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Rafael Venâncio de Souza ➢ Vírus Epstein-Barr (EBV) 1. Introdução - o vírus Epstein-Barr pertence à família Herpesviridae, e é conhecido como herpes vírus humano tipo 4, de caráter ubíquo - se manifesta como uma infecção subclínica (assintomática ou com sintomas inespecíficos) na infância, com predominância maior de sintomas de mononucleose infecciosa na adolescência - o EBV está associado ao desenvolvimento de algumas doenças malignas como: ① linfoma de Burkitt ② linfoma de Hodgkin ③ linfoma primário de SNC em pacientes com AIDS ④ carcinoma de nasofaringe - alguns estudos epidemiológicos descrevem uma associação entre EBV e doenças autoimunes, principalmente esclerose múltipla, entretanto uma relação causal ainda não foi totalmente estabelecida 2. Transmissão - a infecção primária por EBV resulta da EXPOSIÇÃO A SECREÇÕES ORAIS de indivíduos soropositivos – beijo, compartilhamento de alimentos ou outro tipo de contato íntimo - a infecção pelo EBV se espalha pelos linfócitos B após a infecção inicial de células epiteliais orais - linfócitos B infectados incitam uma intensa resposta de células T citotóxicas, as quais são responsáveis pela LINFOCITOSE ATÍPICA característica da infecção primária de EBV (fase aguda) - os linfócitos B servem como um reservatório para uma infecção duradoura do indivíduo e a reativação periódica das células com infecção latente pode ser ASSINTOMÁTICA, ocorrendo em indivíduos saudáveis, mas também em indivíduos imunossuprimidos 3. Epidemiologia - anticorpos para EBV são adquiridos mais cedo por indivíduos de países em desenvolvimento/pobres, porém, na idade adulta, 90-95% da população apresenta sorologia positiva para EBV - a infecção sintomática ocorre geralmente no final da infância e na adolescência - não apresenta incidência sazonal Rafael Venâncio de Souza 4. Manifestações Clínicas - o quadro clínico clássico da infecção pelo EBV é o início abrupto de FEBRE, DOR DE GARGANTA, LINFADENOPATIA E RASH CUTÂNEO - a instalação pode ser abrupta, porém geralmente sintomas prodrômicos podem aparecer antes, incluindo calafrios, sudorese, sensação febril, anorexia e mal-estar - FEBRE está presente em mais de 90% dos pacientes, podendo chegar até 40°C, com duração de 10-14 dias - ADENOPATIA CERVICAL ocorre em 80-90% dos pacientes - RASH CUTÂNEO pode se apresentar de forma macular, petequial, ou eritema multiforme-like, ocorrendo em 5% dos casos - EDEMA PERIORBITAL BILATERAL ocorre em até 1/3 dos casos, durando por alguns dias da doença - ERITEMA FARÍNGEO COM EXSUDATO ocorre em 1/3 dos casos - HEPATOMEGALIA E ESPLENOMEGALIA ocorrem em 10-15% e em 50% dos casos, respectivamente OBS: a administração de antibióticos, principalmente amoxicilina, resulta em ERITEMA DIFUSO MACULOPAPULAR E PRURIGINOSO em 90-95% dos pacientes - a febre demora até 3 semanas para desaparecer, podendo demorar mais em adultos - a dor de garganta melhora com 5 dias - a prostração e a fadiga podem demorar mais para resolver - quadros graves e óbitos são muito raros Rafael Venâncio de Souza → Complicações • COMPLICAÇÕES HEMATOLÓGICAS - anemia hemolítica autoimune (0,5-3% dos pacientes) - trombocitopenia • COMPLICAÇÕES NEUROLÓGICAS - encefalite - meningite asséptica - síndrome de Guillain-Barré • COMPLICAÇÕES HEPÁTICAS - elevação autolimitada dos níveis de transaminases (80-90% dos casos) - hepatite fulminante (raro) • RUPTURA ESPLÊNICA - a ruptura esplênica pode ocorrer devido infiltração linfocítica do órgão associada a rápida esplenomegalia - a dor abdominal é uma manifestação incomum do EBV, porém, na sua presença, deve-se considerar o acontecimento de ruptura esplênica - a dor geralmente ocorre no quadrante superior esquerdo, podendo irradiar para a região da escápula esquerda - deve-se orientar evitar esportes e ter cuidado na palpação de baço durante o primeiro mês de doença pois o trauma gerado pode levar à ruptura esplênica 5. Diagnóstico Laboratorial - a manifestação hematológica central da doença é a ocorrência de leucocitose, linfocitose e presença de linfócitos atípicos (> 10%) → Pesquisa Sorológica - anticorpos heterófilos – técnica de Paul-Bunnell-Davidsohn ou teste Monospot - anticorpos específicos anti VCA (“viral capsid antigens”) IgM e IgG Rafael Venâncio de Souza 6. Tratamento - tratamento de suporte – uso de paracetamol ou AINEs para alívio da febre e/ou da dor de garganta - agentes antivirais (aciclovir ou ganciclovir) NÃO apresentam ação in vivo - corticosteroides – são uteis apenas em casos de complicações autoimunes (anemia hemolítica autoimune) - orientar a necessidade de evitar esportes de contato ou levantamento de peso durante o primeiro mês da doença – esplenomegalia com risco de ruptura Rafael Venâncio de Souza ➢ Citomegalovírus (CMV) 1. Introdução e Epidemiologia - o citomegalovírus (CMV) é um membro da subfamília Betaherpesviridae da família Herpesviridae, e é conhecido como herpes vírus humano tipo 5 - o CMV é o maior vírus causador de doenças em humanos - em pacientes imunocompetentes, o CMV pode ter um curso assintomático ou causar uma síndrome mononucleosídica - o CMV pode ter repercussões também em pacientes imunossuprimidos (pacientes com AIDS, pacientes oncológicos e transplantados) - pode haver ainda a manifestação CMV congênito devido transmissão intrauterina – a transmissão de mãe para filho pode acontecer também durante o parto ou amamentação - ainda, o CMV pode permanecer latente no indivíduo – o sítio de latência não é precisamente conhecido, mas provavelmente inclui mononucleares circulantes periféricos e possivelmente leucócitos polimorfonucleares - a soroprevalência de CMV é de quase 100% em adultos e similarmente alta em crianças e adolescentes • INFECÇÃO PRIMÁRIA - ocorre em indivíduos soronegativos para CMV - a infecção primária apresenta uma manifestação mais sintomática e mais grave • INFECÇÃO SECUNDÁRIA - ocorre por reativação de infecção latente ou por reinfecção 2. Transmissão - o vírus pode ser transmitido através de saliva, urina e secreção vaginal por semanas ou meses - ainda, o vírus pode ser transmitido através de transplante de órgãos e medula óssea ou transfusão sanguínea 3. Manifestações Clínicas e Laboratoriais - febre - linfadenopatia – pode estar ausente - dor de garganta e faringite – menos frequente e menos severa do que causada pelo EBV - linfocitose e presença de linfócitos atípicos → Complicações - hepatite - síndrome de Guillain-Barré - meningoencefalite - miocardite - anemia hemolítica e trombocitopenia → Pacientes Imunossuprimidos • AIDS - retinite por CMV – pacientes com LT-CD4+ < 50 - colite e esofagite por CMV - pneumonite - polirradiculopatia ascendente e encefalite • PACIENTES TRANSPLANTADOS E ONCOLÓGICOS - pneumonite intersticial - perda do transplante Rafael Venâncio de Souza 4. Infecção Congênita por CMV - é a infecção mais comum das TORCHs, porém menos sintomática – o acrônimo TORCH (toxoplasmose, rubéola, citomegalovírus e herpes simples) foi criado com o intuito de unir as infecções congênitas que possuem quadro clínico similar - a infecção congênita pode ocorrer por reativação em mães já imunes – neste caso os recém-nascidos, em sua maioria, são assintomáticos – ou por infecção primária materna – neste caso os recém-nascidos são sintomáticos → Sintomas - icterícia - hepatoesplenomegalia - rash petequial - microcefalia - retinite OBS: há a formação de calcificações periventriculares evidenciadas em TC de crânio → Diagnóstico de Infecção Congênita - detecção de virúria – PCR quantitativo em urina, na primeira semana de vida, sendo indicada a pesquisa em recém nascidos sintomáticos, com suspeita de infecção materna 5. Tratamento em Pacientes Imunossuprimidos e em Infecção Congênita- ganciclovir 5mg/kg IV 2x/dia – é uma medicação mielotóxica - valganciclovir VO – não é amplamente disponível Rafael Venâncio de Souza ➢ Toxoplasmose 1. Agente Etiológico e Hospedeiros - a toxoplasmose é uma zoonose causada pelo protozoário Toxoplasma gondii - os hospedeiros definitivos do T. gondii são os gatos e outros felídeos; todos os outros animais de sangue quente, assim como o ser humano, são hospedeiros intermediários 2. Transmissão Rafael Venâncio de Souza 3. Prevalência - a prevalência é variável de acordo com o país e a área - 10% de gestantes nos EUA apresentam IgG + para toxoplasmose, enquanto que, em países do continente africano e na américa latina, > 50% apresentam em determinadas áreas - na França há uma alta prevalência de toxoplasmose devido consumo aumentado de carne crua - açougueiros apresentam alta prevalência de toxoplasmose 4. Manifestações Clínicas → Toxoplasmose Aguda em Paciente Imunocompetente - é assintomática em até 80% dos pacientes - quando sintomática, o paciente pode manifestar linfadenopatia, febre, mal estar, sudorese noturna, hepatoesplenomegalia e mialgia - os sintomas podem persistir por meses e complicações, apesar de raras, podem surgir, tais como pneumonite, miocardite, encefalite e hepatite → Toxoplasmose Aguda em Paciente Imunossuprimido - ocorre devido reativação de infecção latente adquirida no passado - paciente pode apresentar febre de origem obscura, encefalite, pneumonite e miocardite → Toxoplasmose Ocular - o T. gondii é uma das etiologias mais frequentes de uveíte, representando até 85% dos casos de uveíte posterior (coriorretinite) - as lesões podem ser de origem congênita ou secundárias a infecção aguda ou por reativação - as recorrências são frequentes, em até 75% dos pacientes - a coriorretinite aguda pode cursar com sintomas de visão embaçada, escotoma, dor ocular, fotofobia e epífora; pode ocorrer diminuição ou perda da visão quando a mácula é envolvida Uveíte anterior ou iridociclite: a inflamação da íris e dos corpos ciliares; a maioria dos casos de uveíte são anteriores e a causa é desconhecida, genética ou mediada pelo sistema imune Uveíte intermediária ou vitreíte: é a inflamação da úvea na cavidade vítrea Uveíte posterior ou coriorretinite: é a inflamação da retina e da coroide, podendo gerar perda da acuidade visual, geralmente é de causa infecciosa Panuveíte: a inflamação de todas as camadas da úvea (íris, corpo ciliar e coroide) → Toxoplasmose na Gestação - a infecção aguda é assintomática na maioria das pacientes grávidas - a preocupação primária é a transmissão da infecção para o feto e o risco para o feto NÃO se correlaciona com a presença ou a ausência de sintomas na mãe durante a gestação - a transmissão para o feto ocorre na infecção aguda da gestante, enquanto que mulheres que já tiveram toxoplasmose previamente a concepção protegem o feto Rafael Venâncio de Souza → Toxoplasmose Congênita - os neonatos de mães com infecção adquirida no primeiro e no segundo trimestre apresentam manifestações clínicas MAIS GRAVES de toxoplasmose - já os neonatos de mães com infecção adquirida no terceiro trimestre apresentam uma manifestação SUBCLÍNICA de toxoplasmose - o quadro clínico de toxoplasmose congênita pode se apresentar com coriorretinite, estrabismo, crises convulsivas, icterícia, microcefalia, trombocitopenia (petéquias) e calcificações intracranianas • DEFINIÇÃO DE CASO CONFIRMADO • DIAGNÓSTICO DE TOXOPLASMOSE CONGÊNITA - o rastreamento sorológico (IgM e IgG) durante o pré-natal permite a identificação de gestantes suscetíveis para seguimento posterior, com vistas à prevenção da infecção aguda por meio de medidas de prevenção primária e a detecção precoce - gestantes que apresentem resultados não reagentes para anticorpos IgM e IgG são consideradas suscetíveis, devendo realizar 3 testagens de sorologia IgM e IgG durante o pré-natal dessas gestantes - se nas primeiras 16 semanas gestacionais o primeiro exame solicitado detectar anticorpos IgG e IgM reagentes, deve ser feito o teste de avidez de IgG na mesma amostra de soro - o teste de avidez de IgG é importante para determinar a época da infecção pelo toxoplasma na gestante: ① alta avidez: toxoplasmose adquirida há mais de 4 meses, consequentemente antes da concepção ② baixa avidez: indica uma infecção recente, possivelmente adquirida durante a gestação Rafael Venâncio de Souza 5. Tratamento da Toxoplasmose - paciente imunocompetente geralmente NÃO precisa ser tratado - toxoplasmose congênita: 1 ano de duração - toxoplasmose em imunossuprimido e toxoplasmose ocular: 42 dias de duração → Tratamento da Toxoplasmose na Gestação - o uso da Espiramicina em gestantes no quadro agudo de toxoplasmose pode reduzir em até 50% a transmissão vertical - a profilaxia com Espiramicina 500mg 2 comprimidos a cada 8 horas deve ser iniciada na suspeita diagnóstica e mantida até o fim da gestação; se descartada a infecção aguda, a profilaxia pode ser suspensa - caso a infecção FETAL seja confirmada por amniocentese entre 17 e 32 semanas (PCR no líquido amniótico), deve-se iniciar o tratamento com sulfadiazina, pirimetamina e ácido folínico e mantê-lo até o parto (tratamento é contraindicado no primeiro trimestre, devendo ser iniciado a partir de 15ª semana) - nos casos de soroconversão acima de 32 semanas, quando não está indicado a amniocentese, o tratamento deve ser iniciado mesmo sem a confirmação da infecção fetal, devido ao alto risco de transmissão vertical
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