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DES0118 - Direito Constitucional I - Prof. Carlos Bastide Horbach

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Caderno de Constitucional (Prof. Carlos Bastide Horbach) 
 
CONSTITUCIONALISMO 
1)Conceitos: 
a) Movimento no sentido de se limitar o poder político arbitrário (fixação de normas claras 
para o funcionamento do poder político).  
b) Defesa da necessidade de um documento (Constituição) que estabeleça um padrão 
inconteste para a atuação do Estado (sentido mais estrito de “Constitucionalismo”). 
c) Estuda como as regras da Constituição se projetam na realidade. 
d) Designa experiências político‐institucionais de uma determinada sociedade política (todos 
os conceitos anteriores vivenciados num Estado particular). 
Com o art. XVI da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, a Constituição passa a ter 
de garantir direitos fundamentais (fiscalização externa do poder) e a separação de poderes 
que se controlam mutuamente (fiscalização interna do poder). 
Direitos fundamentais: direitos inerentes ao homem e que devem ser reconhecidos e 
respeitados pelo Estado; impõem limites ao Estado; também chamados de liberdades públicas 
ou direitos de primeira geração. Ex: liberdade de religião, inviolabilidade do domicílio etc. 
Resumindo: Constitucionalismo é um movimento político‐social, de viés ideológico, cuja 
expressão mais forte se dá no século XVIII, voltado à imposição de limites ao poder estatal por 
meio da consagração dos direitos fundamentais e da adoção da técnica de separação dos 
poderes. 
 
2)Origens Remotas do Constitucionalismo: 
Civilizações teocráticas antigas (período dos direitos sacros): O soberano (figura divina) criava e 
executava normas, podendo relativizá‐las. 
Civilização hebraica: Súditos e soberano submetidos ao mesmo direito (de origem divina). 
Cidades‐Estado gregas: Várias normas limitavam os vários poderes políticos. Atribuições 
década magistratura (autoridade pública) definidas. Antecedente histórico do controle de 
constitucionalidade. Início da teorização dos melhores meios de controle do poder político 
(discussão das melhores formas de governo – Aristóteles). Antecedente do estado de sítio. 
Segundo Benjamin Constant:  
Liberdade para os antigos = liberdade de participação política. 
Liberdade moderna = esfera de liberdades garantidas que são expressão dos direitos 
fundamentais (não podem sofrer intervenção do Estado). 
Idade Média: Maior dificuldade de controlar o poder político devido à sua fragmentação. 
Direito costumeiro. Relações de suserania e vassalagem (pactos pessoais) que garantiam a 
proteção dos senhores feudais. Igreja atuando como limitador do poder político. São Tomás de 
Aquino adapta o pensamento de Aristóteles à realidade cristã. Na sua “Suma Teológica” ele 
defende que a única diferença entre o povo e o soberano é que este pode aplicar o direito de 
forma coercitiva. O soberano poderia ser afastado caso não cumprisse o direito (embrião do 
impeachment). 
 Estados Nacionais Modernos: Surgimento da burocracia (faz o poder do soberano atingir todo 
o território nacional). Fixadas regras de funcionamento de diversos órgãos públicos (não 
podem extrapolar suas funções). O monarca também tinha algumas limitações, já que não 
podia alterar as leis fundamentais do reino, como as regras de sucessão. O jogo político da 
época pressupunha uma divisão de forças entre o soberano,o clero e a nobreza. 
 
3)Constitucionalismo Liberal: 
MODELO INGLÊS (liberalismo histórico; tradição de limitação do poder) X MODELO FRANCÊS 
(liberalismo revolucionário; ideologia voltada para a derrubada das monarquias no século 
XVIII), com o modelo norte‐americano sendo um meio‐termo. 
I)Constitucionalismo Inglês: 
Matriz da separação de poderes (versão pragmática: separação dos poderes enquanto prática 
institucional); 
Ideia de monarquia constitucional, limitada; 
Supremacia do Parlamento (órgão legiferante ocupando papel central); 
Parlamento bicameral (dividido em duas câmaras); 
Controle jurisdicional das liberdades (só existe direito subjetivo se este for judicialmente 
tutelado). 
II) Constitucionalismo Francês: 
Teorização da separação de poderes (iniciada por Montesquieu: as práticas inglesas se 
transformam em algo passível de incorporação universal e em ideologia contra o absolutismo); 
Ideia de soberania nacional (retira a soberania do monarca e passa para a ideia abstrata de 
nação; na Inglaterra a sede da soberania é a Coroa, inviável no ambiente revolucionário 
francês); 
Construção da noção de direitos públicos subjetivos (o Estado deve preservar uma série de 
direitos fundamentais); 
Afirmação da Constituição como instrumento de cristalização de conquistas revolucionárias 
(demonstra a evolução político‐institucional; balanço do passado). 
III) Constitucionalismo Norte‐Americano: 
Forma federativa de Estado; 
Controle jurisdicional da constitucionalidade das leis (a cada juiz é dado controlar a 
constitucionalidade de cada lei); 
Ideia de separação rígida dos poderes (para Montesquieu a relação de harmonia entre os 
poderes permitiria certa influência entre eles). 
 
4)Ciclos do Constitucionalismo: 
a) Constitucionalismo Clássico (revoluções liberais até 1ªGM): 
‐ Constituições Revolucionárias (1776 com independência dos EUA até 1799 com a 
Constituição francesa): Influenciaram a derrubada das monarquias absolutistas. Constituição 
das antigas 13 colônias britânicas (experiência prévia). Constituição dos EUA de 1787. 
Constituição francesa de 1791. Constituição francesa de 1793 (“jacobina”), consagra um 
regime assembleísta de governo (todos os órgãos de governo reunidos na Assembleia). 
Declaração de Direitos do Homem e do Cidadão (documento apartado da Constituição*). 
*Ideia de bloco de constitucionalidade: Documentos com valor constitucional mesmo que não 
reunidos no mesmo corpo textual. Normas com status constitucional, mas que não integram o 
documento solene chamado Constituição. No Brasil temos: corpo permanente da CF; atos das 
disposições constitucionais transitórias (ADCT); emendas constitucionais que não se 
incorporam ao texto da CF; normas oriundas de tratados internacionais. 
‐ Constituições Napoleônicas (da Constituição francesa de 1799 até a restauração Bourbon em 
1814): Constituição francesa de 1799 (Consulado): primeira Constituição reacionária (reação 
aos movimentos extremistas pós‐Revolução). Textos que afirmam uma forte autoridade do 
chefe de Estado e diminuição da importância dos órgãos representativos. Recorre‐se à 
manifestação plebiscitária. 
‐ Constituições da Restauração (da restauração Bourbon em 1814 até 1830): Separação de 
poderes, mas com o soberano como árbitro nas relações institucionais. Poder real/neutro que 
seria um feixe que manteria a estrutura institucional de pé, segundo Benjamin Constant. 
Influencia o Poder Moderador brasileiro (Constituição de 1824). 
‐ Constituições Liberais (1830‐1848): Adotam normativamente um sistema parlamentar, com 
um primeiro‐ministro como chefe de governo e o rei como chefe de Estado (incorporam o 
sistema parlamentar já assentado na Inglaterra). 
‐ Constituições Democráticas (1848‐1918): Universalização do sufrágio masculino (maior 
legitimação popular e consagração da soberania popular e não mais da soberania nacional). 
 
b) Constitucionalismo Recente (após 1ªGM até hoje): 
Obs: Esses cinco ciclos não são sucessivos, sendo por vezes concomitantes. 
‐ Constituições Democráticas Racionalizadas (1919‐1940): Também chamadas de 
“Constituições dos Professores” por terem sido redigidas por professores de direito, em sua 
maioria. Reação à crise decorrente da 1ªGM (reestruturação de diversos países da Europa 
continental). Ampla discussão teórica sobre constitucionalismo. Aceitação do controle de 
constitucionalidade das leis (tribunais constitucionais). Consagração dos direitos sociais na 
Constituição de Weimar (1919). 
‐ Constituições Autoritárias (1919‐1945): Período entreguerras. Não são necessariamente 
Constituições, mas atos que alteram as já existentes.Ex: atos nacionais‐socialistas que alteram 
a Constituição de Weimar. 
‐ Constituições Social‐Democratas (1945 até a atualidade): Período pós‐2ª GM. 
Constitucionalismo de valores (afirmação nos textos constitucionais de valores que são a base 
do Estado e não podem ser colocados em risco pelo jogo político, com destaque para a 
dignidade da pessoa humana). Ex: Lei fundamental de Bonn, Constituição portuguesa de 1976 
e Constituição brasileira de 1988. 
‐ Constituições Socialistas (1917‐1991?): Retomam o assembleísmo jacobino (ideia de partido 
único se confunde com um único órgão de governo). Direito em segundo plano (Constituição 
balanço: registro das conquistas da Revolução até então). 
‐ Constituições dos Países em Desenvolvimento/Terceiro Mundo (atualidade): Importação de 
modelos constitucionais estrangeiros (tentativa de importar instituições criadas em países 
muito diferentes daqueles em que serão aplicadas). Ex: Constituições da América Latina 
(exclui‐se o Brasil) e da África em geral (exclui‐se a África do Sul). 
 
5) Atualidades do Constitucionalismo: 
a) Organismos Supranacionais 
Superação do modelo de Estado tradicional. Necessidade de se tratar o modo como o Estado 
nacional passa a se relacionar com esses organismos que tomam parcela da sua soberania 
(soberania: último poder de mando interno). Esses organismos tomam para si funções internas 
de um Estado, sendo a decisão de alguns temas dada na esfera supranacional, que se impõe à 
esfera nacional. Observa‐se um novo arranjo internacional que se aproxima do federalismo. 
União Europeia: É o maior exemplo desse tipo de organismo supranacional. Os países 
membros passaram por reformas constitucionais e seus textos constitucionais passaram a 
incorporar automaticamente as decisões supranacionais, as quais passam a valer localmente. 
Vale o princípio da subsidiariedade: só se transfere para a esfera de poder superior (UE) os 
assuntos que não podem ser resolvidos de maneira satisfatória pelas unidades inferiores 
(Estados membros).  Não há uma Constituição formal (documental), mas material (conjunto de 
regras que são seguidas). O direito europeu estuda os modos de institucionalização da UE (sua 
legitimidade democrática, os direitos que deve respeitar, como seus órgãos de poder se 
estruturam etc.). 
Em suma: 
Nos organismos supranacionais há uma transferência da estrutura constitucional nacional para 
o plano supranacional. 
Temos uma reprodução atual dos problemas enfrentados pelo Constitucionalismo nos séculos 
XVIII e XIX. 
Observa‐se uma diminuição do plano constitucional interno com a transferência de parte da 
soberania para os organismos supranacionais. 
b) Internacionalização do Constitucionalismo: 
Formação de um constitucionalismo mundial. A Suprema Corte americana usou normas de 
direito estrangeiro e decisões de tribunais internacionais para fundamentar seu julgamento 
em dois casos recentes (2005): Lawrence X Texas (sobre a criminalização da prática 
homossexual) e Ropper X Simmons (sobre a constitucionalidade da pena de morte para 
menores de 18 anos). A atualidade da discussão é uma constante no direito brasileiro, mesmo 
que a incorporação de decisões internacionais aqui seja feita de modo pouco científico 
(metodologia pouco clara). Aumento do campo do direito constitucional comparado. 
 
CONCEITO DE CONSTITUIÇÃO 
Konrad Hesse estabelece uma diferença fundamental entre o que é a Constituição para o 
Direito Constitucional e para a Teoria Constitucional (conceito vazio, sem utilidade segundo 
Hesse). Dependendo da perspectiva utilizada a resposta obtida é diferente, embora as duas 
visões sejam complementares. 
I)A Constituição na Teoria Constitucional (concepções do que é Constituição): 
‐ Concepção Garantista: A Constituição estabelece a separação de poderes e assegura direitos 
fundamentais. Trata‐se de uma concepção típica do liberalismo clássico (revoluções liberais). 
Busca impedir a interferência indevida do Estado na autonomia do indivíduo. Constituição 
como ordem racional para o funcionamento do Estado. Normas constitucionais universais, 
atemporais e apessoais (passíveis de exportação). Constituição como documento escrito e 
solene, produzido por um corpo extraordinário de representantes com legitimidade 
diferenciada (Poder Constituinte). Supremacia da Constituição em relação às outras normas. 
Matéria Constitucional: Temas que formam o núcleo de composição da Constituição e são a 
base da formação do Estado. 
‐ Concepção Tradicionalista: Relaciona‐se com as constituições da restauração. 
Constitucionalismo que busca recolocar os antigos monarcas como figuras centrais. A 
Constituição não é ato revolucionário, só o conjunto de regras que tradicionalmente regem a 
sociedade (Constituição fruto da tradição e não da vontade). Reação à concepção garantista. 
Evita‐se o termo “Constituição”, preferindo‐se “carta” ou “estatuto”. 
‐ Concepção Positivista: Volta a afirmar que a Constituição é um ato de vontade, mas do 
próprio Estado por meio dos seus órgãos de representação (crença no Poder Constituinte 
esvaziada). Constituição como algo posto pelo Estado (daí positivista). Adoção de um critério 
formal para definir Constituição: documento normativo que tem traços peculiares que a 
diferenciam das demais normas do Estado (forma mais estável, alteração mais difícil). Mesma 
fonte da lei ordinária (Estado), mas apresenta forma diferente, que garante sua supremacia. 
Essa ideia começa a ser questionada no período entreguerras. As críticas eram: 
1º) Como se justifica a supremacia da Constituição se a sua fonte é a mesma das leis 
ordinárias? 
2º) Como explicar um conjunto de normas vinculantes (tidas como obrigatórias) mesmo não 
inseridas no texto constitucional (sem forma diferenciada)? 
‐ Concepção Normativa: Defendida por Kelsen. Constituição como um conjunto de normas 
sobre competências (quem produz Direito e como produz), daí sua superioridade (elemento 
supremo do ordenamento jurídico). A norma ordinária/infraconstitucional é produzida a partir 
de regras definidas pela Constituição. A Constituição como sistema lógico‐formal não tem uma 
matéria própria (tira o conteúdo valorativo da Constituição, abrindo espaço para 
autoritarismos). O direito deve ser produzido pelas regras da Constituição porque esta é 
legitimada pela norma fundamental (norma hipotética que diria que a Constituição deve ser 
obedecida; aceitação social a respeito da Constituição), validando o sistema. 
‐ Concepção Decisionista: Defendida por Carl Schmitt em sua “Teoria da Constituição”. 
Constituição como decisão política fundamental da autoridade política que se impõe em 
determinada sociedade. Schmitt diferencia Constituição de lei constitucional. A primeira seria 
externa e anterior à segunda, que é o documento que vincula/traduz em termos normativos o 
que é Constituição. O guarda da Constituição é a autoridade política (líder, chefe de Estado). 
Ex: Constituição brasileira de 1937 (“polaca”). 
‐ Concepção Material (Sociológica): Ferdinand Lassale (1863 – A Essência da Constituição) 
separa Constituição real/efetiva da Constituição jurídica/documental (sem importância). A 
Constituição real seria um conjunto de fatores reais do poder (forças que de fato atuam na 
sociedade: políticas, militares, econômicas, sociais, religiosas). As instituições jurídicas devem 
obrigatoriamente refletir esses fatores reais de poder. Se não há harmonia entre Constituição 
real e jurídica, prevalece a real. 
Constantino Mortati: princípio da efetividade. Uma norma constitucional é válida quando ela é 
praticada. Seu critério de validade está na efetividade. 
‐ Concepção Valorativa: Fundamento as Constituições pós‐2ª GM. A Constituição seria o 
documento que consagra os valores fundamentais (que não podem ser alterados) de uma 
sociedade. Destaque para a dignidade humana. É uma concepção muito usada atualmente. 
Teoria dos direitosfundamentais (estes submetem todo o ordenamento jurídico). Na visão 
tradicional os direitos fundamentais são limitadores do poder do Estado, mas eles também 
podem ser aplicados nas relações entre indivíduos (relações horizontais). 
II) Matéria e Forma Constitucional: 
Variam de acordo com a concepção constitucional utilizada. 
‐ Matéria: Depende da concepção do que é Constituição, mas há consenso sobre alguns 
assuntos que devem estar sempre presentes numa Constituição, que são a organização do 
Estado e as garantias fundamentais do indivíduo. 
‐ Forma: Documento que apresenta algum diferencial em relação às normas ordinárias 
(variável). No Brasil: Corpo permanente da CF + normas do ADCT + normas avulsas de ECs + 
tratados internacionais incorporados. 
As normas podem ser: formal e materialmente constitucionais; só formalmente constitucionais 
(ex: previdência do servidor público) ou apenas materialmente constitucionais (ex: código 
eleitoral). 
Obs: Súmulas vinculantes são obrigatórias, têm função normativa, mas não adquirem forma de 
norma constitucional. 
III) Classificação das Constituições: 
‐ Quanto à origem (elaboração/formulação): 
a) Tradicionais: Constituições costumeiras. Suas normas se desenvolvem paulatinamente ao 
longo da história. Não apresentam uma única origem de poder constituinte, mas diversas 
manifestações de poder que formam a ordem constitucional. Ex: Inglaterra. 
b) Promulgadas: Também chamadas de Constituições votadas/populares/democráticas. 
Modelo típico das revoluções liberais (viés revolucionário). Têm fundamento democrático e 
instituem uma nova ordem jurídica/política. 
c) Outorgadas: São a manifestação de poder de uma autoridade que afirma a ordem pretérita 
(viés conservador). Ex: Constituições brasileiras de 1824, 1937, 1967 e EC 1/69. 
d) Cesaristas: Ato de outorga que busca legitimidade popular (por meio de plebiscito, por 
exemplo). Muitas vezes o líder político se vale de uma assembleia controlada por ele. São uma 
mescla das promulgadas com as outorgadas. Ex: Constituições Napoleônicas. 
e) Pactuadas: Ato de acomodação de forças (nem revolucionária, nem conservadora). Inovação 
observada a partir do final da década de 70 com a experiência espanhola: o rei Juan Carlos 
(sucessor escolhido por Franco) inicia um processo de transição do regime franquista para a 
democracia. As forças que se opunham ao franquismo são reconhecidas, mas alguns privilégios 
do regime anterior são mantidos (cada lado cede um pouco e forma‐se uma nova ordem). 
‐ Quanto à relação com a realidade: 
a) Normativas: Plena aderência à realidade. As normas constitucionais são plenamente 
praticadas e respeitadas pelas forças políticas, permitindo uma limitação efetiva do poder do 
Estado. 
b) Semânticas: Meros instrumentos de legitimação de uma autoridade (governante) que não 
obedece a essas normas constitucionais. Não são vivenciadas como obrigatórias, não guardam 
relação com a prática/realidade. 
c) Nominais: Meio termo entre as duas anteriores. Algumas normas têm plena aderência à 
realidade (são vinculantes/obrigatórias), mas também há uma série de preceitos que buscam 
construir uma realidade normativa para o futuro (normas programáticas, não vinculantes: 
estabelecem metas a serem atingidas pelo Estado; Doutrina da Constituição Dirigente). 
‐ Quanto à forma: 
a) Unitárias (codificadas): Normas constitucionais reunidas num único documento (única 
compilação). 
b) Plurais (não codificadas/variadas/pluritextuais): Normas constitucionais inseridas em vários 
diplomas jurídicos/legais. 
Obs: CF brasileira de 1988 é plural, embora a doutrina a aceite como unitária. 
Obs ²: Bloco de constitucionalidade – conjunto de normas com igual força constitucional 
mesmo sendo de documentos diferentes. 
‐ Quanto ao processo de modificação: 
a) Flexíveis: Modificável segundo as mesmas regras de alteração das normas ordinárias. 
Supremacia da Constituição é afetada (sem elemento de supremacia formal, só material – que 
pode ser relativizado a qualquer momento). Modelo histórico, ausente do mundo ocidental na 
atualidade.  
b) Semiflexíveis/semirrígidas: Parcela da Constituição é alterada pelas legislaturas 
comuns/ordinárias e parcela de modo especial/diferenciado.  
c) Rígidas: Constituições dotadas de supremacia plena. Para sua modificação se exige ou um 
procedimento diferenciado (mais complexo) ou a investidura de um órgão especial. 
d) Super‐rígidas: Forma especial de Constituição rígida. Conjunto de matérias intocáveis, que 
não poderiam ser alteradas (cláusulas pétreas). Limite material + limite formal. 
IV) Princípios Constitucionais: 
1)Conceito: 
a) Concepção tradicional/clássica: Amplamente adota em diversas disciplinas jurídicas. 
Princípios como elementos fundamentais de uma disciplina, ordenamento ou instituto. 
b) Concepção moderna: Influência de Alexy e Dworkin. Adotada pela Teoria dos Direitos 
Fundamentais. O princípio é caracterizado pela sua estrutura normativa (questão formal). 
‐ Regras: Normas jurídicas fixas. Normas de “tudo ou nada” (ou a regra incide ou não, sem 
meio‐termo). Formuladas de tal maneira que se projetam totalmente na realidade (se A é, B 
deve ser). Quando duas normas incidem sobre um mesmo conflito, exclui‐se uma delas em 
benefício da outra. 
‐Princípios: Mandamentos de “otimização”, aplica‐se o princípio de maneira otimizada 
dependendo das circunstâncias. Em caso de conflito identifica‐se uma solução que permita a 
aplicação máxima (em maior grau) dos dois princípios na mesma relação jurídica 
(sopesamento de princípios).  
2) Princípios na CF de 1988 (BR): 
Constituição altamente principiológica, formulada de maneira extremamente genérica e 
usando diversos princípios (de ordem econômica, social). 
a)Princípios Jurídicos Fundamentais: Podem ser explícitos ou implícitos (decorrências lógicas 
necessária a partir do texto constitucional). Referenciais normativos historicamente 
construídos, que compõem o senso jurídico comum da sociedade política. Ex: devido processo 
legal, princípio da legalidade etc. 
b) Princípios Políticos Conformadores: Base da organização político‐institucional do Estado. Ex: 
como se divide territorialmente o poder, como se estabelece a alternância de poder etc. Art. 
1º e art. 2º CF. 
c) Princípios Impositivos: Definem os objetivos/fins do Estado (Constituição Dirigente). Art. 3º 
e art. 170. 
d) Principios‐Garantia: Direitos fundamentais que estabelecem limites à atuação do Estado, 
protegendo o indivíduo. Art. 5º. 
Princípios fundamentais (art. 1º ao art. 4º): Abrem a Constituição de 1988 e exprimem a 
decisão política fundamental do constituinte (resumo normativo essencial da CF de 88). Base 
para o desenvolvimento dos demais artigos da CF. Consagração da fórmula do Estado 
Democrático de Direito. 
Estado Democrático de Direito (3 vertentes): Anglo‐saxônica (rule of Law), alemã e francesa. 
Stahl: Os meios e os fins do Estado são definidos pelo Direito. Prof. Manoel acrescenta: 
princípio da legalidade (elemento de limitação do poder estatal); princípio da isonomia (típico 
dos franceses); principio da judicialidade (verificação da legalidade/constitucionalidade). 
Cidadania: Concepção tradicional = titular de direitos políticos (pode votar e ser votado). 
Alargado recentemente: engloba referenciais sociais. 
Dignidade da pessoa humana: Conceito de definição difícil, utilizado excessivamente. 
Participação direta do povo: Plebiscito, referendo e iniciativa popular. 
A Constituição não incorporou nenhuma teoria sobre a separação dos poderes, ou seja, a 
separação de poderes é simplesmente o que está definido na CF.  
Preâmbulo da CF: Enuncia os princípios que orientaram sua elaboração. Não é uma norma 
(sem valor vinculante), mas é tomado como um importante referencial interpretativo do texto 
constitucional. 
V) Eficácia das Normas Constitucionais: 
(Eficácia = se a norma é aplicável ao caso concretoe não se ela produz efeitos na realidade 
social) 
Modelo dos EUA adotado pelo republicanismo brasileiro: 
Self‐executing: não dependem de outra lei; reúnem todos os elementos necessários a sua 
execução. 
Non self‐executing: dependem de uma lei que preencha as lacunas deixadas pelo constituinte; 
demandam complementação posterior (do legislador ou administrador). 
1)Doutrina Tradicional: 
Amplamente aceita pelo Direito Constitucional brasileiro. 
Normas auto‐executáveis/normas bastantes em si ( = self‐executing). 
Normas não auto‐executáveis/normas não bastantes em si ( = non‐self executing): 
‐Incompletas: O constituinte simplesmente menciona um instituto, mas não especifica 
elementos que são necessários para sua existência. Ocorre principalmente com órgãos 
públicos. Ex: AGU (como se faz o concurso etc.). 
‐ Condicionadas: O constituinte opta por submeter a eficácia da norma a uma ação legislativa 
posterior. Condiciona um direito constitucional a uma decisão legislativa. Ex: direito de greve 
do servidor público (resolvido pelo STF). 
‐ Programáticas: Estabelecem objetivos a serem alcançados pelo Estado (metas que dependem 
de leis, mas principalmente de políticas públicas). 
Obs: Pode ocorrer inconstitucionalidade pela omissão do legislador/administrador por não 
permitir a implementação de um direito constitucional. 
2) Doutrina José Afonso da Silva:  
É a mais acatada pelos tribunais e pelos manuais. 
‐ Normas de eficácia plena (equivale às auto‐executáveis): Reúnem todos os elementos para 
sua aplicação; normas absolutas (não podem, em tese, sofrer limitação legal). 
‐ Normas de eficácia contida: Inovação dessa doutrina. Possuem todos os elementos 
necessários à sua execução no texto constitucional, mas podem sofrer limitações legais. 
Obs: Essa distinção entre normas de eficácia plena e normas de eficácia contida é 
insustentável, pois todas as normas constitucionais são limitadas de alguma forma. 
‐ Normas de eficácia limitada (equivale às normas não auto‐executáveis): Ainda que não 
tenham eficácia positiva elas têm eficácia negativa (revoga normas com ela colidentes e serve 
de controle de constitucionalidade). Se divide em: (i) normas de princípio institutivo (criam 
órgãos, institutos etc. e equivalem às normas incompletas) e (ii) normas de princípio 
programático (equivale às normas programáticas). 
 
PODER CONSTITUINTE 
Teoria marcada pelo desenvolvimento inicial do Constitucionalismo (construção ideológica 
para explicar a supremacia da Constituição). Transforma‐se em um referencial importante para 
o Direito Constitucional. É um poder pré‐jurídico (fundador da ordem jurídica). 
I)Noções Gerais: 
‐ Origens: O primeiro autor a refletir sobre essa teoria foi Sieyès. Propões a elaboração de um 
órgão diferenciado, composto pelos representantes da nação e não do povo. O poder 
constituinte para ele seria um poder jurídico por estar abaixo do Direito Natural. 
‐ Poder Constituinte Originário: É o verdadeiro poder constituinte, aquele que pode inaugurar 
uma nova ordem constitucional sem nenhum referencial anterior. Para Sieyès o titular desse 
poder seria a nação e para Burdeau o povo real. Modernamente seu titular é o povo. 
‐ Poder Constituinte Derivado/Instituído: É tutelado pela ordem constitucional vigente. 
Subdividido em Poder Constituinte de Reforma (permite a atualização do texto constitucional 
dentro de limites estabelecidos por esse mesmo texto constitucional) e Poder Constituinte 
Decorrente (auto‐organização política e administrativa das subdivisões nacionais autônomas). 
II) Poder Constituinte Originário: 
1)Ilimitado. Perspectiva positivista (adotada no Brasil): nega qualquer limite jurídico ao poder 
constituinte originário. 
2)Incondicionado. Pode se apresentar nas mais diversas conformações (sem limites 
formais/procedimentais). 
3)Inicial. Cria uma nova realidade normativa, inicia uma nova ordem jurídica. 
Problemas: Constituição Antiga X Constituição Nova 
Geralmente a Constituição Nova revoga a anterior, exceto em caso de revalidação expressa 
(menciona artigos da Constituição anterior, mantendo‐os) ou revalidação indireta/reflexa 
(repete palavras com sentido específico usadas na Constituição passada, referindo‐se ao 
sentido pretérito e já assentado dos termos). 
Desconstitucionalização (Direito Francês): Parte do pressuposto de que existem normas 
materialmente constitucionais e outras só formalmente constitucionais. A nova Constituição 
revoga as normas materialmente constitucionais da antiga Constituição e desconstitucionaliza 
as formalmente constitucionais (passam a ser normas ordinárias). 
Constituição Nova X Normas Infraconstitucionais Pretéritas 
Concepção positivista: Todo o ordenamento encontra fundamento de validade na 
Constituição, logo quando ela deixa de existir todo esse ordenamento perde sua validade 
(produção de um vácuo normativo). Embora correta do ponto de vista teórico, isso não se 
aplica na prática. Há situações em que a nova Constituição revalida o Direito anterior 
(expressamente, ex: Constituição brasileira de 1824). 
Teoria da Recepção (Kelsen): Modo abreviado de produção normativa. Conta com dois 
momentos lógicos. 1º momento: retira o fundamento do ordenamento jurídico. 2º momento:  
o responsável pela aplicação do Direito verifica se a norma  é compatível com a nova 
Constituição; em caso afirmativo ele aplica a norma (recepciona) e em caso negativo não aplica 
essa norma na prática.  
Juízo de Recepção: Análise de compatibilidade material (não formal). Avalia se o conteúdo das 
normas é incompatível. Normas editadas na sua origem de uma forma e recepcionadas de 
outra. 
No Brasil: A nova Constituição revoga as normas infraconstitucionais anteriores, mas não as 
considera inconstitucionais.  
Inconstitucionalidade: só o plenário pode declarar inconstitucionalidade (regra da reserva de 
plenário). Revogação: qualquer órgão fracionário pode revogar (só um grupo, só uma turma), 
sem necessidade de apreciação do plenário. 
III)Poder Constituinte de Reforma: 
1)Conceito: Poder que a Constituição institui para permitir alterações no seu texto (conteúdo) 
dentro de limites definidos pela própria Constituição. É derivado/instituído. Não é inicial, não é 
incondicionado nem ilimitado (limites materiais: cláusulas pétreas). 
2)Procedimento (restrições procedimentais): No Brasil o poder de reforma é historicamente 
atribuído ao legislativo, mas podem ser criados órgãos extraordinários especialmente eleitos 
para esse fim, como ocorre em outros países. Há procedimentos para a alteração da nossa 
Constituição (que é rígida) definidos no art. 60 (CF).  
Restrição do poder de iniciativa: presidente da República; 1/3 dos senadores/deputados 
federais; maioria das Assembleias Legislativas Estaduais (esta última nunca praticada sob a CF 
de 88; existe porque a CF rege o modelo federalista, mas na prática é mais fácil usar a via 
parlamentar). 
Essa restrição buscava dificultar o início do processo de alteração da Constituição e ao mesmo 
tempo facilitar a tramitação da emenda, que já contaria com apoio de 1/3 dos 
senadores/deputados. Atingir esse 1/3 se tornou fácil com a prática do apoiamento (mera 
chancela para a tramitação da emenda, sem o parlamentar se comprometer em votar a favor 
da mesma no futuro). 
Tramitação da emenda: Estabelecida uma comissão especial para discutir a proposta na 
Câmara/Senado. A proposta deve ser aprovada com 2 turnos de votação com quórum 
qualificado de 3/5. O período entre os turnos de votação (interstício) não é fixo, sendo 
definido pelo regimento interno da Câmara/Senado. Daí a prática de quebra de interstício em 
que se vota tudo no mesmo dia (o STF entende esse procedimento como regular, uma vez que 
o interstício não está definido na CF, sendo uma regra interna). Se o texto da emenda for 
modificado a contagem de tempo se reinicia até a proposta ser votada 4 vezes (duas na 
Câmarae duas no Senado). 
Ação Declaratória de Constitucionalidade nº3 (ADC 3 do rel. min. Nelson Jobim): Quando a 
alteração for de mera redação, não é necessário reiniciar a contagem (alteração da forma e 
não conteúdo). 
Aprovada a emenda vai para promulgação (a lei é apresentada à população e se torna dotada 
de executoriedade), feita pelas mesas das  casas do Congresso (sessão conjunta). Independe 
da sanção/veto do Presidente da República.  
Rejeitada: só pode ser apresentada na próxima sessão legislativa. 
3) Limitações Circunstanciais: 
Quando não houver ambiente político‐institucional adequado para alterar a Constituição 
(alguma instituição exercendo poderes excepcionais). Segue um modelo francês de restrições 
pontuais durante uma crise. 
‐ Momentos de intervenção federal (art. 34): a União intervém para restaurar a ordem 
constitucional em um estado membro, quando este viola um princípio sensível (jurisprudência 
do STF é desfavorável a esse tipo de intervenção). 
‐ Momentos de estado de defesa (art. 136): estado de defesa é quando há um regime de 
exceção mais brando, invocado em caso de paralisação do funcionamento das instituições em 
áreas limitadas do território nacional ou catástrofes naturais e que suspende algumas 
garantias constitucionais do cidadão conferindo mais poder/agilidade para lidar com a 
situação; um decreto deve ser submetido e aprovado pelo Congresso. 
‐ Momentos de estado de sítio (art. 137): estado de sítio é um regime de exceção mais severo, 
invocado em situação de guerra ou conflito interno (comoção intestina), as quais põem em 
risco as instituições constitucionais; nele há aumento do número de garantias constitucionais 
suspensas. 
4)Limitações Materiais: 
Cláusulas pétreas. Segundo o STF é possível mudar sua forma, mas não sua essência, 
constitucionalmente protegida (ex: a separação de poderes pode mudar desde que não ocorra 
concentração de poder num único órgão). São elas:  
‐ Federação; 
‐ Separação de poderes; 
‐ Voto (direto, secreto, periódico e universal); 
‐ Direitos fundamentais. 
5)Limitações Temporárias: Não existem na CF de 88, mas existiam na Constituição de 1824. É 
um período em que a Constituição não pode ser alterada (teste de sua eficácia e aceitação). 
6) Revisão Constitucional (1993): 
Art. 3º ADCT: ½ dos membros do Congresso Nacional. Editadas somente 6 ECRs, votadas de 
forma simplificada e com consequências limitadas (discute‐se uma nova revisão). Matérias de 
importância secundária na organização institucional. 
Teoria da dupla revisão: Ideia de que não há limitação absoluta ao poder de reforma a ser 
exercido pela gerações futuras e de que as cláusulas pétreas e os procedimentos especiais não 
são limitações absolutas. Não haveria referência explícita ao art.60 como cláusula pétrea ao 
poder de reforma. Essa teoria pode ser entendida como revolução (ponto de vista Kelseniano) 
e é uma tese minoritária no direito brasileiro, sendo que a maioria entende essa teoria como 
uma fraude (meios lícitos para atingir fins ilícitos) à Constituição. Num primeiro momento se 
modificaria o dispositivo (cláusula pétrea) e não o conteúdo por ele protegido. Posteriormente 
o conteúdo desse dispositivo (não mais uma cláusula pétrea) poderia sofrer alterações. 
IV)Poder Constituinte Decorrente: 
1)Conceito: Competência que as unidades subnacionais têm para se auto‐organizar político‐
institucionalmente. Presente desde a proclamação da República no Brasil (lei orgânica, lei 
autônoma, Constituição estadual etc.). CF (art. 25 caput, art. 29 caput, art. 11 ADCT). 
 2)Limites: A CF só estabelece limites decorrentes dos princípios constitucionais. Gradualmente 
os estados membros foram sofrendo limitações maiores por parte da jurisprudência do STF. 
Ampliação das normas de observância obrigatória pelo estado membro (centralização 
normativa), restaurando o princípio da simetria na atualidade. 
Princípio da Simetria: A mudança da CF automaticamente alteraria o direito positivo dos 
estados membros (EC 1/69, art. 200). Não encontra paralelo na CF de 88. 
Põe‐se em xeque o federalismo brasileiro (federação nominal – projeto de federação ou 
federação só na forma). 
 
EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO CONSTITUCIONALISMO BRASILEIRO  
Forma de Estado: Como o poder se organiza territorialmente. 
Forma e sistema de governo: Modo como se estrutura a chefia de Estado.  
Monarquia (chefia de Estado vitalícia e hereditária) /República (chefia de Estado temporária e 
eletiva). 
Parlamentarismo (origem inglesa; chefia de Estado é diferente da chefia de governo; esta 
última pertence à maioria do parlamento) /Presidencialismo (origem nos EUA; mesma 
autoridade como chefe do Estado e chefe de governo). 
Regime de governo: Legitimidade que detém o governante para o exercício de poder 
(Democrático/Autoritário/Totalitário). 
Obs: Conferir quadro dado na aula. 
Análise da legislação constitucional brasileira. 
Marco do constitucionalismo brasileiro: Constituição de 1824 (apesar de existirem tentativas 
anteriores de constitucionalização, como a Confederação do Equador etc.). 
Constituição de 1824: 
Constituição mais longeva do Brasil; Constituição semiflexível. 
Constitucionalismo original se comparado ao período republicano (após a proclamação da 
República as instituições permanecem mais ou menos iguais até a atualidade). 
Elementos integralmente distintos do constitucionalismo republicano. 
Poder Constituinte do Imperador: Constituição outorgada (dissolve a Assembleia Constituinte 
e chama o Congresso de Estado). 
O Império não admitia autonomia das províncias em relação ao governo central (separação 
meramente administrativa). 
Introdução de alguns traços federalistas com o Ato Adicional de 1834 (única emenda dessa 
Constituição): criação de Assembleias Legislativas Provinciais, que dispunham sobre matéria de 
interesse local. 
Maioridade do Imperador: tendência de centralização (lei de 1840 que interpreta o Ato de 
1834); tentativa de retomar os poderes conquistados pelas províncias (política do regresso); 
tensão entre poder local e poder central até o fim da monarquia. 
1º Reinado: Monarquia presidencial, com a chefia de Estado e de governo exercidas pelo 
Imperador, apesar das limitações constitucionais. 
2º Reinado: Imperador como chefe de Estado. Apesar da Constituição não ter sido alterada 
havia uma prática institucional parlamentarista (Presidente do Conselho de Ministros se 
assemelhava ao primeiro‐ministro e era nomeado pelo Imperador entre as lideranças 
políticas). 
Imperialismo: Uso do poder pessoal do Imperador para interferir na vida política, o que gerava 
várias crises institucionais; alteração das maiorias parlamentares, daí “parlamentarismo às 
avessas” (falta de representatividade do sistema parlamentar do Império). 
Na regência os regentes exerciam somente a chefia de governo por tempo limitado, mas o 
Imperador continuava como chefe de Estado. 
Regime democrático, mas próprio daquele período histórico (direitos políticos restritos a uma 
pequena parcela da população). 
Constituição de 1891: 
Constituição promulgada. 
Proclamação da República e rompimento com a tradição jurídica europeia (francesa) e adoção 
do constitucionalismo dos EUA (importação de instituições + expressa recomendação para 
seguir a jurisprudência norte‐americana). 
Direcionamento das atividades do Congresso Constituinte: esse Congresso tinha um projeto de 
Constituição a ser analisado; até essa análise ficava vigente a Constituição Provisória de1890 
(decreto 510). 
As províncias passam a se chamar estados. 
Federalismo dualista: competências da União e dos estados são definidas e radicalmente 
separadas (sem possibilidade de ação conjunta). Todos os poderes que não eram 
expressamente da União ficavam com os estados (competência residual). Os estados tinham 
ampla liberdade de organização, desde que respeitada a República, a separação de poderes e 
o presidencialismo(ex: diferentes códigos civis por estado, estados com senado etc.). 
Presidencialismo clássico (modelo dos EUA): presidente com limitado poder legislativo (só 
veto). 
Democracia liberal: reconhecimento do voto direto e não mais censitário; eleições irregulares 
e partidos políticos como agremiações regionais (sem ideologia e sem influência nacional). 
Amplo reconhecimento do controle de constitucionalidade das leis pelo Judiciário (decreto 848 
de 1890 que fixa o STF como última instância dessa análise). 
Doutrina Brasileira do habeas corpus (precursora do mandato de segurança): interpretação 
extensiva que o STF passou a dar ao habeas corpus a partir de 1910; aplicação do habeas 
corpus para garantir direitos que dependiam do exercício de ir e vir; passou a ser usada contra 
o governo federal em casos de intervenção nos estados ou quando declaravam estado de sítio 
ilegalmente; emenda de 26 (encerra essa interpretação; habeas corpus só quando a liberdade 
de ir e vir for objeto direto da ação). 
Constituição de 1934: 
Quebra da República Velha com a Revolução de 1930. Vargas na chefia do governo provisório. 
Pressão pela reconstitucionalização do país. 
Revolução de 32: SP reivindica essa reconstitucionalização pela via armada. Resultados: 
convocação de eleições, criação da justiça eleitoral e Assembleia Constituinte de 34. 
A Assembleia Constituinte de 34 trabalhou livremente (sem projeto prévio de Constituição); 
era composta por constituintes eleitos e por delegados classistas (eleitos por sindicato e não 
voto popular; corporativismo: representação política para as classes produtivas do país). 
Inauguração da forma cooperativa de federalismo (consagrada inicialmente na Constituição de 
Weimar): passa a existir um compartilhamento de competências entre a União e os estados, 
embora ainda exista separação de competências; com esse novo modelo de federalismo os 
estados passam a ter recursos para exercer competências até então negligenciadas. 
Presidencialismo atenuado: alguns institutos parlamentaristas somados aos órgãos 
corporativistas relativizam as funções do presidente. 
Inaugura o constitucionalismo social no Brasil (também na linha da Constituição de Weimar): 
primeira Constituição brasileira a consagrar direitos sociais (saúde, educação etc.). 
Vigorou por pouquíssimo tempo. 
Representação interventiva: primeiro instrumento de controle concentrado de 
constitucionalidade que se institui no Direito brasileiro (pré‐requisito para intervir num estado, 
vai direto para o STF). 
Constituição de 1937: 
Instauração de um regime autoritário. 
Constituição outorgada (vontade pessoal do presidente). 
O presidente concentrava a maior parte dos poderes. 
Federalismo nominal, pois o Estado era de fato unitário. 
Art. 187: aprovação plebiscitária que nunca ocorreu. 
Enquanto não houvesse eleições não haveria parlamento. 
Figura do decreto‐lei: meio para o Presidente da República exercer os poderes do parlamento 
enquanto este não fosse instituído. 
Declaração de inconstitucionalidade das leis pelo STF podia ser suspensa pelo Presidente. 
Constituição de 1946: 
Queda do Estado Novo. Na ausência de um vice‐presidente o governo provisório fica com o 
ministro José Linhares (STF). 
Eleições e Assembleia Constituinte (com amplo espectro de representação partidária e livre de 
qualquer projeto prévio de Constituição). 
Separação entre Executivo e Legislativo. 
Direitos sociais (estendidos). 
Retorno ao federalismo cooperativo: União fica com as normas gerais e os estados ficam com 
as normas específicas de adaptação à realidade local (critério usado até hoje). 
Sucessivas crises políticas que levam a crises constitucionais. 
Regime parlamentarista (emenda do parlamentarismo). 
Representação de inconstitucionalidade: Atual Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI); 
antes só podia ser proposta pelo procurador‐geral da República. 
Constituição de 1967: 
Impasse jurídico resolvido através do Ato Institucional: constitucionalização do movimento 
militar de 64. 
Constituição nominal: altamente democrática, republicana e protetora dos direitos 
fundamentais do ponto de vista formal, mas não na prática. 
Federalismo limitado. 
Presidencialismo clássico (com preponderância do Executivo na prática). 
Tensão entre o Gal. Castello Branco (favorável a uma reconstitucionalização mais rápida do 
país) e Costa e Silva (ala mais radical do movimento militar). Nova Constituição para retirar os 
vícios da Constituição de 1946, fazendo com que todos sigam a Constituição. 
Deixa de vigorar formalmente com o AI5. 
Constituição de 1969 (EC 1/69): 
Junta militar baseada no AI5 reescreve a Constituição de 67 com algumas alterações. 
Federalismo limitado: princípio da simetria. 
Presidencialismo autoritário: amplos poderes para o Presidente. 
Regime de governo autoritário. 
Expressa incorporação do AI5 até este ser revogado. 
Com Geisel (1974) há o retorno do grupo ligado a Castello Branco ao poder e a abertura 
política é iniciada (fim do AI5 e começo das tratativas sobre a lei de anistia do governo 
Figueiredo). 
Sucessão de Figueiredo por Tancredo/Sarney: quebra do regime militar. 
 
DIREITO DE NACIONALIDADE 
1)Conceito: Elemento que vincula um indivíduo a determinado Estado/povo. 
2)Tipos de Nacionalidade: 
a)nata (nacionais originários): desde o nascimento;  
b)adquirida (naturalizados): não são originariamente nacionais, adquirindo a nacionalidade 
pelas regras estabelecidas pelo Direito brasileiro. 
É vedada qualquer desigualdade entre essas 2 categorias (CF, art. 12,§2º) exceto aquela feita 
pela própria CF (art. 12, §3º). 
3)Nacionalidade Originária: 
Plena condição de titularidade de direitos políticos. 
No Brasil há mescla de dois critérios: “jus soli/loci” (nascidos no território) e “jus sanguinis” 
(nascidos de nacionais; ascendência). 
Art. 12, I, CF: 
a)jus soli: nascidos no Brasil (território estendido), exceto filhos de estrangeiros a serviço 
oficial do seu país. 
b)jus sanguinis+critério funcional: nascido no estrangeiro de pai ou mãe a serviço do Brasil 
(conceito amplo). 
c)jus sanguinis + registro consular (pai ou mãe brasileiros que não estão a serviço do país, mas 
registram o filho em repartição brasileira) OU residência com opção confirmativa (mesmo caso 
que o anterior, mas sem registro; a partir do reconhecimento da nacionalidade pela justiça, a 
nacionalidade passa a ser retroativa). 
4)Nacionalidade Derivada: 
‐Naturalização ordinária (art. 12, II, a, CF): Segue o rito da lei 6.815/80 (estatuto do 
estrangeiro). Exceção: nacionais de países de língua portuguesa com bons antecedentes têm 
uma forma abreviada de obter a nacionalidade. Não há direito subjetivo (pode reunir todos os 
requisitos e não ter a nacionalidade concedida). 
‐Naturalização extraordinária/quinzenária (art. 12, II, b, CF): Direito subjetivo (a nacionalidade 
só precisa ser reconhecida; ato declaratório). Quinze anos de residência ininterrupta no Brasil 
sem condenação criminal (e sem estar ilegal) desde que a nacionalidade seja requerida. 
 
HERMENÊUTICA E INTERPRETAÇÃO DA CONSTITUIÇÃO 
1)Conceito: Parte do Direito que estuda os métodos/princípios de interpretação jurídica, 
promovendo mediação entre concepções gerais/abstratas e a realidade sobre a qual incidem 
essas normas, limitando o poder do Estado. Cada ramo do Direito tem suas especificidades 
interpretativas. A lógica de interpretação constitucional é mais recente (remonta às origens da 
Constituição moderna). Constituição como aquilo que seus intérpretes dizem que ela é (no 
Brasil o intérprete máximo da Constituição é o STF). 
‐Hermenêutica Constitucional Clássica: Autores dos EUA, século XIX. Ato interpretativo de 
natureza cognitiva (conhecimento da norma; intérprete com papel exclusivamente dedutivo: 
delimita o conteúdo já posto pelo constituinte). 
‐Nova Interpretação Constitucional: Constituição Italiana de 47 e Lei Fundamentalde Bonn de 
49 (Constituições social‐democratas) como forças propulsoras dessa nova interpretação 
constitucional. Autores: Konrad Hesse, Peter Häberle, Gustavo Zagrebelsky; min. Barroso. 
Interpretação não como ato de conhecimento, mas um ato pelo qual o intérprete constrói a 
norma. Segundo o ministro Eros Graus: distinção entre texto (o que está escrito na 
Constituição, referencial primeiro a partir do qual o intérprete constrói a norma) e norma 
constitucional. Interpretação para definir qual é a norma. Quanto mais se admite que o órgão 
responsável pela interpretação da Constituição se baseia na vontade (aspecto volitivo), maior 
sua abertura a inovações jurisprudenciais, maior seu poder (“ativismo jurídico”). Para seus 
adeptos, devem‐se somar novos métodos de interpretação aos métodos clássicos. 
Preponderância da figura do intérprete, que não raro suplanta a figura do constituinte. Busca 
dar resposta à nova forma com que as Constituições passaram a ser redigidas após a 2ªGM 
(Constituições principiológicas que exigem um maior esforço interpretativo, daí a necessidade 
de mudança do papel do intérprete e a insuficiência da hermenêutica constitucional clássica). 
Se baseia no referencial teórico do “pós‐positivismo”; sem grandes inovações teóricas, apenas 
uma reformulação retórica dos métodos clássicos. 
2)Métodos Clássicos de Interpretação: 
a)Gramatical: Busca retirar o sentido da norma a partir do sentido das palavras utilizadas pelo 
legislador. É o método mais elementar e fundamental do Direito, apesar dele ser cada vez mais 
tido como um método “pobre” de interpretação na cultura jurídica brasileira. Deve ser o 
primeiro método utilizado (a clareza das palavras afasta a necessidade de interpretação por 
outros métodos; indica o limite do intérprete). No âmbito do Direito Constitucional as palavras 
devem ser tomadas no seu sentido corrente e não técnico. 
b)Sistemático: Constituição como um documento único que se apresenta como um sistema, ou 
seja, um conjunto de normas que têm finalidades/objetivos comuns, não sendo possível 
interpretar um dispositivo da Constituição isoladamente, sob pena de reduzir o conteúdo 
normativo desse dispositivo. Afasta o método geográfico (segundo o qual cada título/capítulo 
da Constituição teria uma lógica própria; normas constitucionais agrupadas por conteúdo 
semelhante). Conexões sistemáticas necessárias: Direitos e Garantias Fundamentais se 
expandem para outros títulos/normas da Constituição. 
c)Histórico:Duas perspectivas. 1ª)Modo como uma norma constitucional longeva foi 
interpretada ao longo dos anos (interpretação geralmente aceita). 2ª)Recurso aos trabalhos do 
constituinte (conhecer a vontade política que motivou o constituinte a criar a norma). É um 
método de importância secundária, que é mais comum e mais relevante para o Direito 
Constitucional do que para os outros ramos do Direito. A abrangência da norma se relaciona 
com o momento fundante da nova ordem constitucional. 
d)Sociológico: Busca conferir a maior efetividade social ao texto constitucional, ou seja, fazer 
com que a Constituição tenha a mais ampla aplicação prática. Procura fazer com que não 
exista um descompasso entre o que é prescrito pela Constituição e o que ocorre na realidade 
concreta. Interpretação para aumentar a incidência da Constituição na realidade social 
(preferência por aquela interpretação mais apropriada para regular as relações institucionais 
existentes). 
e)Teleológico: Busca fazer com que a Constituição atinja suas finalidades. Estas devem servir 
de guia para o intérprete da Constituição. Cada norma constitucional específica tem sua 
própria finalidade que deve ser respeitada pelo intérprete. Interpretação mais adequada para 
os objetivos do Estado e das próprias normas. 
3)Princípios da Nova Hermenêutica: 
a)Supremacia da Constituição: Sem conteúdo própria, apenas impõe a prevalência da 
Constituição sobre qualquer outra norma. 
b)Presunção de Constitucionalidade das Leis: Fator de auto‐limitação judicial (o juiz sempre 
deve partir do pressuposto de que a lei é constitucional; a declaração de inconstitucionalidade 
da lei é o último recurso do intérprete/julgador). 
c)Interpretação Conforme à Constituição: Decorrência necessária dos dois princípios 
anteriores. Para interpretar uma norma com vários sentidos possíveis, deve‐se optar pela 
interpretação que a torne constitucional (conforme a Constituição). 
d)Unidade da Constituição: As diversas partes do conjunto constitucional devem conviver de 
modo harmônico. 
e)Efetividade: Entre interpretações alternativas possíveis deve‐se privilegiar aquela que 
permita cumprir os objetivos do Estado. 
f)Razoabilidade/Proporcionalidade: Os fins da norma constitucional devem ser observados 
pelo intérprete para evitar injustiças no caso concreto. 
 
DIREITOS POLÍTICOS 
Estudo de como a Constituição garante ao indivíduo participação na tomada de decisões 
políticas. Os direitos políticos formam um conjunto de normas que disciplinam o direito de 
sufrágio. 
Democracia: liberdade de expressão e igualdade como sua essência. 
Aspiração constitucional (caráter programático): Busca da igualdade material (cabe aos 
Estados modernos assegurar direitos sociais, como a educação, para que todos possam 
manifestar sua opinião sobre o funcionamento do Estado de maneira igualitária). 
A democracia é um conceito que varia no tempo e no espaço, e as instituições devem 
acompanhar essas mudanças para que exista de fato um governo democrático. 
Incompatibilidade entre Estado moderno e democracia direta. 
Democracia como governo de uma elite democrática (representantes) que deve governar pelo 
povo e para o povo. Essa elite democrática é composta pelas lideranças da população e por 
isso deve ser tão plural como a sociedade. 
Segundo o Prof. Manoel Gonçalves a mobilidade social é imprescindível para a democracia, 
pois permite o acesso de outros grupos a essa elite democrática. 
Nem sempre o povo seria capaz de governar, mas seria capaz de escolher seus representantes: 
referencial aristocrático (Montesquieu ‐ escolha dos melhores) e posteriormente referencial 
democrático (escolha da maioria, final do século XIX). 
Sistema Eleitoral: 
Conjunto de regras que disciplinam o modo de escolha dos representantes políticos. Existem 
três sistemas praticados nas democracias ocidentais: 
‐ Majoritário: Escolha dos mais votados. Usado no Brasil para os cargos do Executivo e para o 
Senado. Voto distrital: sistema majoritário de eleição em um distrito (circunscrição eleitoral 
menor, para evitar o distanciamento entre eleitor e representante). Pode ser simples ou de 
dois turnos.  
Leis de Duverger: sistemas distritais majoritários puros levariam a um bipartidarismo 
moderado (2 partidos opostos, com prevalência das opiniões de centro) e um sistema com 
dois turnos levaria à existência de distritos mais à esquerda ou mais à direita. 
Inconveniente desse sistema: exclusão considerável de forças políticas (sub‐representação). 
‐ Proporcional: A partir do modelo alemão do século XX. Usado na escolha de parlamentares. 
Circunscrições eleitorais com número definido de parlamentares. 
Quociente eleitoral (número de votos necessários) = número de votos válidos (ex: em SP) 
dividido pelo número de vagas. 
Quociente partidário = número de votos do partido na eleição dividido pelo quociente 
eleitoral. 
Distribuição das cadeiras: 
Sistema de lista aberta: Adotado no Brasil. Os candidatos mais votados ficam com a vaga. 
Sistema de lista fechada: Define‐se quem fica com a vaga independente do número de votos 
recebidos (“ranking” de importância dentro do partido). 
Problema do sistema proporcional: Fragmentação da representação política, com um 
multipartidarismo que por vezes compromete a governabilidade e pode levar à paralisia do 
parlamento. Em países parlamentaristas essa instabilidade afeta o Executivo (ex: Itália, onde 
nenhumprimeiro‐ministro consegue ter uma maioria forte). 
‐ Misto: Modelo da atual Alemanha. O maior número de vagas no parlamento é preenchido 
pelo sistema majoritário e um número menor é preenchido pelo sistema proporcional. Vota‐se 
no candidato e no partido. Permite o surgimento de novos partidos que se fortalecem com o 
tempo. Reúne as vantagens dos outros dois sistemas. 
 
Democracia no Brasil: 
Sistema representativo que raramente se abre para a participação direta (democracia 
semirrepresentativa, na teoria). Nossos representantes são eleitos pelo sistema majoritário 
(Executivo + Senado) e pelo proporcional (Legislativo).  
Instrumentos de participação direta: 
Iniciativa popular (seu uso é raro e geralmente ineficaz). 
Plebiscito: Manifestação popular anterior ao ato legislativo. Ex: art. 2º do ADCT (condicionante 
da reforma constitucional), escolha da forma de governo (1993). Alguns plebiscitos são 
expressamente previstos na CF (caso de alteração territorial, ex: desmembramento do Pará em 
outros dois estados). 
Referendo: Chancela o ato legislativo (manifestação popular posterior). Ex: estatuto do 
desarmamento (2005). 
Voto: 
Secreto, periódico, universal e direto (exceto no caso do art. 81/CF em que há eleição indireta 
para Presidente nos últimos 2 anos de mandato; pode ocorrer também em cargos do 
Executivo estadual e municipal, mas a regra sobre fim do mandato pode mudar). 
Alistamento eleitoral: 
Pré‐requisito para votar. Obrigatório para aqueles com idade entre 18 e 70 anos. Facultativo 
para analfabetos, menores de 18 e maiores de 16 anos e para os maiores de 70 anos. Vedado 
aos estrangeiros e aos conscritos (aqueles em serviço militar obrigatório). 
Ius sufragii = direito de voto. 
Ius honorum = direito de concorrer a cargos eletivos (elegibilidade). 
Condições para a elegibilidade:  
Nacionalidade brasileira; pleno exercício dos direitos políticos; alistamento eleitoral (deve 
estar regular); domicílio eleitoral na circunscrição que pretende concorrer (para o domicílio 
eleitoral contam vínculos afetivos, históricos, econômicos etc.); idade mínima para o cargo 
pretendido (na data da posse); filiação partidária. 
Inelegibilidade: 
Inalistáveis e analfabetos (art. 14, § 4º/CF) + causas infraconstitucionais (Lei Complementar 64 
alterada pela Lei Complementar 135 – “Ficha Limpa”; valem para cargos específicos em 
situações específicas, ex: contas rejeitadas, terceiro mandato). 
Elegibilidade do militar: 
Não sendo inalistável (caso do conscrito) é elegível. Nunca há militares na ativa com mandato. 
Militares com menos de 10 anos de serviço ativo são desligados de sua força 
permanentemente e militares com mais de 10 anos de serviço ativo vão para a reserva 
(afastados temporariamente). Art. 14. §8º da CF. 
Perda/suspensão dos direitos políticos: 
Perda da nacionalidade, improbidade administrativa, incapacidade civil absoluta, condenação 
criminal. 
 
REPARTIÇÃO DE COMPETÊNCIAS 
Estado federal: Convivência de diferentes ordenamentos jurídicos em um mesmo território 
(dividido em unidades subnacionais com autonomia político‐administrativa). Necessidade de 
regras claras de repartição de competências. 
Obs: A União não se confunde com o Estado brasileiro. Este é dotado de soberania, enquanto a 
União, assim como os demais entes internos possui autonomia. 
Competências comuns/concorrentes: todos os níveis federais estão habilitados a exercer a 
função. 
Competências materiais/administrativas: 
União (art. 21 e art. 23 da CF). 
Estados (art. 25, §2º da CF: prestação de serviço de gás canalizado). 
Municípios (art. 30 da CF: transporte coletivo urbano e saneamento básico urbano). 
Competências legislativas: 
União (art. 22 da CF: excepcionalmente pode delegar essas competências aos estados, mas 
não em caráter total nem definitivo). 
Estados (pequeno âmbito de atuação legislativa; competência residual: o que não é de 
competência nem da União nem dos municípios fica com os estados). 
Municípios (legisla sobre temas de interesse local, ideia presente desde o Ato Adicional de 
1834; conceito vago, sem definição teórica/doutrinal; depende do julgamento casuístico do 
STF). 
Art. 24/CF (competências legislativas concorrentes): Os estados fazem normas específicas que 
adaptam à realidade local as normas gerais da União. Eles têm ampla liberdade legislativa até 
que a União edite uma norma geral. A norma estadual que colide com a lei federal é suspensa.

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