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Yahanna Estrela Medicina – UFCG FARMACOLOGIA FARMACOLOGIA DO SNA INTRODUÇÃO ✓ Estudar a transmissão colinérgica é estudar todos os medicamentos que atuam de forma direta ou indireta bloqueando ou mimetizando os efeitos da acetilcolina; ✓ Dessa forma, dentro da farmacologia da transmissão colinérgica, estuda-se os agonistas e antagonistas colinérgicos, os anticolinesterásicos e os bloqueadores neuromusculares (agonistas e antagonistas nicotínicos). ✓ Agonistas colinérgicos e anticolinesterásicos possuem os mesmos efeitos, com diferença de que o último em maior intensidade. AGONISTAS COLINÉRGICOS ✓ São drogas que irão ativar o receptor da acetilcolina; ✓ Eles reproduzem o efeito celular da acetilcolina, sendo eles: o No olho: miose → pressão intraocular diminui, pois atrás do músculo ciliar, que é um músculo liso (receptor M3), existe uma rede chamada de canal de Schlemm, que drena o líquido que mantém a lubrificação do olho, chamado humor aquoso. O relaxamento ou contração do músculo ciliar interfere na drenagem do humor aquoso. O musculo quando está relaxando fica maior, o que dificulta a passagem do humor aquoso. Ou seja, quando o músculo está contraído, facilita a passagem do humor aquoso. Ou seja, o agonista muscarínico colinérgico diminui a pressão intraocular, podendo ser usado em quadros de glaucoma. Receptor M3. ▪ O antagonista colinérgico, que bloqueia M3, ao relaxar o músculo ciliar, dificulta a passagem do humor aquoso, ocasionando aumento da pressão intraocular, sendo contraindicado para pacientes com glaucoma. o No coração: diminuição da frequência e força de contração → Receptor M2. o No trato gastrointestinal: aumenta o peristaltismo, devido a contração do músculo liso intestinal → Receptor M3. o Nas glândulas exócrinas, como a lacrimal, salivar: aumento da secreção glandular → receptor M3. ▪ Se a acetilcolina ativa glândulas exócrinas, por quê em momentos de luta/fuga/nervosismo nós suamos? As fibras pós-ganglionares simpáticas são adrenérgicas, mas nas glândulas sudoríparas são sempre fibras colinérgicas. Ao tomar Buscopan (escopolamina), o paciente pode ficar com a pele quente, como efeito colateral. Não é febre, pois é um efeito colateral. Ocorre a dificuldade em liberar calor através do suor, já que ele não conseguirá suar. Isso ocorre pois o buscopan (escopolamina) é um antagonista colinérgico. Chamada febre atropínica. Ela não ocorre somente com a atropina, mas com todos os antagonistas colinérgicos. o Na bexiga: micção, pois há contração do músculo liso e abertura do esfíncter → receptor M3. o No útero: contração → receptor M3, por isso contrai. o SNC: excitação → receptor M1, receptor estimulatório. o Células parietais do estômago: estimula a produção de ácidos → receptor M1. ✓ O receptor M3 é o que está mais presente nos órgãos e tecidos. CLASSIFICAÇÃO DOS AGONISTAS ✓ Química: ▪ Derivado de ésteres de colina: • Metacolina, acetilcolina, carbacol, betanecol. ▪ Droga alcalóide: compostos isolados de plantas que possuem atividade farmacológica. São fármacos derivados de plantas medicinais: • Muscarina e pilocarpina. ✓ Existem poucos agonistas ainda usados no mercado pois, para reproduzir o efeito da acetilcolina, os anticolinesterásicos são mais eficientes. Eles fazem o mesmo efeito dos agonistas, porém, com uma potência maior. ✓ Além disso, os agonistas colinérgicos não são seletivos para subtipos de receptores muscarínicos. Ou seja, eles não ativam só M3, mas também os demais receptores muscarínicos, o que faz com que se tenham muitos efeitos colaterais. Exemplo: diminuição da frequência cardíaca por ativação de M2. FÁRMACO MEC. DE AÇÃO USO CLÍNICO EF. COLAT. PILOCARPINA (colírio e comprimido) Ativa receptor M3 no m. liso ciliar, ↑contração (miose), facilita drenagem do humor aquoso, ↓pressão intraocular. Ativa M3 na glândula salivar, ↑secreção de saliva (sialorreia) Glaucoma; xerostomia Lacrime- jamento; salivação; bradicardia; diarreia; micção; sudorese BETANECOL Ativa M3 no m. liso intestinal, promovendo contração muscular. Promove ativação de M3 no m. detrusor da bexiga, promovendo contração da bexiga e consequente eliminação da urina Ílio paralítico (ausência de contração musc. do intestino); retenção urinária A pilocarpina é utilizada na xerostomia, principalmente em pacientes que fizeram radioterapia, para evitar a boca seca. Pacientes que fazem tratamento com antidepressivos tricíclicos ou tratamento para acne com Roacutan, por exemplo, que também apresentam boca seca, podem se beneficiar do uso de pilocarpina. A boca seca pode ser porta para infecções oportunistas, como candidíase e mucosites. Deve-se observar a causa da xerostomia, se é na secreção ou na produção. A pilocarpina é utilizada quando ocorre uma falha na excreção. O teste do suor clássico (TSC) é uma técnica que utiliza o método de iontoforese por pilocarpina para estimular a produção de suor e posterior diagnóstico de Fibrose Cística pela quantificação do íon Cl-. Alguns pacientes que fazem tratamento para acne com Roacutan ficam com o olho seco (xeroftalmia), sensação de areia nos olhos. Para melhoria do quadro, utilizam colírios a base de lubrificantes ou a base de pilocarpina. O betanecol pode ser utilizado por pacientes com aumento de próstata que apresentarem sintomas como: gotejamento urinário e alterações na micção decorrentes desse quadro clínico. Bloqueadores alfa-adrenérgicos são utilizados na hiperplasia prostática benigna (HPB), pois relaxam a musculatura lisa da próstata e, como alfa 1 também está no esfíncter, também há relaxamento do esfíncter, o que facilita a eliminação de urina. Pode ser utilizado em associação com o betanecol para ter um efeito potencializado. ✓ É importante entender que a pilocarpina e o betanecol NÃO são seletivos. Porém, para fins didáticos, explica-se a ativação do receptor M3, tendo em vista seu uso clínico. ANTAGONISTAS COLINÉRGICOS ✓ Assim como os agonistas, os antagonistas não são seletivos; ✓ Bloqueiam receptores muscarínicos sem seletividade; ✓ Principais fármacos: atropina, escopolamina, ipratrópio, bipertideno e ciclopentolado. ✓ Possuem os mesmos efeitos colaterais, diferindo apenas a via de administração: se for local, efeitos locais, se for administrado por via oral, por exemplo, efeitos sistêmicos. ✓ A atropina é utilizada para quadros como bradicardia, por exemplo, e geralmente é associado a adrenalina, que também aumenta FC através de ativação de beta 1. ✓ A atropina já foi utilizada na forma de colírio para dilatar a pupila, porém, hoje, existem outros colírios mais modernos, como ciclopentolado e tropicamida. Pacientes com glaucoma NÃO devem fazer uso de colírios antagonistas colinégicos. Pode ocorrer aumento da pressão intraocular. ✓ Existem diversas apresentações de escopolamina, a mais famosa é Buscopan. Tem-se buscopan simples, buscopan composto e buscoduo. o Buscopan composto: escopolamina + dipirona. o BuscoDuo: escopolamina + paracetamol. ▪ É o indicado para gestantes. Deve-se ter cuidado com a dose tóxica de paracetamol. o Buscopan simples: escopalamina o Buscofem: não é escopolamina, é o IBUPROFENO (AINE). ✓ A escopolamina é, geralmente, associada a um AINE, para efeito analgésico. ✓ O butilbrometo é o sal no qual o princípio ativo (escopalamina) é veiculado para facilitar a absorção. EXTRA Os fármacos podem vir acompanhados de butilbrometo, fosfato, metil, etc., porém é apenas a forma na qual o princípio ativo (escopalamina, por exemplo) é veiculado para facilitar a absorção, não interferindo na farmacodinâmica. Por exemplo, existe o tartarato de metoprolol e succinato de metoprolol. Os dois possuem mesmafarmacodinâmica, porém, farmacocinética diferente. ✓ Geralmente, nos aerossóis utilizavam-se duas drogas: atrovent (ipratrópio) e berotec (fenoterol). O berotec não é mais utilizado, não é mais fabricado. FÁRMACO MEC. DE AÇÃO USO CLÍNICO EF. COLAT. ATROPINA Bloqueia receptor M2 no coração, aumentando a frequência cardíaca e a força de contração Bradicardia; parada cardíaca Nos olhos: midríase (dilatação) → visão turva, sensação de areia nos olhos (diminuição na produção de lágrimas); No coração: taquicardia; Na bexiga: retenção urinária; Trato gastrintest.: constipação; Pele e mucosas: Boca seca, febre atropínica (pele quente) ESCOPO- LAMINA Bloqueia M3 no m. liso intestinal ou uterino, promovendo relaxamento Cólicas intestinais e menstruais IPRA- TRÓPIO (atrovent) Bloqueia M3 no m. liso dos brônquios, fazendo bronco- dilatação, além de diminuir as secreções traqueo- brônquicas Asma; DPOC; bronquite; doença respiratória BIPERI- DENO (akineton) Bloqueia M1 no SNC; ↓sintomas da doença de Parkinson, ocasionados por hiperativação colinérgica pelo déficit de dopamina. Bloqueia M1 na via nigro- estriatal; ↓sintomas extra-piramidais Doença de Parkinson e associado com antipsi- cóticos para evitar os efeitos extra- piramidais CICLOPEN- TOLADO e TROPICA- MIDA Bloqueia M3 no m. ciliar do olho, promovendo relaxamento e dilatação da pupila. Pode promover ↑PA intraocular Exames oftálmicos; é contra- indicado em pacientes com glaucoma ✓ O Ipratrópio é um anticolinérgico e o Fenoterol é um agonista beta 2 adrenérgico. ✓ Ambos promovem broncodilatação, através do relaxamento do músculo liso dos brônquios. Porém, atuam com mecanismos diferentes. ✓ O ipratrópio faz broncodilatação pelo bloqueio de M3 no m. liso dos brônquios. Também promove diminuição da secreção/produção de muco através do bloqueio de M3 nas glândulas traqueobrônquicas. ✓ O fenoterol faz broncodilatação através da ativação de beta-2, que faz relaxamento do m. liso dos brônquios. o Ele causava taquicardia porque o receptor beta2 é parecido com o receptor beta1 do coração, que também era ativado. Podia ocasionar o desenvolvimento de problemas cardiológicos a longo prazo devido a essa ativação. ✓ Fazia-se associação dos dois para se ter um efeito de potencialização. ✓ Faz-se utilização do ipratrópio por via inalatória/AR para que haja ação local e diminuição dos efeitos colaterais. ✓ Quando o paciente possui uma inflamação de via aérea superior, além do ipratrópio, pode-se utilizar um glicocorticoide. o Geralmente, há uso de Clenil A (beclometasona) em associação com o ipratrópio na nebulização. Haverá dilatação dos brônquios e diminuição da inflamação. ✓ O biperideno é utilizado para tratamento de doença de Parkinson e para tratamento de pacientes com impregnação por utilização de antipsicóticos. o Efeitos extrapiramidais: paciente com rigidez muscular, dificuldade de fala, tremores, etc. É como se o paciente tivesse doença de Parkinson medicamentosa. A doença de Parkinson é uma doença neurodegenerativa, na qual há destruição de neurônio dopaminérgico da via nigroestriatal. Apresenta deficiência de dopamina, para tentar compensar, o organismo produz acetilcolina, que irá ativar M1, gerando excitação e, consequentemente, tremores. Para tratamento, é utilizado o bloqueio de M1. Biperideno é o que mais atravessa a barreira hematoencefálica. Existem outros tratamentos, como agonistas dopaminérgicos, inibidores da MAO. 3 vias dopaminérgicas A via nigroestriatal é uma via que vai da parte compacta da substância negra do mesencéfalo até o corpo estriado dorsal, os axônios desses neurônios dopaminérgicos liberam dopamina, ativam seus receptores e fazem controle da parte motora. Ou seja, nessa via, a dopamina funciona como um controle motor e de coordenação motora. A segunda via é a mesolímbica-mesocortical. Nessa via, a dopamina controla emoções (prazer, bem-estar) e comportamento. A terceira via é a túbero-infundibular: controlam a hipófise na secreção de prolactina. Ou seja, nessa via, a dopamina controla a secreção de prolactina. Na esquizofrenia e nos transtornos psicóticos, a via afetada é a mesolímbica-mesocortical. Porém, de forma contrária ao Parkinson, nesses transtornos, há o excesso da dopamina. Não se sabe o que ocasiona esse excesso. O tratamento é com antipsicóticos, que bloqueiam receptores de dopamina, ou seja, são antagonistas do receptor D2. Porém, D2 também está presente nas outras duas vias, o que ocasiona os efeitos colaterais, os sintomas parecidos com os de Parkinson, chamados efeitos extrapiramidais (impregnação). Por isso faz-se uso de Biperideno ou Fenergan (anti-histamínico com propriedade anticolinérgica, que bloqueia H1 da histamina e também M1), porém Fenergan dá sono. O efeito de antipsicóticos na prolactina: ao bloquear D2, aumenta produção de prolactina. O que pode ocasionar ginecomastia, galactorreia e infertilidade. Se for mulher, pode ter ciclos anovulatórios. Se houver hiperprolactinemia, a dopamina baixa. Se há hipoprolactinemia, a dopamina aumenta. Para diminuir a produção de leite, deve-se diminuir o estímulo ou a produção de ocitocina e prolactina. Existe um medicamento chamado Carbegolina, que é um agonista D2 (inicialmente desenvolvido para Parkinson), que também ativa D2 na via túbero-infundibular e faz com que haja diminuição de prolactina. EXTRA: a espironolactona, diurético poupador de potássio do tipo antagonista do receptor nuclear da aldosterona, é utilizada para síndrome dos ovários micropolicísticos para diminuir a produção de andrógenos. O receptor nuclear de mineralocorticoide, glicocorticoide e de hormônios sexuais são parecidos. Isso implica dizer que fármacos que atuam em algum desses receptores também pode ter ação nos outros dois. Dessa forma, a espironolactona produz efeitos anti-androgênicos. O plasil (metoclopramida) é um antiemético que é da classe dos antagonistas D2. Algumas drogas antieméticas, para bloquear o vômito, bloqueiam D2. Porém, metoclopramida atravessa a barreira hematoencefálica, o que faz com que bloqueie D2 das vias dopaminérgicas. Então, a depender da frequência de uso, pode-se ter efeitos colaterais como tremor e rigidez, alterações comportamentais e aumento de prolactina. Recapitulando: os antipsicóticos são prescritos com biperideno ou fenergan (prometazina) pois os antipsicóticos, como neozine (Levomepromazina) bloqueiam D2 nas três vias dopaminérgicas. Com o bloqueio dessas vias, o organismo entende que há uma baixa na quantidade de dopamina, o que faz com que haja aumento de acetilcolina (como uma forma de compensar) e ativação de M1 e, consequentemente, o surgimento de efeitos extrapiramidais (impregnação).
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