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Equipe 126 
 
Corte Interamericana de Direitos Humanos 
 
 
 
 
 
Comunidade Chupanky e Outra 
vs. 
O Estado de La Atlantis 
 
 
 
 
 
 
Memorial do Representante das Vítimas 
 
 
 
 
 
 
 
2012
Equipe 126 
i 
 
ÍNDICE 
1. LISTA DE ABREVIATURAS .........................................................................................iii 
2. ÍNDICE DE JUSTIFICATIVAS ......................................................................................iv 
2.1 Documentos legais ........................................................................................................iv 
2.2. Doutrinas .....................................................................................................................iv 
2.3. Casos Legais................................................................................................................ v 
2.3.1. Comissão Interamericana de Direitos Humanos.......................................................... v 
2.3.2. Corte Interamericana de Direitos Humanos ................................................................vi 
2.3.3. Corte Europeia de Direitos Humanos .........................................................................ix 
3. DECLARAÇÃO DOS FATOS ........................................................................................ 1 
4. DA ANÁLISE LEGAL ................................................................................................... 4 
4.1. Da Admissibilidade ...................................................................................................... 4 
a) Da competência ratione personae.................................................................................... 4 
b) Da competência ratione loci ........................................................................................... 6 
c) Da competência ratione materiae ................................................................................... 6 
d) Da competência ratione temporis ................................................................................... 7 
e) Do esgotamento dos recursos internos ............................................................................. 7 
4.2. Do Mérito .................................................................................................................... 9 
a) Considerações iniciais: A Comunidade La Loma— comunidade multiétnica, tribal, sujeita 
a medidas especiais ............................................................................................................ 9 
b) O Estado violou o art. 21 (direito à propriedade privada) c/c o art. 1º.1 da CADH ...........11 
c) O Estado violou o artigo 1º.1 (obrigação de respeitar os direitos) da CADH per se.......... 15 
d) O Estado violou o art. 4º.1 (direito à vida) c/c o art. 1º.1 da CADH ................................ 18 
e) O Estado violou o art. 5º.1 (direito à integridade pessoal) c/c o art. 1º.1 da CADH .......... 20 
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ii 
 
f) O Estado violou os art. 6º.2 (proibição de escravidão e de servidão) c/c o art. 1º.1 da 
CADH ............................................................................................................................. 22 
g) O Estado violou o art. 25 (proteção judicial) c/c o art. 8º (garantias judiciais) e o 1º.1 da 
CADH ............................................................................................................................. 24 
h) O Estado violou o art. 7º. A, B e G (deveres do Estado) da Convenção Interamericana para 
Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher (Convenção de Belém do Pará)...... 27 
5. SOLICITAÇÃO DE ASSISTÊNCIA ............................................................................. 28 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Equipe 126 
iii 
 
1. LISTA DE ABREVIATURAS 
 
Art. 
Arts. 
Cap. 
CADH 
CED 
Comissão/CIDH 
 
Corte EDH 
Corte IDH 
CVM /Convenção de Belém do Pará 
 
 
c/c 
Ed. 
EIA 
Nº 
OC 
OIT 
ONG 
p. 
§/§§ 
TW 
UHE/ UHE Cisne Negro 
Artigo 
Artigos 
Capítulo 
Convenção Americana de Direito s Humanos 
Comissão de Energia e Desenvolvimento 
Comissão Interamericana de Direitos 
Humanos 
Corte Europeia de Direitos Humanos 
Corte Interamericana de Direitos Humanos 
Convenção Interamericana para Prevenir, 
Punir e Erradicar a Violência contra a 
Mulher 
Combinado com 
Edição 
Estudo de Impactos Ambientais 
Número 
Opinião Consultiva 
Organização Internacional do Trabalho 
Organização Não Governamental 
Página/Páginas 
Parágrafo/Parágrafos 
Turbo Water 
Usina Hidrelétrica Cisne Negro 
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iv 
 
Vol. 
 vs. 
Volume 
Versus 
 
2. ÍNDICE DE JUSTIFICATIVAS 
 
2.1 Documentos legais 
 
Convenção Americana de Direitos Humanos (p. 5, 6, 7, 9, 10, 11, 12, 14, 15, 16, 17, 19, 20, 
22, 23, 24, 25, 26, 27, 29) 
 
Convenção nº 29 da Organização Internacional do Trabalho (p. 22) 
 
Convenção nº169 da Organização Internacional do Trabalho sobre povos indígenas e tribais 
(p. 10, 12, 20, 21, 30) 
 
Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher 
(Convenção de Belém do Pará) (p.28) 
 
Declaração das Nações Unidas dos Direitos dos Povos Indígenas (p. 13) 
 
Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais (p. 23) 
 
2.2. Doutrinas 
 
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v 
 
CHIRIBOGA, O. C. O Direito à Identidade Cultural dos Povos Indígenas e das Minorias 
Nacionais: um olhar a partir do Sistema Interamericano. SUR - Revista Internacional de 
Direitos Humanos, número 5, ano 3, 2006, p. 42 -69. (p. 5, 11) 
 
FAJARDO, R. Y. De la tutela a los derechos de libre determinación del desarollo, 
participación, consulta y consentimiento: fundamentos, balance y retos para su 
implementación. Amazônica- Revista de Antropologia. vol. 1, nº 2, 2009. p. 368-405. (p. 13) 
 
LEDESMA, H. F. El Sistema Interamericano de Protección de los Derechos Humanos: 
aspectos institucionales y procesales. 3ª ed., rev. e atual. IIDH: São José, 1999. (p. 9) 
 
MELISH, T. La Protección de los Derechos Económicos, Sociales e Culturales en el Sistema 
Interamericano de Derechos Humanos: manual para la presentación de casos. Centro de 
Direitos Econômicos e Sociais: Equador, 2003. (p. 11) 
 
PASQUALUCCI, Jo M. The evolution of International Indigenous Rights in the Inter-
American Human Rights System. Human Rights Law Review. vol. 6 (2). Oxford University 
Press: 2006, p. 281-322. (p. 13) 
 
2.3. Casos Legais 
 
2.3.1. Comissão Interamericana de Direitos Humanos 
 
Relatório “Acceso a la Justicia e Inclusión Social: El camino hacia el fortalecimiento de la 
Democracia en Bolivia”. Doc. OEA/Ser.L/V/II, Doc. 34, 28 de junho de 2007. (p. 9) 
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vi 
 
Relatório nº 43/96. Caso 11.430. José Francisco Gallardo, México, 15 de outubro de 1996. (p. 
21) 
Relatório nº 49/99. Caso 11.610. Loren Laroye Riebe Star e Outros, México, 13 de abril de 
1999. (p. 20) 
 
Relatório de
mérito nº 40/04. Caso 12.053. Comunidades indígenas Maya no Distrito de 
Toledo, Belize, 12 de outubro de 2004. (p. 13) 
 
Relatório temático: The Road to Substantive Democracy: women’s political participation in 
the Americas. 2001. (p. 25, 27) 
 
2.3.2. Corte Interamericana de Direitos Humanos 
 
Caso Baena Ricardo e outros vs. Panamá. Sentença de exceções preliminares, de 18 de 
novembro de 1999. Serie C, nº 61. (p. 25) 
 
Caso Cabrera García e Montiel Flores vs. México. Sentença de exceções preliminares, mérito, 
reparações e custas, de 26 de novembro de 2010. Serie C, nº 220. (p. 24) 
 
Caso Castillo Petruzzi e Outros vs. Peru. Sentença de exceções preliminares, de 4 de 
setembro de 1998. Série C, nº 41. (p. 6, 9) 
 
Caso Comunidade Indígena Sawhoyamaxa vs. Paraguai. Sentença de mérito, reparações e 
custas, de 29 de março de 2006. Série C, nº 146. (p. 11, 13) 
 
Equipe 126 
vii 
 
Caso Comunidade Indígena Xákmok Kásek vs. Paraguai. Sentença de mérito, reparações e 
custas, de 24 de agosto de 2010. Série C, nº 214. (p. 10) 
 
Caso Comunidade IndígenaYakye Axa vs. Paraguai. Sentença de mérito, reparações e custas, 
de 17 de junho de 2005. Séria C, nº 125. (p. 5, 11, 12, 22, 25) 
 
Caso Comunidade Mayagna (Sumo) Awas Tingni vs. Nicarágua Sentença de exceções 
preliminares, de 1 de fevereiro de 2000. Série C, nº 66. (p. 9) 
 
Caso Comunidade Mayagna (Sumo) Awas Tingni vs. Nicarágua Sentença de mérito, 
reparações e custas, de 31 de agosto de 2001. Série C, nº 79. (p. 6, 11, 12, 17, 22, 25, 28) 
 
Caso Comunidade Moiwana vs. Suriname. Sentença de exceções preliminares, mérito, 
reparações e custas, de 15 de junho de 2005. Série C, nº 124. (p. 19, 25) 
 
Caso das Meninas Yean e Bosico vs. República Dominicana. Sentença de exceções 
preliminares, mérito, reparações e custas, de 8 de setembro de 2005. Série C, nº 130. (p. 15) 
 
Caso Godínez Cruz vs. Honduras. Sentença de mérito, de 20 janeiro de 1989. Série C, nº 5. 
(p. 15, 16) 
 
Caso González e outras (“Campo Algodonero”) vs. México. 
Sentença de exceções preliminares, mérito, reparações custas, de 16 de novembro de 2009. 
Serie C, nº 205. (p. 19, 27) 
 
Equipe 126 
viii 
 
Caso Juan Humberto Sánchez vs. Honduras. Sentença de exceções preliminares, mérito, 
reparações e custas. Sentença de 7 de junho de 2003. Serie C, nº 99. (p. 25) 
 
Caso Loayza Tamayo vs. Peru. Sentença de exceções preliminares, de 31 de janeiro de 1996. 
Serie C, nº 25. (p. 9) 
 
Caso Loayza Tamayo vs. Peru. Sentença de mérito, de 17 de setembro de 1997. Serie C, nº 
33. (p. 20) 
 
Caso Loayza Tamayo vs. Peru. Sentença de reparações e custas, de 27 de novembro de 1998. 
Serie C, nº 42. (p. 19) 
 
Caso Maritza Urrutia vs. Guatemala. Sentença de mérito, reparações e custas, de 27 de 
novembro de 2003. Serie C, nº 103. (p. 25) 
 
Caso Povo Saramaka vs. Suriname. Sentença de exceções preliminares, mérito, reparações e 
custas, de 28 de novembro de 2007. Série C, nº 172. (p. 5, 10, 11, 13, 25) 
 
 Caso Ricardo Canese vs. Paraguai. Sentença de mérito, reparações e custas, de 31 de agosto 
de 2004. Série C, nº 111. (p. 13) 
 
Caso Tibi vs. Equador. Sentença de exceções preliminares, mérito, reparações e custas, de 7 
de setembro de 2004. Serie C, nº 114. (p. 25) 
 
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ix 
 
Caso Velásquez Rodríguez vs. Honduras. Sentença de mérito, de 29 de julho de 1988. Série 
C, nº 4. (p. 15, 16, 21, 23) 
 
Caso Villagrán Morales e Outros vs. Guatemala. Sentença de mérito, de 19 de Novembro de 
1999. Serie C, nº 63. (p. 18, 22) 
 
Caso Yatama vs. Nicarágua. Sentença de exceções preliminares, mérito, reparações e custas 
de 23 de junho de 2005. Série C, nº 127. (p. 16, 25) 
 
Opinião Consultiva nº 6/86 de 9 de maio de 1986. Série A, nº 6. (p. 16) 
 
Opinião Consultiva nº 17/02 de 28 de agosto de 2002. Série A, nº 17. (p. 25) 
 
2.3.3. Corte Europeia de Direitos Humanos 
 
Handyside Case, sentença de 7 de dezembro de 1976. 
 
 
Iversen vs. Noruega. Nº 1468/62, Sentença de 17 de dezembro de 1963. 
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1 
 
3. DECLARAÇÃO DOS FATOS 
 O Estado de La Atlantis constitui-se em uma democracia representativa insular no 
continente americano; possui como capital a cidade de Tripol e ratificou a Convenção 
Americana de Direitos Humanos (doravante “CADH”, “Convenção” ou “Convenção 
Americana”), bem como outros instrumentos internacionais relativos aos direitos humanos 
por meio de sua Constituição em 1994, submetendo-se à jurisdição da Corte Interamericana 
de Direitos Humanos (doravante denominada “Corte IDH” ou “Corte”) em 1995. 
 Desde tempos imemoriais, o território era habitado por povos indígenas, que viviam 
em harmonia com o meio ambiente. Entretanto, com a colonização europeia, estas 
populações passaram a ser escravizadas e sofreram perdas massivas, vítimas de uma prática 
de extermínio que atravessou o século XIX e continuou até metade do século XX. Nos anos 
70, seguiu-se uma política de assimilação, que culminou em inúmeros conflitos para estas 
populações, haja vista que visava quebrar a linhagem indígena. 
Dentre os povos sobreviventes a essas arbitrariedades históricas, destacam-se os 
Rapstan, ascendentes das comunidades Chupanky e La Loma. A primeira segue as tradições 
de seus antepassados em sua organização social, política e cultural; e tem idioma oficial 
próprio, o rapstaní. Sociedade patriarcal, conta hoje com cerca de 215 famílias e 620 
habitantes; mantendo organização político-social hierárquica, em cujo topo encontra-se o 
Conselho de Anciãos, composto por 21 membros, seguido pelos mordomos e pelos Xamãs, 
autoridades espirituais. 
 Essa comunidade baseia o seu modo de vida na íntima relação com o Rio 
Montompalmo, denominado Xuxani em rapstaní e considerado sagrado por esse povo. O Rio 
serve, ainda, de transporte para o contato com outras comunidades Rapstan, sendo-lhes útil 
também para a venda dos seus produtos, derivados da pesca, da agricultura e do artesanato. 
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2 
 
 A comunidade La Loma, por sua vez, é matriarcal e surgiu nos anos 80 como 
conseqüência da política de assimilação mencionada, que tinha como meta a promoção de 
casamentos miscigenados para dissolver a cultura e identidade indígenas. As mulheres 
rapstan submetidas às uniões miscigenadas foram exiladas de suas comunidades, conforme os 
costumes, sem possibilidade de retorno. Esses casais miscigenados se assentaram ao lado 
oeste do Rio Motompalmo originando a comunidade “La Loma”, que preservou muitas das 
tradições culturais, tais como o uso parcial do idioma rapstaní e o ritual de cremar seus 
mortos à beira do Rio. Por meio de decretos em 1985, La Loma foi considerada uma 
comunidade camponesa pelo governo. 
A forte ligação com o território em que vivem é característica marcante dos povos 
indígenas e tribais. Tanto a comunidade Chupanky quanto a La Loma mantêm íntima relação 
com o Rio Xuxani. Na cultura rapstan, a mulher é a guardiã da tradição da água, como 
elemento de transformação e comunicação com seus mortos, sendo ela a responsável pelo 
ritual dos dois sóis e das três luas, onde os mortos são cremados a beira do Rio e suas cinzas 
lançadas no sagrado Xuxani. Os La Loma conservaram essa tradição e ainda mantêm relação 
diferenciada com o território, o Rio e a natureza à sua volta. 
Em 2003, houve a divulgação do Plano Nacional de Desenvolvimento, tendo como 
um dos principais empreendimentos a Usina Hidroelétrica do Cisne Negro (doravante “UHE” 
ou “UHE Cisne Negro”) no Rio Motompalmo. A construção da obra seria na zona média da 
região de Chupuncué e, em fevereiro de 2004, a Comissão de Energia e Desenvolvimento 
(doravante
“CED”), entidade responsável pela licitação da obra, emitiu um relatório 
determinando que a construção da obra afetaria o território dos povos La Loma e Chupanky. 
A despeito disso, foi outorgado em janeiro de 2005, pela CED, concessão para a 
construção da UHE à empresa Turbo Water (doravante “TW”), sem qualquer diálogo prévio 
com as populações envolvidas. Em abril, o governo arbitrariamente decretou a utilidade 
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3 
 
pública das áreas afetadas pelo projeto. Em junho, ofereceu aos integrantes da comunidade 
La Loma terras alternativas localizadas na zona oeste, à 25 km do Rio, o que foi repudiado 
majoritariamente, com base na profunda relação cultural desenvolvida por esse povo com o 
Rio Xuxani. Em fevereiro de 2006, houve o despejo da comunidade, a qual solicitou ao 7º 
Juízo Civil de Chupuncué (doravante “juiz civil”) o reconhecimento do padrão internacional 
de consulta prévia ao processo de construção da UHE, o qual foi indeferido sob a justificativa 
de serem padrões somente aplicáveis às comunidades indígenas e tribais. 
As negociações com o povo Chupanky ocorreram de forma distinta, graças à pressão 
de organismos nacionais e internacionais favoráveis a proteção dos direitos indígenas. Desse 
modo, houve uma consulta inicial, que envolveu, no entanto, apenas os homens. Foram 
oferecidas oportunidades de trabalho na construção da UHE, sendo que às mulheres foi pago 
uma diária inferior a masculina, o que revela uma clara discriminação de gênero. 
 Mina Chak Luna, membro dos Chupanky, organizou o grupo “Guerreiras do Arco-
Íris”, visando protestar contra a não participação das mulheres na fase de consulta, alegando 
que o processo era discriminatório, logo, estaria viciado. O grupo tentou se fazer ouvir tanto 
pela empresa TW, quanto pelo Comitê Inter-Setorial. No entanto ambos negaram-lhe reunião. 
A empresa começou a obra no território Chupanky em 20 de junho de 2008, sendo a 
carga horária inicial de 9 horas de trabalho diárias. A partir do terceiro mês, os homens 
tiveram sua jornada de trabalho elevada para 15 horas diárias, sem pagamento de hora extra. 
Essa e outras condições de trabalho impostas afetaram o modo de vida tradicional dos 
trabalhadores indígenas. 
Membros da comunidade La Loma se uniram às Guerreiras do Arco-Íris e se 
deslocaram até Tripol, percorrendo o difícil acesso que as autoridades se recusaram a fazer, 
para denunciar as irregularidades cometidas pela TW, bem como danos sócio-ambientais 
decorrentes do projeto, junto à CED e ao Ministério do Meio Ambiente e Recursos Naturais 
Equipe 126 
4 
 
(doravante “MARN”), porém nada foi feito. 
A comunidade Chupanky, à luz das evidências recolhidas por Mina Chak Luna, 
convocou uma assembléia comunitária geral, a qual decidiu vetar a continuação da obra. A 
empresa, informada dessa decisão em 25 de dezembro de 2008, reagiu energicamente, ao 
ponto de ameaçar os funcionários indígenas, e tomou providências visando remover os 
Chupanky de sua propriedade o mais cedo possível. 
Representados pela Organização Não Governamental “Morpho Azul” (doravante 
“ONG Morpho Azul”), os Chupanky pleitearam diversos recursos tanto administrativa quanto 
judicialmente. Todavia, sua pretensão foi indeferida em todas as instâncias. 
Finalmente, em 15 de dezembro de 2009, o Supremo Tribunal de Justiça indeferiu o 
recurso de amparo interposto pela ONG “Morpho Azul”, em favor das comunidades 
Chupanky e La Loma, requerendo a suspensão da obra, haja vista os efeitos negativos à 
integridade física e cultural de ambas as comunidades. 
O caso foi então encaminhado à Comissão Interamericana de Direitos Humanos 
(doravante “Comissão” ou “CIDH”), a qual, após ouvir o Estado, em 9 de março de 2011, 
emitiu seu relatório de admissibilidade e mérito (relatório 969/2011), e reconheceu a violação 
dos artigos 1º.1, 4º.1, 5º.1, 6º.2, 21 e 25 face à comunidade Chupanky, e dos artigos 5º.1, 21 e 
25 em prejuízo dos membros da comunidade La Loma. 
Vencido o prazo para o cumprimento das recomendações da Comissão, encaminhou-
se o caso “Comunidade Chupanky e outra vs. o Estado de La Atlantis” à Corte em 4 de 
outubro de 2011, admitido em 11 de novembro de 2011. 
4. DA ANÁLISE LEGAL 
4.1 Da admissibilidade 
a) Da competência ratione personae 
Equipe 126 
5 
 
 A Organização Não-Governamental “Morpho Azul” apresenta-se, com base nos 
artigos 44 da CADH e 25.1 do Regulamento da CorteIDH, como representante legal das 
vítimas no caso “Comunidade Chupanky e outra vs. O Estado de La Atlantis”. O caso foi 
submetido à Corte pela Comissão Interamericana em 4 de outubro de 2011. 
 Com relação à individualização das vítimas, a CorteIDH, no caso Saramaka, 
dispensou a necessidade de especificar cada um dos membros da comunidade para 
reconhecê-los como parte lesionada 1, além de já ter reconhecido que as comunidades 
indígenas são sujeitos de certos direitos, como o direito à personalidade jurídica e à 
organização social2
 O objetivo do art. 1º.2 da CADH nunca foi evitar petições em nome de grupos, mas 
sim impedir que indivíduos sejam excluídos da proteção deste instrumento, sob a justificativa 
que não ostentam caráter de pessoa
. Ora, se são detentoras de direitos, é mister que sejam também aceitas 
como sujeitos processuais ativos, estendendo-se o mesmo raciocínio a outros grupos étnicos, 
possuidores de características similares aos povos indígenas, sobretudo no que diz respeito à 
ligação cultural com o território. 
3. A interpretação restritiva do art. 1º.2 da Convenção leva 
a problemas práticos, em virtude da dificuldade de identificar cada membro de certas 
comunidades étnico-culturais, recaindo tal ônus sobre as vítimas. Ademais, o requisito da 
individualização, em alguns casos, pode ir contra a própria cultura de um povo4
 Nesse sentido, o antropólogo perito ouvido pela Corte IDH Rodolfo Stavenhagen 
Gruenbaum afirma:“(e)n ciertos contextos históricos los derechos de la persona humana se 
, ofendendo 
sua identidade, bem como deixar outras vítimas de fora e se mostrar inútil quanto às 
reparações pretendidas. 
 
1 Caso Povo Saramaka vs. Suriname. Sentença de exceções preliminares, mérito, reparações e custas, § 188. 
2 Caso da Comunidade Indígena Yakye Axa vs. Paraguai. Sentença de exceções preliminares, mérito, reparações 
e custas, § 82. 
3CHIRIBOGA, O. C. O Direito à Identidade Cultural dos Povos Indígenas e das Minorias Nacionais: um olhar 
a partir do Sistema Interamericano. SUR – Revista Internacional de Direitos Humanos. nº 5, ano 3, 2006, p.47. 
4Idem, p.47. 
Equipe 126 
6 
 
garantizan y se pueden ejercer plenamente solo si se reconocen los derechos de la 
colectividad y de la comunidad a la que pertenece esta persona desde su nacimiento y de la 
que forma parte y la cual le da los elementos necesarios para poder sentirse plenamente 
realizado como ser humano, que significa también ser social y cultural5
À luz do precedente citado, das razões apresentadas, e do fato de que a não 
individualização das vítimas no presente contexto não viola o direito de defesa do Estado, 
solicitamos à honorável CorteIDH que reconheça como vítimas as comunidades La Loma e 
Chupanky per se. 
”. 
b) Da competência ratione loci 
 Nos termos do art. 1º.1 da CADH, este instrumento normativo é aplicável a qualquer 
pessoa que esteja sob a jurisdição de um Estado-parte na Convenção, o que se apresenta 
faticamente. O Estado La Atlantis é Estado signatário da CADH e foi o local onde se 
desenvolveram as violações, bem como é o Estado de origem das comunidades atingidas. 
c) Da competência ratione materiae 
 A Corte tem competência para apreciar qualquer caso
que lhe seja submetido e que 
trate da interpretação e aplicação das normas da Convenção Americana conforme artigo 62.3. 
Constituído como Estado-parte da CADH em 1994, o Estado de La Atlantis admitiu a 
competência dos órgãos do Sistema Interamericano de Proteção aos Direitos Humanos 
(doravante “SIDH”), obrigando-se, no exercício de sua soberania, a participar, quando 
solicitado, de procedimentos ante a Comissão e a Corte (1995), e a assumir as obrigações que 
derivam da CADH6
 
5Caso da Comunidade Mayagna (Sumo) Awas Tingni vs. Nicarágua. Sentença de mérito, reparações e custas. 
Voto arrazoado concorrente do juiz Sergio García Ramírez, § 15. 
, sem prejuízo das obrigações contidas em outros tratados internacionais 
de direitos humanos, como a Convenção de Belém do Pará, ratificada em 1994 por via 
6 Caso Castillo Petruzzi e outros vs. Peru. Sentença de exceções preliminares. §§ 101 e 102. 
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7 
 
constitucional – a qual, por sua vez, prevê o sistema de peticionamento ante o SIDH em seu 
artigo 12. 
d) Da competência ratione temporis 
Tendo, portanto, havido ratificação dos instrumentos normativos supracitados em 
1994 e a aderência à competência contenciosa da CorteIDH em 1º de janeiro de 1995, 
evidenciado está a competência em razão do tempo da Corte para apreciar as violações deste 
caso, todas ocorridas posteriormente a essas datas. 
e) Do esgotamento dos recursos internos 
 Para que uma petição seja admitida pela Comissão, todos os recursos de jurisdição 
interna devem ter sido interpostos e esgotados (art. 46.1.A da CADH). Assim, todos os meios 
de acesso à justiça disponibilizados pelo Estado em seu ordenamento interno, devem ter sido 
devidamente exauridos pelas vítimas. 
 No presente caso, identificam-se dois grupos de vítimas, as comunidades La Loma e 
Chupanky. Esses grupos, embora tenham utilizado procedimentos distintos em um primeiro 
momento, eventualmente acionaram a jurisdição de La Atlantis em conjunto, esgotando todos 
os recursos internos disponíveis. 
 A comunidade La Loma solicitou em março de 2006, ao Sétimo Juízo Civil de 
Chupuncué, o reconhecimento dos padrões internacionais para a realização de um processo 
de consulta prévia, divisão de benefícios e Estudo de Impactos Ambientais com relação à 
obra da UHE. Esta solicitação foi, porém, negada em maio, pela ordem 1228/2006, que 
alegava serem tais padrões aplicáveis apenas a comunidades tribais ou indígenas, e não à 
comunidade La Loma, reconhecida como camponesa pelos decretos de 1985, embora 
preserve traços de sua ancestralidade indígena. 
 La Loma também interpôs, em 30 de outubro de 2006, objeções ao relatório feito por 
um perito nomeado pelo juiz civil, que almejava definir o valor da indenização de suas terras, 
Equipe 126 
8 
 
alegando que não têm interesse em vender sua propriedade. O Juízo ignorou as objeções de 
La Loma e 5 anos depois, o processo encontra-se pendente, à espera de fixação da 
indenização das terras da comunidade. 
 Diante da exploração sofrida pelos trabalhadores indígenas durante a obra e da 
ausência de consulta às mulheres Chupanky, Mina Chak Luna e as Guerreiras do Arco-Íris 
solicitaram uma audiência com o diretor do projeto e com o Comitê Inter-Setorial. As 
tentativas, no entanto, restaram infrutíferas. 
 Posteriormente, em 13 de dezembro de 2008, as Guerreiras do Arco-Íris, juntamente 
com membros da comunidade La Loma, obtiveram uma reunião com o subdiretor da CED e 
um funcionário do MARN, onde expuseram suas reivindicações. Essas autoridades se 
comprometeram a analisar o caso e, se julgassem caso necessário, enviá-lo às autoridades 
competentes, o que nunca aconteceu. 
Devido à pertinência das reivindicações de Mina Chak Luna e das demais mulheres 
perante a CED e o MARN, o Conselho de Anciãos convocou uma assembleia comunitária e 
foi resolvido o veto às fases 2 e 3 do projeto. A empresa TW reagiu altivamente, recusando-se 
a acatar a decisão. Diante disso, o Conselho de Anciãos, representado pela ONG Morpho 
Azul, em 9 de janeiro de 2009, interpôs recurso administrativo perante à CED, requerendo a 
anulação do projeto. Rejeitado em 12 de abril, em 28 de abril, recorreu-se da decisão da CED 
ante o Tribunal Contencioso Administrativo, porém foi mantido indeferimento. 
 Em 26 de setembro, a ONG Morpho Azul, agindo agora em nome de ambas as 
comunidades, interpôs um recurso de amparo perante o Supremo Tribunal de Justiça 
solicitando a suspensão das obras em razão dos efeitos negativos à integridade física e 
cultural dessas pessoas, sendo o mesmo novamente rejeitado. 
 Diante desse quadro e da resposta do Supremo Tribunal de Justiça, instância jurídica 
máxima do Estado La Atlantis, conclui-se que todos os recursos da jurisdição interna foram 
Equipe 126 
9 
 
esgotados por parte de ambas as comunidades. É preenchido, assim, o pré-requisito de 
admissibilidade 7
 A Comissão emitiu o relatório sobre a admissibilidade e mérito do caso (relatório 
969/2011) em 9 de março de 2011. O Estado não apresentou exceções preliminares durante o 
procedimento perante a Comissão e não pode, portanto, alegá-las no atual estágio do 
processo, pois conforme a jurisprudência da Corte, houve renúncia tácita de tal direito, 
provocando o efeito stoppel
 previsto no art. 46.1.A da CADH, pois em que pese a ação judicial acerca do 
despejo e do quantum indenizatório sobre as terras da comunidade La Loma não ter sido 
concluída, ambas as comunidades, vítimas no presente caso, interpuseram recurso em órgão 
judicial da mais alta instância. 
8
4.2 Do Mérito 
. 
a) Considerações iniciais: Comunidade La Loma— comunidade multiétnica, tribal, 
sujeita a medidas especiais 
A Comunidade La Loma originou-se da miscigenação provocada pela política de 
assimilação realizada pelo Estado de La Atlantis entre mulheres indígenas descendentes dos 
Rapstan e homens de outras etnias. Em 1985, La Atlantis decretou La Loma como 
comunidade camponesa, todavia, tal caracterização não exclui a possibilidade, conforme os 
parâmetros internacionais 9
 
7 LEDESMA, H. F. El Sistema Interamericano de Protección de los Derechos Humanos: aspectos institucionales 
y procesales. 3ª ed., rev. y puesta al día. 3ª ed., rev. y puesta al día. IIDH: São José, 1999, p. 629. 
, de essa comunidade ser também reconhecida como tribal, posto a 
caracterização camponesa tratar do aspecto laboral, enquanto a tribal refere-se à consideração 
étnico-cultural. 
8Caso da Comunidade Mayagna (Sumo) Awas Tingni vs.Nicarágua. Sentença de exceções preliminares; Caso 
Castillo Petruzzi e Outros vs. Peru. Sentença de exceções preliminares, § 53; Caso Loayza Tamayo vs. Peru. 
Sentença de exceções preliminares, § 40. 
9CIDH. Acceso a la Justicia e Inclusión Social: El camino hacia el fortalecimiento de la Democracia en Bolivia. 
Doc. OEA/Ser.L/V/II, Doc. 34, 28 de junio de 2007, § 216 em diante. 
Equipe 126 
10 
 
Nas linhas da Convenção 169 da OIT, os povos são considerados tribais por 
ostentarem “condições sociais, culturais e econômicas [que] os distingam de outros setores da 
coletividade nacional, e que estejam regidos, total ou parcialmente, por seus próprios 
costumes ou tradições ou por legislação especial” 10. Além disso, esse mesmo instrumento 
estabelece que a auto-identificação é critério fundamental para a determinação desses 
grupos11
A comunidade La Loma conservou fortes traços culturais indígenas, como o uso 
parcial do idioma rapstaní e o ritual específico de cremação de seus falecidos, possuindo uma 
íntima relação com o território que tradicionalmente ocupa, do
qual dependem as suas 
práticas de subsistência, culturais e religiosas. Ademais, La Loma possui uma organização 
própria, sendo matriarcal e se auto-identificou como uma comunidade diferenciada, ao menos 
tacitamente, quando alegou sua íntima relação com seu território como justificativa de sua 
recusa em abandoná-lo e requisitou que lhe fosse reconhecido os padrões internacionais de 
consulta ante o Juiz Civil, em março de 2006. 
. 
À luz disso, conclui-se, portanto, que a comunidade multiétinica, La Loma, 
caracteriza-se como tribal, posto apresentar tradições sociais, culturais e econômicas 
diferentes de outras seções da comunidade nacional, identificar-se com seus territórios 
ancestrais e estarem reguladas, ao menos de forma parcial, por seus próprios costumes e 
tradições12
 
10Organização Internacional do Trabalho, Convenção 169. Art. 1º.1.A. 
, além de se auto-identificar tacitamente como uma comunidade diferenciada do 
restante da sociedade de La Atlantis. Desse modo, a população La Loma é sujeito, conforme 
tem sustentado a CorteIDH com base no art. 1º.1 da CADH, de medidas especiais que devem 
11Organização Internacional do Trabalho, Convenção 169. Artigo 2º; Caso Comunidade Indígena Xákmok 
Kásek vs. Paraguai. Sentença de Mérito, § 37. 
12Caso Saramaka vs Suriname. Sentença de exceções preliminares, mérito, reparações e custas, §79. 
Equipe 126 
11 
 
ser adotadas pelo Estado para garantir o exercício pleno de seus direitos, sobretudo no que 
tange ao direito à propriedade, a fim de preservar sua sobrevivência física e cultural13
b) O Estado violou o art. 21(direito à propriedade privada) c/c o art. 1º.1 da CADH 
. 
 A CorteIDH considera os tratados de direitos humanos instrumentos vivos, cuja 
interpretação deve ser evolutiva, levando em consideração o tempo e o contexto no qual eles 
se inserem14, bem como, de acordo com o art. 31 da Convenção de Viena sobre o Direito dos 
Tratados, a prática hermenêutica deve observar o sistema jurídico dentro do qual um tratado 
está inserido. Outrossim, o art. 29 da CADH aponta que nenhuma norma da Convenção deve 
ser interpretada no sentido de restringir os direitos humanos, mas sempre no intuito de 
maximizá-los15. Com base no exposto, a Corte tem reconhecido que o direito à propriedade, 
previsto no art. 21 da CADH, engloba não somente o direito à propriedade privada, mas 
também o direito a possuir a terra coletivamente16
 
13Caso Sawhoyamaxa vs Paraguai. Sentença de mérito reparações e custas, §§118-121 e 131; Caso Saramaka vs 
Suriname. Sentença de exceções preliminares, mérito, reparações e custas, §85; Caso da Comunidade Indígena 
Yakye Axa vs. Paraguai. Sentença de mérito, reparações e custas, § 
, o que se aplica especialmente às 
comunidades que se relacionam com a terra de modo diferenciado, caso dos povos Chupanky 
e La Loma. 
14CHIRIBOGA, O. C. O Direito à Identidade Cultural dos Povos Indígenas e das Minorias Nacionais: um 
olhar a partir do Sistema Interamericano. SUR – Revista Internacional de Direitos Humanos. nº 5, ano 3, 2006, 
p. 285; Caso da Comunidade Mayagna (Sumo) Awas Tingni vs. Nicarágua. Sentença de mérito, reparações e 
custas, § 125; Caso da Comunidade Indígena Yakye Axa vs. Paraguai. Sentença de mérito, reparações e custas, 
§§ 125 a 128. 
15Caso da Comunidade Indígena Yakye Axa vs. Paraguai. Sentença de exceções preliminares, mérito, reparações 
e custas, §§ 129; Caso Saramaka vs. Suriname. Sentença de exceções preliminares, mérito, reparações e custas, 
§ 92; MELISH, T. La Protección de los Derechos Económicos, Sociales e Culturales en el Sistema 
Interamericano de Derechos Humanos: manual para la presentación de casos. Centro de Derechos Económicos y 
Sociales: Ecuador, 2003, p.147 a 164. 
16Caso da Comunidade Mayagna (Sumo) Awas Tingni vs. Nicarágua. Sentença de mérito, reparações e custas, § 
148; Caso da Comunidade Indígena Yakye Axa vs. Paraguai. Sentença de exceções preliminares, mérito, 
reparações e custas, § 143; CHIRIBOGA, O. C. O Direito à Identidade Cultural dos Povos Indígenas e das 
Minorias Nacionais: um olhar a partir do Sistema Interamericano. SUR – Revista Internacional de Direitos 
Humanos. nº 5, ano 3, 2006, p. 296; Caso Saramaka vs. Suriname. Sentença de exceções preliminares, mérito, 
reparações e custas, § 92. 
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12 
 
 Para as populações indígenas e tribais, a terra em que habitam constitui a base 
fundamental de sua cosmovisão, religiosidade e identidade cultural17. Com base nisso, a 
Corte tem manifestado que os Estados devem levar em conta que os direitos territoriais 
indígenas abrangem um conceito mais amplo e está relacionado com o direito coletivo à 
sobrevivência como povo organizado, com o controle de seu habitat como uma condição 
necessária para a reprodução de sua cultura, para seu próprio desenvolvimento e para levar 
adiante seus planos de vida18
 Por isso, quando o direito à propriedade coletiva é transgredido, provavelmente 
haverá a violação de diversos outros direitos, tais como à participação cultural. Desse modo, 
o conceito de bens previsto no art. 21 da Convenção abarca, não somente o direito das 
comunidades sobre o seu território e os recursos naturais nele contidos, mas também sobre os 
bens imateriais que advêm dessa relação diferenciada, sobretudo no âmbito cultural, 
conforme tem estabelecido a Corte
. 
19. Assim, tanto a propriedade, quanto os bens incorpóreos, 
sociais e culturais, ligados à terra estão protegidos pelo art. 21 da CADH20
 À luz das evidências apontando danos ambientais e sociais levantadas por Mina Chak 
Luna, a comunidade Chupanky decidiu vetar a construção da UHE em seu território. Uma 
vez que os trabalhos tenham continuado nos territórios Chupanky e o Estado tenha se omitido 
em fazer valer o direito à propriedade desta comunidade, La Atlantis violou o art. 21 da 
Convenção, não só do ponto de vista material, mas também do ponto de vista da proteção aos 
bens incorpóreos, já que danos ocasionados ao território desta comunidade podem pôr em 
. 
 
17Caso da Comunidade Indígena Yakye Axa vs. Paraguai. Sentença de exceções preliminares, mérito, reparações 
e custas, § 135. 
18Caso da Comunidade Indígena Yakye Axa vs. Paraguai. Sentença de exceções preliminares, mérito, reparações 
e custas, § 131; Caso da Comunidade Mayagna (Sumo) Awas Tingni vs. Nicarágua. Sentença de mérito, 
reparações e custas, § 149; Organização Internacional do Trabalho, Convenção 169, art. 13. 
19Caso da Comunidade Mayagna (Sumo) Awas Tingni vs. Nicarágua. Sentença de mérito, reparações e custas, § 
144; Caso da Comunidade Indígena Yakye Axa vs. Paraguai. Sentença de exceções preliminares, mérito, 
reparações e custas, § 137. 
20Caso da Comunidade Mayagna (Sumo) Awas Tingni vs. Nicarágua. Sentença de mérito, reparações e custas, § 
144; Caso da Comunidade Indígena Yakye Axa vs. Paraguai. Sentença de exceções preliminares, mérito, 
reparações e custas, § 137. 
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13 
 
risco a transmissão de sua cultura para as gerações futuras, bem como outros bens imateriais 
desses povos. 
 Por fim, para que ocorra o processo expropriatório, a Corte tem imposto que, além de 
se observar os critérios de 1) previsão legal, 2) necessidade, 3) proporcionalidade e 4) fim 
legítimo em uma sociedade democrática, ao lidar com povos indígenas ou tribais, o Estado 
deve considerar se a restrição implica em destruição das tradições de modo a por em risco a 
própria subsistência do grupo e de seus integrantes, efetuando um processo de consulta21 
(buscando obter o consentimento livre, prévio e informado), um Estudo de Impactos
Ambientais e observando uma divisão de benefícios com a comunidade afetada22
No que concerne ao processo de consulta, a Comissão Interamericana se pronunciou 
afirmando que um procedimento de conhecimento pleno e informado, requer que todos os 
membros da comunidade estejam a par das circunstâncias ligadas ao processo e que 
disponham da oportunidade efetiva de participar, individual ou coletivamente
, nesse 
sentido também dispõe o art. 32 da Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos 
Povos Indígenas (doravante “DNUDPI”). 
23; além disso, a 
consulta deve ocorrer no primeiros estágios da elaboração do projeto, e não apenas quando 
seja necessário obter o consentimento das comunidades afetadas24
 La Atlantis não agiu de boa-fé para com as populações Chupanky e La Loma, haja 
vista não tê-las consultado nas primeiras etapas do plano de desenvolvimento. De fato, em 
. 
 
21 FAJARDO, R. Y. De la tutela a los derechos de libre determinación del desarollo, participación, consulta y 
consentimiento: fundamentos, balance y retos para su implementación. Amazônica- Revista de Antropologia. 
vol. 1, nº 2, 2009, p.368-405; PASQUALUCCI, Jo M. The evolution of International Indigenous Rights in the 
Inter-American Human Rights System. Human Rights Law Review. vol. 6 (2). Oxford University Press: 2006, 
p.287-288 
22 Caso Saramaka vs. Suriname. Sentença de exceções preliminares, mérito, reparações e custas, §127-129; Caso 
Ricardo Canese vs. Paraguai. Sentença de mérito, reparações e custas, de 31 de agosto de 2004, §96; Caso 
Sawhoyamaxa vs. Paraguai. Sentença de mérito, reparações e custas, §137. 
23 CIDH, relatório de mérito nº 40/04. Caso 12.053. Comunidades indígenas Maya no Distrito de Toledo, Belize, 
§ 142. 
24Caso Saramaka vs. Suriname. Sentença de exceções preliminares, mérito, reparações e custas, § 133. 
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14 
 
janeiro de 2005 o Estado já havia outorgado a concessão para a construção da UHE à 
empresa TW, no total desconhecimento das comunidades. Observa-se nisso uma clara 
predisposição arbitrária por parte de La Atlantis, visando construir o projeto de qualquer 
maneira. 
O Estado também falhou quanto a garantir informação plena, uma vez que enviou o 
Estudo de Impactos Ambientais à comunidade Chupanky sem nenhuma modificação quanto à 
linguagem técnica utilizada. Ainda com relação ao EIA, tem-se que este não foi produzido 
com seriedade, haja vista não contemplar danos ambientais comuns na construção de uma 
UHE, conforme as evidências levantadas por Mina Chak Luna. Isso permite afirmar que La 
Atlantis não encarou com seriedade a sua obrigação de garantir os direitos territoriais dessa 
comunidade, violando também o art. 1º.1 da CADH, no que tange ao dever de prevenir. 
 Ademais, foi negado às mulheres Chupanky, a despeito de suas reclamações, a 
oportunidade de se manifestar quanto ao projeto ante ao CED e à empresa TW, e quando 
conseguiram uma reunião com o MARN e o Comitê Intersetorial, suas queixas não foram 
analisadas com seriedade. Estatisticamente, a comunidade Chupanky é composta em 58% por 
mulheres, não ouvi-las significa dizer que a maior parte da comunidade não participou do 
processo de consulta. Revela-se nisso uma postura discriminatória por parte do Estado, haja 
vista não considerar os interesses desse setor social, sobretudo pelo fato de serem as mulheres 
as pessoas mais afetadas com a construção do projeto, posto ser ela a guardiã da tradição da 
água na cultura rapstan. 
 Quanto à comunidade La Loma, esta alegou sua relação cultural com o Rio como 
justificativa de sua recusa em abandonar o território e requisitou que lhe fosse observado o 
padrão internacional de consulta. Diante da primeira alegação e da multietnicidade da 
comunidade, o Estado deveria no mínimo ter realizado um estudo antropológico, visando de 
boa-fé salvaguardar o direito à cultura e identidade deste povo. No entanto, a única resposta 
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15 
 
de La Atlantis foi a expropriação arbitrária, sem consulta e muito menos consentimento dos 
La Loma, um acinte ao compromisso firmado na CADH, constituindo clara violação do art. 
1º.1 no que concerne ao dever de respeitar e prevenir. 
 Não cabe a declaração unilateral estatal da terra como de utilidade pública com 
relação a La Loma, posto ela ser uma comunidade multiétinica, tribal e em situação de 
vulnerabilidade. A propriedade é um bem inalienável e os Estados devem evitar desenvolver 
atividades tendentes à supressão deste, sobretudo quando se trata de grupos vulneráveis e que 
possuem uma relação diferenciada com o seu território. Ademais, é útil ressaltar que proteger 
o direito das comunidades indígenas ou tribais também é importante para a sobrevivência de 
diversidade cultural em uma sociedade democrática. 
 O Estado de La Atlantis, portanto, violou o art. 21, com relação a ambas as 
comunidade, bem como o art. 1º.1 da CADH, no que tange aos deveres de respeito, 
prevenção e reparo, posto ter-se negado a restabelecer os La Loma ao seu território e não 
respeitar a decisão Chupanky de paralisar as obras da UHE em seu território. 
c) O Estado violou o artigo 1º.1 (obrigação de respeitar os direitos) da CADH per se 
 O art. 1º.1 estipula a obrigação genérica que vincula o Estado com relação aos direitos 
estabelecidos na CADH, constituindo condição sine qua non para a responsabilização 
internacional25. Assim, toda vez que um direito protegido pela Convenção for violado, estar-
se-á diante da violação do art. 1º.126. O dever geral apontado no artigo em questão desdobra-
se em duas obrigações fundamentais: a de respeitar e a de garantir 27
 
25Dada a relevância do art. 1º.1, nos primeiros casos julgados pela Corte, embora este artigo não tivesse sido 
apontado pelas partes, uma das primeiras iniciativas da Corte foi estabelecê-lo como base da possível 
responsabilização e explicar a sua importância, fazendo uso do princípio iura novit curia—. Caso Godínez Cruz 
vs. Honduras. Sentença de mérito, § 172; Caso Velásquez Rodríguez e outros vs. Honduras. Sentença de mérito, 
§ 163; Corte Européia de Direitos Humanos. Handyside Case, sentença de 7 de dezembro de 1976, § 41. 
. 
26Caso Godínez Cruz vs. Honduras. Sentença de mérito, § 171; Caso Velásquez Rodríguez e outros vs. 
Honduras. Sentença de Mérito, §§ 162 e 164. 
27Caso Yean e Bosico vs. República Dominicana. Sentença de exceções preliminares, mérito, reparações e 
custas, § 173. 
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16 
 
 No que concerne ao dever de “respeitar”, o Estado não deve apresentar conduta, 
comissiva ou omissiva, violadora dos direitos inerentes à pessoa humana protegidos pela 
CADH28. O sistema internacional dos direitos humanos existe com a finalidade de proteger o 
indivíduo contra a arbitrariedade estatal, sendo o princípio da dignidade humana o precípuo 
fator limitativo dos poderes desta sociedade política29
 Convém ressaltar que o Estado atua na sociedade por meio dos seus agentes públicos. 
Logo, haverá inobservância do dever de respeito quando órgão ou agente oficial ofender um 
daqueles direitos, cabendo responsabilização, já que é um princípio do Direito Internacional 
que o Estado é responsável pelas ações, bem como pelas omissões de seus agentes atuando 
em condição oficial, ou até mesmo quando estes ultrapassam a esfera de sua competência ou 
violam o direito interno
. 
30
 Com relação ao dever de garantir, a Corte tem enfatizado em sua jurisprudência que 
cabe ao Estado organizar o aparato governamental e toda a estrutura por meio da qual o poder 
público é exercido, tomando medidas administrativas, legislativas e judiciais voltadas a 
assegurar com efetividade
o exercício livre e pleno dos direitos protegidos pela CADH. Isso 
implica no dever de prevenir, investigar e punir qualquer violação àqueles direitos, sendo que 
tais deveres não podem ser meramente formais, devendo ser levados adiante com seriedade e 
compromisso. Assim, uma situação onde um particular violou um direito amparado pela 
CADH pode chegar a ser imputado ao Estado, caso esse atue de modo leviano quanto aos 
deveres de prevenir, investigar e punir
. 
31
 
28Caso Godínez Cruz vs. Honduras. Sentença de mérito, § 174; Caso Velásquez Rodrigues vs. Honduras, 
sentença de mérito, § 165. 
. É necessário também restaurar a situação ao estado 
29Caso Velásquez Rodríguez e outros vs. Honduras. Sentença de mérito de 29 de julho de 1988, § 167 ; 
CorteIDH, Opinião Consultiva OC-6/86 de 9 de maio de 1986, § 21; Caso Yatama vs. Nicarágua, Sentença de 
exceções preliminares, mérito, reparações e custas, §167. 
30Caso Velásquez Rodríguez, Sentença de Mérito, § 169; Caso Godínez Cruz vs. Honduras. Sentença de mérito, 
§§ 178 a 179 
31Caso Godínez Cruz vs. Honduras, Sentença de Mérito, § 175; Caso Velásquez Rodrigues vs. Honduras, § 167. 
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17 
 
anterior à violação do direito, observando o princípio do restitutio in integrum, 
providenciando indenização pelos danos resultantes. 
 É óbvio que a construção de uma UHE em território habitado por povos que mantêm 
uma relação diferenciada com o território32
Em nenhum momento do planejamento ou negociações para a construção do projeto 
foi realizado estudo ou ouvido órgão especializado em questões indígenas ou multiétnicas, 
nem considerou-se o desenvolvimento dessas comunidades. Um Estado cujo histórico revela 
grandes conflitos com povos indígenas, que possui, atualmente, pelo menos 11% de sua 
população “oficialmente” indígena, e com grandes controvérsias com relação a miscigenação 
promovida na política de assimilação, tinha a obrigação de contemplar esses grupos em seu 
aparato governamental – como fazem os demais países nas Américas, como por exemplo, o 
Brasil, por meio da Fundação Nacional do Índio (FUNAI); a Argentina, através do Instituto 
Nacional do Índio e o Peru, por meio do Instituto Nacional de Desenvolvimento dos povos 
Andinos, Amazônicos e Afro-peruanos (INDEPA). 
 trará violações aos seus direitos. Assim, para 
prevenir a violação dos direitos desses grupos, é inviável que um Estado planeje 
arbitrariamente seu desenvolvimento a partir da invasão e destruição do território dessas 
comunidades. Ao agir desse modo, La Atlantis atuou de forma arbitrária, falhando em 
prevenir a violação dos direitos das comunidades Chupanky e La Loma. 
 O Estado La Atlantis falhou em cumprir o art. 1º.1 da CADH, ao transgredir os 
demais artigos alegados previstos nesta Convenção, e de per se, ao não prevenir as violações 
que tomaram lugar e não organizar o aparato governamental em favor da garantia dos 
direitos previstos na CADH, sem discriminação, com relação às comunidades Chupanky e La 
Loma. 
 
32Caso da Comunidade Mayagna (Sumo) Awas Tingni vs. Nicarágua. Sentença de mérito, reparações e custas. 
Voto arrazoado conjunto dos Juízes A. A. Cançado Trindade, M. Pacheco Gómez e A. Abreu Burelli, § 6. 
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d) O Estado violou o art. 4º.1 (direito à vida) c/c o art. 1º.1 da CADH 
 Segundo entendimento da Corte, o direito à vida deve ser interpretado da forma mais 
ampla possível em função de seu caráter fundamental e não admite enfoques restritivos, não 
se limitando a proteger a dimensão biológica da vida, mas também alcançando a dignidade 
humana. Daí a Corte alegar que o direito à vida abrange também o direito de não ser 
impedido do acesso a condições que garantam uma existência digna33
 Como obrigações negativas do Estado, tem-se a ausência de interferência na criação e 
desenvolvimento de um projeto de vida por parte dos indivíduos, que deve conferir sentido à 
sua existência. Obrigações positivas referem-se ao dever de adotar medidas que garantam 
condições dignas de existência, investigar, punir e reparar danos. Logo, conforme é afirmado 
pela jurisprudência da própria Corte
, o que implica em 
obrigações estatais negativas e positivas, as quais devem considerar a situação de especial 
vulnerabilidade de determinados grupos de pessoas. 
34 e pela doutrina, o direito à vida não se refere somente à 
proibição da privação arbitrária da vida, mas também à proibição da privação da criação e 
desenvolvimento de um projeto de vida, que consiste no próprio pleno e harmonioso 
desenvolvimento da personalidade do indivíduo, que originará um sentido para a sua própria 
existência e deve ser “[...] cuidado e fomentado pelos poderes públicos” 35
 Inclui-se nesta proteção a garantia dos direitos econômicos, sociais e culturais 
(doravante “DESC’s”), ilustrando a interdependência e indivisibilidade dos Direitos 
Humanos. Sem esses direitos, o indivíduo experimenta um estado de padecimento 
equivalente à morte espiritual
. 
36
 
33Caso Villagrán Morales e Outros vs. Guatemala. Sentença de mérito, § 144. 
. Compreendido sob essa perspectiva, o direito à vida, 
entendido a partir de uma interpretação ampla ou social, reflete o propósito da Declaração 
34Caso Villagrán Morales e outros versus Guatemala, Sentença de Mérito. Voto arrazoado conjunto dos Juízes 
A.A. Cançado Trindade e A. Abreu Burelli. 
35Caso Villagrán Morales e outros vs. Guatemala. Sentença de mérito, § 191. 
36Caso Villagrán Morales e outros vs. Guatemala. Sentença de mérito. Voto arrazoado conjunto dos juízes 
Cançado Trindade e Abreu Burelli, § 9. 
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Americana dos Direitos e Deveres do Homem de exaltar o espírito como finalidade suprema 
e categoria máxima da existência humana37
 A responsabilidade estatal acentua-se quando se trata da vida de pessoas ou grupos 
vulneráveis e indefesos, cujas condições dignas de existência são mais frágeis e sujeitas a 
violação. As vítimas do caso foram levadas a uma situação especial de vulnerabilidade, 
afetando seu modo de vida, por ser esse baseado na íntima relação mantida com a terra. 
. 
 Os povos vítimas têm sua vida digna seriamente ameaçada pela intenção do Estado de 
inundar o território em que vivem e desviar o curso do Rio, com o qual cultivam profunda 
relação cultural, para construção de Usina Hidroelétrica que, supostamente, traria 
desenvolvimento, a despeito de impactos ambientais ainda não mensurados. Constitui-se isso 
violação patente do art. 4° combinado com o art. 1° da CADH. 
 A relação com o Rio Xuxani é a base do modo de vida das comunidades em questão. 
Sem a relação com o Rio, considerado sagrado nas cosmovisões de ambas as populações, elas 
certamente padeceriam de uma morte espiritual, pois o projeto de vida que escolheram não 
teria se concretizado e suas vidas careceriam de qualquer sentido. 
 O território específico em que vivem e a relação com o Rio Xuxani constituem, para 
as comunidades vítimas, condições mínimas de uma vida digna e de desenvolvimento de um 
projeto de vida, cuja alegação procede pelo fato de as vítimas estarem vivas38, necessário 
para a aplicação da teoria. Nota-se, ademais, a violação de um projeto de pós-vida, que 
envolve os vivos em suas relações com os mortos, em conjunto39
 
37 Caso Loayza Tamayo versus Peru, Sentença de reparações e custas. Voto arrazoado conjunto dos Juízes A.A. 
Cançado Trindade e A. Abreu Burelli, § 15 e 16. 
. A relação deve ser 
harmoniosa e implicar dignidade para as comunidades
e não causar dano espiritual pelo 
impedimento de realização de rituais ou subsistir, como acontece no presente caso. 
38Caso González e Outras vs. México. Sentença de Mérito, § 589. 
39Caso Moiwana vs. Suriname. Sentença de exceções preliminares, mérito, reparações e custas §§ 67 e 70. 
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 Os membros da comunidade La Loma sofreram sérios danos espirituais, por terem 
sido remanejados para uma área distante do Rio Motompalmo, o que lhes trouxe dificuldades 
para realizar seus rituais religiosos. Os membros da Chupanky, por sua vez, tiveram seus 
horários de práticas religiosas e modo de vida afetados pela exploração que sofreram durante 
o trabalho nas obras da UHE. 
 Esse “assassinato espiritual” impingido por La Atlantis e a violação dos DESC s´ das 
comunidades ocorrem alçados na justificativa de que as vítimas seriam remanejadas para 
terras alternativas. Porém, tais áreas não são as escolhidas por elas próprias para composição 
de seu projeto de vida e de pós-vida, tampouco as que satisfariam suas necessidades culturais. 
 La Atlantis, tendo privado as comunidades La Loma e Chupanky de seus projetos de 
vida e de pós-vida violou o art. 4º da CADH, combinado com o art. 1º.1. 
e) O Estado violou o art. 5º.1 (direito à integridade pessoal) c/c o art 1º.1 da CADH 
 A CIDH já expressou que o direito à integridade pessoal protegido pela CADH e por 
outros instrumentos internacionais de direitos humanos é muito mais amplo que a ausência de 
golpes, torturas físicas ou outros tratamentos que deixam marcas visíveis na vítima40
 Segundo a CorteIDH, para configurar violação do artigo 5º deve-se avaliar também 
fatores endógenos e exógenos que influenciam no modo como a vítima experimenta o 
tratamento que ataca sua integridade pessoal
. 
41
 Com relação aos fatores exógenos, as vítimas em questão tiveram sua integridade 
física violada ao serem submetidas ao trabalho em condições inapropriadas. Prova disto é o 
relatório médico solicitado pelo grupo das “Guerreiras do Arco-Íris”, publicado na imprensa 
local em 16 de novembro de 2008, denunciando o fato de que quatro mergulhadores 
apresentaram complicações derivadas da Síndrome da Descompressão, pela falta de 
. 
 
40CIDH. Relatório nº 49/99. Caso 11.610. Loren Laroye Riebe Star e Outros, México, § 91. 
41Caso Loayza Tamayo vs. Peru. Sentença de mérito, § 57. 
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equipamento adequado para a realização do trabalho, incapacitando-lhes parcialmente. Nas 
linhas da Convenção 169 da OIT, o Estado deveria ter adotado medidas para que esses povos 
vulneráveis não se submetessem a condições de trabalho danosas para sua saúde, cabendo-lhe 
respeitar e garantir os direitos reconhecidos na CADH a toda pessoa sujeita à sua jurisdição42
 O Comitê Inter-Setorial foi o responsável pela oferta dos empregos. Como é 
composto por autoridades estatais e membros da companhia TW, imputa-se ao Estado a 
violação da integridade física dos trabalhadores em questão. 
, 
como rege o art. 1º.1 desta norma. Tomando conhecimento da situação pela divulgação na 
imprensa, o Estado deveria ter adotar medidas, de ofício, para investigar a situação e punir os 
responsáveis. 
 No que tange a fatores endógenos, a CIDH sustenta que também constitui grave lesão 
à integridade psíquica e moral violações que afetem o normal desenvolvimento da vida das 
vítimas, provocando uma constante incerteza sobre seu futuro43
 As condições de trabalho às quais foram submetidos os Chupanky constituem fator 
endógeno de violação, pois eram exploratórias, o que gerou severas repercussões na dinâmica 
familiar e cultural da sociedade. Ademais, a permissão concedida pelo Estado para que se 
concretizasse nos territórios das comunidades Chupanky e La Loma a obra da UHE, por si só, 
. Com efeito, os integrantes 
da comunidade La Loma experimentaram internamente essa sensação ao serem forçadamente 
deslocados de seu território original para terras provisórias, em situação de pobreza e 
vulnerabilidade, cujas características não correspondem às condições de vida que esse povo 
necessita para se desenvolver normalmente. Sob a concepção da comunidade La Loma, a 
única terra que condiz com essas condições são suas terras ancestrais, que abrigam sua 
cultura e seu modo de vida. 
 
42Caso Velásquez Rodríguez vs. Honduras. Sentença de Mérito, § 165. 
43CIDH. Relatório nº 43/96. Caso 11.430. José Francisco Gallardo, México, 15 de outubro de 1996, § 79. 
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já constitui um fator endógeno de lesão à integridade psíquica e moral das vítimas, pois, nas 
linhas da Convenção 169 da OIT, os Estados devem garantir a proteção efetiva dos direitos de 
propriedade e posse dos povos indígenas, assim como dos grupos multiétinicos que se 
relacione à maneira indígena com seu território, pela interpretação evolutiva que deve ser 
feita aos tratados internacionais de direitos humanos 44
 O deslocamento forçado e o reassentamento dos La Loma em terras provisórias não 
desejadas por eles retira das vítimas o que elas tinham de mais valioso, o desenvolvimento 
normal de sua cultura, de sua subsistência e, principalmente, do seu projeto de vida
. 
45
La Atlantis implicou em violação do art. 5º, bem como do art. 1º 1, ambos da CADH, 
por ter permitido a construção da UHE no Rio Motompalmo, ainda que ciente da afetação dos 
territórios ancestrais dos La Loma e Chupanky. 
. A 
ausência disso implica em grave violação dos direitos de integridade psíquica e moral, pois 
conforme já mencionado, a vida dessas pessoas perde o sentido, o que, obviamente, afeta 
negativamente sua integridade, constituindo fatores endógenos de violação experimentados 
internamente pelas vítimas. 
f) O Estado violou o artigo 6º.2 (proibição de escravidão e de servidão) c/c o art. 1º.1 da 
CADH 
 O art. 6º2 protege o direito humano dos trabalhadores à liberdade e a condições 
apropriadas de trabalho. A Corte Europeia de Direitos Humanos, bem como a convenção 29 
da OIT46
 
44 Caso da Comunidade Mayagna (Sumo) Awas Tingni vs. Nicarágua. Sentença de mérito, reparações e custas, § 
125; Caso da Comunidade Indígena Yakye Axa vs. Paraguai. Sentença de mérito, reparações e custas, §§ 125 a 
128. 
, define trabalho forçado como um labor executado pelo trabalhador contra a sua 
45 Caso Villagrán Morales e Outros vs. Guatemala. Sentença de Mérito. Voto arrazoado conjunto dos juízes A. A. 
Cançado Trindade e Abreu Burelli, § 8. 
46 Convenção 29 da OIT, art. 2º. 
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vontade, que é injusto ou opressivo em si ou que implica uma obrigação injusta ou 
opressiva47
 O povo indígena Chupanky trabalhou forçadamente, exposto a carga horária laboral 
de quinze horas por dia, sem pagamento de horas extras, com baixa remuneração, e com 
horários de almoço e expediente irregulares, o que afetou seu modo de vida tradicional e sua 
dinâmica familiar. Isso tudo em virtude da falta de poder econômico e por acordo opressivo e 
enganoso, firmado com a empresa TW e com o Comitê Inter-Setorial. 
. 
 A remuneração proposta pelo Comitê Inter-Setorial e conferida pela TW, além de 
injusta por ser muito inferior ao valor merecido e de não incluir horas extras, era desigual. As 
mulheres trabalhavam tanto quanto os homens e tinham uma função igualmente exaustiva, 
mas recebiam menos da metade, contrariando a orientação do disposto no artigo 7º.2 do Pacto 
Internacional de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais referente ao direito feminino de 
perceber a mesma remuneração que os homens por trabalho igual, o qual auxilia
em dotar de 
conteúdo o art. 6º.2 da CADH. Aquele dispositivo abrange o direito dos empregados de ter 
condições seguras e higiênicas de trabalho, descanso, lazer, limitação razoável das horas de 
trabalho e uma existência decente para eles e suas famílias. Nenhum desses direitos foi 
observado pelo Estado durante os trabalhos na construção da UHE Cisne Negro. 
 O trabalho ofertado, portanto, foi injusto. Ademais, o exercício de quaisquer dos 
direitos protegidos na CADH nunca pode justificar ataques ou represálias por parte de 
agentes do Estado48
 
47Corte Européia de Direitos Humanos. Iversen vs. Noruega. nº. 1468/62, Sentença de 17 de dezembro de 1963. 
, que deve proceder no sentido de respeitar e garantir os direitos dos 
indivíduos a um trabalho digno, investigando o fato, adotando medidas razoáveis que 
proporcionem condições apropriadas de trabalho e punindo os responsáveis, o que La Atlantis 
teve oportunidade de fazer, ao tomar conhecimento dos fatos quando da divulgação na 
48Caso Velásquez Rodríguez, Sentença de Mérito, § 144. 
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imprensa, mas não fez, mantendo-se, providenciando apenas um auxílio saúde ínfimo, que na 
verdade não constitui reparação satisfatória, e manteve-se quanto a investigar e punis a 
notória situação de violação. 
 Imputa-se ao Estado de La Atlantis a violação do artigo 6º.2 c/c o art. 1º.1 da CADH, 
contra a comunidade indígena Chupanky (indígenas em situação de vulnerabilidade), por tê-
los submetido a exploração laboral e a condições de trabalho inapropriadas sob baixa 
remuneração, bem como por haver tomado conhecimento da violação dos direitos humanos 
dos trabalhadores na construção da UHE e não ter tomado nenhuma providência para 
investigar, punir e cessar as violações. 
g) O Estado violou o art. 25 (proteção judicial) c/c o art. 8º (garantias judiciais) e o 1º.1 
da CADH 
 O art. 25 da Convenção Americana dispõe sobre o direito que toda pessoa tem a um 
recurso rápido, simples e efetivo ante juízes e tribunais, que a proteja contra atos que violem 
os seus direitos fundamentais, enquanto o art. 8º resguarda o direito ao devido processo 
legal49
 Quando os recursos internos são esgotados e um caso é apreciado pela CorteIDH, esta 
não está atuando como uma quarta instância, mas atua para analisar se o procedimento 
adotado pelo Estado na avaliação do caso respeitou ou não os tratados internacionais 
ratificados por ele, sobretudo a Convenção Americana
, incluindo o princípio da imparcialidade do juiz. 
50
 Para que o art. 25 da CADH seja respeitado, não basta que o Estado preveja 
formalmente os ditos recursos, senão também que estes tenham efetividade para estabelecer 
se houve ou não a violação de direitos humanos e prover reparação devida às possíveis 
. 
 
49Caso dos massacres de Ituango vs. Colômbia. Sentença de exceções preliminares, mérito, reparações e custas, 
§ 287. 
50 Caso Cabrera García e Montiel Flores vs México. Sentença de exceções preliminares, mérito, reparações e 
custas, § 19. 
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25 
 
vítimas51. Assim, o Estado deve assegurar a aplicação dos recursos por parte de suas 
autoridades judiciais, bem como adotar medidas que sejam necessárias para que o 
estabelecido na CADH seja cumprido52
 Esses recursos devem ser idôneos e atender as garantias processuais contidas no art. 
8º da CADH. Estas regras também devem ser observadas quando se tratar de um processo 
administrativo ou qualquer outro tipo de processo cuja decisão possa afetar os direitos das 
pessoas
. 
53. A responsabilidade internacional que o Estado assume no art. 1º.1 da CADH de 
respeitar aquela norma, requer desse ações especiais com relação a grupos que estejam em 
condição de vulnerabilidade. Neste contexto, é crucial que o Estado tome medidas para 
garantir que os grupos vulneráveis tenham acesso a recursos que os amparem efetivamente 
contra atos violadores de seus direitos fundamentais54
 No caso em questão, as comunidades La Loma e Chupanky interpuseram diversos 
recursos visando a proteção de seus direitos, tanto no âmbito administrativo, com solicitações 
dirigidas ao Comitê Inter-Setorial (janeiro de 2008), à diretoria da empresa (janeiro de 2008), 
ao MARN (dezembro de 2008), ao CED (dezembro de 2008) e ao Tribunal Contencioso 
Administrativo (abril de 2009), quanto no judiciário, ao recorrer ao juiz civil (março de 2006) 
e ao Supremo Tribunal de Justiça (setembro de 2009). 
. 
 
51Caso Comunidade Moiwana vs. Suriname. Sentença de exceções preliminares, mérito, reparações e custas, 
§142; Caso Comunidade indígena Yatama vs. Nicarágua, Sentença de exceções preliminares, mérito, reparações e 
custas, §169; Caso Tibi vs. Equador. Sentença de exceções preliminares, mérito, reparações e custas, § 131; Caso 
Maritza Urrutia vs. Guatemala. Sentença de mérito, reparações e custas, § 117; Caso Juan Humberto Sánchez vs. 
Honduras. Sentença de exceções preliminares, mérito, reparações e custas, § 121; Caso da Comunidade 
Mayagna (Sumo) Awas Tingni vs. Nicarágua. Sentença de mérito, reparações e custas, § 111; Caso do Povo 
Saramaka vs. Suriname. Sentença de exceções preliminares, mérito, reparações e custas, § 177. 
52Caso da Comunidade Indígena Yakye Axa vs. Paraguai. Sentença de exceções preliminares, mérito, reparações 
e custas, § 52; Caso da Comunidade Mayagna (Sumo) Awas Tingni vs. Nicarágua. Sentença de mérito, 
reparações e custas, §§ 135 e 136. 
53Caso da Comunidade Indígena Yakye Axa vs. Paraguai. Sentença de exceções preliminares, mérito, reparações 
e custas, § 62; Caso Baena Ricardo e outros vs. Panamá. Sentença de mérito, §127. 
54Caso da Comunidade Indígena Yakye Axa vs. Paraguai. Sentença de exceções preliminares, mérito, reparações 
e custas, §51; CorteIDH, Opinião Consultiva OC-17/2002, de 28 de agosto de 2002, § 55; CIDH. Relatório 
temático: The Road to Substantive Democracy: women’s political participation in the Americas. 2001, § 97 
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 Em todas essas ocasiões, as comunidades tiveram suas pretensões declinadas, e a 
despeito das evidências demonstradas nos recursos acionados, esses não se mostraram 
efetivos para amparar os direitos destes povos, os quais, em virtude de sua vulnerabilidade, 
necessitavam ainda mais da atuação estatal para o gozo de seus direitos. Ao falhar em garantir 
que os recursos existentes atingissem o propósito para o qual foram criados, o Estado violou 
o art. 25 da CADH. 
 Também não houve idoneidade na apreciação das alegações apresentadas, havendo 
clara parcialidade na apreciação das denúncias e pedidos. Desde o início do projeto, o Estado 
tem sempre demonstrado que visa construir a UHE a qualquer custo, conforme observa-se do 
fato de que, antes de consultar as comunidades afetadas, a concessão já havia sido outorgada 
à TW. Essa concessão, sem o consentimento prévio das comunidades é uma séria evidência 
da inexorável vontade política do Estado em implementar esse projeto. 
 As autoridades que analisaram os recursos claramente não levaram em consideração 
as denúncias com relação ao trabalho forçado, às condições de emprego, à discriminação e à 
destruição socioambiental, posto não tê-las investigado com seriedade. Da mesma forma com 
relação ao controle de convencionalidade, cuja própria existência no ordenamento do país 
esvaiu-se de sentido, já que foi utilizado de modo contrário ao propósito ao qual fora criado. 
A verdade é que desde o início, o caso já havia sido decidido. Em virtude da grande pressão 
governamental e dos interesses nacionais e estrangeiros envolvidos na construção da UHE 
Cisne
Negro, não importaria a que recursos a comunidade fosse recorrer, seriam vias 
meramente burovráticas, pois já estava firmada a decisão. 
 O Estado, portanto, violou o art. 8º da CADH, no que tange a imparcialidade e 
independência dos órgãos que analisaram os requerimentos de La Loma e Chupanky, bem 
como o art. 1º.1, vez que suas autoridades desrespeitaram o direito a um recurso efetivo e 
imparcial, bem como falharam no que tange aos deveres de investigar, punir e reparar. 
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27 
 
h) O Estado violou o art. 7º. A, B e G (deveres do Estado) da Convenção Interamericana 
para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher (Convenção de Belém do 
Pará) 
O Estado de La Atlantis ratificou a Convenção de Belém do Pará (doravante “CVM”) 
em sua Constituição de 1994. A CorteIDH é competente para julgar a violação alegada, posto 
o art. 12 deste instrumento prever a possibilidade de peticionamento ante o Sistema 
Interamericano com relação às violações dos deveres contidos no art. 7º da CVM55
A Comissão, em seu relatório sobre a participação política das mulheres nas 
Américas
, 
observando-se o procedimento previsto na CADH. 
56, apontou a necessidade dos Estados em adotar medidas para garantir a verdadeira 
igualdade de gênero na esfera política57 e o dever de institucionalizar canais de participação 
por meio dos quais as mulheres possam contribuir substancialmente no desenvolvimento de 
políticas públicas58 e promover seus interesses específicos59, sobretudo quando se tratar de 
mulheres indígenas ou afrodescendentes, haja vista sua situação de marginalidade e 
vulnerabilidade60
A despeito de constituírem a maior parte desta população, de serem as mais afetadas 
com a construção do projeto e de se classificarem como grupo vulnerável, as mulheres 
Chupanky não tiveram a oportunidade de participar do processo de consulta com relação à 
construção da UHE Cisne Negro, embora tenham se mobilizado de diversas maneiras, 
organizando protestos, realizando denúncias e requisitando reuniões com órgãos 
administrativos do Estado e da empresa TW. Houve discriminação também no processo de 
. 
 
55Caso González e outras (“Campo Algodonero”) vs. México. Sentença de exceções preliminares, mérito, 
rearações e custas, § 79. 
56CIDH. Relatório temático: The Road to Substantive Democracy: women’s political participation in the 
Americas. 2001. 
57Idem, § 17. 
58Ibidem, § 18. 
59Ibidem, § 97. 
60Ibidem, §§ 94 e 96. 
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construção da UHE, haja vista que às mulheres foi designado um salário inferior ($2,00 por 
dia), equivalente a menos da metade da remuneração dos homens ($4,50 por dia), embora 
todos, inicialmente, cumprissem a mesma carga horária. 
Por não só deixar de consultar as mulheres quanto ao projeto, mas também por 
recusar-se a ouvi-las, o Estado de La Atlantis violou o art. 7º.A, por seus órgãos 
administrativos terem desrespeitado o direito previsto no art. 4º. J (direito de participar na 
tomada de decisões na vida pública); 7º.B, porque falhou em prevenir essa violação e em 
repará-la quando teve a oportunidade; e 7º.G tendo em vista que seus mecanismos 
administrativos não asseguraram que essas mulheres tivessem acesso à justa reparação quanto 
à violência sofrida61
Ademais, ao permitir a situação de exploração e discriminação laboral contra a 
mulher, La Atlantis novamente violou o art. 7º.B, por não ter prevenido, investigado e muito 
menos punido os agressores; bem como o 7º.G, pelas mesmas razões supra. 
. 
Não cabe a alegação de que o Estado observou os costumes da comunidade no 
processo de consulta, pois a observância de peculiaridades culturais não pode servir de 
justificativa para a violação de direitos humanos62
5. SOLICITAÇÃO DE ASSISTÊNCIA 
, sobretudo quando se trata de grupos 
vulneráveis. Assim, La Atlantis violou o art.7. A, B e G da CVM, com relação às mulheres da 
comunidade Chupanky. 
 Ante as considerações de fato e de direito expostas, torna-se imperativo resguardar a 
integridade física e cultural das vítimas, já que qualquer dano causado agora pode ser 
irreparável, segundo as cosmovisões de ambas as comunidades. Portanto, diante do fato de 
 
61Neste sentido, a Convenção de Belém do Pará dispõe em seu art. 1º que: “Para os efeitos desta Convenção, 
entender-se-á por violência contra a mulher qualquer ato ou conduta baseada no gênero, que cause morte, 
dano ou sofrimento físico, sexual ou psicológico à mulher, tanto na esfera pública como na esfera privada”. 
(grifo nosso). 
62Caso da Comunidade Mayagna (Sumo) Awas Tingni vs. Nicarágua. Voto arrazoado conjunto dos Juízes A. A. 
Cançado Trindade, M. Pacheco Gòmez e A. Abreu Burelli, § 14. 
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que esses povos, por diversas vezes, dirigiram-se às autoridades competentes para apresentar 
suas reivindicações, por meio de solicitações de reunião com órgãos ministeriais e de recurso 
perante a instância máxima do país, e de que estes órgãos agiram com leniência e desinteresse 
perante à situação das vítimas, urge-se que esta Corte conceda medidas provisórias para 
impedir que os direitos humanos em questão sejam afetados. 
 Diante de tais alegações, a ONG Morpho Azul, representante das vítimas, solicita à 
Cort IDH, em observância ao artigo 25.3 do seu Regulamento e ao artigo 63.2 da CADH, 
Medidas Provisórias em favor da proteção dos direitos das comunidades Chupanky e La 
Loma, especificamente: (a) a interrupção de qualquer intervenção, atividade ou procedimento 
por parte do Estado ou de outras entidades orientados no sentido da construção da UHE Cisne 
Negro; (b) o reassentamento da comunidade La Loma no seu território ancestral; (c) a 
restituição do estado anterior da comunidade Chupanky. 
Além disso, a ONG Morpho Azul, na qualidade de representante das vítimas no 
presente caso, solicita também à Corte IDH a declaração da responsabilidade internacional do 
Estado de La Atlantis pela violação dos artigos 1º.1, 4º.1, 5º.1, 6º.2, 8º, 25 e 21 da CADH em 
prejuízo dos membros da comunidade Chupanky e dos artigos 1º.1, 4º.1, 5º.1, 8º, 25 e 21 
desse mesmo documento além das obrigações contraídas pelo art. 7º.A, B e G da Convenção 
de Belém do Pará em prejuízo dos membros da comunidade Chupanky. 
Ademais, visando à reparação integral e a garantia de não repetição das violações, 
solicita-se: (1) medidas de restituição de direitos no sentido de reassentar a comunidade La 
Loma em seu território ancestral e garantir às comunidades La Loma e Chupanky o direito de 
propriedade sobre o território que tradicionalmente ocupam; (2) medidas estatais orientadas a 
investigar e sancionar as violações de direitos humanos econômicos e sociais sofridas pelos 
indígenas Chupanky durante o labor executado nas obras da UHE; (3) como medida de 
prevenção, a obrigatoriedade e vinculação do Estado à consulta prévia para populações 
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multiétnicas, a criação de uma instituição pública voltada para causas relacionadas a povos 
indígenas e tradicionais, uma reforma legal trabalhista no Estado de La Atlantis que impeça a 
remuneração desigual entre homens e mulheres e interrompa a concessão de cédulas de 
identidade a povos indígenas, em cumprimento da previsão normativa da Convenção 169 da 
OIT; (4) a título de reparação simbólica, um pedido público de desculpas por parte do Estado 
veiculado no jornal “El Oscurín Pegri”, onde é assumida a responsabilidade pelas violações 
anteriormente descritas. 
Finalmente, solicitamos à Corte IDH que determine ao Estado ressarcir a ONG 
Morpho Azul em razão das despesas efetuadas relativas ao processo.

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