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UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ LICENCIATURA EM MATEMÁTICA ANA BEATRIZ VASCONCELOS PEREIRA INTRODUÇÃO À TEORIA DE TRANÇAS TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO CORNÉLIO PROCÓPIO 2020 ANA BEATRIZ VASCONCELOS PEREIRA INTRODUÇÃO À TEORIA DE TRANÇAS Trabalho de Conclusão de Curso de Graduação, apresentado à disciplina Trabalho de Conclusão de Curso 2, do curso de Licenciatura em Matemática da Universidade Tecnológica Federal do Paraná — UTFPR, como requisito parcial para a obtenção do título de Licenciado em Matemática. Orientador: Prof. Dr. Anderson Paião dos Santos CORNÉLIO PROCÓPIO 2020 Ministério da Educação Universidade Tecnológica Federal do Paraná Câmpus Cornélio Procópio Diretoria de Graduação Departamento de Matemática Curso de Licenciatura em Matemática FOLHA DE APROVAÇÃO Ana Beatriz Vasconcelos Pereira Introdução à Teoria de Tranças Trabalho de Conclusão de Curso de Graduação apresentado às XX:XX no dia XX/XX/XXXX, do curso de Licenciatura em Matemática da Universidade Tecnológica Federal do Paraná — UTFPR, como requisito parcial para a obtenção do título de Licenciado em Matemática. O candidato foi arguido pela Banca Avaliadora composta pelos professores abaixo assinados. Após deliberação a Banca Avaliadora considerou o trabalho aprovado. Prof. Dr. Anderson Paião dos Santos (Orientador) Prof. Dr. Alisson de Carvalho Reinol Prof. Dr. Thiago Pinguello de Andrade “A Folha de Aprovação assinada encontra-se na Coordenação do Curso” 3 "Dedico este trabalho aos meus pais". AGRADECIMENTOS Agradeço primeiramente a Deus, pela saúde e sabedoria que me permitiu chegar até o presente momento. Agradeço a Universidade Tecnológica Federal do Paraná, pela oportunidade de cursar a Licenciatura em Matemática e fornecer suporte necessários, durante toda minha formação, para que hoje eu tenha plena certeza do caminho que eu quero seguir. Ao meu orientador Prof. Dr. Anderson Paião, pela compreensão e pelo suporte durante todo desenvolvimento desse trabalho. Aos professores Prof. Dr. Alisson de Carvalho Reinol e Prof. Dr. Thiago Pinguello de Andrade, pelas correções e ensinamentos que me permitiram apresentar um melhor desempenho durante o processo de criação deste trabalho. Ao corpo docente da Licenciatura em Matemática, em especial, ao Prof. Me. Claudia Brunosi Medeiros , pelos conselhos durante o projeto de extensão e pelas matérias ministradas, ao Prof. Dr. Josimar da Silva Rocha, cuja didática me permitiu decidir a área de pesquisa, e ao Prof. Dr. Jader Otavio Dalto, pelas matérias ministradas e pela orientação no PIBID e no programa de Residência Pedagógica, uma complementação que julgo essencial em minha formação. A minha mãe, Rosilene Vasconcelos Pereira, pela minha vida, conselhos e por tudo que fez por mim, até o presente momento. Ao meu pai, Édison Pereira, pelo apoio total e cobrança durante a vida acadêmica e pelo suporte financeiro, quando necessário. A todos os amigos da graduação, pelo apoio e momentos de descontração, sendo decisivos para o equilíbrio entre vida acadêmica e vida social. Em especial, as amigas Anna Luiza Alino dos Santos, Amabile Borzaga e Fernanda Pypcack, pelos conselhos e ajuda nos momentos difíceis, os primeiros amigos que fiz no curso, amizades que espero levar para a vida. A todos que direta ou indiretamente fizeram parte da minha formação, o meu muito obrigado. “A matemática, vista corretamente, possui não apenas verdade, mas também suprema beleza - uma beleza fria e austera, como a da escultura. ” - Bertrand Russell RESUMO PEREIRA, Ana Beatriz Vasconcelos. Introdução à Teoria de Tranças. 2020. 41 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) – Licenciatura em Matemática. Universidade Tecnológica Federal do Paraná. Cornélio Procópio, 2020 Tranças são objetos físicos que fazem parte do nosso cotidiano. Em 1925, o alemão Emil Artin, de maneira geométrica e intuitiva, iniciou os estudos de tais objetos dando origem ao que conhecemos agora como teoria de tranças. Posteriormente, em 1947, os estudou mais rigorosamente de um ponto de vista algébrico. Tal teoria possui diversas aplicações em diferentes áreas da matemática e também da física. Neste trabalho de conclusão de curso, faremos uma breve introdução à teoria de tranças, abordando de forma mais intuitiva as características e propriedades geométricas, para posteriormente definirmos o grupo de tranças. Palavras-chave: Grupos. Tranças Geométricas. Grupos de Tranças. ABSTRACT PEREIRA, Ana Beatriz Vasconcelos. Introduction to Braid Theory. 2020. 41 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) – Licenciatura em Matemática. Universidade Tecnológica Federal do Paraná. Cornélio Procópio, 2020 Braids are physical objects that are part of our daily lives. In 1925, the German Emil Artin, in a geometric and intuitive way, began the study of such objects giving rise to what we now know as braid theory. Later, in 1947, he studied them more rigorously from an algebraic point of view. Such theory has several applications in different areas of mathematics as well as physics. In this course conclusion work, we will make a brief introduction to braid theory, approaching geometric characteristics and properties in a more intuitive way, to later define the braid group. Keywords: Groups. Geometric Groups. Braid Group. LISTA DE FIGURAS FIGURA 1 – Cubo D com pontos marcados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27 FIGURA 2 – Ilustração da condição 3. Em (a) esta condição se aplica, em (b) não se aplica 27 FIGURA 3 – Exemplos de tranças geométricas de 1 corda, 2 cordas e 4 cordas, respecti- vamente . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28 FIGURA 4 – Movimento Elementar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29 FIGURA 5 – Tranças Equivalentes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29 FIGURA 6 – Projeção de uma trança . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30 FIGURA 7 – Ponto de interseção . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30 FIGURA 8 – Diagrama Regular . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30 FIGURA 9 – Possíveis representações de um diagrama regular . . . . . . . . . . . . . 31 FIGURA 10 – Exemplo 3.9 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32 FIGURA 11 – Exemplo 3.11 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33 FIGURA 12 – 2-tranças . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35 FIGURA 13 – Produto de Tranças Geométricas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36 FIGURA 14 – Produto não comutativo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37 FIGURA 15 – Trança Identidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37 FIGURA 16 – Trança inversa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19 2 RESULTADOS PRELIMINARES . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21 2.1 GRUPOS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21 2.2 SUBGRUPOS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22 2.3 HOMOMORFISMO E ISOMORFISMO DE GRUPOS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23 3 TRANÇAS GEOMÉTRICAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27 3.1 UMA DEFINIÇÃO DE TRANÇA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27 3.2 MOVIMENTO ELEMENTAR E A EQUIVALÊNCIA ENTRE TRANÇAS . . . . . . . . . . . . 28 3.3 PROJEÇÃO DE UMA TRANÇA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29 3.4 INVARIANTES DE TRANÇAS E TRANÇAS PURAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31 4 O GRUPO DE TRANÇAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35 4.1 UMA DEFINIÇÃO DE GRUPO DE TRANÇAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . 39 REFERÊNCIAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41 19 1 INTRODUÇÃO O estudo dos grupos de tranças no plano, denotados por Bn , foi introduzido de maneira geométrica e intuitiva pelo alemão E. Artin em 1925, que posteriormente, em 1947, os estudou mais rigorosamente de um ponto de vista algébrico. Uma trança é um objeto físico que, durante vários séculos, foi expresso de diferentes maneiras, com cordas, cabelo, tecidos e até mesmo massas. Sendo assim, é fácil de imaginarmos como é a aparência de uma trança. Na natureza, inclusive, é possível encontrar diferentes manifestações de tranças. Além disso, foi descoberto pela NASA, através das naves espaciais Voyager 1, 2, que enviaram fotos dos anéis de Saturno onde é possível reconhecer que o anel F estava trançado. Outro exemplo que será brevemente mencionado é a estrutura do DNA, que possui um fio triplo com estruturas semelhantes a uma trança. Dos exemplos citados acima, é possível perceber como o uso das tranças pode ser variado e numeroso. O principal objetivo deste trabalho é fazer um breve estudo das tranças geométricas e apresentar uma estrutura algébrica sobre o conjunto de tranças nos próximos capítulos. Os grupos de tranças são interessantes por si próprios, mas também tem um papel importante em diferentes áreas da matemática como a topologia, geometria, álgebra, sistemas dinâmicos e física teórica. Para fazermos tal estudo, dividimos nosso trabalho da seguinte maneira: No capítulo de Resultados Preliminares, estudaremos alguns requisitos fundamentais de álgebra tais como: gru- pos, subgrupos, homomorfismo e isomorfismo de grupos. No capítulo 3, fazemos a apresentação geométrica de tranças, analisando as suas principais propriedades. Já no capítulo 4, apresentamos uma estrutura de grupo para o conjunto das classes de equivalência de tranças. Esta estrutura permite que sejam estudados propriedades e problemas que envolvem a teoria de tranças através da Álgebra, ou seja, através do grupo de tranças é possível responder algumas questões geométricas de tranças. Neste trabalho limitaremos a apresentar apenas as propriedades associativa, existência de elemento neutro e inverso. 21 2 RESULTADOS PRELIMINARES Daremos início ao trabalho com os aspectos básicos da teoria de grupos. Este capítulo tem como propósito abordar os conceitos fundamentais da teoria de grupos para a compreensão dos capítulos posteriores. Para uma leitura mais aprofundada sobre os assuntos aqui expostos, o leitor pode consultar a referência: (DOMINGUES; IEZZI, 2003). 2.1 GRUPOS Nesta seção, o objetivo principal é apresentar definições, propriedades e exemplo de grupos. Os grupos são estruturas algébricas munidas de uma operação. A seguir, apresentamos a definição de grupo de uma maneira mais formal. Definição 2.1. Um conjunto não-vazio G com uma operação ∗ é um grupo se são satisfeitas as seguintes condições. (i) A operação ∗ é associativa, ou seja, a ∗ (b ∗ c) = (a ∗ b) ∗ c, para todos a, b, c ∈ G. (ii) Existe um elemento e ∈ G tal que e ∗ a = a ∗ e = a, para todo a ∈ G. Tal elemento é chamado de elemento neutro para a operação ∗. (iii) Para todo a ∈ G existe o elemento a′ ∈ G tal que a ∗ a′ = a′ ∗ a = e. Tal elemento a′ é denominado simétrico de a. Caso a operação ∗ seja comutativa, isto é, a ∗ b = b ∗ a, para todos a, b ∈ G, diremos que o grupo G é abeliano ou comutativo. Exemplo 2.2. O conjunto dos números inteiros, Z, munido da operação de adição usual, +, é um grupo. Com efeito, sendo a, b, c ∈ Z, temos que, (i) a+ (b+ c) = (a+ b) + c; (ii) Existe 0 ∈ Z tal que a+ 0 = 0 + a = a, para todo a ∈ Z. 22 (iii) Para todo a ∈ Z, com (a 6= 0) existe (−a) ∈ Z tal que a+ (−a) = −a+ a = 0. Observação 2.3. A menos que se diga o contrário, de agora em diante utilizaremos a notação multiplicativa, ·, para denotar a operação de um grupo G. Assim, para todo x ∈ G, seu simétrico sera denotado por x−1 e o chamaremos de inverso de x. Definição 2.4. Seja G um grupo, a ordem do grupo G é sua cardinalidade, e será denotado por |G| ou o(G). Definição 2.5. Seja G um grupo e a ∈ G, a ordem do elemento a é o menor número inteiro positivo n tal que an = e (se este valor existir), onde e é o elemento neutro. Se este valor não existe, a ordem de a é infinita. Denota-se a ordem de a por |a| ou por o(a). Definição 2.6. Um grupo G é dito finito quando o conjunto G for finito. Definição 2.7. Um grupo G é dito cíclico se existir x ∈ G, tal que para qualquer elemento y ∈ G tem-se y = xn para algum n ∈ Z. Em caso afirmativo, escrevemos G = 〈x〉 = {xn |n ∈ Z}, e dizemos que x gera o conjunto G. Observação 2.8. Note que, com a operação de adição temos que xn = x+ x+ . . .+ x = x · n. Exemplo 2.9. O grupo (Z,+) é cíclico gerado por 1 ou −1: Z = {1n |n ∈ Z} = {(−1)n |n ∈ Z} = 〈1〉 = 〈−1〉. 2.2 SUBGRUPOS Considere o grupo (R,+). Note que (Z,+) é um subconjunto de R. Além disso, podemos observar que Z é fechado para a adição e que (Z,+) também é um grupo. Por isso chamamos Z um subgrupo de R. Podemos dizer então, que os subgrupos são subconjuntos de um grupo G que, sob algumas condições, também são grupos munidos da mesma operação de G. Definição 2.10. Seja (G, ·) um grupo. Um subconjunto não-vazio H de G é um subgrupo de G se H é fechado para a operação · e H é um grupo. Notação 2.11. H ≤ G:H é um subgrupo de G. Proposição 2.12. Um subconjunto não vazio H de um grupo G é um subgrupo de G se, e somente se, a · b−1 ∈ H, 23 para todos a, b ∈ H. Proposição 2.13. Se H e K são subgrupos de G, então H ∩K é um subgrupo de G. Demonstração. Note que H ∩K 6= ∅, pois o elemento neutro de G pertence a H ∩K . Sejam x, y ∈ H ∩K logo, x, y ∈ H e x, y ∈ K. Como por hipótese, H e K são subgrupos de G, pela Proposição 2.12, temos que x · y−1 ∈ H e x · y−1 ∈ K. Assim, x · y−1 ∈ H ∩K. Portanto, pela Proposição 2.12 H ∩K é um subgrupo de G. Definição 2.14. Seja G um grupo. O conjunto Z(G) = {a ∈ G | ax = xa,∀x ∈ G} é denominado centro do grupo G. Observação 2.15. Demonstração. Note que Z(G) é um subgrupo abeliano de G. De fato, pois se e ∈ G é o elemento neutro, temos que ex = x = xe, ∀x ∈ G, ou seja, e ∈ Z(G). Agora, tome a, b ∈ Z(G). Assim, (ab−1)x assoc. = a(b−1x) b∈Z(G) = a(bx−1)−1 = a(xb−1) assoc. = (ax)b−1 a∈Z(G) = (xa)b−1 assoc. = x(ab−1). Logo, ab−1 ∈ Z(G), e portanto, pela Proposição 2.12, Z(G) é subgrupo de G. E claramente Z(G) é abeliano. 2.3 HOMOMORFISMO E ISOMORFISMO DE GRUPOS O homomorfismo e o isomorfismo de grupos é uma aplicação entre dois grupos que pre- serva as respectivas operações. Ao longo desta seção, definimos, formalmente, homomorfismo e isomorfismo de grupos e apresentamos alguns resultados e exemplos importantes relacionados ao tema. Definição 2.16. Dizemos que uma aplicação f : G −→ H é um homomorfismo de grupos se, para quaisquer x, y ∈ G, f(x ∗ y) = f(x) · f(y). Se um homomorfismo é uma aplicação injetora(respectivamente, sobrejetora), então o chamamos de homomorfismo injetor(respectivamente, sobrejetor).Se o homomorfismo for injetor e sobrejetor, chamamos de homomorfismo bijetor. 24 Definição 2.17. Seja f : G −→ H um homomorfismo de grupos. Se f também for uma bijeção, então será chamado de isomorfismo do grupo G no grupo H . Neste caso, dizemos que G e H são isomorfos. ( Notação: G ∼= H) Exemplo 2.18. A aplicação f : Z −→ C∗ definida por f(m) = im é um homomorfismo de grupos. Com efeito, primeiramente precisamos notar que Z é um grupo aditivo, enquanto C∗ é um grupo multiplicativo. Logo f(m+ n) = im+n = im · in = f(m) · f(n). Portanto, f é um homomorfismo de grupos. Exemplo 2.19. Seja a ∈ Z. A aplicação f : Z −→ Z definida por f(m) = am é um homomorfismo de Z. Note que, f(m+ n) = a(m+ n) = am+ an = f(m) + f(n). Se considerarmos a = 0, teremos f(m) = 0 para todo m ∈ Z, logo f não é injetora e nem sobrejetora. Porém, se a 6= 0 e f(m) = f(n), isto é, am = an, cancelando a, obtemos m = n, o que nos leva a f injetora,neste caso. Agora, se a = 1, então f é a aplicação identidade de Z, portanto é sobrejetora. Se a 6= 1, então f não é sobrejetora, porque Imf = {0,±a,±2a,±3a, ...} 6= Z. Definição 2.20. Seja f : G −→ H um homomorfismo de grupos. Se u indica o elemento neutro de H , o seguinte subconjunto de G será chamado de núcleo de f , e denotado por N(f), N(f) = {x ∈ G | f(x) = u}. Exemplo 2.21. Vamos determinar o núcleo do homomorfismo f : Z −→ C∗ definido por f(m) = im, dado no Exemplo 2.18. Note que, o elemento neutro de C∗ é 1, logo, basta resolver a equação im = 1. Portanto, o conjunto de soluções dessa equação, ou seja, o núcleo de f é dado por N(f) = {0,±4,±8, ...}. Proposição 2.22. Seja f : G −→ H um homomorfismo de grupos. Então, (i) N(f) é subgrupo de G; (ii) f é um homomorfismo injetor se, e somente se, N(f) = {e}. Demonstração. Denotaremos por e e u os elementos neutros de G e H . (i) Para que Nuc (f) seja um subgrupo, pela Proposição 2.12, precisamos verificar que • Nuc (f) 6= ∅ e que 25 • x, y ∈ Nuc (f) =⇒ xy−1 ∈ Nuc (f) De fato, note que e ∈ Nuc (f), pois por propriedade f(e) = u, e assim Nuc (f) 6= ∅. Agora sejam x, y ∈ Nuc (f), isto é, f(x) = f(y) = u. Assim, f(xy−1) f é hom. = f(x)f(y−1) prop. = f(x)[f(y)]−1 x,y∈Nuc (f) = uu−1 = uu = u Logo, xy−1 ∈ Nuc (f). Portanto, Nuc (f) é um subgrupo de G. (ii) (=⇒) Seja x ∈ G tal que x ∈ Nuc (f), então f(x) = u. Sabemos que e ∈ Nuc (f), pois f(e) = u. Assim, f(x) = f(e) f é inj. =⇒ x = e Portanto, Nuc (f) = {e}. (⇐=) Agora, supondo que Nuc (f) = {e}, provemos que f é injetor. De fato, sejam x, y ∈ G tais que f(x) = f(y). f(x) = f(y) =⇒ f(x)[f(y)]−1 = f(y)[f(y)]−1 =⇒ f(x)f(y−1) = u =⇒ f(xy−1) = u =⇒ xy−1 ∈ Nuc (f). Mas da hipótese de Nuc (f) = {e}, teremos que xy−1 = e =⇒ (xy−1)y = ey =⇒ x(y−1y) = y =⇒ xe = y =⇒ x = y. Portanto, f é injetor. Proposição 2.23. Se f : G −→ H é um isomorfismo de grupos, então, f−1 : H −→ G também é um isomorfismo de grupos. Demonstração. Note que, o fato de f ser uma bijeção nos garante que f−1 também é uma aplicação bijetora, porém deH emG. Agora, tomemos y1, y2 ∈ H . Como f é sobrejetora, existem x1, x2 ∈ G tais que y1 = f(x1) e y2 = f(x2). Daí, f−1(y1) = f−1(f(x1)) e, analogamente, 26 f−1(y2) = f −1(f(x2)). Então, f−1(y1y2) = f −1(f(x1)f(x2)) = f −1(f(x1x2)) = x1x2 = f −1(y1)f −1(y2). Isso mostra que f−1 é um isomorfismo de grupos. 27 3 TRANÇAS GEOMÉTRICAS Tranças são objetos geométricos, porém sua análise não é limitada apenas a uma confi- guração geométrica. Algumas técnicas de álgebra tem ajudado, notavelmente, a compreender as propriedades que envolvem uma trança. Neste capítulo falaremos um pouco sobre trança geométrica. Os conceitos e resultados citados neste capítulo podem ser encontrados no livro (MURASUGI; KURPITA, 2012). 3.1 UMA DEFINIÇÃO DE TRANÇA Considere D = {(x, y, z) ∈ R3|0 ≤ x ≤ 1, 0 ≤ y ≤ 1, 0 ≤ z ≤ 1} um cubo unitário. Sobre a face superior desse cubo, escolhemos n pontos, A1, . . . , An e da face inferior escolhemos outros n pontos B1, . . . , Bn, conforme representado na Figura 1. Figura 1 – Cubo D com pontos marcados Neste cubo podemos considerar n segmentos d1, . . . , dn que conectam os pontos A1, . . . , An da face superior do cubo aos pontos B1, . . . , Bn da face inferior, satisfazendo as seguintes condições: 1. d1, . . . , dn são mutuamente disjuntos, isto é, os segmentos não se tocam. 2. Cada segmento di conecta um ponto Aj a um ponto Bk, onde j e k podem ou não ser iguais. Porém, não é permitido conectar Aj com Ak ou Bj com Bk. 3. Cada plano Es, chamado plano de nível, paralelo as faces superior e inferior do cubo (isto é, paralelo ao plano xy), intersecta cada segmento di em um único ponto. Na Figura 1(b) temos um exemplo na qual a condição 3 não se aplica. Figura 2 – Ilustração da condição 3. Em (a) esta condição se aplica, em (b) não se aplica 28 Definição 3.1. Uma configuração de n segmentos d1, . . . , dn, os quais chamamos de cordas, que interligam os pontos A1, . . . , An a B1, . . . , Bn, satisfazendo as três condições acima, é chamada de uma n-trança com n cordas. Cada segmento di é denominado i-ésima corda da trança. Pela condição 3 e o fato dos pontos A1, . . . , An serem colocados acima dos pon- tos B1, . . . , Bn, as cordas de uma trança fluem monotonicamente para baixo como podemos observar na figura abaixo: Figura 3 – Exemplos de tranças geométricas de 1 corda, 2 cordas e 4 cordas, respectivamente 3.2 MOVIMENTO ELEMENTAR E A EQUIVALÊNCIA ENTRE TRANÇAS Quando podemos considerar se duas ou mais tranças são equivalentes? Primeiramente, é importante ressaltar que, do ponto de vista matemático, o material ou a espessura das cordas que formam uma trança são irrelevantes para o nosso estudo. Respondendo a questão feita acima, podemos dizer que duas ou mais tranças são equivalentes quando as diferenças entre elas possam ser removidas através de uma série de movimentos, chamados de movimentos elementares, e que veremos adiante. Vale ressaltar que não nos é permitido cortar as cordas ou mudar a posição nas extremidades. Portanto, o que precisamos encontrar são movimentos, ou melhor dizendo, uma sequên- cia de movimentos os quais possam produzir essencialmente as mesmas tranças. Para tanto, denotaremos por Bn o conjunto de todas as n-tranças. Definição 3.2. (Movimento Elementar) Seja D um cubo unitário no qual existe um número n de cordas tal como descrito na Definição 3.1. Considere AB um segmento de reta de uma corda di cuja extremidades são pontos de di, e seja C um ponto em D de forma que o triângulo4ABC formado não intersecte nenhuma outra corda, e só encontra di ao longo de AB . Além disso, vamos supor que (1) AC ∪ CB intersecta todo o plano nivelado Es, para 0 ≤ s ≤ 1, em no máximo um ponto. Se o item 1 acima for válido, então chamaremos de Ω a seguinte operação: (2) substitua AB pelas duas arestas AC ∪ CB, ou a operação inversa de Ω, isto é, substituir AC ∪ CB por AB, a qual denotaremos por Ω−1. As operações Ω±1 são chamadas de movimentos elementares. Na Figura 4 temos a representação dos movimentos elementares descritos anteriormente. 29 Figura 4 – Movimento Elementar Definição 3.3. (Equivalência entre tranças) Uma n-trança β é equivalente a outra n-trança β′ se β pode ser transformada em β′ aplicando (em β) uma série finita de movimentos elementares dentro do cubo D. A equivalência entre tais tranças é denotada por β ∼ β′. β = β0 Ω±1 // β1 Ω±1 // · · · Ω ±1 // βm = β ′ Figura 5 – Tranças Equivalentes A relação “ ∼ ” da Definição 3.3 acima define uma “relação de equivalência ” no conjunto Bn . Caso o leitor não esteja familiarizado com este conceito, mais detalhes podem ser encontrados em (DOMINGUES; IEZZI, 2003). Neste contexto, podemos definir um conjunto quociente Bn/ ∼ como sendo o conjunto de todas as n-tranças não equivalentes. Observação 3.4. Note que uma n-trança e uma m-trança não são equivalentes se n 6= m, uma vez que não existe uma sequência de movimentos elementares capaz de aumentar ou diminuir o número de cordas. 3.3 PROJEÇÃO DE UMA TRANÇA Nos exemplos anteriores lidamos com n-tranças β em um cubo unitário D. À medida que nos aprofundamos e desenvolvemos a teoria de tranças, iremos considerar tranças mais “complexas”. Entretanto, visualizá-las em um cubo tridimensional sobre um papel bidimensional tende a prejudicar a nossa compreensão. Para facilitar a visualização iremos projetar uma dada n-trança β no plano yz através de uma projeção p tal que p(x, y, z) = (0, y, z). O efeito de p em β é exibir um conjunto simples de n curvas d̂1, . . . , d̂n no plano yz, conforme podemos verificar na Figura 6 abaixo: Após aplicarmos alguns movimentos elementares em β podemos concluir que a proje- ção de uma n-trança, denotada por p(β), satisfaz as seguintes condições: 30 Figura 6 – Projeção de uma trança 1. p(β) possui, no máximo, um número finito de pontos de intersecção. 2. Se Q é um ponto de interseção de p(β), então a imagem inversa de p−1(Q) de Qem β tem exatamente dois pontos. Então, no máximo dois pontos de β são aplicados no mesmo ponto em p(β). Em tais casos, Q é chamado de ponto duplo (ou ponto de inteseção) de p(β) (Ver Figura 7). Figura 7 – Ponto de interseção 3. Um vértice de β nunca é aplicado em um ponto de interseção de p(β). Definição 3.5. A projeção p(β) que satisfaz as três condições acima é chamada de projeção regular. Agora, seja β uma trança e p(β) uma projeção regular de β. Em essência, p(β) representa a trança exceto nos pontos de interseção. Nestes pontos, entretanto, não está claro qual corda está na frente da outra. Mas, se mudarmos levemente a nossa percepção de projeção regular, podemos de fato aproximar a projeção regular para que possamos dizer qual corda flui acima e abaixo. Para tal fim, cortamos em ambos os lados da corda próximo ao ponto de interseção, como na Figura 8. Uma projeção regular alterada da maneira descrita acima é chamada de diagrama regular. Figura 8 – Diagrama Regular O diagrama regular é muito útil para nos ajudar a entender e investigar a natureza de uma trança ou de um conjunto de tranças. As figuras que apresentaremos de agora em diante consistirão de diagramas regulares, os quais, dependendo do contexto, estarão dentro de um retângulo delimitador, ou simplesmente será delimitado por um segmento inferior e outro segmento superior 31 Figura 9 – Possíveis representações de um diagrama regular 3.4 INVARIANTES DE TRANÇAS E TRANÇAS PURAS Sabemos, pela Observação 3.4, que uma n-trança β não pode ser equivalente a uma m-trança β′ se n 6= m. No entanto, ainda não sabemos quando duas n-tranças quaisquer são equivalentes. Para isto, seria útil encontrar um invariante. Neste sentido, vamos considerar f uma função do conjunto de todas as n-tranças Bn (domínio) e contradomínio algum objeto algébrico. Se f tem a propriedade β ∼ β′ =⇒ f(β) = f(β′), então, f é chamado de invariante. Proposição 3.6. Seja β uma n-trança e suponha que a i-ésima corda di de β une Ai com Bj(i) com i = 1, 2, 3, ..., n. Vamos definir f : Bn −→ Sn como f(β) = ( 1 2 ... n j(1) j(2) ... j(n) ) , (3.1) onde Sn é o grupo das permutações. Então, f é um invariante de tranças que chamamos de permutação de tranças, usualmente denotada por π(β). Demonstração. De fato, se β ∼ β′ então para cada i = 1, 2, ..., n a i-ésima corda em cada uma das tranças devem ter o mesmo ponto inferior Bj(i). Então, elas tem a mesma permutação associada. Exemplo 3.7. Se definirmos f(β) como sendo o número de cordas em β, então f : Bn −→ N é um invariante de tranças. De fato, se f(β) 6= f(β′) então β e β′ não são equivalentes, isso porque β e β′ possuem um número diferente de cordas. Exemplo 3.8. Seja β uma n-trança e suponha que a i-ésima corda di de β une Ai com Bj(i) com i = 1, 2, . . . , n. Defina f : Bn −→ Sn (o conjunto de todas as permutações do conjunto {1, 2, . . . , n}) como f(β) = ( 1 2 . . . n j(1) j(2) . . . j(n) ) (3.2) Então, f é uma trança invariável. De fato, se β ∼ β′ então para cada i, a i-ésima corda em cada uma das duas tranças deve ter o mesmo ponto inferior, Bj(i). Então, elas devem ter a mesma permutação. 32 Exemplo 3.9. Considerando as 3-tranças β1 e β2 dadas na figura abaixo: Figura 10 – Exemplo 3.9 suas permutações de tranças são π(β1) = ( 1 2 3 3 1 2 ) e π(β2) = ( 1 2 3 2 3 1 ) (3.3) Uma vez que π(β1) 6= pi(β2), concluímos que β1 � β2. Definição 3.10. Uma trança β é chamada de n-trança pura se π(β) = ( 1 2 ... n 1 2 ... n ) (3.4) Uma vez que é a permutação identidade, vamos denotá-la por π(β)(1). Portanto, uma n-trança é pura se para todo i = 1, 2, . . . , n, a i-ésima corda sempre junta Ai com Bi. O conceito de trança pura tem um papel fundamental no estudos das tranças. É possível definir um conjunto de inteiros para cada n-trança. Considere uma n-trança β e tome duas cordas distintas, as cordas di e dj com i 6= j. No diagrama regular de β, estas cordas se intersectam diversas vezes em vários pontos. Sendo assim, considere p(di, dj) o número de vezes que di cruza abaixo de dj começando pela esquerda e n(di, dj) o número de ocorrências em que di cruza abaixo de dj começando da direita (à esquerda). Então o número p(di, dj)− n(di, dj) é chamado de índice de cruzamento de di para dj e é denotado por cr(di, dj). Em geral, cr(di, dj) não precisa ser igual à cr(dj, di), então cr(di, dj) não é simétrico na natureza. No exemplo a seguir, apresentamos um outro invariante do conjunto de tranças Bn. Exemplo 3.11. Para a 3-trança na Figura 11, cr(d1, d2) = 1, cr(d1, d3) = 1 cr(d2, d1) = 0, cr(d2, d3) = 0 cr(d3, d1) = 0, cr(d3, d2) = −1 33 Figura 11 – Exemplo 3.11 Proposição 3.12. Seja p∗(di, dj) (e n∗(didj)) a notação para o número de vezes que di passa sobre dj da esquerda (para a direita). Então, para i 6= j, (1) p∗(di, dj) = n(dj, di) (3.5) e (2) n∗(di, dj) = p(dj, di) (3.6) Proposição 3.13. Seja β uma n-trança pura. Então, para todo i 6= j, cr(di, dj) = cr(dj, di) (3.7) O inteiro cr(di, dj) = cr(dj, di) é chamado de índice de vinculação entre di e dj e é denotado por lk(di, dj). Corolário 3.14. Para toda n-trança pura, lk(di, dj) = lk(dj, di) (3.8) onde 1 ≤ i, j ≤ n e com i 6= j. 35 4 O GRUPO DE TRANÇAS 4.1 UMA DEFINIÇÃO DE GRUPO DE TRANÇAS De maneira a fundamentar a teoria de tranças, parte-se, inicialmente, do problema: quantas tranças não equivalentes (diferentes) podem existir? A ideia da existência de um número finito de tranças é rapidamente desconsiderada uma vez que podemos mostrar que uma n-trança não é equivalente a uma m-trança se m 6= n. Entretanto, não nos parece lógico dizer que todas as n-tranças são equivalentes. Com isso, podemos reformular nossa questão: quantas n-tranças diferentes existem, sendo n um número inteiro positivo? Ainda que tal questão seja mais específica, a solução não é fácil. De fato, para todo n ≥ 2, Bn é sempre infinito. Contudo tudo o que podemos mostrar é que o número de n-tranças distintas deve ser no mínimo n!, tendo em vista que |Sn| = n!. Com a finalidade de tentar descobrir como podemos mostrar que Bn para cada n possui um número infinito de n-tranças, vamos n = 2. Toda 2-tranças é equivalente a um dos 2 tipos de tranças, um exemplo desses dois tipos é dado na Figura 12, onde a imagem à esquerda tem 3 torções, enquanto a imagem à direita tem 4 torções. Ainda veremos, mais adiante, que se p e q são os números de torções de duas 2-tranças, βp e γq respectivamente então, para p, q ≥ 1 e p - q, essas duas tranças são não equivalentes, em termos de notação estabelecidas no capítulo anterior, βp � γq. Obviamente, se p = q e os números de torções são os mesmos, então tais tranças são exatamente as mesmas. Logo, se provarmos isso, segue imediatamente que B2 tem um número infinito de tranças distintas. Figura 12 – 2-tranças Afim de mostrar o que foi dito acima, introduziremos o conceito de Grupo de Tranças. O grupo de tranças também é chamado de Grupo de Tranças de Artin, em homenagem a Emil Artin, pois foi ele quem iniciou formalmente o estudo de grupo de tranças em seus trabalhos. Definição 4.1. Suponha que β1 e β2 são duas n-tranças em Bn. Podemos criar uma terceira n-trança a partir delas, a chamaremos de o produto de β1com β2 e denotaremos por β1β2, e é dada do seguinte modo: Primeiramente, considere dois quadrados U1 e U2 onde situam-se β1 e β2 respecti- vamente, (Figura 13(a)), e cole (ou de forma mais precisa, identifique) a borda inferior de U1 com a borda superior de U2, veja a Figura 13(b). Na colagem das bordas, assumimos que os 36 respectivos pontos finais das duas tranças também estão colados (ou identificados) juntos. A seguir, remova apenas a borda colada, isso agora nos fornece uma nova trança, Figura 13(c). Podemos assumir, sem qualquer perda de rigor matemático, que essa nova trança também se situa em um quadrado, digamos U. Figura 13 – Produto de Tranças Geométricas Esta nova n-trança é definida como o produto de duas n-tranças β1 e β2. Proposição 4.2.Suponha que β, β′, β̄, β̄′. Então, ββ̄ ∼ β′β̄′. Demonstração. Como β ∼ β′, segue da Definição 3.3 que existe uma sequência finita, β = β0 Ω±1 // β1 Ω±1 // · · · Ω ±1 // βm = β ′ . Essa sequência, por sua vez, induz uma segunda sequência, isto é, ββ̄ = β0β̄ Ω±1 // β1β̄ Ω±1 // · · · Ω ±1 // βmβ̄ = β ′β̄ Portanto, temos que ββ̄ ∼ β′β̄′. Analogamente, como β̄ ∼ β̄′ existe a seguinte sequência finita, β̄ = β̄0 Ω±1 // β̄1 Ω±1 // · · · Ω ±1 // β̄k = β̄′ que, por sua vez, induz a seguinte sequência finita β′β̄ = β′β̄0 Ω±1 // β′β̄1 Ω±1 // · · · Ω ±1 // β′β̄k = β ′β̄′ Portanto, β′β̄ ∼ β′β̄′. A transitividade entre relações de equivalência nos dá que ββ̄(∼ β′β̄) ∼ β′β̄′. Proposição 4.3. O produto de duas tranças é associativo, isto é, (β1β2)β3 ∼ β1(β2β3). (4.1) 37 Apesar de o produto de tranças ser associativo, ele não é necessariamente comutativo, isto é, β1β2 nem sempre é equivalente à β2β1. Demonstração. Nas Figuras 14 (a)-(c) damos uma justificativa diagramática para 4.1: Figura 14 – Produto não comutativo Um exemplo de um produto não comutativo é mostrado na Figura 14 (d). Proposição 4.4. Seja e uma n-trança como a mostrada na Figura 15, onde para i = 1, · · · , n juntamos, por um segmento de linha reta, o ponto Ai ao ponto Bi. Então, para qualquer n-trança β, βe ∼ β e β ∼ βe (4.2) Tal trança é chamada de trança identidade (ou trivial) e devemos denotá-la por 1n. Figura 15 – Trança Identidade Seja β uma n-trança, e vamos construir uma nova n-trança β̄ de β de seguinte modo: imagine que a borda inferior do quadrado, U, que contém β atua como o plano de um espelho. Tomando a imagem espelhada de β, podemos construir uma nova n-trança, β̄, Figura 16(a). Logo, podemos ver que ββ̄ é equivalente à 1n, Figura 16(b). 38 Figura 16 – Trança inversa O descrito acima nos leva a seguinte proposição. Proposição 4.5. Para cada n-trança β, existe uma n-trança β̄ tal que ββ̄ ∼ 1n e β̄β ∼ 1n. (4.3) Tal trança é chamada de inversa de β e denotada por β−1. A fim de definir uma estrutura de grupo precisamos considerar as classes de equivalên- cia das n-tranças. Uma consequência da Proposição 4.5 é que o produto de dois elementos [β1] e [β2] em Bn é bem definido, desde que [β1β2] = [β1β2]. De fato, devido à Proposição 4.3 a classe de equivalência [β1β2] é independente do representante de cada classe. Então, com isso e a substância das Proposições 4.3 até 4.5, temos todos os requisitos necessários para Bn poder ser um grupo (não comutativo). Teorema 4.6. O grupo das classes de equivalência das n-tranças Bn forma um grupo. Tal grupo é usualmente chamado de o grupo de n-tranças de Artin. Demonstração. O produto (operação binária) é dado pela Definição 4.1; associatividade é uma consequência da Proposição 4.3; o elemento identidade é 1n (Proposição 4.4); e o inverso do elemento [β], denotado por [β]−1, é [β−1]. 39 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS Neste trabalho de conclusão de curso, fizemos uma breve introdução à Teoria de tranças, abordando inicialmente a noção geométrica e na sequência vimos que é possível definir um grupo com as classes de n-tranças, para que com a ajuda da Álgebra possa ser exploradas propriedades destes objetos geométricos. Através deste estudo foi possível ter um contato com conceitos matemáticos que não seriam abordados no curso de Licenciatura em Matemática, e que complementa a formação matemática e que motiva para continuar os estudos na área de matemática. 41 REFERÊNCIAS DOMINGUES, H. H.; IEZZI, G. Álgebra moderna. 4. ed. São Paulo: Atual São Paulo, 2003. Citado 2 vezes nas páginas 21 e 29. MURASUGI, K.; KURPITA, B. A study of braids. 1. ed. [S.l.]: Springer Science & Business Media, 2012. Citado na página 27. Folha de Rosto FOLHA DE APROVAÇÃO Dedicatória Agradecimentos Epígrafe Resumo Abstract Lista de Figuras Sumário 1 Introdução 2 Resultados Preliminares 2.1 Grupos 2.2 Subgrupos 2.3 Homomorfismo e Isomorfismo de Grupos 3 Tranças Geométricas 3.1 Uma definição de trança 3.2 Movimento Elementar e a Equivalência entre tranças 3.3 Projeção de uma trança 3.4 Invariantes de tranças e tranças puras 4 O Grupo de Tranças 4.1 Uma definição de grupo de tranças 5 Considerações Finais Referências
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