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Rafael Venâncio de Souza ➢ Infecções por Bactérias Gram-Positivas e Atípicos 1. Classificação das Bactérias 2. Morfologia das Bactérias Rafael Venâncio de Souza 3. Streptococcus pyogenes → Faringite Estreptocócica - acomete indivíduos de 5-15 anos - a transmissão é feita por contato pessoa-pessoa através de gotículas da via aérea - o período de incubação é de 2-4 dias - os sinais e sintomas são: início súbito dor de garganta, febre, mal estar, cefaleia, amígdalas aumentadas, hiperemiadas e com placas, e linfadenomegalia cervical - se não houver formação de abscessos a doença é autolimitada • TRATAMENTO - o tratamento visa evitar febre reumática, prevenir formação de abscessos, melhorar os sintomas e diminuir a transmissão - Penicilina G Benzatina 1,2 milhão UI dose única (se alergia: Azitromicina 500mg 1cp/dia por 5 dias) → Impetigo - a pele é colonizada por essa bactéria e a penetração ocorre se houver quebra de barreira, tendo relação também com a higiene do paciente - acomete áreas expostas da pele como face e membros - o impetigo não bolhoso inicia-se com vesículas flácidas sobre base eritematosa, que se rompem com facilidade (rapidamente dissecam), sendo raramente visualizadas (o conteúdo da vesícula sofre dessecamento, levando à CROSTA MELICÉRICA, amarelada, característica da doença) - a co-infecção com Staphylococcus aureus gera o impetigo bolhoso • TRATAMENTO Tópico: Ácido Fusídico e Mupirocina Oral: cefalosporinas de primeira geração, amoxicilina + clavulanato de potássio, clindamicina e sulfametoxazol + trimetoprim Rafael Venâncio de Souza → Erisipela - é uma infecção cutânea superficial, restrita na derme - se manifesta com lesões mais elevadas, sendo fácil distinguir pele sã da pele acometida devido a coloração vermelha/ salmão - o paciente pode relatar febre alta e calafrios, podendo ser o primeiro sintoma antes de aparecer as lesões cutâneas - tratamento: penicilina ou penicilina + inibidor de betalactamase 4. Streptococcus agalactiae - é uma bactéria que coloniza o trato genital feminino, além de ser um agente causal de sepse neonatal precoce - a detecção deste patógeno no trato genital e/ou gastrointestinal de parturientes pode identificar um risco para infecção dos recém-nascidos e guiar a terapia antimicrobiana intraparto - o tratamento da sepse neonatal é Ampicilina (cobra Gram +) + Gentamicina (cobre Gram –) 5. Streptococcus grupo viridans - este grupo de bactérias faz parte da microbiota normal da cavidade oral, trato gastrointestinal e trato genital - sua presença pode estar associada a endocardite subaguda, especialmente em doenças valvares ou portadores de próteses valvares, sendo S. sanguis, S. mitis, S. oralis e S. gordonii os agentes mais encontrados - S. mutans e S. sobrinus são espécies isoladas de placas dentárias e cáries → Endocardite Infecciosa - infecção microbiana da superfície endotelial do coração, normalmente acometendo as valvas cardíacas - tem como causa a febre reumática, degeneração valvar, próteses valvares e translocação da cavidade oral (p.ex. por manipulação dentária) - o quadro clínico é de caráter subagudo com febre, fadiga, anorexia, perda de peso, mal estar, bem como presença de sopro cardíaco e esplenomegalia - o diagnóstico é feito por meio de hemoculturas e ecocardiograma + critérios de Duke - o tratamento empírico é feito com Penicilina (cobre estreptococos) + Oxacilina (cobre S. aureus) + Gentamicina; após resultado de cultura, fazer o descalonamento da medicação Rafael Venâncio de Souza 6. Staphylococcus aureus - coloniza a pele e mucosas de 30% das pessoas e produzem às enzimas betalactamases (penicilinases) – são resistentes às penicilinas utilizadas sozinhas - causa uma variedade de doenças como foliculite, celulite, abscessos, osteomielite, sepse, endocardite e síndrome do choque tóxico estafilocócico - é importante associar um inibidor de betalactamase com a penicilina de modo a cobrir tanto estafilococo quanto estreptococo → Celulite - acomete camadas mais profundas, diferentemente da erisipela - cursa com febre e dor local - pode ser causada por bactérias Gram-negativas em pacientes imunossuprimidos Rafael Venâncio de Souza 7. Penicilinas → Penicilinas Naturais (Penicilinas G) Penicilina G cristalina (Pencil P®): frasco ampola de 1, 5 e 10 milhões de UI. Uso intravenoso. Circulação sérica por 4 horas. Penicilina G procaína (Despacilina®): frasco ampola de 400.000 UI (300.000 de procaína + 100.000 de cristalina). Uso intramuscular. Circulação sérica por 24 horas. Penicilina G benzatina (Benzetacil®): frasco ampola de 600.000, 1.200.000. Uso intramuscular. Circulação sérica por 3-30 dias, dependendo da dose usada. - são bactericidas quando em concentrações adequadas e se ligam às PBPs (proteínas ligadoras de penicilinas), inibindo a síntese da parede celular, causando lise osmótica • ESPECTRO DE AÇÃO DAS PENICILINAS G - apresentam atividade contra bactérias Gram-positivas: ① Estreptococos beta-hemolíticos dos grupos A (S. pyogenes), B (S. agalactiae), C (S. equi), D (S. bovis) e G ② Estreptococos do grupo viridans ③ Streptococcus pneumoniae ④ Enterococos (E. faecalis e E. faecium) - ainda, apresentam atividade contra Treponema pallidum, Leptospiras, Listeria monocytogenes e anaeróbios (exceto Bacteroides fragilis) - não há cobertura para bacilos Gram-negativos (Haemophilus, Moraxella, Pseudomonas, Acinetobacter, E. coli, Klebsiella…) e atípicos (Mycoplasma, Legionella…) • RESISTÊNCIA CONTRA PENICILINAS G - bacilos Gram-negativos e B. fragilis: produção de betalactamases que inativam a penicilina - Mycoplasma e Ureaplasma: não possuem parede celular - Legionella e Chlamydia: se localizam no meio intracelular, onde a penicilina não se concentra - resistência adquirida de Staphylococcus aureus e coagulase-negativos (S. epidermidis, S. haemolyticus…): produção de betalactamases do tipos penicilinases que degradam o antibiótico - resistência adquirida por cepas de pneumococo: alterações nas proteínas ligadoras de penicilinas (PBPs) – nesse caso, não adianta associar um inibidor de betalactamase pois o mecanismo de resistência do pneumococo não se dá pela produção enzimática, mas isso só se faz posteriormente ao resultado de cultura • EFEITOS ADVERSOS - mínima toxicidade - seguro na gestante, no lactente e na lactante - efeitos locais irritativos no local da injeção IM - flebites na infusão IV - hipersensibilidade: 0,7 a 10% dos pacientes medicados podem ter recebido outras vezes penicilina sem ter apresentado alergia, enquanto que 30-50% das histórias de alergia à penicilina não correspondem à realidade Rafael Venâncio de Souza → Penicilinas Semissintéticas - penicilinas de pequeno espectro, resistentes à ação de penicilinases (anti-estafilocócicas): oxacilina - penicilinas de “largo espectro” (segunda geração): ampicilina e amoxicilina - penicilinas antipseudomonas (terceira geração ou carboxipenicilinas): ticarcilina e carbenicilina - penicilinas de espectro ampliado (quarta geração ou ureidopenicilinas): piperacilina • OXACILINA - resistente à inativação de penicilinases, portanto é o tratamento de escolha para infecções por MSSA - não age contra enterococos e bactérias Gram-negativas, incluindo Neisseria - há uma limitação de seu uso contra pneumococo devido resistência intermediária para penicilinas - Staficilin® frasco com 500mg, dose máxima (para infecções graves) de 200mg/kg/dia fracionada de 4/4 horas; exemplo: adulto de 60kg: 12000 mg/dia, sendo 2000mg (4 frascos) IV de 4/4 horas, diluído em soro fisiológico 100mL - EFEITOS COLATERAIS: hipersensibilidade, flebite, nauseas e hepatite colestática • AMOXICILINA E AMPICILINA - inicialmente apresentavam sensibilidade contra bactérias Gram-negativas (Haemophylus, Proteus,Escherichia coli) que a penicilina G não possuía, entretanto, com a produção de betalactamases por estas bactérias, este espectro foi logo perdido devido ao uso maciço e difundido por todo mundo - hoje mantem atividade contra: S. pyogenes (grupo A), S. agalactiae (grupo B), meningococo, pneumococo (aumento de cepas com resistência intermediária a penicilina), Listeria monocytogenes - a Ampicilina (Binotal®) tem absorção ruim por via oral e interferência com alimentação (prefere-se a amoxicilina por esta via), atravessa a barreira hematoencefálica e a placentária; apresentações de cápsula com 500mg e 1g, suspensão oral com 250-500mg/5ml e frascos-ampolas com 500mg e 1g - a Amoxicilina (Amoxil®) tem apresentações de cápsula com 500mg, suspensão oral com 125, 250 e 500mg/5mL e frasco ampola com 1g (para uso IV prefere-se a ampicilina por ter um custo menor) OBS: INIBIDORES DE BETALACTAMASE - bloqueiam a ação de betalactamases (inativam a ação de enzimas) e, portanto, restauram a ação de um betalactâmico contra uma bactéria que lhe é resistente por mecanismo enzimático - com o surgimento do clavulanato e sulbactam e suas associações com amoxicilina e ampicilina, o espectro contra bactérias Gram-negativas produtoras de betalactamases foi resgatado, portanto estas associações são eficazes para infecções por Haemophylus e Moraxella, por exemplo - também são efetivas contra S. aureus sensíveis à oxacilina (produzem penicilinases que são inibidas pelo clavulanato e sulbactam) - no Brasil: ① ácido clavulânico (sal: clavulanato) + amoxicilina ou ticarcilina ② sulbactam + ampicilina ou amoxicilina ③ tazobactam + piperacilina • AMPICILINA + SUBACTAM - a Ampicilina é um bactericida por inibir síntese da parede celular e o Sulbactam inibe ação de betalactamases - apresenta espectro para Gram-positivos cobertos pela ampicilina, Gram-negativos devido espectro aumentado pelo sulbactam, e anaeróbios - indicações clínicas: infecções intra-abdominais (p.ex. diverticulite, apendicite supurada, colangite etc), infecções ginecológicas (endometrite, aborto séptico etc), celulites e outras infecções de pele, e ITUs complicadas - Unasyn® com apresentação via intravenosa 1,5g (1g ampicilina + 500mg de sulbactam) e 3g (2g de ampicilina + 1g de sulbactam) - a dose usual é de 1,5g IV 6/6 horas e a dose para infecções por Acinetobacter baumannii é de 3g 6/6h - a dose deve ser corrigida para insuficiência renal – exemplo de antibiótico que NÃO precisa de correção de dose para DRC é a ceftriaxona e oxacilina • AMOXICILINA + CLAVULANATO - produz nível sérico 2-3 vezes superior a ampicilina por via oral - concentra melhor em secreção brônquica, seios nasais, bile e ouvidos - sua concentração liquórica é inferior do que ampicilina - a dose deve ser corrigida para insuficiência renal - INDICAÇÕES CLÍNICAS: ① infecções respiratórias nas quais possa estar envolvido o H. influenzae produtor de betalactamase: otite média, sinusite e pneumonias ② abscessos periamigdalianos e retrofaríngeos (bactérias anaeróbias podem ser a etiologia) ③ faringoamigdalites não responsivas às penicilinas (presença de Moraxella catarrhalis ou estafilococos produtores de betalactamases) ④ terapia e profilaxia de mordeduras humanas e por animais ⑤ infecções intra-abdominais, ginecológicas e de pele - Clavulin® na apresentação em comprimidos de 500/125 mg ou 875/125mg, solução oral de 250/62,5mg ou 125/31,25mg, e frasco ampola para uso IV 500/100mg ou 1000/200mg - a dose habitual é 500/125mg VO 8/8h, 875/125mg VO 12/12 e 1g/200mg IV 8/8h OBS: Amoxicilina + Sulbactam (Trifamox®) é disponível também em comprimidos, suspensão oral e injetável Rafael Venâncio de Souza 8. Cefalosporinas → Cefalosporinas de Primeira Geração - são bactericidas contra bactérias Gram-positivas, bactérias resistentes às penicilinases estafilocócicas, porém degradadas por betalactamases de Gram- negativas - via parenteral: Cefalotina e Cefazolina - via oral: Cefalexina e Cefadroxila • CEFALOTINA E CEFAZOLINA - possui atividade contra estreptococos e estafilococos (MSSA) - não têm ação contra H. influenzae e parainfluenzae, Serratia, Providencia, Proteus, Klebsiella, Enterobacter, Pseudomonas e Bacteroides fragilis, ou seja, pouco espectro contra GRAM negativos - não têm atividade contra microrganismos sem parede celular e microrganismos que se situam no meio intracelular - na prática atual têm aplicação clínica na terapêutica e profilaxia de infecções estafilocócicas (MSSA), além de indicação importante como profilaxia em vários tipos de cirurgias: vascular, ortopédica, implantação de próteses, cardíaca, cirurgias do trato digestivo, do trato urinário e na histerectomia vaginal - atingem concentrações terapêuticas em vários tecidos e não atravessam bem a barreira hematoencefálica e, portanto, não são indicadas para o tratamento de meningites - EVENTOS ADVERSOS: alergia (reação cruzada com todas cefalosporinas), dor (quando usada IM), flebites (quando usada IV), neutropenia e aumento discreto de transaminases; raramente podem causar necrose tubular aguda - são usadas por via parenteral (IV) - Cefalotina (Keflin®) comercializada em frascos de 1g, administrada via IV em dose habitual de 1g de 6/6h - Cefazolina (Kefazol®) comercializada em frascos de 250, 500mg e 1g, administrada via IV em dose habitual de 1g de 8/8h • CEFALEXINA E CEFADROXILA - são indicadas em infecções estafilocócicas de pequena ou média gravidade, especialmente as piodermites: hordéolo, furúnculo, celulite e ferimentos infectados - alternativa para tratamento de faringoamigdalites purulentas e tratamento de ITU não complicada em gestantes - podem gerar efeitos adversos gastrointestinais - a Cefalexina (Keflex®) é comercializada em comprimidos e suspensão oral, tendo dose habitual de 500mg 6/6 horas - a Cefadroxila (Cefamox®) é comercializada em comprimidos e suspensão oral, tendo dose habitual de 500mg de 8/8 ou 12/12 horas Rafael Venâncio de Souza → Cefalosporinas de Segunda Geração • CEFUROXIMA E AXETIL CEFUROXIMA - apresenta certa estabilidade frente às betalactamases de Gram-negativas, porém muitos Gram-negativas já resistentes por produção de cefalosporinases - a Axetil Cefuroxima é um pró fármaco, sendo absorvida por via oral e libera a Cefuroxima na corrente sanguínea - é ativa contra estreptococos, estafilococos, bacilos Gram-negativos entéricos (E. coli, Klebsiella, Enterobacter), H. influenzae, M. catarrhalis e anaeróbios (exceto B. fragilis) - sem ação contra Acinetobacter e Pseudomonas - difundem bem por todo organismo, tendo boa concentração no líquor de pacientes com meningites, porém não oferece segurança para este tratamento - atravessa parcialmente a barreira placentária e tem mínima concentração no leite materno - indicadas para tratamento de pneumonias, sinusites, ITUs, colecistites, peritonites (ativa contra pneumococo, estreptococo, Haemophilus e enterobactérias) - EFEITOS ADVERSOS: alergia, náuseas, vômitos, elevação de transaminases, trombocitopenia e neutropenia - a Cefuroxima (Zinacef®) é comercializada em frasco de 750mg, com dose habitual de 8/8h IV ou IM - a Axetil Cefuroxima (Zinnat®) é comercializada em comprimidos e em suspensão oral, com dose habitual de 500mg de 12/12h • CEFACLOR E CEFPROZILA - indicações clínicas semelhantes às da Axetil Cefuroxima - o Cefaclor (Ceclor®) é disponível em cápsulas (250, 500 e 750mg) e em suspensão oral, com dose habitual de 500mg 6/6 horas - a Cefprozila (Cefzil®) é disponível em comprimidos de 500mg e em suspensão oral, com dose para adulto de 500mg de 12/12h Rafael Venâncio de Souza 9. Bactérias Atípicas (Mycoplasma e Chlamydia) - causam pneumonias atípicas, descarga uretral e linfogranuloma venéreo - são consideras atípicaspois são bactérias que não possuem parede celular ou se localizam no meio intracelular, logo os betalactâmicos não tem ação sobre elas - são tratadas com macrolídeos (inibidores da síntese proteica na unidade 50S ribossomal) ou tetraciclinas (fármacos inibidores da síntese proteica na unidade 30S ribossomal) → Macrolídeos - são fármacos inibidores da síntese proteica na unidade 50S ribossomal - além dos atípicos, consegue cobrir também pneumococos - para pneumonias mais graves, deve-se associar o Clavulin com um macrolídeo de modo a cobrir também H. influenzae; outra opção para pneumonias mais graves seria somente quinolona respiratória, a qual cobre atípicos, pneumococos e H. influenzae • CLARITROMICINA (KLARICID® E KLARICID UD®) - disponível em comprimidos (250 e 500mg), em solução oral e em frasco-ampola 500mg - dose habitual de 500mg 12/12h oral ou IV, diluindo em, no mínimo, 250mL de soro fisiológico • AZITROMICINA (ZITROMAX®) - disponível em comprimidos de 500mg, cápsulas de 250mg, suspensão oral e frasco ampola de 500mg - dose habitual de 500mg VO ou IV 1x dia
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