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Luiza Marinho Motta – 2021 Toxoplasmose REINO Protozoa FILO Apicomplexa ORDEM Eucoccidida FAMÍLIA Sarcocystidae GÊNERO Toxoplasma ESPÉCIE: Taxoplasma gondii (Agente etiológico). Filo: complexo apical (estruturas como conoide, roptrias, micronemas), dentro delas proteínas importantes para invasão do hospedeiro. Toxon = arco; forma curva de “banana”. Conquista SUS 2020: incluída no Teste do Pezinho pelo Ministério da Saúde, diagnóstico precoce evita problemas de visão e audição. Aspectos epidemiológicos Doença (parasitária negligenciada) de distribuição mundial, importante zoonose. o Prevalência de 30 a 50% da população mundial (> 60% Brasil). Grupos de risco → fetos, grávidas, transplantados, HIV+ (deficiência na resposta imune). Fatores socioeconômicos associados, tratamento não muito barato. Modos de infecção o Alimentos e bebidas contaminados com oocistos; o Carne crua contendo cistos; o Transplacentária (congênita)*; o Transplante de órgãos. *Uma das formas mais graves. Algumas literaturas falam sobre aspiração de oocistos em suspensão, parques com grande quantidade de gatos. Hospedeiros intermediários: mamíferos e aves (reservatórios naturais). Hospedeiros definitivos: felinos; gatos em maior proximidade com ser humano. Formas de vida Taquizoíto o Forma infectante, proliferação rápida. Principalmente na fase aguda da doença, dentro de células (vacúolo parasitóforo – parasito intracelular obrigatório) e, por vezes, livre no sangue – apenas enquanto migra para invadir outra célula. Semelhante a pequeno arco. Multiplicação: Endodiogenia → duplicação das organelas e divisão em parasitos diferentes. Bradizoítos o Forma infectante, encontrados dentro do VP de células. Multiplicação lenta, comum na fase crônica (durante anos). Presente no cérebro, retina, músculos. Cisto → conjunto de bradizoítos. Ex. presente no endométrio, crescimento durante a gravidez e possível rompimento; reativação da fase aguda da doença. Oocistos o Forma infectante, de resistência. o 12 a 18 meses no ambiente. Contém 2 esporocistos e 4 esporozoítos (liberado nas fezes dos felinos, esporula – dentro dos esporocistos há 4 esporozoítos). Luiza Marinho Motta – 2021 Existem outras, presentes nos gatos em menor importância para estudo. Complexo apical o Composto por várias estruturas: conoide, anel polar, microtúbulos subpeliculares (remodelamento do parasito para adesão e penetração na célula hospedeira), micronemas* (reconhecimento e adesão) e roptrias (penetração), GD (remodelação do vacúolo). *Possuem proteínas dentro delas, liberadas no momento da invasão. Responsáveis por reconhecem célula que será invadida e fazerem adesão. Roptrias atuam na invasão. Gato: merozoítos (forma de multiplicação no intestino do gato), gameta masculino (sofre exflagelação – ciclo sexuado no intestino). Oocisto não esporulado nas fezes. Ciclo biológico o Heteroxênico. Iniciado com felinos não imunes, comumente jovens uma vez que + velhos apresentam resposta imune contra o parasito (não desenvolvem nem eliminam oocistos). Ocorre ciclo completo – sexuado e assexuado. Milhões de oocistos em primo-infecção, por 2 semanas (após há redução ou interrupção). → Iniciado com ingestão do cisto contendo bradizoítos (carne), taquizoíto na transfusão sanguínea ou forma transplacentária, alimentos contaminados com oocistos esporulados. → Parasito atinge intestino (bradizoíto e oocisto mais resistentes; taquizoíto possivelmente não resiste ao ácido estomacal). Exceto contaminação, por exemplo, por penetração direta na mucosa oral. → Lá transformam-se em taquizoítos, conseguem invadir mucosa e alcançam corrente sanguínea. Espalham-se pelo organismo em busca de célula para invasão e multiplicação. Formam novas células continuando o ciclo. Humanos NÃO eliminam parasitos nas fezes! Ao alcançar tecido onde consigam se multiplicar, transformam-se em bradizoítos e configuram forma crônica (aguda enquanto há circulação de taquizoítos). Formação de cistos. Normalmente já são eliminados enquanto circulam pela corrente sanguínea ou linfática. Hospedeiro definitivo (gato): roedores se alimentam de oocistos esporulados, tem cistos teciduais. Gatos se contaminam pela alimentação deles. No intestino bradizoítos se transformam em taquizoítos, invadem células epiteliais da mucosa. Formam merozoítos (esquizontes semelhantes à Malária) e células se rompem. Ao invadir outras há formação das formas sexuais (microgametas M e macro F). Micro sofre exflagelação e fecunda feminino, formando oocisto. Não esporulado cai no ambiente, sofre esporulação e continua ciclo → formam 2 esporocistos contendo 4 esporozoítos em cada um. Formas clínicas Ampla variedade; severidade associada a linhagens do parasito e fatores do hospedeiro. Tipo I o Maior virulência e motilidade; o Habilidade para cruzar barreiras celulares e rápida disseminação; o Alta mortalidade. Luiza Marinho Motta – 2021 Tipo II e Tipo III Virulência intermediária e baixa. Estimulam alta resposta pró-inflamatória (sistema imune), reduzindo disseminação e alterações patológicas. Parasito eliminado antes de encontrar célula para invadir. o No Brasil há uma variabilidade no nº de linhagens, o que se relaciona a maior gravidade da infecção (não se sabe qual ou quais). Assintomática → 80 a 90% dos pacientes; eliminado durante a circulação sem completar o ciclo. Sintomática → geralmente de 5 a 23 dias após a exposição, relacionado a imunodeficiência. Imunocompetentes o Forma não tão grave: Linfadenopatia cervical discreta, febre, mal-estar, sudorese noturna, mialgias, dor de garganta, retinocoroidite (inflamação na retina ou coroide – visualização de brilhos). Imunodeficientes o Toxoplasma do SNC (50%) – convulsões, desequilíbrio, alterações de nervos cranianos, status mental alterado, déficits neurológicos focais, dores de cabeça. o Encefalite, meningoencefalite, massas cerebrais; hemiparesia e convulsões; alterações visuais. o Sinais e sintomas de imunocompetentes ~ gripe e linfadenopatia. o Miocardite e pneumonia. AIDS Toxoplasmose cerebral – encefalite com ou sem lesões focais (59 a 89% dos casos). o Status mental alterado, letargia, fraqueza, convulsões; o Alterações sensoriais, distúrbio de nervos cranianos, sinais de alterações cerebelares; o Meningismo, desordens de movimento; o Manifestações neuropsiquiátricas; o Hemorragia cerebral, coma e morte. Toxoplasmose congênita Forma extremamente grave, especialmente em gestantes em fase aguda (primoinfectadas) ou reativação da infecção. 15 a 55% das crianças ao nascimento e 1ª infância, sem detecção de IgM anti-toxoplasma (tetramérico, não ultrapassa barreira placentária). o 67% dos pacientes assintomáticos (importância do pré-natal). Febre, anemia, trombocitopenia, icterícia, hepatoesplenomegalia, linfadenopatia, microcefalia, deficiência intelectual, convulsões, alterações visuais, espasticidade, perda auditiva (28% em não tratados). o Gravidade da doença é inversamente proporcional ao tempo de gestação. 3º trimestre a troca através do cordão é mais bem estabelecida (25% → 40% → 65%). Tétrade de Sabin o Coriorretinite 90% o Calcificações cerebrais 69% o Comprometimento neurológico 60% o Alterações no volume craniano 50%Luiza Marinho Motta – 2021 Lesões fetais conforme período de gestação 1º - aborto. 2º - aborto ou nascimento prematuro com (ou sem) anomalias graves. 3º - nascimento normal com evidências da doença dias, semanas ou meses após nascimento; Comprometimento ganglionar generalizado, edema, hepatoesplenomegalia, miocardite, anemia, trombocitopenia, lesões oculares com inflamação e degeneração (foco em roseta). o Problemas na neurogênese e miogênese. Foco em roseta Toxoplasmose ocular o Retinocoroidite comum, 30 a 60% relacionados ao T. gondii. Taquizoítos na fase aguda causam lesões na retina e coroide. Patogênese Ingestão dos cistos, bradizoítos passam pelo estômago, parede cística é degradada. Interagem com células da mucosa intestinal, formam VP onde se multiplicam. Rompimento da célula, evasão e nova infecção. Mesmo mecanismo da malária com proteínas e receptores diferentes → reconhece célula, reoriente, coloca organelas apicais em contato com superfície da célula hospedeira, libera conteúdo (micronemas e roptrias), invadindo a célula. Reativação da infecção o Indivíduo migra para fase crônica, com cistos de bradizoítos. Por algum motivo (diminuição da resposta imune, estiramento do músculo e rompimento do cisto) há reativação e formação novamente de taquizoítos. Diagnóstico Clínico: suspeita da doença – difícil. Forma crônica pode ser assintomática e sintomatologia da aguda semelhante a outras doenças. Laboratorial: demonstração do parasito → parasitológico ou molecular (difícil, rapidamente sai da corrente sanguínea para tecidos). Inoculação em animal ou punção de medula. - Testes sorológicos ou imunológicos. Triagem sorológica IgM e IgG – início no 1º, repetidos a cada trimestre. o IgM negativo e IgG positivo – repetir se imunossuprimida. o Ambos positivos – Teste de Avidez (quanto maior + específico, tempo para montar resposta > 3meses). - RIFI ou ELISA com intervalos de 2 a 3 semanas. Gestantes: aumento do título de 4 vezes → toxoplasmose ativa. Diagnóstico Fetal Mãe com sorologia + faz ultrassonografia para detecção de alterações. Amniocentese* para identificar taquizoítos do líquido amniótico, PCR em tempo real (DNA do toxoplasma). o Risco de perda fetal se < 16 semanas. Realizada entre 17-21. Luiza Marinho Motta – 2021 Tratamento Não existe tratamento eficaz na fase crônica! Medicamentos atuam sobre taquizoítos, não cistos! Recomendado em: fase aguda, toxoplasmose ocular ativa, imunossuprimidos com toxoplasmose sintomática, gestantes em fase aguda. Associação de pirimetamina com sulfadiazina ou sulfadozina (sinergismo 8x mais eficaz) + ácido folínico (pirimetamina é mielotóxica). o Duração de 2 a 4 semanas. Toxoplasmose ocular → utilizado também corticoide como prednisona (Meticorten) para reduzir reações de hipersensibilidade. o Pirimetamina não recomendada para gestantes por ser teratogênica (1º trimestre – formação dos tecidos fetais). Substituição por espiramicina (1g 8/8h). Utilizar sempre antifólico com Pirimetamina pois influencia produção e proliferação de células da medula, acompanhamento por hemograma. Azitromicina e clindamicina; bons resultados e menos efeitos colaterais. Utilizada em indivíduos que não toleram tratamento de 1ª escolha (em geral imunodeficientes por conta de efeitos colaterais). 1ª escolha: Sulfadiazina + Pirimetamina Efeitos colaterais com 25% de descontinuação do tratamento. Interrupção em 60% entre HIV+. Rash cutâneo, febre, mal-estar e depressão da MO. Gestante ❖ 1º trimestre Feto (-): Espiramicina até o final da gestação; Feto (+): Intercalar Espiramicina + sulfadiazina. o 2º ou 3º trimestre Pirimetamina + sulfadiazina + ácido folínico. Tratamento RN Pirimetamina + sulfadiazina + ácido folínico até 1º ano. Corticosteroides (Prednisona) em caso de acometimento grave do SNC e coriorretinite. RN e crianças com pirimetamina → hemograma 1x/semana + ácido folínico (assegurar produção correta e adequada das células da MO). Conduta RN com mãe infectada: Exame clínico minucioso, neurológico e de imagem cerebral (TC), oftalmológico completo com fundoscopia; punção lombar (recomendado, escolha dos pais); exames hematológicos e da função hepática. Monitoramento sorológico e clínico até 1 ano (sequelas tardias frequentes). o RN+ acompanhar até idade escolar! Profilaxia o Água filtrada, higiene dos alimentos, não de alimentar de carne crua ou mal-passada, leite cru; o Controle da população de gatos de rua, cuidado com os domésticos, descarte da areia utilizada e proteção de caixas de areia em escolas (evitar manipulação por grávidas); o Acompanhamento pré-natal da gestante → tratamento em fase aguda; o Vacinas em teste.
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