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Processos Psicopatológicos e Contemporaneidade 1 A palavra Psicopatologia é composta de três palavras gregas: • Psychê: psique, psiquismo, psíquico, alma; • Pathos: paixão, excesso, passagem, passividade, sofrimento, assujeitamento, patológico; • Logos: lógica, discurso, narrativa, conhecimento. Psicopatologia seria, então, um discurso, um saber sobre a paixão da mente, da alma. Ou seja, um discurso representativo a respeito do pathos psíquico; um discurso sobre o sofrimento psíquico; sobre o padecer psíquico. História Cada contexto histórico-político teve sua psicopatologia, ou seja, suas tentativas de “decompor” o sofrimento psíquico em seus elementos de base para, a partir daí, compreendê-los, classificá-los, estudá-los e tratá-los. • Na Grécia pré-socrática (Pessotti, 1995), o sofrimento psíquico era um castigo dos deuses irritados com a hybris dos homens. • Por ser obra de Zeus, o homem não é responsável por sua loucura, e nenhum estigma é-lhe acarretado. A terapia era o misterioso pharmakon, que reinseria o sujeito em seu grupo social. • Nos textos trágicos, a loucura resulta da impossibilidade de escolha individual nos conflitos entre paixões, lealdades e deveres impostos pelo destino. • Com Hipócrates, a loucura - a perda da razão ou do controle emocional - é entendida como um efeito do desarranjo na natureza orgânica do homem. Sua etiologia deve ser buscada nas disfunções humorais; • Tal concepção afasta definitivamente a influência divina na loucura. Essas ideias, que revelam uma visão organicista do distúrbio, terão profunda influência na medicina nos séculos XVIII e XIX. Civilizações Antigas • Em IV a.C. médicos babilônios atribuíam a loucura às possessões demoníacas e os tratamentos eram feitos a partir de práticas astrológicas e oraculares, além do sacrifício de animais; • Os egípcios construíram templos onde realizavam curas e funcionavam como escolas médicas; • Na concepção mágico-animista ou demonológica própria das antigas civilizações (índia, China, Mesopotâmia, Egito e por aí vai), a maior parte das enfermidades, e especialmente os transtornos psíquicos, se atribuem à possessão de maus espíritos ou a influências da feitiçaria ou da bruxaria; • Os hebreus tinham a crença que o Deus único é quem atribuía doenças e as curava – os médicos apelavam a Deus pela cura do paciente; • Os persas eram dualistas e acreditavam na luta entre o deus da bondade e justiça x espírito do mal e das trevas, assim as doenças eram causadas quando o mal predominava, a cura vinha por meio de exorcismo; • Histeria (do francês hystérie). O tem origem no termo médico grego hysterikos, que se referia a uma suposta condição médica peculiar a mulheres, causada por perturbações no útero, hystera em grego. O termo histeria foi utilizado por Hipócrates, que pensava que a causa da histeria fosse um movimento irregular de sangue do útero para o cérebro. Era Clássica • Era Clássica (1000 a.C.) poemas de Homero apresentavam descrições de pessoas com insanidade mental; • Para Homero não havia desastres, tudo era determinado por Zeus. A loucura era obra de Zeus, de outros deuses ou de entidades subalternas na mitologia; Processos Psicopatológicos e Contemporaneidade 2 • Pessoas que cometiam ofensas aos deuses recebiam como castigo a loucura e os templos eram os locais para cura dos doentes → os templos eram construídos em locais afastados das cidades e o “tratamento” eram banhos e passeios pelos jardins → os sonhos também eram considerados como curador; Período Romano • Galeno criou teoria dos 4 elementos e 4 humores (sangue, fleuma, bílis amarela e bílis negra): • Teoria humoral: o Dependendo da predominância de um ou outro humor, tinha-se o indivíduo sanguíneo (otimista), fleumático (sereno), colérico (explosivo) e melancólico (pessimista); o Primeiras descrições de delírios tóxicos e depressão, chamada de melancolia causada pelo acúmulo de bílis negra. Idade Média • Período medieval: com a queda do império romano, o cristianismo assume o papel da cura. No lugar dos Deuses entram os santos; • Pessoas foram queimadas por apresentar quadros de ansiedade e surtos psicóticos; • Até o século XIII e XI as doenças do corpo eram tratadas pelos médicos e as doenças mentais pelos sábios → crença na feitiçaria; • Origem demoníaca das doenças mentais; Renascimento • No período renascentista, os loucos eram atirados rio abaixo, como cargas insanas em embarcações que recebiam o nome de Nau de Loucos. Essas embarcações dispunham de um valor simbólico, como um ritual que libertava a sociedade dos doidos. Confiar o louco aos marinheiros era a certeza de evitar que ficasse vagando nas cidades e, de que ele iria para longe, era torná-lo prisioneiro de sua própria partida. • Renascimento (a partir de 1400): estudo de anatomia → doença mental como perturbação das substâncias internas do corpo; Iluminismo • Ciências naturais (fisiologia) → descoberta do sistema circulatório → emoções agem direto no copo alterando suas funções; • Melhora na classificação de sintomas e doenças; • 1745-1826: Philippe pinel sistematizou as doenças psiquiátricas → transtorno mental tinha como base o sistema nervoso central (lesão, hereditária, experiências de vida) → psiquiatria moderna; • A loucura, que até então era exaltada como marca do divino, constitui-se em um modo de exclusão, devido às mudanças ocorridas em decorrência do crescimento das cidades, com o poder das relações políticas e com o desenvolvimento da industrialização; • Nesse período, foram criados, em território europeu, os primeiros estabelecimentos para internação, destinados a receber os loucos; • Essas casas de internamento eram verdadeiros cárceres que aprisionavam uma serie de indivíduos, portadores de doenças venéreas, mendigos, vagabundos, libertinos, bandidos, eclesiásticos em infração, os próprios loucos, enfim, todos aqueles que, em relação à ordem da razão, da moral e da sociedade, demonstravam fonte de desordem e desorganização moral; • No Hotel-Dieu, os internados eram separados por sexo, alas masculina e feminina, que abrigavam os loucos de forma inadequada, agrupados e aglomerados sem espaço Processos Psicopatológicos e Contemporaneidade 3 e sem condições adequadas. Não havia conscientização da necessidade de cuidados médicos diários para os doentes, pois a falta de assistência médica se dava pelo temor da contaminação pelo “mal”; • O louco era visto como um animal, desprovido de sua racionalidade, de sua fragilidade humana e de sensibilidade à dor física. Como a animalidade, a loucura era sinal de humilhação e sofrimento. Era Moderna • Discriminar uma doença mental de outra e diferenciá-las dos males físicos; • Kraepelin: sistematização psiquiátrica; • Charcot: histeria; hipnose como tratamento; • Bleuler cria o termo esquizofrenia: psicoses conhecidas como demência precoce; • Freud: aluno de Charcot, aprende a usar a hipnose → limitações → associação livre + interpretação dos sonhos + energia sexual → psicanálise. Século XX • Depois da segunda guerra mundial, com o retorno do crescimento econômico e da reconstrução social, época de movimentos civis e de intolerância para com as diferenças e as minorias, que a comunidade profissional, por diferentes vias, chega à conclusão de que o hospital psiquiátrico deveria ser transformado. Mediante vários movimentos constituídos e desenvolvidos em diversos lugares do mundo foi que se atingiu o ponto máximo no questionamento sem precedentes da ordem social contemporânea, influenciando decisivamente a rupturado paradigma psiquiátrico construído ao longo dos anos; • Na segunda metade do século XX, a evidente deterioração de muitos hospitais psiquiátricos com características asilares (superlotação, malversação e falta de fiscalização), o baixo grau de validade e confiabilidade dos diagnósticos psiquiátricos e o intenso questionar acerca dos aspectos sociais envolvidos no adoecer mental fizeram com que o conhecimento aportado por diversas disciplinas das ciências humanas (como p.ex. sociologia, ciência política, antropologia, etc.) passassem a ter um peso significativo na aproximação ao entendimento da vida mental e seu adoecer; • Nesse contexto surgiu a antipsiquiatria e a luta antimanicomial; • Antipsiquiatria: a negação dos transtornos mentais (seus portadores seriam apenas pessoas diferentes, que não se enquadrariam no mercado de trabalho, considerados doentes mentais para que a sociedade capitalista legitimasse um controle policialesco sobre estes indivíduos, através da medicina, psiquiatria); • Luta antimanicomial: defesa do fechamento de todos os hospitais especializados no tratamento de doentes mentais (denominado por este movimento de “manicômios”). Brasil • Guardada uma defasagem temporal, movimentos semelhantes também ocorreram no Brasil; • O primeiro momento de preocupação efetiva com o doente mental no Brasil foi em 1841 (período da transferência da corte portuguesa para o Brasil), quando se autorizou, por decreto, a construção do hospício; • Holocausto brasileiro: no século XX, o estado brasileiro optou por delegar grande parte do atendimento hospitalar ao doente mental à iniciativa privada, cabendo a ele, estado, pagar e fiscalizar. Não fiscalizou e, à semelhança do ocorrido no resto do mundo, boa parte destes serviços superlotaram e deterioraram; • Em 1989, ao que parece fortemente influenciado pela lei 180/1978 de Processos Psicopatológicos e Contemporaneidade 4 Franco Basaglia na Itália, o deputado federal Paulo delgado lançou um projeto de lei (PL 3657/1989) propondo o fechamento de todos os hospitais psiquiátricos do país – demorou 12 anos até essa lei ser promulgada (lei 10.216/2001); • Com a alteração da legislação houve a reforma psiquiátrica; • Reforma psiquiátrica: entendida como processo social complexo, que envolve a mudança na assistência de acordo com os novos pressupostos técnicos e éticos, a incorporação cultural desses valores e a convalidação jurídico- legal desta nova ordem; • No campo da assistência, a portaria nº 224, de 29 de janeiro de 1992 do ministério da saúde estabelece as diretrizes para o atendimento nos serviços de saúde mental, normatizando vários serviços substitutivos como: atendimento ambulatorial como serviços de saúde mental (unidade básica, centro de saúde e ambulatório), centros e núcleos de atenção psicossocial (CAPS/NAPS), Hospital-Dia (HD), serviço de urgência psiquiátrica em hospital- geral, leito psiquiátrico em hospital-geral, além de definir padrões mínimos para o atendimento nos hospitais psiquiátricos, até que sejam totalmente superados. • No século XX, o Estado Brasileiro optou por delegar grande parte do atendimento hospitalar ao doente mental à iniciativa privada, cabendo a ele, Estado, pagar e fiscalizar. • CAPS I: Atendimento a todas as faixas etárias, para transtornos mentais graves e persistentes, inclusive pelo uso de substâncias psicoativas, atende cidades e ou regiões com pelo menos 15 mil habitantes. • CAPS II: Atendimento a todas as faixas etárias, para transtornos mentais graves e persistentes, inclusive pelo uso de substâncias psicoativas, atende cidades e ou regiões com pelo menos 70 mil habitantes. • CAPS i: Atendimento a crianças e adolescentes, para transtornos mentais graves e persistentes, inclusive pelo uso de substâncias psicoativas, atende cidades e ou regiões com pelo menos 70 mil habitantes. • CAPS ad Álcool e Drogas: Atendimento a todas as faixas etárias, especializado em transtornos pelo uso de álcool e outras drogas, atende cidades e ou regiões com pelo menos 70 mil habitantes. • CAPS III: Atendimento com até 5 vagas de acolhimento noturno e observação; todas as faixas etárias; transtornos mentais graves e persistentes inclusive pelo uso de substâncias psicoativas, atende cidades e ou regiões com pelo menos 150 mil habitantes. • CAPS ad III Álcool e Drogas: Atendimento e 8 a 12 vagas de acolhimento noturno e observação; funcionamento 24h; todas as faixas etárias; transtornos pelo uso de álcool e outras drogas, atende cidades e ou regiões com pelo menos 150 mil habitantes. O que é normal? • Suar frio ao pensar em ficar preso em um elevador; • Recusar-se a comer alimentos sólidos durante dias seguidos a fim de permanecer magro? • Beber meia dúzia de cervejas por dia a fim de “socializar” com os amigos após o trabalho • Xingar, jogar almofadas e bater com os punhos na parede no meio de uma discussão; • Lavar as mãos de uma maneira minuciosa ao chegar em casa após viagem de ônibus. Como definir anormal? Cinco critérios estabelecidos pela comunidade de saúde mental: Processos Psicopatológicos e Contemporaneidade 5 • Significância clínica: grau de prejuízo mensurável; • Comportamento reflete uma disfunção dos processos psicológicos, biológicos ou do desenvolvimento; • Está associado com sofrimento ou incapacidade, significativas nas esferas importantes da vida; • O comportamento não pode ser socialmente desviante em termos de religião, política ou sexualidade; • Os conflitos entre o sujeito e a sociedade não são considerados transtornos psicológicos a menos que reflitam uma disfunção do indivíduo (antes pessoas diagnosticadas por governos opressores); Causas do comportamento anormal: • Biológicas: herança genética, mudanças fisiológicas, exposição a substâncias tóxicas; • Psicológicas: experiencias de aprendizagem passadas, padrões de pensamento mal adaptativos, dificuldades de enfrentar estresse; • Socioculturais: políticas sociais, discriminação, estigma. Semiologia • Semiologia médica: estudo dos sintomas e dos sinais das doenças; • Semiologia psicopatológica: estudos dos sinais e sintomas dos transtornos mentais. o Sintomas: algo subjetivo, a pessoa sente, fáceis de identificar. o Sinais: o que as outras pessoas percebem. • Doença: vem do latim e quer dizer padecimento; • Transtorno: descreve qualquer anormalidade, sofrimento ou comprometimento de ordem psicológica e/ou mental; • Síndrome: caracteriza um conjunto de sinais e sintomas que definem uma determinada patologia ou condição; • Distúrbio: abrange alterações de natureza estrutural e funcional, sugere a existência de comprometimento neurológico. • A CID-10 foi elaborada pela OMS e lançada em 1992, apresenta em seu quinto capítulo os transtornos mentais e comportamentais; • Os transtornos são codificados pela letra F, seguida pelos numerais de 0 a 9, que correspondem as nove classes de transtornos presentes; • Os diagnósticos podem ser ainda refinados com o acréscimo de mais dois numerais, que correspondem a características especificas do transtorno apresentado. • Por exemplo, o código F30.2 significa, respectivamente, capítulo de transtornos mentais (F), classe dos transtornos de humor (3), episódio maníaco (0), com sintomas psicóticos (.2). • A CID que é utilizada internacionalmente, é considerada oficial no Brasil, para fins diagnósticos. Os códigos e termos fornecidos no DSM-5 são compatíveis com a CID-10. • No ano de 1952, a Associação psiquiátrica americana (APA) publicou a primeira edição do “Manual Diagnóstico e Estatístico de TranstornosMentais” (DSM-I), e as edições seguintes, publicadas em 1968 (DSM-II), 1980 (DSM-III), 1987 (DSM-III-R) e 1994 (DSM-IV), foram revistas, modificadas e ampliadas; • Uma característica importante do DSM-III foi a hierarquização dos diagnósticos: um paciente diagnosticado como esquizofrênico, Processos Psicopatológicos e Contemporaneidade 6 por exemplo, não poderia receber o diagnostico simultâneo de transtorno do pânico. A patologia mais grave, era considerada hierarquicamente superior ao quadro do pânico. Desta forma, era atendida a velha máxima da medicina, que preconiza a identificação de uma única patologia para explicar todos os sintomas que compõem o quadro clínico de um paciente; • Entretanto, em 1987, com a publicação do DSM-III-R, esta hierarquia foi abolida, e o manual passou a incentivar a feitura simultânea de dois ou mais diagnósticos num mesmo paciente. Surgiu, assim, o conceito de comorbidade, em psiquiatria, que foi confirmado pelo DSM-IV e amplamente difundido nos anos 90, sendo utilizado regularmente atualmente. • Composto por 22 capítulos que incluem conjuntos de transtornos relacionados; • Os capítulos são organizados de modo que os transtornos relacionados apareçam mais próximos uns dos outros; • Doenças psicológicas e biológicas com frequência tem relação entre si; • Diversos diagnósticos no DSM-5 têm integrado a si um diagnóstico médico, tal como uma doença neurológica que produz sintomas cognitivos • Entretanto, se uma doença primariamente médica não foi especificada no DSM-5, os clínicos podem especificá-la usando os diagnósticos-padrão da CID. Diagnóstico diferencial: DSM- passo a passo Passo 1: excluir a simulação e transtorno factício • Observar a natureza e a gravidade de sintomas descritos pelo paciente, a fim de chegar ao diagnóstico preciso; • Há pacientes que podem escolher enganar o profissional, produzindo ou fingindo sintomas; • Motivação da fraude: o Quando se trata da conquista de um objetivo reconhecível (indenização do seguro, evitação de responsabilidades legais e militares, obtenção de drogas) = simulação; o Quando o comportamento enganador está presente mesmo na ausência de uma obvia recompensa externa, o diagnóstico é o de transtorno factício. • Suspeitas 1. Quando existem estímulos externos claros para que o paciente seja diagnosticado com uma condição psiquiátrica (avaliações forenses em processos criminais ou civis, estabelecimentos prisionais etc.); 2. Quando o paciente se apresenta com um conjunto de sintomas psiquiátricos que se conformam mais com uma percepção leiga da doença mental do que com uma entidade clínica reconhecida; 3. Quando a natureza dos sintomas muda radicalmente de um encontro para o outro; 4. Quando o paciente tem uma apresentação que imita a de um outro modelo (outro paciente da unidade, um parente próximo com uma doença mental); 5. Quando o paciente é caracteristicamente manipulador ou sugestionável Passo 2: excluir etiologia de substância • Os sintomas surgem a partir de uma substância que exerce um efeito direto no sistema nervoso central (SNC); • Os sintomas psicóticos são devidos a intoxicação por cocaína, não faz sentido, em geral, que o paciente comece de imediato a tomar um medicamento antipsicótico, a não ser que os sintomas psicóticos Processos Psicopatológicos e Contemporaneidade 7 estejam colocando o indivíduo (ou outros) em perigo imediato. • Primeira tarefa: determinar se a pessoa tem usado alguma substância; • Segunda tarefa: o Os sintomas psiquiátricos resultam dos efeitos diretos da substância sobre o SNC; o O uso da substância é uma consequência (ou aspecto associado) de ter um transtorno psiquiátrico primário (automedicação); o Os sintomas psiquiátricos e o uso de substâncias são independentes. • Ao diagnosticar um transtorno induzido por substância: o Existe uma relação causal entre o uso de uma substância e a sintomatologia psiquiátrica? Deve-se considerar a probabilidade de uso de substâncias/medicamento resultar nos sintomas psiquiátricos; o Determinar se houve um período no qual os sintomas psiquiátricos estavam presentes fora do contexto do uso de substância/medicamento → melhor método para avaliar relação etiológica entre o uso e os sintomas psiquiátricos; o Ao determinar a probabilidade de que um padro de uso de substância/medicamento pode explicar os sintomas, você deve também considerar se a natureza, a quantidade e a duração do uso de substância/medicamento são consistentes com o desenvolvimento dos sintomas psiquiátricos observados. • Em alguns casos, o uso de substância pode ser a consequência ou um traço associado (mais do que uma causa) se sintomatologia psiquiátrica. O comportamento de consumo de substância pode ser considerado uma forma de automedicação em virtude da condição psiquiátrica. Por exemplo, um indivíduo com transtorno de ansiedade pode beber álcool em excesso devido a seus efeitos sedativos e ansiolíticos; • Depois de decidir que uma apresentação é devida aos efeitos diretos de uma substância ou medicamento, você deve determinar qual o transtorno induzido por substância melhor descreve a apresentação. Passo 3: excluir um transtorno devido a uma condição médica • Determinar se os sintomas psiquiátricos são devidos aos efeitos diretos de uma condição médica geral. Primeiro descartar causas físicas da sintomatologia mental; • Quando a frase “devido a uma condição médica é usada, o que isso realmente significa é que os sintomas são devidos a uma condição médica que é classificada fora do capítulo de transtornos da CID – isto é, não psiquiátrica; • Esse diagnostico diferencial pode ser difícil por quatro razões: o Os sintomas de alguns transtornos psiquiátricos e de várias condições médicas podem ser idênticos (por exemplo: sintomas de perda de peso e fadiga podem ser atribuíveis a transtornos depressivos ou de ansiedade ou uma condição médica geral); o Algumas vezes, os primeiros sintomas apresentados de uma condição médica geral são psiquiátricos (por exemplo: depressão procedente de um tumor cerebral); o A relação entre a condição médica geral e os sintomas psiquiátricos pode ser complicada (por exemplo, depressão ou ansiedade como uma reação psicológica a ter uma condição médica geral versus a condição médica a ser a causa ou a ansiedade por meio de seu efeito fisiológico direto sobre o SNC); o Praticamente qualquer apresentação psiquiátrica pode Processos Psicopatológicos e Contemporaneidade 8 ser causada pelos efeitos fisiológicos diretos de uma condição médica geral, e eles são considerados no DSM-5 como um dos transtornos mentais devidos a outra condição médica (por exemplo: transtorno depressivo devido a hipotireoidismo); • Uma vez que uma condição médica geral for estabelecida, a próxima tarefa é determinar sua relação etiológica, se houver alguma, com os sintomas psiquiátricos. Passo 4: determine os transtornos primários específicos • Uma vez que o uso de substância e as condições médicas gerais tenham sido excluídos como etiologias, o próximo passo é determinar qual dentre os transtornos mentais primários do DSM-5 melhor explica a sintomatologia apresentada; • Vários dos agrupamentos diagnósticos no DSM-5 (por exemplo: transtorno do espectro da esquizofrenia e outros transtornos psicóticos, transtornos de ansiedade etc.) são organizados em torno de uma apresentação comum de sintomas justamente para facilitar o diagnostico diferencial. Passo 5: diferenciar transtornos de adaptação de outros transtornos especificados ounão especificados residuais • O julgamento clínico for de sintomas que se desenvolveram como uma resposta mal adaptativa a um estressor psicossocial, o diagnostico será de transtorno de adaptação. Se for definido que um estressor não é o responsável pelo desenvolvimento dos sintomas clinicamente significativos, a categoria relevante de outros transtornos especificados ou transtornos não especificados pode ser diagnosticada. Por exemplo, se a apresentação do paciente é categorizada por sintomas depressivos que não se encaixam nos critérios de quaisquer transtornos incluídos no capítulo “transtornos depressivos” do DSM- 5, então outro transtorno depressivo especificado ou transtorno depressivo não especificado é diagnosticado; • O DSM-5 oferece duas versões de categorias residuais: outro transtorno especificado e transtorno não especificado. Passo 6: estabelecer os limites com a inexistência de transtorno mental • A perturbação causa sofrimento significativo do ponto de vista clínico, ou prejuízo no funcionamento social, profissional ou em outras áreas importantes da vida do indivíduo; • A fronteira entre transtorno e normalidade pode ser estabelecida apenas por julgamento clínico, e não por quaisquer regras rígidas e rápidas. O que pode parecer significativo do ponto de vista clínico é sem dúvida influenciado pelo contexto cultura, o contexto no qual o indivíduo é visto, vieses do profissional, vieses do paciente e a disponibilidade de recursos; • Em contextos clínicos de saúde mental, o julgamento sobre se a apresentação é clinicamente significativa não é, muitas vezes, um problema, o fato de que o indivíduo buscou ajuda faz da condição algo “clinicamente significativo”. Aparência • Observação cuidadosa da aparência do examinado, tais como, vestuário, adornos, tatuagens cuidados pessoais, idade real x idade aparente, atitude com o examinador; • Apresentação adequada para situação, colaborativo, cuidados de higiene adequados; • Apresentação bizarra com falta de higiene, pouco colaborativo, negativista ao contato. Consciência Processos Psicopatológicos e Contemporaneidade 9 • Neuropsicológica: nível de consciência: estado vigil, grau de clareza do sensório, estar desperto, acordado, vigil, lúcido; • Psicológica: soma total das experiências conscientes no momento, capacidade do indivíduo entrar em contato com a realidade, perceber e conhecer os objetos; • Filosófica: capacidade de tomar ciência dos direitos e deveres éticos (Edmund Husserl- tabua rasa); • Capacidade de estar desperto → atividade tronco cerebral e do diencéfalo → hemisférios cerebrais/lobo parietal /áreas pré-frontais/ interações tálamo- corticais → tônus para o funcionamento; • Lesões ou disfunções nestas áreas produzem as alterações nos níveis de consciência e altera as demais funções psíquicas. Alterações normais da consciência • Sono: estado especial da consciência pode ser comportamental ou fisiológico. o Sono Não REM: diminuição da atividade do sistema nervoso autônomo simpático e aumento relativo do tônus do parassimpático → nível mínimo de funcionamento cardíaco e respiratório; o Sono REM: instabilidade no sistema nervoso autônomo simpático com variações das frequências cardíaca e respiratória, pressão arterial, débito cardíaco e fluxo sanguíneo cerebral, movimento rápido dos olhos, relaxamento muscular profundo, sonhos; • Sonho: já foi considerado modelo de loucura no século XIX → A loucura é o sonho acordado (Moreau de Tours). o Os sonhos são vivências visuais raramente auditivas, olfativas ou táteis, mas podem ocorrer sensações de orgasmos; o interpretação dos sonhos: diferente culturas e crenças religiosas; o Freud em 1900 publicou a Interpretação dos Sonhos → fenômeno psicológico → indireto e disfarçado → conteúdo dos sonhos apresentam significados; o Transformação de conteúdos latentes e manifestos → condensação, deslocamento → desejos reprimidos e “luta” entre o inconsciente e consciente/ pré-consciente. Alterações patológicas da consciência Quadros neurológicos podem alterar o nível de consciência diminuindo progressivamente de normal, vigil, desperto até o estado de coma profundo; Graus de rebaixamento: • Obnubilação da consciência ou turvação da consciência: leve a moderado, ↓ grau de clareza do sensório, lentidão da compreensão e dificuldade de concentração (parece sonolência, mas não é); • Sopor: marcante turvação da consciência, responde ao estímulo energético com dificuldade, reage, mas não age,↓ psicomotricidade; • Coma: grau mais profundo de rebaixamento do nível de consciência (não é possível qualquer atividade voluntária consciente); • Delirium: síndrome confusionais agudas, rebaixamento leve a moderado, desorientação tempo espacial, dificuldade de se concentrar, perplexidade, ansiedade, agitação ou lentificação psicomotora, ilusões e/ou alucinações (delirium/consciência ≠ delírio/pensamento); • Estado onírico ou amência: “sonhar acordado”, presença de alucinação visual com carga emocional → pode ter amnésia posterior → psicose tóxica, síndrome de abstinência a drogas (delirium tremes) e quadros febris tóxico-infeccioso; Processos Psicopatológicos e Contemporaneidade 10 • Síndrome do Cativeiro: infarto ou mielinólise da porção central da base → parece não responsivo, mas apresenta movimentos oculares voluntários. Algumas alterações são de níveis psicopatológicos/psiquiátricos e podem ser parcial ou focal do campo da consciência: • Estados Crepusculares: estreitamento transitório do campo da consciência, mas com conservação da atividade psicomotora → surge e desaparece de forma abrupta → de horas a semanas → atos explosivos, descontrole emocional → histeria, epilepsia e intoxicações; • Dissociação da consciência: fragmentação do campo da consciência → crises dissociativas/crises histéricas → semelhante ao sonho → minutos a horas → ansiedade → desliga da realidade para não sofrer; • Transe: dissociação semelhante ao sonho acordado, mas com presença de atividade motora automática e estereotipada → contexto religioso. Atenção • Como a direção da consciência → estado de concentração da atividade mental sobre determinado objeto; • Atenção interage com diversas áreas do sistema nervoso → sistema reticular ativador ascendente e áreas corticais → processos de seleção e concentração → foco da atenção; • Estruturas límbicas também estão envolvidas com o interesse afetivo → atração, motivação e carga emocional para o objeto; • Dois tipos básicos de atenção: o atenção voluntária: concentração, é ativa e intencional. o atenção espontânea: interesse momentâneo, incidental, que desperta este ou aquele objeto; • Direção da atenção: o atenção externa: mundo exterior ou corpo/sensorial. o atenção interna: introspectiva, meditativa; • Amplitude da atenção: atenção focal → concentrada ou dispersa (não se concentra); • Atenção seletiva: capacidade de seleção de estímulos e objetos específicos; • Atenção sustentada: manutenção da atenção seletiva, execução de tarefas; • Tenacidade: capacidade de fixar sua atenção sobre determinada área ou objeto; • Vigilância: qualidade da atenção que permite mudar o foco de um objeto para outro; Alterações da atenção • Hipoprosexia: atenção global diminuída, dificuldade de perceber o ambiente e de compreensão; • Aprosexia: perda total da capacidade de atenção; • Hiperprosexia: atenção exacerbada; • Distração: é um sinal não um déficit, superconcentração ativa da atenção sobre um objeto com inibição do restante; o distraibilidade: estado patológico da distração→ instabilidade e mobilidade acentuada da atenção voluntária com dificuldade ou incapacidade para se fixar ou se manter em qualquer coisa que implique esforço produtivo, atenção facilmente desviada; • Mania: diminuição da atenção voluntaria e aumento da atenção espontânea com hiper vigilância e hipotenacidade Orientação • Capacidade de situar-se quanto a si mesmo e ao ambiente; • Verificar o nível de consciência; • Auto psíquica: orientação em relação a si mesmo; • Alo psíquica: orientação em relação ao mundo; Processos Psicopatológicos e Contemporaneidade 11 • Temporal: orientação em relação ao tempo, ou seja, momento cronológico; • Espacial: orientação em relação ao lugar onde ele se encontra. Alterações da orientação • Frequentes em pacientes com lesões cerebrais, delirium e demências; também pode ocorrer em casos de depressão severa; • Desorientação por redução do nível de consciência/temporosa/confusa: desorientação por rebaixamento ou turvação da consciência; afeta a atenção, a concentração e capacidade de integrar os estímulos ambientais; • Desorientação por déficit de memória de fixação/amnésica: não consegue fixar na memória as informações ambientais básicas e com isso perde a noção de tempo e espaço; • Desorientação demencial: perda da memória de fixação, déficit do reconhecimento ambiental e desorganização geral das funções cognitivas; • Desorientação por apatia e/ou desinteresse profundo/apática/abúlica: alteração do humor e da volição; • Desorientação delirante: estado delirante; • Desorientação oligofrênica: graves déficits intelectuais, incapacidade ou dificuldade em compreender o ambiente e normas sociais; • Desorientação histérica: quadro histérico grave, acompanhado de alteração da identidade pessoal e alteração de consciência (dissociação); • Desorientação por desagregação: pacientes psicóticos; desagregação do pensamento e desorganização; • Desorientação quanto à própria idade: discrepância de 5 anos ou mais; esquizofrênico crônicos. Como avaliar? • Temporal: que dia é hoje? Qual o dia da semana? Qual o dia do mês? Em que mês estamos? Em que ano estamos? Qual a época do ano (começo, meio ou final do ano)? Aproximadamente, que horas do dia são agora? • Espacial: onde estamos? Como se chama a cidade onde estamos? E o bairro? Qual o caminho e quanto tempo leva para vir de sua casa até aqui? Que edifício é este onde estamos (hospital, ambulatório, etc.)? • Auto psíquica: quem é o(a) senhor(a)? Qual o seu nome? O que faz? Qual a sua profissão? Quem são os seus pais? Qual a sua idade? Sensação e percepção • Percepção é uma função cognitiva que articula esse domínio, junto com a atenção, com a área da consciência; • Sensação é a área das sensações visuais, auditivas, gustativas e táteis; • Quantitativo: intensidade, aumento ou diminuição das sensações; • Qualitativo: ilusões, alucinações verdadeiras e pseudoalucinações; • Agnosias: incapacidade de reconhecer e interpretar o significado das impressões sensoriais. Sensopercepção • Na percepção é avaliada a sensopercepção do paciente, ou seja, como ele recebe (sentidos) e percebe (interpretação) o mundo. Descrevem-se aqui fenômenos como alucinação e ilusão. A natureza de cada experiência deve ser descrita em detalhes. Alucinações auditivas, por exemplo, são comuns na esquizofrenia enquanto alucinações visuais são frequentes em doenças orgânicas. Deve-se questionar sobre alterações de todos os sentidos pois as alucinações podem ser olfativas, cenestésicas, etc. • Alguns dos sintomas de Kurt Schneider de primeira ordem são alucinatórios, como o eco do pensamento, roubo do pensamento e inserção de pensamentos. Processos Psicopatológicos e Contemporaneidade 12 Despersonalização (o indivíduo sente-se irreal) e desrealização (sente o mundo como irreal) também devem ser descritos aqui. • Também é importante verificar se as alucinações ocorrem na segunda pessoa (conversa com o paciente) ou na terceira pessoa (conversam entre si) e se comandam o doente (atos homicidas ou suicidas). Às vezes as alucinações podem ser outros sons além de vozes, como sinos, latidos, sons de motores, zumbidos, etc. Também podem ser outros fenômenos visuais como halos ou cores difíceis de descrever. Estas são chamadas alucinações elementares. • Alucinações extra campinas: são aquelas nas quais o paciente vê ou ouve coisas fora de seu campo sensorial (ouvir uma voz a 3 km de distância, ver através de paredes, etc). • Deve-se questionar como a pessoa lida com as alucinações, se são assustadoras, angustiantes ou prazerosas. Ilusões • As mais comuns são as visuais, a pessoa vê monstros, pessoas, animais a partir de estímulos visuais como moveis, quadros, roupas, etc; • As ilusões auditivas podem ocorrer através de estímulos específicos, o paciente pode ouvir nomes, palavras significativas. Alucinações • Percepção de um objeto sem que ele esteja presente, ou seja, é a percepção clara e definida de um objeto sem a presença do objeto estimulante real; • Podem ser: auditivas, auditivas- visuais, visuais, táteis, olfativas, gustativas, cenestésicas (corporal) e cinestésicas (movimento); o Auditivas: ocorrem com maior frequência na esquizofrenia, podem ocorrer nos transtornos de humor (depressão grave geralmente com conteúdo negativo) ou nos transtornos de personalidade; o Visuais: podem ocorrer em estados normais de sonolência. Alucinação x delírio • Delírio: alteração de pensamento ou alteração do juízo; • Ideia delirante: “eu acho que estou sendo traído”, “tenho a sensação de que estão me perseguindo”; • Ideia delirante (humor/trauma e uso de drogas): “eu vou ser o presidente do Brasil”, “eu nasci para salvar o mundo”; • Alucinação/percepção ≠ Delírio/pensamento. Memória • Capacidade de registrar, manter e evocar os fatos ocorridos, relaciona-se com o nível de consciência, atenção e interesse afetivo; • Memoria genética: conteúdos de informações biológicas, DNA e RNA; • Memoria imunológica; • Memoria cognitiva (psicológica): fase de percepção, registro e fixação, fase de retenção e conservação e fase de reprodução e evocação (capacidade de recuperar e atualizar os dados fixados); • Memoria cultural: conhecimentos e práticas culturais; • Reconhecimento: capacidade de identificar o conteúdo mnêmico como lembrança e diferenciá-la da imaginação e de representações atuais; • Memória imediata ou de curtíssimo prazo: capacidade de reter o material imediatamente após ser percebido, limitada, depende da concentração; • Memória recente ou de curto prazo: capacidade de reter a informação por um período de curto tempo, limitada; • Memória remota ou de longo prazo: capacidade de evocação da Processos Psicopatológicos e Contemporaneidade 13 informação ocorrida no passado, capacidade ampla. Processo de fixação • Nível de consciência e estado orgânico geral; • Atenção global e da capacidade de manutenção/compreensão da atenção concentrada sobre o conteúdo a ser fixado; • Sensopercepção preservada; • Interesse emocional relacionado ao conteúdo mnêmico a ser fixado e empenho em aprender; • Canais sensoperceptivos envolvidos na percepção (método audiovisual). Processo de conservação • Repetição; • Associação. Esquecimento • Esquecimento normal: desinteresse ou desuso; • Esquecimento por repressão: material desagradável ou pouco importante, pode ser retomado com esforço (Freud); • Esquecimento por recalque: conteúdos mnêmicos por serem emocionalmente insuportáveis são banidos da consciência, pode ser recuperado apenas em circunstâncias especiais(inconsciente). Lei de Ribot Indivíduo que sofre de lesão cerebral tende a perder os conteúdos da memória na ordem e no sentido inverso que os adquiriu: elementos recentes e depois os antigos, elementos mais complexos e depois os mais simples e elementos mais estranhos a menos habituais. Memória dos elementos • Memória explícita ou declarante: processo de registrar e evocar de forma consciente e voluntária informações referentes a pessoas e eventos autobiográficos, regiões mesiais dos lobos frontais, se lesionadas perde-se a capacidade de fixação e de lembrança dos eventos ocorridos há poucos minutos só lembra dos eventos antigos; • Memória implícita, não-declarante ou de procedimento: automática ou reflexa, não depende de fatores conscientes e voluntários; ocorre de forma lenta e por repetição, ações motoras e que não podem ser expressas por palavras; • Memória de trabalho, operante ou executiva: capacidade de reter e manter ativa a informação durante um curto período e de poder manipular tal informação a fim de realizar uma tarefa específica; • Memória episódica: é a memória para eventos específicos da experiência pessoal, geralmente autobiográficos e bem determinado em seu momento e local; • Memória semântica: aprendizado de palavras e seu significado, memória cultural, registro e retenção de conteúdo em função do significado que têm, memória de longo prazo. Alterações da memória • Hipermnésias: o elemento mnêmico flui rapidamente, mas sem precisão, aceleração geral do ritmo psíquico; • Amnésias ou hipomnésias: perda de memória, perda da capacidade de fixar, manter e evocar antigos conteúdos; o Psicogênicas: perda do elemento focal com significado psicológico, exemplo: lembra de uma festa, mas não lembra quem estava lá; o Orgânica: perde a capacidade de fixar conteúdos imediatos e recentes, ao longo do tempo perde os conteúdos antigos, lei de Ribot; o Anterógrada: não fixa conteúdo a partir do evento que lhe causou danos cerebral; acidentes; o Retrógrada: perde a memória para fatos ocorridos, quadros dissociativos antes do início da doença; Processos Psicopatológicos e Contemporaneidade 14 • Paramnésias: deformação do processo de evocação de conteúdos mnêmicos previamente fixados; o Ilusões mnêmicas: há acréscimo de elementos falsos a um núcleo verdadeiro de memória, deformação da lembrança real; o Alucinações mnêmicas: criações imaginativas com aparência de lembranças; o Delírio imaginativo ou mnêmico; o Fabulações: incapacidade de reconhecer como falsas as imagens produzidas pela fantasia, invenções para preencher um vazio da memória; não é para enganar; o Criptomnésias: lembranças aparecem como fatos novos, não reconhece como lembrança. o Ecmnésia: é a recapitulação e revivência intensa, abreviada e panorâmica da existência, uma recordação condensada de muitos eventos passados, que ocorre num breve período, vivência de alucinação, a visão de cenas passadas, visão panorâmica da vida, pode ocorrer na eminência da morte; o Lembrança obsessiva: ideia fixa ou representação prevalente, surgimento espontâneo de imagens mnêmicas do passado. Agnosias: transtornos do reconhecimento • Déficits do reconhecimento de estímulos sensoriais, objetos e fenômenos, que não podem ser explicados por um déficit sensorial, por transtornos da linguagem ou por perdas cognitivas globais; • Agnosias visuais, táteis, auditivas e de percepções complexas; o Visuais: não reconhece pela via visual, enxerga, descreve, mas não sabe o que realmente é; o Táteis: incapacidade de reconhecer as formas dos objetos colocados nas mãos do paciente e de olhos fechados, descreve o objeto, mas não sabe exatamente qual é o objeto; o Auditivas: incapacidade de reconhecer um som não- linguístico (auditiva seletiva) ou linguístico (verbal), pode ocorrer por lesão na área auditiva ou lesões subcorticais; o Agnosias de reconhecimento de faces ou prosopagnosia: não reconhecimento de membros específicos num determinado grupo genérico; o Verbal: pode falar, ler e escrever, porém não entende qualquer palavra falada que ouve; o Cegueira verbal: fala, escreve e entende, mas não lê. • Anosognosia: incapacidade de o doente reconhecer um déficit ou doença que o acomete, reconhecer uma hemiplegia; • Grafestesia: reconhecimento da escrita pelo tato, escreve na mão do paciente letras com objeto e pede-se ao paciente que os reconheça de olhos fechados, perturbação do reconhecimento por déficit da integração sensório motora em nível cortical; Síndrome de capgras Paciente afirma que uma pessoa próxima e familiar que o visitou ser seu pai ou mãe é na verdade um sósia quase idêntico, uma falsa cópia. Síndrome do duplo subjetivo O paciente acredita que outra pessoa se transformou fisicamente a ponto de tornar-se idêntica a ele, vindo ser o seu próprio eu. Síndrome de frégoli É um falso reconhecimento delirante, em que o indivíduo identifica falsamente uma pessoa estranha como se fosse da família. Processos Psicopatológicos e Contemporaneidade 15 Síndrome de intermetamorfose O paciente relata que certa pessoa de seu círculo familiar, geralmente o perseguidor, e outra pessoa, estranha, também perseguidor, têm características físicas e psicológicas em comum. Pensamento • Elementos constitutivos do pensamento: conceitos, juízos e raciocínio; • Conceitos: elemento estrutura básico de pensamento; representações, cognitivo, intelectivo; • Juízos: é o processo que conduz ao estabelecimento de relações significativas entre os conceitos básicos; formular relações; • Raciocínio: função que relaciona os juízos; ligação entre os conceitos de encadeamento de conhecimentos, derivando sempre uns dos outros; • Por meio do pensamento ou do raciocínio, o ser humano é capaz de manifestar suas possibilidades de adaptar-se ao meio. É por ele que se elaboram conceitos, articulam-se juízos, constrói-se, compara-se, solucionam-se problemas, elaboram-se conhecimentos adquiridos, ideias, transforma-se e cria-se; • Investiga-se o seu curso, forma e conteúdo; análise do discurso do paciente; Curso do pensamento • Trata-se da velocidade com que o pensamento é expresso; • Aceleração: flui de forma acelerada; • Lentificação: lento, arrastado, latência entre as frases; • Bloqueio: interrupção brusca do que vinha falando e o paciente pode retomar o assunto como se não o tivesse interrompido; • Roubo: sensação de que roubaram o seu pensamento; • Prolixidade: discurso detalhista, cheio de rodeios e repetições com introdução de temas e comentários não-pertinentes ao que está falando; Alterações de curso do pensamento • Taquipsiquismo: aceleração do pensamento, frequentemente associado a uma aceleração da fala conjugada; • Bradipsiquismo: lentificação do pensamento; • Bloqueio ou interrupção do pensamento: interrupção total do fluxo de pensamento havendo roubo ou interceptação do mesmo. Forma do pensamento • Forma é a maneira como o conteúdo do pensamento é expresso; o pensamento abriga um encadeamento coerente de ideias ligadas a uma carga afetiva, que é transmitida pela comunicação; • As desordens podem ocorrer por perdas (orgânicas) ou deficiência (oligofrenia) qualitativas ou quantitativas; • Fuga de ideias: o paciente muda de assunto a todo instante, sem concluí-los ou dar continuidade, numa aceleração patológica do fluxo do pensamento; • Dissociação: desorganização, sem lógica, incoerente e incompreensível; • Afrouxamento: falta de articulação entre as frases; • Descarrilamento: extravio do curso normal; desvios; mudança súbita do quese está falando; • Desagregação: profunda e radical perda dos enlaces associativos, total perda da coerência do pensamento; ideias fragmentadas. Conteúdo do pensamento • O assunto em si; • As perturbações no conteúdo do pensamento estão associadas a determinadas alterações, como as obsessões, hipocondrias, fobias e delírios; • Principais conteúdos patológicos: de perseguição, depreciativos, Processos Psicopatológicos e Contemporaneidade 16 religiosos, sexuais, de poder, riqueza ou grandeza, de ruína ou culpa e conteúdos hipocondríacos; • Delirium: rebaixamento de consciência (delirium tremes, delirium febril); • Delírio: alteração do pensamento (alteração do juízo); pode ser dividido em ideia delirante e ideia deliróide; • Ideia delirante/delírio: delírio verdadeiro, é primário, é um conjunto de juízos falsos, que não se sabe como eclodiu, psicologicamente incompreensível, impenetrável; • Ideia deliróide: é secundária a uma perturbação do humor ou a uma situação afetiva traumática, existencial grave ou uso de drogas, há uma compreensão dos mecanismos que a originaram. Alterações de conteúdo do pensamento • Ideias obsessivas-compulsivas; • Ruminação do pensamento; • Ideias de evitação fóbica; • Autodepreciação; • Ideação suicida; • Mitomania ou pensamento mágico; • Queixas somáticas; • Pessimismo; • Delírio. Delírio • Para se classificar uma ideia de delirante ou delírio tem-se que levar em conta alguns aspectos, segundo Jaspers: o Convicção extraordinária: certeza subjetiva, crença total, não se pode colocar em dúvida a veracidade do delírio; o Impossível a modificação do delírio pela experiência objetiva, delírio é irremovível; o O delírio é um juízo falso, o seu conteúdo é impossível; o Delírio é uma produção associal, idiossincrática em relação ao grupo cultural: não é compartilhado. • Para se classificar uma ideia de delirante ou delírio segundo Kendler: o Convicção: até que ponto o paciente está convencido da realidade de suas ideias delirantes; o Extensão: em que extensão as ideias delirantes envolvem diferentes áreas da vida do paciente; o Bizarrice: até que grau as crenças delirantes se distanciam das convicções culturalmente compartilhadas por seu grupo social de origem, o quanto o seu delírio se distancia da “realidade consensual”; o Desorganização: até que ponto as ideias delirantes são consistentes internamente, tem lógica própria e em que grau são sistematizadas; o Pressão: o quanto o paciente está preocupado e envolvido com suas crenças delirantes; o Resposta afetiva: o quanto as suas crenças delirantes abalam ou tocam afetivamente o paciente; o Comportamento desviante: o quanto o paciente age em função de seu delírio; • Os delírios podem ser simples (um só conteúdo, único tema), complexos (vários temas ao mesmo tempo), não-sistematizados (sem concatenação consistente) e sistematizados (bem-organizados, com histórias ricas e consistentes); • Expansão do eu: grandeza, ciúme, reivindicação, genealógico, místico, de missão salvadora, deificação, erótico, de invenção ou reforma, ideias fantásticas, capacidade física, beleza, etc.; • Retração do eu: prejuízo, autorreferência, perseguição ou persecutório, influência, Processos Psicopatológicos e Contemporaneidade 17 possessão, humildades, experiências apocalípticas; • Negação do eu: hipocondríaco, negação e transformação corporal, autoacusação, culpa, ruína, niilismo, tendência ao suicídio). • O exame do conteúdo do pensamento poderá ser realizado por meio da conversa, com a inclusão hábil por parte do entrevistador de algumas questões que conduzam à avaliação; • Pode-se perguntar se o paciente tem pensamentos dos quais não consegue se livrar, se acha que quando está andando na rua pessoas o observam ou fazem comentário a seu respeito, se os vizinhos implicam, se existe alguém que lhe queira fazer mal, alguma organização secreta; • Se acha que envenenam sua comida, se possui alguma missão na especial na Terra, se é forte e poderoso, se frequenta macumba, se sofre de ”encosto”, se espíritos lhe falam, se há alguma comunicação com Deus e como isso se processa; aqui vale apontar para o fato cultural-religioso; dependendo da religião que professa, algumas dessas situações podem ser observadas sem a priori fazer parte de patologias. Juízo crítico • Compreensão que o sujeito tem ou não e suas expectativas em relação ao processo de avaliação e/ou doença/tratamento; • Avaliar se preservado ou não; • Diminuição, perda parcial ou completa e ausência; • Comum nas demências, deficiências intelectuais e fase maníaca. Inteligência • A inteligência pode ser definida como a totalidade das habilidades cognitivas do indivíduo, processos intelectivos; • Capacidade de identificar e resolver problemas novos, de reconhecer adequadamente as situações vivenciais e encontrar soluções; • Habilidades intelectivas; • Tipos de inteligência → áreas da cognição: inteligência verbal, visuoespacial, visuoconstrutiva, inteligência, aritmética, capacidade lógica, capacidade de planejamento e execução, de resolução de problemas novos, inteligência para abstração, para compreensão, inteligência criativa, etc. • O que se faz nessa avaliação da inteligência não é o que chamamos “uma avaliação fina”, realizada por meio de testes, é mais para se constatar se o paciente está dentro do chamado padrão de normalidade, interessa a autonomia que o paciente tenha, a sua capacidade laborativa; Alterações da inteligência • Deficiência intelectual: condição de desenvolvimento interrompido ou incompleto das capacidades mentais, manifestando-se pelo comprometimento das habilidades cognitivas que são adquiridas ao longo do desenvolvimento na infância e adolescência; • Inteligência não desenvolvida; • Deficiência intelectual limítrofe, leve, moderada, grave e profunda; • Inteligência perdida: demência, pseudodemencia. Linguagem • A linguagem é uma atividade especificamente humana, é o principal instrumento de comunicação do seres humanos, fundamental na elaboração e na expressão do pensamento; • Funções da linguagem: comunicativa (socialização), suporte do pensamento (pensamento lógico e abstrato), instrumento de expressão dos estado emocionais, afirmação do eu e de instituição das oposições eu/mundo e dimensão artística e/ou lúdica (poesia, literatura); Alterações da linguagem Processos Psicopatológicos e Contemporaneidade 18 • Alterações secundarias a lesão neuronal: o Ocorrem geralmente associadas a acidentes vasculares cerebrais, tumores cerebrais, malformações arteriovenosas, etc, há alterações neuronais evidentes; o Afasia: perda da linguagem falada e escrita por incapacidade de compreender e utilizar os símbolos verbais; dificuldade orgânica da linguagem; o Parafasia: forma mais discreta de déficit de linguagem; o Disfonia: alteração da fala produzida pela alteração da sonoridade das palavras; não consegue emitir som ou palavra; o Gagueira: dificuldade ou impossibilidade de pronunciar certas sílabas, no começo ou ao longo de uma frase, com repetição ou intercalação de fonemas ou trepidação na elocução; o Dislalia: alteração da linguagem falada que resulta na deformação, omissão ou substituição dos fonemas. • Alterações associadas aos transtornos psiquiátricos: o Logorréia e taquifasia: produção aumentada e acelerada da linguagem verbal; o Bradifasia: fala muito vagarosa, lenta e difícil; o Mutismo: ausência de resposta verbal; negativismo verbal; o Perseveração e estereotipia verbal: repetição automática de palavras outrechos de frases de modo estereotipado, mecânico, sem sentido; o Ecolalia: repetição da última ou últimas palavras que o entrevistador falou; automático, involuntário; o Palilalia e logoclonia: repetição da última ou últimas palavras que o próprio paciente falou; o Tiques verbais ou fonéticos: produções de fonemas ou palavras de forma recorrente, imprópria e irresistível; sons grutais; desagradável; o Coprolalia: emissão involuntária e repetitiva de palavras obscenas, vulgares ou relativas a excrementos; o Verbigeração: repetição de forma monótona e sem sentido comunicativo aparente de palavras, sílabas ou trechos de frases; o Glossolalia: produção de fala gutural, pouco compreensível, conglomerado ininteligível de sons; o Para-respostas: alteração do pensamento e da linguagem “onde o sr. mora?” “o dia está muito quente”. Afetividade • A vida afetiva é a dimensão que dá cor, brilho, calor a todas as vivências humanas; o termo afetividade compreende várias modalidades de vivências afetivas como o humor, as emoções e os sentimentos; • 5 tipos básicos: humor e estado de ânimo, emoções, sentimentos, afetos e paixões; o Humor ou estado de ânimo: definido como o tônus afetivo, o estado emocional basal no qual se encontra a pessoa no momento; o humor é um dos transtornos essenciais da vida psíquica; o Emoções: reações afetivas agudas, momentâneas, desencadeadas por estímulos significativos; estado afetivo intenso, de curta duração, originado como uma reação da pessoa a certas excitações internas ou externas, conscientes ou inconscientes; acompanha reações somáticas; o Sentimentos: estados e configurações afetivas estáveis; são mais atenuados Processos Psicopatológicos e Contemporaneidade 19 do que as emoções e menos reativos a estímulos passageiros; associados a conteúdos intelectuais, valores, representações e não somáticos; varia de cultura para cultura; o Afetos: qualidade e tônus emocional que acompanha uma ideia ou representação mental; pode-se usar a palavra afeto para designar qualquer estado de humor, sentimento ou emoção; o Paixão: estado afetivo intenso, domina a atividade psíquica como um todo, alterando a atenção e o interesse. Vida afetiva • A vida afetiva ocorre nas relações do eu com o mundo e com o outro; • Reativa; • Sintonização afetiva: capacidade do indivíduo ser influenciado afetivamente por estímulos externos; • Irradiação afetiva: capacidade do indivíduo transmitir, irradiar ou contaminar os outros com seu estado afetivo momentâneo; • Rigidez afetiva: dificuldade de sintonizar ou irradiar afetividade; Teorias e dimensões da afetividade • James-Lange: a base das emoções deveria ser encontrada na periferia do corpo, nas reações do sistemas nervosos autônomo periférico, a emoção é concebida como a tomada de consciência das modificações fisiológicas que são provocadas por determinados eventos; • Papez-Maclean: propõe uma base cerebral para emoções, as estruturas e o circuito cerebral das emoções incluiriam estruturas mesiais dos lobos temporais e frontais, propôs o sistema límbico das emoções; • Sistema límbico das emoções → sistema central na integração das emoções: o hipocampo é visto como um elemento fundamental na expressão psicofisiológica das emoções, e a córtex cerebral a instância que codifica, descodifica e recodifica constantemente as experiências afetivas, atribuindo-lhes significados; • Amígdala: senso percepção das emoções, porção medial do lobo frontal; lobo parietal direito, alteração do humor. Alterações da afetividade • Distimia: alteração básica do humor; inibição ou exaltação; inibição pode aparecer como hipotímica ou depressão e a exaltação como hipertímica ou eufórica; • Humor triste e ideação suicida: humor depressivo com ideias de morte; ideias suicidas, planos suicidas, atos e tentativas de suicídio; deve sempre ser valorizado em pacientes com humor triste; • Disforia: distimia com tonalidade afetiva desagradável, mal- humorada; forte componente de irritação, amargura, desgosto e agressividade; • Euforia ou alegria patológica: humor exagerado, alegria intensa desproporcional a circunstâncias; • Puerilidade: aspecto infantil; vida afetiva superficial; • Estado de êxtase: experiência de beatitude, dissolução do eu no todo, compartilhamento íntimo do estado afetivo interior com o mundo exterior; contexto religioso ou místico; • Irritabilidade patológica: hiperatividade desagradável, hostil, agressiva; Ansiedade x angústia x medo • Ansiedade: estado de humor desconfortável, inquietação interna desagradável, pode ser somática, fisiológica e psíquica; Processos Psicopatológicos e Contemporaneidade 20 • Angústia: conotação mais corporal “aperto no peito”; • Medo: objeto preciso. Alterações da emoção e dos sentimentos • Apatia: diminuição da emoção e do afeto; ”tanto faz quanto tanto fez”; • Hipomodulação do afeto: incapacidade de modular a resposta afetiva de acordo com a situação existencial; • Inadequação do afeto ou paratimia: reação incongruente das situações; desarmonia da vida psíquica; • Pobreza de sentimentos e distanciamento afetivo: perda progressiva e patológica da vivência afetiva; empobrecimento; • Embotamento afetivo: perda profunda de todo tipo de vivência afetiva; atitude; • Sentimento de falta de sentimento: incapacidade para sentir; vazio afetivo; • Anedonia: incapacidade total ou parcial de obter e sentir prazer com determinadas atividades e experiências da vida; • Labilidade afetiva: mudanças súbitas e imotivadas do humor, sentimentos e emoção; oscila de forma abrupta, rápida e inesperada; • Ambivalência afetiva: sentimentos opostos em relação a um mesmo estímulo ou objeto, sentimentos que ocorrem de modo simultâneo; • Neotimia: sentimentos e experiências afetivas inteiramente novas vivenciadas por pacientes em estado psicótico; estranheza, bizarrice; • Medo: estado progressivo de insegurança, angústia, impotência e invalidez ante a impressão de que algo vai acontecer; prudência, cautela, alarme, ansiedade, pânico, terror; • Fobias: medo patológico; desproporcional e incompatível com a real possibilidade de perigo real; • Pânico: reação intensa de medo relacionada ao perigo imaginário de morte iminente, descontrole ou desintegração; crises de pânico – crises agudas e intensas de ansiedade acompanhada de medo intenso de morrer ou de perder o controle; início abrupto, sensação de grande perigo e desejo de fugir acompanhadas de sintomas somáticos tais como taquicardia, sudorese fria, tremores, formigamentos, falta de ar, dor ou desconforto no peito, náusea; duram alguns minutos e tendem a se repetir com periodicidade variável; podem ou não ocorrer após a exposição desencadeante. • Ciúmes: fenômeno emocional que gera a sensação ou certeza de que a pessoa amada gosta mais de outra pessoa e poderá abandoná-la; depende da intensidade para ser considerado patológico; • Inveja: sensação de desconforto, raiva e angústia perante a constatação que oura pessoa possui algo que o indivíduo gostaria de ter, mas não tem; fonte de sofrimento; intensidade. Vontade, instinto e desejo • Vontade: desejo inconsciente ou consciente, relacionada a afetividade, ao intelecto e a valores morais e culturais. • Instinto: modo organizado, fixo e complexo de resposta comportamental de uma dada espécie, que por intermédio dela, pode melhor sobreviver em seu ambiente natural, conjunto de respostas e comportamentos herdados que serve para a adaptação. • Desejo: é um querer, anseio, apetite de consciente ou inconsciente, que visaalgo, que busca satisfação, desejos são móveis, moldados e transformados de maneira sócio-histórica; é diferente da necessidade (fixa e inata). Processos Psicopatológicos e Contemporaneidade 21 Ato volitivo ou ato de vontade • Eu quero x eu não quero; • Processo volitivo: intenção ou propósito, deliberação, decisão e execução; • Intenção: tendências básicas do indivíduo, inclinações e interesses, os impulsos e desejos inconscientes exercem influência sobre o ato volitivo; • Deliberação: ponderação consciente antes da decisão; • Decisão: começo da ação; • Execução: atos psicomotores decorrentes da decisão, realizar e consumar a decisão. Alterações da volição • Hipobulia: diminuição da atividade volitiva, não tem vontade para nada, desanimado; • Ataraxia: indiferença volitiva buscada ativamente pelo indivíduo. • Negativismo: é a oposição do indivíduo às solicitações do meio, resistência, negação na colaboração das condutas diagnósticas e terapêuticas, ativo ou passivo; • Obediência automática: oposto do negativismo, obedece automaticamente como um robô; • Fenômenos do eco: repetição de forma automática de palavras, gestos ou escrita, perda do controle da atividade voluntária; • Automatismo: pensamentos, representações, lembranças e comportamentos pouco controlados pela atenção voluntária e pelos desejos conscientes; • Atos impulsivos: são atos que abolem abruptamente as fases de intenção, deliberação e decisão em função tanto da intensidade dos desejos como da fragilidade psíquica que não reflete ou analisa, parte direto para execução; o Ato impulsivo caracteriza-se por ser realizado sem uma fase prévia de intenção, deliberação e decisão, ser realizado, de modo geral, de forma egossintônica (não percebe a inadequação), ser geralmente associado a impulsos patológicos ou a baixa tolerância à frustração; o O indivíduo dominado pelo ato impulsivo desconsidera os desejos e necessidades dos outros. • Impulsos patológicos: atos impulsivos nos quais predominam as ações psicomotoras automáticas, sem reflexão, ponderação ou decisão prévia; incontroláveis; • Ato compulsivo ou compulsão: difere do ato impulsivo por ser reconhecido pelo indivíduo como indesejável e inadequado, é geralmente uma ação motora complexa; • Obsessão: ideia obsessiva. Tipos de impulsos e compulsões patológicas • Heterodestrutivas: automutilação, frangofilia (destruição de objetos), piromania, impulso ou ato suicida (desejo de se matar); • Ingestão de drogas ou alimentos: dipsomania(ingestão de grandes quantidade de álcool), bulimia, potomania (beber água não relacionada a patologias orgânicas); • Desejo e comportamento sexual: antiga perversão sexual: fetichismo (concentração em partes ou vestimenta), exibicionismo, voyeurismo, pedofilia, pederastia, gerontofilia, zoofilia, necrofilia, coprofilia, ninfomania, satiríase, compulsão à masturbação, compulsão utilizar roupas íntimas do sexo oposto; • Outros: poriomania (ganhar o mundo), cleptomania, compulsar a comprar. • Todo movimento humano objetiva satisfação de uma necessidade consciente ou inconsciente; • A psicomotricidade é observada no decorrer da entrevista e se Processos Psicopatológicos e Contemporaneidade 22 evidencia geralmente de forma espontânea; • Averígua-se se está normal, diminuída, inibida, agitada, exaltada, se o paciente apresenta maneirismos, estereotipais posturais, automatismos, flexibilidade cérea ou qualquer outra alteração. Alterações da psicomotricidade • Agitação psicomotora: aceleração e exaltação de toda atividade motora; • Lentificação psicomotora: lentificação de toda atividade psíquica, lenta, difícil, pesada; • Estorpor: perda de toda atividade espontânea na vigência de um nível de consciência aparentemente preservado e da capacidade sensitivo-motora para reagir ao ambiente, inclui comunicação verbal e não-verbal, mímica, olhar, gesticulação e marcha; • Esteriotipias motoras: repetições automáticas e uniformes de determinado ato motor complexo, repete mecanicamente o mesmo gesto diversas vezes; • Maneirismos: estereotipia de movimentos bizarros e repetitivos; • Tiques: atos coordenados, repetitivos, resultantes de contrações súbitas, breves e intermitentes, acentuam-se com ansiedade, frequência maior em crianças. Espectro da esquizofrenia e outros transtornos psicóticos • Inclui esquizofrenia, outros transtornos psicóticos e transtorno (da personalidade) esquizotípica • Esses transtornos são definidos por anormalidades em um ou mais dos cinco domínios a seguir: o delírios, o alucinações, o pensamento (discurso) desorganizado, o comportamento motor grosseiramente desorganizado ou anormal (incluindo catatonia) o sintomas negativos. Características essenciais que definem os Transtornos Psicóticos • Os problemas podem ser observados em qualquer forma de comportamento dirigido a um objetivo, levando a dificuldades na realização das atividades cotidianas; • Delírios: são crenças fixas, não passíveis de mudança à luz de evidências conflitantes. Seu conteúdo pode incluir uma variedade de temas (p. ex., persecutório, de referência, somático, religioso, de grandeza); • Alucinações: são experiências semelhantes à percepção que ocorrem sem um estímulo externo. São vívidas e claras, com toda a força e o impacto das percepções normais, não estando sob controle voluntário; • Desorganização do pensamento (transtorno do pensamento formal): costuma ser inferida a partir do discurso do indivíduo. Este pode mudar de um tópico a outro (descarrilamento ou afrouxamento das associações). As respostas a perguntas podem ter uma relação oblíqua ou não ter relação alguma (tangencialidade); • Comportamento motor grosseiramente desorganizado ou anormal: pode se manifestar de várias formas, desde o comportamento “tolo e pueril” até a agitação imprevisível; • Comportamento catatônico: é uma redução acentuada na reatividade ao ambiente. Varia da resistência a instruções (negativismo), passando por manutenção de postura rígida, inapropriada ou bizarra, até a falta total de respostas verbais e motoras (mutismo e estupor); • Sintomas negativos: respondem por uma porção substancial da Processos Psicopatológicos e Contemporaneidade 23 morbidade associada à esquizofrenia, embora sejam menos proeminentes em outros transtornos psicóticos. o Dois sintomas negativos são especialmente proeminentes na esquizofrenia: expressão emocional diminuída e avolia. ▪ Expressão emocional diminuída: inclui reduções na expressão de emoções pelo rosto, no contato visual, na entonação da fala (prosódia) e nos movimentos das mãos, da cabeça e da face, os quais normalmente conferem ênfase emocional ao discurso. ▪ Avolia: é uma redução em atividades motivadas, autoiniciadas e com uma finalidade. A pessoa pode ficar sentada por períodos longos e mostrar pouco interesse em participar de atividades profissionais ou sociais. Critério de diagnóstico A. Dois (ou mais) dos itens a seguir, cada um presente por uma quantidade significativa de tempo durante um período de um mês (ou menos, se tratados com sucesso). Pelo menos um deles deve ser (1), (2) ou (3): 1. Delírios; 2. Alucinações; 3. Discurso desorganizado; 4. Comportamento grosseiramente desorganizado ou catatônico; 5. Sintomas negativos (i.e., expressão emocional diminuída ou avolia). B. Por período significativo desde o aparecimento da perturbação, o nível de funcionamento em uma ou mais áreas importantes do funcionamento, como trabalho, relações interpessoais ou autocuidado, está acentuadamente abaixodo nível alcançado antes do início (ou, quando o início se dá na infância ou na adolescência, incapacidade de atingir o nível esperado de funcionamento interpessoal, acadêmico ou profissional). C. Sinais contínuos de perturbação persistem durante, pelo menos, seis meses. Esse período de seis meses deve incluir no mínimo um mês de sintomas (ou menos, se tratados com sucesso) que precisam satisfazer ao Critério A (i.e., sintomas da fase ativa) e pode incluir períodos de sintomas prodrômicos ou residuais. Durante esses períodos prodrômicos ou residuais, os sinais da perturbação podem ser manifestados apenas por sintomas negativos ou por dois ou mais sintomas listados no Critério A presentes em uma forma atenuada (p. ex., crenças esquisitas, experiências perceptivas incomuns). D. Transtorno esquizoafetivo e transtorno depressivo ou transtorno bipolar com características psicóticas são descartados porque 1) não ocorreram episódios depressivos maiores ou maníacos concomitantemente com os sintomas da fase ativa, ou 2) se episódios de humor ocorreram durante os sintomas da fase ativa, sua duração total foi breve em relação aos períodos ativo e residual da doença. E. A perturbação pode ser atribuída aos efeitos fisiológicos de uma substância (p. ex., droga de abuso, medicamento) ou a outra condição médica. F. Se há história de transtorno do espectro autista ou de um transtorno da comunicação iniciado na infância, o diagnóstico adicional de esquizofrenia é realizado somente se delírios ou alucinações proeminentes, além dos demais sintomas exigidos de esquizofrenia, estão também Processos Psicopatológicos e Contemporaneidade 24 presentes por pelo menos um mês (ou menos, se tratados com sucesso). Características diagnósticas • Os especificadores de curso a seguir devem somente ser usados após um ano de duração do transtorno e se não estiverem em contradição com os critérios de curso diagnóstico; • Os sintomas característicos da esquizofrenia envolvem uma gama de disfunções cognitivas, comportamentais e emocionais; • O diagnóstico envolve o reconhecimento de um conjunto de sinais e sintomas associados a um funcionamento profissional ou social prejudicado; • Indivíduos com o transtorno apresentarão variações substanciais na maior parte das características; • Pelo menos dois sintomas do Critério A devem estar presentes durante parte significativa do tempo em um mês ou mais; • Pelo menos um desses sintomas deve ser a presença clara de delírios (Critério A1), alucinações (Critério A2) ou discurso desorganizado (Critério A3); • Comportamento grosseiramente desorganizado ou catatônico (Critério A4) e sintomas negativos (Critério A5) podem também estar presentes; • Nas situações em que ocorre remissão dos sintomas da fase ativa em um mês em resposta ao tratamento, o Critério A ainda é satisfeito se o médico avalia que eles teriam persistido na ausência de tratamento; • A esquizofrenia envolve prejuízo em uma ou mais das principais áreas do funcionamento (Critério B); • Se a perturbação iniciar na infância ou na adolescência, o nível esperado de funcionamento não é alcançado; • A comparação do indivíduo com os irmãos não afetados pode ajudar; • A disfunção persiste por período substancial durante o curso do transtorno e não parece ser um resultado direto de uma única característica; • A avolia (i.e., disposição reduzida para manter comportamento voltado a metas; Critério A5) está ligada à disfunção social descrita no Critério B; • Há também fortes evidências de relação entre prejuízo cognitivo (ver a seção “Características Associadas que Apoiam o Diagnóstico” para esse transtorno) e prejuízo funcional em indivíduos com esquizofrenia; • Alguns sinais da perturbação devem persistir por um período contínuo de pelo menos seis meses (Critério C); • Sintomas prodrômicos costumam anteceder a fase ativa, e os sintomas residuais podem segui-la, caracterizados por formas leves ou em níveis subclínicos de alucinações ou delírios; • Os indivíduos podem manifestar uma variedade de crenças incomuns ou estranhas que não sejam de proporções delirantes (p. ex., ideias de referência ou pensamento mágico); • Podem ter experiências perceptivas raras (p. ex., sentir a presença de uma pessoa invisível); • Seu discurso pode ser, em geral, compreensível, porém vago; seu comportamento pode ser incomum, mas não grosseiramente desorganizado (p. ex., murmurar em público); • Sintomas negativos são comuns nas fases prodrômica e residual, podendo ser graves; • Indivíduos que eram socialmente ativos podem ficar retraídos em relação a rotinas anteriores. Esses comportamentos são frequentemente o primeiro sinal de um transtorno; • Sintomas de humor e episódios completos de humor são comuns na esquizofrenia e podem ocorrer concomitantemente com a sintomatologia da fase ativa; Processos Psicopatológicos e Contemporaneidade 25 • Porém, como diferença do transtorno do humor psicótico, um diagnóstico de esquizofrenia exige a presença de delírios ou alucinações na ausência de episódios de humor; • Além disso, episódios de humor, tomados em sua totalidade, devem estar presentes por somente uma parte mínima da duração total do período ativo e residual da doença; • Além das cinco áreas de domínio dos sintomas identificadas nos critérios diagnósticos, a avaliação dos sintomas dos domínios cognição, depressão e mania é crucial para que sejam feitas distinções importantes entre os vários transtornos do espectro da esquizofrenia e outros transtornos psicóticos. Características associadas que apoiam o diagnóstico • Indivíduos com esquizofrenia podem exibir afeto inadequado (p. Ex., rir na ausência de um estímulo apropriado); • Humor disfórico que pode assumir a forma de depressão, ansiedade ou raiva; padrão de sono perturbado (p. Ex., sono durante o dia e atividade durante a noite); • Falta de interesse em alimentar-se ou recusa da comida; • Despersonalização, desrealização e preocupações somáticas podem ocorrer e por vezes atingem proporções delirantes. Ansiedade e fobias são comuns; • Déficits cognitivos na esquizofrenia são comuns e fortemente associados a prejuízos profissionais e funcionais. Esses déficits podem incluir diminuições na memória declarativa, na memória de trabalho, na função da linguagem e em outras funções executivas, bem como velocidade de processamento mais lenta; • Anormalidades no processamento sensorial e na capacidade inibitória, bem como redução na atenção, são também encontradas; • Alguns indivíduos com esquizofrenia mostram déficits na cognição social, incluindo déficits na capacidade de inferir as intenções dos outros (teoria da mente), podendo atender a eventos ou estímulos irrelevantes e depois interpretá-los como significativos, talvez levando à geração de delírios explanatórios; • Esses prejuízos costumam persistir durante a remissão dos sintomas. Alguns indivíduos com psicose podem carecer de insight ou consciência de seu transtorno (i.e., anosognosia); • Essa falta de insight inclui não perceber os sintomas de esquizofrenia, podendo estar presente em todo o curso da doença; • Não perceber a doença costuma ser um sintoma da própria esquizofrenia em vez de uma estratégia de enfrentamento; • Esse sintoma é o mais comum preditor de não adesão ao tratamento e prevê elevadas taxas de recaída, aumento no número de tratamentos involuntários, funcionamento psicossocial mais pobre, agressão e um curso mais pobre da doença; • Hostilidade e agressão podem estar associadas a esquizofrenia, embora agressão espontânea ou
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