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AN02FREV001/REV 4.0 1 PROGRAMA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA A DISTÂNCIA Portal Educação CURSO DE PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO Aluno: EaD - Educação a Distância Portal Educação AN02FREV001/REV 4.0 2 CURSO DE PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO MÓDULO I Atenção: O material deste módulo está disponível apenas como parâmetro de estudos para este Programa de Educação Continuada. É proibida qualquer forma de comercialização ou distribuição do mesmo sem a autorização expressa do Portal Educação. Os créditos do conteúdo aqui contido são dados aos seus respectivos autores descritos nas Referências Bibliográficas. AN02FREV001/REV 4.0 3 SUMÁRIO MÓDULO I 1 CONCEITO DE PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO 1.1 HISTÓRICO DO DESENVOLVIMENTO DA INFÂNCIA DESDE A IDADE MÉDIA ATÉ OS DIAS DE HOJE 1.2 A IMPORTÂNCIA DO ESTUDO DA PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO 1.3 FATORES QUE INFLUENCIAM O DESENVOLVIMENTO HUMANO 1.4 ASPECTOS DO DESENVOLVIMENTO HUMANO 1.6 DETERMINANTES DO DESENVOLVIMENTO PSÍQUICO 1.5 RELAÇÕES ENTRE DESENVOLVIMENTO COGNITIVO E AFETIVO 1.6 CONTRIBUIÇÕES DA PSICANÁLISE PARA O ESTUDO DO DESENVOLVIMENTO PSÍQUICO 1.7 CONTRIBUIÇÕES DA GENÉTICA PARA O DESENVOLVIMENTO HUMANO E AS INFLUÊNCIAS DA HEREDITARIEDADE E O AMBIENTE PARA O INDIVÍDUO MÓDULO II 2 DESENVOLVIMENTO PRÉ-NATAL 2.1 PERÍODO DO EMBRIÃO 2.2 PERÍODO DO FETO 2.3 O PROCESSO DE NASCIMENTO 2.4 TRABALHO DE PARTO 2.5 COMPLICAÇÕES NO PROCESSO DE NASCIMENTO 3 PSICOLOGIA DA GRAVIDEZ 3.1 A MATERNIDADE 4 O RECÉM-NASCIDO: SUAS CAPACIDADES SENSORIAIS 4.1O BEBÊ E O PRIMEIRO ANO DE VIDA AN02FREV001/REV 4.0 4 MÓDULO III 5 INTRODUÇÃO 5.1 DESENVOLVIMENTO FÍSICO, MOTOR, PERCEPTIVO, COGNITIVO, SOCIAL E DA PERSONALIDADE DA CRIANÇA DE 0 A 2 ANOS 5.1.1 Desenvolvimento físico 5.1.2 Desenvolvimento Motor 5.1.3 Desenvolvimento Perceptivo 5.1.4 Desenvolvimento Cognitivo 5.1.5 Desenvolvimento da linguagem 5.1.6 Desenvolvimento Social e da Personalidade 5.1.7 Emoções 6 TEORIA DO APEGO 6.1 DESENVOLVIMENTO FÍSICO, MOTOR, COGNITIVO, DA LINGUAGEM, SOCIAL E DA PERSONALIDADE DA CRIANÇA PRÉ-ESCOLAR (2 A 6 ANOS) 6.1.1 Desenvolvimento Físico 6.1.2 Desenvolvimento Motor 6.1.3 Desenvolvimento Cognitivo 6.1.4 Desenvolvimento da Linguagem 6.1.5 Desenvolvimento Social e da Personalidade 6.1.6 A influência na criação dos filhos 6.2 DESENVOLVIMENTO FÍSICO, MOTOR, COGNITIVO, SOCIAL E DA PERSONALIDADE DA CRIANÇA PRÉ-ESCOLAR (6 A 12 ANOS) 6.2.1 Desenvolvimento Físico 6.2.2 Desenvolvimento Motor 6.2.3 Desenvolvimento Cognitivo 6.2.4 Desenvolvimento Social e da Personalidade 6.3 PRINCÍPIOS SOBRE O DESENVOLVIMENTO PARA WINNICOTT 6.3.1 Quem foi Winnicott? 6.3.2 Concepções do Desenvolvimento Emocional e Físico da Criança AN02FREV001/REV 4.0 5 6.3.3 Relação entre mãe e bebê 6.3.4 Relação da Criança com a Família 6.3.5 Diferenças de uma criança normal para uma delinquente 6.3.6 A Criança e o Brincar 6.4 PRINCÍPIOS SOBRE O DESENVOLVIMENTO PARA MELAINE KLEIN 6.4.1 Biografia de Melaine Klein 6.4.2 Características da análise Kleiniana 6.5 PRINCÍPIOS SOBRE O DESENVOLVIMENTO PARA ARMINDA ABERASTURY 6.5.1 Trajetória e lógica profissional da autora Arminda Aberastury 6.5.2 Pontos relevantes na Psicologia do Adolescente MÓDULO IV 6.6 ADOLESCÊNCIA: DESENVOLVIMENTO FÍSICO, COGNITIVO, SOCIAL E DA PERSONALIDADE DO ADOLESCENTE 6.6.1 Desenvolvimento físico 6.6.2 Desenvolvimento Cognitivo 6.6.3 Desenvolvimento Social e da Personalidade 6.6.3.1 Adolescente e o Mundo do trabalho 6.7 A VIDA ADULTA: DESENVOLVIMENTO FÍSICO, COGNITIVO, SOCIAL E DA PERSONALIDADE DO ADULTO 6.7.1 Desenvolvimento Físico 6.7.2 Desenvolvimento Cognitivo 6.7.2.1 Educação e o Mundo do Trabalho 6.7.3 Desenvolvimento Social e da Personalidade 6.8 MEIA IDADE: DESENVOLVIMENTO FÍSICO, COGNITIVO, SOCIAL E DA PERSONALIDADE DO ADULTO 6.8.1 Desenvolvimento Físico 6.8.2 Desenvolvimento Cognitivo 6.8.2.1 Educação, Trabalho e Lazer 6.8.3 Desenvolvimento Social e da Personalidade 6.9 TERCEIRA IDADE: DESENVOLVIMENTO FÍSICO, COGNITIVO, SOCIAL E DA PERSONALIDADE DO IDOSO AN02FREV001/REV 4.0 6 6.9.1 Desenvolvimento Físico 6.9.2 Desenvolvimento Cognitivo 6.9.3 Desenvolvimento Social e da Personalidade 6.10 A MORTE E O MORRER MÓDULO V 7 PRINCÍPIOS SOBRE O DESENVOLVIMENTO PARA SIGMUND FREUD 7.1 BIOGRAFIA DE SIGMUND FREUD 7.1.2 Processos Psíquicos: Consciente e Inconsciente 7.1.3 Estrutura da Personalidade 7.1.4 Recalque e Sublimação 7.1.5 Métodos utilizados na Psicanálise: Associação livre e os Sonhos 7.1.6 Fases do desenvolvimento Psicossexual 7.1.6.1 Complexo de Édipo 7.1.6.2 Complexo de Castração 7.2 PRINCÍPIOS SOBRE O DESENVOLVIMENTO PARA JEAN PIAGET 7.2.1 Biografia de Jean Piaget 7.2.2 Epistemologia genética 7.2.3 Abordagem Construtivista 7.3 PRINCÍPIOS SOBRE O DESENVOLVIMENTO PARA LEV SEMENOVITCH VYGOTSKY 7.3.1 Biografia de Lev Semenovitch Vygotsky 7.3.2 Inteligência do ponto de vista interacionista 7.3.3 Afetividade na educação infantil REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AN02FREV001/REV 4.0 7 MÓDULO I 1 CONCEITO DE PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO Psicologia vem do grego Ψυχολογία, derivado das palavras ψυχή, psykhé, "alma" e λόγος, lógos, "palavra", ou seja, palavra da alma. (RÉGIS, 1967). Na idade antiga a Psicologia tinha uma forte influência da Filosofia, por meio de filósofos como, Sócrates, Platão e Aristóteles, que iniciaram a investigação da alma humana. Para Sócrates (469/399 a. C.) a principal característica do ser humano era a razão, o que permitia ao homem deixar de ser um animal irracional. Para Platão (427/347 a. C.), discípulo de Sócrates, o lugar da razão no corpo humano era a cabeça, representando fisicamente a psique, e a medula, tinha como função a ligação entre mente e corpo. E Aristóteles (387/322 a. C.), discípulo de Platão, compreendia o corpo e a mente de forma integrada e a psique como o princípio ativo da vida. Já na era cristã, quando a hegemonia do conhecimento pertencia à igreja, Santo Agostinho e São Tomas de Aquino partem dos posicionamentos de Platão e Aristóteles respectivamente. Santo Agostinho partiu da ideia de que toda a existência humana é de natureza divina. Já Tomás de Aquino parte do postulado de acordo com a natureza racional. Todo homem é dotado de livre-arbítrio orientado pela consciência e tem uma capacidade inata de captar, intuitivamente, os ditames da ordem moral (GAARDER, 1995). A partir do final do século XIX, acadêmicos da época resolvem distanciar a Psicologia da Filosofia, dando origem ao que se chamou de Psicologia Moderna. Os comportamentos observáveis passam a fazer parte da investigação científica em laboratórios com o objetivo de se controlar o comportamento humano. Nesse sentido, os teóricos objetivam suas ações na tentativa de construir um corpo teórico consistente, buscando o reconhecimento da Psicologia como ciência. O objeto de estudo dessa ciência, contudo, ainda hoje é alvo de AN02FREV001/REV 4.0 8 controvérsias especialmente quanto às distinções ou necessidades de estudo da mente em oposição ao estudo do comportamento. Hoje, a psicologia passa a ser definida como a ciência que estuda os processos mentais (sentimentos, pensamentos, razão) e o comportamento humano. Ou seja, ela estuda o que motiva o comportamento humano, passando pela sensação, emoção, percepção, aprendizagem, inteligência, entre outros (BOCK, FURTADO, TEIXEIRA, 1999). A partir desse panorama do conceito da psicologia, podemos refletir melhor o que seria a Psicologia do Desenvolvimento. Emboraa Psicologia do Desenvolvimento tenha sido frequentemente conjugada com a Psicologia Infantil ou da criança, alguns especialistas indagam que o desenvolvimento não se restringe a determinada faixa etária e que devemos estudar o desenvolvimento de comportamentos no decorrer da vida da indivíduo (BEE, 1997). Logo, poderíamos dizer que o estudo do desenvolvimento do ser humano acontece, desde antes do nascimento até a morte, passando inclusive pelos processos de luto. As mudanças são mais óbvias durante a infância, porém ocorrem durante toda a vida e envolvem variáveis afetivas, cognitivas, sociais e biológicas em todo o ciclo de vida. O desenvolvimento humano refere-se à interação do indivíduo com o ambiente físico e social, a partir daí, se estabelece o desenvolvimento mental e o crescimento orgânico. O desenvolvimento mental é construído de forma contínua e se caracteriza gradativamente pelo aparecimento de estruturas mentais. Essas estruturas são formas de organização da atividade mental que vão se aperfeiçoando e se fortalecendo, até o momento de estarem plenamente desenvolvidas, se caracterizando por um estado de equilíbrio superior em relação à inteligência, à vida afetiva e às relações sociais (BOCK, FURTADO, TEIXEIRA, 1999). Considerando um indivíduo saudável, algumas estruturas mentais permanecem ao longo da vida do ser humano e garantem a continuidade do seu desenvolvimento, como exemplo a motivação. Ela é desencadeadora da ação no indivíduo, seja por necessidade fisiológica, afetiva e social. A motivação é um impulso que determina a atividade dirigida para uma AN02FREV001/REV 4.0 9 finalidade ou uma recompensa. Ou seja, é uma espécie de energia psicológica ou tensão que põe em movimento o organismo humano. Por isso, a motivação começa dentro da pessoa, não depende necessariamente do ambiente que ela está. Partimos de um princípio onde a conquista é característica nata no ser humano, e a motivação é o trampolim que o impulsiona para o alvo. Mostramos que a chave da motivação está dentro do ponto de vista em que observamos as coisas (OFICINA, 2005). Já outras estruturas mentais, como a obediência, são substituídas a cada nova fase da vida do indivíduo. Na infância, o modo da criança se comportar está de acordo com a moral dos pais. Este modo é substituído na adolescência por uma autonomia própria do jovem adolescente. Assim, também acontece no campo de percepção dos objetos, na compreensão das palavras, conforme o ser humano vai crescendo, algumas estruturas mentais vão se alterando e se desenvolvendo (BOCK, FURTADO, TEIXEIRA, 1999). Portanto, o objeto de estudo da Psicologia do Desenvolvimento atual consiste nos processos intraindividuais e ambientais que levam a mudanças de comportamento. Observamos também que a Psicologia do Desenvolvimento abrange e incorpora a Psicologia da Personalidade, a Psicologia da Aprendizagem, a Psicologia Social, a Psicopatologia, a Psicologia Fisiológica e ainda ciências afins, como a Genética, a Antropologia e a Sociologia, entre outras. O que diferencia e caracteriza a Psicologia do Desenvolvimento seria o interesse em mudanças de comportamento que ocorrem durante um longo período enquanto que outras áreas da Psicologia focalizam mudanças de comportamento geralmente em curto prazo. O psicólogo do desenvolvimento se interessa por estágios e sequências ordenadas no desenvolvimento. 1.1 HISTÓRICO DO DESENVOLVIMENTO DA INFÂNCIA DESDE A IDADE MÉDIA ATÉ OS DIAS DE HOJE Para compreendermos a importância do estudo da psicologia do desenvolvimento humano é importante entendermos como ocorreu na história o desenvolvimento da infância até os dias de hoje. Segundo ARIÈS (1981) na Idade Média (476-1453), considerava-se a AN02FREV001/REV 4.0 10 infância como um período caracterizado pela inexperiência, dependência e incapacidade de corresponder às demandas sociais mais complexas. A criança era vista como um adulto em miniatura e, por isso, trabalhava nos mesmos locais, usava as mesmas roupas, era tratada da mesma forma que o adulto. Sem o estabelecimento das diferenças entre adulto e criança, restava para ela o aprendizado das tarefas do dia a dia. Para tal, eram criadas por outras famílias, para que morassem, iniciassem suas vidas e, nesse novo ambiente, aprendessem um ofício. Dessa maneira, a passagem da criança pela própria família era muito breve e as comunicações sociais e as trocas afetivas eram realizadas fora do círculo familiar num composto de homens, mulheres, vizinhos, amos e criados, idosos e crianças. Pouco depois que a criança passava do período de amamentação, tornava-se a companheira natural do adulto. Para a época, formar uma pessoa responsável era formar alguém para servir, ou seja, as crianças aprendiam o que deviam saber ajudando os adultos, por intermédio do trabalho. O trabalho era uma imposição a todos. No início do século XVII, no período denominado Renascimento, a estrutura de ensino é um identificador da ausência de um conceito específico para infância. Não havia instituição escolar e os educadores ministravam aulas em lugares públicos, igrejas, mercados, praças, etc., para grupos de estudantes que não se dividiam por idade. Uma vez que não existia essa diferenciação e nem separação de conteúdo para mais velhos ou mais jovens, verificava-se um aprendizado da vida, a partir da convivência direta e cotidiana, entre eles. A aprendizagem continuaria se fazendo a partir da convivência da criança ou do jovem com os adultos e, por isso, ainda não se verifica a existência de um padrão de educação infantil. “A criança era, portanto, diferente do homem, mas apenas no tamanho e na força, enquanto as outras características permaneciam iguais” (ARIÈS, 1981, p.14). No decorrer do século XVII, percebe-se o início do processo de escolarização, por meio do surgimento da escola e com ele o início do que mais adiante seria chamado de turma ou série. Neste momento, as crianças foram separadas dos adultos e enclausuradas em espaços, chamados de quarentena. Mesmo com o aparecimento dessas instituições, o conceito de infância ainda não era claro, não se constituíam etapas de desenvolvimento nem concepção de aquisição de responsabilidade como um processo educacional. Foi no fim daquele AN02FREV001/REV 4.0 11 século que o conceito de infância começou a mudar, em decorrência da Igreja, da família no processo de escolarização, das descobertas sobre as práticas de higiene e de vacinação, que aumentaram a expectativa de vida. Sob a pressão das tendências reformadoras da Igreja, a criança começou a ser valorizada. Por meio da arte, da iconografia (arte de representar imagens) e da religião (no culto dos mortos), passou-se admitir a existência de uma personalidade e o sentido poético e familiar atribuído à particularidade da criança (ARIÈS, 1981). A Igreja teve fundamental importância, na época, ao associar a imagem das crianças com a de anjos, sinônimo de inocência e pureza divina. Segundo a Igreja, Deus favorece as crianças devido à sua singeleza, que se aproxima muito de sua impecabilidade, impondo uma necessidade de se amar as crianças e colocar a educação na primeira fileira das obrigações humanas, contrariando a indiferença de outrora. A Igreja também tinha intenção de fazer com que as crianças se dedicassem a catequese, que era uma espécie de escola em que se aprendia a religião católica e uma preparação para novos cristãos, por meio da primeira comunhão e crisma. Consequentemente, propunha uma educação geral sob os princípios religiosos. Pode-se dizer que é o início de uma sistematização que vai além do aprender uma atividade do dia a dia. A partir daí, a iconografia começou a ser demonstrada na figura de crianças- anjos, estabelecendo uma religião para as crianças (ARIÈS, 1981, p.14). Uma novadevoção lhes foi praticamente reservada – a devoção do anjo da guarda. A intenção das imagens era demonstrar que os anjos preferem a “suavidade” das crianças à “revolta dos homens”. Tal postura fez com que o final do século XVII fosse considerado o marco na evolução dos sentimentos em relação à infância, origem de uma preocupação com a formação moral da criança e com sua construção como indivíduo. Foi nesta época que se começou realmente a falar na fragilidade da infância. Então, a partir do século XVIII, as crianças começaram a ser reconhecidas em suas particularidades, obtendo o seu próprio quarto, alimentação considerada específica e adequada, ocupando um espaço maior no meio social. Nascia a concepção de infância. Antes, como se viu, a infância era considerada um período de transição sem AN02FREV001/REV 4.0 12 importância. Agora a família começa a dar ênfase ao sentimento que tem em relação à criança. Constata-se uma evolução na percepção e, consequentemente, no sentimento dirigido à criança. Ela é posta em evidência, ‘paparicada’ pela família e a infância é reconhecida como uma época da vida merecedora de orientação e educação. Esses sentimentos se encontram relacionados com a preocupação relativa à saúde física e higiene, provocando uma redução da mortalidade infantil, reinantes no século XVII. Esses elementos ganham peso com a denúncia de Rousseau, em seu livro intitulado Emilio (1972), do tratamento duro dado às crianças até então. Constata-se que esses fatores de assistência à criança vêm-se mantendo até o nosso século, sofrendo mudanças gradativas influenciadas pela própria evolução socioeconômica e cultural. Nesse sentido, a educação da criança passa a ser estimulada na orientação educacional e na realização dos princípios básicos da Igreja Católica, e não mais na estrutura familiar de servir os adultos como se verificava na Idade Média. Pode-se dizer que, enquanto na sociedade medieval a responsabilidade da criança era influenciada pela precocidade da passagem para idade adulta, por meio do trabalho, no Renascimento é destacado o início do processo de escolarização infantil. Com a evolução da tecnologia, durante o século XIX, vai se delimitando, mais claramente, as diferenças do tratamento escolar da criança burguesa e da criança proletária. Como consequência da Revolução Industrial, algumas mulheres entraram no mercado de trabalho, deixando de se dedicar exclusivamente à família. Praticamente todos os integrantes da família proletária estavam no mercado, inclusive as crianças. Logo, percebem-se mais uma forte característica que confirma as diferenças entre as classes sociais. Essa diferença de classe social, que se verifica além da educação, é uma característica que se iniciou desde a Revolução Industrial até os dias de hoje. No século XX, o ser humano ocidental se deu conta de que a história não se resume no fluxo das continuidades, as possibilidades descobertas em decorrência do surpreendente avanço científico-tecnológico, quebram padrões muito rapidamente, gerando tensões e rupturas. Tanto é assim que esse século provoca a impressão do início de uma época completamente diferente na história da AN02FREV001/REV 4.0 13 humanidade. O desenrolar dos acontecimentos nesse período levou o mundo a um intenso processo denominado globalização. A globalização, que é o novo ciclo de expansão do capitalismo, desafia práticas e ideais, instiga o surgimento de pensamentos e voos da imaginação. É o destino irremediável do mundo, um processo irreversível, que afeta a todos na mesma medida e da mesma maneira. “A Globalização está na ordem do dia; uma palavra da moda que se transforma rapidamente em um lema, uma encantação mágica, uma senha capaz de abrir as portas de todos os mistérios presentes e futuros” (BAUMAN, 2004, p. 7). No final do século XX e início do século XXI, a revolução é a da informática. O computador passa a ser o principal centro de comando da globalização, de forma que tudo gira em torno do sistema de informatização. Os sistemas de comunicação eliminam as distâncias e as relações entre as pessoas desconhecem fronteiras, exigindo um estilo de vida mais dinâmico e adaptado as constantes mudanças provocadas pela impressionante velocidade da produção de conhecimento (IANNI, 2000). A alfabetização, que nos séculos anteriores era requisito principal que abria portas para uma vida de qualidade superior e era o foco principal da educação, agora é apenas uma das inúmeras habilidades que o ser humano necessita para mover-se socialmente. A educação do século XXI pressupõe uma consciência global, o que demanda conhecimento, além da alfabetização, das novas tecnologias e sistemas de comunicação, economia e política sempre em nível mundial. Isso requer uma preparação técnica mais especializada e exige da criança maior dedicação nessa preparação para, futuramente, estar apta ao mercado de trabalho. O que acaba por levar pais a impor uma série de atividades durante o dia para as crianças, como balé, futebol, natação, etc., deixando de lado o direito de escolha dessas crianças. Seu tempo acaba sendo escasso, invadido por adultos, resultando em uma perda de contato da criança com ela mesma, uma alienação que a faz liberar, de maneira desordenada, a energia que assim se acumula. Isso contribui para que a criança se torne submissa ao que os instrutores dessas diferentes atividades consideram melhor, privando-se da oportunidade de explorar livremente os próprios desejos e impulsos. Mas, é preciso deixar claro que, isso acontece, não AN02FREV001/REV 4.0 14 propriamente por culpa dos pais, pois eles desejam o melhor para seus filhos. Os pais agem dessa forma para que as crianças possam acompanhar o mundo e para que possam sobreviver no futuro. Quantas vezes o adulto diz “não pode”, sem refletir e esquece logo; não tem ideia de quanto sofrimento causou para a criança. Por que “não pode”? Digam o porquê. Por que têm receio de que aconteça algo com a criança, ou porque querem ser deixados em paz, ou porque aquilo que pedimos lhes parece desnecessário, ou o que mais? Mas é tão raro a criança ser dona de alguma coisa pra valer. Dizem que a roupa é minha, mas quem comprou foram os pais. Temos de dar satisfação pelos livros e pelos cadernos em casa e na escola. Qualquer um se acha no direito de abri-los, olhar e dar palpites (CARVALHO, 1996, p.16). Observa-se que uma das principais missões do século atual é justamente a educação. Porque é dela que o indivíduo nasce, cresce e se desenvolve buscando seu objetivo no futuro. Por isso, na medida em que o mundo avança, percebe-se que a educação precisa acompanhá-lo, de forma coerente e lógica. 1.2 A IMPORTÂNCIA DO ESTUDO DA PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO A partir desta explanação sobre a história da infância até os dias de hoje, observa-se o quanto é fundamental o estudo da Psicologia do Desenvolvimento. Como visto hoje a criança não é mais um adulto em miniatura, como era na Idade Média. Observamos que ela apresenta características próprias de acordo com a sua idade e contexto em que vive. O estudo sistemático da psicologia da criança começou no início do século XX. Muitos reformadores começaram a se preocupar com o bem-estar infantil. Foram introduzidas leis regulamentando o trabalho das crianças, a legislação para tornar a educação compulsória, tribunais juvenis e serviços de assistência social à criança. À medida que os profissionais começaram a auxiliar as crianças, também começaram a reconhecer a necessidade de conhecê-las, para que pudessem avaliar os padrões de desenvolvimento e o comportamento normal. Nos Estados Unidos, o estudo científico do desenvolvimento recebeu um grande impulso com o estabelecimento de institutos de pesquisa para o estudo de assistência social à criança, emdiversas universidades. (MUSSEN, CONGER, KAGAN e HUSTON, 1988). AN02FREV001/REV 4.0 15 G. Stanley Hall foi o pioneiro do estudo científico das crianças. Ele tentou investigar “os conteúdos das mentes das crianças”, usando uma técnica de pesquisa, o questionário. As crianças eram indagadas a respeito de suas atividades e interesses. A meta de Hall era descrever as variáveis épocas da ocorrência e sequência no desenvolvimento, e foi um dos primeiros a aplicar mensurações objetivas a grandes números de crianças. (MUSSEN, CONGER, KAGAN e HUSTON, 1988). Após a Segunda Guerra Mundial foi abordado por alguns estudiosos da época, que o estudo da criança seria um ramo da psicologia experimental. Ao invés de descrever as mudanças devidas ao desenvolvimento, estes psicólogos preferiam formular e testar explicações teóricas sobre o comportamento das crianças. Voltaram-se tanto para a teoria psicanalítica como para a teoria da aprendizagem, a fim de gerar hipóteses sobre que processos e variáveis influenciariam o comportamento das crianças. Eles se interessavam por questões como: Que efeitos a experiência da amamentação tem sobre a dependência? De que modo os diferentes tipos de recompensa e punição afetam a aprendizagem? Que práticas de educação de filhos se associam ao desenvolvimento da consciência? (MUSSEN, CONGER, KAGAN e HUSTON, 1988). Já no início da década de 60, a psicologia americana voltou-se para a teoria de Piaget sobre o desenvolvimento cognitivo, e suas ideias influenciaram pontos de vista básicos sobre a criança. Mais adiante serão aprofundados os estudos de alguns autores que tiveram grande importância para a psicologia do desenvolvimento, não só Piaget, mas como Freud, Winnicott, Vygotsky, entre outros. Estudar o desenvolvimento humano significa ter o conhecimento das características comuns de cada faixa etária, conhecendo as individuações e tornando o indivíduo apto para observar e interpretar o comportamento humano. Como o exemplo do tipo de linguagem que um professor vai usar para ensinar uma criança será diferente da expressão usada para falar com um jovem. Segundo BOCK, TEXEIRA e FURTADO (1999), “todos os aspectos levantados têm importância para Educação. Planejar e como ensinar implica saber quem é o educando”. AN02FREV001/REV 4.0 16 1.3 FATORES QUE INFLUENCIAM O DESENVOLVIMENTO HUMANO É fundamental observarmos que o desenvolvimento humano é determinado pela interação de vários fatores. Até o comportamento mais simples costuma resultar de muitas influências distintas. Esses fatores são: Hereditariedade – A carga genética herdada dos pais biológicos da criança estabelece o seu potencial de desenvolvimento. Entretanto, essas potencialidades poderão ou não se desenvolver de acordo com os estímulos advindos do meio ambiente. Por exemplo, existem algumas pesquisas que mostram os aspectos genéticos da inteligência. Porém, a inteligência pode ou não se desenvolver, além do seu potencial, ou seja, vai depender também das condições do meio que se encontra. Crescimento orgânico – Aplica-se ao aspecto físico. À medida que a criança vai se desenvolvendo fisicamente, como o aumento da altura e estabilização do esqueleto, é consentido que ela veja o mundo de uma forma que antes não era possível. Outro fator importante de ser levado em consideração é a variável biológica, por exemplo, falta de oxigênio durante o processo de nascimento e desnutrição. Maturação Neurofisiológica - É o que torna possível determinados padrões de comportamento. Por exemplo, a alfabetização da criança depende desta maturação. O aluno, para ser adequadamente alfabetizado, deve ter condições de segurar e mover um lápis com habilidade para escrever ou rabiscar, para tanto, é necessário um desenvolvimento neurológico que uma criança de dois anos ainda não possui. Meio Ambiente - Conjunto de influências e estimulações ambientais que alteram os padrões de comportamento do indivíduo (Ambiente sociopsicológico imediato e cultural no qual a criança se desenvolve). A Aprendizagem passada para a criança, como: Uma criança muito estimulada para a fala pode ter um vocabulário excelente aos três anos e não subir escadas bem porque não vivenciou isso, ou seja, não foi estimulada para esse tipo de ação. Conforme notamos, o desenvolvimento humano é, em qualquer momento, um produto da interação contínua da hereditariedade e da influência do meio. AN02FREV001/REV 4.0 17 É importante entendermos que as influências biológicas e ambientais atuam sempre em conjunto. Como exemplo, a ação química do material genético em uma determinada célula pode ser afetada por material fora de seu núcleo. Ou seja, o efeito de um único gene dependerá de uma constelação de outros genes nessa célula (BOCK, FURTADO, TEIXEIRA, 1999). Durante o século XX, havia muita polêmica da parte de alguns cientistas, que têm pontos de vista dogmáticos, unilaterais, sobre a questão natureza-criação, atribuindo virtualmente todo o comportamento humano à hereditariedade ou ao ambiente. A partir de alguns avanços de hoje da biologia e psicologia, os cientistas procuram as maneiras pelas quais a ação combinada de nossas potencialidades herdadas e dos eventos que vivenciamos nos tornam o que somos. Logo, observamos que o indivíduo ao se desenvolver é influenciado pela raça, etnia, cultura, estilo de vida, sistema familiar e condição socioeconômica (classe social, educação, ocupação e renda). Também é percebida a ausência ou não de deficiências mentais ou físicas. Algumas experiências são individuais e únicas - não-normativos -, outras são comuns a certos grupos de idade, de gerações ou de pessoas que vivem ou foram criadas em determinadas sociedades e culturas em épocas diferentes normativos (PAPALIAA & OLDS, 2006). 1.4 ASPECTOS DO DESENVOLVIMENTO HUMANO O desenvolvimento deve ser compreendido como uma globalidade, porém em razão de sua riqueza e diversidade, é abordado, para efeito de estudo, a partir de quatro aspectos básicos: Aspecto físico-motor – Aplica-se ao crescimento orgânico, à maturação neurofisiológica, a aptidão de manipulação de objetos e de exercício do próprio corpo. Exemplo: a evolução da coordenação motora da criança nos primeiros meses de vida. Aspecto afetivo emocional - É a capacidade do indivíduo de um modo particular de integrar suas experiências afetivas. Representa os sentimentos cotidianos que formam a estrutura emocional. A sexualidade e a agressividade AN02FREV001/REV 4.0 18 fazem parte deste aspecto. Exemplo: Quando sentimos vergonha, medo, alegria entre outras sensações. Aspecto intelectual – Refere-se à capacidade intelectiva ou a forma que o indivíduo pensa e age para resolver um problema. Incluem os aspectos de desenvolvimento ligados às capacidades cognitivas em todo o seu ciclo de vida. Como quando, por exemplo, a criança de dois anos acha uma solução de buscar um brinquedo que se localiza em algum lugar mais distante ou de um jovem- adolescente que planeja seus gastos a partir de uma mesada. Aspecto Social – É a forma como o indivíduo se relaciona com outras pessoas. A maneira que reage diante de algumas situações que envolvem os aspectos relacionados ao convívio em sociedade. Exemplo, observar a criança na escola, como se relaciona com os coleguinhas. Observamos que todos esses aspectos estão relacionados entre si, ou seja, um depende do outro. Como exemplo, a criança, que repete o ano, vai se tornando tímida ou agressiva, com poucos amigos. Um dia é descoberto, que ela tinha certa deficiência visual. Quando isso é corrigido, todo o quadro se reverte. O seu complexo de inferioridade declina-se e sua autoestima se eleva. Porém, se não for descoberta a causa do problema, a tendência é da criança regredir (BOCK, FURTADO, TEIXEIRA, 1999).Todas as teorias do desenvolvimento humano partem desse pressuposto de indissociabilidade desses quatro aspectos, mas, podem estudar o desenvolvimento global a partir da ênfase em um dos aspectos. Como a psicanálise, toma como princípio o aspecto afetivo-emocional. Já Piaget, parte do desenvolvimento intelectual. 1.5 DETERMINANTES DO DESENVOLVIMENTO PSÍQUICO O desenvolvimento psíquico ocorre por meio da organização e elaboração de experiências emocionais desde o nosso nascimento. As primeiras experiências emocionais acontecem no contato entre mãe e bebê, desde a vida uterina, estendendo-se para o meio familiar e os grupos sociais, como a escola. O indivíduo busca o crescimento e desenvolvimento para se sentir autônomo, incitado por seus desejos, seu crescimento, as necessidades biológicas e AN02FREV001/REV 4.0 19 as exigências do mundo externo. Na busca do amadurecimento emocional, ele luta incansavelmente para o seu crescimento e ao mesmo tempo busca a gratificação rápida e imediata, para suprir a sua necessidade do prazer (PAPALIA & OLDS, 2006). Durante o desenvolvimento da criança, ela se depara com algumas situações de frustrações. Como certas angústias de saber que precisa de outras pessoas para satisfazer as suas necessidades, que são independentes e autônomas dela. Angústias que não serão satisfeitas de acordo com o seu desejo. E é justamente no momento de vivenciar essas angústias que o indivíduo anseia um lugar aonde haja somente o prazer, buscando o máximo uma estratégia para fugir do desprazer. Geralmente neste momento de crises momentâneas, o indivíduo que acha a solução para aliviar a sua frustração, se a escolha for uma opção saudável, ele amadurece e vai se desenvolvendo psiquicamente. Se não for saudável, a tendência é regredir psicologicamente (BEE, 1997). A escolha do indivíduo dependerá principalmente do adulto que o acompanha na fase da infância. Como esse adulto irá educá-lo e ajudá-lo com o desenvolvimento psicológico. Dependendo da forma de estimular a criança no seu crescimento, irá resultar em consequências positivas ou negativas para a vida dela, que irá refletir na fase adulta do indivíduo. A partir daí, se estabelece o nível de resistência a frustrações, indivíduos infelizes com muito ou os felizes com pouco (PAPALIA & OLDS, 2006). 1.6 RELAÇÕES ENTRE DESENVOLVIMENTO COGNITIVO E AFETIVO A afetividade e a inteligência se estruturam nas ações do dia a dia do indivíduo. O afeto pode ser entendido como a energia necessária para que a estrutura cognitiva passe a operar, influenciando a velocidade com que se constrói o conhecimento, pois, quando as pessoas se sentem seguras, aprendem com mais facilidade. Porém, a falta de afeto em certa idade da vida do indivíduo não vai determinar que ele regrida, ele só desenvolverá sua capacidade intelectiva de um modo mais lento. E tudo isso vai depender de cada indivíduo, pois existem pessoas, que para conseguirem algum tipo de afeto, podem se esforçar mais de um modo intelectivo ou cognitivo e com isso pode gerar um resultado positivo para sua vida. Já outras, por se sentirem tão amadas pelo meio social, se acomodam e não se AN02FREV001/REV 4.0 20 esforçam tanto para querer aprender intelectivamente (BEE, 1997). Como exemplo, a relação professor e aluno. Para essa interação levar à construção de conhecimentos, a interpretação que o professor faz do comportamento dos alunos (também com relação à afetividade) é fundamental. Ele precisa estar atento ao fato de que existem muitas significações possíveis para os comportamentos assumidos por seus alunos, buscando verificar quais delas melhor traduzem as intenções originais. Além disso, o professor necessita compreender que aspectos da sua própria personalidade individual – seus desejos, preocupações e valores – influem diretamente no seu comportamento, ao longo de interações que ele mantém com a classe. Principalmente, como ele vai interpretar o comportamento do aluno, se é baseado na sua ideologia, no seu modo de pensar e agir ou se é baseado na postura real do aluno (PAPALIA & OLDS, 2006). Tem uma frase fundamental trabalhada no autoconhecimento humano, que é “a realidade é de quem vê”. Caso o professor tenha sofrido algum tipo de repressão sexual na infância, pode ser que ele confunda a sexualidade vivenciada por seus alunos de uma determinada geração com a sua experiência vivida em outro tempo. Pode ser que ele julgue um aluno de uma forma inadequada e o reprima em algum aspecto que seja saudável para a idade. Se o aluno tiver aquele professor como referência, provavelmente, quando aquele aluno crescer agirá da mesma forma que o professor reagiu. Por isso, a responsabilidade é grande sob o aspecto de ensinar, pois dentro do universo intelectivo se aprende muito mais do que se ensina, basta estar disponível para querer se conhecer emocionalmente (BEE, 1997). 1.7 CONTRIBUIÇÕES DA PSICANÁLISE PARA O ESTUDO DO DESENVOLVIMENTO PSÍQUICO Como já definimos anteriormente a palavra psique, em grego, refere-se à alma, espírito ou mente. Assim, a psicanálise é a análise da mente ou do espírito. Todos os teóricos desta tradição geral têm procurado explicar o comportamento humano compreendendo os processos subjacentes da mente e da personalidade. E quase todos os teóricos psicanalíticos começaram por estudar e analisar adultos ou AN02FREV001/REV 4.0 21 crianças com alguma espécie de perturbação. Muitos acreditavam que chegariam a entender os processos normais ao analisar como eles haviam enveredado por um caminho errado. Assim como nas teorias de aprendizagem, existe todo um grupo de teorias chamadas de “psicanalíticas”, começando com a de Freud e continuando com as teorias de Carl Jung (1916; 1936), Alfred Adler (1948), Erik Erikson (1963; 1964; 1974) e muitos outros. Enquanto que a maior parte das teorias científicas do comportamento se origina da psicologia acadêmica, a teoria psicanalítica surgiu não do laboratório de universidade, mas da clínica médica. Sigmund Freud (1856-1936) formou-se em medicina no século XIX, em Viena. Começou a carreira em neurologia, mas, depois de experimentar com hipnose no tratamento de pacientes, gradualmente passou a se interessar por mecanismos psicológicos. Freud desenvolveu pouco a pouco a técnica conhecida como psicanálise e a teoria do comportamento ou da personalidade conhecida como teoria psicanalítica. A principal contribuição da psicanálise para o desenvolvimento humano está relacionada com as forças inconscientes que motivam o comportamento humano. Ela procura descrever mudanças qualitativas, cujo objetivo é fazer com que as pessoas compreendam os conflitos emocionais inconscientes (FREUD, 1896). Alguns destes processos inconscientes estão presentes no nascimento, outros se desenvolvem ao longo do tempo. Por exemplo, Freud propôs a existência de um impulso sexual instintivo, inconsciente, que ele chama de libido. Ele argumentava que essa energia é a força motriz que move todos os nossos comportamentos. Freud também propôs que o material inconsciente é criado ao longo do tempo, por meio do funcionamento dos vários mecanismos de defesa – aquelas estratégias automáticas, normais e inconscientes para reduzir a ansiedade, que todos nós empregamos na vida cotidiana, tal como a repressão, negação ou projeção (BOCK, FURTADO, TEIXEIRA, 1999). Outro ponto muito importante na teoria é de que a personalidade tem uma estrutura que vai se desenvolvendo ao longo do tempo. Freud propôs três partes: o id, que é o centro da libido, o ego, um elemento muito mais consciente, o executivo da personalidade, e o superego, que é o centro da consciência e da moralidade, uma vez que ele incorpora as normas e as limitações morais da família e da sociedade (FREUD, 1896). AN02FREV001/REV 4.022 Na teoria de Freud, essas três partes não estão todas presentes no nascimento. O bebê é todo id, todo instinto, todo desejo, sem a influência limitadora do ego e do superego. O ego começa a se desenvolver a partir dos dois anos até quatro ou seis anos aproximadamente, conforme a criança aprende a modificar suas estratégias de gratificação imediata. Finalmente começa a se desenvolver o superego, logo antes da idade escolar, na medida em que a criança incorpora os valores e costumes culturais dos pais (FREUD, 1896). Logo, podemos observar que a teoria freudiana enfatiza uma sequência de estágios no desenvolvimento. Freud fala basicamente em dois processos maturacionais: o desenvolvimento psicossexual, em que a fonte de gratificação libidinal muda da boca para o ânus e para os órgãos genitais, é a maturação do ego, no qual o ego se diferencia da personalidade do recém-nascido, havendo um aumento no princípio da realidade e de processos secundários, a aparição de mecanismos de defesa e duma compreensão maior nas relações interpessoais. O desenvolvimento do ego representa a maturação cognitiva, enquanto que o desenvolvimento psicossexual representa a maturação afetiva. Embora o papel da maturação no desenvolvimento psicossexual seja enfatizado na teoria freudiana, também é aceito que circunstâncias específicas do ambiente influem sobre o curso do desenvolvimento (FREUD, 1896). No capítulo V veremos com mais detalhes os estágios do desenvolvimento psicossexual e a estrutura do aparelho psíquico, na perspectiva da teoria psicanalítica freudiana. 1.9 CONTRIBUIÇÕES DA GENÉTICA PARA O DESENVOLVIMENTO HUMANO E AS INFLUÊNCIAS DA HEREDITARIEDADE E O AMBIENTE PARA O INDIVÍDUO O estudo das contribuições genéticas ao comportamento individual, chamado de genética do comportamento, tornou-se uma área de pesquisa muito importante e influente nos últimos anos. A hereditariedade sozinha, evidentemente, não determina um ser humano. As influências ambientais também são importantes na história de vida do indivíduo. Por isso, antes de podermos analisar os papéis de cada um, vamos ver AN02FREV001/REV 4.0 23 primeiramente como funciona a genética. De acordo com (PAPALAIA & OLDS, 2000), a unidade básica da hereditariedade é o gene. Os genes determinam as características herdadas; eles contêm todo o material hereditário transmitido dos pais biológicos para as crianças. Estima-se que cada célula no corpo humano contém 100 mil genes, os quais são feitos de ácido desoxirribonicleico (DNA). O DNA contém instruções bioquímicas que informam as células como produzir as proteínas que as permitem realizar cada função corporal específica. Cada gene parece estar localizado por função em uma posição definida numa estrutura em forma de bastão, chamada cromossomo. Geralmente, todas as células do corpo, exceto as sexuais, ou gametas (espermatozoide e óvulo), têm 23 pares de cromossomos, 46 ao todo. O espermatozoide e o óvulo têm apenas 23 cromossomos cada um. Por meio de um processo de divisão celular chamado meiose, os gametas recebem apenas um cromossomo de cada par. Assim, quando espermatozoide e óvulo se fundem na concepção, eles produzem o zigoto com 46 cromossomos, metade do pai e metade da mãe. Na concepção, o zigoto unicelular tem todas as informações biológicas necessárias para orientar seu desenvolvimento em um bebê humano. Isso ocorre pela mitose, processo pelo qual as células dividem-se ao meio repetidas vezes. Cada divisão cria uma cópia da célula original, com a mesma informação hereditária. Quando o desenvolvimento é normal cada célula (exceto os gametas) continua a ter 46 cromossomos idênticos aos do zigoto original. No momento da concepção, os 23 cromossomos do espermatozoide e os 233 do óvulo formam 23 parres. Vinte e dois parres são autossomos, cromossomos que não estão relacionados com o sexo. O vigésimo terceiro par são cromossomos sexuais, um do pai e outro da mãe, os quais determinam o sexo do bebê. Outra questão fundamental sobre a genética é sabermos diferenciar o genótipo do fenótipo. O termo “genótipo” (do grego genos, originar, provir, e typos, característica) refere-se à constituição genética do indivíduo, ou seja, aos genes que ele possui. O aparecimento de genótipos diversos deve-se à presença de material hereditário herdado dos genitores. Esse material nada mais é do que o conjunto dos cromossomos que se situam no núcleo das células. Os cromossomos são AN02FREV001/REV 4.0 24 interpretados como uma sequência de genes. São os genes, os portadores das informações que condicionam o fenótipo. Ao conjunto dos genes de um indivíduo damos o nome de genótipo. Sendo assim, podemos dizer que o genótipo, que é o conjunto dos genes, condiciona os fenótipos totais, que é o conjunto das variáveis condicionadas pelos genes. Cada gene pode ter formas alternativas, denominado alelos. Os diversos alelos de um mesmo gene são representados por letras maiúsculas e minúsculas, respectivamente (ex: Sistema ABO). No caso da cor dos olhos, o fenótipo azul é condicionado pelo genótipo aa, e o fenótipo castanho pode ser condicionada pelo genótipo AA ou pelo genótipo Aa. Nesse exemplo estamos representando por A o gene que condiciona cor castanha (dominante), e por a, o gene que condiciona cor azul (recessivo). O termo “fenótipo” (do grego pheno, evidente, brilhante, e typos, característico) é empregado para designar as características apresentadas por um indivíduo, sejam elas morfológicas fisiológicas e comportamentais. Também fazem parte do fenótipo características microscópicas e de natureza bioquímica, que necessitam de testes especiais para a sua identificação. Entre as características fenotípicas visíveis, podemos citar a cor de uma flor, a cor dos olhos de uma pessoa, a textura do cabelo, a cor do pelo de um animal, etc. Já o tipo sanguíneo e a sequência de aminoácidos de uma proteína são características fenotípicas reveladas apenas mediante testes especiais. O fenótipo de um indivíduo sofre transformações com o passar do tempo. Por exemplo, à medida que envelhecemos o nosso corpo se modifica. Fatores ambientais também podem alterar o fenótipo: se ficarmos expostos à luz do sol, nossa pele escurecerá. Antes de entrar na questão do que é mais importante, a hereditariedade ou o ambiente, vamos ver esse Relato de Pesquisa, a seguir: AN02FREV001/REV 4.0 25 RELATO DE PESQUISA Como os Geneticistas do Comportamento Identificam os Efeitos Genéticos? (BEE, 1996, p. 19) Existem duas maneiras básicas de procurarmos a influência genética num determinado traço. Podemos estudar gêmeos idênticos e fraternos, ou podemos estudar crianças adotadas. Os gêmeos idênticos possuem exatamente o mesmo padrão genético, porque se originam no mesmo óvulo fertilizado. Os gêmeos fraternos se desenvolvem a partir de óvulos separados, fertilizados separadamente. Portanto, eles não são mais semelhantes do que qualquer outro par de irmãos, com a exceção de terem compartilhado o mesmo ambiente pré-natal e crescerem no mesmo nicho sequencial dentro da família. Se os gêmeos idênticos acabassem sendo mais parecidos um com o outro em qualquer traço dado do que os gêmeos fraternos, isso seria uma prova da influência da hereditariedade nesse aço. Uma variante ainda mais poderosa da estratégia dos gêmeos é estudar gêmeos que foram criados separados um do outro. Se os gêmeos idênticos ainda forem mais parecidos um com o outro Gêmeos idênticos criados juntos ,85 Gêmeos idênticos criados separados ,67 Gêmeos fraternos criados juntos ,58 Irmãos (incluindo gêmeos fraternos) criados separados ,24 Os números aqui são correlações. Vocês só precisam saber que uma correlação pode variar de 0 a + 1.00 ou -1.00.Quanto mais próxima estiver de 1.00, maior é a relação que ela descreve. Nesse caso, o número reflete como são semelhantes os QIs dos dois membros de um par de gêmeos. Vocês podem ver que gêmeos idênticos criados juntos possuem QIs altamente semelhantes, muito mais parecidos do que ocorre nos gêmeos fraternos criados juntos. Mas vocês também podem ver que o ambiente desempenha um papel, pois os gêmeos idênticos criados separados são menos semelhantes do que aqueles criados juntos. AN02FREV001/REV 4.0 26 numa determinada dimensão, apesar de terem crescido em ambientes diferentes, nós temos evidências ainda mais claras de uma contribuição genética para esse traço. No caso das crianças adotadas, a estratégia é comparar o grau de semelhança entre as crianças adotadas e seus pais biológicos (com os quais ela compartilha os genes, mas não o ambiente) com o grau de semelhança entre a criança adotada e seus pais adotivos (com os quais ela compartilha o ambiente, mas não os genes). Se a criança acabar sendo mais parecida com os pais biológicos do que com os pais adotivos, ou se seu comportamento ou habilidades podem ser mais bem preditos pelas características dos pais biológicos do que pelas características dos pais adotivos, isso novamente demonstraria a influência da hereditariedade. Segue um exemplo de cada tipo. Bouchard e McGue (1981) combinaram os resultados de vários estudos de gêmeos sobre o caráter hereditário dos escores de QI, com os seguintes resultados: O QI também foi foco dos estudos de adoção sobre o caráter hereditário. Aqui estão alguns resultados de um estudo de aproximadamente 100 crianças adotadas, realizado por Scarr &Weinberg (1983), novamente expressos em termos das correlações entre QI da criança e o QI dos pais: QI da mãe biológica ,33 QI do pai biológico ,43 QI da mãe adotiva ,21 QI do pai adotivo ,27 Uma vez que os QIs das crianças foram mais semelhantes aos QIs de seus pais biológicos, esses resultados, como os resultados dos estudos de gêmeos sobre o QI, nos mostram que realmente existe um componente genético substancial naquilo que medimos por intermédio de um teste de QI. Observamos que os geneticistas do comportamento demonstraram que a hereditariedade específica afeta uma gama notavelmente ampla de comportamentos. Segundo eles, além das características físicas, como cor de olhos, AN02FREV001/REV 4.0 27 tipo sanguíneo, altura, magreza, obesidade, são claramente herdadas. E os fenótipos para traços mais complexos relacionados com a saúde, a inteligência e a personalidade estão sujeitos tanto a forças hereditárias quanto ambientais (PAPALIA & OLDS, 2006). Mesmo que um traço seja fortemente influenciado pela hereditariedade, o ambiente pode muitas vezes ter um impacto substancial, uma vez que as influências genéticas raramente são imutáveis. Estudos mais recentes referem-se à influência da genética ao comportamento patológico, como o alcoolismo, a esquizofrenia, a agressividade excessiva, a anorexia entre outros. Os geneticistas do comportamento descobriram uma significativa influência genética sobre o temperamento da criança, incluindo dimensões de emocionalidade (a criança que é calma, as que são nervosas), a atividade e ao grau de sociabilidade. Em relação ao estudo da adoção, observamos as semelhanças entre crianças adotadas e suas famílias adotivas e também entre crianças adotadas e suas famílias biológicas. Quando as crianças adotadas são mais semelhantes aos seus pais e irmãos biológicos quanto a um traço particular (como a obesidade), vemos a influência da hereditariedade. Quando se parecem mais com suas famílias adotivas, vemos a influência do ambiente. Alguns estudos, como o Projeto de Adoção Colorado (DeFries, Plomin & Fulker, 1994), comparam a semelhança entre irmãos adotivos com a semelhança entre irmãos geneticamente relacionados (BEE, 1997). É importante observarmos que a genética ou a hereditariedade tem uma forte contribuição e influência para o desenvolvimento humano. Porém, não é determinante para caracterizar o comportamento do indivíduo. Não podemos ignorar o fator ambiente, que muitas vezes acaba sendo mais intenso na influência psicológica do indivíduo do que propriamente a hereditariedade. Exemplo: Uma criança que cresce em um ambiente hostil tem a tendência de no futuro desenvolver esse tipo de comportamento ou também existe o inverso, por perceber tanta hostilidade, acaba se comportando da forma inversa, por não se identificar com aquele tipo de ação. Outro exemplo: Uma criança que desde pequena vivencia o pai bebendo e causando transtornos para a família, quando se torna adulta, pode ser AN02FREV001/REV 4.0 28 que ela tenha aversão à bebida ou que se torne alcoólatra que nem o pai. Nesse caso, a hereditariedade pode ou não se desenvolver, pois existe a questão do livre- arbítrio (Cada ser humano tem uma possibilidade de escolha, de agir ou não agir de tal forma, ou procurar a ajuda necessária para não desenvolver um tipo de ação que não seja funcional para sua vida) (BEE, 1997). Mesmo dentro desta lógica, ainda se discute muito sobre os efeitos da hereditariedade e do ambiente. O mais importante é refletirmos que os seres humanos continuam a se desenvolver por toda a vida e o desenvolvimento geralmente reflete uma combinação das duas forças. Além disso, os mecanismos pelos quais o ambiente atua não podem ser descritos com a mesma precisão com que se podem descrever os mecanismos da hereditariedade. Tampouco se podem fazer comparações controladas, uma vez que duas crianças nunca, nem mesmo gêmeas criadas na mesma casa, têm exatamente o mesmo ambiente (BEE, 1997). Atualmente, a maioria dos psicólogos do desenvolvimento vê o relacionamento entre os fatores ambientais e genéticos como interligados. Curiosidades: Leitura Complementar Filosofia e Psicologia Visão Aristotélica Objeto geral da psicologia aristotélica é o mundo animado, isto é, vivente, que tem por princípio a alma e se distingue essencialmente do mundo inorgânico, pois, o ser vivo diversamente do ser inorgânico possui internamente o princípio da sua atividade, que é precisamente a alma, forma do corpo. A característica essencial e diferencial da vida e da planta, que tem por princípio a alma vegetativa, é a nutrição e a reprodução. A característica da vida animal, que tem por princípio a alma sensitiva, é precisamente a sensibilidade e a locomoção. Enfim, a característica da vida do homem, que tem por princípio a alma racional, é o pensamento. Todas estas três almas são objeto da psicologia aristotélica. Aqui nos limitamos à psicologia racional, que tem por objeto específico o homem, visto que a alma racional cumpre no homem também as funções da vida sensitiva e vegetativa; e, em geral, o princípio superior cumpre as funções do princípio inferior. De sorte que, segundo Aristóteles, diversamente de Platão, todo ser vivo tem uma só alma, ainda que haja nele funções diversas faculdades diversas porquanto se dão atos diversos. E assim, conforme Aristóteles, diversamente de AN02FREV001/REV 4.0 29 Platão, o corpo humano não é obstáculo, mas instrumento da alma racional, que é a forma do corpo. O homem é uma unidade substancial de alma e de corpo, em que a primeira cumpre as funções de forma em relação à matéria, que é constituída pelo segundo. O que caracteriza a alma humana é a racionalidade, a inteligência, o pensamento, pelo que ela é espírito. Mas a alma humana desempenha também as funções da alma sensitiva e vegetativa, sendo superior a estas. Assim, a alma humana, sendo embora uma e única, tem várias faculdades, funções, porquanto se manifesta efetivamente com atos diversos. As faculdades fundamentais do espírito humano são duas: teoréticae prática, cognoscitiva e operativa, contemplativa e ativa. Cada uma destas, pois, se desdobra em dois graus, sensitivo e intelectivo, se tiver presente que o homem é um animal racional, quer dizer, não é um espírito puro, mas um espírito que anima um corpo animal. O conhecimento sensível, a sensação, pressupõe um fato físico, a saber, a ação do objeto sensível sobre o órgão que sente, imediata ou à distância, por meio do movimento de um meio. Mas o fato físico transforma-se num fato psíquico, isto é, na sensação propriamente dita, em virtude da específica faculdade e atividade sensitivas da alma. O sentido recebe as qualidades materiais sem a matéria delas, como a cera recebe a impressão do selo sem a sua matéria. A sensação embora limitada é objetiva, sempre verdadeira com respeito ao próprio objeto; a falsidade, ou a possibilidade da falsidade, começa com a síntese, com o juízo. O sensível próprio é percebido por um só sentido, isto é, as sensações específicas são percebidas, respectivamente, pelos vários sentidos; o sensível comum, as qualidades gerais das coisas, como tamanho, figura, repouso, movimento, etc. são percebidas por mais sentidos. O senso comum é uma faculdade interna, tendo a função de coordenar, unificar as várias sensações isoladas, que a ele confluem, e se tornam, por isso, representações, percepções. Acima do conhecimento sensível está o conhecimento inteligível, especificamente diverso do primeiro. Aristóteles aceita a essencial distinção platônica entre sensação e pensamento, ainda que rejeite o inatismo platônico, contrapondo-lhe a concepção do intelecto como tabula rasa, sem ideias inatas. Objeto do sentido é o particular, o contingente, o mutável, o material. Objeto do intelecto é o universal, o necessário, o imutável, o imaterial, as essências, as formas das coisas e os princípios primeiros do ser, o ser absoluto. Por consequência, a AN02FREV001/REV 4.0 30 alma humana, conhecendo o imaterial, deve ser espiritual e, quanto a tal, deve ser imperecível. Analogamente às atividades teoréticas, duas são as atividades práticas da alma: apetite e vontade. O apetite é a tendência guiada pelo conhecimento sensível, e é próprio da alma animal. Esse apetite é concebido precisamente como sendo um movimento finalista, dependente do sentimento, que, por sua vez depende do conhecimento sensível. A vontade é o impulso, o apetite guiado pela razão, e é própria da alma racional. Como se vê, segundo Aristóteles, a atividade fundamental da alma é teorética, cognoscitiva, e dessa depende a prática, ativa, no grau sensível, bem como no grau inteligível. Questão para Debate em Grupo. (Utilize a ferramenta Fórum Café) 1-) Faça uma reflexão junto com seus colegas sobre as influências da Filosofia para a Psicologia do Desenvolvimento. Por que ela é tão importante? 2-) Situe as características de comportamento de seus colegas em um determinado período do desenvolvimento e busque estabelecer as relações entre os diferentes aspectos do desenvolvimento (afetivo, intelectual, físico e social). 3-) Compare e reflita sobre suas características físicas e psicológicas relacionando com as características físicas e psicológicas dos seus pais. O que há em comum entre elas? FIM DO MÓDULO I AN02FREV001/REV 4.0 32 PROGRAMA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA A DISTÂNCIA Portal Educação CURSO DE PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO Aluno: AN02FREV001/REV 4.0 33 EaD - Educação a Distância Portal Educação CURSO DE PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO MÓDULO II Atenção: O material deste módulo está disponível apenas como parâmetro de estudos para este Programa de Educação Continuada. É proibida qualquer forma de comercialização ou distribuição do mesmo sem a autorização expressa do Portal Educação. Os créditos do conteúdo aqui contido são dados aos seus respectivos autores descritos nas Referências Bibliográficas. AN02FREV001/REV 4.0 34 MÓDULO II 2 DESENVOLVIMENTO PRÉ-NATAL De acordo com STONE & CHURCH (1969), a primeira etapa da vida no desenvolvimento do indivíduo é o instante da concepção, quando uma única célula chamada espermatozoide do homem penetra na parede do óvulo da mulher. Entre milhões de espermatozoides, apenas um consegue entrar no útero, assim como mostra a imagem ao lado. Normalmente, a mulher produz um óvulo (célula-ovo) a cada 28 dias, em um dos seus ovários. Isso ocorre aproximadamente na metade do tempo entre dois períodos menstruais. Caso ele não seja fertilizado, o óvulo sai do ovário, passa pela trompa de falópio, chega ao útero, onde gradualmente se desintegra e é expelido como parte da próxima menstruação. Se um casal tem relações sexuais durante os poucos dias cruciais em que o óvulo está na trompa de Falópio, um dos milhões de espermatozoides ejaculados como parte do orgasmo de cada homem pode atravessar toda a distância desde a vagina, cérvice, útero e trompa de Falópio, e penetrar na parede do óvulo. As estruturas celulares do esperma e do óvulo que se uniram se desintegram e se recombinam para formar uma única célula, ou zigoto, e um novo indivíduo inicia sua marcha para a maturidade. O indivíduo que acaba de se formar terá diversos nomes de acordo com importantes estágios de seu desenvolvimento, antes de emergir como recém- nascido. Durante o período germinal da gravidez, que dura mais ou menos duas semanas a partir da concepção (ou aproximadamente até a época em que a menstruação deveria ocorrer normalmente), ele será ainda conhecido como zigoto. Durante as seis semanas seguintes em que todas as partes de seu corpo estão tomando já uma forma rudimentar, ele será chamado embrião. A seguir, da idade de oito semanas até o nascimento, será feto. Sua existência intrauterina total dura aproximadamente quarenta semanas, ou dez meses lunares, correspondendo ao período mais familiar de nove meses (STONE & CHURCH, 1969). AN02FREV001/REV 4.0 35 FIGURA 1: ZIGOTO FONTE:<http://www.fotosearch.com.br/ilustracao/zigoto.html>. Acesso em: 08 fev. 2009. 2.1 PERÍODO DO EMBRIÃO O período embrionário inicia com a ligação do zigoto à parede uterina e continua durante aproximadamente seis semanas. Ocorrem dois grupos importantes de eventos durante o período embrionário. Primeiro, o ambiente uterino em que a criança pré-natal se desenvolverá, fica estabelecido. Começam a desenvolver os seguintes aspectos: Durante as duas primeiras semanas de gravidez, a mãe não tem consciência dos fatos que estão acontecendo, e que são virtualmente inconstatáveis por meios bioquímicos. Quase imediatamente depois da fertilização, o zigoto, à medida que desce a trompa, se divide e se transforma em duas células ligadas, essas se subdividem e se transformam em quatro e assim sucessivamente. Para formar o AN02FREV001/REV 4.0 36 corpo são estimadas aproximadamente vinte e seis bilhões de células (STONE & CHURCH, 1969). As novas células formadas não seguem seu próprio curso, como as duas metades da ameba, cada uma das quais constitui um organismo completo. Pelo contrário, permanecem juntas de uma forma organizada; subordinam-se ao organismo como um todo e operam em relação a um plano básico da pessoa em crescimento. Quando o zigoto tem cerca de sete dias e já se localizou no útero, ele consiste num agrupamento de células em duas camadas, uma interna e outra externa. Secreções da camada externa cavam um recesso no tecido uterino, onde se aninha o zigoto, estendendo prolongações que criam raiz nos espaços do tecido repletos de sangue. O material nutritivo – oxigênio, água, sangue, açúcar, etc. é absorvido do sangue da mãe por meio das paredes destas prolongações,sendo pela mesma via eliminados os dejetos. Deve-se notar que, normalmente, não há nunca uma mistura de sangue entre a mãe e a criança. As paredes dos vasos sanguíneos atuam como uma membrana fina que admite apenas certas substâncias, impedindo a passagem do sangue propriamente dito (STONE & CHURCH, 1969). FIGURA 2: DESENVOLVIMENTO DO FETO FONTE: <http://www.fotosearch.com.br/ilustracao/feto.html>. Acesso em: 16 mar. 2009. AN02FREV001/REV 4.0 37 Depois desse processo de fixação, o período germinal do desenvolvimento pré-natal é dedicado, sobretudo à construção de um alojamento no qual a criança passará sua vida dentro do útero; a criança mesma, enquanto isso permanece dentro de uma protuberância interior do zigoto chamada disco germinal. O disco, juntamente com o alojamento, constitui o zigoto. Por essa razão, irá ser descrito primeiramente a forma que este alojamento assumirá, antes do crescimento do bebê (STONE & CHURCH, 1969). Em primeiro lugar, há a placenta, uma placa carnosa, em forma de disco, que é uma elaboração da junção dos tecidos da criança com os tecidos maternos, formada quando o zigoto se fixa por meio de vasos sanguíneos em forma de raiz, permanecendo, entretanto distinta desse tecido. A criança se liga ao outro lado da placenta pelo cordão umbilical, uma extensão de seu sistema circulatório. No cordão há duas artérias carregando sangue do feto para a placenta, e apenas uma veia levando o sangue de volta ao feto (STONE & CHURCH, 1969). FIGURA 3 – EMBRIÃO FONTE: http://www.criativopunk.com.br/wp-content/uploads/2008/05/embriao.jpg. Acesso em: 04 mar. As artérias umbilicais levam o sangue carregado dos produtos residuais e dióxido de carbono, enquanto que a veia traz de volta à circulação fetal ao sangue renovado, provindo da placenta que atua, inclusive, como substituto do pulmão. Das bordas do disco da placenta projeta-se uma membrana de duas paredes, formando uma espécie de balão cheio de fluído amniótico no qual a criança flutua (STONE & CHURCH, 1969). AN02FREV001/REV 4.0 38 O segundo grupo de eventos do desenvolvimento, que ocorre durante o período embrionário, envolve a diferenciação de estruturas físicas dentro do próprio organismo. Durante a divisão celular, que ocorre neste período, envolvem do zigoto três camadas de tecido. O ectoderma, ou tecido externo, forma o fundamento para o cabelo, unhas, dentes e outras estruturas físicas encontradas nas estruturas exteriores do corpo. O mesoderma, ou tecido intermediário, forma a base para o desenvolvimento dos músculos, ossos e sistema circulatório. O endoderma forma o fundamento para as estruturas interiores do organismo – por exemplo, o trato gastrintestinal, órgãos vitais como os pulmões, coração, fígado e assim por diante. A diferenciação inicial de todos esses órgãos fica completa ao final do período embrionário (aproximadamente na oitava semana). Por esta época é possível ouvir o funcionamento primitivo do coração e observar que as características físicas do embrião se assemelham as do ser humano. Durante o período embrionário ocorre o desenvolvimento inicial de muitos órgãos vitais da criança. Assim, quaisquer anormalidades que ocorram no processo de desenvolvimento durante este período, podem resultar em uma disfunção fatal de tais órgãos vitais. Por essa razão, os abortos espontâneos ocorrem mais frequentemente durante o período embrionário. Além disso, o impacto da moléstia da mãe, de sua ingestão de drogas ou outros eventos nocivos ao processo de desenvolvimento, tem seu maior efeito negativo por essa ocasião (STONE & CHURCH, 1969). 2.2 PERÍODO DO FETO O período fetal vai desde a oitava semana após a concepção até que ocorra o nascimento, aproximadamente quarenta semanas depois da concepção. O período fetal é marcado por crescimento e refinamento contínuo das estruturas cujos fundamentos foram estabelecidos durante o período embrionário. Durante este crescimento e refinamento vagarosos, as estruturas corpóreas do organismo, bem como o sistema nervoso e circulatório, tornam-se mais capazes de automanutenção e de responder independentemente ao ambiente. Embora o período normal de gestação do ser humano seja de quarenta semanas, o feto já se acha AN02FREV001/REV 4.0 39 suficientemente desenvolvido na vigésima oitava e se tem conhecimento de crianças que sobrevivem, nascendo com esse tempo (STONE & CHURCH, 1969). Durante o quarto mês de gravidez os médicos perguntam as mães se desejam ouvir o batimento cardíaco do filho. Um estetoscópio ou um dispositivo sonar pode detectar as batidas do coração do feto. O batimento cardíaco do feto é consideravelmente mais rápido do que o do adulto humano, tendo a média aproximada de 140 batimentos por minuto, em comparação com a média de 70 para o adulto do sexo masculino. Tanto as mães como os pais frequentemente se surpreendem pela quantidade de atividades que parece existir dentro do útero, a partir do terceiro mês de gravidez. Os pais podem receber pontapé da criança que ainda não nasceu ao se deitarem junto às esposas à noite. As mães podem notar uma distorção completa de seu abdômen, quando a criança se espicha vigorosamente dentro do útero. Alguns fetos desenvolvem soluços, que são percebidos pela mãe como uma sensação de que há algo empurrando o abdômen e que ocorre a intervalos regulares. Todos esses sinais exemplificam o aumento das capacidades físicas do feto (STONE & CHURCH, 1969). FIGURA 4 – GRAVIDEZ FONTE: http://www.fotosearch.com.br/ilustracao/gravidez_4.html. Acesso em: 07 jan. 2009. Uma pergunta muitas vezes feita pelos pais é “Quando é que será determinado o sexo de meu filho?“ O sexo da criança é geneticamente determinado no momento da concepção. Todavia, os órgãos sexuais externos se desenvolvem aproximadamente oito a nove semanas depois da concepção. O interessante é que as características sexuais iniciais de todas as crianças são femininas. AN02FREV001/REV 4.0 40 As características sexuais masculinas somente envolvem se hormônios específicos produzidos nos testículos masculinos estiverem presentes na ocasião da determinação sexual. Se os testículos são removidos antes do desenvolvimento do sistema reprodutivo, ou se por alguma outra razão o hormônio não for produzido, a criança desenvolverá o sistema reprodutivo feminino, não importando seu sexo geneticamente definido. 2.3 O PROCESSO DE NASCIMENTO Aproximadamente quarenta semanas depois da concepção, nasce a criança. Naturalmente, em alguns casos, este evento ocorre antes da data esperada e, em alguns outros, o nascimento é tardio. Alguns dias antes do nascimento real, o evento é previsto pelo abaixamento da cabeça do feto para a parte mais baixa da pélvis, perto da cérvix. Essa insinuação é tipicamente acompanhada de uma sensação de redução de pressão sobre os pulmões e o estômago da mãe e é conhecida como descida do feto (STONE & CHURCH, 1969). O processo normal de nascimento apresenta basicamente três partes: dilatação, nascimento propriamente dito e expulsão da placenta. Em gestações sem complicação e de baixo risco, o parto em casa ou em um centro de nascimentos é tão seguro quanto aquele realizado em hospital. Como observamos o nascimento, não é na realidade o começo da vida. Ao nascer o recém-nascido já tem uma carreira pessoal de nove meses de duração. 2.4 TRABALHO DE PARTO FIGURA 5 - PARTO FONTE: http://www.fotosearch.com.br/ilustracao/parto.html. Acesso em: 30 jan. 2009. AN02FREV001/REV 4.0 41 Um sinal que ainda não foi identificado inicia o nascimento da criança. O processo do nascimento em si consiste do desvanecimento, ou adelgaçamento da cérvix, sua dilatação para aproximadamente 10 cm e a expulsãodo feto do útero por meio do canal de parto. O processo todo é acompanhado por contrações do útero. Durante o nascimento do primeiro filho esse processo de trabalho de parto dura de doze a catorze horas (STONE & CHURCH, 1969). O cordão umbilical é cortado e amarrado. Nesse ponto a criança precisa começar a manter suas funções corporais independentemente da mãe. Apesar das estórias tradicionais, não é necessário que os médicos deem uma palmada no recém-nascido para iniciar a respiração ou outras funções corporais. Na maioria das crianças a respiração é espontânea. Quando há necessidade de estimulação externa, fazer cócegas no pé do bebê é o quanto basta na maioria dos casos (STONE & CHURCH, 1969). A presença do pai durante o parto apresenta uma variedade de consequências positivas, o que inclui experiência de menos dor por parte da mãe. 2.5 COMPLICAÇÕES NO PROCESSO DE NASCIMENTO Segundo FAW (1981), as complicações no processo de nascimento podem resultar de dificuldades fisiológicas sofridas pela mãe, tais como uma cérvix que não se dilata adequadamente, toxicidade, ou o desenvolvimento da placenta em uma posição que cobre a cérvix e não permite a saída da criança antes da saída da própria placenta. Também podem ocorrer complicações em resultado do posicionamento do feto. Em alguns casos, uma criança é posicionada de tal modo que ela nascerá com a saída dos pés em primeiro lugar, um parto pélvico. Em outros casos, o cordão umbilical pode enrolar-se no pescoço da criança, causando estrangulamento durante o processo do nascimento, ou anóxia, falta de oxigênio vital para a criança. Em muitos casos, estas complicações podem ser contornadas pelo uso de um fórceps obstétrico a fim de guiar a criança para a posição apropriada AN02FREV001/REV 4.0 42 ao nascimento e ajudar o parto. Outras vezes, as complicações são contornadas pelo uso de parto cirúrgico, mais conhecido como cesariana. Essa é uma operação em que se faz uma incisão na parede abdominal e no útero, por intermédio da qual se ergue a criança. Segundo BEE (1997), os desvios do padrão normal podem ser causados, na concepção, por qualquer uma dentre uma variedade de anomalias cromossômicas, tais como a Síndrome de Down, ou pela transmissão de genes para doenças específicas. FIGURA 6 – BEBÊ COM SÍNDROME DE DOWN FONTE: http://3.bp.blogspot.com/_GJmPdEZpetA/SiLKo28PmXI/AAAAAAAAACk/gmkUfAIrKJc/s320/beautiful _baby_cdss-753029.jpg>. Acesso em: 30 jan. 2009. Antes da concepção é possível o teste dos pais na detecção da presença de genes para várias doenças herdadas. Após a concepção, existem várias técnicas de diagnóstico que identificam anomalias cromossômicas ou doenças de genes recessivos no feto. Algumas doenças contraídas pela mãe podem afetar a criança, o que inclui a rubéola, a AIDS e o citomegalovírus. Qualquer uma dessas pode resultar em doença ou anomalias físicas na criança. Álcool, nicotina e cocaína parecem causar efeitos significativamente danosos sobre o desenvolvimento fetal; quanto maior a dose, maior parece ser o efeito potencial. AN02FREV001/REV 4.0 43 A dieta da mãe também é importante. No caso de ela estar gravemente desnutrida, há maiores riscos de natimortos, bebê com baixo peso ao nascer e morte do bebê no primeiro ano de vida. Mães mais velhas ou muito jovens correm também maiores riscos, embora muitos deles sejam bastante reduzidos ou eliminados, no caso de a mãe gozar de boa saúde e receber cuidado pré-natal adequado. Altos níveis de ansiedade ou estresse na mãe podem também aumentar o risco de complicações na gravidez ou dificuldades para o bebê. Diferenças de sexo, no desenvolvimento pré-natal, são poucas. Os meninos desenvolvem-se mais lentamente, são maiores ao nascer e mais vulneráveis à maioria das formas de estresse pré-natal. Bebês que nascem com peso abaixo de 2,5Kg são conhecidos como de baixo peso ao nascer; os que nascem com menos de 1,5Kg são chamados de bebês com peso muito baixo e os que têm menos de 1,0Kg são os bebês com peso extremamente baixo ao nascer. Quanto mais baixo o peso, maior o risco de problemas significativos permanentes, tais como baixo QI ou deficiências de aprendizagem (FAW, 1981). Algumas dificuldades no pré-natal ou no nascimento podem causar deficiências ou deformidades permanentes, embora muitas doenças associadas à vida pré-natal ou ao nascimento possam se exceder, caso a criança seja criada em um ambiente de apoio e estimulador (FAW, 1981). 3 PSICOLOGIA DA GRAVIDEZ FIGURA 7 – GRAVIDEZ FONTE: http://www.fotosearch.com.br/ilustracao/gravidez.html. Acesso em: 02 set. 2009. AN02FREV001/REV 4.0 44 O nascimento de um filho envolve muitas mudanças na vida da mulher em vários níveis, o que tem um impacto enorme na vida emocional, familiar, sobretudo biologicamente, com o envolvimento de inúmeras modificações endócrinas, somáticas e psicológicas. FIGURA 8 – PRÉ-NATAL I FONTE: http://www.fotosearch.com.br/ilustracao/gravidez.html. Acesso em: 30 set. 2009. Segundo MALDONADO (1990), o processo gravídico, implica uma importante passagem na vida da mulher, não sendo mais apenas responsável por si mesma, mas passa a ser responsável por um ser completamente dependente de si, ao qual tem que prestar todos os cuidados necessários a sua sobrevivência e bem- estar. Nessa nova fase deve ser levada em conta a presença de vários espectadores envolvidos no processo, como: o pai, os avós ou familiares mais próximos. Para LEAL (1997) a gravidez pode ser entendida como uma situação de preparação física e psicológica para o papel que a mulher passará a desempenhar, o papel de mãe, em que tem início o relacionamento mãe/filho. Para CANAVARRO (2001), a gravidez é um processo que corresponde a um período, definido temporalmente, que medeia à concepção e o parto. A gravidez é uma fase em que não é só o corpo da mulher que muda, mas o seu psicológico, na sua mente também ocorre mudanças significativas. Por isso, é muito importante que a futura mamãe tenha um acompanhamento médico pré-natal, que são orientações psicológicas e de assistência, pois a decisão de ter um filho envolve a iniciativa de novas atitudes e responsabilidades (MALDONADO, 1990). O acompanhamento pré-natal irá contribuir para a saúde mental e física da mãe e do bebê. Neste período é comum a gestante se sentir mais ansiosa e ficar mais AN02FREV001/REV 4.0 45 sensível, pois são mudanças muito intensas que estão ocorrendo na sua vida física, psíquica e social. Torna-se muito mais difícil quando a gravidez não foi desejada, principalmente na ausência paterna. A decisão de ter um filho envolve um compromisso para o resto da vida (MALDONADO, 1990). Para a gravidez da mulher que tem um parceiro, normalmente, nesta fase os pais repensam fazendo todo um retrospecto das suas vidas, principalmente da infância. Sentem certas angústias e dúvidas de como irão educar o futuro filho. Neste período há muitas expectativas sobre o bebê, no sentido de como serão enquanto pais. Esse significado é próprio de cada um, de acordo com a história de vida individual, tanto do pai quanto da mãe (MALDONADO, 1990). FIGURA 9 – CASAL FONTE: http://www.fotosearch.com.br/ilustracao/gravidez_4.html. Acesso em: 03 mar. 2009. Outra característica fundamental nesse momento é a mudança do papel social. No período da gestação, é instalada uma nova identidade no casal, deixando de ser apenas filhos para se tornarem pais. Os pais se preocupam muito, principalmente a mãe, que o bebê nasça perfeito, sem deficiência. Caso isso ocorra, os pais se veem como fracassados e carregam dentro de si uma culpa intensa. A gravidez pode ser vivenciada
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