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FACULDADE BAIANA DE DIREITO SOCIOLOGIA JURÍDICA – CLÁUDIA ALBAGLI QUESTÃO 1 Em 2002 aconteceu uma rebelião na Penitenciária Urso Branco, em Rondônia, que foi considerada uma demonstração das péssimas condições carcerárias do Brasil. Em apenas um dado, onde eram para estar 300 detentos, estavam mais de mil! Após ler a reportagem abaixo, responda com base no texto de Luiz Cláudio Lourenço sobre os sete erros das prisões. https://g1.globo.com/ro/rondonia/noticia/2022/01/01/chacina-no-urso-branco-maior- tragedia-carceraria-de-rondonia-completa-20-anos.ghtml a) De acordo com a reportagem, é possível relacionar com alguma das questões apontadas por Luiz Cláudio Lourenço? Quais e por quê? b) Qual a crítica do Autor à ideia da existência de um sistema prisional no Brasil? QUESTÃO 2 Ao longo do semestre um dos pontos estudados por nós é sobre a origem das desigualdades existentes em nosso país. Além de estudarmos sobre a formação social, também vimos sobre os sentidos de permanência existentes quanto a modos, práticas e relações na sociedade brasileira. Tudo isso subsidiado pelos textos da Thereza Salles (Raízes da desigualdade na cultura política brasileira) e a obra de Sérgio Buarque de Hollanda, Raízes do Brasil, em dois capítulos - Homem Cordial e Herança rural. Com base nesses conhecimentos, solicitamos que os estudantes identifiquem em sites da mídia de grande circulação, notícias que revelem na nossa realidade social fatos compatíveis com as questões estudadas no semestre. Dessa maneira, o aluno ou a dupla, deverão: https://g1.globo.com/ro/rondonia/noticia/2022/01/01/chacina-no-urso-branco-maior-tragedia-carceraria-de-rondonia-completa-20-anos.ghtml https://g1.globo.com/ro/rondonia/noticia/2022/01/01/chacina-no-urso-branco-maior-tragedia-carceraria-de-rondonia-completa-20-anos.ghtml a) trazer duas notícias de jornais/sites da grande mídia com breve descrição do que se trata, além do link para a leitura completa; b) identificar e relacionar pelo menos dois conceitos distintos das obras indicadas à leitura com as notícias indicadas; c) explicar em que identifica a notícia com os conceitos trabalhados pelos autores anteriormente apontados. ATENÇÃO! Os alunos deverão necessariamente explicar o conceito e como relacionaram com o fato noticiado. (5.0 pontos – máximo 1 lauda) QUESTÃO 3 Com base nas discussões realizadas em aula e o texto do livro Redes de indignação e esperança (A transformação do mundo na sociedade em rede), apresente um Movimento Social presente na atualidade que têm expressividade nas redes sociais. É essencial que na resposta conste a necessidade do espaço virtual para expansão do movimento escolhido, pontuando criticamente os frutos para o “mundo real” e relação com os pontos trazidos por Manuel Castells ao longo do capítulo indicado. Sugere-se que os alunos façam primeiro a leitura do texto porque é importante entender o que o autor caracteriza como condições dos movimentos na contemporaneidade. FACULDADE BAIANA DE DIREITO E GESTÃO CURSO DE GRADUAÇÃO EM DIREITO BRUNA OLIVEIRA E SOFIA DIDIER 2° AVALIAÇÃO DE INTRODUÇÃO À SOCIOLOGIA JURÍDICA NOTA: 9,0 Salvador 2022 QUESTÃO 1 A) A chacina do presídio Urso Branco foi a maior tragédia carcerária de Rondônia, e foi provocada pela rebelião dos presos da área comum contra os presos do “seguro” em um momento em que todos estavam juntos, se utilizando dos “chuchus”, armas artesanais, para matar e torturar seus companheiros. Na reportagem, é possível identificar diversos dos erros apontados por Luiz Cláudio Lourenço em seu texto “O jogo dos sete erros nas prisões do Brasil”. É possível associar o acontecimento com o 3° erro, pois, na reportagem, é possível perceber a falta de gestão que havia nessas prisões, gestão essa que passou a ser das facções formadas ali dentro, e por isso os presos conseguiram tomar o poder, fazendo com que a rebelião acontecesse. Esse fato fica evidente no trecho: “os líderes de organizações criminosas ditavam as regras no presídio, impondo quem deveria ser morto”. Ou seja, a falta do controle unilateral do estado é o que permite que os grupos e facções criminosas cresçam e se fortaleçam bem como se estabeleçam no poder. O chamado “seguro” causou tanta revolta para os presos da área comum justamente pelo erro número 4, no qual o autor identifica a falta de punição pior para presos que cometeram os piores crimes, fazendo com que os que se comportassem melhor recebessem tratamento privilegiado, indo assim para o “seguro”. Isso ocorre pelo fato de a severidade da pena ser “ajustada” segundo o perfil social do interno, como bem pontua Luiz, sendo essa uma grande fonte de revolta dos presos. Outro erro que pode ser relacionado com a reportagem é o erro de número 5, que trata da superlotação dos presídios, um estopim para esse massacre. Isso ocorreu pois os presos estavam em condições desumanas, visto que um presídio construído para 300 presos estava abrigando 1300. Esse fato atrelado à falta de agentes penitenciários para o controle dos presos possibilitou o massacre. B) O sétimo erro do sistema prisional, na visão de Luiz, é a falta de homogeneidade nos procedimentos de administração e protocolos de segurança, bem como a falta de sistematização dos níveis de informação, e por isso ele conclui que não existe apenas um sistema prisional, levando em consideração que cada prisão possui seus próprios protocolos e procedimentos, e Luiz evidencia isso na passagem “Cada prisão muito mais agenciada e administrada por iniciativas de seus diretores e corpo dirigente do que de diretrizes e procedimentos padronizados”. Na falta de harmonia da divisão de responsabilidades, do que compete à união e do que compete aos estados, nasce a multiplicidade dos sistemas prisionais, ou então o que poderia ser o conglomerado de prisões, visto que para ser considerado um sistema esse deveria ser harmônico, e Luiz evidencia isso quando diz que “Chamar hoje de sistema o conjunto de prisões nos diferentes estados da federação é no mínimo um equívoco" QUESTÃO 2 https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2019/07/17/indicacao-de-eduardo-bolsonaro-para- embaixada-nos-eua-repercute-no-senado No dia 16 de julho de 2019, o presidente Jair Bolsonaro indicou o seu filho, Eduardo Bolsonaro, para ser o embaixador do Brasil em Washington (EUA), e essa notícia repercutiu de forma negativa e positiva no senado, tendo parte dele considerado a indicação como uma forma de nepotismo, enquanto a outra parcela acredita que ele "reúne as credenciais para ser embaixador”. O presidente havia conversado com Davi Alcolumbre, o Presidente do Senado, para saber qual seria a possível reação dos senadores à indicação e ele respondeu que seria uma indicação que deveria partir do presidente. É possível relacionar o acontecimento dessa notícia com o conceito de “Herança rural” que Sérgio Buarque de Holanda apresenta em seu livro "Raízes do Brasil", no capítulo 3. Esse conceito retrata a herança patriarcal no Brasil desde a época da monarquia e perdura na sociedade até a atualidade, visto que antes a política era monopolizada por fazendeiros escravocratas e pelos seus filhos, e hoje ela é monopolizada pelos donos das commodities e suas famílias, que por meio da corrupção, comandam a política brasileira. Os governantes na época da monarquia eram decididos por meio do vínculo biológico e interesses próprios, como apresentado na notícia. Outro conceito trazido por Sérgio é do “Homem Cordial”, no capítulo 5. Esse conceito retrata a pessoalidade, a importância dada para as relações íntimas e para o sentimento em detrimento das relações impessoais, racionais, baseadas na lei, nesse caso na política brasileira. É possível entender essa conexão pois Sérgio traz o pensamentode que o homem cordial tende à pessoalizar toda e qualquer interação social, ou seja, ao indicar o seu filho para o cargo de embaixador, Bolsonaro age pela emoção e não pela razão, pondo a ética e civilidade de lado, visto que Eduardo não apresenta a aprovação no CACD (Concurso de Admissão à Carreira de Diplomata) e esse é um dos principais requisitos para ser embaixador do Brasil, fazendo assim, uma política de relações pessoais, tendo as lealdades pessoais determinando suas alianças. Esse ato pode ser chamado de “jeitinho brasileiro”, parafraseando Roberto Damatta, que afirma que o brasileiro utiliza do jeitinho para resolver os problemas através de métodos incorretos no que diz respeito ao cumprimento de regras e até mesmo de leis. https://valor.globo.com/brasil/noticia/2018/02/05/beneficios-do-bolsa-familia-sustentam-21-da- populacao-do-pais.ghtml A matéria explícita a grande parcela da população que utiliza o bolsa família e o quanto esse impacta a vida dessas pessoas, bem como a distribuição dessa porcentagem pelo Brasil, sendo maior nas áreas do Norte e Nordeste, a área mais pobre do país, além da formulação do cálculo que define o valor que será distribuído. Aldeman Dias diz que é por esse benefício que as famílias têm pão na mesa. Essa notícia se relaciona com o conceito de “cidadania concedida” que Teresa Salles traz em seu texto "Raízes da Desigualdade na Cultura Política Brasileira”, dizendo que essa seriam os direitos fundamentais que são “dados” aos mais pobres, quando na verdade esses, por serem fundamentais, são direitos naturais, ou seja, a cidadania é vista por eles como uma dádiva, e não um direito. Ou seja, https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2019/07/17/indicacao-de-eduardo-bolsonaro-para-embaixada-nos-eua-repercute-no-senado https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2019/07/17/indicacao-de-eduardo-bolsonaro-para-embaixada-nos-eua-repercute-no-senado https://valor.globo.com/brasil/noticia/2018/02/05/beneficios-do-bolsa-familia-sustentam-21-da-populacao-do-pais.ghtml https://valor.globo.com/brasil/noticia/2018/02/05/beneficios-do-bolsa-familia-sustentam-21-da-populacao-do-pais.ghtml ao governo conceder o bolsa família para a população, essa entende isso como um benefício, e não como uma maneira de assegurar o que é obrigação da população, e por isso esse é utilizado como forma de ganhar apoio popular, bem como possíveis votos em uma reeleição. Essa ação de entendimento da cidadania como dádiva se enquadra no conceito de “cultura política da dádiva”, também apresentado por Teresa Salles no texto "Raízes da Desigualdade”, visto que essa configura o entendimento de que a cidadania é vista como um presente pela população, justamente o caso supracitado. Entende-se, também, os políticos que se utilizam dessa cultura (adentrando o coronelismo) para pedirem voto, afirmando que, votando neles, o cidadão irá receber esse auxílio. QUESTÃO 3 Conforme Alain Touraine, movimentos sociais são uma ação coletiva em prol de um objetivo comum. Ao longo dos anos, os movimentos sociais foram evoluindo no que diz respeito a suas estratégias, e, tendo em vista as transformações tecnológicas, Manuel Castells introduz em seu livro, “Redes de Indignação e Esperança”, o que ele chama de autocomunicação de massa, essa que seria baseada no uso da internet e das redes de comunicação sem fio, sendo de massa pois alcança inúmeras pessoas pelo mundo. Assim, ele conclui que essa é a nova estrutura dos movimentos sociais. Ele afirma, também, que os movimentos não surgem apenas como resultado da pobreza, mas estes dependem dos aspectos emocionais, ressaltando a importância da raiva, entusiasmo e medo, estas que estão atreladas à busca pela justiça. As novas características do movimento social em rede, para Manuel, são: estar conectados em rede de múltiplas formas; estrutura descentralizada; são simultaneamente locais e globais; espontâneas em sua origem; se tornam um movimento ao ocupar o espaço urbano; “O espaço da autonomia é a nova forma espacial dos movimentos sociais”; são virais; possui o próprio tempo, o tempo atemporal; companheirismo; horizontalidade das redes, que favorece a solidariedade e a cooperação, ao mesmo tempo que reduz a liderança formal; autorreflexivos; não violentos; raramente programáticos; Voltado para a mudança dos valores da sociedade ou para a Opinião Pública; políticos no sentido formal; A autocomunicação de massa, então, fornece uma base para a construção da autonomia, e trazendo as características supracitadas para o movimento feminista, é possível afirmar que, com as redes, temos acesso às notícias de todo o mundo, podemos, então, nos deparar com um protesto realizado em um país distante, mas essa notícia pode ser o gatilho para a mobilização, pois nos dá esperança de mudança, trazendo, assim, o aspecto viral que Manuel aborda em seu livro. A exemplo, os protestos feitos por mulheres ao redor do mundo pelo fim da Guerra da Ucrânia e a reivindicação por direitos iguais, as imagens circularam pelas redes movimentando inúmeras mulheres a irem às ruas. Fazendo analogia a esse episódio e trazendo o nosso movimento escolhido, que se trata de uma luta antiga por igualdade de gêneros, e que com as redes sociais ganhou mais voz. É notório que as redes aumentam a força do movimento feminista, já que, com elas, a integração ocorre de maneira mais ágil, e é possível se sentir representada, ou seja, mais mulheres passaram a aderir às redes para mostrarem suas inquietações. Com as redes as mulheres por todo mundo se aproximam e fica cada vez mais fácil o entendimento da ideologia feminista. O conceito de ser feminista muda, visto que não é mais necessário estar fisicamente nas mobilizações, já que essas ocorrem, também, de modo virtual com o uso das hashtags, criando assim, as mobilizações online, aumentando assim a força do movimento. Ocorre, também, a quebra de expectativa da sociedade, que relacionava a mulher feminista como aquela que não se depila e se encontram fora do padrão feminino, quando na verdade ser feminista vai muito além deste aspecto. REFÉRENCIAS: CASTELLS, Manuel. Redes de Indignação e Esperança. Movimentos Sociais na Era da Internet. 1. ed. Rio de Janeiro: Zahar, 2013. DE SOUSA, Lean Rodrigues; ARAÚJO, Jéssica Aparecida Lima. Feminismo contemporâneo: as mídias sociais como ferramentas de resistência. Semana de História do Pontal; Sociedade, Cultura, Patrimônio. p. 1-10. 2018. Artigo. HOLANDA, Sérgio Buarque de. Herança Rural. In: HOLANDA, Sérgio Buarque de. Raízes do Brasil. São Paulo: Companhia das letras, 1995. HOLANDA, Sérgio Buarque de. Homem Cordial. In: HOLANDA, Sérgio Buarque de. Raízes do Brasil. São Paulo: Companhia das letras, 1995. LOURENÇO, Luiz Claudio. O jogo dos sete erros nas prisões do Brasil: discutindo os pilares de um sistema que não existe”. In: Revista O Público e O Privado. nº 30, jul/dez. 2017. SALES, Teresa. Raízes da Desigualdade na Cultura Brasileira. In: Revista Brasileira de Ciências Sociais – RBCS. v.9 n.25. São Paulo, 1994. https://eventos.ufu.br/sites/eventos.ufu.br/files/documentos/delles_de_lean_rodrigues_de_sousa.pdf
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