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1 TROMBOEMBOLISMO PULMONAR SUMÁRIO ETIOLOGIA E FISIOPATOLOGIA ............................................................................................................................................................ 2 ACHADOS CLÍNICOS ............................................................................................................................................................................ 3 EXAMES COMPLEMENTARES E DIAGNÓSTICO ................................................................................................................................... 4 Oximetria de pulso e gasometria arterial ....................................................................................................................................... 4 D-dímero ......................................................................................................................................................................................... 4 Eletrocardiograma .......................................................................................................................................................................... 5 Radiografia de tórax ........................................................................................................................................................................ 5 Angiotomografia de tórax ............................................................................................................................................................... 5 Cintilografia pulmonar de ventilação e perfusão (V/Q) .................................................................................................................. 6 Ecocardiograma .............................................................................................................................................................................. 6 Arteriografia pulmonar (padrão-ouro)............................................................................................................................................ 6 Ultrassonografia Doppler de membros inferiores .......................................................................................................................... 6 Outros exames ................................................................................................................................................................................ 6 ABORDAGEM DIAGNÓSTICA ............................................................................................................................................................... 6 ESTRATIFICAÇÃO DOS PACIENTES....................................................................................................................................................... 8 TRATAMENTO ..................................................................................................................................................................................... 9 Suporte hemodinâmico .................................................................................................................................................................. 9 Suporte respiratório ........................................................................................................................................................................ 9 Anticoagulação parenteral ............................................................................................................................................................ 10 Heparina de baixo peso molecular ........................................................................................................................................... 10 Heparina não fracionada ........................................................................................................................................................... 10 Fondaparinux ............................................................................................................................................................................ 11 Anticoagulação oral .................................................................................................................................................................. 11 Rivaroxabana ............................................................................................................................................................................ 11 Tempo de anticoagulação ......................................................................................................................................................... 12 Filtros de veia cava inferior ........................................................................................................................................................... 12 Trombólise .................................................................................................................................................................................... 12 Embolectomia ............................................................................................................................................................................... 14 2 A trombose venosa profunda (TVP) e o tromboembolismo pulmonar (TEP) fazem parte do espectro da mesma doença, que é o tromboembolismo venoso (TEV). TEP é a terceira maior causa de doença cardiovascular no mundo. É mais comum em homens com mais de 70 anos de idade. A gravidade dos casos de TEP é dependente de sua apresentação hemodinâmica. Pacientes hemodinamicamente instáveis representam 4 a 5% dos casos, mas têm taxa de letalidade de até 45%. Pacientes com TEP, hemodinamicamente estáveis, com menos de 50 anos e sem outras comorbidades têm taxa de letalidade < 1%. ETIOLOGIA E FISIOPATOLOGIA A embolia pulmonar é definida como a obstrução da artéria pulmonar ou seus ramos pela impactação de um ou mais êmbolos. TEP ocorre devido à presença de algum dos elementos descritos na tríade de Virchow, que inclui lesão endotelial, estase sanguínea e hipercoagulabilidade. Os episódios de TEV podem ser classificados em não provocados ou provocados, quando um fator precipitante é claro. TEP não provocados representam 20% dos casos, e a probabilidade de haver uma trombofilia associada é maior. A maioria dos TEP provocados ocorrem por fatores precipitantes de tempo limitado, como cirurgia ou imobilidade temporária de um membro, ou por fator precipitante persistente, como uma neoplasia maligna. Outros precipitantes incluem doenças ou condições que impedem o fluxo sanguíneo venoso, infecção, doença crônica, uso de estrogênio e gravidez ou fase puerperal inicial. Os pacientes com TEP não provocados têm 15% de chance de recidiva em 1 ano, em comparação com 5% para aqueles com episódio provocado. A mortalidade de TEP provocado em 1 ano é mais alta, provavelmente por refletir o impacto de uma comorbidade associada, como uma neoplasia maligna. Exames de investigação para trombofia • Fator V • Anticorpos Anti-fosfolipídeos • Anti-trombina III Os principais sítios de origem do TEP são as veias pélvicas, poplíteas, femorais comum e femorais superficial. Cerca de 30 a 40% dos pacientes com TVP apresentam TEP concomitante, mesmo em pacientes sem sintomas de embolia. Por outro lado, apenas 30% dos pacientes com TEP apresentam TVP, embora esse número seja próximo a 70% em pacientes hospitalizados. A correlação entre o grau de obstrução vascular pulmonar inicial e a evolução clínica do TEP é ruim, mas pacientes sem doença cardíaca ou pulmonar prévia geralmente começam a apresentar sintomas com obstrução de 20% da vasculatura pulmonar. Com maior carga de coágulos e consequente obstrução, a pressão arterial pulmonar e a resistência vascular pulmonar aumentam, levando a dilatação ventricular direita, redução da pré-cargapara o ventrículo esquerdo e lesão miocárdica, causando a liberação de troponina e peptídeo natriurético tipo B. A dilatação ou lesão do ventrículo direito, evidenciada na TC de tórax ou no ecocardiograma, ou sugerida pela elevação da 3 troponina ou do peptídeo natriurético tipo B, indica insuficiência cardíaca direita e aumento do risco de choque circulatório e de morte; o aumento de troponina é associado com aumento de risco de morte de 5,2 a 5,9 vezes. Os dois principais mecanismos de morte por TEP são a oclusão abrupta da artéria pulmonar e o efeito isquêmico no sistema de condução de HisPurkinje. Aproximadamente um terço dos sobreviventes de grandes TEP apresentam disfunção cardíaca direita persistente e sintomas graves, e cerca de 5% evoluem com hipertensão pulmonar crônica e dispneia incapacitante. Anatomicamente, o TEP “em sela” ou “a cavaleiro” indica um trombo alojado na bifurcação da artéria pulmonar, implicando maior incidência de instabilidade hemodinâmica e mortalidade. Se o trombo se alojar em ramos cada vez mais distantes da artéria pulmonar, o TEP será classificado como lobar, segmentar ou subsegmentar , de acordo com a localização anatômica. Isso terá implicação no tratamento e no prognóstico do paciente. Já de acordo com a classificação hemodinâmica, os pacientes podem se apresentar instáveis ou estáveis hemodinamicamente. O primeiro, também chamado de TEP maciço, caracteriza-se por hipotensão arterial manifesta com pressão arterial sistólica (PAS) menor do que 90 mmHg ou queda da PAS em mais de 40 mmHg do basal, por um tempo maior do que 15 minutos ou ainda hipotensão com necessidade de uso de inotrópicos, desde que a instabilidade não seja justificada por outro fator. O paciente estável hemodinamicamente é aquele que não preenche os critérios de instabilidade. Nota-se que nesse grupo há uma heterogeneidade na gravidade da doença e nos sintomas, que compreende desde pacientes assintomáticos até pacientes com pressão arterial limítrofe e disfunção de ventrículo direito, também classificados com TEP submaciço. ACHADOS CLÍNICOS Os achados clínicos são extremamente variáveis, com pacientes se apresentando desde pouco sintomáticos até hemodinamicamente instáveis. Pacientes com embolizações semelhantes podem ter apresentações clínicas drasticamente diferentes por diversos fatores. A tríade clássica do TEP (dispneia, dor torácica pleurítica e hemoptise) ocorre na minoria dos casos. A dispneia é o sintoma mais frequentemente descrito, relatado em 80% dos casos, mas com dispneia em repouso ocorrendo em apenas 50% dos pacientes. O segundo sintoma mais comum é a dor torácica, embora até metade dos pacientes diagnosticados com TEP não apresentem essa queixa, que usualmente tem caráter pleurítico (quando o trombo é periférico, próximo a pleura, por inflamação dessa região) ou subesternal, simulando uma síndrome coronariana aguda (por sobrecarga aguda e/ou isquemia do ventrículo direito). O infarto pulmonar nos segmentos basais do pulmão pode se manifestar como dor referida no ombro ou dor que pode ser similar a cólica ureteral. Além dos sintomas comuns de dor torácica e de dispneia, cerca de 1 a 2% dos pacientes apresentam sintomas neurológicos, como convulsão ou confusão mental, e outros 17% podem apresentar síncope. Como cerca de 20% das pessoas têm forame oval patente, o TEP que aumenta as pressões do coração direito pode levar ao fluxo de material trombótico direita-esquerda nos átrios, e embolização para circulação cerebral, produzindo sintomas semelhantes ao AVC. 4 No exame físico, achados de trombose venosa profunda como edema assimétrico de membros inferiores devem ser pesquisados. Achados sugestivos de hipertensão pulmonar como B2 hiperfonética e sopro em foco tricúspide também podem estar presentes. Sinais vitais anormais, como taquicardia, taquipneia, pulso fino, baixa saturação de oxigênio na oximetria e, às vezes, febre baixa sugerem estresse cardiorrespiratório agudo. Infelizmente o TEP não altera os sinais vitais de forma previsível e cerca da metade dos pacientes com TEP comprovado têm frequência cardíaca < 100 batimentos/min no momento do diagnóstico, e por volta de um terço têm sinais vitais anormais que se normalizam ainda no DE. As alterações dos sinais vitais ocorrem devido à presença do coágulo e à obstrução ao fluxo sanguíneo, que juntos estimulam as fibras eferentes adrenérgicas para o coração e causam distúrbio ventilação-perfusão pulmonar. A presença de instabilidade hemodinâmica (PAS < 90 mmHg ou queda de mais de 40 mmHg da PAS por um período maior do que 15 minutos) deve ser detectada precocemente e define o subgrupo de maior mortalidade. Por volta de 10% dos pacientes com EP apresentam temperatura > 38°C e < 2% dos pacientes com EP têm temperatura > 39,0°C. A maioria dos pacientes com TEP têm pulmões limpos na ausculta. Sibilos ou estertores bilaterais tornam possível um diagnóstico alternativo de broncoespasmo ou de pneumonia, mas não excluem TEP. O infarto pulmonar pode produzir estertores sobre o segmento pulmonar afetado. Uma das principais formas de apresentação de TEP é a de dispneia não explicada por achados de ausculta, alterações no ECG ou radiografia de tórax. EXAMES COMPLEMENTARES E DIAGNÓSTICO OXIMETRIA DE PULSO E GASOMETRIA ARTERIAL A oximetria de pulso e a gasometria arterial devem ser colhidas para avaliação dos pacientes com suspeita de TEP. A oximetria de pulso média é menor em pacientes com TEP do que em pacientes sem TEP, embora possa ser normal mesmo em pacientes com a doença. Da mesma forma, a PaO2 é menor, e o gradiente alvéolo-arterial é aumentado em pacientes com TEP embora possa ser normal em 20% dos casos. A pressão arterial parcial de dióxido de carbono (PaCO2) é geralmente baixa, refletindo um aumento de 20 a 50% na ventilação minuto para compensar a perda de eficiência pulmonar secundária ao aumento do espaço morto. Os pacientes apresentam gasometria normal em cerca de 30% dos casos. D-DÍMERO Coágulos de sangue contêm fibrina, que é degradada naturalmente através da ação da plasmina, e a degradação da fibrina libera a proteína Ddímero no sangue. O Ddímero é o principal exame para excluir TEV, pois apresentam alta sensibilidade e baixa especificidade para o diagnóstico. Deve-se acrescentar que a baixa especificidade do Ddímero não permite seu uso exclusivo para o diagnóstico de TEV, tornando necessária a realização de outros exames para a confirmação do diagnóstico. Situações em que a especificidade do Ddímero é muito baixa (até menor do que 10%), e, portanto, raramente são úteis são: pacientes internados, pós-operatório, idosos (> 75 anos) e evento trombótico ou sangramento recentes. O Ddímero pode aumentar em outras situações com formação de fibrina no espaço vascular ou com reabsorção de produtos de degradação do espaço extravascular. Os valores de Ddímero aumentam com a idade. Assim, o valor normal do Ddímero em pacientes acima de 50 anos é: idade em anos × 10 µg/mL. O algoritmo YEARS, publicado no The Lancet 2017, permite excluir TEP com Ddimero menor do que 1.000 µg/mL em pacientes sem nenhum dos seguintes achados: 5 1. Sinais clínicos de TVP. 2. Hemoptise. 3. TEP não é a principal hipótese diagnóstica. Esse algoritmo reduz em 19% a necessidade de realização de tomografia (reduzindo exposição a radiação), mas requer que todos os pacientes realizem dosagem de Ddímero. ELETROCARDIOGRAMA Deve ser realizado em todos os pacientes com suspeita de TEP, embora os achados sejam, em geral, inespecíficos. Os achados mais comuns do ECG são taquicardia e inversão de onda T em V1 (cada um presente em 38% dos casos) e alterações de segmento ST em V1 a V4. Podem ainda estar presentes bloqueio incompleto do ramo direito e o achado clássico, mas incomum, de S1- Q3T3 (onda S em D1, onda Q em D3 e onda Tinvertida em D3), em 10 a 15% dos pacientes. Deve-se ressaltar que esses achados significam elevação de pressões em câmaras direitas. Em alguns casos, essas alterações podem ser crônicas e não ter relação com o quadro agudo do paciente. Prolongamento do intervalo QTc, associação com sobrecarga de ventrículo direito. RADIOGRAFIA DE TÓRAX Pacientes com TEP podem ter radiografia de tórax com uma ou mais anormalidades, incluindo cardiomegalia, atelectasia basal e infiltrado ou derrame pleural. Todos os achados são inespecíficos para EP. Em < 5% dos pacientes existe uma área em forma de cunha de oligoemia pulmonar (sinal de Westermark, geralmente significa obstrução completa da artéria lobar) ou opacificação periférica em formato de cúpula (corcova de Hampton indica infarto pulmonar). Os pacientes podem apresentar ainda o chamado sinal de Fleichner, que consiste na artéria pulmonar central distendida. ANGIOTOMOGRAFIA DE TÓRAX A angiotomografia computadorizada é a modalidade de imagem mais comum para o diagnóstico de TEP, capaz de identificar um coágulo como um defeito de enchimento das artérias pulmonares com contraste. A maioria dos protocolos exige que o paciente fique em decúbito dorsal e prenda a respiração por alguns segundos. Além do reconhecimento do coágulo, a angiotomografia computadorizada pode detectar diagnósticos alternativos, como pneumonia. A concordância interobservador na identificação de defeitos de preenchimento segmentar ou maior é alta, mas a concordância para coágulos subsegmentares não tem a mesma performance. Cerca de 10% das tomografias são inadequadas devido a artefatos de movimento secundários ou opacificação ruim da artéria pulmonar, que é comum em obesos. Anafilaxia ou edema pulmonar desencadeados por contraste, com risco de vida, são muito raros. Cerca de 15% dos pacientes submetidos à TC contrastada desenvolvem nefropatia por contraste, definida como um aumento de 25% ou mais na concentração de creatinina sérica dentro de 2 a 7 dias após o exame. Atualmente, a única medida profilática útil para reduzir a nefropatia por contraste é a hidratação com soluções cristaloides intravenosas equilibradas. Outras complicações da tomografia 6 incluem extravasamento de contraste em um membro, que pode causar dor, síndrome compartimental ou tromboflebite secundária. • Indicada em pacientes com probabilidade clínica pré-teste alta ou naqueles com Ddímero positivo. • Permite avaliar diagnósticos diferenciais. • É um exame seguro e não invasivo. • Contribui para a estratificação de risco em pacientes com TEP. CINTILOGRAFIA PULMONAR DE VENTILAÇÃO E PERFUSÃO ( V/Q) A cintilografia V/Q pode identificar um defeito de perfusão em locais em que a ventilação é normal. O componente de ventilação requer que o paciente respire em um nebulizador para inalar um aerossol que contenha um isótopo. Uma cintilografia V/Q homogênea em todo o pulmão na porção de perfusão tem quase 100% de sensibilidade para excluir TEP, independentemente da porção de ventilação. Uma cintilografia V/Q com dois ou mais defeitos centrais em forma de cunha na fase de perfusão com ventilação normal nessas regiões indica probabilidade > 80% de TEP. Todos os outros achados cintilográficos não são diagnósticos isoladamente. Atualmente o exame serve sobretudo como uma alternativa para pacientes que não podem receber contraste iodado ou se submeter a radiação como em gestantes, anafilaxia com contraste EV ou doença renal crônica. ECOCARDIOGRAMA O ecocardiograma não consegue excluir o diagnóstico de tromboembolismo pulmonar. Sua maior utilidade é na estratificação do TEP. Sinais de sobrecarga de ventrículo direito podem estar presentes em pacientes com outras patologias, como hipertensão pulmonar crônica ou DPOC, sem tromboembolismo pulmonar associado. No paciente que se apresenta com instabilidade hemodinâmica, sem diagnóstico definitivo, o ecocardiograma pode mostrar sinais de sobrecarga de ventrículo direito, direcionando o diagnóstico para TEP. ARTERIOGRAFIA PULMONAR (PADRÃO-OURO) Atualmente é mais utilizado para guiar terapêuticas invasivas como embolectomia. A angiografia pulmonar identifica um coágulo como um defeito de enchimento dentro da artéria pulmonar. O exame é pouco disponível, caro e invasivo. ULTRASSONOGRAFIA DOPPLER DE MEMBROS INFERIORES O exame é disponível, barato e pode ser realizado à beira do leito. Geralmente não é indicado quando a suspeita é TEP, pois é positivo em apenas 30 a 50% dos pacientes com tromboembolismo pulmonar. Usualmente reservado para pacientes com contraindicações para realizar a angiotomografia e/ou para complementar a cintilografia ou angiotomografia inconclusivas. OUTROS EXAMES Outros exames indicados em pacientes com TEP incluem função renal, coagulograma, eletrólitos e solicitações conforme indicação clínica. Exames para estratificar pacientes com TEP incluem: troponina, BNP e ecocardiograma. ABORDAGEM DIAGNÓSTICA Em todos os pacientes com suspeita diagnóstica de TEP, o primeiro passo é determinar qual é a probabilidade clínica pré-teste de o paciente apresentar realmente TEP. Ferramentas para essa investigação foram criadas com escores de risco sistematizados para avaliação de pacientes, como o escore de Wells. Os pacientes classificados como de baixo risco apresentam uma probabilidade de 10 a 12% de apresentar TEP, moderado risco de 30% e alto risco de 65%. 7 Em pacientes de baixo risco, pode-se aplicar o escore PERC para descartar a suspeita de tromboembolismo pulmonar e encerrar a investigação. Na suspeita de tromboembolismo pulmonar em pacientes com probabilidade pré-teste alta, a primeira dose de anticoagulação deve ser realizada antes da confirmação diagnóstica. Se TEP não puder ser excluído com a regra PERC, deve-- se realizar um teste diagnóstico que possa reduzir a probabilidade pós-teste para < 2,0%. Ddímero de metodologia ELISA é capaz de excluir TEP em pacientes com probabilidade pré-teste baixa ou moderada com sensibilidade de 95%. Em pacientes com moderada ou alta probabilidade, ou os de baixo risco com critérios PERC e Ddímero positivo é recomendado continuar a investigação. O exame usualmente recomendado é a angiotomografia computadorizada de tórax. A cintilografia V/Q é uma opção em pacientes grávidas ou em pacientes com insuficiência renal ou com histórico de reação adversa prévia ao material de contraste. 8 ESTRATIFICAÇÃO DOS PACIENTES O TEP é classificado em três categorias com base na gravidade: • TEP maciço: pressão arterial sistólica < 90 mmHg por mais de 15 minutos, pressão arterial sistólica < 100 mmHg com história de hipertensão ou redução > 40% na pressão arterial sistólica basal. • TEP submaciço: pressão arterial normal, mas com outras evidências de estresse cardiopulmonar. • TEP de menor gravidade: Todos os outros casos. Em pacientes com TEP confirmado é importante classificar e estratificar o paciente de acordo com a gravidade do quadro (risco de mortalidade) calculando o escore PESI. Os pacientes PESI classe I e II são considerados de baixo risco e podem ser elegíveis para tratamento domiciliar ou alta precoce, que é definida por alta antes de 5 dias de internação hospitalar, tempo usualmente recomendado de internação para TEP. Para os pacientes classificados como classe III e IV, devemos realizar: • Dosagem de troponina e BNP • Aferição de disfunção de VD (ecocardiograma ou tomografia computadoriza com contraste) Caso apenas um dos dois acima venha alterado, o paciente é classificado como de risco intermediário baixo.Os pacientes nessa classificação devem ser internados e monitorizados. Caso os dois venham alterados, o paciente é classificado como risco intermediário alto. Além de internação e monitorização, deve-se ficar atento para a descompensaçãohemodinâmica que indica a trombólise. 9 TRATAMENTO A primeira medida em pacientes com suspeita de TEP é assegurar o suporte hemodinâmico e respiratório. SUPORTE HEMODINÂMICO Deve-se lembrar que a principal causa de morte no TEP é falência de VD levando a baixo débito cardíaco. São medidas recomendadas nesses pacientes: Cristaloide, em bolus de até 500 mL em pacientes hipotensos, pode melhorar hipotensão e índice cardíaco, e pode ser testado antes da introdução de drogas vasoativas. Com a ressalva de que sobrecarga volêmica pode piorar a disfunção de VD. Reposição volêmica agressiva pode ser prejudicial e piorar o estresse de VD. Drogas vasoativas são frequentemente necessárias para melhorar o inotropismo cardíaco, elevar a pressão arterial e garantir perfusão tecidual adequada. Norepinefrina aumenta a pressão arterial sistêmica e melhora a perfusão coronariana; melhora a função de VD por ação inotrópica positiva direta. O seu uso deve ser limitado a pacientes com choque cardiogênico. A dose recomendada é de 0,2 a 1,0 mcg/kg/min. Dobutamina deve ser considerada em pacientes com índice cardíaco reduzido, e costuma ser a primeira droga prescrita com o intuito de melhorar o débito de VD. A dose recomendada é de 220 mcg/kg/min. Em pacientes sem resposta, considera-se o uso de suporte extracorpóreo (ECMO), lembrando que seu uso por mais de 5 a 10 dias pode levar a complicações como sangramento e infecções. SUPORTE RESPIRATÓRIO Hipoxemia e hipocapnia são muitas vezes encontradas. Hipoxemia é geralmente reversível com a administração de oxigênio, sendo indicada oxigenioterapia se SaO2 < 90%. Para reduzir o risco de hipotensão, se possível, outras técnicas como cânula nasal de alto fluxo ou VNI devem ser tentadas antes da instituição de ventilação mecânica invasiva. No entanto, o paciente deve ficar sob monitorização ventilatória intensiva para não atrasar a indicação de intubação orotraqueal (IOT), se necessária. Quando a ventilação mecânica for necessária, deve-se evitar o uso de drogas hipotensoras durante sedação para intubação orotraqueal. Prefere-se a quetamina se hipotensão importante ou choque. Usar pressão de platô < 30 cmH2O, objetivando minimizar pressão intratorácica para não agravar déficit de retorno venoso. 10 ANTICOAGULAÇÃO PARENTERAL O esteio do tratamento de pacientes com TEP é a anticoagulação sistêmica para evitar a formação de novos coágulos e permitir que a fibrinólise endógena continue, exceto se houver contraindicações. A anticoagulação não dissolve o trombo, mas evita o crescimento dele. As duas opções mais comumente utilizadas são a heparina não fracionada e a heparina de baixo peso molecular. A anticoagulação inicial para o TEP também pode ser realizada com rivaroxabana por via oral. O apixaban é outra opção no TEP. A dabigatrana e a edoxabana também podem ser usadas, mas requerem anticoagulação com heparina inicial. As evidências sugerem benefício com o uso de heparinas de baixo peso molecular (HBPM) em comparação com a heparina não fracionada para tratamento de TEP e TVP em termos de desfechos compostos (sangramento e morte) e custo, embora a magnitude do benefício não seja grande. Se não houver certeza sobre a presença de TEP, a probabilidade pode guiar a introdução de terapia com anticoagulação. Em pacientes com probabilidade préteste de TEP > 20%, é recomendada a anticoagulação empírica, pois os benefícios excedem os riscos (sangramento e trombocitopenia induzida por heparina). O atraso na administração de heparina a pacientes com TEP está associado com o aumento da mortalidade. Em pacientes com insuficiência renal grave e TVP aguda ou TEP, a maioria dos especialistas recomenda a heparina não fracionada em relação à heparina de baixo peso molecular. São opções para anticoagulação: HEPARINA DE BAIXO PESO MOLECULAR Atua como inibidor do fator Xa. A preferência é prescrever HBPM uma vez ao dia. A prescrição de 12/12 horas aumenta uma picada ao dia e não apresenta maior eficácia. As doses são: Enoxaparina SC: 1 mg/kg de peso, 12/12h. Deve-se lembrar que a segurança da HBPM se aplica a indivíduos com função renal normal e peso entre 40 e 120 kg (considerar alternativas em pacientes fora dessa faixa de peso). A medicação pode ser prescrita em disfunção renal, mas nesse caso é obrigatório monitorizar, seja com dosagem sérica da heparina de baixo peso, seja com monitorização da inibição antifator-- Xa. HEPARINA NÃO FRACIONADA A resposta anticoagulante da heparina não fracionada apresenta grandes variações entre diferentes pacientes, por esse motivo a resposta deve ser monitorizada pelo TTPA. As recomendações para o tratamento hospitalar sugerem o seguinte: Dose de ataque de 80 UI/kg endovenosa (alternativa dose única de 5.000 U). Infusão contínua com dose inicial de 18 UI/kg/h e ajuste da dose pelo TTPA com objetivo de atingir valores de 1,5-2,5. 11 Deve-se verificar o número de plaquetas no terceiro e no quinto dia de uso devido ao risco de plaquetopenia autoimune pela heparina. A relação do TTPA deve ser verificada inicialmente a cada 6 horas e depois diariamente. A heparina deve ser descontinuada apenas quando o INR obtido com a anticoagulação oral estiver em níveis adequados (INR 2-3) por 2 dias consecutivos. Não há necessidade de controle de coagulograma. A heparina não fracionada é a primeira escolha para o paciente em diálise ou com doença renal crônica avançada (ClCr < 30 mL/min); caso CLCr entre 15 e 30 mL/min, ajustar dose de heparina. A heparina não fracionada é usualmente preferida em casos de instabilidade hemodinâmica, disfunção renal, extremos de peso e idade e pacientes com alto risco de sangramento. FONDAPARINUX É um pentassacarídeo sintético com ação inibidora direta do fator Xa, também usado por via subcutânea, uma vez ao dia e sem necessidade de monitorização, embora não deva ser usado em pacientes com clearance de creatinina menor do que 30 mL/min. É uma medicação relativamente nova, segura, prática, mas de alto custo e pouco disponível no Brasil. Uma boa opção para pacientes alérgicos a heparina ou com plaquetopenia induzida pela heparina, embora a melhor opção nessa situação sejam os inibidores diretos da trombina. As doses são: Peso menor do que 50 kg: 5 mg SC, 1x/dia. Peso 50-100 kg: 7,5 mg SC, 1x/dia. Peso maior que 100 kg: 10 mg SC, 1x/dia. ANTICOAGULAÇÃO ORAL A anticoagulação oral deve ser instituída precocemente, na maioria das vezes concomitante à anticoagulação parenteral. Varfarina Deve ser iniciada concomitantemente à anticoagulação parenteral, exceto nos casos de alto risco de sangramento. RIVAROXABANA Dose de 15 mg por via oral (VO) a cada 12 horas, por 21 dias, seguidos de 20 mg VO uma vez ao dia. Opção para anticoagulação totalmente oral do TEP, sem necessidade de anticoagulação parenteral inicial. Apixabana 10 mg VO a cada 12h, por 7 dias, seguidos de 5 mg VO a cada 12h. Devese lembrar que tanto a rivaroxabana como a apixabana são contraindicados em caso de disfunção renal. Pacientes com contraindicação à anticoagulação plena podem ser tratados com filtro de veia cava. A anticoagulação oral exclusiva é uma opção, com menor risco de sangramento quando comparado a HBPM, sem necessidade de ponte com anticoagulantes parenterais; pode ser realizada com rivaroxaban e apixaban. 12 TEMPO DE ANTICOAGULAÇÃO Para pacientes que irão utilizar antagonistas da vitamina K, deve ser lembrado que o objetivo é manter o INR entre 2,0 e 3,0. O tempo recomendado de tratamento com anticoagulação é o seguinte: • Para pacientes com TEP causado por cirurgia ou fator de risco transitório, o tempo recomendado de tratamento é de 3 meses. • Para pacientes sem fator precipitante de TEP, o tempo mínimo de tratamento é de 3 meses. As diretrizes recentes recomendam3 meses ao invés de períodos mais prolongados para pacientes com alto risco de sangramento e períodos maiores com risco pequeno/moderado de sangramento. • Para pacientes com um episódio seguido de TEV, é recomendada anticoagulação por período estendido além de 3 meses em caso de risco até moderado de sangramento, e 3 meses em caso de alto risco de sangramento. • Para pacientes com neoplasia maligna ativa, o período recomendado de tratamento é de mais de 3 meses; independentemente do risco de sangramento, pode-se considerar anticoagulação além de 6 meses ou até a neoplasia maligna ser controlada. A heparina de baixo peso molecular é a medicação de escolha, mas o endoxaban e o rivaroxaban podem ser considerados, exceto em pacientes com neoplasia gastrointestinal. Em pacientes com TEV sem fator provocativo claro, recomendase o uso de aspirina após a interrupção da anticoagulação. • Pacientes com TEP subsegmentar e sem TVP proximal, com baixo risco de TEP recorrente, podem ser observados clinicamente; em caso de alto risco, deve-se iniciar a anticoagulação. • Os pacientes com neoplasia maligna com câncer ativo necessitam de tratamento, sendo a HBPM o tratamento com melhor evidência por pelo menos 6 meses. Alguns pacientes não podem aplicar injeções por períodos prolongados, forçando a escolha entre varfarina oral vs. anticoagulante oral mais recente. FILTROS DE VEIA CAVA INFERIOR Utilizado principalmente em pacientes com contraindicações a anticoagulação. Dentre os filtros disponíveis, os removíveis são preferenciais, pois, uma vez que a contraindicação à anticoagulação seja resolvida, o filtro pode ser removido e o paciente anticoagulado. Indicações: • Paciente com episódios recorrentes de tromboembolismo venoso que ocorrem apesar da anticoagulação adequada. • Pacientes com TEV com indicação de anticoagulação nos quais é contraindicado o uso de anticoagulantes. O local de inserção é preferencialmente infrarrenal, mas no caso de trombose em membros superiores na ausência de trombose de membros inferiores, o filtro deve ser posicionado na veia cava superior. Em caso de trombose em veia renal comprovada por angiotomografia, o filtro deve ser posicionado em posição suprarrenal. TROMBÓLISE Pacientes com TEP maciço ou hipotensão se beneficiam da fibrinólise, que está indicada exceto se a hipotensão é apenas transitória e sem sinais de hipoperfusão. Em pacientes sem hipotensão ou hemodinamicamente estáveis, existe a dúvida de iniciar ou não tratamento com trombólise. Um subgrupo de pacientes com TEP submaciço pode apresentar critérios de gravidade definidos por: • Dilatação ou hipocinesia do ventrículo direito. • Troponina elevada. • Peptídeo natriurético tipo B ou hipoxemia persistente com desconforto respiratório. Em comparação com a heparina isolada, a trombólise resultou em uma redução no desfecho primário de morte ou descompensação hemodinâmica 7 dias após a randomização; não houve diferença na mortalidade em 7 ou 30 dias. 13 A administração de agentes trombolíticos foi associada com sangramento extracraniano, sangramento maior e acidente vascular cerebral hemorrágico. Em pacientes que evoluírem com deterioração clínica, deve-se considerar a realização de trombólise. Uma alternativa nesses pacientes é a trombólise com 50 mg de alteplase IV sistêmica, metade da dose, uma dose mais segura em relação à ocorrência de eventos adversos. O sucesso da trombólise é maior se indicada em até 48 horas, mas pode ser útil até 14 dias do evento tromboembólico. Na suspeita de PCR por TEP, embora controversa, está autorizada a trombólise durante a RCP. A RCP deverá continuar por no mínimo 60 minutos após a administração do trombolítico. A heparina não fracionada não deve ser infundida durante a administração de estreptoquinase ou uroquinase, mas pode ser mantida quando se usa alteplase. Nos pacientes que estão recebendo enoxaparina ou fondaparinux é necessário aguardar 12 a 24h para iniciar a anticoagulação. A trombólise tanto para pacientes hemodinamicamente instáveis como em pacientes de risco intermediário apresenta maior benefício quando realizada nas primeiras 48 horas de apresentação, mas a janela de benefício terapêutico se estende por até 14 dias. Em pacientes com suspeita de TEP e hemodinamicamente instáveis com dilatação de ventrículo direito ao ecocardiograma pointofcare deve-se realizar angiotomografia de tórax; caso confirmado o diagnóstico de TEP, deve-se considerar a trombólise. Pacientes com indicações clínicas, mas com contraindicação à trombólise, podem ser eventualmente tratados com embolectomia. A trombólise direcionada por cateter é realizada através da cateterização da artéria pulmonar. É indicada por diretrizes nas seguintes condições: • Pacientes de alto risco com ou falha da trombólise como persistência de instabilidade hemodinâmica apesar de trombólise sistêmica, risco de morte antes de a trombólise sistêmica ter iniciado seus efeitos. • Paciente com contraindicação a trombólise por alto risco de sangramento. A trombólise dirigida por cateter para TEP requer uma dose menor de alteplase (aproximadamente 10 mg no total), o que pode conferir um menor risco de sangramento. Assim, a trombólise dirigida por cateter é uma opção para pacientes com mais de 65 anos, em que o risco de sangramento intracraniano é maior. 14 EMBOLECTOMIA A embolectomia cirúrgica é uma opção em pacientes jovens com TEP grande e proximal acompanhado de hipotensão. A quantidade de coágulo que pode ser extraída costuma ser extensa, e a remoção pode ajudar a limitar complicações cardiorrespiratórias posteriores. Recomenda-se a embolectomia em pacientes com TEP de alto risco com falha ou contraindicação a trombólise. • Cateter percutâneo direcionado • Embolectomia cirúrgica Outra forma de selecionar pacientes de baixo risco que poderiam realizar todo o tratamento ambulatorial são os critérios HESTIA. Se todas as respostas forem negativas e o paciente for classificado como PESI I ou II, ele é um candidato adequado para tratamento ambulatorial. Nesses pacientes não é necessária dosagem de troponina e BNP.
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