamanho (pequeno, médio e grande) e forma (coisas redondas, angulares e muito irregulares). Permite, também, adicionar à distância as diferenças de direção e orientação. Porém, o tridimensional oferece uma liberdade total, dado que a extensão do espaço em qualquer direção e a disposição ilimitada dos objetos no espaço tornam-se possíveis (Arnheim, 2000: 223-224). Figura 17 - O volume 26 Figura 18 - Imagem “realismo” Figura 19 - Imagem “distorção” Para Durero, a perspetiva oferece aos corpos o lugar para implantar plasticamente e mover-se mimicamente, mas oferece à luz a possibilidade de estender-se no espaço e diluir os corpos pictoricamente, procurando uma distância entre os homens e as coisas (o primeiro, é o olho que vê; o segundo, o objeto visto; o último, a distância intermédia). Além da perspetiva que esta observação contempla, está também implicitamente referida a relação fundo-superfície, ambas determinantes na criação do volume (in Panofsky 1999: 49). 1.2.6 A FORMA E REPRESENTAÇÕES a forma tem comprimento e largura, manifestando o que podemos considerar as duas dimensões (2D) do espaço gráfico. Podemos considerar, a este nível, existirem três formas básicas: o quadrado, o triângulo equilátero e o círculo. Importante é referir que a forma serve, antes de mais, para informar a natureza das coisas, através do seu aspeto exterior (Arnheim, 2000: 105). O mundo da imagem divide-se em dois domínios. No primeiro domínio, temos a imagem como representação visual. Nesta categoria, podemos inseri desenhos, pinturas, gravuras, fotografias e outras imagens, nomeadamente cinematográficas. São, neste sentido, imagens enquanto objetos materiais. O segundo domínio é imaterial e está relacionado com a imagem na nossa mente, inserindo-se nesta categoria imagens que aparecem como visões, fantasias, imaginações, esquemas e modelos (Santaella e Nöth, 1997: 15). O que une estes dois conceitos de imagem são o signo e a representação. O âmbito da significação do conceito representação situa-se entre a apresentação e a imaginação, enquadrando conceitos semióticos fundamentais, tais como signos, imagem (representação imagética) significação e referente. A representação surge como sinónimo de signo, tendo a analogia como critério fundamental. fotografia Fonte da Lage (Douro)fotografia Fonte da Lage (Douro) 27Elementos Básicos da Comunicação Visual Há a considerar vários tipos de representações na comunicação visual, das quais destacamos: realismo, distorção, estilizada e abstração e sem objetividade. como o próprio nome refere, o realismo indica a maneira como observamos o mundo, sem que exista qualquer distorção / manipulação do objeto. Assim, uma foto da natureza, de uma grande cidade ou de uma pessoa, dando os exemplos mais óbvios, inserem- se nesta categoria (Figura 18). a distorção envolve todas as imagens intencionalmente manipuladas em termos formais, muito embora continuemos a identificar o sujeito. Muitas vezes o objetivo é destacar, sublinhar determinada imagem, no todo ou em parte (Figura 19). A abstração é caracterizada por reduzirmos a forma à sua postura mais simples. O objetivo é comunicar o objeto, eficaz e rapidamente. Ou seja, num só olhar, conseguirmos identificar e descodificar a mensagem. Uma das áreas que particularmente nos interessa, na qual a abstração é um recurso importante, é a identidade visual. Efetivamente, este tipo de imagens expressa grande simplicidade e poder de comunicação visual, materializando graficamente a essência de uma boa ideia (Figura 20) - cf. Identidade visual. a estilização está relacionada com a necessidade de enfatizar determinado conceito como uma marca muito própria do autor/ designer. Os 12 cartazes alusivos às 12 cidades brasileiras, nas quais decorreu o campeonato do mundo de futebol 2014, parece ser um bom exemplo que ilustra a estilização (http://www.copa2014.gov.br/pt-br/ noticia/doze-sedes-da-copa-do-mundo-lancam-cartazes-do-evento). A partir de uma ideia forte e simbolicamente representativa de cada uma das cidades, foi criado um conceito gráfico, capaz de expressar a própria cidade. O cartaz de São Paulo, por exemplo (Figura 21), evidencia o aspeto visual mais importante da cidade. Ou seja, os arranha-céus, marca da urbe, apontando para as alturas, indicando também o ícone máximo do futebol, a sua bola, conotam o acontecimento desportivo. Por último, existe uma categoria de representação que podemos designar “Sem objetividade”. Trata-se da forma não reconhecível imediatamente, apesar de manter um efeito visual útil. Por vezes, são fragmentos que não identificamos de uma imagem descontextualizada. Com a facilidade de manipulação da imagem Figura 22 - Imagem “sem objetividade” Figura 21 - Imagem “estilização” Figura 20 - Imagem “abstração” 28 nos nossos dias, fruto do grande desenvolvimento das ferramentas digitais, este tipo de imagens é muito frequente na comunicação gráfica (Figura 22). 1.2.7 A TEXTURA Texturas e padrões são construídos por conjuntos de pontos e linhas que se repetem, sobrepõem, rodam... e outras formas de interações gráficas que definem a superfície dos corpos (Lupton, 2008: 65). Todos os objetos têm uma superfície com determinadas propriedades que nos ajudam a compreender a sua natureza. A textura é a qualidade dessa propriedade, que podemos considerar ser suave, lisa, rugosa ou áspera, entre outras características. Há texturas táteis e texturas implícitas. A textura tátil carateriza-se por conseguirmos tocar e sentir a respetiva superfície do objeto, ao contrário do que se passa com a textura implícita, que podemos ver, mas não podemos sentir. Trata-se, neste último caso, de uma ilusão de textura. Na Figura 23, temos o exemplo de uma imagem com textura tátil (1) e, na mesma figura, três imagens (2, 3 e 4) com textura implícita (textura por folha amarrotada, textura por lápis de cera e textura resultante da pulverização com verniz). na comunicação visual, a textura tem um papel importante, enquanto efeito ótico, ajudando a determinar os objetos gráficos. Determina também a qualidade do papel de impressão. Um papel compacto (couché) permite uma impressão com elevada qualidade, manifestando um toque suave e liso. Pelo contrário, um papel mais rugoso (IOR) é adequado para trabalhos nos quais a qualidade de impressão não seja um requisito muito importante (conferir esta questão no último capítulo). 29Elementos Básicos da Comunicação Visual Figura 23 - Texturas: (1) (2) (3) (4) (1) [“Camões” esculturaem gesso de Fernando Hilário], (2), (3) e (4) 30 31Os Princípios Básicos da Comunicação Visual 2. OS PRINCÍPIOS BÁSICOS DA COMUNICAÇÃO VISUAL As imagens converteram-se, então, em escrita, que fixava de tal maneira o pensado e o falado, que o representava uma e outra vez sem limitações, que fazia possível a leitura. D. A. Dondis 32 2.1 APROXIMAÇÃO À SEMIÓTICA a semiótica dá um contributo muito importante para a compreensão da comunicação visual. O estudo dos signos denomina-se semiótica, para as escolas anglo-saxónicas, ou semiologia, para as escolas derivadas do estruturalismo europeu. Embora esta ciência tenha merecido particular atenção a partir de finais do século XlX, é um velho conceito que foi proposto por Santo Agostinho, no ano 397. Para este filósofo grego, os signos eram a ligação entre a natureza e a cultura (Lester: 62). A semiótica contemporânea emergiu de Ferdinand de Saussure e Charles Sanders Peirce. A importância crescente dada a manifestações culturais até à data pouco estudadas (costumes, dança, teatro, publicidade, cor, etc.), leva-os a produzirem os fundamentos da semiótica atual. A base desta ciência é o signo, que pode ser entendido como sendo um objeto que veícula determinada mensagem, ou apenas parte dela. Peirce formulou três diferentes tipos de signos: icónico, indicial e simbólico. Nos signos icónicos, ou ícones, existe uma relação mimética, de semelhança com o seu referente (semelhantes às coisas reais) (Figura 24). O signo indicial tem uma relação direta, causal, com o seu referente (vestígios de coisas reais) (Figura 25). O signo simbólico, ou símbolo, é o mais abstrato dos signos, não tendo qualquer ligação com o seu referente, uma vez que parte de uma convenção. Ou seja, mais do que qualquer outro signo, o símbolo remete para uma regra socialmente aceite. Os logótipos de muitas empresas inserem-se nesta categoria (Figura 26). Ferdinand de Saussure (2006) dividiu os signos em duas partes: o significante e o significado (Figura 27). O significante é a parte física (imagem acústica ou visual) de qualquer signo, enquanto que o significado é o conteúdo, ou seja, o conceito ou ideia veiculada pelo signo. Dois outros conceitos importantes na relação dos signos com os sentidos comunicados são a denotação e a conotação. A denotação é o primeiro sentido que aponta para a linearidade e a objetividade. a imagem da Figura 28 é interpretada, a este nível, com sendo a fotografia de uma paisagem do Douro. Por outro lado, a conotação conduz-nos a valores de ordem emocional, entre outros, que Figura 25 - Signo indicial (pegada de cão) Figura 26 - Signo simbólico Figura 27 - Significante e significado Figura 24 - Signo icónico TAÇA 33Os Princípios Básicos da Comunicação Visual atribuem outro significado aos objetos. Na imagem indicada, vemos uma paisagem idílica, Património da Humanidade, cujos socalcos foram moldados pelo homem ao longo das gerações. Múltiplas interpretações podem ter lugar na análise de uma imagem, dado que, quanto mais sabemos, mais sentimos. Quanto mais sentimos mais selecionamos. Quanto mais selecionamos mais percebemos. Quanto mais percebemos mais lembramos. Quanto mais lembramos mais aprendemos. Quanto mais aprendemos mais sabemos (Lester, 1995: 6). 2.2 GESTALT Na emblemática obra Arte e Perceção Visual, é referido que “se cada um de doze observadores escutasse uma das notas de uma melodia, a soma das suas experiências não correspondia à experiência de quem escutasse a melodia inteira”, Arnheim (2000: 15). Dito por outras palavras, o todo é mais do que a soma das partes. Neste princípio assenta a psicologia da perceção visual da Gestalt, movimento surgido na Alemanha no decorrer da década de vinte do século passado. A palavra Gestalt significa “forma global”, sendo que o conceito está relacionado com a criação de formas mentais na perceção de determinada composição visual, de acordo com certos princípios. O mundo da comunicação visual é complexo, envolvendo a conjugação dos vários elementos, já referidos anteriormente. Perante esta complexidade, a nossa mente tende a agrupar elementos com características comuns, formando unidades visuais que se reforçam perante a variedade, como princípio de opostos que se fortalecem na sua união. Figura 28 - Paisagem do Douro, Ferradosa, São João da Pesqueira 34 De acordo com a psicologia da Gestalt, foram estabelecidos alguns princípios importantes que podemos designar por “leis da organização percetiva do espaço visual”. Embora tenham já passado muitas décadas após a enunciação destas leis, elas mantêm-se ainda com um valor inestimável para as artes visuais e particularmente para o design gráfico. O princípio da unidade é uma das suas características essenciais, podendo ser materializado por vários elementos gráficos, tais como o brilho, a linha e a forma. há várias leis relacionadas com a Gestalt, muito importantes na comunicação visual. Faremos uma breve alusão a essas leis, referindo exemplos de marcas visuais em cada uma delas. Todos os exemplos têm aplicadas mais do que uma das leis. Isto acontece porque existe uma grande relação entre todas elas. Lei do Fechamento Segundo a lei do Fechamento, quando olhamos para determinada composição visual, temos tendência a completar linhas, forma, contornos, de forma a construirmos determinado objeto gráfico. Quer isto dizer que o nosso cérebro tem a tendência de preencher certas “falhas” existentes, levando-nos a formar (fechar) determinados contornos, tal como acontece na Figura 29, na qual vemos um quadrado que na realidade não existe. na Figura 30, apresentamos dois casos que melhor nos permitem compreender o alcance desta lei. O “C” do Carrefour apenas é uma realidade gráfica pela sua ausência. Porém, faz implicitamente parte do logótipo do Carrefour. A unificação, por vezes considerada também uma lei autónoma, permite-nos construir a imagem do urso, símbolo da WWF, através da união dos elementos gráficos. Lei da Continuidade De alguma forma, a lei da Continuidade é complementar à lei do fechamento. Na Figura 31, observamos a sua forma mais simples de manifestação. Toda a composição visual necessita de uma linha de continuidade e fluidez na leitura. Esta linha pode ser entendida no sentido literal do termo, ou sugerida pela disposição dos elementos gráficos na composição. Figura 32 - Lei da Continuidade (Eight) Figura 31 - Lei da Continuidade Figura 33 - Lei da Proximidade Figura 30 - Lei do Fechamento (marcas visuais) Figura 29 - Lei do Fechamento O que foi desenhado O que é visto a marca visual Eight (Figura 32) rege-se pelos princípios da continuidade. O nosso cérebro acompanha o caminho indicado pelo “E” e pelo “i”, formando o número “8”. Neste exemplo, também é possível notar a aplicação da lei do fechamento, já analisada. Lei da Proximidade Nesta lei, os objetos mais próximos entre si são percebidos como grupos independentes dos mais distantes, formando unidades visuais. Quanto mais próximos esses elementos estiverem entre si, mais unificada parece ser a composição. Na Figura 33, vemos um triângulo e um quadrado, quando, na realidade, o que está representado são 6 círculos, próximos entre si, e, na imagem em baixo, 9 outros círculos com elevado grau de proximidade. Na marca visual Unilever está aplicada esta lei. Só a grande proximidade dos símbolos que compõem o “U” permite que o descodifiquemos enquanto tal (Figura 34). Lei da Similaridade ou Semelhança Na perceção desta lei, os objetos gráficos tendem a agrupar-se quando têm características semelhantes, sejam elas formais ou cromáticas. Esta união pode manifestar-se, por exemplo, através da cor ou pela forma, tal como acontece na Figura 35. a semelhança entre os pontos que constituem a marca visual Seeds (Figura 36), resulta na aplicação desta lei. Lei da Pregnância ou da Simplicidade a procura da harmonia e do equilíbrio visuaissão os pressupostos de base desta lei. Quanto mais simples for uma composição, mais facilmente é descodificada. Pelos pressupostos que esta lei assume, pode considerar-se como sendo uma das mais importantes, marcando presença em toda a composição visual (Figura 37). Superfície - Fundo Uma das aplicações mais importantes das leis da Gestalt prende-se com a relação fundo-superfície, conhecida também por negativo- positivo. Trata-se de determinar qual é o fundo e qual é a superfície, em determinada composição visual. Todo o objeto de comunicação comporta uma relação entre a figura e o fundo. Denomina-se fundo a base de um elemento gráfico que designamos por figura. A sua distinção nem sempre é muito clara. Porém, a habilidade de criar e avaliar a tensão Figura 34 - Lei da continuidade (Unilever) Figura 35 - Lei da Similaridade ou Semelhança Figura 36 - Lei da Similaridade ou Semelhança (Seed media) Figura 37 - Logótipo “Jogos Olímpicos” Figura 38 - Figura fundo 36 Figura 39 - Forma e fundo Figura 40 - Forma e fundo (Toblerone) Figura 41 - Forma e fundo (hope for african children iniciative) Figura 42 - Ritmo visual resultante entre a figura e o fundo é uma importante competência dos designers (Santaella e Nöth, 1997: 85). Por princípio geral, o objeto com a forma mais simples transforma-se na figura, enquanto que o objeto com a forma mais complexa assume o fundo. Na Figura 38 (em cima), as linhas mais grossas formam a figura, enquanto que na mesma imagem, em baixo, não conseguimos determinar a figura e o fundo. na Figura 39, conseguimos distinguir a figura e o fundo, de acordo com a focalização do nosso olhar. Se nos focarmos na imagem a branco, vemos uma taça (a figura) e duas manchas de preto (o fundo), que, no caso, são também duas figuras, uma vez que, se os nossos olhos se desviarem para o preto, vemos as silhuetas de dois rostos e o objeto branco transforma-se em fundo. Decorrente da relação figura-fundo surgem os conceitos espaço negativo e espaço positivo. O espaço negativo é o fundo e o espaço positivo a figura. Dito por outras palavras, o espaço negativo é o “ambiente” no qual se manifesta o espaço positivo. as duas marcas visuais que as Figuras 40 e 41 indicam (Toblerone e Hope for African Children Initiative), trabalham a relação figura / fundo. No caso da Toblerone, consegue ver-se um urso, símbolo da cidade suíça Berna, onde o chocolate foi criado. Na outra marca vemos a silhueta de uma criança e de um adulto, recortadas no fundo branco, no qual se vê o mapa do continente africano. 2.3 O RITMO O ritmo visual é a repetição ordenada de elementos no espaço gráfico, de forma a criar dinamismo na composição. O ritmo “cria unidade, repetindo exata ou subtilmente diferentes elementos de uma maneira previsível” (Hashimoto. e Clayton, 2009: 37) Podem considerar-se três diferentes tipos de ritmos: a repetição, a alternância e a progressão. A repetição (Figura 42), em cima, caracteriza-se por barras com o mesmo tamanho, separadas sequencialmente por um espaço uniforme. Trata-se de um ritmo repetitivo, sem que exista qualquer variação. na alternância, ao centro, existe uma manifesta alteração das variáveis. Existem dois tipos de barras que alternam entre si, muito 37Os Princípios Básicos da Comunicação Visual Figura 43 - O ritmo na arquitetura embora o fundo se mantenha uniforme. Relativamente à progressão (em baixo), o ritmo pode acontecer a dois diferentes níveis: aumento progressivo da espessura das barras, do fundo ou de ambos. Pegando nas palavras de culvillier, O ritmo é a lei misteriosa da repetição, do agrupamento, do jogo de números, que nos edifícios e na estátua, no quadro e na orquestra, garante a harmonia das proporções e a continuidade do movimento (in Hass, s/d: 144). O ritmo é uma propriedade que encontramos em muitas áreas, para além da comunicação visual. Na arquitetura é uma constante facilmente verificável, como podemos constatar pela Figura 43. com facilidade vemos a repetição, harmonia, proporcionalidade e equilíbrio que nos remetem para o ritmo. 2.4 O EQUILÍBRIO O equilíbrio é um dos princípios mais importantes da atividade do homem nas suas múltiplas funções: pessoal, profissional, social e artística. Arnheim (2000: 46) diz-nos que “o homem procura o equilíbrio em todas as fases da sua existência física e mental. Esta mesma tendência observa-se não só na vida orgânica, como também no sistema físico”. Dondis (2000: 36) aponta no mesmo caminho, quando refere que o equilíbrio é a referência visual mais forte e firme do homem, a base para o consciente e inconsciente na formulação de juízos visuais. a questão do equilíbrio leva-nos a considerações de várias grandezas que se estabelecem na obra gráfica. Todos os elementos gráficos, abordados anteriormente (ponto, linha, cor e forma), têm mais ou menos peso visual, de acordo com a sua posição no espaço gráfico, espessura da linha e intensidade da cor. Este peso interfere na observação, leitura e compreensão das imagens e na comunicação gráfica em geral. Se quisermos acentuar determinado objeto, aumentamos o seu tamanho ou atribuímos-lhe uma cor com maior impacto visual, face a todas as outras circundantes. Recorrendo a uma expressão de Arnheim (2000: 21): “comportamo-nos como uma fita métrica”. Neste sentido, o ser humano estabelece intuitivamente a distância “correta” entre os objetos. O equilíbrio acontece quando existe uma compensação entre todas as forças envolvidas na composição e quando o peso visual está devidamente distribuído pelo espaço. Os designers utilizam o ponto, a linha, a textura, a cor, a escala, a Figura 44 - Equilíbrio: composições 38 Figura 46 - Hierarquia com a tipografia Figura 45 - Contraste: composições forma e demais elementos, para criar destaques visuais, tendo sempre presente o equilíbrio da composição (Lupton, 2008: 28). Na Figura 44, apresentam-se algumas composições equilibradas, utilizando diferentes elementos gráficos. 2.5 O CONTRASTE O contraste existe quando dois elementos gráficos são diferentes. Trata-se de um atributo importante da comunicação visual, na medida em que nos acentua determinado aspeto, em detrimento de outro, permitindo estabelecer ordens de importância na mensagem visual. no ponto anterior, analisámos a relação entre o fundo e a figura, focalizados essencialmente na relação de cor entre estas duas dimensões. Trata-se de uma relação muito importante, na medida em que permite atribuir índices de visibilidade e legibilidade à composição. Além da cor, o contraste pode ser conferido pelo tamanho, posição, textura, forma e orientação (Figura 45). 2.6 A HIERARQUIA VISUAL A hierarquia visual indica-nos determinado caminho para a leitura de uma composição, de acordo com a importância que o emissor lhe quis atribuir. Na Figura 46, podemos verificar que há elementos gráficos que nos captam o olhar, uns de forma mais rápida do que outros. Neste caso, estamos a utilizar apenas a tipografia, mas a hierarquia visual pode ser efetuada a outros níveis, utilizando diferentes elementos, tais como a cor e a forma. Se focarmos a análise no design editorial (desenho de revistas, jornais e outros produtos), a partir de finais do século XlX, notamos que houve uma evolução muito significativa. Na Figura 47, apresentamos três primeiras páginas do Jornal de notícias (Jn) que correspondem a três edições distintas. A imagem da esquerda corresponde ao primeiro número do jornal (1ª edição), publicado em 1890, a imagem ao centro data de 1933 e a imagem da direita do ano de 2003. Entre a primeira e a última edições apresentadas, separam-nas 115 anos. Período de tempo marcado por alterações económico-sociais sem paralelo e, consequentemente, por uma explosão das artes visuais, que marcaram indelevelmente a comunicação visual. Uma análise rápida da figura, permite-nos imediatamente determinar que o exemplo da direita é recente, enquanto que o daesquerda é recuado no tempo. Neste último exemplo, estão ausentes os princípios elementares que norteiam o design atual, marcado por uma organização distinta através da variação do valor, da cor e de muitos outros parâmetros. Figura 47 - Jornal de Notícias (JN) Os níveis de leitura constituem um dos princípios fundamentais que deve nortear toda a comunicação visual, quer seja um jornal, um cartaz, uma página de internet ou um catálogo de produtos. Atribuir importância diferente aos elementos, através, por exemplo, da tipografia, da cor e da imagem, é uma forma de hierarquia visual, no sentido de se ordenar a informação, ou valorizar uma em detrimento de outra. na primeira edição do Jn, não existem diferentes níveis da informação ou, a existirem, são ténues. Apenas alguns títulos se diferenciam da mancha gráfica que é basicamente plana. contrariamente, na última edição que apresentamos (Figura 47, imagem à direita), existe uma clara diferenciação das notícias. O layout da composição evidencia uma fotografia dominante (característica estrutural dos jornais dos nossos dias), com o título “Madrugada de bombas”. Se repararmos, só nesta notícia podemos verificar três diferentes níveis de leitura: o título da notícia, a fotografia e um breve texto entre estes dois elementos. Ainda no mesmo exemplar, notamos o nome do jornal com grande impacto visual e várias entradas para notícias a desenvolver no interior. Na edição de 1926, quando comparada com a 1ª edição, notamos aspetos que evoluíram, nomeadamente no que diz respeito à introdução de duas fotografias e um título, “um movimento militar revolucionário”, com destaque, face a toda a restante informação 40 Figura 48 - Grelha 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 13 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 12 41Os Princípios Básicos da Comunicação Visual linguística. Porém, como se verifica, está ainda muito longe da edição de 2003, que caracteriza os pressupostos do design moderno. 2.7 AS GRELHAS a grelha (Figura 48) é um elemento cuja função é dividir o plano em pequenos módulos, permitindo uma organização mais rápida, funcional e esteticamente apelativa. A disposição da informação (textos, imagem e cor), alinhamentos, definição de proporções e destaques tornam-se mais fáceis de concretizar, com menor probabilidade de erros. A grelha é utilizada por designers, tipógrafos, fotógrafos e outros profissionais da área, com o objetivo de resolver problemas de comunicação visual. De acordo com Brockmann (1996), a utilização do sistema de grelha é importante na medida em que permite: - Sistematizar e clarificar o trabalho; - Racionalizar o processo criativo e técnico; - Alcançar domínio sobre a superfície e o espaço; - Destacar o essencial cultivando a objetividade. com uma grelha adequada aos propósitos da mensagem que se pretende difundir, [...] é possível construir objetividade na comunicação visual; dispor os textos e as ilustrações de forma inteligível, lógica e sistematizada, resultando numa composição compacta. Sabe-se que o material impresso é lido normalmente entre os 30 a 35 cm de distância dos nossos olhos e que uma linha de texto deve ter, idealmente, 7 palavras, (Brockmam, 1996: 12). Não existe um limite para um determinado número de colunas. Cada trabalho tem a sua própria especificidade, requerendo um estudo aprofundado que dita os procedimentos necessários a adotar, de forma a que o leitor seja capaz de ler a mensagem com o mínimo esforço. Existem, porém, alguns preceitos que convém reter: 1 coluna: tem pouca liberdade de manipulação do espaço. Torna-se muito difícil utilizar imagens em vários tamanhos (pequeno, médio e grande). 2 colunas: permite utilizar uma coluna para texto e outra para imagens, tal como acontece nesta obra, ou a mesma coluna para ambos. A grelha com duas colunas 42 Figura 49 - Layout pode, ainda, ser subdividida em 4 colunas por página. 3 colunas: abre mais possibilidades de disposição do texto e da imagem. Pode, também, ser subdividida em 6 colunas por página. Em termos gerais, pode afirmar-se que quanto maior for o número de colunas, mais flexibilidade existe na disposição do texto e da imagem. Porém, um maior número de colunas torna o layout mais complexo. Convém sempre ter em consideração que colunas muito pequenas comportam um número muito reduzido de texto por linha, dificultando a leitura (Brockmam, 1996: 57). 2.8 O DESIGN MODULAR Decorrente da utilização de grelhas, surge o design modular na comunicação gráfica. O design modular tem como princípio a divisão do espaço gráfico em várias unidades, conferindo-lhes autonomia, mas mantendo uma coerência visual entre todas as partes constituintes. no meio editorial, o design modular faz-se notar com mais evidência (Figura 49), embora seja uma característica presente em toda a comunicação visual, nomeadamente no cartaz, na página internet, na revista, entre outros. A maior diferença entre os produtos editoriais está muito relacionada com a periodicidade de publicação destes meios, tal como acontece num jornal diário que todos os dias apresentam um “novo” layout. É também por este motivo que o módulo, enquanto unidade gráfica autónoma, constitui um elemento importante a considerar. X Figura 50 - Centro geométrico e centro ótico Centro ótico Centro geométrico Formato A4 vertical X X 44 Figura 51 - Regra dos terços 2.9 A REGRA DOS TERÇOS Uma das formas mais eficazes de domínio do espaço gráfico denomina-se regra dos terços. É um princípio de organização do espaço que se desenvolveu com o nascimento da fotografia. como podemos notar na Figura 50, divide-se o plano através de duas linhas verticais e duas linhas horizontais, resultando nove áreas de igual dimensão. O cruzamento das linhas verticais com as linhas horizontais define as zonas com maior impacto visual do plano, zonas visualmente muito fortes nas quais devem ser colocados os elementos mais importantes da composição, seja uma fotografia, desenho ou qualquer outro objeto de design. Esta regra evita que o objeto fique centralizado, situando-o num dos terços que a figura evidencia. Com a correta aplicação desta regra, está criada uma maior tensão visual e interesse na composição. Outras formas de intervenção sobre o plano que nos parecem importantes abordar, são a do centro geométrico e a do centro ótico. Na Figura 51 (plano vertical), temos assinalados estes dois pontos. O centro geométrico corresponde exatamente ao centro do plano. Se fizermos passar duas linhas perpendiculares por este ponto, dividimos o espaço em quatro módulos iguais. O centro ótico resulta do centro geométrico de um quadrado, formado pela largura do retângulo vertical inicial. Em termos publicitários, a zona gráfica, onde estes dois pontos se situam, é muito utilizada, como podemos verificar através dos dois exemplos da Figura 52. Figura 52 - O centro geométrico e centro ótico na publicidade Os estudos da Gestalt, contudo, fizeram ver que quase sempre as situações com que nos encontramos possuem características próprias, que exigem que as percebamos devidamente. É patente que ver o mundo requere um jogo recíproco entre as propriedades aportadas pelo objeto e a natureza do observador. [...] a mente, na sua luta por uma conceção ordenada da realidade, procede de maneira legítima e lógica desde os esquemas percetualmente mais simples até aos de complexidade crescente. Rudolf Arnheim 46 47Expressões da comunicação visual 3. EXPRESSÕES DA COMUNICAÇÃO VISUAL Há, pois, outras coisas no campo visual, para além das que impressionam a retina do olho. Rudolf Arnheim 48 3.1 A FOTOGRAFIA O termo fotografia deriva da conjugação da palavra foto (luz) com grafia (escrita), significando em termos literais “escrita pela luz”. Trata-se, basicamente, de um processo mecânico de fixar imagens numa superfície sensível, através da luz. Segundo Sixou (2000: 70), as primeiras utilizaçõesda palavra “fotografia” aconteceram no ano de 1839. a fotografia nasceu oficialmente em França, nesse mesmo ano, atribuindo-se a Joseph Nicéphore Niépce a primeira imagem conhecida, captada em 1826 (http://www.niepce.com/pagus/pagus-inv.html). Embora a data oficial do nascimento da fotografia seja importante, não se pode circunscrever a invenção da fotografia a determinado ano, país ou pessoa. Convém lembrar que um contemporâneo de Niépce, o inglês Fox Talbot, desenvolveu um processo similar, denominado calotipo, com a produção de negativo, o que permitia fazer várias cópias, ao contrário do processo desenvolvido pelo francês. a invenção da fotografia foi um processo complexo e demorado, cujo início remonta à antiguidade. Como se sabe, a fotografia é a conjugação da câmara escura com substâncias fotossensíveis. Ora, o chinês Mo Ti observa o fenómeno da câmara escura em 500 a. C., processo ao qual ele chamou “chambre close du trésor”, vendo a reflexão de um objeto e a sua imagem inversa (Sixou, 2000: 25). Na Grécia antiga, aristóteles descreve a câmara escura desta forma: “faz-se um orifício numa das paredes de um quarto sem janelas, no muro oposto, dentro do quarto, surgirá a imagem invertida que se observa a partir do orifício” (Sixou, 2000: 26), Figura 53. Muitas outras referências existem ao longo da história sobre a câmara escura, nomeadamente a de Leonard da Vinci, que define o seu funcionamento em termos exatos. O primeiro fabrico do nitrato de prata, substância fotossensível que escurece em contacto com a luz, surgiu, por volta do século sétimo, pelo alquimista árabe Geber abu Musa, considerado por muitos como o pai da química moderna. como referimos, a câmara escura e o nitrato de prata são a base da fotografia analógica, os seus elementos essenciais. Pelo exposto, esses elementos foram descobertos muitos séculos antes do nascimento da fotografia, sem que, no entanto, se tenha dada uma convergência da sua utilização, o que, de facto, apenas aconteceu no decorrer do século XlX. 49Expressões da comunicação visual Figura 53 - A câmara escura na Figura 54, apresentamos algumas das datas importantes que antecederam a descoberta da fotografia e momentos posteriores. A “mecanização do olhar” veio alterar indelevelmente a história do Homem nestes últimos 150 anos. A fotografia invadirá todos os campos do saber, tornando-se numa ferramenta fundamental na abordagem do mundo. O cinema, produto da fotografia e expressão da representatividade visual em movimento, nasce em finais do século XlX. Coube aos irmãos Lumière colocar em movimento a extraordinária máquina de sonhar que é o cinema. Será apenas em finais do século XX que a fotografia analógica dá lugar à fotografia digital, iniciando-se uma revolução sem precedentes na captura, armazenamento e consumo da imagem. ao contrário da fotografia analógica que, ao longo dos tempos, apenas se circunscreveu a algumas pessoas, a fotografia digital, pelo seu baixo custo e disponibilidade imediata, vulgarizou-se. O mecanismo fotográfico expandiu-se para os telemóveis, tablets e outros dispositivos móveis. 3.1.1 DISPOSIÇÕES MAIS COMUNS Em termos de disposição no espaço gráfico, a fotografia apresenta-se normalmente em três disposições: vertical, horizontal e quadrada. Cada uma destas disposições tem características próprias que nos levam a optar por uma delas, em determinado contexto, face às restantes. 50 Figura 54 - Datas importantes da fotografia 1907 1º filme comercial pelos irmãos Lumiére 1861 James Clerck-Maxwell demonstra a fotografia a cores 1849 Em Paris, 56 pessoas exercem a profissão de fotógrafo 1841 William Henry Fox Talbot (1800-1877) anuncia a descoberta do calótipo 1834 Henry Fox Talbot cria o negativo permanente e o positivo (imagem) em contacto com uma folha de papel 1816 Niépce combina a câmara escura com o papel foto sensível 1490 Leonardo da Vince (1452-1519) será o primeiro a dar uma definição exata da câmara escura 700 Geber Abu Musa (721-315) descobre o nitrato de prata 150 Cláudio Ptplomeu (90-168) redige o seu tratado de ótica 500 a.C. Primeira referência à câmara escura pelo chinês Mo Ti 700 a.C. Em 1850, foi descoberta em Nimrod, atual Klhon, uma lente plana-convexa que data de 720-705 a.C. 1991 Kodak lança a primeira câmara digital SLR 1888 Kodak lança a primeira câmara no mercado com o célebre slogan “You press the botom we do th rest” 1853 Nadar abre o seu estúdio, em Paris 1846 Carl Zeiss (1816-1888) abre um atelier de instrumentos mecânicos e óticos 1839 Nascimento oficial da fotografia, proclamado pela Academia Francesa de Ciências. Louis-Jacques-Mandé Daguerre (1787-1851) introduz o daguerreótipo em 1839 1826 Registo da primeira fotografia, imagem permanente, por Joseph Niépce Niecephora 1604 Johannes Kepler (1571-1630) assemelha o olho a uma câmara escura 1000 Alhazen (965-1040) faz observações na câmara escura e precisa as noções de imagem obtida através desse processo 650 arde a biblioteca de alexandria e, provavelmente, um grande número de obras de física e ótica perdem-se 300 a.C. Aristóteles (383-322) explica o funcionamento da câmara escura 51Expressões da comunicação visual a fotografia horizontal (Figura 55) é a mais comum. Vemos o mundo horizontalmente, através dos nossos olhos, e quando pegamos numa câmara para captar um momento, é também esta a disposição que instantaneamente fica disponível. A fotografia horizontal permite obter imagens com um maior ângulo de visão e perceção do objeto fotografado. a fotografia vertical (Figura 56) está muito associada ao retrato, dado que o nosso rosto é vertical e o corpo assume com frequência essa postura. Ao contrário da situação anterior, esta disposição reduz muito o espaço do cenário onde se situa o objeto fotografado. a fotografia na disposição quadrada (Figura 57) é o exemplo mais estático dos três referidos. Independentemente das características específicas de cada uma destas disposições de fotografias, todas têm as suas vantagens e desvantagens. Por isso, torna-se importante que determinada imagem conte uma história na composição, quer seja na imprensa, catálogo de produtos ou outra qualquer publicação. Dito de outra forma, o conteúdo da fotografia é mais importante do que a sua disposição. Figura 56 - Fotografia vertical Figura 57 - Fotografia quadrada Figura 55 - Fotografia horizontal 1000 Alhazen (965-1040) faz observações na câmara escura e precisa as noções de imagem obtida através desse processo 650 arde a biblioteca de alexandria e, provavelmente, um grande número de obras de física e ótica perdem-se 300 a.C. Aristóteles (383-322) explica o funcionamento da câmara escura 52 Figura 58 - Tamanho e resolução da imagem Figura 60 - Resolução da imagem e diferente tamanho 25,4 mm1 POLEGADA 25,4 mm 3.1.2 RESOLUÇÃO DA IMAGEM a resolução da imagem é uma problemática complexa que diz respeito ao material impresso, on-line e outros dispositivos, tais como a televisão. Embora este assunto seja importante e merecedor de uma atenção especial, não cabe no contexto e objetivo deste livro apresentar uma abordagem aprofundada. Interessa-nos apenas referir alguns aspetos elementares no que diz respeito ao uso diário da imagem em termos de impressão e a sua utilização nas plataformas digitais. Por princípio geral, quanto maior for a resolução de uma imagem, tanto maior será o seu detalhe. Sendo assim, o conhecimento da resolução de uma imagem permite adequar a sua função ao meio respetivo no qual vai ser veiculada. Para melhor se compreender alguns atributos da imagem, apresentamos uma janela do Photoshop (Figura 58) que nos indica de forma rápida e simples a resolução e tamanho de determinada imagem. Na parte superior, é indicada a dimensão da imagem em pixéis (1400 ‘largura’ x 900 ‘altura’). Logo abaixo, temos o tamanho do documento com a indicação do formato (largura e altura)
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