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Capítulo 10 1 MICRONUTRIENTES 1 - Considerações Gerais Os micronutrientes são elementos essenciais para o crescimento das plantas e são necessários em pequenas quantidades, da ordem de alguns miligramas por quilograma de matéria seca da planta. Isso se deve ao fato deles não participarem de compostos estruturais na planta, mas da constituição de enzimas ou então atuar como seus ativadores. A deficiência de qualquer micronutriente pode provocar problemas no crescimento e desenvolvimento das plantas, repercutindo na qualidade e quantidade da produção. Os micronutrientes podem ser classificados em: 1 - Catiônicos: ✔Cobre (Cu) ✔Ferro (Fe) ✔Manganês (Mn) ✔Zinco (Zn) ✔Níquel (Ni) 2 - Aniônicos: ✔Boro (B) ✔Cloro (Cl) ✔Molibdênio (Mo) Os micronutrientes catiônicos são de natureza metálica e encontram-se nos solos e substratos principalmente na forma de óxidos, hidróxidos ou como sais e são insolúveis em valores altos de pH. Os micronutrientes aniônicos B e Cl são considerados não-metais, enquanto o Mo é um metal de transição. Para o diagnóstico de deficiências de micronutrientes não é suficiente um exame visual, já que as deficiências de diferentes nutrientes podem provocar sintomas similares, sendo necessário realizar análise de solo e, preferencialmente, de tecidos da planta. A carência de micronutrientes pode ocorrer: ✔Pela falta do micronutriente em quantidade suficiente no solo, de modo que a planta não consegue suprir suas demandas. Essa deficiência absoluta raramente ocorre; ✔Pelo fato de não se encontrarem no solo na forma disponível para as plantas, por estarem retidos em algum componente do solo; ✔Pela presença de outros nutrientes, o que caracteriza a deficiência induzida. Como exemplo desta situação, tem-se o bloqueio que sofre o B pelo Ca e a clorose férrica induzida pela presença de bicarbonato. Capítulo 10 2 2 - Fatores que Afetam a Disponibilidade de Micronutrientes São vários os fatores que podem afetar a disponibilidade e, portanto, a absorção de micronutrientes pelas plantas. Os mais importantes são: ✔pH do solo - tem grande influencia na disponibilidade dos micronutrientes (Figura 1). Em valores altos de pH, ocorre diminuição da solubilização e da absorção de Cu, Zn, Fe e Mn; por outro lado, nessa condição, ocorre aumento na disponibilidade de Mo; Figura 1 - Influência do pH na disponibilidade dos micronutrientes na solução do solo ✔Matéria orgânica do solo - tem grande influência sobre a disponibilidade de micronutrientes. Aumentos no teor de matéria orgânica do solo (MOS), geralmente relacionam-se com teores crescentes de micronutrientes; contudo, em algumas situações ocorre o contrário. Os solos com elevados teores de MO são aqueles que, com mais frequência, mostram deficiências de um ou mais micronutrientes. Em alguns casos, a análise do solo revela teores elevados e, no entanto, as plantas apresentam teores inferiores às de plantas em outros solos, indicando, provável- mente, baixa disponibilidade ou elevada fixação dos micronutrientes nos solos com elevado teor de MOS e, ou, baixo teor total desses nutrientes. ✔Textura - é o outro fator que influi no teor de micronutrientes no solo. Assim, solos de textura arenosa apresentam, com maior frequência, baixa disponibilidade de B, Cu, Mn, Mo e Zn, devido esses nutrientes serem lixiviados com maior facilidade nesses solos. ✔Outros fatores - a atividade microbiana, a drenagem dos solos, as condições de oxirredução e as condições climáticas interferem na disponibilidade de micronutri- entes. O Zn, em teores baixos no solo, pode ter sua deficiência provocada por microrganismos que competem com as plantas por esse nutriente. No entanto, os microrganismos podem liberar nutrientes durante a decomposição da MOS. Já o processo de oxirredução interfere de forma mais expressiva na disponibilidade de Fe e Mn. Assim, condições de redução provocada por alta umidade pode aumentar a Capítulo 10 3 disponibilidade de Cu, Mo, e Zn, podendo chegar a teores tóxicos. Em temperaturas elevadas do solo a absorção de micronutrientes é favorecida. Por outro lado, temperaturas baixas reduzem a taxa de mineralização da MOS, reduzindo a disponibilidade de micronutrientes nela imobilizados. 3 - Micronutrientes Catiônicos 3.1 - Cobre 3.1.1 - Cobre no Solo O teor médio de Cu na crosta terrestre é de aproximadamente 55 mg kg-1, enquanto, no solo varia entre 10 e 80 mg kg-1, no qual se encontra,principalmente, na forma divalente (Cu++), como constituinte das estruturas cristalinas dos minerais primários e secundários. Considera-se que a principal fração do Cu dissolvido esteja como complexo solúvel de ácidos orgânicos, como por exemplo, cítrico e oxálico. O Cu trocável está fortemente adsorvido especialmente na MOS, em que o íon, numa grande proporção, é fixado pelas substâncias húmicas sob a forma mais estável do que a forma trocável. A energia de ligação do Cu com os ácidos húmicos diminui com o aumento da dose de Cu aplicada, porém, aumenta com a elevação dos valores de pH e com o aumento do grau de humificação da MOS. O Cu nessa forma, pode tornar-se disponível somente depois da mineralização da MOS. A determinação de Cu total do solo não fornece informação exata sobre a disponibilidade desse nutriente, sendo recomendado utilizar métodos de extração, como, por exemplo, o DTPA (ácido dietileno triamino penta acético). As deficiências de Cu ocorrem principalmente em solos orgânicos ácidos, em solos derivados de rochas ígneas muito ácidas e em solos lixiviados de textura arenosa. Deve-se considerar que, em alguns sistemas de cultivo, quantidades conside- ráveis de Cu são adicionadas ao solo por meio de fungicidas. Um exemplo dessa situação é o uso, por vários anos, de fungicidas cúpricos no controle de doenças de plantas, o que tem levado ao acúmulo de Cu na superfície do solo. 3.1.2 - Absorção, Transporte e Redistribuição de Cobre O cobre é absorvido como Cu++ e, ou Cu-quelato, sendo altamente regulada pela disponibilidade externa desse nutriente na solução do solo e pelo estado nutricional do mesmo na planta. Diferentes tipos de proteínas transportadoras podem estar envolvidos com o transporte de Cu em plantas (Figura 2). O principal grupo pertence à família COPT (transportadores de cobre) em diferentes organismos. Outras proteínas de transporte, como YSL1 e YSL3, que fazem parte da família de transporta- dores de Fe (OPT/YSL), podem transportar Cu das folhas para sementes em Arabidopsis; já os transportadores ZIP2 e ZIP4, pertencentes à família de transportadores de Zn, também são capazes de transportar Cu em Arabidopsis. Capítulo 10 4 Figura 2 - Principais transportadores de cobre nas células das plantas Algumas ATPases de metal pesado (HMA) estão também envolvidas no transporte de Cu do citosol para o interior de organelas ou para o apoplasto (Figura 2), sendo, portanto, importantes para a homeostase do Cu e para a translocação interna desse nutriente. As plantas respondem à deficiência de Cu ao elevar sua absorção por meio do aumento de expressão dos transportadores de Cu de alta afinidade (COPT1, COPT2 e COPT6) localizados na membrana plasmática (Figura 2). Esses transportadores COPT transportam Cu na sua forma monovalente (Cu+); portanto para o Cu ser absorvido por esses transportadores é necessária a redução do Cu++para Cu+, o que é realizado por proteínas de membrana da família FRO(Fe3+ Quelato Redutase), capazes de reduzir o Cu++a Cu+. As isoformas FRO4 e FRO5 são Cu++-redutases essenciais ao transporte de Cu++ para o interior da célula. O transportador COPT2 também é expresso fortemente nas raízes, sobretudo nas raízes laterais, nos pelos radiculares e nas zonas de diferenciação, ao passo que o COPT1 está presente nas pontas radiculares. Apesar da forte expressão de COPT2nas raízes sob deficiência de Cu, o principal transportador de Cu++ nas raízes é o COPT1. O transportador COPT6 é expresso na parte aérea, em especial nos tecidos vasculares, cotilédones, meristemas, estômatos e tricomas. Enquanto COPT1 e COPT2 são expressos em deficiência de Cu, o COPT6 expressa-se em condições de suficiência desse nutriente. Plantas com baixa expressão de COPT6 não apresentam redução no conteúdo de Cu na planta, no entanto, ocorrem defeitos na distribuição interna de Cu. O transportador COPT5 de Cu++está localizado na membrana do vacúolo (tonoplasto) participando do fluxo intracelular de Cu e está envolvido na compartimen- talização do Cu++ nas células (Figura 2). Plantas com baixos níveis de expressão de COPT5 acumulam Cu no vacúolo. COPT5 é expresso não apenas nos tecidos Capítulo 10 5 vasculares da raiz como também em outros tecidos da parte aérea, mas em baixos níveis. Com a diminuição da concentração de Cu, o COPT5 atua na remobilização desse nutriente acumulado nos vacúolos para as partes com demanda de Cu, sobretudo cloroplastos e mitocôndrias A ATPase PAA1, localizada na membrana interna do cloroplasto, está envolvida no transporte de Cu do citosol para o estroma, enquanto PAA2, que se situa a membrana do tilacoide, envolve-se no transporte de Cu para o lúmen da tilacoide (Figura 2). As plantas possuem mecanismos avançados para a absorção e o uso de Cu. Além de aumentar a absorção de Cu por meio de transportadores específicos em situação de deficiência, as plantas também melhoram o uso de Cu existente nas células. Em condições de deficiência de Cu, as plantas diminuem a produção das isoenzimas de superóxido dismutase (SOD) no citoplasma e cloroplastos, e substituem a função das isoenzimas Cu-Zn-SOD pela SOD dependente de ferro (Fe-SOD). Desse modo, o Cu que está em baixa concentração é direcionado para a plastocianina, assegurando o fluxo de elétrons nos cloroplastos. Considera-se o Cu como nutriente imóvel quanto à sua redistribuição; portanto, os sintomas de deficiência aparecem primeiro nas folhas mais novas, embora existam resultados que mostrem a translocação de folhas velhas para novas. O movimento do Cu no interior das plantas depende da sua concentração, uma vez que, em plantas de trigo bem supridas de Cu, pode ocorrer translocação das folhas para os grãos; contudo, em plantas deficientes, esse nutriente é relativamente imóvel. 3.1.3 - Funções do Cobre na Planta O cobre pode atuar como cofator em proteínas e está envolvido em uma ampla variedade de processos fisiológicos. Em plantas, o Cu está associado à atividade fotossintética, à respiração mitocondrial, à eliminação do ânion superóxido (O2 -), ao metabolismo da parede celular e à percepção do hormônio etileno. Portanto, a deficiência desse elemento pode causar diversos distúrbios no metabolismo vegetal, tais como: redução do crescimento, prejuízo ao desenvolvimento reprodutivo, má formação de folhas novas e redução do transporte de água. O Cu também pode ser tóxico se presente em excesso, pois gera radicais hidroxilas que prejudicam a célula, levando à degradação de ácidos nucléicos, proteínas e lipídios, ou por meio da reação com grupos tióis, deslocando outros metais essenciais em proteínas. Na planta, uma fração considerável do Cu nos tecidos parece estar ligada à plastocianina e a alguma fração protéica, ocorrendo também o acúmulo do nutriente em órgãos reprodutivos das plantas, porém com variações entre as espécies. O Cu é constituinte da oxidase do ácido ascórbico (vitamina c), do citocromo oxidase e da plastocianina, as quais se encontram nos cloroplastos. A plastocianina é essencial para cadeia de transporte de elétrons nos cloroplastos e está associada à grande parte do Cu na planta. Capítulo 10 6 Em plantas deficientes em cobre, a taxa fotossintética é reduzida por uma série de razões. Mais de 50% do cobre localizado nos cloroplastos estão ligados à plastocianina, que é um componente da cadeia de transporte de elétrons do fotossistema I (PSI), o qual tem sua atividade drasticamente afetada em plantas deficientes em Cu (Quadro 1). A citocromo oxidase, que contém cobre e ferro, atua no transporte terminal de elétrons na cadeia respiratória na mitocôndria, afetando diretamente a fosforilação oxidativa. A fixação biológica do nitrogênio é também afetada pelo Cu. Embora há evidências de um requerimento específico de Cu nos nódulos radiculares para o mecanismo de fixação, um efeito indireto, envolvendo a falta de suprimento de carboidratos para a nodulação e fixação do N2 em plantas deficientes, é mais provável. Cita-se ainda a necessidade do Cu para a síntese de leghemoglobina e menor atividade do citocromo oxidase no processo respiratório do bacteróide. O cobre e o zinco participam do grupo prostético da superóxido dismutase (Cu- Zn-SOD), enzima que ocorre em todos os organismos aeróbicos. Esta enzima protege o organismo dos efeitos deletérios causados pelos radicais superóxidos (O2 -) o qual pode ser formado quando um único elétron é transferido para o oxigênio. A enzima Cu- Zn-SOD é também um forte dreno de Cu e possui três isoenzimas: uma no citoplasma, outra no estroma do cloroplasto e outra no peroxissomo. O cobre também participa de enzimas de oxirredução com exceção de certas amino oxidases e galactose oxidases; assim, grande parte das enzimas com Cu reage com oxigênio e o reduz a H2O2 e H2O. O Cu também faz parte da enzima fenol oxidase, que catalisa a oxidação de compostos fenólicos a cetonas, durante a formação da lignina e da cutícula. Em condições de deficiência de Cu, existe uma relação estreita entre o teor de Cu nas folhas e o conteúdo de plastocianina, diamina oxidase e ascorbato oxidase, bem como da atividade do fotossistema I; contudo, isso parece não afetar, de maneira significativa, o conteúdo da clorofila (Quadro 1). Quadro 1 - Relação entre o teor de cobre e alguns componentes do cloroplasto e a atividade das enzimas diamina oxidase e ascorbato oxidase Cu Clorofila Plastocianina Diamina oxidase Ascorbato oxidase µg g-1 µmol g-1 nmolµmol-1 clorofila - - - µmol g-1 proteína h-1 - - - 6,9 4,9 2,4 0,86 730 3,8 3,9 1,1 0,43 470 2,2 4,4 0,3 0,24 220 3.1.4 - Deficiência e Toxidez de Cobre O teor de Cu nas plantas pode variar de 2 a 75 mg kg-1de matéria seca considerando-se que teores entre 5 a 20 mg kg-1 são adequados para o crescimento normal das plantas. Aquelas que são deficientes apresentam teores foliares menores Capítulo 10 7 que 4 mg kg-1, enquanto acima de 20 mg kg-1 podem ser observados sintomas de toxidez. De todos os micronutrientes, a deficiência de Cu é a mais difícil de diagnosticar devido às interferências de outros nutrientes, como P, Fe, Mo, Zn e S, as quais podem variar desde a promoção de sintomas similares em folhas até a promoção de efeito antagônico na absorção e na translocação do nutriente, como é o caso em citros e em outras fruteiras, nas quais aplicações em excesso de fertilizantes fosfatados podem provocar a deficiência de Cu. A deficiência de Cu pode afetar de forma mais severa a formação dos frutos e dos grãos do que o crescimento vegetativo das plantas. Essa situação pode ser exemplificada com os resultados apresentados no quadro 2, no qual o fornecimento de 0,5 µg de Cu proporcionou produção máxima de raízes e da parte aérea, porém afetou a formação de flores, não produzindo frutos de pimenta vermelha. Quadro 2 - Relação entre suprimento de cobre e crescimento e distribuição de matéria seca em plantas de pimenta vermelha Cu Raízes Folhas e caules Brotos e flores Frutos µg vaso-1 - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - g planta-1 - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - 0,0 0,8 1,7 0,16 - 0,5 1,6 3,3 0,28 - 1,0 1,5 3,2 0,38 0,87 5,0 1,4 3,0 0,36 1,81 As deficiências de Cu se manifestam da seguinte maneira:✔As folhas novas inicialmente verde-escuras e com aspecto flácido, com tamanho desproporcionalmente grande; ✔Em algumas espécies as folhas novas com aparência murcha e enrolada, ocorrendo inclinação de pecíolos e talos, as folhas tornam-se quebradiças e caem; ✔As folhas encurvam-se para baixo e as nervuras podem ficar salientes, sintoma típico em plantas deficientes de Cu em cafeeiro; ✔Redução da lignificação. Os vasos não lignificados do xilema são comprimidos por tecidos vizinhos, o que reduz o transporte de água e solutos; ✔Em cereais as folhas tornam-se mais estreita se retorcidas, com as pontas brancas. A deficiência de Cu provoca o abortamento de flores, produzindo espigas pouco granadas, devido á esterilidade do grão de pólen. O perfilhamento também é reduzido. Em casos de toxicidade de Cu (teores disponíveis no solo superiores a 300 mg dm-3), as alterações manifestam-se nas raízes, que tendem a perder vigor, adquirem cor escura, apresentam engrossamento e paralisam seu crescimento. O excesso pode provocar deficiência em Fe, já que o Cu em excesso atua em reações que afetam o Capítulo 10 8 estado de oxidação de Fe, limitando sua absorção e sua translocação na planta. Outro efeito de excesso de Cu é a redução na absorção de P. 3.2 - Ferro 3.2.1 - Ferro no Solo O ferro (Fe) é o elemento metálico mais comum na crosta terrestre, constituindo cerca de 5% da crosta terrestre, sendo o segundo elemento em abundância depois do alumínio entre os metais e o quarto em abundância depois do oxigênio e silício. O Fe no solo apresenta-se na forma divalente (Fe++ - ferroso) e trivalente (Fe+++ - férrico), dependendo do estado de oxirredução do ambiente. Muitos solos apresentam baixo teor de Fe, tanto na solução do solo como na forma trocável. O Fe trocável pode ser encontrado em diversos minerais primários, tais como augita, biotita, hornblenda e olivina. No seu estado ferroso (Fe++), o Fe está presente, sobreduto, em minerais primários e em alguns filossilicatos. A sua oxidação para forma férrica (Fe+++) leva à formação de estruturas cristalinas, como hidróxidos de Fe (goetita) e óxidos de Fe (hematita), que são minerais mais abundantes entre as formas cristali- nas de Fe em solos bem drenados. De maneira geral, a disponibilidade de Fe é regulada, principalmente, pelo potencial redox (Eh) do solo (condição de oxirredução) e pH (Figura 3). Sob condições de boa areação do solo ou pH alcalino, a forma Fe+++ é predominante, resultando na precipitação do Fe como oxido férrico (hematita). Entretanto, sob condições anaeróbi- cas, o Fe+++ é reduzido a Fe++ por meio de reações químicas inorgânicas ou por proces- sos microbiológicos, o que o torna disponível para as plantas. Na forma ferrosa (Fe++), o Fe entra no complexo de troca iônica dos solos. A forma férrica (Fe+++) é fortemente adsorvida pelos colóides do solo, formando complexos com os ácidos húmicos e colóides orgânicos, mas pode ser transportada pela água. Os solos sob condições de redução ou de alagamento tem alto conteúdo de Fe++, cujo conteúdo aumenta com a elevação da acidez, atingindo altos teores somente em solos fortemente ácidos, com valores de pH menores que 3, e em solos ricos em ácidos e colóides capazes de formar complexos solúveis com o Fe. Em geral, os solos estão bem providos de Fe, porém podem ocorrer situações de deficiência de Fe nas plantas em decorrência de precipitação na forma de compostos de baixa solubilidade. Trata-se de deficiência induzida ou secundária, manifestando-se pela falta de clorofila, denominada clorose. Em solos ácidos, ricos em fosfatos solúveis, pode ocorrer clorose férrica por precipitação do Fe+++ na forma de FePO4. Na presença de MnO2, o Fe ++ se oxida, passando à forma férrica (Fe+++) não disponível. Assim, a disponibilidade de Fe depende mais do equilíbrio Fe/Mn do que do seu teor absoluto. Também tem sido observada deficiência de Fe em função da ação de outros nutrientes metálicos, como o Cu, que pode substituir o Fe nos quelatos do solo, tornando-o menos disponível, bem como Zn e Co, que apresentam efeitos similares, mas de menor importância. Capítulo 10 9 Figura 3 - Influência do pH sobre a disponibilidade das formas de ferro na solução do solo 3.2.2 - Absorção, Transporte e Redistribuição de Ferro Admite-seque o íon requerido no metabolismo é o ferroso (Fe++), em cuja forma é absorvido pela planta, já que é de maior mobilidade e disponibilidade para incorporação em estruturas biomoleculares. Com a formação do íon férrico (Fe+++), parte dele é translocado para as folhas com quelato aniônico do citrato. O mecanismo de absorção de Fe pelas plantas é classificado em dois grupos, de acordo com a estratégia adotada para absorver: estratégia baseada na redução do Fe+++ a Fe++(Estratégia I), comum em não gramíneas; e baseada na quelação do Fe+++ (Estratégia II), comum em gramíneas (Figura 4). Essas estratégias, ou mecanismos de absorção de Fe, já foram bem estudados, e muitos genes envolvidos nas duas estratégias foram identificados e caracterizados. A) Estratégia I - Estratégia Baseada em Acidificação/Redução Em resposta à deficiência de Fe, prótons (H+) são lançados para a rizosfera pela H+-ATPases localizadas na epiderme das células da raiz, reduzindo o pH dessa região e tornando o Fe mais solúvel(Figura 4). Outro processo envolvido na estratégia I, o qual ajuda a manter a solubilização do Fe+++, é a quelação, em função da exsuda- ção de compostos fenólicos, ácidos orgânicos e flavinas pelas raízes. As plantas com estratégia I são capazes de absorver Fe apenas na forma Fe++. Assim, após a aproximação de Fe+++-quelato à membrana plasmática, a enzima Fe+++- quelato redutase reduz o Fe+++ a Fe++ (Figura 4). Depois de reduzido, o Fe é então transportado para dentro das células epidérmicas da raiz. Esse transporte é realizado pelo transportador IRT1, que também pode transportar Zn, Mn, Cd, Co e Ni. Estudos demostram que a Fe+++-quelato redutase e o transportador IRT1 são os principais componentes da estratégia I para absorção de Fe em plantas não gramíneas. Capítulo 10 10 Figura 4 - Estratégias I e II de absorção de ferro pelas plantas B) Estratégia II - Estratégia Baseada em Quelação Grande parte das plantas da família Poacea (gramíneas) absorve o Fe apenas quando quelatado por fitossideróforos (Figura 4), moléculas que possuem alta afinidade pelo Fe+++. Em resposta à deficiência de Fe, ácidos mugineicos, compostos pertencen- tes à família dos fitossideróforos, são sintetizados a partir de S-adenosil-L-metionina e liberados das células epidérmicas para a rizosfera. O complexo resultante da exsudação dos ácidos mugineicos (Fe+++- fitossideróforos - Fe+++-FS), é rapidamente absorvido pelas células epidérmicas da raiz por meio de transportadores de alta afinidade, denominados YS1 (Yellow Stripe 1) e YSL (YellowStripe 1-Like). O YS1 eYSL transporta o complexo Fe+++-FS em simporte com H+. Após absorção pelas células da epiderme radicular, o Fe precisa ser transloca- do para a parte aérea da planta via xilema. Devido à sua baixa solubilidade e alta reatividade, o Fe só é translocado na planta quando associado a uma molécula quelante, geralmente citrato. A necessidade de agente quelante, em geral ácidos orgânicos, para a translocação do Fe fica evidenciada com a observação de que plantas deficientes em Fe aumentam de modo significativo os teores de citrato, malato e succinato na seiva do xilema. Entretanto, estudos fisiológicos e moleculares indicam que os principais agentes quelantes para a translocação de Fe na planta são: citrato, nicotinamina e ácidos mugineicos (Figura 5). Ausência de nicotinamina prejudica a translocação de Fe para os tecidos novos, indicando papel importante de nicotinamina Capítulo 10 11 Figura 5 - Transportadores e substâncias envolvidastranslocação e redistribuição de ferro na planta. FS - fitossideróforos (ácidos mugineicos), NA - nicotinamina no transporte de Fe no floema. Compostos fenólicos também podem ser utilizados pelas plantas para translocação interna de Fe. No xilema, o Fe está quelatado para evitar sua precipitação e é levado até as folhas via fluxo respiratório. Uma vez no espaço apoplástico das folhas, o Fe precisa ser reabsorvido pelas células. Os transportadores YSL são capazes de transportar o complexo metal-nicotianamina e estão presentes em muitas espécies de plantas, tanto em monocotiledôneas quanto em dicotiledôneas. Os transportadores YSL15, TOM1 e OsIRT1, que estão envolvidos na absor- ção de Fe do solo, são também expressos nos tecidos vasculares do arroz, indicando que, além de importantes para aquisição de Fe, esses transportadores estariam envolvidos com a translocação de Fe no interior da planta. Após absorção pelas células, o Fe deve ser compartimentalizado em diferentes organelas (Figura 6), nas quais será utilizado em diversas funções. A compartimen- talização também evitará o acúmulo de Fe livre na célula, o que pode gerar toxidez. O Fe é requerido em grandes quantidades em cloroplastos e mitocôndrias, participando de vários processos metabólicos nessas organelas, como nos grupamentos Fe-S envolvidos nos mecanismos de transferência de elétrons na fotossíntese e na respiração. Dentro da célula, o Fe também pode ser armazenado nos vacúolos. Apesar da importância da compartimentalização do Fe, estudos de caracterização das proteí- nas de transporte que controlam a homeostase de Fe nessas organelas estão apenas iniciando. Os cloroplastos possuem maior pool de Fe nas células vegetais, acumulando em torno de 70-90% do Fe, e a deficiência de Fe nessa organela dificulta a transferên- cia de elétrons entre os dois fotossistemas, resultando em danos foto-oxidativos. Em cloroplastos, o transportador PIC1 (Permease In Chloroplasts1) está localizado na Capítulo 10 12 membrana interna dos plastídios e, provavelmente, transporta Fe para o interior da organela (Figura 6). Em plantas, a ferritina é uma proteína essencial à homeostase de Fe, seques- trando o excesso de Fe e, por consequência, prevenindo danos oxidativos. Ela apresenta atividade ferroxidase que oxida o Fe++ a F+++ e o armazena em seu núcleo na forma de oxido férrico hidratado com fosfato, podendo acumular de 2 a 4 mil átomos de Fe por ferritina. A ferritina se localiza tanto em cloroplastos (principal sitio de acúmulo) quanto em mitocôndrias, os dois principais locais de produção de espécies reativas de oxigênio (O2 -). Dentro da célula, um dos destinos do Fe é o vacúolo. Essa organela funciona como um grande reservatório envolvido na homeostase de matais na célula vegetal. Em resposta à disponibilidade de Fe no citosol, o vacúolo pode funcionar armazenando ou liberando esse elemento. Em plantas, muitos transportadores de influxo e efluxo de Fe presentes na membrana vacuolar já foram identificados (Figura 6). Em arabidopsis, o transportador FPNs/IREG2 transporta Fe do citosol para o vacúolo, e o transportador VIT1 (Vacuolar Iron Transporter 1) tem habilidade de transportar tanto Fe quanto Mn. Figura 6 - Compartimentalização e transportadores intracelulares de ferro 3.2.3 - Funções do Ferro na Planta Entre os micronutrientes essenciais às plantas, o Fe é requerido em maiores quantidades. As propriedades químicas do Fe, sobretudo a de sua habilidade de se interconverter entre as formas reduzidas (F++) e oxidadas (Fe+++) em reações redox reversíveis, predestinaram esse elemento a participar de reações de transferência de elétrons em vários processos biológicos importantes, tais como fotossíntese, respiração e síntese de clorofila. O Fe é componente de grupos prostéticos heme e centros Fe-S em muitas proteínas e enzimas. Capítulo 10 13 A principal função do Fe é a ativação de enzimas, atuando como grupo prostético. Participa em reações fundamentais de oxirredução, tanto em hemoproteí- nas, são enzimas que apresentam o complexo Fe-porfirina (citocromos, leghemoglo- bina, catalase, peroxidase, superóxido dismutase, etc.) como em proteínas não hémicas com ligação Fe-S, como ferredoxina, redutase do nitrato e do nitrito, nitrogenase e sulfato redutase. Outras enzimas que contêm Fe, mas que não atuam como oxirredutoras, são a aconitase e a xantina-oxidase. O papel da leghemoglobina no processo de fixação biológica de N2 atmosférico, que atua protegendo a enzima nitrogenase a presença de oxigênio. A catalase atua na dismutação de H2O2 para água e O2, e tem papel importante nos cloroplastos, na fotorrespiração e na glicólise, onde H2O2 é produzido. O H2O2 é um oxidante energético e em concentrações elevadas apresenta um efeito deletério aos tecidos vegetais. As peroxidases, que são abundantes em plantas, catalisam reações de redução de peróxidos orgânicos. Nessa reação, as peroxidases ligadas às paredes celulares catalisam a polimerização de fenóis com a produção da lignina. As peroxidases são abundantes na parede celular das células da endoderme nas raízes. O Fe catalisa a biossíntese da clorofila, já que faz parte de enzimas responsáveis pela sua formação. Na condição de deficiência de Fe, verifica-se a redução da concentração de clorofila na planta, bem como o acumulo de ácidos orgânicos, especialmente o cítrico e o málico (Quadro 3). Na ausência de Fe, a planta só apresenta pigmentos amarelos (xantofila e caroteno). Faz parte da ferredoxina, transportador de elétrons de natureza não porfirínica que atua na fotossíntese e na redução do nitrato (NO3 -). Outras enzimas que contêm Fe, mas que não atuam como oxirredutores, são a aconitase e a xantina oxidase. Quadro 3 - Relação entre suprimento de ferro e a concentração de clorofila em folhas e de ácidos orgânicos em raízes de aveia Tratamentos Clorofila Ácidos orgânicos Málico Cítrico Outros Total % - - - - - - - - - - - - - - - - µg g-1 - - - - - - - - - - - - - - - - - + Fe 100 3,9 1,1 2,3 7,3 - Fe 12 9,3 6,7 7,8 23,8 As proteínas heme mais conhecidas são os citocromos, que contém o comple- xo Fe-porfirina como grupo prostético. Os citocromos são constituintes da cadeia de transporte de elétrons nos cloroplastos, nas mitocôndrias e nas enzimas. Exemplo de enzimas heme são as catalases e peroxidases, que apresentam atividade muito reduzida na deficiência de Fe. Um bom exemplo de proteínas com grupamentos Fe-S é a ferredoxina, a qual participa de grande número de processos metabólicos como doadora de elétrons, por exemplo: para a redução do NADP+ na fase fotoquímica da fotossíntese, para a atividade da nitrito redutase, sulfito redutase, GOGAT e também para nitrogenase nas bactérias fixadoras de nitrogênio. Capítulo 10 14 Como resultado da deficiência de Fe, há redução na concentração de ferredoxi- na e de clorofila, bem como na atividade da nitrato redutase, enzima que utiliza NAD(P)H como poder redutor (Quadro 4). A concentração reduzida de clorofila em baixos níveis de Fe é reflexo da essencialidade desse nutriente na via de biossíntese dessa molécula. Quadro 4 - Concentração de clorofila e de ferrodoxina e atividade da nitrato redutase em folhas de citros com diferentes teores de ferro com base na matéria seca Teor de Fe Clorofila Ferrodoxina Nitrato redutase µg g-1 - - - - - - - - mg g-1 - - - - - - - - nmol g-1 mg h-1 NO3 - 96 1,80 0,82 937 62 1,15 0,44 408 47 0,55 0,35 310 47 → 81* - 0,63 943 *40 horas após a aplicação de solução de 0,2% FeSO3 em folhas intactas deficientes em Fe O ferro é essencial para a estrutura e a função da cadeia de transporte de elétrons nos cloroplastos e nas mitocôndrias. Nos cloroplastos, por exemplo, o Fe está presente nos três complexos do aparato fotossintético, fotossitema II (PSII), com dois átomos de Fe, citocromo, comseis átomos de Fe, e fotossitema I (PSI), com doze átomos de Fe, além de dois átomos de Fe na ferrodoxina solúvel, que transfere elétrons do PSI para a enzima ferrodoxina NADP+ redutase, a qual, por sua vez, reduz o NADP+ a NADPH. Portanto a deficiência de ferro pode reduzir, de modo significativo, a taxa fotossintética e, por conseguência, a produtividade das plantas. 3.2.4 - Deficiência e Toxidez de Ferro Em relação ao metabolismo do Fe na planta, deve-se levar em conta que esse nutriente apresenta baixa mobilidade nos tecidos vegetais. Essa mobilidade é afetada, de modo negativo, por vários fatores, como elevado conteúdo de fósforo, deficiência de potássio, quantidade elevada de manganês e baixa intensidade luminosa. As concentrações de Fe nas plantas variam entre 10 e 1.500 mg kg-1 de mate- ria seca da planta, dependendo da parte da planta e da espécie, considerando-se as concentrações entre 50 e 100 mg kg-1 como adequadas para o crescimento normal das plantas. As plantas deficientes apresentam concentrações foliares menores que 10 mg kg-1, enquanto, com valores acima de 80 mg kg-1, podem ser observados sintomas de toxicidade em algumas espécies. O efeito mais característico da deficiência de Fe é a incapacidade das folhas jovens sintetizar clorofila, tornando-se amarelas (cloróticas), enquanto apenas as nervuras podem ficar verdes durante algum tempo, destacando-se como um reticulado fino (rede verde fina das nervuras sobre fundo amarelo). Com a evolução da deficiên- cia, as folhas podem ficar de cor branca. Em casos de deficiência forte, o amarelecimento pode ser total e aparecem zonas necróticas nos bordos do limbo, Capítulo 10 15 produzindo-se uma queda precoce das folhas e, em casos muito graves, a desfolha total. O Fe é considerado imóvel na planta quanto à redistribuição na planta. A entrada de Fe no floema é reduzida provavelmente pela formação de compostos insolúveis. Contudo, uma vez que o Fe é levado a um órgão pelo xilema, sua redistribuição é fortemente limitada. Muitos sintomas de deficiência de Fe ocorrem pela baixa taxa de translocação no floema ou por sua redistribuição, o que pode provocar acumulação de Fe nas raízes e folhas velhas, enquanto, nas folhas jovens, há deficiência do nutriente. Devido à rapidez de conversão do Fe solúvel em compostos insolúveis não disponíveis às plantas, são raros os casos de toxidez por esse nutriente. Solos com alto teor de Fe total superior a 50 g kg-1 não provocam efeitos tóxicos na maioria das plantas. No arroz irrigado por inundação, no qual os teores de Fe++ podem ser muito elevados, tem-se observado toxidez de Fe. O principal sintoma da toxidez por excesso de Fe no arroz é o bronzeamento das folhas, que é caracterizado por pigmentos marrons que iniciam nas folhas mais velhas, podendo levar a redução no crescimento da planta, esterilidade das espiguetas, baixa produtividade e, em casos mais severos, morte da planta. 3.3 - Manganês 3.3.1 - Manganês no solo O teor de manganês (Mn) na crosta terrestre é de aproximadamente, 900 mg kg-1, sendo considerado segundo micronutriente mais abundante no solo depois do ferro. O Mn no solo é proveniente de óxidos, carbonatos, silicatos e sulfetos. Os óxidos e sulfetos de Mn são as formas encontradas com maior frequência nos solos, sendo comum a sua ocorrência em associação com o ferro. Nos solos brasileiros, os teores de Mn total encontram-se na faixa de 10 a 4.000 mg kg-1e os teores solúveis de 0,1 a100 mg kg-1. A faixa de variação no solo é muito grande, por causa da ocorrência da variação do material de origem. Análises da solução do solo têm demonstrado que mais de90% do Mn está complexado a compostos orgânicos. Devido a seus diferentes graus de oxidação (Mn++, Mn3+ e Mn4+) e à sua propriedade de passar com facilidade de uma forma para outra, o comportamento do Mn no solo é complexo. A presença de Mn disponível no solo às plantas (Mn++) depende tanto do valor do pH como do potencial redox do solo. Em valores de pH superiores a 5,5 a oxidação por ação biológica em solos bem arejados é favorecida (Mn3+ ou Mn4+), porém há diminuição de sua disponibilidade às plantas. Por outro lado, as formas oxidadas são reduzidas, tornando-se mais disponíveis em valores de pH mais ácidos e em solos com menores valores de potencial redox. Capítulo 10 16 Os principais fatores do solo que determinam a disponibilidade de Mn são o pH, as condições de oxirredução, os teores de matéria orgânica e o equilíbrio com outros cátions, principalmente ferro e cálcio. Os valores de pH entre 6,0 e 6,5 parecem ser críticos, assim,valores baixos de pH favorecem a redução, enquanto valores altos contribuem para a oxidação. O manganês é mais móvel no solo do que o ferro, assim, distribui-se no perfil do solo de forma diferente do Fe. Considerando que as substâncias húmicas podem facilmente reduzir o Mn e que ele se oxida com dificuldade em meio ácido, tem-se, nessas condições, maior migração do Mn no perfil do solo. Sob condições de solo ácido, a disponibilidade de Mn é alta devido à maior solubilidade dos compostos que o contém. A diminuição do potencial de oxirredução do solo, por exemplo, pela inundação, favorece a solubilização dos óxidos de manganês e maiores teores de Mn++ são observados, o que pode alcançar níveis tóxicos para as culturas. 3.3.2 - Absorção, Transporte e Redistribuição de Manganês O manganês pode ser absorvido pelas plantas como Mn++. Considera-se que as plantas não podem absorver o Mn4+, enquanto se desconhece sua capacidade de absorver proporções apreciáveis de Mn3+, já que este é muito instável. Acredita-se existir um equilíbrio dinâmico entre as formas de Mn; os microrganismos são responsá- veis pela sua oxidação em valores de pH entre 5,0 e 7,9, ao passo que a oxidação não biológica ocorre somente acima do valor de pH 8,0. Os transportadores que absorvem cátions divalentes, como Fe++ podem também estar envolvidos na absorção e na translocação de Mn pelas plantas. Transportadores de cátions, como Zn, Fe, Cu, Co e Ni, foram caracterizados como transportadores de Mn, atuando na absorção e na translocação desse nutriente em plantas. Foram caracterizadas, em plantas, diversas famílias de proteínas transportadoras de Mn, como os membros da família YSL, CDF/MTF, CAX, ZIP, CCX, VIT/CC1 e P2A-ATPase (Figura 7). Em arroz, OsYSL2 está envolvido na translocação de complexos Mn++- nicotianamina pelo floema e no carregamento nas sementes. Os YSL6 está localizado na membrana plasmática e possui envolvimento na retirada do excesso de Mn do apoplasto, em condições de toxidez desse nutriente. A família CDF/MTP está envolvida no transporte de diversos íons (Mn++, Fe++, Zn++, Ni++, Cd++ e Co++) do citosol para compartilhamentos intracelulares em antiporte com H+. Proteínas da família CAX pertencem à superfamília de transportadores antiporte de Ca++/cátions, podendo transportar diversos íons e mediando o transporte de cátions para o vacúolo. Capítulo 10 17 Figura 7 - Transportadores de manganês nas células das plantas Os transportadores da família ZIP transportam diversos íons metálicos (Mn++, Fe++, Zn++, Cd++ e Co++) para o citosol. Já o membro IRT1 possui alta afinidade para transporte de Fe++ e baixa afinidade para outros íons, como Mn++. Esses transportadores descritos atuam no fluxo intracelular de Mn, mantendo a homeostase desse nutriente no citosol e nos diferentes compartilhamentos subcelula- res. Plantas possuem bombas iônicas que usam energia do ATP para bombear íons para organelas, podendo contribuir para homeostase de Mn em nível subcelular. Apesar da importância de diversos membros da família YSL, CDF/MTF, CAX, ZIP, CCX, VIT/CC1 e P2A-ATPase no fluxo intracelular de Mn++, esses transportadores não estão relacionados com a absorção de Mn++ pelas raízes da soluçãodo solo. O transportador IRT1 induzido por Fe pode atuar na absorção de Mn++ nas raízes, sendo a expressão de IRT1 em cevada de 40% maior em genótipos eficiente na absorção de Mn++. O transportador NRAMP1 em Arabidopsis com expressão específica na raiz, na membrana plasmática, atua na absorção de Mn++ na faixa de alta afinidade. Da mesma forma o transportador NRAMP5, em arroz é expresso na raiz e localizado na membrana plasmática. Desse modo, membros específicos da família NRAMP são essenciais para a absorção de Mn++ da solução externa e podem estar envolvidos na deficiência de absorção desse nutriente em diversas espécies cultivadas. O transporte do manganês no xilema é na forma livre de Mn++, devido possivelmente, a baixa estabilidade do quelato de Mn. A concentração de Mn é menor em exsudatos do floema do que em tecidos das folhas, indicando que o pequeno transporte do nutriente via floema é responsável pela sua baixa concentração em frutos, sementes e órgãos de reserva das raízes. O Mn é pouco redistribuído na planta, Capítulo 10 18 em consequência, os sintomas de deficiências se manifestam inicialmente nas folhas mais novas. Em condições de bom suprimento de Mn, as folhas acumulam altas concentra- ções conforme avança a idade da planta, sendo uma pequena parcela do nutriente é translocado das folhas velhas para as novas em crescimento, onde o nutriente se encontra em menor concentração. Contudo, deve-se considerar que a concentração de Mn varia grandemente entre partes da planta e durante o período vegetativo. 3.3.3 - Funções do Manganês na Planta O manganês é essencial para a síntese de clorofila, e sua função principal está relacionada com a ativação de enzimas. O Mn pode atuar no balanço iônico como um contra íon de grupos aniônicos. Grande número de enzimas é ativado pelo Mn, especialmente aquelas envolvidas em metabolismos secundários. No entanto, não se conhece ainda o papel do Mn nas reações de oxirredução. As funções bioquímicas do Mn são semelhantes as do magnésio, quanto a ativação enzimática. Os dois nutrientes, ao desempenhar suas funções, formam pontes entre o ATP e as enzimas transferidoras de grupos (fosfoquinases e fosfotransferases). No ciclo de Krebs ativam as enzimas descarboxilases e desidrogenases, embora em alguns casos o Mg possa substituí-lo. Outras enzimas têm exigência específica por Mn, tais como: enzima málica e oxidase do ácido indolacético. Enzimas ativadas por Mg e por Mn: sintetase da glutationa, metionina, ATPase, quinase pirúvica, enolase, desidrogenase isocítrica, diocarboxilase pirúvica, pirofosforilase, glutamil sintetase e glutamil transferase. A polimerase do RNA é ativada pelo Mn o que dá ao micronutriente um papel indireto na síntese de proteínas e na multiplicação celular. Embora o Mg possa substituir o Mn na ativação da polimerase do RNA, a ativação por Mn é mais eficiente. Para a mesma atividade, a enzima requer uma concentração de Mg dez vezes maior do que a de Mn. A função do Mn mais bem estudada em plantas é a sua participação, juntamente com o cloro no fotossistema II (PS II), na reação de Hill (fotólise da água), sendo responsável pela quebra fotoquímica da água e liberação de oxigênio no processo fotossintético. A deficiência de Mn inibe a produção de substancias fenólica e de lignina que são consideradas importantes para a defesa das plantas contra infecções fúngicas. Além disso, a deficiência de Mn tem participação efetiva no conteúdo de carboidratos não estruturais (Quadro 5). Essa diminuição no conteúdo de carboidratos é, em particular, evidente nas raízes, sendo provavelmente, fator responsável pela redução no crescimento de raízes de plantas deficientes nesse nutriente. Capítulo 10 19 Quadro 5 - Efeito do manganês na produção de matéria seca e no teor de carbaoidratos solúveis Característica avaliada Folha Caule Raízes - Mn + Mn - Mn + Mn - Mn + Mn Matéria seca (g planta-1) 0,46 0,64 0,38 0,55 0,14 0,21 Carboidratos solúveis (mg g-1) 4,00 17,50 14,50 35,60 0,90 7,60 (-Mn) ausência de manganês, (+Mn) presença de manganês 3.3.4 - Deficiência e Toxidez de Manganês As concentrações de Mn nas plantas variam entre 5 e 1.500 mg kg-1na matéria seca da planta, dependendo da parte da planta e da espécie, considerando-se concentrações entre 20 e 500 mg kg-1como adequadas para crescimento e desenvolvi- mento normal das plantas. Em muitas plantas, as folhas com sintomas de deficiência possuem concentrações de Mn menores que 20 mg kg-1com base no tecido seco, enquanto concentrações superiores a 700 mg kg-1são consideradas tóxicas a maioria das plantas cultivadas. Como o Mn é pouco móvel na planta, os sintomas de deficiência se manifestam nas folhas mais novas que, inicialmente, mostram um amarelecimento entre as nervuras (clorose), e dependendo da espécie, seguidas de lesões necróticas. Além das nervuras, uma estreita faixa do tecido ao longo da folha permanece verde,que se diferencia da deficiência de ferro por formar um reticulado grosso. Os sintomas de deficiência de Mn podem ocorrer tanto em folhas jovens como em folhas intermediárias. Muito mais frequente que a deficiência, a toxidez de Mn tem-se manifestado em muitas culturas, contudo, o nível tóxico apresenta grandes variações, dependendo da espécie, da cultivar e das condições ambientais, e pode ser corrigida pela calagem. Nas condições de solos ricos em húmus, com valores de pH menor ou igual a 5,5 e condições redutoras (baixo potencial redox), pode ocorrer altos teores de Mn++. Em valores baixos de pH, sua forma absorvida (Mn++) pode ser abundante e levar à absorção pelas plantas em quantidades superiores àquelas consideradas ótimas para a planta. Frequentemente, dada a interação do Mn com outros nutrientes, o seu excesso pode manifestar-se como deficiência induzida de cálcio, magnésio e, em especial, de ferro e, só posteriormente, como toxidez. Esta manifesta primeiramente nas folhas mais novas, através de pontuações de cor marrom ao longo das nervuras, que tornam necróticas, contornadas por zonas cloróticas. 3.4 - Zinco 3.4.1 - Zinco no solo O teor de zinco (Zn) na crosta terrestre é de aproximadamente, 70 mg kg-1; e na litosfera 8 mg kg-1, em media.Já nas rochas ígneas, esse teor varia entre 40 (granito) e 130 mg kg-1 (basalto), e nas rochas sedimentares, entre 16 (arenito) e 96 mg Capítulo 10 20 kg-1 (folhelho). Nos solos, os teores de Zn total, em geral, encontram-se na faixa de 10 a 300 mg kg-1 e não se correlacionam com sua disponibilidade para as plantas. O zinco é encontrado nos solos e nas rochas na forma divalente (Zn++). Na fração mineral dos solos, ele se encontra, sobretudo, em minerais ferromagnéticos, como biotita, magnetita, hornblenda e sulfeto de Zn. Esses minerais, ao sofrerem intemperização, liberam Zn, que pode ser adsorvido pelos colóides do solo como cátion divalente ou formar complexos com a matéria orgânica do solo (MOS). Nos solos das regiões tropicais alta proporção do Zn se encontra em formas adsorvidas na argila e na MOS. Estima-se que 30-60% do Zn adsorvido esteja preso aos óxidos e hidróxidos de ferro e esta retenção aumenta com a elevação do pH, reduzindo a sua disponibilidade às plantas. A disponibilidade de Zn às plantas é afetada pelo valor de pH do solo, o que faz com que ele se encontre com maior disponibilização em solos mais ácidos, apresentan- do disponibilidade mínima em valores de pH acima de 7 (Figura 1). Portanto a calagem excessiva pode provocar deficiência de Zn. Por outro lado, em solos com valor de pH ácido, a deficiência de Zn pode aparecer depois da aplicação de adubos fosfatados solúveis em razão da formação de fosfatos de Zn de baixa solubilidade. No solo, o Zn é encontrado nos horizontes superficiais, o que está relacionado ao fato de: (a) os resíduos das plantas se depositaremna superfície, na qual, pela decomposição, liberam este nutriente; e (b) o Zn apresenta baixa mobilidade no perfil do solo, devido à sua capacidade de ser fixado pela MOS, argilas silicatadas e pelos óxidos e hidróxidos de Fe. O zinco apresenta-se em três formas principais no solo, responsáveis pelo seu suprimento às plantas: 1) Zn na solução do solo; 2) Zn trocável, adsorvido pelos colóides; 3) Zn fixado. Essa forma pode atingir valores importantes, já que o Zn é capaz de substituir alguns elementos da estrutura da argila (Al, Mn e Fe), permanecendo indisponível para a planta. 3.4.2 - Absorção, Transporte e Redistribuição de Zinco O zinco é absorvido pelas raízes das plantas, principalmente, na forma divalente (Zn++), com variação entre diferentes espécies quanto à taxa de absorção, ao transporte para a parte aérea e à compartimentalização em diferentes organelas. Além da forma Zn++, ele também é absorvido ao ser sequestrado por ligantes em duas estratégias, a semelhança da absorção do ferro: na estratégia I (baseada na acidificação), as raízes excretam metabólicos, como ácidos orgânicos (malato, citrato, oxaloacetato etc.) e H+, que aumentam a solubilidade de compostos contendo zinco e liberam o Zn++ para ser absorvido por proteínas de transporte localizadas na membrana plasmática das células das raízes; na estratégia II (baseada na quelação), o efluxo de fitossideróforos complexam o Zn, que é então absorvido por transportadores capazes transportar o complexo Zn-quelato. Capítulo 10 21 A absorção de Zn++ocorre, sobretudo, por canais de cátions não seletivos (absorção passiva). A baixa concentração de Zn++no citosol, devido à sua comparti- mentalização subcelular, facilita a entrada de íons de Zn++ nas células da raiz. O carregamento do xilema constitui uma etapa-chave na translocação de Zn++ para a parte aérea, porque a hiperpolarização causada pela atividade da H+-ATPase da membrana plasmática nas células do parênquima do xilema restringe a saída do Zn++ da célula. Para o carregamento do xilema com Zn++, atuam os transportadores da família HMA (ATPase de metal pesado/família P1B-ATPase), que usam a energia da quebra do ATP para bombear íons metálicos, como Zn++, Fe++,Cu++, etc. A absorção e a translocação de Zn++ na planta dependem de diversos tipos de transportadores de membrana, bombas de H+ e bombas de metais (Figuras 8). Diversos genes já identificados codificam os transportadores de Zn, destacando-se ZIP (família Zinco/Ferro Permease) HMA e MTP (Proteína de tolerância a metais). Proteínas da família ZIP estão envolvidas com o influxo de Zn++nas células; já alguns membros da família HMA participam do efluxo de Zn++ da célula, enquanto a família MTP, do influxo de Zn++ para organelas, como o vacúolo. Figura 8 - Transportadores de zinco nas células das plantas Os principais transportadores envolvidos na absorção de Zn++ são IRT3, ZIP1, ZIP2 e ZIP9. O IRT3 é expresso durante a deficiência de Zn, com forte expressão nas raízes, mostrando sua importância participação na absorção e na translocação de Zn++ em condições de deficiência desse nutriente na planta. Outra família de transportadores de Zn envolvida no efluxo ou na compartimen- talização de Zn em organelas é a família CDF (Facilitador de Difusão de Cátions), também conhecida como família MTP (Proteínas de Tolerância a Metais). Os membros dessa família de transportadores estão localizados na membrana plasmática, na membrana do vacúolo, no complexo de Golgi e no retículo endoplasmático, com a importante função de manter a concentração citosólica de Zn++ adequada na célula. O zinco é transportado das raízes para a parte aérea pelo xilema, predominantemente na forma de Zn++, o que talvez se explique pela baixa constante de Capítulo 10 22 estabilidade por quelantes orgânicos. Este fato ajuda a entender a diminuição do transporte do Zn no xilema, com o aumento do P no meio, devido à precipitação do micronutriente pelo fosfato. Alguns autores consideram o Zn altamente móvel, enquanto outros consideram de mobilidade intermediária. Verifica-se, contudo, que esse nutriente se encontra concentrado em grande parte na raiz, mas, nos frutos, o seu conteúdo é sempre muito baixo. 3.4.3 - Funções do Zinco na Planta O zinco atua como cofator enzimático e é essencial para a atividade, regulação e estabilização da estrutura protéica ou uma combinação dela: ✔Constituinte estrutural de enzimas desidrogenases, comoalcoólica, lactato, malato e glutamato desidrogenase, de superóxido dismutase e de anidrase carbônica. Esta ultima catalisa a dissolução do CO2 como passo prévio à sua assimilação na fotossíntese; ✔Participa da ativação enzimática da trifosfato desidrogenase, enzima essencial na via glicolítica e para os processos de respiração e fermentação, e das aldolases, encarregadas pelo desdobramento do éster difosfórico da frutose. ✔O zinco, além de auxiliar na formação de sementes, é necessário para a produção de clorofila, para o metabolismo do nitrogênio e para a formação de amido e de hidratos de carbono. O zinco está envolvido em três distintos mecanismos na síntese e no conteúdo de proteínas nas plantas. Primeiro, o Zn é um componente da RNA polimerase, que pela polimerização de nucleotídeos, leva à síntese do RNA. Segundo, o Zn é um constituinte dos ribossomos que atua na manutenção da integridade estrutural dessas organelas. Terceiro, é que o Zn regula a atividade da RNAse, que atua na desintegra- ção do RNA. Há clara correlação inversa entre o suprimento de Zn e a atividade da RNAse e também entre a atividade da RNAse e o conteúdo de proteínas e o cresci- mento da planta. O zinco também está envolvido no metabolismo de auxinas, em particular no ácido indolacético (AIA). Ainda não está bem entendido a participação do Zn no processo. O baixo nível de AIA em plantas deficientes em Zn pode ser resultado da alta atividade da AIA-oxidase. Muitos trabalhos suportam também, que o Zn é requerido para a síntese do aminoácido triptofano, um precursor da biossíntese do AIA. Juntamente com o cobre, o zinco participa do grupo prostético do superóxido dismutase (Cu-Zn-SOD). Esta enzima catalisa a conversão do radical superóxido (O2 -) para peróxido de hidrogênio mais oxigênio, protegendo os tecidos das plantas dos efeitos deletérios causados pelo radical superóxido. Capítulo 10 23 3.4.4 - Deficiência e Toxidez de Zinco Os teores de Zn nas plantas variam entre 20 e 150 mg kg-1na matéria seca da planta. Considera-se que teores inferiores a 25mg kg-1caracterizam deficiência do nutriente nas folhas. Devido à baixa mobilidade, os sintomas de deficiência de zinco se manifestam nas folhas mais novas. As deficiências se manifestam em baixa atividade da gema terminal, o que se traduz em crescimento vegetativo em forma de roseta em algumas espécies de plantas, enquanto, em outras, os entrenós tornam-se curtos. Os sintomas iniciam-se nas folhas mais jovens, as quais apresentam zonas cloróticas que terminam necrosadas, afetando todo o parênquima foliar e as nervuras. O tamanho das folhas é menor, permanecendo sem se destacar na planta. Nas folhas adultas, esses sintomas não são comuns. Os sintomas mais típicos da carência do elemento consistem no encurtamento dos internódios e na produção de folhas novas pequenas, cloróticas e lanceoladas e formação de tufos de folhas na ponta dos ramos das plantas perenes (laranjeiras, cafeeiro e pessegueiro) ou plantas anãs (milho, arroz, cana de açúcar). A interação entre Zn e P na planta tem sido bastante estudada, com verificação de altos teores de P que induzem a deficiência de Zn. As possíveis causas atribuídas a este antagonismo são: precipitação de compostos de P-Znno solo; inibição não competitiva no processo de absorção; menor transporte do Zn das raízes para a parte aéreae, principalmente, o “efeito de diluição”. O “efeito de diluição” pode ser entendido como a diminuição do teor de um determinado nutriente na matéria seca (no caso o Zn), devido ao crescimento da planta em resposta à aplicação de outro nutriente deficiente no meio (no caso o P). Assim, o crescimento da planta em resposta à aplicação do P, pode diluir o teor de Zn na matéria seca a valores abaixo do nível crítico, favorecendo o aparecimento de sintomas de deficiência do micronutriente. Não é mormal a ocorrência de toxidez por Zn em plantas cultivadas em solos com valor de pH elevado, visto que, nessa situação, ocorre intensa imobilização do Zn. Entretanto, é possível verificar toxidez em solos ácidos ou em solos cujo material de origem são rochas ricas nesse nutriente. Nos casos de toxidez de Zn, teores na folha acima de 400 mg kg-1, as mesmas apresentam pigmentação vermelha no pecíolo e nas nervuras, sendo também verificada clorose em razão da baixa concentração de Fe (o excesso de Zn impede a redução do Fe e o seu transporte na planta). 3.5 - Níquel 3.5.1 - Níquel no solo O teor de níquel (Ni) na crosta terrestre é de, aproximadamente, 160 mg kg-1 e é um componente comum de rochas ígneas. Os teores desse nutriente no solo pode variar entre 1 e 200 mg kg-1. As fontes mais importantes de Ni são as pentandlitas (pirrotita e calcopirita) e as enlateritas (garnierita). Capítulo 10 24 O teor de Ni no solo é abaixo do nível capaz de proporcionar toxidez para as plantas. Contudo, solos originados de rochas ígneas ultrabásicas podem apresentar teores de Ni 20 a 40 vezes maior, o que causa toxidez. 3.5.2 - Absorção, Transporte e Redistribuição de Níquel A absorção de Ni pelas plantas ocorre na forma divalente (Ni++). Da mesma forma que outros micronutrientes catiônicos, que são absorvidos e translocados na planta por diversas famílias de transportadores, o Ni é absorvido e translocado por três famílias de transportadores: YSL (YellowStripeLike), ZIP (proteína ZRT/IRT) e NRAMP (proteína de macrófago associada à resistência natural) (Figura 9). No entanto, uma família de transportadores pode ter funções distintas, como o NRAMP, associado à absorção de Mn++(NRAMP1 e NRAMP5), e o NRAMP4, possivelmente relacionado com efluxo de Ni do vacúolo. A absorção do Ni pelo sistema de transporte de Fe ocorre pelo transportador IRT, um membro da família ZRT. Figura 9 - Transportadores de níquel nas células das plantas Além dos transportadores envolvidos na absorção de Ni++ pelas raízes, outros contribuem para a homeostase de Ni em nível subcelular. Em Arabidopsis, foi caracterizado o transportador AtIREG2 como sendo importante para compartimenta- lizar o Nino vacúolo, diminuir a toxidez e possibilitar o seu transporte para a parte aérea. Como a deficiência de Fe promove o aumento da expressão de transportadores IRT, que também estão envolvidos na absorção de outros metais pelas raízes, a absorção de Ni aumenta com a deficiência de Fe; assim, o excesso de Ni absorvido pode ser acumulado no vacúolo, diminuindo a toxidez potencial na parte aérea. O transportador IREG1 está associado ao transporte de Ni para o vacúolo, com maior expressão em plantas hiperacumuladora de Ni. Assim, o transporte de Ni para o vacúolo é uma etapa essencial ao acúmulo de Ni e regula a homeostase de Ni nas células e na planta. Capítulo 10 25 Existem plantas hiperacumuladoras de Ni, como as da família Alyssum, sendo o aminoácido histidina um provável agente quelante de Ni em espécies dessa família. Assim, é sugerido que plantas hiperacumuladoras de Ni sejam capazes de apresentar alta concentração de histidina livre nas raízes, aumentando o carregamento do xilema com Ni. Deve-se ressaltar que mesmo plantas não hiperacumuladoras de Ni podem necessitar de histidina livre nas raízes para promover o transporte eficiente de Ni para a parte aérea. 3.5.3 - Funções do Níquel na Planta O Ni faz parte da enzima uréase, a qual contém dois átomos por molécula, e participa da hidrólise enzimática da uréia, transformando-a em NH4 + e CO2. Desse modo, esse nutriente é importante para as plantas que recebem adubações com uréia, exercendo papel importante no metabolismo do nitrogênio na planta. Alguns resultados de pesquisa mostraram respostas de plantas, como o arroz e a soja, à adição de Ni quando se utilizou uréia como fonte de nitrogênio. Na soja, o Ni pode aumentar a atividade da uréase foliar, impedindo a acumulação de teores tóxicos de uréia. Além disso, existem relatos de que a presença de Ni aumenta a tolerância das plantas ao ataque de doenças e, a aplicação foliar de Ni pode diminuir o número de flores malformadas em mangueiras devido ao seu efeito na redução da produção de etileno. 3.5.4 - Deficiência e Toxidez de Níquel Os teores de Ni nas plantas variam entre 0,3 e 3,5 mg kg-1 na matéria seca da planta, dependendo da parte amostrada e da espécie, considerando-se teores próximas a 1,5 mg kg-1 como adequados ao crescimento normal das plantas. Os teores críticos que levam à toxidez de espécies sensíveis e moderadamente tolerantes são maiores que 10 e maior que 50 mg kg-1, respectivamente. Os sintomas de deficiência de Ni em leguminosas caracterizam-se pelo acúmulo de uréia, provocando necrose dos folíolos. A uréia é produzida durante o metabolismo do nitrogênio, sendo um processo comum nas plantas; porém, a presença de Ni evita a acumulação de uréia na planta. Plantas de tomate deficientes em Ni apresentam clorose em folhas jovens, evoluindo para necrose do meristema. A toxidez de Ni ocorre nos solos com elevado teor do nutriente, como naqueles originados de serpentina. Dada a competição do Ni++, com o Fe++ e o Zn++ no processo de absorção, é comum observar inicialmente, deficiência desses micronutrientes como o primeiro sintoma da toxidez de Ni. Nas gramíneas o sintoma de toxidez consiste em clorose ao longo das nervuras; a folha inteira pode tomar uma tonalidade esbranquiça- da e, em casos extremos, há necrose nas margens. Nas dicotiledôneas, aparece uma clorose internerval, sintoma parecido com a deficiência de Mn. Capítulo 10 26 4 - Micronutrientes Aniônicos 4.1 - Boro 4.1.1 - Boro no Solo O teor de boro (B) total nos solos varia entre 3 e 100 mg kg-1, com valores médios entre 10 e 20 mg kg-1, pequena fração desse está na forma disponível às plantas, variando de 0,4 a 5 mg kg-1. Em geral, os solos de regiões costeiras contêm entre 10 a 50 vezes mais B que os demais solo, o que se deve à origem marinha. O boro disponível para as plantas encontra-se na solução do solo como ácido bórico (H3BO3) em condições de valor de pH neutro, formando complexos com Ca, ou ligado a compostos orgânicos solúveis para que esse nutriente seja absorvido pelas plantas. Na fase sólida do solo, o B é encontrado em três formas: nos minerais silicatos; adsorvido nas argilominerais, na matéria orgânica do solo (MOS) e nos hidróxidos de alumínio e de ferro. A MOS é a principal fonte de B às plantas. Portanto, solos com baixos teores de matéria orgânica e a ocorrência de fatores que diminuem a sua mineralização, predispõem as culturas à carência desse nutriente. Diversos fatores influenciam a disponibilidade de B no solo. Sua fixação pelos colóides do solo depende do valor de pH, sendo máxima em valores de pH entre 8 e 9. Assim em condições de excesso de calagem pode ocorrer redução na disponibilidade de B. A mineralização da MOS constitui-se em uma fonte importante de B para a planta. A textura do solo também tem influência, já que, em solos de textura arenosa, o B pode ser facilmente lixiviado, enquanto, naqueles de textura argilosa, sua mobilidade é quase nula. Assim, as aplicações de B em solos argilosos proporcionam pequenas perdas por lixiviação, ao contrário do que ocorre nos solos arenosos. Em geral, oB solúvel encontra-se nas camadas superficiais dos solos bem drenados, ligado a MOS, o que, em condições de períodos de seca, pode dificultar a absorção do B pelas plantas. 4.1.2 - Absorção, Transporte e Redistribuição de Boro O Boro é absorvido pelas raízes das plantas na forma de ácido bórico (H3BO3), a principal forma solúvel na solução do solo e, provavelmente, como ânion borato [(B(OH)4 -)] em valores elevados de pH, tanto por via radicular como foliar. A carga iônica presente nos nutrientes cria a necessidade de proteínas transportadoras, localizadas nas membranas para seu fluxo, permitindo que as plantas regulem a absorção e o transporte de diversos nutrientes. Com exceção, o B no pH fisiológico está na forma não iônica, na forma de ácido bórico, possuindo alta permeabi- lidade em membranas (difusão). Entretanto, em baixa concentração, a difusão não representa um mecanismo significativo para o influxo de B nas células radiculares. Além da difusão pela membrana, tem sido demonstrado que canais transmembrana Capítulo 10 27 podem aumentar o influxo de B, já que o uso de inibidores de canais diminui a absorção desse nutriente. O ácido bórico pode entrar na célula por meio da difusão ou por canais seletivos e não seletivos (absorção passiva). O efluxo ativo de B ocorre por meio de antiporte com H+ contra o gradiente eletroquímico do borato (Figura 10). Estudos moleculares em Arabidopsis revelaram a presença de dois transportadores envolvidos no fluxo de B, quando presente em baixas concentrações: NIP5.1 (canal iônico) e BOR1 (transportador iônico). Plantas mutantes, sem o transportador NIP5.1, mostraram forte decréscimo na absorção de B e na produção de biomassa em baixas concentrações de B no meio externo, evidenciando a importância do transportador NIP5.1 na absorção de B em plantas quando esse nutriente está em baixas concentrações. Adicionalmente, canais tipo aquaporinas podem transportar B, mas não sendo responsivo ao status de B na célula. Figura 10 - Transportadores de boro nas células das plantas A despeito da rápida entrada de B nas células, alguns tecidos da planta podem manter concentração de B abaixo do meio externo, evidenciando a presença de um transporte ativo de B para fora da célula (efluxo) (Figura 10). Como o efluxo de B da célula ocorre contra seu gradiente de concentração, deve ser feito, provavelmente, em cotransporte com H+, necessitando da atividade da bomba de H+ presente na membrana plasmática. A necessidade do mecanismo de efluxo se deve ao requerimen- to do B ocorrer, sobretudo, no meio extracelular (para formação da parede celular), além de efluxo para o xilema, que é essencial ao transporte de B para a parte aérea. O efluxo de B para o apoplasto ou contra seu gradiente de concentração ocorre por meio de transportadores do tipo BOR. Plantas mutantes, sem o transportador BOR1, são mais susceptíveis à defici- ência por B. Assim, plantas mutantes sem o transportador BOR1 nas raízes, a concentração de B nos vasos do xilema reduzem, evidenciando a importância do transportador BOR1 para o carregamento de B no xilema. Em situações com deficiên- Capítulo 10 28 cia desse nutriente, a coordenação entre os transportadores NIP5.1 e BOR1 para absorção e efluxo no xilema, respectivamente, é essencial ao transporte eficiente de B para os vasos do xilema. Além da importância do transportador BOR1 no efluxo de B para a parede celular (apoplasto) e para o xilema (transporte para a parte aérea), o qual é expresso na raiz e na parte aérea, também está envolvido na tolerância à toxidez intracelular de B. Outras proteínas são capazes de realizar o transporte de B na planta. O transportador TIP5.1 (Proteínas Intrínseca da Membrana do Tonoplasto), localizadas na membrana do vacúolo, é responsável por promover tolerância à toxidez de B em plantas de Arabidopsis. Também foram caracterizados membros da família PIP (Proteína Intrínseca de Membrana Plasmática), como OsPIP2.4 e OsPIP2.7 em arroz, que estão envolvidos na permeabilidade de B e promovem tolerância das plantas à toxidez de B. OsPIPI1.3 e OsPiP2.6 têm envolvimento no influxo e efluxo de B, podendo participar da tolerância ao B em plantas cultivadas em solos com alto teor desse nutriente. Em espécies vegetais, o B é um nutriente de mobilidade restrita ao floema. Entretanto, o transporte de B é afetado pela presença de molécula que complexam esse nutriente, possuindo alta mobilidade em plantas que translocam açúcares álcoois, como sorbitol, monitol ou ducitol, e baixa mobilidade nas plantas que translocam sacarose. A semelhança do cálcio, o B apresenta transporte unidirecional no xilema, via corrente transpiratória, das raízes para a parte aérea; no floema, o B é praticamente imóvel. Assim, o boro não é redistribuído nas plantas, o que provoca o aparecimento dos sintomas de carência primeiramente nos órgãos mais novos e nas regiões de crescimento. O movimento do B no xilema ocorre devido ao fluxo transpiratório, provavelmente seja a razão para o aparecimento de sintomas de deficiência em pontos de crescimento, com menor fluxo transpiratório. 4.1.3 - Funções do Boro na Planta O boro tem função importante na translocação de açúcares e no metabolismo de carboidrato. Desempenha papel no florescimento, no crescimento do tubo polínico, nos processos de frutificação, no metabolismo do nitrogênio e na atividade de hormônios. Quanto à influência do B sobre o metabolismo dos ácidos nucléicos, demonstrou-se que a deficiência em B interrompe o desenvolvimento e a manutenção das células, que constituem a segunda fase do desenvolvimento celular (Quadro 6). Por outro lado, quando as células atingem a maturidade, elas não são mais afetadas pela deficiência desse nutriente, uma vez que isso só ocorre nas zonas de crescimento da planta e se reflete na morte de meristemas terminais. Capítulo 10 29 Quadro 6 - Efeito do boro na incorporação de fosfato em DNA e na síntese de proteínas em folhas e raízes de girassol Boro Folha Raiz mg L-1 Fósforo no DNA, % 0 0,2 0,5 1 1,4 1,8 Fósforo no RNA, % 0 1,4 3,6 1 6,4 13,0 Proteína, mg vaso-1 0 627 713 1 1267 1468 O B intervém na absorção e no metabolismo dos cátions, principalmente do cálcio, na formação de pectina na parede celular, na estabilidade da membrana plasmática, na absorção de água e no metabolismo de glicídios. Tem influência no metabolismo e no transporte de carboidratos, estando comprovado, de forma experi- mental, que a deficiência de B provoca acúmulo de açúcares nos tecidos. Com relação à formação da parede celular, comprovou-se que as plantas com deficiência de B têm paredes menos resistentes do que aquelas sem deficiência. Uma importante função atribuída ao boro é a de facilitar o transporte de açúcares através das membranas. Neste caso, o B forma complexo açúcar-borato que atravessa mais facilmente as membranas celulares do que as moléculas de açúcares altamente polares. Hoje, aceita-se também que o boro esteja envolvido na síntese da base nitrogenada uracila. Essa base é precursora da uridina difosfato glicose (UDPG), a qual é uma coenzima essencial na síntese da sacarose, que é a forma mais importante de açúcar transportada na planta. Assim, o menor transporte de açúcar em plantas deficientes em boro seria consequência desses dois fatores. Como a uracila é uma base nitrogenada componente do RNA, a deficiência de B também afeta a síntese do ácido nucléico e, em consequência, a síntese de proteínas. Também tem sido demonstrado que o B é necessário para a incorporação do fosfato em nucleosídeos para a formação de nucleotídeos, que são as unidades formadoras dos ácidos nucléicos. Em plantas deficientes em B, ocorre menor síntese de DNA e RNA, levando, em consequência, à menor produçãode proteínas pelas plantas. O B desempenha importante papel no florescimento, no crescimento do tubo polínico e nos processos de frutificação. A exigência em boro é normalmente maior na fase reprodutiva do que para o crescimento vegetativo das plantas. Isto é atribuída a sua participação no processo de fertilização; o B está envolvido na germinação do grão de pólen e no crescimento do tubo polínico, cuja carência leva a esterilidade masculina, a má formação de sementes e dos frutos. As funções do B no apoplasto são relativamente similares às do cálcio, ambos regulando a síntese e a estabilidade dos constituintes da parede celular e da membrana plasmática. Neste caso, o efeito é, provavelmente, pela formação de Capítulo 10 30 complexos cis-diol-borato com os constituintes da parede celular e da membrana plasmática. O maior requerimento de B pelas dicotiledôneas em relação às monocotile- dôneas é, provavelmente, relacionado à maior proporção de compostos com a configuração cis-diol na parede celular, principalmente com hemicelulose e precursores da lignina. Tem sido mostrado que o B é fortemente complexado na parede celular de monocotiledôneas, variando de 3 a 5 mg kg-1 na matéria seca e, em certas dicotiledô- neas, é superior a 30 mg kg-1 na matéria seca, refletindo nas diferentes exigências em boro entre as espécies. 4.1.4 - Deficiência e Toxidez de Boro Os teores de B na planta variam entre 12 a 50 mg kg-1 na matéria seca do tecido, considerando-se teores entre 30 e 50 mg kg-1 como adequadas para o crescimento normal das plantas. Plantas deficientes apresentam concentrações foliares menores que 15 mg kg-1. Em geral, a parte aérea da planta apresenta maior teor de B do que as raízes, acumulando-se nas folhas mais velhas, nas quais o teor é maior nas pontas e margens. Esta distribuição de B na planta é devido ao transporte do mesmo pelo fluxo transpiratório. O B na planta é translocado, sobretudo, através do xilema, tendo mobilidade muito limitada no floema, sendo considerado imóvel quando à redistribuição. Dado a imobilidade do B na planta, os sintomas de deficiência aparecem primeiramente nos órgãos mais novos e nos meristemas apicais, tanto da parte aérea quanto das raízes. Caracteriza-se pela redução do tamanho e deformação das folhas mais novas, morte da gema terminal, menor crescimento das raízes. O mais rápido efeito da deficiência de boro em plantas é a paralisação do crescimento dos meristemas apicais, tanto das raízes quanto da parte aérea. Admite-se que a paralisação do crescimento dos meristemas em plantas deficientes em boro é resultado de ambos, menor elongação das células e acumulação de níveis tóxicos de AIA. Os sintomas de deficiência de B podem ser distintos, conforme a espécie vegetal. Os mais comuns são: ✔Redução do crescimento e deformações nas zonas de crescimento. Plantas com deficiência de B, as células novas não se diferenciam. ✔Diminuição da superfície foliar, com folhas jovens pequenas, deformadas, espessas e quebradiças. Podem apresentam clorose ou, inclusive, uma cor verde mais intensa. ✔Crescimento reduzido de raízes. ✔Florescimento pode não ocorrer (abortamento floral), má polinização, frutos deforma- dos com lesões externas e internas Capítulo 10 31 ✔Fendas ou rachaduras em ramos, pecíolos e, às vezes, apresentam uma formação irregular (deformação). Sabe-se que existe um limite estreito entre o teor adequado e o nível tóxico de B na planta; portanto, a adubação com B deve ser cuidadosa, principalmente nos solos arenosos, que devem receber doses menores e mais frequentes, comparativamente aos argilosos. Os sintomas de toxidez manifestam-se como clorose malhada e depois manchas necróticas nas bordas das folhas mais velhas, que coincidem com as regiões da folha onde há maior transpiração. 4.2 - Cloro 4.2.1 - Cloro no Solo O cloro (Cl) é encontrado na natureza principalmente como cloreto (Cl-). O conteúdo no solo apresenta grande variabilidade, de 50 a 3000 kg ha-1 de Cl-, dependendo dos sais presentes, principalmente como NaCl e, em menor proporção, como CaCl2 e MgCl2. Geralmente, os teores de Cl nos solos são suficientes para atender às necessidades das plantas. Na maioria das vezes, não existe correlação entre os teores de Cl- no solo e na planta. Em geral, seu teor nos solos não é elevado, devido à sua grande mobilidade. No entanto, podem ocorrer casos de toxidez, principalmente em locais onde a evaporação supera a lixiviação e não ocorre lavagem deste ânion. 4.2.2 - Absorção, Transporte e Redistribuição de Cloro O cloro é absorvido pelas plantas, tanto pela raiz como pelas folhas, na forma de Cl- e tem grande mobilidade na planta. A quantidade de Cl- absorvido, de forma direta da atmosfera e da água de chuva, pela parte aérea depende da distância do mar. A absorção do Cl- ocorre ativamente por meio de transportadores do tipo simporte. Já o movimento do Cl- entre os compartimentos celulares pode ocorrer de maneira passiva via canais ou de modo ativo via transportadores que operam em simporte ou antiporte (Figura 11). Apesar de se saber ainda muito pouco sobre o transporte de Cl- em plantas, alguns genes envolvidos no transporte já foram identifica- dos e caracterizados de forma parcial. Em plantas, transportadores de Cl- envolve alguns membros da família CLC (Canais de Cloreto), que incluem, além de canais de cloreto, o antiportes (Cl-/NO3 -)/ H+, e membros da família CCC (Cotransportadores de Cátion-Cloreto), que, possível- mente, funcionam fazendo o cotransporte de Na+:K+:Cl- (Figura 11). Outras famílias de transportadores atuam no transporte e na homeostase de Cl-: transportadores de nitrato, canais de ânion, trocadores de cátion/H+, transportadores de malato ativados por alumínio. Capítulo 10 32 Figura 11 - Transportadores de cloro nas células das plantas Em arabidopsis foram identificados sete transportadores da família CLC (AtCLCa, AtCLCb, AtCLCc, AtCLCd, AtCLCe, AtCLCf e AtCLCg). De acordo com o alinhamento dos membros da família CLC, os transportadores foram divididos em dois grupos: um contendo AtCLCa, AtCLCb, AtCLCc, AtCLCd e AtCLCg, enquanto o outro, AtCLCe e AtCLCf. O transportador AtCLCa foi caracterizado como antiporte NO3 -/H+ envolvido na entrada de NO3 - no vacúolo. O transportador AtCLCc está localizado na membrana do vacúolo (tonoplasto), atua como transportador de Cl- para o interior do vacúolo e está relacionado com a tolerância ao estresse salino. A análise de AtCLCd mostra que esse transportador pode atuar como antiporte de Cl-/H+. O transportador AtCLCd possui a mesma localização da V-H+-ATPase no complexo de Golgi, assim, mutações no AtCLCd ou na V-H+-ATPase resultam em plantas com fenótipo similar. Plantas com perda de função do AtCLCd têm prejuízos no crescimento da raiz e no alongamento celular, um efeito também observado em plantas com expressão reduzida da H+-ATPase vacuolar. A inibição severa do alongamento radicular em plantas deficientes em Cl pode estar relacionada à função do Cl no estímulo à V-H+- ATPase, o que é importante para a acidificação de organelas internas e para o crescimento das plantas. Além da família CLC, também foram identificados transportadores da família CCC em Arabidopsis, envolvidos no transporte e na homeostase de Cl- em plantas, que cotransportam Na+:K+:Cl-. AtCCC é expresso, sobretudo, em raízes, xilema, folhas e caule. Esse transportador é importante no descarregamento do xilema e também na homeostase d Cl- na planta. O carregamento do xilema representa uma etapa-chave no transporte de Cl- na planta. Na raiz, o transporte do Cl- das células do cilindro central para o xilema Capítulo 10 33 ocorre de maneira passiva, obedecendo ao gradiente de potencial eletroquímico do Cl-. Alguns transportadores de NO3 - da família NRT (Transportadores de
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