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Unidade II
Unidade II
5 AGENTES ANTIMICROBIANOS 
Provavelmente, você, em algum momento específico de sua vida, precisou utilizar alguma medida 
de proteção contra microrganismos (por exemplo, as vacinas) ou fez uso de algum medicamento 
contra uma infecção causada por eles (por exemplo, antibacterianos, antifúngicos ou vermífugos/
antiparasitários). Porém, nós, que vivemos no século XXI, talvez não conseguimos imaginar como era a 
vida sem os conhecimentos que nos permitiram desenvolver as vacinas e os agentes antimicrobianos. 
Agentes antimicrobianos são compostos químicos com a capacidade de reduzir a proliferação de 
microrganismos (por microrganismos, podemos compreender seres vivos como as bactérias, os fungos, 
os parasitas protozoários e os vírus) ou induzir a morte desses organismos vivos. 
Mas, antes de compreendermos os conceitos sobre os microrganismos e o tratamento das infecções 
causadas por eles, precisamos observar como era o mundo antes de adquirirmos esses conhecimentos. 
Por isso, vamos verificar os aspectos históricos relacionados às descobertas e ao desenvolvimento 
dos agentes antimicrobianos que possuímos hoje disponíveis para a prática clínica.
5.1 História dos antimicrobianos
Apesar de os microrganismos terem sido inicialmente observados por volta do fim do século XVII, quando 
os microscópios mais primitivos foram desenvolvidos, os grandes conhecimentos sobre microrganismos 
pelos microbiologistas ocorreram por volta do século XIX, de modo que, no século XX, a humanidade 
obteve grandes avanços no desenvolvimento de ferramentas para o diagnóstico (identificação) e para a 
terapia (tratamento) das infecções causadas por esses microrganismos. 
Baseados nos avanços científicos recentes, os cientistas iniciaram nas primeiras décadas do 
século XX uma série de estudos para identificar compostos químicos que pudessem ser úteis para o 
desenvolvimento de terapias medicamentosas antimicrobianas. Porém, foi durante a Segunda Guerra 
Mundial que houve na medicina uma série de mudanças em decorrência da necessidade de encontrar 
compostos com atividade antimicrobiana devido à grande incidência mundial de mortes decorrentes 
de infecções bacterianas, e também por essas infecções serem responsáveis por um grande número de 
baixas em tropas que estavam em combate.
Em virtude do uso de armas químicas na Primeira Guerra Mundial (1914 a 1918), o período 
pós‑Primeira Guerra foi seguido do desenvolvimento de inúmeros agentes químicos tóxicos para seu 
emprego em eventuais batalhas, já que essas armas acabaram decidindo o resultado da Primeira Guerra 
Mundial. Isso permitiu que, nas décadas de 1930 e 1940, diversos estudos fossem realizados em busca 
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FARMACOLOGIA
de moléculas antimicrobianas. Contudo, esses estudos foram mais úteis no desenvolvimento de agentes 
quimioterápicos antineoplásicos (antitumorais como a ifosfamida e ciclofosfamida são derivados de 
mostardas nitrogenadas, como o gás mostarda, utilizado como arma química nessa guerra) do que para 
a quimioterapia antimicrobiana. 
Assim, a descoberta da penicilina pelo microbiologista e farmacologista inglês Alexander Fleming, 
em 1928, permitiu que no período da Segunda Guerra Mundial, mais precisamente em 1941, a penicilina 
fosse obtida em quantidades suficientes para seu emprego na clínica. Já ao final da Segunda Guerra, o 
arsenal terapêutico no combate a essas infecções contava com um número considerável de moléculas, 
em geral, derivadas da molécula da penicilina.
Antes mesmo do fim da década de 1940, foi identificada uma cepa bacteriana (um grupo de bactérias 
descendentes de um ancestral comum que compartilham semelhanças genéticas, morfológicas ou 
fisiológicas) que produzia a penicilinase, uma enzima (proteína mediadora de reações químicas) capaz 
de alterar quimicamente a molécula da penicilina, impedindo sua efetividade contra essas bactérias. 
Assim, iniciaram os estudos sobre os mecanismos de resistência bacteriana aos agentes antimicrobianos 
e o processo de desenvolvimento de novas moléculas de antimicrobianos que fossem capazes de agir 
sobre essas cepas resistentes à penicilina e suas moléculas derivadas. Desse modo, na década de 1950, 
foram obtidos os antimicrobianos pertencentes às classes dos aminoglicosídeos, o cloranfenicol, a 
tetraciclina, os macrolídeos e a vancomicina. Ainda nessa década, uma classe de compostos conhecidos 
como azóis trouxe boas perspectivas para o tratamento de diversas infecções fúngicas, bacterianas e 
parasitárias, permitindo a obtenção de agentes conhecidos como antimicrobianos de amplo espectro 
de atividade.
Nas décadas seguintes, conforme a resistência bacteriana ia sendo verificada em cepas de 
microrganismos diversos, novos derivados dos agentes antimicrobianos já conhecidos, bem como novas 
classes de agentes microbianos (como as cefalosporinas, as quinolonas, derivados do ácido nalidíxico; 
e os agentes modernos, como o monobactam e o carbapenem e seus derivados) foram desenvolvidos e 
empregados na prática clínica.
Atualmente, podemos dizer que possuímos uma grande variedade de agentes antimicrobianos 
disponíveis, porém, em decorrência do uso irracional de medicamentos antimicrobianos e do emprego 
desses agentes de forma banalizada em vários segmentos, como a higiene pessoal, avicultura e 
agropecuária, por exemplo, a resistência de microrganismos se tornou um dos grandes problemas de 
saúde pública do século XXI.
Para compreender melhor o problema da resistência de microrganismos aos agentes antimicrobianos 
e os desafios que enfrentamos hoje para o tratamento das infecções, discutiremos a seguir os mecanismos 
de resistência mais comumente verificados nas cepas já estudadas pela ciência. Perceba que você, hoje, 
faz parte de um novo capítulo que está sendo escrito sobre a história dos antimicrobianos: a batalha 
contra a resistência bacteriana e a promoção do uso racional de antimicrobianos.
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Unidade II
 Saiba mais
Para conhecer um pouco mais sobre a vida de Alexander Fleming e o 
processo de descoberta da penicilina, acesse os artigos:
ALEXANDER Fleming e a descoberta da penicilina. Jornal Brasileiro de 
Patologia e Medicina Laboratorial, Rio de Janeiro, v. 45, n. 5, out. 2009. 
Disponível em: https://www.scielo.br/pdf/jbpml/v45n5/v45n5a01.pdf. 
Acesso em: 28 jun. 2020.
FRAZÃO, D. Biografia de Alexander Fleming. Ebiografia, 2020. Disponível 
em: https://www.ebiografia.com/alexander_fleming/. Acesso em: 28 jun. 2020.
5.2 Princípios farmacológicos da terapia medicamentosa das infecções
Os agentes antimicrobianos são caracterizados como fármacos que possuem a capacidade de reduzir 
os processos metabólicos dos microrganismos e, por consequência, impedir sua proliferação, podendo 
conduzi‑los à morte.
Em geral, os agentes que atuam reduzindo apenas a capacidade proliferativa dos microrganismos são 
conhecidos como agentes estáticos (por exemplo, bacteriostáticos, em referência à ação sobre bactérias; 
fungistáticos, quando atuam no organismo de fungos). Já os compostos capazes de induzir a morte das 
células de microrganismos são caracterizados como agentes biocidas (por exemplo, bactericidas, em 
referência à ação sobre bactérias; ou fungicidas, quando induzem a morte de células de fungos).
Para melhor compreensão de alguns termos utilizados aqui, é importante entender a origem e a 
diferenciação das palavras antibiótico e antimicrobiano. Antibiótico, via de regra, é a denominação 
mais adequada para os compostos que possuem ação contra microrganismos, mas que são derivados de 
moléculas produzidas por outros microrganismos ou até mesmo das próprias moléculas produzidas por 
alguns microrganismos, sendo capazes de causar danos a outros microrganismos diversos. 
Boa parte dos agentes antimicrobianos disponíveis na prática clínica são antibióticos verdadeiros, 
como a penicilina G (benzilpenicilina), obtida pelo isolamento da molécula presente na secreção do 
fungo Penicillium (popularmente conhecido por contaminações como omofo). Todavia, podemos 
verificar, na prática clínica, o uso de antimicrobianos que foram obtidos em laboratório, utilizando como 
base a molécula da penicilina G, por exemplo, a amoxicilina. Porém, é comum que venhamos a chamar 
a amoxicilina de antibiótico, de modo mais popular, mesmo que, em teoria, isso seja um equívoco. 
Portanto, o uso do termo antimicrobianos acaba sendo mais adequado, pois engloba qualquer tipo de 
agente com ação sobre microrganismos.
Para observar e compreender de forma mais simples a ação terapêutica desses compostos, podemos 
dividir os organismos relacionados com condições médicas mais frequentes em quatro grandes grupos: 
151
FARMACOLOGIA
as bactérias; os parasitas – internos (protozoários e helmintos) e externos (artrópodes, como os piolhos 
e ácaros) –; os fungos e os vírus. 
Considerando as diferenças metabólicas, estruturais e de capacidade patogênica (de induzir um 
processo infeccioso ou infestação) de cada um desses grupos, temos estratégias terapêuticas distintas 
para cada um, podendo ser ainda mais específicas para cada espécie de cada um desses grupos.
Visando então entender os princípios básicos para uma terapia medicamentosa efetiva com os 
agentes antimicrobianos, observaremos quais são os aspectos farmacológicos determinantes para um 
tratamento bem‑sucedido.
5.2.1 Aspectos farmacodinâmicos dos agentes antimicrobianos
Considerando que a farmacodinâmica é a área da farmacologia responsável pelo estudo da dinâmica 
de interação entre o fármaco e o organismo‑alvo a fim de dominar os parâmetros farmacodinâmicos 
mais importantes da terapia antimicrobiana, devemos caracterizar ao máximo os detalhes sobre os alvos 
moleculares em que os fármacos se ligam para efetuar a ação antimicrobiana.
Para isso, o conhecimento sobre a composição bioquímica da célula do microrganismo e das funções 
dessas estruturas no metabolismo antimicrobiano é determinante para a escolha do fármaco ideal. 
Independentemente do tipo de microrganismo e da classe do composto utilizado, na terapia 
antimicrobiana, alguns princípios básicos são levados em consideração. O principal ponto a ser observado 
é o de que o objetivo da terapia é a destruição do microrganismo, sem causar danos ao organismo do 
hospedeiro em questão.
Apesar de ser fácil compreender esse objetivo, na prática, alguns fatores são limitantes para a 
segurança do hospedeiro, como a semelhança estrutural de algumas moléculas no organismo humano 
e nos microrganismos. Para auxiliar na compreensão desses aspectos, diferenciamos os compostos 
antimicrobianos pela seletividade de sua ação citotóxica. Os agentes com ação citotóxica exclusivamente 
sobre os microrganismos são classificados como agentes de toxicidade seletiva, enquanto que aqueles 
capazes de atingir diversos tipos de células (incluindo as do hospedeiro) são denominados agentes de 
toxicidade relativa.
Para maior segurança na terapia, sem reduzir a eficácia do tratamento medicamentoso, buscamos 
então utilizar os compostos que possuem interação química com estruturas dos microrganismos que 
não estão presentes de forma significativa nos tecidos humanos. Tendo em vista que os microrganismos 
possuem uma parede celular com características diferentes das membranas celulares humanas, bem 
como a capacidade dos microrganismos de sintetizarem moléculas essenciais para o seu metabolismo, 
por exemplo, o ácido fólico, (obtido a partir do ácido p‑aminobenzóico – PABA), o qual nos humanos 
deve ser obtido necessariamente através da alimentação.
A imagem a seguir apresenta um esquema representativo dos mecanismos gerais de ação 
antibacteriana, exemplificando a afinidade dos agentes antimicrobianos mais seguros utilizados na 
medicina por estruturas específicas dos microrganismos.
152
Unidade II
Parede celular Membrana celular
Síntese proteica
DNA
Função e estrutura
Síntese das purinas 
síntese do ácido fólico
• RNAr
• RNAt
30s
50s
β‑lactâmicos
Glicopeptídeos
Polimixinas 
Daptomicina
Aminoglicosídeos
Tetraciclinas
Glicilciclinas
Quinolonas
Nitroimidazólicos
Trimetoprim THF
DHF
PABA
DNA
RNA
RNAm
Ribossomo
RNAr
50s30s
RNAt
Proteínas
Sulfonamidas
Oxazolidinonas
Macrolídeos
Estreptograminas
Cloranfenicol
Lincsaminas
PABA = Ácido Paraminobenzoico
DHT = Dihidrolato
THF = Tetrahidrofolato
DNA = Ácido Desoxirribonucleico
RNAm = Ácido Ribonucleico mensageiro
RNAt = Ácido Ribonucleico transportador
RNAr = Ácido Ribonucleico ribossômico
Parede celular
Membrana celular
Figura 51 – Representação dos mecanismos de ação das drogas antibacterianas
As características estruturais e metabólicas dos microrganismos são essenciais para determinar a 
afinidade do antimicrobiano. Por essa razão, compostos possuem em geral um espectro de atividade, o 
qual pode ser classificado de três formas:
•	 Espectro estreito: citotoxicidade específica para poucos microrganismos, como os agentes 
antibacterianos específicos para bactérias gram‑positivas. 
•	 Espectro estendido: citotoxicidade sobre um espectro intermediário (pouco maior que o 
espectro estreito), podendo atuar sobre microrganismos de uma classe específica em geral e sobre 
mais alguns poucos microrganismos de classes diferentes, como os agentes antibacterianos que 
atuam sobre bactérias gram‑positivas em geral e sobre mais algumas poucas cepas específicas de 
bactérias gram‑negativas.
•	 Amplo espectro: citotoxicidade sobre um grande grupo de microrganismos com as mais diversas 
características bioquímicas e estruturais. Um problema associado a esses agentes é a inespecificidade 
para os microrganismos patogênicos, podendo atuar também sobre microrganismos não patogênicos, 
desregulando o equilíbrio entre diferentes espécies que colonizam o organismo do hospedeiro.
Para compreender melhor a importância do espectro e da especificidade de ação dos fármacos 
antimicrobianos, vamos discutir a classificação dos microrganismos de acordo com as características 
que permitem relacionar a interação dos fármacos com seus microrganismos‑alvo.
153
FARMACOLOGIA
 Observação
A alta especificidade dos antimicrobianos está relacionada com a 
interação com alvos moleculares que podemos encontrar especificamente 
nos microrganismos de interesse.
5.2.1.1 Classificação dos microrganismos
Os microrganismos em geral são classificados na biologia de acordo com o processo evolutivo de cada 
organismo identificado, separando‑os em reino, divisão ou filo, classe, ordem, família, gênero e espécie 
(em geral, com nomes derivados do latim). Contudo, no contexto farmacológico, é comum dividirmos 
esses organismos de acordo com características estruturais e metabólicas mais específicas, permitindo 
sua categorização conforme sua susceptibilidade aos agentes antimicrobianos e relacionando com o 
mecanismo de ação dos agentes antimicrobianos.
Dessa forma, no contexto da terapia medicamentosa, é comum designarmos os microrganismos por 
inúmeras características, como seu metabolismo energético (aeróbios e anaeróbios); presença ou não 
de uma parede celular, e, quando presente, pela composição de sua parede celular (como as bactérias 
gram‑positivos e gram‑negativos); por sua sensibilidade ou resistência aos antimicrobianos (como as cepas 
de S. aureus resistentes à meticilina – do inglês, MRSA); por sua morfologia (bacilos, cocos etc); ou pela sua 
origem e predominância no organismo (como as enterobactéras, presentes no trato gastrintestinal).
Entre bactérias, por exemplo, as diversas características bioquímicas estruturais nos permitem 
inferir sobre a efetividade ou inefetividade da ação antibacteriana. Por exemplo, os fármacos com ação 
antibacteriana possuem maior facilidade em permear as membranas de bactérias gram‑positivas em 
relação à penetração em bactérias gram‑positivas.
Isso pode ser explicado por conta de a divisão entre gram‑positivas e negativas estar relacionada 
com a composição da parede celular, de modo que bactérias gram‑positivas possuem uma camada mais 
espessa de peptidoglicanos (um tipode polímero constituído de aminoácidos e carboidratos) em relação 
às bactérias gram‑negativas, as quais apresentam uma fina camada de peptidoglicanos associada com 
uma camada de lipopolissacarídeos. 
A diferença da composição entre as membranas das bactérias gram‑positivas e gram‑negativas fará 
com que o processo de coloração pela metodologia de Gram permita a fixação do reagente de gram 
(violeta de metila) nas bactérias com maior camada de peptidoglicano (gram‑positivas), a qual não será 
removida após a lavagem da lâmina com as bactérias fixadas, o que, por sua vez, ocorrerá nas células, 
que são chamadas gram‑negativas, justamente por não fixarem o reagente em suas membranas.
154
Unidade II
A) B)
Figura 52 – Bactérias gram‑positivas (esquerda) e gram‑negativas (direita), após a coloração de gram
Já em relação à divisão dos microrganismos entre aeróbios e anaeróbios, a questão da necessidade de 
uso do oxigênio (aeróbios) ou não (anaeróbios) para seu suprimento energético permite com que os alvos 
moleculares sejam mais bem estabelecidos, uma vez que os mecanismos de produção energética celular, 
quando são interrompidos ou prejudicados pela ação dos fármacos, culminam em uma capacidade de 
replicação celular reduzida, podendo levar essa célula a um colapso. 
Por essa razão, fármacos antimicrobianos que atuam comprometendo o metabolismo energético de 
microrganismos (aeróbios ou anaeróbios) devem ser indicados apenas mediante a identificação prévia 
das características metabólicas do organismo causador da infecção existente ou do microrganismo que 
comumente causa uma infecção que desejamos evitar (uso profilático do antimicrobiano).
Por último, mas não menos importante, temos a influência da sensibilidade ou resistência intrínseca 
do microrganismo a determinados agentes. Seja pela presença de mecanismos efetivos de defesa ou 
pela falta de afinidade química entre o fármaco antibacteriano e os alvos do organismo em questão, 
podemos classificar os microrganismos em classes de acordo com os antimicrobianos aos quais estes 
são sensíveis.
Como exemplo mais clássico a ser citado, temos as cepas de Staphylococcus aureus, as quais 
podem ser classificadas como sensíveis à meticilina (oxaciclina) (MSSA – do inglês, Methicillin 
Susceptible Staphylococcus aureus) ou resistentes à meticilina (MRSA – do inglês, Methicillin Resistant 
Staphylococcus aureus). Nesse mesmo contexto, temos ainda as cepas de Staphylococcus aureus com 
resistência intermediária aos glicopeptídeos (GISA) e as cepas resistentes aos glicopeptídeos (GRSA). 
Embasados por essas características de resistência ou susceptibilidade, estamos aptos a realizar uma 
escolha mais racional de qual antibiótico deverá ser empregado para o tratamento dessa infecção.
Apesar de as características dos microrganismos serem determinantes para os aspectos 
farmacodinâmicos da ação dos antimicrobianos, as características específicas das moléculas também 
são fatores‑chave para a determinação da melhor estratégia terapêutica. Por isso, vamos observar a 
seguir a classificação dos agentes antimicrobianos.
155
FARMACOLOGIA
5.2.1.2 Classificação dos antimicrobianos
Os agentes antimicrobianos são moléculas pertencentes à classe dos quimioterápicos, conceituados 
como agentes químicos capazes de induzir a morte ou reduzir a capacidade proliferativa de células, 
sejam elas do organismo humano (como no caso dos agentes tumorais), bem como nos microrganismos 
(como no caso dos agentes antibacterianos, antifúngicos, antiparasitários e antivirais).
Sendo a classe dos quimioterápicos muito grande, abordamos como antimicrobianos aqueles 
agentes que atuam nos microrganismos, podendo controlar infecções ou infestações. De acordo com o 
glossário da sociedade brasileira de parasitologia (NEVES, 2016, p. 4), infecção consiste na “penetração 
e desenvolvimento ou multiplicação de um agente etiológico no organismo humano ou animal, 
podendo ser vírus, bactéria, protozoário, helminto etc.”; e infestação “é o alojamento, desenvolvimento e 
reprodução de artrópodes na superfície do corpo, nas vestes ou na moradia de humanos ou de animais”. 
Para facilitar a classificação desses compostos, podemos dividi‑los de acordo com sua origem química 
(característica da molécula), seu mecanismo de ação ou espectro de atividade. Entre esses três grandes 
grupos, a origem química da molécula demonstra ser a mais relevante.
Utilizando a origem química da molécula do antimicrobiano, podemos relacionar características do 
mecanismo de ação e do espectro de atividade entre moléculas com estruturas químicas semelhantes, 
facilitando a visualização das características químicas estruturais da molécula relevantes para a atividade 
farmacológica, bem como para relacionar com eventos adversos decorrentes do uso desses agentes.
Um bom exemplo para compreender melhor essa classificação é o do grupo das penicilinas, 
moléculas que possuem como origem a estrutura da penicilina G, primeiro agente antibacteriano 
efetivo introduzido na prática clínica. Os derivados semissintéticos da penicilina, como a amoxicilina, 
tendem a desencadear as mesmas respostas alérgicas que a penicilina G pode causar, possuindo também 
um mecanismo de ação análogo ao da penicilina G e um espectro de atividade antibacteriana muito 
semelhante. As diferenças entre esses compostos estão mais associadas aos aspectos farmacocinéticos 
e à possibilidade da administração da amoxicilina pela via oral (o que não é possível no caso da penicilina G), 
decorrente de pequenas alterações em frações específicas da molécula da penicilina G.
Todavia, se observarmos a praticidade no momento da escolha do agente antimicrobiano ideal para 
uma determinada infecção ou infestação, a classificação dos fármacos, de acordo com seu espectro de 
atividade e sua seletividade, pode ser muito útil.
Por essa razão, será verificado o agrupamento dos agentes antimicrobianos de acordo com sua 
classe química dentro das atividades antibacterianas, antifúngicas e antiparasitárias.
5.2.1.2.1 Antibacterianos
Os quimioterápicos antibacterianos são subdivididos em diversas classes, em geral, definidas 
de acordo com a origem química da molécula. A seguir, vamos observar as principais classes e seus 
respectivos mecanismos de ação.
156
Unidade II
Sulfonamidas 
Primeira classe de antimicrobianos que foi utilizada por via sistêmica em humanos, apresentando 
boa eficácia tanto na prevenção como na cura de infecções bacterianas. Essa classe de fármacos possui 
grande espectro de atividade sobre cepas de bactérias gram‑negativas e gram‑positivas. Devido ao seu 
uso abusivo por décadas, diversas cepas mostram‑se resistentes às sulfonamidas, sendo que sua ação 
concentra‑se em seu efeito bacteriostático, sendo indispensáveis mecanismos de defesa humorais do 
hospedeiro para a efetividade do tratamento e total cura do paciente.
As sulfonamidas são análogas à molécula do ácido p‑aminobenzóico (PABA), essencial para a síntese 
de ácido fólico nas bactérias, o que é fundamental para os processos vitais desse organismo. Por sua 
semelhança estrutural, as sulfonamidas acabam agindo como falso substrato na formação do ácido 
fólico, afetando seu metabolismo normal. Já bactérias que possuem a capacidade de utilizar o 
ácido fólico pré‑formado não são sensíveis às sulfonamidas.
Em geral, as sulfonamidas são utilizadas associadas com o trimetoprim, no qual agem sob 
sinergismo, aumentando a eficácia do tratamento. O trimetoprim age inibindo competitivamente 
a diidrofolato‑redutase bacteriana, que reduz o diidrofolato em tetraidrofolato, essencial para o 
metabolismo bacteriano.
Sulfonamidas geralmente são utilizadas no tratamento de escoriações de pele, infecções do trato 
urinário, gastrintestinal e respiratório.
CH3
O
O
O
S
N
H
N
H2N
Figura 53 – Estrutura química do sulfametoxazol
Quinolonas 
Classe de antimicrobianos sintéticos, tendo como primeiro representante o ácido nalidíxico, sendo 
amplamente utilizada para tratamentode infecções urinárias. Porém, essas primeiras moléculas 
possuíam um espectro pequeno de aplicação terapêutica, além de apresentarem uma resistência 
bacteriana notável. Isso fez com que essa classe caísse em desuso. Mas, num contexto mais recente, 
novas moléculas de quinolonas foram sintetizadas, as 4‑quinolonas fluoradas, como ciprofloxacino, 
ofloxacino, norfloxacino, que apresentam um amplo espectro de atividade e uma baixa taxa de 
resistência bacteriana.
157
FARMACOLOGIA
As quinolonas possuem como alvo terapêutico nas células bacterianas duas enzimas, a DNA‑girase e 
a topoisomerase‑IV. Em geral, em bactérias gram‑negativas agem sobre a DNA‑girase, e, na maioria das 
bactérias gram‑positivas, a ação ocorre preferencialmente sob a topoisomerase‑IV.
A DNA‑girase catalisa a superelicoidização do DNA. A introdução de super‑hélices tem um custo 
de energia, dessa maneira, a DNA girase é uma transdutora de energia convertendo a energia livre do 
ATP em energia torcional de superelicoidização do DNA. Já a topoisomerase‑IV atua no processo de 
clivagem dos filamentos de DNA. Visto que as quinolonas atuam inibindo esses sistemas enzimáticos 
completamente envolvidos no ciclo celular das células bacterianas, ocorrerá uma inibição da proliferação 
celular por parte da célula afetada.
O
HO
O
F
NH
N N
Figura 54 – Estrutura química do ciprofloxacino, um dos principais representantes do grupo das fluoroquinolonas
Metenamina 
Composto muito utilizado como antisséptico das vias urinárias. Sua atividade consiste em formar 
formaldeído em sua reação com moléculas de água. Essa formação de formaldeído provoca uma 
diminuição do pH da urina, o que é um fator antibacteriano. As bactérias não desenvolvem resistência 
ao formaldeído, porém algumas bactérias que degradam a ureia provocam um aumento do pH do meio, 
neutralizando assim a ação da metenamina.
N
N
N
N
Figura 55 – Estrutura química da metenamina
Penicilinas
As penicilinas constituem uma das maiores e mais importantes classes de antibióticos. Considera‑se 
a descoberta da penicilina como uma das maiores revoluções já existentes na medicina. Em 1928, ao 
158
Unidade II
estudar cepas de Staphylococcus em seu laboratório, Alexander Fleming percebeu que suas culturas 
haviam se contaminado por um tipo de fungo, e este apresentava a produção de uma substância que 
inibia o crescimento das bactérias ali cultivadas. Após identificar o fungo ali presente como sendo o 
Penicillium, Fleming denominou a então desconhecida substância produto do metabolismo desse fungo 
como penicilina. Após o estudo mais aprofundado dessa situação, foi possível isolar a penicilina para 
uso terapêutico, porém, apenas uma década depois de sua descoberta por Fleming. Os primeiros ensaios 
demonstraram grande efetividade dessa molécula administrada por via parenteral em animais com 
infecções estreptocócicas induzidas em laboratório.
Atualmente, dispomos de uma série de antibióticos penicilínicos, em geral, semissintéticos, derivados 
da molécula base da penicilina. Isso acarretou a geração de novos fármacos com características 
farmacocinéticas e farmacodinâmicas diferentes da penicilina, molécula base para a síntese desses 
compostos. Um exemplo de penicilina semissintética muito utilizada é a amoxicilina.
Embora o mecanismo de ação da penicilina ainda não tenha sido completamente determinado, a 
sua atividade bactericida inclui a inibição da síntese da parede celular e a ativação do sistema autolítico 
endógeno da bactéria. A ação da penicilina depende da parede celular que contém na sua composição 
peptidoglicano. Durante o processo de replicação bacteriana, a penicilina inibe as enzimas que fazem 
a ligação entre as cadeias peptídicas, impedindo, portanto, o desenvolvimento da estrutura normal 
do peptidoglicano. Essas enzimas (transpeptidase, carboxipeptidase e endopeptidase) localizam‑se 
logo abaixo da parede celular e são denominadas de proteínas ligadoras de penicilina. A habilidade de 
penetrar na parede celular e o grau de afinidade dessas proteínas com a penicilina determinam a sua 
atividade antibacteriana. As bactérias, por diferirem na sua composição quanto ao tipo e à concentração 
de proteínas ligadoras de penicilina, possuem diferentes respostas quanto à permeabilidade de suas 
paredes celulares ao antibiótico. Assim, temos diferentes suscetibilidades bacterianas à penicilina.
O
O
HO
HO
HO
O
O
O
O
S
S
NH
NH
N
NH2
N
H
A) B)
HCH3
CH3
CH3
CH3
Figura 56 – A) Estrutura química da benzilpenicilina; B) Estrutura química da amoxicilina, uma penicilina sintética
Cefalosporinas 
As cefalosporinas são compostos antimicrobianos semelhantes à penicilina, também sendo 
originadas de metabólitos de um fungo, o Cephalosporium acremonium, cuja atividade foi verificada 
inicialmente sobre cepas de bactérias causadoras da febre tifoide humana. A princípio, foi verificado 
que no líquido em que esse fungo era cultivado, era possível encontrar três tipos diferentes de 
antibióticos distintos, que foram denominados cefalosporinas P, N e C. Após o isolamento do núcleo 
159
FARMACOLOGIA
ativo comum nas moléculas inicialmente encontradas, foi possível a utilização desse conhecimento 
para síntese de novas moléculas com atividade antimicrobiana semelhante às cefalosporinas. 
Exemplos clássicos de cefalosporinas são cefalexina, cefalotina, cefuroxina, ceftriaxona e cefepima. 
Seu mecanismo de ação é semelhante ao das penicilinas, visto que compartilham característica 
química de possuir um anel β‑lactâmico em sua estrutura.
O
O
O OH
S
N
H
N
H
CH3
NH2
Figura 57 – Estrutura química da cefalexina
Carbapenéns
É uma classe de antibióticos também β‑lactâmicos que se difere das penicilinas e cefalosporinas pela 
modificação da sua estrutura química, em que seu anel β‑lactâmico aparece mais protegido contra a 
ação de β‑lactamases, possuindo uma menor resistência bacteriana e uma maior efetividade terapêutica 
no tratamento antimicrobiano. Alguns carbapenéns, como o imipenem, devem ser administrados em 
associação com a ciclastatina, que inibe a degradação do antibiótico pela enzima dipeptidase‑tubular 
renal. Já outros, como o meropenem, não necessitam dessa proteção. Possuem seu mecanismo de ação 
em geral semelhante ao das penicilinas e cefalosporinas, com exceção do aztreonam, que possui sua 
atividade mais semelhante ao dos aminoglicosídeos.
O
O
O
OH
HO
S
N
NH
N
H H
CH3
CH3
CH3
H3C
Figura 58 – Estrutura química do meropenem
160
Unidade II
Aminoglicosídeos 
Os aminoglicosídeos são potentes bactericidas inibidores da síntese proteica bacteriana. Apesar 
de sua efetividade ser muito ampla, sua toxicidade faz com que seu uso nem sempre seja adequado. 
Quimicamente, consistem de dois ou mais aminoaçúcares, os quais são unidos por uma ligação glicosídica 
ao núcleo de uma hexose, em geral, no centro da molécula. Isso faz com que sua molécula seja mais 
hidrossolúvel, sendo fator determinante para sua fácil absorção. 
Sua atividade bactericida está diretamente relacionada com sua concentração. Seu mecanismo de 
ação consiste na ação sobre a membrana da célula bacteriana, afetando sua capacidade de manter 
o potencial de membrana necessário para o transporte de íons essenciais para o funcionamento das 
células. Seu efeito intracelular consiste na ligação a polissomas e à interrupção prematura da tradução 
do mRNA, o que leva à produção ribossômica de proteínas mutadas, que, ao se inserirem na membrana, 
aumentam a permeabilidade da célula para a entrada dos aminoglicosídeos.
Os principais representantes dessa classe são a tobramicina, a neomicina, a gentamicina, a amicacina 
e a estreptomicina, primeiro aminoglicosídeo descoberto.
O
O
OO
O
OH
OH
OH
HO
HO
HO
HO NH
NH
HN
H2N
H2N
NH
NH
H3C
CH3
Figura 59 – Estrutura química da estreptomicina
Tetraciclinas
Descobertas através de pesquisas para identificação de microrganismos coletados de amostras 
de solo de todo o mundo que fossem capazes de apresentaralguma molécula de metabólito com 
características antimicrobianas. São conhecidas por serem drogas de amplo espectro antimicrobiano 
devido à sua efetividade contra diversas cepas gram‑positivas, gram‑negativas, riquétsias e Chlamydia. 
Seu mecanismo de ação é relacionado à inibição da síntese de proteínas através de sua ligação com 
o ribossoma 30 S da bactéria. Penetram em bactérias gram‑negativas pela difusão passiva, através 
dos canais hidrofílicos de membrana; e, por transporte ativo, por um sistema dependente de energia 
que bombeia as tetraciclinas por meio da membrana citoplasmática. Acredita‑se que em bactérias 
gram‑positivas, seu transporte também seja ativo. Seus principais representantes são doxiciclina, 
oxitetraciclina, tetraciclina, cortetraciclina, demeclociclina, metaciclina e minociclina.
161
FARMACOLOGIA
OH O O OOH
OH
OH
HO
N
NH2
H H
CH3
CH3H3C
Figura 60 – Estrutura química da tetraciclina
Cloranfenicol
Antibiótico obtido como metabólito de um microrganismo denominado de Streptomyces 
venezuelae, tendo sido testado com sucesso na Bolívia em 1947 contra um surto epidêmico de tifo. 
Porém, seu potencial tóxico foi verificado poucos anos depois, sendo seu uso restrito a pacientes 
com patologias infecciosas mais severas, os quais não poderiam ser tratados com outros fármacos 
mais seguros. O cloranfenicol age inibindo a síntese proteica nas bactérias através de sua ligação 
com a unidade 50 S dos ribossomos. Penetra facilmente na célula bacteriana, provavelmente, por 
difusão facilitada. Seus efeitos toxicológicos podem ser relacionados à semelhança dos ribossomos 
mitocondriais dos mamíferos com os ribossomos citoplasmáticos das bactérias, inibindo assim a 
síntese proteica mitocondrial em mamíferos.
O
O
O‑
OH
CI
CI OH
N
H
N+
Figura 61 – Estrutura química do cloranfenicol
Macrolídeos
Classe de antibióticos que tem como primeira molécula a eritromicina, isolada do microrganismo 
Streptomyces erythreus. A azitromicina e a clindamicina são fármacos semissintéticos desenvolvidos, 
tendo como base a molécula da eritromicina. São drogas bacteriostáticas que, através de uma ligação 
competitiva com a porção 50 S do ribossoma, impedem a fixação do RNA transportador e bloqueiam o 
aporte de aminoácidos essenciais para a síntese proteica (etapas de transpeptidação e/ou translocação). 
Quando em alta concentração ou contra microrganismos extremamente sensíveis, os macrolídeos 
podem ser bactericidas.
162
Unidade II
HO OH OH
OH
OH
O
O
O
O
O
O
O
N
N
CH3
CH3
CH3
CH3
CH3
CH3
CH3
CH3
H3C
H3C
H3C
H3C
H3C
H3C
Figura 62 – Estrutura química da azitromicina
Antimicobacterianos
Em geral, moléculas utilizadas para o tratamento de doenças como tuberculose e hanseníase, 
que são causadas por micobactérias. Os principais quimioterápicos utilizados no tratamento das 
infecções micobacterianas são a isoniazida e a rifampicina. A isoniazida age inibindo a biossíntese 
de ácidos micólicos, essencias para a formação da parede celular em micobactérias. A presença dessa 
substância exclusivamente na parede das células de micobactérias pode ser o fator determinante 
para sua alta especificidade. 
Já a rifampicina inibe a enzima RNA‑polimerase DNA dependente das micobactérias e de 
outros microrganismos através da formação de um complexo fármaco‑enzimático que leva à 
supressão da iniciação da formação da cadeia na síntese do DNA. A rifampicina é bactericida 
para organismos extracelulares e intracelulares. A síntese dessas drogas fez com que doenças 
antes vistas como extremamente letais (hanseníase e tuberculose) possam hoje ser tratadas com 
um alto índice de melhora nos pacientes submetidos à quimioterapia antimicobacteriana.
163
FARMACOLOGIA
O
O
O
O
O
O
O
O
OH
OH
OH
OH
HO
N
NH
NH2
NH
N
N
N
CH3
CH3
CH3
CH3
B)A)
CH3
H3C
H3C
H3C
H3C H3C
Figura 63 ‑ A) Estrutura química da rifampicina; B) Estrutura química da isoniazida
5.2.1.2.2 Antifúngicos (antimicóticos)
Baseada no mesmo principio da quimioterapia antibacteriana, inclusive compartilhando do uso de 
diversos fármacos, a quimioterapia antimicótica dispõe de um arsenal amplo, porém menor em relação 
aos antibacterianos. 
Visto que as infecções por fungos constituem uma letalidade menor em relação às infecções 
bacterianas, as micoses são infecções cada vez mais comuns, independendo simplesmente de boas 
condições de saneamento básico, atingindo grande parte da população mundial.
Classes de antifúngicos
Os antifúngicos são divididos de acordo com sua via de administração: uso tópico ou sistêmico. A 
seguir, abordaremos as principais moléculas com atividade antifúngica.
Anfotericina-B 
Anfotericina B é um antibiótico macrolídeo poliênico isolado do actinomiceto Streptomyces sp com 
atividade antifúngica e possui a característica de ser uma substância anfótera, isto é, a de se dissolver 
em meios básicos ou ácidos. Foi utilizada pela primeira vez no tratamento da paracoccidioidomicose em 
1958, com grande sensibilidade do fungo. 
Ao lado de sua comprovada eficácia, a anfotericina B é uma droga tóxica que requer longo período 
de hospitalização para sua administração. Seu mecanismo de ação consiste em ligar‑se à célula do 
fungo alterando especificamente os esteróis da membrana celular (ergosterol). Isso fará com que haja a 
formação de poros ou canais na membrana que aumentam sua permeabilidade, fazendo com que a célula 
perca potássio e outras moléculas essenciais para seu metabolismo. Sua atividade é mais fungistática do 
que fungicida. A anfotericina também é utilizada em tratamentos de infecções por protozoários.
164
Unidade II
O
O O O
O O
OH
OH
OH
OH
OH
OH
OHOHOHHO
HO
NH2
H3C
H3C
H3C
H
CH3
Figura 64 – Estrutura química da anfotericina B
Nistatina 
A nistatina é outro antifúngico da classe dos antibióticos macrolídeos poliênicos originados de 
actinomicetos. Possui semelhanças estruturais com a anfotericina B, com a qual também compartilha 
do mesmo mecanismo de ação. É amplamente utilizada por via tópica em casos de infecções de pele, 
candidíase oral e vaginal. É comum verificar medicamentos antissépticos que asssociam a nistatina com 
outro agente antifúngico e/ou outro agente antibacteriano.
O
O
OO
O
O
OH
OH
OH
OH
OH
OHOHOH
OH
HO
HO
NH2
H3C
H3C
CH3
CH3
Figura 65 – Estrutura química da nistatina
Imidazóis 
Classe de antifúngicos representada principalmente pelas drogas miconazol, cetoconazol e clotrimazol. 
Esse grupo apresenta relevância terapêutica tanto no uso sistêmico como no uso tópico (mais utilizado 
neste último). Promovem a inibição da biossíntese do ergosterol, importante para a integridade e a 
manutenção da função da membrana celular dos fungos. Os imidazóis inibem a incorporação do acetato 
de ergosterol, inibindo a lanosterol‑desmetilase, por interferência no citocromo P‑450 da levedura, 
165
FARMACOLOGIA
trazendo como consequência alterações na fluidez e permeabilidade da membrana citoplasmática do 
fungo, prejudicando a captação dos nutrientes, o que se traduz por inibição do crescimento fúngico, 
originando alterações morfológicas que resultam em necrose celular.
CI
N
N
Figura 66 – Estrutura química do clotrimazol
Triazóis
Classe representada principalmente pelos antifúngicos fluconazol e itraconazol, tendo diversas 
características semelhantes ao grupo dos imidazóis. Seu mecanismo de ação é semelhante ao dos 
imidazóis, porém, verifica‑se seu emprego com maior frequência no tratamento de infecções fúngicas 
que exigem tratamento por via sistêmica. É uma alternativa em casos de resistência a antifúngicos 
como a anfotericina B.
O
O
HO
OO
CI CI
N NN
N
NN
N
F
F
N
N
N
N
N
N
N
N
H
3C
A) B)
CH3
Figura 67 – A) Estrutura química do fluconazol; B) Estrutura química do itraconazol 
166
Unidade II
Fluorcitosinas
São pirimidinas fluoradas que apresentam analogia com as moléculas do fluorouracil e 
floxuridina. Têm como base a molécula da 5‑fluorocitosina, que, na célula do fungo,pode ser 
transformada em 5‑fluorouracil, um potente antimetabólito vastamente utilizado no tratamento 
de neoplasias. O 5‑fluorouracil fosforilado é incorporado ao DNA e bloqueia a síntese de ácidos 
nucleicos e proteínas. É utilizada em associação com a anfotericina B para o tratamento de 
candidíase sistêmica e criptococose.
O
F
NH2
N
N
H
Figura 68 – Estrutura química da 5‑fluorocitosina
5.2.1.2.3 Antiparasitários
Essa classe de quimioterápicos é composta por duas subclasses: antiprotozoários e antihelmínticos. 
Os medicamentos antiprotozoários são extremamente pesquisados, visto o grau de letalidade 
relacionado a epidemias de doenças causadas por protozoários, como malária, leishmaniose, entre 
outras. Além disso, outras doenças comumente relacionadas à falta de saneamento básico apresentam 
grande incidência em níveis mundiais.
O uso de drogas antiprotozoários data do século XV, quando foi relatada a utilização da casca da 
árvore do quinino para o tratamento das crises de febre, que na verdade eram decorrentes de infecções 
por malária. Porém, atualmente, existem diversas moléculas capazes de tratar as diversas infecções parasitárias 
existentes, mas algumas ainda permanecem sem medicamentos que apresentem a cura definitiva de 
patologias como a própria malária.
A seguir, as principais classes e moléculas de antiprotozoários.
Cloroquina 
É um potente esquizontocida sanguíneo, muito utilizado como antimalárico. Esses compostos agem 
como bases fracas nos vacúolos alimentares dos protozoários, impedindo a ação da heme‑polimerase, 
responsável pela inativação do heme livre nas células eritrocíticas. Esse heme livre nas células torna‑se 
tóxico aos parasitas, devido a lesões oxidativas, das membranas e proteases digestivas do protozoário.
167
FARMACOLOGIA
NH
N
N
H3C
H3C
CH3
CI
Figura 69 – Estrutura química da cloroquina
Primaquina
Apesar de a atividade das primaquina e de outras moléculas 8‑aminoquinolinas ainda não ser 
completamente evidenciada, acredita‑se que seu efeito seja devido à sua transformação de eletrófilos 
que agem como mediadores de óxido‑redução, podendo ser responsável pela geração de espécies 
reativas de oxigênio, que possivelmente levariam ao estresse oxidativo, ou interferindo no transporte de 
elétrons no parasita.
O
N
NH
H2N
CH3
H3C
Figura 70 – Estrutura química da primaquina 
Proguanil
Utilizado geralmente em associação com outro antiprotozoário. Possui uma ação profilática 
antimalária devido à inibição do desenvolvimento dos gametas encistados nas vísceras do mosquito 
trasmissor da malária. Seu metabólito ativo cicloguanil possui atividade inibidora da diidrofolato‑redutase 
e da timidilato‑sintase bifuncional do parasita, inibindo assim a síntese de DNA no parasita, impedindo 
sua reprodução.
168
Unidade II
H
N
H
N
H
N
NH NH CH3
CH3
CI
Figura 71 – Estrutura química do proguanil 
Metronidazol
É um pró‑fármaco que necessita da ação ativadora de seu grupo nitro por parte dos organismos 
susceptíveis a esse medicamento. Sua atividade específica sobre parasitas anaeróbicos deve‑se ao 
fato de possuírem componentes transportadores de elétrons capazes de doar elétrons à molécula do 
metronidazol, ativando seu radical nitro altamente reativo, que gera danos ao DNA do parasita, entre 
outras biomoléculas vitais.
O‑
O
OH
N
N
N
+
H3C
Figura 72 – Estrutura química do metronidazol 
Eflornitina 
É um agente citostático que exerce diversos efeitos antitripanossômicos. Através da inibição de 
enzimas envolvidas na síntese de diversos aminoácidos necessários ao metabolismo normal, ocorre a 
parada do ciclo de divisão celular do parasita. Alguns parasitas desenvolvem uma capacidade de utilizar 
outras enzimas que não são inibidas pela eflornitina para regularizar seu metabolismo, o que pode 
ser descrito como um provável mecanismo de resistência. Essa droga é mais utilizada no tratamento 
de tripanossomíase africana ocidental, causada pelo T.b. gambiense. Apesar de estudos pré‑clínicos 
demonstrarem uma relativa efetividade contra cepas de Leishmania spp., clinicamente, essa resposta 
não foi observada.
O
OH
F
F
H2N
H2N
Figura 73 – Estrutura química da eflornitina 
169
FARMACOLOGIA
Quinacrina
É um composto antiprotozoário que possui forte ação sobre a G. lamblia, promovendo a cura em 
cerca de 90% dos casos tratados com essa droga. Ela age de forma potente sobre as células do parasita 
através da indução de morte celular por danos irreversíveis ao ligar‑se com o DNA do parasita. Porém, 
essa droga apresenta um grande potencial tóxico, tendo caído em desuso em países como os EUA.
N
N
NH
H3C
H3C
H3C
CH3
CI
O
Figura 74 – Estrutura química da quinacrina 
Nifurtimox 
É um fármaco tripanomicida, geralmente, empregado em casos de infecções por T. cruzi, agindo sobre 
as formas tripomastigota e amastigota. Seu mecanismo de ação desencadeia‑se através da redução de 
sua molécula por parte de uma enzima do próprio parasita, ativando então o radical nitro da molécula, 
que, reagindo com outras moléculas, gera diversas espécies reativas de oxigênio e nitrogênio, que por 
meio do estresse oxidativo irá levar a danos na estrutura celular do parasita, levando‑o à morte.
O
O
O‑
O
O
S
N
N
N+
H3C
Figura 75 – Estrutura química do nifurtimox 
170
Unidade II
Estibogluconato sódico
Molécula ainda muito estudada, porém com sua efetividade no tratamento da Leishmania já 
verificada, embora seu mecanismo de ação antileishmania ainda não esteja elucidado. 
Aparentemente, seu efeito deve‑se à alteração do metabolismo do parasita, pois ocorre um 
comprometimento na glicólise, metabolismo de ácidos graxos, e outros processos que ocorrem em 
organelas raras encontradas no parasita da Leishmania, os glicossomos, que se apresentam suprimidos 
após a atividade do estibogluconato sódico. Além disso, essa molécula apresenta o potencial de 
redução da formação de ATP/GTP líquido na célula. Por pertencer a um grupo químico denominado 
antimônios, seu mecanismo de ação pode ser decorrente de características peculiares a esses grupos, 
como o fato de agirem como pró‑fármacos, formando espécies tóxicas quando metabolizadas, por 
macrófagos, em que favoreceriam a fagocitose do parasita nos lisofagossomos.
HO
H2O H2O H2O
H2O H2O H2O
H2O H2O H2O
OH OH
OH
OH
O O
O O
O
O
O
O‑ O O O‑
O‑
Na+
Na+Na+
H
H H
H
Sb Sb
Figura 76 – Estrutura química do estibogluconato de sódio 
Já os compostos conhecidos como anti‑helmínticos atuam no controle de helmintos (vermes) de 
maior complexidade estrutural em comparação aos parasitas protozoários. As helmintíases atingem 
cerca de dois bilhões de indivíduos em todo o mundo, sendo que em regiões com clima tropical, 
podem‑se observar casos de infecção por múltiplos helmintos em um mesmo paciente (ALBONICO et al., 
2008) Apesar de essas patologias serem mais comuns em ambientes com saneamento básico precário, 
a falta de higiene em outros lugares com saneamento regular também é responsável pelos altos níveis 
de contaminação por helmintos.
As infecções por helmintos ocorrem, frequentemente, em órgãos como a pele, intestino, fígado, 
além de outros. Em geral, os fármacos utilizados nos tratamentos dessas patologias buscam penetrar 
no verme ou interferir nos seus mecanismos de alimentação, inibindo seu desenvolvimento pela fala de 
nutrientes necessários para manutenção de seu metabolismo normal.
A seguir, serão citados os principais grupos de anti‑helmínticos, suas principais moléculas e 
suas aplicações.
171
FARMACOLOGIA
Benzimidazóis (BZA’s)
Essa classe de medicamentos tem como seus principais representantes o mebendazol e o albendazol. 
Esses compostos possuem grande efetividade em helmintos nematódeos. Atuam induzindo uma 
disfunção no metabolismo, como a inibição da fumarato‑redutase mitocondrial, redução do transporte 
de glicose e desacoplamento da fosforilação oxidativa. O mecanismo de ação sugerido é o de que ocorra 
a inibição da polimerização dos microtúbulospor meio da ligação da β‑tubulina, justificando então a 
deficiência na captação de glicose.
O
O
O
O
O
S
H3C
CH3
CH3A) B)
NH
NH
NHN
N
NH
Figura 77 – A) Estrutura química do albendazol; B) Estrutura química do mebendazol 
Nitazoxanida 
Composto com atividade antiparasitária de amplo espectro, amplamente utilizado tanto para o 
tratamento de infecções intestinais causadas por protozoários como por helmintos. Pertencente à classe 
dos nitrotiazolidínicos, a nitazoxanida é rapidamente hidrolisada em sua forma ativa, a tizoxanida. 
Ambas as formas podem agir em protozoários de maneira inibitória sobre a enzima piruvato‑ferrodoxina 
oxidorredutase nos parasitas, comprometendo assim seu metabolismo energético ao impedir a 
transferência de elétrons através da referida enzima. Nos helmintos, a nitazoxanida é capaz de interferir 
na polimerização da tubulina no parasita, impedindo assim que a estrutura de transporte de secreções 
citoplasmática seja formada, afetando os processos celulares do parasita, levando‑o à morte.
O
O
O
O
O‑
N
NH
N+
S
H3C
Figura 78 – Estrutura da nitazoxanida
172
Unidade II
Dietilcarbamazina 
É um derivado da piperazina comumente utilizado no tratamento da filaríase e já foi o fármaco de 
escolha no tratamento da oncocercose, hoje tratada com a ivermectina. 
É um fármaco que ainda não possui seu mecanismo de ação elucidado, porém supõe‑se que 
sua ação ocorra por comprometer o transporte e o processamento de macromoléculas essenciais 
para a membrana plasmática dos parasitas. Outra hipótese seria de que o fármaco interfere no 
metabolismo do ácido araquidônico no parasita e nas células endoteliais do hospedeiro, justificando 
a agregação plaquetária, vasoconstrição e granulócitos do hospedeiro ao redor do parasita já com as 
suas membranas lesadas.
O
N
N
N
CH3
H3C
H3C
Figura 79 – Estrutura química da dietilcarbamazina 
Ivermectina
Composto da classe das avermectinas, lactonas isoladas de metabólitos gerados pelo actinomiceto 
Streptomyces avermitilis. Essa molécula é altamente empregada no tratamento de um amplo espectro 
de infecções parasitárias, tais como em infecções por nematelmintos, oncocercose e infecções 
transmitidas por artrópodes. Seu mecanismo de ação é atribuído ao fato de que as avermectinas 
agem no canal de cloreto aberto por glutamato, induzindo uma paralisia tônica da musculatura do 
parasita. Visto que esses canais estão presentes no músculo faríngeo desses vermes, haverá uma 
interferência no comportamento alimentar do parasita, com subsequente deficiência alimentar, 
inibindo seu desenvolvimento.
173
FARMACOLOGIA
O
O
O
O
O
O
O
O
O
O
O O O
O
O
O
OO
HO
O
O
O
O
OH
OH
HO
HO
HO
CH3
CH3
CH3
CH3
CH3
CH3
CH3
CH3
CH3
CH3
H3C
H3C
H3C
H3C
H3C
H3C
H3C
H3C
H3C
H3C
Figura 80 – Estrutura química da ivermectina 
 Lembrete
A ivermectina também é amplamente utilizada no tratamento de 
infestações. As infestações são conceituadas como uma colonização 
de superfície corporal (ou vestimentas) por artrópodes, de modo que se 
alojem, se desenvolvam e se reproduzam no hospedeiro.
Piperazina 
É uma amina secundária cíclica, geralmente utilizada no tratamento de infecções por Ascaris 
lumbricóides e Enterobius vermiculares. Seu mecanismo é atribuído à sua ação de agonista do GABA. 
Por aumentar a condução de cloreto, haverá uma hiperpolarização com consequente diminuição da 
excitabilidade, promovendo um relaxamento muscular excessivo e a paralisia flácida do parasita, fator 
determinante para a expulsão do verme pelo peristaltismo intestinal. Nos casos de enterobíase, o 
tratamento deve permanecer mesmo após a aparente cura, devido à facilidade de reinfecção.
H 
N
N
H
Figura 81 – Estrutura química da piperazina
174
Unidade II
Praziquantel 
Derivado pirazinoisoquinolina, utilizado no tratamento de cestódeos e trematódeos. No tratamento 
de esquistossomos, concentrações mínimas requeridas já são capazes de gerar um aumento da atividade 
muscular, com decorrente contração, espasmo e paralisia. Isso faz com que os vermes afetados se 
destaquem da parede dos vasos para o fígado. Em concentrações mais elevadas, ele acarreta em lesões 
tegumentares que expõem antígenos tegumentares, facilitando a resposta contra esse parasita. Já no 
tratamento de infecções por cestódeos, baixas doses são suficientes para eficácia no tratamento.
O
O
N
N
Figura 82 – Estrutura química do praziquantel
5.2.2 Aspectos farmacocinéticos da terapia antimicrobiana
Para que um composto possa ser efetivo dentro do contexto de uma terapia antimicrobiana, a 
biodisponibilidade adequada desse composto é essencial. Observando os níveis plasmáticos da droga 
antimicrobiana administrada, podemos inferir sobre a capacidade biocida ou bioestática do composto. 
Isso se deve ao fato de que cada antimicrobiano possui uma concentração mínima efetiva, sendo 
chamada de concentração inibitória mínima (CIM), no caso dos agentes bioestáticos; ou concentração 
biocida mínima (CBC), no caso dos agentes biocidas.
Em geral, os fármacos são administrados em concentrações capazes de exercer a sua atividade 
sobre 50% da população de organismos, sendo essas concentrações conhecidas como CIM50 ou CBC50. 
Quando um composto é administrado e não consegue alcançar a biodisponibilidade equivalente à 
sua CIM50 ou CBC50 frente a um microrganismo, podemos dizer que o microrganismo é resistente 
ao antimicrobiano.
Por essa razão, erros na administração dos antimicrobianos, falta de adesão adequada ao 
tratamento, intervalos entre as doses maiores do que o prescrito, interações medicamentosas ou 
interações medicamento‑alimento, alterações fisiológicas ou físico‑químicas que alteram o processo 
de absorção do antimicrobiano podem afetar o sucesso da terapia por interferirem nas concentrações 
plasmáticas do fármaco, afetando assim sua biodisponibilidade.
O uso de antimicrobianos abaixo das doses mínimas necessárias pode não só impedir a melhora 
do paciente com a infecção, mas também conduzir a um processo de seleção dos microrganismos 
mais resistentes dentro da população de microrganismos presentes no hospedeiro tratado, implicando 
175
FARMACOLOGIA
a utilização de um tratamento diferente do inicialmente prescrito para esse paciente, ainda que sob o 
risco de esse novo tratamento também não ser efetivo.
Por fim, podemos concluir em relação aos aspectos farmacológicos das terapias antimicrobianas que 
o processo de prescrição da molécula adequada, na dose adequada, com o monitoramento do tratamento 
associado à administração correta do medicamento e buscando evitar interações medicamentosas ou 
com alimentos aproximam o paciente de uma melhora em seu quadro infeccioso.
Sempre que esses cuidados não forem observados, além do risco de inefetividade do tratamento 
antimicrobiano, podemos estar contribuindo para um dos maiores riscos atuais da terapia antimicrobiana 
em todo o mundo: a resistência dos microrganismos aos agentes antimicrobianos. 
5.3 Resistência aos agentes antimicrobianos
Um dos grandes problemas enfrentados na terapêutica medicamentosa antimicrobiana é a resistência 
dos microrganismos frente a diversos medicamentos. De acordo com a OMS (WHO, 2020, tradução 
nossa), a resistência aos agentes antimicrobianos pode ser conceituada como “a capacidade de um 
microrganismo em impedir a atuação de um antimicrobiano”. Em decorrência dessa capacidade adquirida 
por microrganismos, o tratamento medicamentoso torna‑se inefetivo, conduzindo ao agravamento da 
infecção, podendo resultar em infecções persistentes, recidivas e até mesmo na morte do paciente por 
complicações decorrentes desse processo infeccioso.
Em geral, as células de microrganismos resistentes aos antimicrobianos representam uma das 
consequências do uso desses compostos de forma abusiva e irracional, que faz com que cepas diversas 
desenvolvam mecanismos de adaptação frente às drogas, sendo escolhidas em um processo de seleção 
natural desses compostos em um ambientehostil, em que as mais resistentes se mantêm vivas e se 
proliferam, dando origem a uma população de microrganismos resistentes. 
Os mecanismos de resistência podem ser intrínsecos de um microrganismo específico frente a um ou 
mais antimicrobianos ou podem também ser adquiridos por meio da transmissão de material genético 
ou mutação desse material no microrganismo em questão. Como os microrganismos, as bactérias 
podem estar envolvidos em processos de troca de material genético, a codificação dessas moléculas 
responsáveis pela resistência poderá ser transmitida adiante para outras bactérias, conduzindo a um 
processo de amplificação dessa resistência.
Vale ressaltar que, apesar do principal foco das investigações científicas ser a resistência aos 
antimicrobianos por parte das bactérias (as quais estão associadas aos principais registros de inefetividade 
de antimicrobianos), esse processo pode estar também relacionado a organismos como fungos, parasitas 
e vírus.
Desse modo, como poderíamos estabelecer uma estratégia para enfrentar esse risco? Apesar de 
a resposta ser simples – a identificação de mecanismos de resistência e o desenvolvimento de novas 
ferramentas terapêuticas –, na prática, não estamos logrando muito êxito nessa batalha. Isso pode 
ser justificado pela falta de investimento para o desenvolvimento de ferramentas terapêuticas e de 
176
Unidade II
identificação de resistência, bem como pelo fato de que o desenvolvimento dessas ferramentas é em 
geral bem mais lento do que o aparecimento de novas cepas resistentes aos agentes antimicrobianos – 
mesmo quando falamos sobre as drogas antimicrobianas mais modernas.
Podemos relacionar a resistência antimicrobiana como uma questão econômica, uma vez que há uma 
diminuição de produtividade nas populações frequentemente acometidas por infecções, principalmente 
em países em processo de desenvolvimento. 
Em uma revisão coordenada pelo economista britânico Jim O’Neill (2014), até a década de 2050, cerca 
de 10 milhões de pessoas por ano poderão morrer devido à inefetividade de tratamentos medicamentosos 
com antimicrobianos que falharam por conta da resistência antimicrobiana. Segundo esse mesmo 
estudo, cerca de 100 trilhões de dólares serão perdidos em nível global, afetando significativamente o 
poder econômico de diversas nações. 
Embora as estatísticas demonstrem um grande impacto econômico em todo o mundo, o que deve 
ser observado pelo profissional é o impacto da resistência aos antimicrobianos sobre os serviços de 
saúde. Imagine que hoje possuímos tratamentos para inúmeras doenças infecciosas que levavam muitas 
pessoas à morte séculos atrás. Caso esses tratamentos não sejam mais efetivos, essas doenças poderiam 
voltar a desencadear um grande número de registros de pessoas doentes (aumento da morbidade) e 
levar muitas pessoas à morte (aumento da mortalidade). 
Por essa razão, podemos dizer que a resistência aos antimicrobianos é um grande problema 
epidemiológico em todo o mundo, devendo ser pautado em políticas públicas e campanhas que 
promovam o uso racional dos antimicrobianos.
Para entender melhor o que é a resistência antimicrobiana, entraremos agora em uma viagem pelos 
mecanismos que as células dos microrganismos possuem e utilizam para impedir a ação antimicrobiana 
dos fármacos.
5.3.1 Mecanismos celulares de resistência aos agentes antimicrobianos
Buscando ilustrar os mecanismos de resistência aos antimicrobianos, utilizaremos como exemplo as 
bactérias, que correspondem aos microrganismos mais comumente associados ao processo de resistência 
a esses compostos. Mas, antes de iniciar a explicação sobre os mecanismos de resistência que levam à 
inefetividade do tratamento medicamentoso, nesse caso, é necessário que compreender quais são as 
ações esperadas de um antimicrobiano sobre a célula desse microrganismo.
Inicialmente, o fármaco necessita interagir com um alvo molecular, que corresponde a um receptor 
desse fármaco no microrganismo que deverá ser atingido. Como esses alvos podem ser encontrados 
frequentemente dentro da célula bacteriana, é necessário que uma quantidade suficiente do composto 
antimicrobiano atravesse a parede celular dessa bactéria, conseguindo então interagir adequadamente 
com esse alvo moléculas, iniciando os mecanismos químicos que conduzem essa célula à morte ou à 
parada de suas atividades metabólicas associadas à divisão celular.
177
FARMACOLOGIA
Tendo em vista o processo de interação do fármaco com seus receptores celulares no microrganismo, 
pode ser estabelecido uma relação simples da ação dos antimicrobianos com a resistência a esse agente: 
caso a molécula não passe pela parede celular ou não consiga interagir com seu alvo molecular, não 
ocorrerá a iniciação das reações químicas intracelulares que levam à morte da bactéria. Assim, veremos 
que as ferramentas celulares utilizadas pela bactéria para reduzir a presença de antimicrobianos dentro 
de sua célula ou impedir a interação do fármaco com suas estruturas celulares envolvem basicamente 
quatro mecanismos: a alteração da permeabilidade da membrana celular aos antimicrobianos; a presença 
de mecanismos para a expulsão (efluxo) dos antimicrobianos do meio intracelular; a alteração dos alvos 
moleculares intracelulares; e a alteração da molécula dos fármacos, dentro ou fora das células. Cada um 
desses processos será discutido a seguir e apresenta‑se ilustrado na figura:
ATM
ATM
ATM
ATM
Parede 
bacteriana
Membrana 
bacteriana
ATM = antimicrobiano DNA bacteriano
Célula bacteriana
Alteração do sítio de ação
Bomba de efluxo
Mecanismo enzimáticoAlteração de 
permeabilidade
Mecanismos de resistência bacteriana
ATM
ATM
Plasmideo
Genes de 
resistência
Figura 83 – Mecanismos celulares de resistência bacteriana aos antimicrobianos 
 Observação
A identificação do mecanismo de resistência dos microrganismos aos 
antimicrobianos permite alteração da estratégia terapêutica medicamentosa 
e o desenvolvimento de novas drogas às quais os microrganismos não 
sejam resistentes.
5.3.1.1 Alteração de permeabilidade da membrana celular 
A redução da quantidade de droga no interior da célula bacteriana pode ser obtida por meio de dois 
mecanismos: a expulsão do fármaco por bombas de efluxo e pela alteração de seletividade da parede 
celular para a entrada de compostos na célula.
178
Unidade II
A permeabilidade da parede celular constitui um fator essencial para que o antimicrobiano tenha o 
efeito desejado, seja ele bactericida, ou seja, bacteriostático. Em células de bactérias classificadas como 
gram‑negativas, há a presença de uma membrana interna constituída por fosfolípidos e uma membrana 
externa constituída por lipídeos. Por conta dessa constituição, a penetração do fármaco ocorre de forma 
lenta, utilizando uma espécie de filtração – a passagem pela membrana ocorre por meio das porinas, 
canais na membrana seletivos para a entrada de compostos hidrofílicos. 
Portanto, fármacos hidrofílicos dependem da passagem por essas porinas para chegar ao interior 
da célula. Contudo, mediante alterações nas estruturas (tamanho) das porinas e na seletividade dessas 
estruturas ou alterações quantitativas (número de porinas na parede celular), ocorrerá o impedimento 
da passagem do fármaco para o interior da célula, impossibilitando assim sua atividade antimicrobiana.
5.3.1.2 Bombas de efluxo 
A retirada de antimicrobianos do interior das células ocorre através de um processo mediado por 
proteínas encontradas na parede das células bacterianas. Essas proteínas podem ser ativadas como 
um processo de detoxificação celular frente à presença de compostos xenobióticos (compostos 
estranhos ao organismo). Desse modo, todo e qualquer fármaco encontrado no interior da célula 
bacteriana poderá ser reconhecido como um composto xenobiótico e será expulso da célula bacteriana.
Em outras palavras, uma molécula que entrou na célula e se encontra no meio intracelular será 
reconhecida por essas proteínas, e o composto serátransportado para fora da célula. A esse processo 
damos o nome de efluxo, caracterizando assim essas estruturas proteicas na parede celular como 
bombas de efluxo.
Apesar de as bombas de efluxo representarem um mesmo desfecho de inefetividade dos 
antimicrobianos, são moléculas com diferentes características estruturais e de funcionamento, sendo 
divididas em cinco classes de transportadores: adenosine triphosphate binding cassette (ABC), a qual 
atua mediante gasto de energia (hidrólise de ATP); superfamília dos facilitadores principais (MFS); 
efluxo de compostos tóxicos e múltiplas drogas (MATE); superfamília de divisão celular de nodulação de 
resistência (RND); e pequena resistência a múltiplas drogas (SMR) sendo a MFS, a MATE, a RND e a SMR 
proteínas que atuam mediante a troca de prótons.
 Lembrete
Entende‑se por xenobióticos os compostos exógenos estranhos ao 
organismo, de modo que o organismo visa à excreção dessas moléculas.
5.3.1.3 Alteração de alvos moleculares
Esse processo de resistência bacteriana pode ser adquirido por meio de mutações nos genes 
responsáveis pela codificação das estruturas celulares que são alvos para a ligação dos antimicrobianos. 
Com tais mutações, poderá ocorrer uma alteração na conformação espacial dos receptores e/ou na 
179
FARMACOLOGIA
sua composição química, conduzindo a uma alteração das propriedades de interação química entre o 
fármaco e o receptor. Ainda, poderá ocorrer um processo de anulação da produção dessa molécula que 
serve como alvo molecular, não havendo então receptor para a droga.
As bactérias, por exemplo, podem adquirir um gene que codifica uma nova molécula, a qual pode vir a 
ser resistente ao antibiótico por não interagir com o fármaco, substituindo o receptor que ali deveria estar. 
No caso da bactéria Staphylococcus aureus (resistente ao antibiótico oxacilina) e dos microrganismos do 
tipo estafilococos coagulase‑negativos, a presença do gene Mec A permitiu a produção de uma Proteína 
de Ligação da Penicilina (PLP) mutada, a qual não interage comos β‑lactâmicos (tal como a penicilina), 
possibilitando assim que essa proteína continue exercendo sua função na parede celular, mantendo 
a célula íntegra, enquanto as PLPs geralmente são inativadas por antibimicrobianos β‑lactâmicos em 
organismos que não possuem essa mutação. 
Assim, podemos concluir que um gene transportado por plasmídeo (moléculas circulares duplas de 
DNA capazes de se reproduzir independentemente do DNA cromossômico) ou por transposon (genes 
que se inserem aleatoriamente na região regulatória ou codificante de um gene) acabam permitindo 
uma nova mutação que leva ao ganho ou perda de função celular.
5.3.1.4 Inativação química da molécula do antimicrobiano
Algumas mutações adquiridas pelas bactérias podem codificar a síntese de proteínas com função 
enzimática, as quais muitas vezes estão associadas com reações químicas que levam à alteração da 
estrutura química de antibióticos. Uma vez alterada a estrutura de um fármaco, suas propriedades 
de interação molecular com o alvo na célula também serão modificadas. Por essa razão, bactérias que 
produzem enzimas com essa capacidade tendem a ser resistentes ao composto químico modificado por 
essa reação química.
Como exemplo, podemos observar as bactérias produtoras de enzimas penicilinases, como 
as β‑lactamases, enzima responsável pela inativação de antibióticos da classe dos β‑lactâmicos. As 
β‑lactamases promovem uma reação de hidrólise na ligação amida do anel beta‑lactâmico, destruindo 
dessa forma o grupo químico farmacofórico da molécula – estrutura pela qual os antimicrobianos 
β‑lactâmicos interagem com as PLPs bacterianas, impedindo que elas exerçam sua função celular de 
estruturação da parede celular, e desempenham um efeito antibacteriano. 
As β‑lactamases são na verdade uma classe de enzimas diferentes, codificadas através de plasmídeos 
ou transposons, podem ocorrer em bactérias de forma constitutiva (já presente em seu material genético) ou 
induzida (por meio da aquisição de uma mutação). A resistência verificada em cepas de S. aureus à 
penicilina é mediada por um tipo de enzima β‑lactamase induzida, adquirida por meio de um plasmídeo. 
Como estratégia para a reversão dessa atividade enzimática, foram desenvolvidos β‑lactâmicos 
inativadores das β‑lactamases, inibindo a resposta de resistência bacteriana e reestabelecendo a atividade 
antibacteriana. Podemos citar como exemplo compostos como o ácido clavulânico, o sulbactam e o 
tazobactam, os quais usualmente são combinados com penicilinas, permitindo assim um sinergismo 
capaz de possibilitar a efetividade no tratamento antibacteriano em inúmeras cepas tipicamente 
resistentes aos antimicrobianos β‑lactâmicos. 
180
Unidade II
5.3.2 Estratégias gerais para evitar e reverter o surgimento da resistência aos 
agentes antimicrobianos
Em virtude das estatísticas atuais, em que são verificadas cerca de 700 mil mortes anuais por conta 
de infecções por microrganismos resistentes, bem como pelas perspectivas de agravamento desse quadro 
(O’NEILL, 2014). O primeiro‑ministro britânico encomendou junto ao economista Jim O’Neill uma revisão 
sobre os impactos econômicos e sociais da resistência bacteriana, a qual foi publicada em dezembro de 
2014. Nessa revisão, foram delineadas metas de cunho político e econômico delineando estratégias para 
o enfrentamento desse problema.
Esse documento endossado pela OMS apresenta‑se como um guia para superar essa problemática e 
exibe algumas estratégias para alcançar alguns objetivos, as quais envolvem dois grandes eixos, listados 
a seguir (O’NEILL, 2014).
A redução de fatores causadores da resistência bacteriana compreende:
•	 uma campanha massiva de conscientização pública global; 
•	 melhora de aspectos relacionados à higiene, visando evitar a propagação das infecções; 
•	 redução do uso desnecessário de antimicrobianos na agricultura e sua disseminação no 
meio ambiente; 
•	 melhora da vigilância global da resistência a antimicrobianos e monitoramento do consumo de 
antimicrobianos em humanos e animais; 
•	 promoção de melhoras nos processos de diagnóstico das infecções, agilizando‑os e reduzindo o 
uso desnecessário de antibióticos; 
•	 promoção do desenvolvimento e uso de vacinas e alternativas menos propensas à resistência; 
•	 melhora dos investimentos e reconhecimento de pesquisadores trabalhando com estudos sobre as 
doenças infecciosas;
•	 elevação da oferta (número) de medicamentos antimicrobianos eficazes para combater infecções 
que se tornaram resistentes aos medicamentos já existentes;
•	 estabelecimento de um fundo global de inovação para pesquisas básicas e sem uma 
finalidade comercial;
•	 melhora de incentivos para promover o investimento em novos medicamentos antimicrobianos 
por parte da indústria farmacêutica e melhora dos medicamentos já existentes.
181
FARMACOLOGIA
Podemos entender, então, que, enquanto profissionais de saúde, devemos ter o objetivo de promover 
práticas com foco em aspectos técnicos que não permitam o desenvolvimento de resistência aos agentes 
antimicrobianos através do uso racional e bem orientado da medicação antimicrobiana. Podemos citar 
políticas com foco na biossegurança dos profissionais que atuam em ambientes propensos a maior 
presença de microrganismos patogênicos, bem como no descarte adequado de material biológico, bem 
como no descarte de compostos com atividade antimicrobiana (por exemplo, antibióticos vencidos), 
conforme legislação vigente.
Ainda, o estabelecimento de critérios mais rigorosos por parte dos profissionais prescritores na 
decisão do antimicrobiano mais adequado para a situação, bem como se a situação realmente demanda 
uma prescrição de antimicrobiano.
Para isso, é necessário compreender as características farmacológicas dos agentes antimicrobianos, 
bem como os parâmetros farmacocinéticos e farmacodinâmicos essenciais para que seja possível 
uma escolha mais precisa do agente farmacológico a ser utilizado,além de observar aspectos sobre a 
administração do medicamento e acompanhamento dessa terapia medicamentosa, visando garantir o 
sucesso do tratamento.
Portanto, nos tópicos a seguir, poderá ser observado quais são as características do tratamento 
antimicrobiano que o profissional deverá sempre verificar a fim de alcançar resultados positivos na 
terapia, sem promover a resistência aos agentes antimicrobianos.
5.3.3 Testes para a identificaçâo de resistência
Apesar de a observação de episódios de resistência aos antimicrobianos ter sido realizada inicialmente 
na década de 1940, os cuidados frente à resistência vieram muitos anos depois, já que naquele momento 
o grande número de moléculas novas trazia boas perspectivas para revertê‑la. Contudo, embora ainda 
não tenhamos esgotado as possibilidades de desenvolver novos antimicrobianos, o número de novas 
moléculas sendo registradas é baixo, levando à necessidade de utilizarmos os agentes antimicrobianos 
com muito critério.
Apesar de a resistência aos antimicrobianos ser amplamente discutida ao redor do mundo, em 
alguns países, antimicrobianos são utilizados sem prescrição médica em até dois terços das ocasiões 
(HOLLOWAY, 2003). Ainda que sejam prescritos, podem ser desnecessários em até 50% dos casos 
(WANNMACHER, 2004). 
Para que o processo de prescrição seja racional, visando o uso efetivo e evitando o desenvolvimento 
de resistência bacteriana, é necessário estabelecer um método que possa associar um diagnóstico efetivo da 
infecção ou do risco de infecção a ser prevenida, permitindo a escolha de antimicrobianos específicos 
para a ação sobre determinada cepa. Para isso, o exame conhecido como antibiograma representa uma 
ferramenta de grande valor para a análise e prevenção da resistência aos antimicrobianos.
Os antibiogramas representam testes de sensibilidade dos microrganismos cultivados em uma placa 
frente aos agentes antimicrobianos aos quais serão expostos por meio de discos de difusão do fármaco 
182
Unidade II
na placa contendo a cultura do microrganismo. Esses testes são indicados para a análise da sensibilidade 
de qualquer microrganismo que possa ser responsável por um processo infeccioso e que necessite de 
terapia antimicrobiana. 
De modo geral, podemos dizer que é impossível predizer a sensibilidade de um microrganismo somente 
por sua identificação. Através desses testes de sensibilidade, verificamos se o organismo causador do 
processo infeccioso ou que possa vir a causar um processo infeccioso no futuro é capaz de apresentar 
resistência aos agentes antimicrobianos disponíveis. 
Mediante a análise do resultado (em que temos a resposta sobre a sensibilidade ou resistência do 
microrganismo em relação ao antimicrobiano por meio da análise de sua proliferação na placa de cultura 
ao redor dos discos contendo o antimicrobiano), podemos discernir qual é o agente antimicrobiano mais 
efetivo para o tratamento medicamentoso, evitando assim o emprego de terapias medicamentosas 
inefetivas e desnecessárias.
A figura a seguir ilustra como é realizado o teste conhecido como antibiograma.
Figura 84 – Antibiograma 
Em geral, após semear adequadamente o microrganismo na placa, os halos de inibição que aparecem 
são circulares e uniformes, havendo um padrão de crescimento similar onde houver a presença do 
microrganismo. Os diâmetros dos halos formados são observados a olho nu, devendo ser medidos 
de modo a incluir o diâmetro do disco. 
Os halos são mensurados pela parte de trás da placa de petri onde o microrganismo foi semeado, 
podendo ser realizado através de um paquímetro ou de uma régua. O halo de inibição é representado 
pela área sem crescimento detectável a olho nu, sendo ignorado o crescimento de pequenas colônias 
detectáveis somente com auxílio de microscópios ou lentes de aumento. Porém, caso haja crescimento 
de colônias dentro de um halo de inibição, de forma notável, mas não uniforme, devemos realizar novo 
teste, repetindo o procedimento com a cultura de uma única colônia, obtida da placa primária. 
183
FARMACOLOGIA
De modo geral, a interpretação dos resultados dos halos de inibição identificados deve possibilitar 
a classificação dos microrganismos como sensíveis, intermediários ou resistentes aos agentes testados. 
Mediante o exposto, poderá ser compreendido o quão complexo é o uso dos agentes antimicrobianos 
na prática clínica, tendo em vista o elevado número de critérios que regem uma prescrição efetiva e 
o elevado número de fatores que pode interferir na efetividade do tratamento. Após analisar esses 
fatores, serão observados aspectos sobre o uso dos antimicrobianos estudados sobre diferentes tipos de 
infecções, causadas por bactérias, fungos e parasitas.
6 TERAPIA ANTIMICROBIANA
O uso adequado dos antimicrobianos envolve uma série de aspectos sobre o paciente, seu contexto 
social e ambiental, devendo ser realizada uma anamnese eficiente e criteriosa para que o tratamento seja 
eficaz e seguro. Para isso, analisaremos os principais pontos a serem considerados para o uso racional 
dos antimicrobianos.
6.1 Antimicrobianos para profilaxia
O uso de antimicrobianos para a profilaxia (prevenção) das infecções pode ser realizado em diversos 
contextos, pré ou pós‑procedimento cirúrgico ou até mesmo de forma independente dos procedimentos 
cirúrgicos (nos contextos chamados de clínicos).
Em ambientes hospitalares, porém, a maior parte do uso de agentes antimicrobianos é realizada 
com a finalidade profilática cirúrgica, compondo um fator de grande alerta para o uso racional de 
antimicrobianos e para o desenvolvimento da resistência por parte dos microrganismos.
Podemos definir como profilaxia antimicrobiana cirúrgica o uso dos antimicrobianos especificamente 
para prevenção de infecções contraídas no sítio cirúrgico. Sempre que houver risco conhecido de 
infecções em um determinado ambiente ou quando as consequências de uma infecção iminente forem 
conhecidamente severas, representando um grau de risco elevado à vida do paciente, o uso profilático 
dos antimicrobianos será justificado.
Podemos definir como profilaxia antimicrobiana cirúrgica o uso dos antimicrobianos especificamente 
para prevenção de infecções contraídas no sítio cirúrgico. Sempre que houver risco conhecido de 
infecções em um determinado ambiente ou quando as consequências de uma infecção iminente forem 
conhecidamente severas, representando um grau de risco elevado à vida do paciente, o uso profilático 
dos antimicrobianos será justificado.
Nesse sentido, deve ser analisado o risco de contaminação durante uma cirurgia para que seja dado 
o veredicto sobre a indicação ou não da profilaxia antimicrobiana. Nessa análise, devemos considerar o 
tipo de cirurgia a ser realizada. Podemos dividi‑las em:
•	 Cirurgias limpas: aquelas geralmente realizadas de forma eletiva, na ausência de processo 
infeccioso local, em tecidos estéreis ou de fácil descontaminação. Apresentam um baixo risco de infecção, 
geralmente não necessitando de uma terapia profilática.
184
Unidade II
•	 Cirurgias potencialmente contaminadas: realizadas onde há presença de uma pequena 
microbiota colonizando o tecido, ou com a presença de pus e processo inflamatório associado, 
sendo em geral um local de difícil descontaminação, na maior parte dos casos, é recomendada a 
profilaxia antimicrobiana.
•	 Cirurgias contaminadas: realizadas onde há presença de uma vasta microbiota colonizando 
o tecido, sem a presença de pus e processo inflamatório associado, sendo em geral um local de 
difícil descontaminação, de modo que é recomendada a profilaxia antimicrobiana.
•	 Cirurgias infectadas: aquelas realizadas em qualquer tecido que apresente presença de pus 
e processo inflamatório associado, como nas feridas decorrentes de traumas que ocorreram 
há mais de seis horas do atendimento médico inicial, contaminadas, associadas com sujeira de 
qualquer tipo, ou em casos de fraturas expostas e perfurações de órgãos encontrados na cavidade 
peritoneal. Como

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