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Genética e Imunologia Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Profa. Dra. Aline Dal’Olio Gomes Revisão Textual: Profa. Dra. Selma Aparecida Cesarin Introdução à Genética • A Base Molecular da Informação Genética • Propriedades do Material Genético • Estrutura do DNA • Genes e Cromossomos • Replicação Semiconservativa • Reparo do DNA e Mutação Mecanismos de Reparo do DNA • Mutação • Transcrição e Tradução · Apresentar uma visão geral das bases moleculares sobre as quais a Genética se mantém, destacando a natureza e a função do material genético e a relação genótipo-fenótipo. OBJETIVO DE APRENDIZADO Introdução à Genética Orientações de estudo Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem aproveitado e haja uma maior aplicabilidade na sua formação acadêmica e atuação profissional, siga algumas recomendações básicas: Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Determine um horário fixo para estudar. Aproveite as indicações de Material Complementar. Não se esqueça de se alimentar e se manter hidratado. Aproveite as Conserve seu material e local de estudos sempre organizados. Procure manter contato com seus colegas e tutores para trocar ideias! Isso amplia a aprendizagem. Seja original! Nunca plagie trabalhos. Assim: Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e horário fixos como o seu “momento do estudo”. Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar, lembre-se de que uma alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo. No material de cada Unidade, há leituras indicadas. Entre elas: artigos científicos, livros, vídeos e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você também encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados. Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discussão, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e aprendizagem. UNIDADE Introdução à Genética Contextualização Você já deve ter ouvido falar em alimentos transgênicos, terapia gênica, vacinas recombinantes, sequenciamento do genoma, clones, células-tronco e outros temas que fazem parte do nosso cotidiano. Contudo, o surgimento de tudo isso, e muitas outras coisas, só se tornou possível devido ao desenvolvimento de diversas áreas da Ciência, incluindo a Genética. A Genética é uma ciência que estuda as leis da hereditariedade, ou seja, como as informações contidas nos genes são transmitidas de pais para filhos ao longo de gerações. Contudo, mesmo a herança biológica sendo palco da curiosidade de muitas pessoas desde a pré-história, a Genética desenvolveu-se de maneira expressiva apenas no século XX, sendo, portanto uma ciência relativamente jovem. Gregor Johann Mendel (1822-1884), um monge austríaco, é considerado hoje o pai da Genética por ter sido o primeiro a descobrir as bases fundamentais da herança, mesmo antes da descoberta dos genes. Mendel relatou, em 1865, seus resultados obtidos de experimentos de cruzamentos entre ervilhas de diferentes linhagens. Sua principal teoria era de que as características, como cor e formato das ervilhas, eram resultado de pares de “elementos” hereditários, e que cada par determinava uma característica específica. Essas abordagens iniciais compõem o cerne da Genética Clássica, sendo fundamentais para a Genética Molecular. Apesar das importantes observações de Mendel, suas descobertas não foram reconhecidas por 35 anos, principalmente devido à ausência de um melhor entendimento sobre a estrutura das células e os processos de divisão celular. Contudo, em 1900, com a descoberta desses fatos, os princípios de Mendel puderam ser aplicados e o seu trabalho passou a ser reconhecido por todo o mundo científico. Assim, o ano de 1900 se tornou um marco para o começo da era moderna da Genética. A partir disso, o crescimento da Genética se deu de forma acelerada, passamos dos incompreendidos “elementos” de Mendel para a identificação de biomoléculas relacionadas aos genes e, portanto, a transmissão das características herdáveis. Em 1920, as evidências existentes levaram à conclusão de que o DNA é o material genético, a base química da herança. A partir da descoberta do DNA, a Genética clássica entrou em uma nova fase com o surgimento da Genética Molecular. Hoje, sabemos que os “elementos” de Mendel são os genes que expressam sua informação codificada no DNA das células e graças à tecnologia molecular sabemos como os genes funcionam, como são regulados e como os defeitos genéticos podem ser detectados, modificados ou corrigidos. 8 9 Para saber mais sobre a descoberta da estrutura do DNA, acesse o link a seguir e leia o texto sobre esse tema: https://goo.gl/lWOhrK Ex pl or Apesar dos conceitos básicos da herança já terem sido elucidados, a genética permanece uma Disciplina em rápida expansão, proporcionando descobertas marcantes no campo da genética médica e da agricultura, que vão desde o surgimento dos testes de paternidade, a criação de clones, a compreensão da base metabólica de centenas de distúrbios hereditários, o melhoramento genético de muitas espécies de plantas e animais de interesse comercial, até a possibilidade de identificação do genoma completo das espécies e formulação de microrganismos capazes de sintetizar substâncias de interesse humano. 9 UNIDADE Introdução à Genética A Base Molecular da Informação Genética A capacidade das células de armazenar, obter e traduzir as instruções genéticas necessárias para manter o organismo vivo é essencial para a manutenção da vida. Essa informação hereditária é transmitida de uma célula à outra durante o processo de divisão celular, e de uma geração a outra por meio das células sexuais. As informações estão estocadas em genes e são convertidas em proteínas que se expressam no fenótipo que observamos em cada indivíduo. A informação presente nos genes é copiada e transmitida de uma célula para as células-filhas milhões de vezes durante a vida de um organismo multicelular, sobrevivendo a esse processo praticamente sem alterações. Que tipo de molécula pode ser capaz de uma replicação tão precisa e quase ilimitada? Como essa imensidão de informações, necessária ao desenvolvimento e manu- tenção dos organismos, está organizada dentro de uma célula? Como a informação contida nos genes é convertida em proteínas? • Fenótipo: características observáveis de um organismo; • Genes: elementos que contêm a informação que determina as características de uma espécie como um todo, bem como as de um indivíduo. Um segmento codificante do DNA; • Genótipo: a constituição genética de um organismo; • Proteínas: macromoléculas que realizam a maioria das funções celulares. Ex pl or Propriedades do Material Genético Mesmo antes da descoberta da estrutura do DNA, já era indicado pelas pesquisas que o material genético deveria exibir três principais propriedades: 1. Se cada célula de um organismo possui a mesma constituição genética, o material genético deve apresentar características na sua estrutura que permitam uma fiel replicação em cada divisão celular; 2. Se o material genético codifica uma imensidão de proteínas expressas pelo organismo, ele deve apresentar um conteúdo informacional; 3. Se as mutações atuam como base para a seleção evolutiva, o material genético deve ser capaz de mudar. Ao mesmo tempo, essa estrutura tem de ser estável para que os organismos possam se basear na informação codificada. 10 11 Estrutura do DNA Toda a informação genética da síntese das diversas proteínas relacionadasà estrutura dos organismos e seus processos fisiológicos está contida em grandes macromoléculas chamadas ácidos nucleicos. Os ácidos nucleicos podem ser de dois tipos: ácido desoxirribonucleico (DNA) que possui esse nome por conter um açúcar desoxirribose em sua estrutura e o ácido ribonucleico (RNA) que contém o açúcar ribose. Em todos os organismos, com exceção dos vírus, o DNA é o único material genético. A molécula de DNA consiste em duas longas cadeias, as fitas de DNA, unidas entre si por pontes de hidrogênio e compostas por quatro tipos diferentes de subunidades nucleotídicas (Figura 1). Cada nucleotídeo do DNA é composto por um açúcar contendo cinco carbonos, a desoxirribose, um grupo fosfato e uma base nitrogenada, que pode ser adenina (A), timina (T), citosina (C) ou guanina (G) (Figura 1). A adenina e a guanina são chamadas de bases purinas, pois apresentam um anel duplo, enquanto a timina e a citosina são pirimidinas, pois apresentam apenas um anel em sua estrutura. As duas longas fitas de DNA se mantêm unidas em uma forma helicoidal por meio de pontes de hidrogênio entre duas bases, assim todas as bases nitrogenadas estão voltadas para o interior da dupla-hélice e o açúcar e fosfato se encontram na porção externa da molécula, formando o esqueleto da estrutura (Figura 1). A ligação entre as bases, ou seja, o pareamento é específico: adenina se pareia sempre com a timina, enquanto a citosina sempre se pareia com a guanina (Figura 1). Assim, quando se conhece a sequência de nucleotídeos de uma fita de DNA, a sequência da outra fita também é conhecida devido ao pareamento específico das bases. Essa característica de complementariedade entre as fitas da dupla-hélice permite que o DNA seja a única molécula capaz de armazenar e transmitir a informação genética ao longo das gerações. A forma como os nucleotídeos estão ligados nas duas fitas complementares confere uma polaridade química inversa à molécula. Como o bom exemplo citado por Alberts et al. (2010), se imaginarmos cada açúcar como um bloco com uma protuberância em um lado (o fosfato ligado no carbono 5) e uma cavidade do outro lado (uma hidroxila ligada ao carbono 3), cada cadeia completa, formada por protuberâncias e cavidades entrelaçadas, terá todas as suas subunidades alinhadas na mesma orientação (Figura 4). Além disso, as duas extremidades da cadeia serão facilmente distinguíveis por apresentarem uma delas, uma cavidade (hidroxila 3’), e a outra, uma protuberância (o fosfato 5’). Essa polaridade oposta é comumente chamada de extremidade 3’ e 5’ e os componentes de cada par de bases só se encaixam na fita dupla-hélice se as duas fitas estiverem na posição antiparalela (5’-3’ e 3’-5’) (Figura 1). 11 UNIDADE Introdução à Genética Essa característica tem uma importante função nos processos de replicação, transcrição e recombinação do DNA. Figura 1 – Arranjo estrutural da dupla-hélice de DNA, destacando a composição dos nucleotídeos, o pareamento específico entre as bases nitrogenadas, a ligação das duas cadeias de DNA por pontes de hidrogênio e a polaridade química inversa das duas fitas de DNA (5’-3’, 3’-5’). Note que o fosfato está ligado no carbono 5 da desoxirribose e o fosfato do nucleotídeo seguinte se liga no carbono 3 do nucleotídeo que o antecede (ver quadrado em destaque) Fonte: aspiregenetics.org Figura 2 – Compactação da molécula de DNA em dupla hélice (topo da figura) até cromossomo Fonte: yourgenotype.com.br 12 13 Genes e Cromossomos O conjunto completo de toda a informação genética (DNA) é chamado de genoma. A maior parte do DNA de um genoma está armazenada no núcleo de cada célula e uma pequena porção na mitocôndria. Toda a molécula de DNA presente no núcleo está acondicionada em forma de vários cromossomos. A molécula de DNA é muito maior do que o cromossomo; desse modo, percebe-se claramente que o DNA é altamente compactado em um cromossomo. Para que isso aconteça, a enorme molécula linear de DNA é enrolada em proteínas associadas (histonas) que dobram e empacotam a fita de DNA em uma estrutura chamada nucleossomo. O nucleossomo dobra-se outras vezes até formar uma estrutura super-heleicoidizada, o cromossomo eucariótico (Figura 2). O DNA e as proteínas associadas formam a cromatina, o arcabouço dos cromossomos. O número de cromossomos no conjunto genômico básico é chamado de número haploide (n) e, normalmente dentro do núcleo de uma célula somática, cada cromossomo possui duas (organismos diploides – 2n) ou mais (poliploides) cópias. Por exemplo, o genoma humano, em seu conjunto básico, está contido em 23 cromossomos de tamanho e formas diferentes (n=23 e 2n=46). A maioria dos animais e plantas é diploide, ou seja, possui dois conjuntos completos de DNA, enquanto os fungos são haploides e procariontes são monoploides, ou seja, possuem uma única molécula de DNA, normalmente circular, acondicionada em um único cromossomo. O conjunto de cromossomos presentes no organismo da mesma espécie possui um número específico de cromossomos (Tabela 1). Tabela 1 – Número de pares de cromossomos (n) em diferentes espécies de plantas e animais Nome comum Espécie Número de pares de cromossomos (n) Mosquito Culex pipiens 3 Mosca doméstica Musca domestica 6 Cebola Allium cepa 8 Sapo Bufo americanos 11 Arroz Oryza sativa 12 Rã Rana pipiens 13 Crocodilo Alligator mississipiensis 16 Gato Felis domesticus 19 Rato Mus musculus 20 Macaco Macaca mulata 21 Trigo Triticum aestivum 21 Homem Homo sapiens 23 Batata Solanum tuberosum 24 Cavalo Equus caballus 32 Cachorro Canis familiaris 39 Galinha Gallus domesticus 39 Carpa Cyprinus carpio 52 13 UNIDADE Introdução à Genética Cada célula de um organismo diploide, com exceção das células sexuais e das hemácias que não possuem DNA, possui 2 cópias de cada cromossomo, uma herdada da mãe e outra do pai. Os membros de um par de cromossomos são chamados de cromossomos homólogos, porque são idênticos. No homem, o único par de cromossomos não homólogos é o cromossomo sexual do macho, no qual o cromossomo Y é herdado do pai e o cromossomo X é herdado da mãe. Assim, cada célula humana contém 22 pares de cromossomos comuns a ambos os sexos (são os cromossomos autossomos) e 1 par de cromosso- mos sexuais (XY no sexo masculino e XX no feminino). As sequências de DNA de um par de homólogos geralmente são iguais, assim elas possuem os mesmos genes (sequências específicas de DNA) nas mesmas posições relativas. A representação do conjunto completo de cromossomos é chamada de cariótipo (Figura 3). Anormalidades cromossômicas (perda ou alteração) podem ser detectadas no cariótipo por diferenças no padrão das bandas ou no padrão coloração dos cromossomos. Figura 3 – Cariótipo humano – cromossomos ordenados artificialmente de acordo com a sua numeração. Os cromossomos de um indivíduo do sexo masculino foram isolados de uma célula em divisão mitótica e por isso, estão altamente compactados. A coloração permite uma identificação precisa ao microscópio óptico Fonte: Carr, 2008 Em todos os organismos, os cromossomos carregam os genes, segmentos do DNA, que contém as instruções para produzir uma determinada proteína ou até mesmo moléculas de RNA. Entretanto, além dos genes, os cromossomos de eucariotos possuem um excesso enorme de DNA intercalante que parece não conter informação relevante. A quantidade de DNA intercalante entre os genes resulta nos variados tamanhos de genoma entre as diferentes espécies (o genoma humano é 200 vezes maior do que o da levedura Saccharomyces cerevisiae, mas é 30 vezes menor do que de algumas plantas e dos anfíbios), mesmo entre organismos similares que apresentam praticamente o mesmo número de genes, entre os peixes ósseos, por exemplo, o genoma pode variar centenas de vezes. Essa porção intercalante do DNA ainda não teve sua utilidade comprovada. 14 15 Outra fonte de variação do genoma entre as espécies é a presença de íntrons, regiõesnão codificantes do gene. O tamanho da região codificante (éxons) de um gene é geralmente constante entre as espécies, ao passo que o tamanho e a frequência dos íntrons é variável. Replicação Semiconservativa Antes de cada processo de divisão celular (apresentado no volume II), as células devem duplicar seu DNA com extrema precisão. A característica de complemen- tariedade das fitas de DNA, discutida anteriormente, é a base para o processo de replicação. Se as duas fitas de DNA forem separadas, rompendo as pontes de hidro- gênio entre os pares de base nitrogenadas, cada fita parental isolada servirá como molde para a síntese de uma nova fita filha de DNA complementar (Figura 4). Como cada uma das fitas complementares da dupla-hélice é conservada, esse mecanismo é chamado de replicação semiconservativa. Mas como isso ocorre (Figura 5)? Durante o processo de replicação, a molécula de DNA possui uma região no qual a dupla-hélice é desenrolada para produzir as duas fitas únicas que servirão como moldes para a cópia de DNA. Essa região recebeu o nome de forquilha de replicação devido à sua estrutura em forma de Y. Na forquilha de replicação, há a presença de enzimas, como helicase, topoisomerase e a DNA-polimerase III. A helicase é responsável por romper as pontes de hidrogênio abrindo a dupla-hélice, a topoisomerase impede a maior helicoidização da molécula de DNA, enquanto a DNA-polimerase III sintetiza o DNA das duas fitas novas. À medida que a DNA-polimerase avança, a dupla-hélice é continuamente desenrolada na frente da enzima para expor mais as fitas de DNA que atuarão como moldes. No entanto, é importante lembrar que as fitas de DNA estão orientadas em sentido antiparalelo, sendo assim, uma fita deve ser polimerizada na direção 5’-3’ e outra na direção 3’-5’. Para isso seria necessária a atuação de duas polimerases diferentes, mas todas as enzimas polimerases descobertas polimerizam a molécula de DNA apenas na direção 5’-3’. Desse modo, ambas as fitas são construídas no mesmo sentido. A síntese da fita que está sendo copiada no sentido 5’-3’ ocorre continuamente, sendo esta chamada de fita contínua. A fita que está sendo copiada no sentido 3’-5’, fita descontínua, aumenta pela síntese de pequenos fragmentos (sintetizados no sentido 5’-3’). Esses trechos curtos de DNA recém-sintetizados são chamados de fragmentos de Okazaki. Por fim, esses fragmentos são unidos pela enzima DNA-ligase produzindo uma nova fita completa de DNA. Outro importante ponto no processo de replicação é que a DNA-polimerase III apenas amplia uma cadeia, mas não começa o processo. 15 UNIDADE Introdução à Genética Figura 4 – A dupla-hélice de DNA atua como molde para a síntese de uma nova fita filha de DNA Fonte: Aberts et al. (2010) Desse modo, para que a polimerase atue é necessário um iniciador (primer), uma cadeia curta de nucleotídeos que se liga à fita molde. Na fita contínua, apenas um iniciador é necessário, já na fita descontínua, cada fragmento de Okazaki possui seu próprio iniciador. Os primers são produzidos pela enzima primase, um tipo de RNA polimerase, que sintetiza um pequeno trecho (8 a 12 nucleotídeos) de RNA complementar a uma região iniciadora. Essa cadeia de RNA é então ampliada pela DNA-polimerase III. Após a replicação, a DNA-polimerase retira os primers e preenche os espaços com DNA. O processo de replicação do DNA é bem mais conhecido em organismos procariontes do que em eucariontes; contudo, existem grandes indícios que permitem concluir que esse processo é basicamente o mesmo em ambos, com apenas alguns aspectos únicos em organismos eucariontes. Por exemplo, a síntese de DNA ocorre em um trecho pequeno e específico do ciclo celular, diferente dos procariontes, em que o processo ocorre continuamente. Além disso, os cromossomos eucarióticos possuem múltiplas origens de replicação e utilizam duas diferentes polimerases para síntese de cada uma das fitas de DNA, ao invés de usar dois complexos catalíticos de uma DNA polimerase como em procariontes. Ex pl or Figura 5 – Processo de replicação semiconservativa do DNA, ilustrando as proteínas que atuam na forquilha de replicação e a diferença do processo de síntese entre as fitas contínua (líder) e descontínua com os fragmentos de Okazaki Fonte: djalmasantos.wordpress.com 16 17 Reparo do DNA e Mutação Mecanismos de Reparo do DNA A replicação do DNA é altamente precisa e fiel, ocorrendo poucos erros ao longo de todo o processo; cerca de um erro a cada bilhão de pares de bases. Essa alta precisão é necessária para manter a carga de mutação em um nível tolerável, principalmente em genomas grandes como os de mamíferos e isso só é possível devido a uma variedade de mecanismos de reparo. O mecanismo de revisão e reparo mais importante é feito pela atividade de exonuclease da própria DNA polimerase, que examina as fitas crescentes de DNA durante a sua síntese, eliminando qualquer base mal pareada e corrigindo-a. Adicionalmente, existem duas outras vias comuns de reparo que reconhecem bases danificadas, como bases desaminadas, oxidadas etc. A primeira é chamada de reparo por excisão de base e envolve uma série de enzimas que são capazes de reconhecer um tipo específico de base anormal na molécula de DNA e retirá-la para que em seguida uma DNA polimerase preencha. A segunda via, a de reparo por excisão de nucleotídeo, remove lesões maiores. Nesse caso, um complexo multienzimático verifica o DNA à procura de distorções na dupla-hélice ao invés de uma alteração específica de base. Quando uma lesão volumosa é encontrada, uma enzima nuclease de excisão cliva os dois lados da distorção e retira os nucleotídeos contendo as bases danificadas. O espaço resultante na fita recém-sintetizada é, então, corrigido pela DNA-polimerase. Mutação Nem sempre o processo de revisão e reparo é eficiente, de modo que em uma baixa frequência, 1) alguns nucleotídeos podem ser incorporados e mantidos erroneamente nas cadeias crescentes de DNA e 2) trechos de nucleotídeos podem ser deletados, duplicados ou rearranjados na estrutura geral da molécula. Essas alterações tem potencial para interferir e modificar a informação codificada pelos genes e são chamadas de mutações. Assim, a mutação refere-se a qualquer mudança herdável no genótipo de um organismo e, portanto em seu fenótipo. A mutação é a principal responsável pela variação genética entre os organismos, atuando como a base para a evolução. Se não houvesse a mutação, todos os genes seriam de uma única forma, o que impossibilitaria a evolução dos organismos e sua adaptação às mudanças ambientais. Ao mesmo tempo, se as mutações ocorressem com frequência elas interfeririam na precisão da transferência da informação genética ao longo das gerações. 17 UNIDADE Introdução à Genética Além disso, a maioria das mutações com efeitos fenotípicos é deletéria aos orga- nismos, por isso a taxa de mutação está também sob controle genético e existem mecanismos que regulam o nível de mutações que ocorrem nas várias condições. As mutações podem ocorrer em todas as células e em todos os genes dos organismos durante qualquer estágio da vida. A capacidade de essa mutação resultar em efeitos imediatos e produzir uma alteração fenotípica depende da sua dominância, do tipo de célula em que ocorre e do estágio de vida do organismo. Se uma mutação ocorre em uma célula somática (qualquer célula responsável pela formação de tecidos e órgãos), a característica mutante resultante só ocorrerá nos descendentes dessa célula. Se uma mutação dominante ocorre em uma célula germinativa (célula sexual), seus efeitos serão expressos na prole. As mutações gênicas podem também surgir espontaneamente, quando ocorrem naturalmente sem causa conhecida, ou induzidas após a exposição a agentes físicos e químicos que causam alterações no DNA, como luz ultravioleta, radiação ionizante, agentes químicos tóxicos etc. As mutações espontâneas podem serreflexo do processo de replicação do DNA ou de lesões espontâneas e de ocorrência natural no DNA. Toda a informação genética codificada na molécula de DNA é traduzida em uma gama de proteínas com ação catalítica, estrutural ou reguladora que participam de vários processos metabólicos no organismo. Em uma célula eucariótica, o DNA está localizado no núcleo e as proteínas no citoplasma, de modo que a informação genética não é transferida diretamente do DNA para a proteína. Portanto, há a necessidade de uma molécula intermediária nesse processo. Quando a célula precisa de uma determinada proteína, uma sequência específica de nucleotídeos do DNA é copiada sob a forma de RNA, sendo esta a molécula responsável por direcionar a síntese proteica. Assim como o DNA, o RNA é um ácido nucleico, mas há algumas diferenças entre eles (Figura 6): 1. O RNA é uma cadeia unifilamentar de nucleotídeos e não uma dupla-hélice como o DNA; 2. O RNA possui o açúcar ribose na composição de seus nucleotídeos e não desoxirribose como no DNA; 3. O nucleotídeos do RNA podem ser compostos por 4 bases nitrogenadas diferentes, a adenina, citosina, guanina e a uracila (U) que está no lugar da timina presente na molécula de DNA. A uracila se pareia com a adenina do mesmo modo que a timina; 4. O RNA, diferentemente do DNA, pode atuar como enzima catalisando reações biológicas. 18 19 Figura 6 – Diferenças na estrutura do DNA e RNA Fonte: bio.miami.edu Existem três principais tipos de moléculas de RNA com importante papel na expres- são gênica: RNA mensageiro (RNAm), transportador (RNAt) e ribossômico (RNAr). Veremos a importância de cada um deles nos próximos tópicos. Transcrição e Tradução Duas etapas estão envolvidas com a expressão da informação genética (do DNA à proteína: 1) transcrição, transferência da informação genética do DNA ao RNA e 2) tradução, transferência da informação do RNA à proteína. O processo de transferência da informação genética: DNA RNA Proteína é conhecido como o Dogma Central da Genética Molecular. Transcrição Como vimos, o primeiro passo para a transferência da informação genética é sintetizar uma molécula de RNA que seja complementar à sequência de bases da molécula de DNA. Esse RNA é chamado de RNA mensageiro (RNAm). Consideremos a transcrição de um segmento cromossômico específico que constitui um gene. Inicialmente, as duas fitas de DNA são separadas e uma delas atua como molde para a síntese de RNAm. A sequência de nucleotídeos do RNAm é determinada pela complementariedade do pareamento de bases com a molécula de DNA, portanto, A pareia com T no DNA, C pareia com G, G pareia com C e U do RNAm pareia com A do DNA (Figura 7). Os nucleotídeos da cadeia de RNAm são unidos por ligação fosfodiéster pela enzima RNA-polimerase, que atua de modo semelhante a DNA-polimerase. 19 UNIDADE Introdução à Genética Em procariotos, uma única RNA-polimerase catalisa a transcrição, enquanto eucariotos possuem três: RNA-polimerase I, II e III. A fita de RNAm não permanece ligada por pontes de hidrogênio à fita molde de DNA assim, a sua liberação sob a forma de fita simples é quase imediata. Além disso, como esses RNAm são provenientes de uma região específica do DNA, sua cadeia é bem menor que a de uma molécula de DNA. Desse modo, muitas cópias de RNAm podem ser sintetizadas a partir do mesmo gene em um espaço curto de tempo. Figura 7 – Esquema geral da transcrição Fonte: knowgenetics.org De acordo com o que já foi mencionado, um gene é uma região específica da molécula de DNA que codifica a informação de uma determinada proteína. Portanto, para que a RNA-polimerase possa transcrever um gene é necessário que ela reconheça o seu início e término no genoma. Para isso, existe uma sequência específica no DNA, chamada de promotor, situada próxima ao início da região de transcrição, que é reconhecida pela RNA-polimerase. Essa sequência é sempre conservada. Em eucariontes, fatores de transcrição reconhecem e se ligam à região promotora no DNA, formando um complexo de iniciação que é então reconhecido pela RNA-polimerase (Figura 8). Os fatores de transcrição devem interagir com os promotores na sequência correta para iniciar efetivamente a transcrição. Do mesmo modo que há uma sequência específica sinalizando o início da transcrição, há também um sinal de término. Em geral, após a transcrição em procariontes ocorre a síntese de uma sequência auto complementar no RNAm; assim, a fita de RNAm se dobra sobre ela mesma nessa região, interrompendo a ação da RNA-polimerase e reestabelecendo a dupla fita de DNA. Em eucariotos, ocorre uma clivagem do transcrito primário (RNAm), proveniente da ação da RNA- polimerase II, em uma região 11 a 30 nucleotídeos à frente de uma sequência conservada de término. Em seguida, são adicionadas caudas poli (A) (cerca de 200 A) que aumentam a estabilidade da molécula de RNAm, além de auxiliarem no seu transporte do núcleo para o citoplasma. Por fim, as sequências não codificantes de proteína presentes nos genes, os íntrons, são removidos do transcrito e as 20 21 sequências codificantes, os éxons, são unidas. Desse modo, a molécula de RNAm madura se torna pronta para sair do núcleo por meio do poro nuclear, sendo direcionada ao citoplasma, no qual o processo de tradução ocorre. Figura 8 – Início do processo de transcrição em eucariotos Fonte: studyblue.com Traduç ão e o Código Genético O processo de tradução envolve a transferência da informação genética de RNA à proteína. Sendo o RNA constituído por uma combinação de 4 bases nitrogenadas e as proteínas por 20 aminoácidos, não é plausível que a tradução seja uma relação direta entre nucleotídeos e aminoácidos. Desse modo, um aminoácido é determinado por um ou mais códons e cada códon possui 3 nucleotídeos (trinca de bases) (Tabela 2). O conjunto desses códons é chamado de código genético e é utilizado universalmente para todos os organismos. O processo de tradução ocorre no citoplasma, mais especificamente nos ribossomos. Os ribossomos são organelas formadas pela associação de RNAs ribossomais (RNAr) que e se encontram divididos em uma subunidade grande e outra pequena. Durante a tradução, as duas subunidades se unem sobre uma molécula de RNAm. A subunidade menor do RNAr possui uma região com a qual o RNA transportador (RNAt) pode se parear ao RNAm, enquanto a subunidade maior catalisa as ligações peptídicas que irão unir os aminoácidos. O RNAt possui uma trinca de nucleotídeos, o anticódon, que é complementar e faz pares de base com a sequência códon do RNAm. Existem de 1 a 4 RNAt para cada um dos 20 aminoácidos. O RNAm é então conduzido através do ribossomo e assim que seus códons encontram os sítios ativos dos ribossomos, a sequência de nucleotídeos do RNAm é traduzida em aminoácidos com a utilização dos RNAt que atuam como adaptadores 21 UNIDADE Introdução à Genética nesse processo, adicionando cada aminoácido na sequência correta à extremidade da cadeia polipeptídica em construção. Assim que o ribossomo encontra um códon de término a proteína é liberada (Figura 9). Tabela 2 – O código genético 2a Base U C A G 1a B as e U UUU Fenilalanina (Fen)UUC UUA Leucina (Leu)UUG UCU Serina (Ser) UCC UCA UCG UAU Tirosina (Tir)UAC UAA Codão de finalização UAG Codão de finalização UGU Cisteína (Cis)UGC UGA Codão de finalização UGG Triptofano (Trp) U C A G 3 a Base C CUU Leucina (Leu) CUC CUA CUG CCU Prolina (Pro) CCC CCA CCG CAU Histidina (His)CAC CAA Glutamina (Glu)CAG CGU Arginina (Arg) CGC CGA CGG U C A G A AUU Isoleucina (Ile)AUC AUA AUG Metionina (Met)Codão de iniciação ACU Treonina (Tre) ACC ACA ACG AAU Asparagina (Asn)AAC AAA Lisina (Lis)AAG AGU Serina (Ser)AGC AGA Arginina (Arg)AGG U C A G G GUU Valina (Val) GUC GUA GUG GCU Alanina (Ala) GCC GCA GCG GAU Ácido aspártico (Asp)GAC GAA Ácido glutâmico (Glu)GAG GGU Glicina (Gli) GGC GGA GGG U C A G Fonte:Adaptado de brainly.com.br Figura 9 – Visão geral do processo de transcrição e tradução. Note que a sequência de RNAm atua tanto para a síntese de proteínas quanto de outras moléculas de RNA, como RNAr e RNAt Fonte: efp-ava.cursos.educacao.sp.gov.br 22 23 Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Sites Cromossomo X https://goo.gl/FTgMr7 Livros Ciência do DNA MICLOS, D. A.; FREYER, G. A.; CROTTY, D. A. A. Ciência do DNA. 2.ed. Porto Alegre: ArtMed, 2005. Vídeos A Descoberta do DNA https://youtu.be/zaSzjTkaM18 Estrutura do DNA e Replicação https://youtu.be/8kK2zwjRV0M Transcrição e Tradução https://youtu.be/oxBPO_xTFD4 Leitura O Código Genético Expandido https://goo.gl/Eb0zoQ Saiba mais sobre o DNA https://goo.gl/jZ94vJ 23 UNIDADE Introdução à Genética Referências ALBERTS, B., Johson, A., Lewis, J., Raff, M., Roberts, K., Walter, P. Biologia molecular da célula. 5ª edição. Porto Alegre: Artmed. GRIFFITHS, A. J. F. et al. Introdução à genética. 9.ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2009. SNUSTAD, D. P.; MICHAEL, J.; SIMMONS, M. J. Fundamentos de genética. 6.ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2013. WATSON, J. D.; BAKER, T. A.; BELL, S. P., GANN, A.; LEVINE, M., LOSICK, R. Molecular biology of the gene. 7.ed. Porto Alegre: ArtMed, 2015. 24 Genética e Imunologia Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Profa. Dra. Aline Dal’Olio Gomes Revisão Textual: Profa. Dra. Selma Aparecida Cesarin Bases Cromossômicas da Herança • Contextualização • Bases Cromossômicas da Herança • Alterações Cromossômicas Numéricas e Estruturais • Cromossomos Sexuais e a Determinação do Sexo · Reconhecer os processos genéticos básicos envolvidos com a transmissão dos caracteres hereditários e, principalmente, entender o comportamento dos cromossomos durante a multiplicação celular, o que contribui para os fundamentos da herança descrita por Mendel. OBJETIVO DE APRENDIZADO Bases Cromossômicas da Herança Orientações de estudo Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem aproveitado e haja uma maior aplicabilidade na sua formação acadêmica e atuação profissional, siga algumas recomendações básicas: Assim: Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e horário fixos como o seu “momento do estudo”. Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar, lembre-se de que uma alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo. No material de cada Unidade, há leituras indicadas. Entre elas: artigos científicos, livros, vídeos e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você também encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados. Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discussão, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e aprendizagem. Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Determine um horário fixo para estudar. Aproveite as indicações de Material Complementar. Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar, lembre-se de que uma Não se esqueça de se alimentar e se manter hidratado. Aproveite as Conserve seu material e local de estudos sempre organizados. Procure manter contato com seus colegas e tutores para trocar ideias! Isso amplia a aprendizagem. Seja original! Nunca plagie trabalhos. UNIDADE Bases Cromossômicas da Herança Contextualização Para que as características hereditárias sejam passadas de pais para filhos é essencial que a reprodução aconteça. Contudo, nem sempre o sexo faz parte desse processo. Muitos organismos unicelulares reproduzem-se apenas por divisão mitótica e algumas plantas formam brotos multicelulares que mais tarde se separam das plantas que as originaram. No reino animal, a Hydra também se reproduz por brotamento, semelhante às plantas. Há também espécies de abelhas e lagartos nas quais as fêmeas reproduzem- se sozinhas, por um processo chamado partenogênese. Apesar de a reprodução assexuada ser simples e direta, ela resulta em descendentes idênticos aos organismos de origem. Ao contrário disso, a reprodução sexuada é mais complexa e permite a mistura de dois genomas distintos, produzindo descendentes geneticamente diferentes de seus pais. Desse modo, a reprodução sexuada apresenta grandes vantagens em relação à assexuada, pois garante maior variabilidade genética entre os organismos. A capacidade de uma célula para se reproduzir pode ser considerada uma das características mais importantes para a vida. Existem dois processos pelos quais as células se multiplicam, sendo responsáveis pela transferência do material genético, os quais veremos em detalhes nesta Unidade. Para saber mais sobre as vantagens e desvantagens da reprodução assexuada e sexuada leia a reportagem “Os reais motivos pelos quais fazemos sexo”, produzida pela BBC. https://goo.gl/saS0xk Ex pl or 8 9 Bases Cromossômicas da Herança Teoria Cromossômica da Herança Como vimos no início do primeiro capítulo, Mendel propôs a existência de “pares de fatores” hereditários que eram passados de forma estável ao longo das gerações. Além disso, segundo Mendel, esses fatores estavam localizados nas células sexuais e eram separados durante a formação de gametas. Na fecundação, ocorreria a junção desses gametas, reestabelecendo o par de fatores no novo indivíduo. Mais tarde, descobriu-se que os fatores propostos por Mendel eram os genes e Walter S. Sutton demonstrou que eles estavam localizados em cromossomos, surgindo, então, a teoria cromossômica da herança, que fornecia um importante fundamento para explicar a transmissão hereditária dos fatores de Mendel. Após inúmeros estudos, sabemos que todo o material genético está organizado em cromossomos e para que haja uma correta transmissão de toda essa informação de geração a geração, é necessário que haja uma adequada distribuição dos cromossomos nos eventos de multiplicação celular, como a mitose e a meiose, que veremos adiante. Para saber mais sobre os estudos que elucidaram o papel dos cromossomos na hereditariedade leia “2010: Um século de Drosophila na genética”. https://goo.gl/TrmEcD Ex pl or Assista ao vídeo “Organismo modelo de Drosophila no estudo da herança ligada ao sexo”. https://goo.gl/tBbifpEx pl or Multiplicação Celular Existem dois processos pelos quais as células podem se multiplicar: mitose e meiose. A multiplicação celular mitótica ocorre em praticamente todas as células do organismo. Nesse processo, uma célula multiplica-se originando duas novas células-filhas idênticas entre si e à célula parental. Essas células-filhas e a parental normalmente são diploides, ou seja, possuem duas cópias de cada tipo de cromos- somo (2n), contudo o processo de mitose pode também ocorre em células haploi- des, originado 2 novas células também haploides. Esse é o processo básico utiliza- do por organismos multicelulares para crescimento e renovação celular (Figura 1). 9 UNIDADE Bases Cromossômicas da Herança Já na multiplicação celular meiótica, a célula parental é 2n e origina 4 células- filhas com apenas uma cópia de cada cromossomo (n) e geneticamente distintas da parental. Esse processo é a base da reprodução sexual para a maioria das plantas e animais e ocorre durante o processo de produção de gametas (Figura 1). Importante! No processo de mitose, a célula-mãe (2n) multiplica o seu conteúdo genético e se divide em duas novas células-filhas idênticas (2n). Na meiose, a célula-mãe (2n) multiplica-se emquatro novas células-filhas, mas com o conteúdo genético reduzido à metade (n). Importante! Figura 1 – Papel da mitose e da meiose no ciclo de vida de organismos eucarióticos Fonte: Alberts et al., 2010 10 11 Mitose A única maneira de formar uma célula nova é duplicar uma célula já existente. Para que isso ocorra, a célula executa uma sequência de passos coordenados em que primeiro há a duplicação exata de todo o material genético (DNA) organizado em cromossomos e, em seguida, a célula se divide precisamente em duas cópias geneticamente idênticas. O primeiro evento é chamado de mitose e o segundo de citocinese e o conjunto dessas fases é o ciclo celular. A mitose é um processo contínuo e dividido em 5 fases: interfase (consiste em G1, S e G2), prófase, metáfase, anáfase e telófase (Figura 2). Interfase Crescimento e metabolismo Preparação para mitose Síntese de DNA e duplicação cromossômica G2 M 4h 4h 10h 1h Divisão G1 S Mitose Citon ese Teló fase Aná fase Me táf ase Pró fas e Figura 2 – Fases do ciclo celular. Os tempos marcados se referem à duração de cada fase em uma célula de mamífero Fonte: Snustad e Simmons, 2013 Na interfase, podemos observar no citoplasma as primeiras indicações do início da mitose, por meio do crescimento celular e da duplicação das organelas que já ocorrem na fase G1. 11 UNIDADE Bases Cromossômicas da Herança Na fase S, ocorre, então, a duplicação dos cromossomos (mas eles ainda não são visíveis ao microscópio óptico) e também dos centríolos, organelas importantíssimas na coordenação do movimento dos cromossomos. Em seguida, na fase G2 a célula cresce e se prepara para as próximas fases da mitose (Figura 2). A prófase é marcada pela condensação dos cromossomos e pela separação dos centríolos que migram para os polos opostos da célula. Com a desintegração da membrana nuclear e do nucléolo, os microtúbulos que partem dos centríolos invadem a região nuclear e se ligam a cada cromátide formando um fuso. Nessa fase, as cromátides-irmãs permanecem intimamente associadas pelos centrôme- ros (Figura 3). Importante! Cromátides-irmãs, tanto na mitose quanto na meiose, são os dois filamentos idênticos de um cromossomo que se duplicou. Os centríolos só estão presentes durante a mitose nas células animais, células vegetais não possuem essas organelas. Importante! Na metáfase, os cromossomos compostos pelas cromátides-irmãs estão alta- mente condensados e dispostos alinhadamente no centro da célula, na placa equa- torial. Os microtúbulos permanecem ligados às cromátides-irmãs em lados opostos do fuso (Figura 3). Na fase seguinte, anáfase, os centrômeros se separam, dissociando as cromátides- irmãs que são lentamente puxadas para os polos opostos da célula. Cada cromátide com seu próprio centrômero volta a ser considerada um cromossomo (Figura 3). Por fim, na telófase, os cromossomos organizados em dois conjuntos nos polos opostos da célula se descondensam e uma nova membrana nuclear é formada ao redor de cada conjunto de cromossomos. A mitose termina com uma célula-mãe maior, contendo dois conjuntos de cro- mossomos em dois núcleos (Figura 3). Na etapa seguinte, a citocinese, o citoplas- ma é dividido por constrição mediana, separando as duas células-filhas (Figura 3). Assista ao vídeo mostrando o processo real da mitose em microscópio eletrônico. https://youtu.be/CU0Al6FHYiUEx pl or 12 13 Intérfase Início de Metáfase Anáfase Prófase Centrossomo Centrossomo �lhos começam a se separar Cromossomos replicados condensando-se com duas comátides irmãs juntas no centrômero Núcleo disperso Centrômero com cinetócoros ligados Envoltório nuclear intacto Membrana plasmática Citoplasma Núcleo Nucléolo Cromossomos ainda não visíveis ao microscópio óptico Centrossomo duplica-se. Cromossomos começam a se condensar e tornam-se visíveis. ETAPA 1 Envoltório nuclear se desfaz ETAPA 2 Polo do fuso Cromossomo Vesículas do envoltório nuclear Microtúbulo do áster Membrana plasmática Microtúbulo polar Cinetócoros Microtúbulo de cinetóroco Metáfase Citocinese Cromossomos movem-se para placa metafásica ETAPA 3 Polo do fuso Vesículas do envoltório nuclear Cromossomos alinham-se na placa metafásica a meio caminho entre os pólos Microtúbulo do áster Microtúbulo polar Cinetócoros Microtúbulo de cinetóroco Microtúbulos de cinetócoros encurtam-se à medida que a cromátide (o crmossomo) é levada para o pólo Microtúbulo polar alonga-se Microtúbulo do àster Aumento de separação dos microtúbulos polares Telófase Descondensação de cromossomos sem microtúbulos de cinetócoro Reconstitui-se envoltório nuclearMicrotúbulos polares Envoltório nuclear completo circunda cromossomos descondensados Reaparece nucléolo Corpo médio: região de superposição de microtúbulos Par de centriolos marca local do centrossomo Reconstrução de arranjo interfásico de microtúbulos Restos de microtúbulos polares do fusoAnel contrátil criando sulco de clivagem Separação de cinetócoros irmãos inicia Anáfase ETAPA 4 Reconstitui-se envoltório nuclear ETAPA 5 Sulco de clivagem divide célula em duas ETAPA 6 Figura 3 – Mitose em células animais Fonte: Snustad e Simmons (2013) 13 UNIDADE Bases Cromossômicas da Herança Meiose O segundo tipo de multiplicação celular é especializado para produzir células com a metade do número de cromossomos da célula-mãe e geneticamente distintas. Essas células irão formar os gametas, espermatozoides e óvulos, envolvidos com o processo de reprodução sexual dos organismos. A maioria dos organismos eucarióticos se reproduz sexuadamente. Assim, os gametas masculinos e femininos se fecundam misturando os genomas para produzir um descendente diferente dos pais. Se em geral os organismos são diploides (2n), é necessário que os gametas sejam haploides (n) para que a fusão entre dois gametas (n + n) gere um descendente diploide. No núcleo de cada célula de um organismo diploide, há duas cópias de cada cromossomo autossômico mais um par de cromossomos sexuais, de acordo com o sexo do indivíduo. As duas cópias de cada cromossomo autossômico, uma herdada do pai e outra da mãe, são chamadas de cromossomos homólogos e na maioria das células eles se encontram separados, como cromossomos independentes. Entretanto, durante a meiose, cada cromossomo deve se comunicar com o seu homólogo por meio de pareamento e recombinação genética. A meiose envolve uma etapa de duplicação do material genético e dois eventos de divisão celular, o primeiro chamado de divisão reducional (Meiose I) porque reduz o número de cromossomos pela metade, e o segundo chamado de divisão equacional (Meiose II). Como na mitose, o ciclo meiótico também inclui as fases G1, S e G2. Durante a fase S, cada cromossomo se duplica e as cromátides-irmãs permanecem associadas pelos centrômeros. O primeiro estágio da meiose após a replicação é uma prófase I longa e complexa, envolvendo vários subestágios (leptóteno, zigóteno, paquíteno, diplóteno e diacinese). No geral, nessa fase os pares de cromátides-irmãs, os cromossomos homólogos paterno e materno, pareiam-se e vão se tornando cada vez mais próximos até formarem uma estrutura de quatro cromátides, chamada de bivalente (Figura 4). O pareamento próximo favorece a recombinação entre os homólogos por um processo conhecido como crossing over, ou seja, as cromátides não irmãs dentro de cada par de homólogos trocam segmentos de material genético umas com as outras (Figura 4). Esse processo resulta em diferentes combinações de cromossomos, contribuin- do para uma enorme quantidade de variação genética em populações de reprodu- ção sexual. 14 15 Cromossomo 1 paterno replicado Cromossomo 1 materno replicado Centrômero Cromátides irmãs Bivalente Quiasma (A) (B) Figura 4 – Pareamento dos cromossomos homólogos e recombinação entre as cromátides não irmãs dos cromossomos homólogos. Quiasma é o nome dado à conexão entre as cromátides não irmãs Fonte: Albertset al., 2010 Na prófase I, ocorre, ainda, a desintegração do núcleo e do nucléolo. Em seguida, na metáfase I, os pares de cromossomos homólogos estão altamente condensados e dispostos em lados opostos da placa equatorial. Os centríolos se ligam ao centrômero de cada cromossomo homólogo. Na anáfase I, cada cromossomo homólogo é puxado pelo centríolo em direção a polos opostos da célula; assim, cada cromossomo continua consistindo em duas cromátides. A separação dos cromossomos homólogos ocorre de modo independente. Quando os cromossomos atingem os polos da célula, ocorre a telófase I, a membrana nuclear se reconstitui ao redor de ambos os conjuntos de cromossomos, ocorre a citocinese e, num intervalo, a interfase; contudo, agora não há replicação do DNA. A meiose II é parecida com a mitose normal (contudo, há apenas um par de cada cromossomo no núcleo). 15 UNIDADE Bases Cromossômicas da Herança Na prófase II, os cromossomos se condensam e se movem para a região mediana da célula. Na metáfase II, os cromossomos se alinham na placa equatorial, ligados aos cen- trômeros, que puxam os cromossomos para os polos opostos da célula na anáfase II. Quando cada conjunto de cromossomo chega ao polo e o movimento cessa, as membranas nucleares se formam ao redor de cada conjunto de cromossomos haploides, telófase II e, por fim, a citocinese ocorre. O processo completo da meiose e sua comparação com a mitose é apresentado na figura 5. (A) (B) Figura 5 – Comparação entre meiose e mitose Fonte: Alberts et al., 2010 16 17 Importante! Durante a anáfase da mitose (e da meiose II), ocorre a segregação das cromátides- -irmãs de cada cromossomo; já na anáfase da meiose I são os cromossomos homólogos que se separam. Importante! Em geral, o resultado final das duas divisões meióticas é quatro células-filhas com número de cromossomos haploides. Essas células possuem destinos diferentes nos diferentes organismos. Nas plantas, em geral, as células haploides provenientes da meiose realizam várias divisões mitóticas originando um organismo haploide, o gametófito, que produz gametas, ovócitos ou espermatozoides. Os gametas se fundem durante a fertilização, originando o zigoto diploide que se divide mitoticamente em um esporófito. Esse ciclo de vida contendo organismos diploides e haploides na espécie é chamado de alternância de gerações. Nos animais, as células haploides resultantes da meiose se desenvolvem diretamente em gametas. Na fêmea, apenas uma das quatro células haploides se desenvolverá em um ovócito; as outras se degeneram; enquanto nos machos, todas as quatro células haploides se desenvolverão em espermatozoides. A produção de gametas, chamada de gametogênese, ocorre nas gônadas, ovários (ovocitogênese) e testículos (espermatogênese). Importante! Principais consequências genéticas da meiose: 1) Redução do número diploide de cromossomos para haploide, etapa essencial para a produção de gametas; 2) Troca de segmentos entre as cromátides homólogas, sendo esse mecanismo importantíssimo para aumentar a variação genética; 3) Segregação independente dos cromossomos homólogos (veremos isso com mais detalhes na próxima Unidade). Importante! Esquematize a meiose de uma célula de Drosophila que possui apenas 4 pares de cromos- somos (2n=8).Ex pl or 17 UNIDADE Bases Cromossômicas da Herança Alterações Cromossômicas Numéricas e Estruturais O processo de segregação dos cromossomos homólogos durante a meiose é uma matemática intracelular perfeita. Os humanos, por exemplo, possuem 46 cromossomos que se tornam 92 quando duplicados no início da meiose e 4 conjuntos completos, desses, 92 cromossomos precisam ser corretamente distribuídos entre as 4 novas células-filhas. Algumas vezes essa distribuição não é adequada e os cromossomos homólogos falham na sua separação, um fenômeno chamado de não disjunção e que pode acontecer tanto na meiose I quanto na II. Quando isso acontece, o resultado é que alguns gametas haploides apresentam um cromossomo a menos, e outros possuem mais de uma cópia do mesmo cromossomo, sendo chamados de aneuploides. A aneuploidia é comum e foi originalmente estudada em plantas. No geral, os organismos mutantes apresentam uma cópia extra de um determinado cromossomo; portanto, ao invés de um par, o organismo possui uma triplicata de um mesmo cromossomo, sendo chamado de trissomia. Os mutantes nessas plantas são geralmente causados por fatores transmitidos principalmente por fêmeas e em geral apresentam um efeito fenotípico viável não letal. Casos de aneuploidia já foram identificados em muitas espécies, incluindo no homem, mas diferente das plantas, os seres humanos não toleram muitos tipos de anomalias cromossômicas. O fenômeno de aneuploidia parece ocorrer em quase 5% dos espermatozoides produzidos por homens férteis, mas é mais comum em mulheres, principalmente com idade mais avançada, como visto em plantas. De 35 a 50% das crianças com número anormal de cromossomos são filhos de mães com mais de 35 anos. Isso ocorre porque a meiose dos ovócitos é interrompida na prófase I ainda durante o período fetal e só é completada no momento da ovulação. Desse modo, após 30 ou 40 anos com a meiose suspensa, provavelmente os ovócitos começam a se deteriorar. Tais erros de segregação são a causa de muitos abortos espontâneos e de retardo mental em humanos. Por exemplo, a síndrome de Down é causada por uma cópia extra do cromossomo 21 (trissomia do 21), totalizando 47 cromossomos ao invés de 46 (Figura 6). A síndrome de Patau (trissomia do 13) e de Edwards (trissomia do 18) são também exemplos de anomalias cromossômicas numéricas, contudo elas são raras e devido às anomalias fenotípicas serem muito graves as pessoas vivem pouco. 18 19 Figura 6 – Cariótipo de uma mulher portadora de Síndrome de Down (Trissomia do cromossomo 21) Fonte: iStock/Getty Images As trissomias podem ocorrer também nos cromossomos sexuais, originando cariótipos humanos com triplo X (47, XXX). Neste caso, as pessoas sobrevivem, pois dois cromossomos X estão inativos, de modo que fenotipicamente são mulheres, mas apresentam fertilidade reduzida e um leve retardo mental. O cariótipo 47 XXY também pode ocorrer e, nesse caso, os indivíduos são estéreis e do sexo masculino, mas podem apresentar características sexuais femininas. Essa anomalia é conhecida como Síndrome de Klinefelter. A origem do cariótipo XXY pode ser resultado da fertilização de um excepcional ovócito XX e um espermatozoide Y, ou de um ovócito X e um excepcional espermatozoide XY. Casos de monossomia, quando há a falta de um cromossomo, também existem em seres humanos. A única viável é a síndrome de Turner, em que o indivíduo apresenta um cariótipo 45, X, originado da fertilização de ovócitos ou espermatozoides com falta de um cromossomo sexual. Indivíduos com essa anomalia são fenotipicamente mulheres, mas com ovários rudimentares e na maioria das vezes estéreis. Além de anomalias numéricas, alterações cromossômicas estruturais também podem acontecer, como a deleção ou duplicação de segmentos cromossômicos, causando também aneuploidias. Ao contrário da aneuploidia, a poliploidia é a presença de um conjunto cromossômica inteiro a mais, isto é, organismos diploides podem ser triploides, quadriploides etc. (Figura 7). 19 UNIDADE Bases Cromossômicas da Herança A poliploidia é muito comum em plantas, metade de todos os gêneros de plantas são poliploides, sendo muito rara em animais; contudo, mesmo nas plantas os organismos poliploides tendem a ser estéreis. A principal característica fenotípica observável da poliploidia é o grande aumento celular, provavelmente relacionado ao maior número de cromossomos. Estas espécies tendem a produzir frutos e sementes também de maior tamanho, o que as tornam interessantes à agricultura, tais como trigo, morango, melancia, batata e berinjela, entre outras. Gâmeta Gâmeta Cariótipo das espécies parentais 2n = 6 4n = 12Tetraplóide Meiose anormal não-disjunção Auto fecundação Zigoto autopoliplóide Figura 7 – Esquema do surgimento da poliploidia Cromossomos Sexuais e a Determinação do Sexo No reino animal, muitas espécies apresentam grande distinção entre machos e fêmeas e, nesse caso, eles são sexualmente dimórficos. Em algumas espécies de crocodilos, tartarugas, lagartos, jacarés e até mesmo de peixes, o dimorfismo sexual é dependente de fatores ambientais, como a temperatura de incubação dos ovos, ou mesmo de fatores sociais. Para outras, o sexo da prole é determinado por fatores genéticos, em geral envolvendo um par de cromossomos sexuais. 20 21 Nas espécies em que há a presença de cromossomos sexuais, eles são também segregados durante a meiose. Pensando em humanos e outros mamíferos placentários, sabe-se que as fêmeas possuem dois cromossomos X e os machos um X e um Y; a produção de gametas resultante da meiose em fêmeas será sempre de células haploides com cromossomo X, enquanto nos machos teremos alguns gametas com cromossomo X e outros com Y (Figura 6a). De modo que, após a fusão dos gametas masculino e feminino na fecundação, a determinação sexual do organismo descendente será dada pela presença ou ausência do cromossomo Y, pois este apresenta um efeito dominante sobre X. Um fator determinante de testículo é produzido por um gene específico no cromossomo Y, responsável por induzir a medula das gônadas embrionárias a se desenvolver em testículos, esses então, passam a produzir testosterona, um hormônio que garante as características sexuais masculinas. Diferentemente disso, em Drosophila (mosca-da-fruta) a determinação do sexo se dá pela proporção de cromossomos X em relação aos cromossomos autossômicos. Assim como nos humanos, as moscas de frutas possuem um par de cromossomos sexuais, XX ou XY, e três pares de autossomos (AA). Quando a proporção entre X:A é maior do que 1, as moscas se desenvolvem como fêmeas e quando a proporção é menor, as moscas se desenvolvem como machos, de modo que o cromossomo Y não apresenta nenhum efeito no dimorfismo sexual. Isso ocorre porque as moscas possuem um gene no cromossomo X que é ativado ou desativado dependendo da proporção X:A. Em ambos os exemplos dados, os machos possuem dois tipos de gametas, os portadores de cromossomo X e os de Y, sendo chamados de sexo heteroga- mético. As fêmeas, por sua vez, são homogaméticas. Em alguns insetos, como gafanhotos, as fêmeas são também homogaméticas (XX), contudo o cromosso- mo Y é ausente, de modo que o sexo masculino é definido pela ausência de um cromossomo, sendo, portanto X0 (xis-zero). Nesse caso, durante a meiose, os machos produzem gametas portadores do cromossomo X e gametas ausentes de cromossomo sexual (Figura 6b). Em aves, algumas espécies de peixes, lagartos e insetos o sistema de determinação do sexo é do tipo ZW e ao contrário dos sistemas XY e X0, os machos possuem dois cromossomo iguais (ZZ) e as fêmeas são heterogaméticas (ZW) (Figura 6c); contudo, pouco se sabe sobre o mecanismo de determinação sexual desse sistema. Há aind a o sistema haploide-diploide (Figuras 6d e 7), comum em abelhas, em que os embriões haploides originarão machos e os embriões diploides se desenvolverão em fêmeas. 21 UNIDADE Bases Cromossômicas da Herança 22+ X 22+ Y 44+ XX 22+ X 44+ XY 44+ XX 44+ XY ÓvulosEsperma Parentes Zigotos (descendência) SISTEMA X-Y (a) 22+ XX 22+ X SISTEMA X-0 (b) 76+ ZW 76+ ZZ SISTEMA X-W (c) 22 23 16 Haplóide 32 Diplóide SISTEMA HAPLÓIDE-DIPLÓIDE (d) Figura 8 – Sistemas de determinação de sexo a) XY, comum em mamíferos incluindo o homem; b) X0, comum em insetos; c) ZW, comum em aves e d) haplo-diploide, comum em abelhas Fonte: Adaptado de iStock/Getty Images Nesse caso, a rainha produz ovócitos por meiose, pois ela é diploide, enquanto o zangão produz espermatozoides por mitose, pois já são organismos haploides. Nesse tipo de sistema, a rainha pode controlar a proporção de machos e fêmeas regulando o número de ovócitos que serão ou não fertilizados. A produção de descendentes machos pela não fertilização de ovócitos é um mecanismo chamado de partenogênese. FÊMEA (2n) MACHO (n) Meiose Sem fertilização Partenogênese OvócitoGametas Ovócito Espermatozóide Mitose n n n Zigoto (n) Macho Fertilização Zigoto (2n) Fêmea Figura 9 – Sistema haplo-diploide em abelhas Fonte: Adaptado de iStock/Getty Images 23 UNIDADE Bases Cromossômicas da Herança Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Sites Mitose e Meiose Teste seus conhecimentos sobre mitose e meiose com essa atividade interativa https://goo.gl/1URgJz Vídeos Reprodução Sexuada e Assexuada https://youtu.be/gRpEt61XM4M Mitose https://youtu.be/L0k-enzoeOM Meiose https://youtu.be/qCLmR9-YY7o 24 25 Referências ALBERTS, B. et al. P. Biologia molecular da célula. 5.ed. Porto Alegre: Artmed, ano. GRIFFITHS, A. J. F. et al. Introdução à genética. 9.ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2009. SNUSTAD, D. P.; MICHAEL, J.; SIMMONS, M. J. Fundamentos de genética. 6.ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2013. WATSON, J. D. et al. Molecular biology of the gene. 7.ed. Porto Alegre: ArtMed, 2015. 25 Genética e Imunologia Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Profa. Dra. Aline Dal’Olio Gomes Revisão Textual: Profa. Dra. Selma Aparecida Cesarin Mecanismos da Herança • Mendelismo • Heredogramas • Codominância • Alelos Múltiplos • Interação Gênica · Identificar os mecanismos genéticos que causam ou predispõem alterações e atuam na herança de caracteres. OBJETIVO DE APRENDIZADO Mecanismos da Herança Orientações de estudo Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem aproveitado e haja uma maior aplicabilidade na sua formação acadêmica e atuação profissional, siga algumas recomendações básicas: Assim: Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e horário fixos como o seu “momento do estudo”. Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar, lembre-se de que uma alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo. No material de cada Unidade, há leituras indicadas. Entre elas: artigos científicos, livros, vídeos e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você também encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados. Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discussão, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e aprendizagem. Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Determine um horário fixo para estudar. Aproveite as indicações de Material Complementar. Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar, lembre-se de que uma Não se esqueça de se alimentar e se manter hidratado. Aproveite as Conserve seu material e local de estudos sempre organizados. Procure manter contato com seus colegas e tutores para trocar ideias! Isso amplia a aprendizagem. Seja original! Nunca plagie trabalhos. UNIDADE Mecanismos da Herança Contextualização Alguém já lhe disse que você tem os olhos da sua mãe ou o nariz do seu avô? Ou, ainda, como seu irmão possui olhos azuis se você e seus pais têm olhos castanhos? Essas e outras perguntas relacionadas ao “que torna um indivíduo do jeito que ele é” foram estudadas e respondidas pela Genética. Como vimos até aqui, a Genética trata da transferência de informação biológica de célula a célula, dos pais para os filhos e, desse modo,de geração a geração. Os pesquisadores se preocuparam com as razões e os mecanismos envolvidos com essas transferências, que são a base para as diferenças e as semelhanças vistas entre os grupos de organismos. Os experimentos de Gregor Mendel com ervilhas de jardim (Pisum sativum) foram fundamentais para o entendimento de como as características são herdadas, e é o que veremos nesse capítulo. 8 9 Mendelismo A redescoberta dos estudos de Mendel somada à teoria cromossômica da herança e ao conhecimento atual do século XXI permitiram concluir que os padrões hereditários são determinados por genes presentes aos pares nos organismos, mas que se segregam durante a produção de gametas, de modo que qualquer gameta recebe apenas um ou outro gene pareado. E esse par de genes é, então, reestabelecido na prole. Vamos entender com mais detalhes como os estudos de Mendel possibilitaram essas conclusões posteriores. Gregor Mendel nasceu em 1822; aos 21 anos ingressou em um Monastério católico na antiga cidade Brunn, Áustria, e aos 25 anos foi ordenado padre. Além de suas atividades religiosas, Mendel era um grande pesquisador. Estudou na Universidade de Viena, entre 1851 e 1853, e após retornar ao Monastério iniciou seus experimentos genéticos, que o tornaram famoso. Ele sempre viveu em meio aos agricultores e conhecia bem os estudos que tentavam desvendar os segredos que envolviam a herança de certas características expressas por diferentes espécies de plantas. Daí surgiu o seu interesse em realizar diversos cruzamentos entre plantas e observar a expressão dos caracteres. Durante oito anos, Mendel realizou vários experimentos com várias espécies diferentes de plantas; entretanto, seu maior sucesso foi com as ervilhas. O sucesso com as ervilhas não foi por acaso, mas sim por apresentarem características que facilitavam o seu manuseio nas pesquisas. A ervilha de jardim, Pisum sativum, cresce facilmente em canteiros ou em vasos em estufas, possui ciclo reprodutivo relativamente curto, é uma planta diploide (possuindo apenas dois conjuntos de cromossomos) e os órgãos reprodutivos apresentam flores que realizam autofertilização; portanto, é uma planta fácil de ser cultivada e cruzada. Para iniciar seus experimentos, Mendel escolheu linhagens puras de ervilha por meio da autofertilização e teve o cuidado de escolher indivíduos que apresentavam apenas uma característica observável diferente entre si no momento de realizar os cruzamentos. Como nem sempre isso era possível, Mendel procurava observar apenas uma característica de cada vez. A seguir são apresentadas as sete principais características estudadas por Mendel nas ervilhas. 9 UNIDADE Mecanismos da Herança Figura 1 – As sete características observadas por Mendel nas ervilhas Pisum sativum Alelo: membro de um par de um gene que ocorre em um determinado local (locus) no cromossomo. Os alelos são representados pelo mesmo símbolo básico (exemplo, “B” para planta alta e “b” para planta anã). Cromossomos Homólogos B b Alelos Lócus gênico Figura 2 – Cromossomos homólogos Caráter: Característica de um indivíduo relacionada à sua estrutura, forma, substância ou função. Dominância: Condição na qual um membro de um par de alelos predomina em manifestação ao outro (exemplo, B sobre b). Hereditariedade: Transmissão de características dos genitores à prole. Heterozigoto: Organismo com membros diferentes de um determinado par de alelos (exemplo Bb). Híbrido: Uma prole de genitores homozigotos que difere em um ou mais genes. Homozigoto: Um indivíduo no qual as duas cópias de um gene são do mesmo alelo (exemplo BB ou bb). Ex pl or 10 11 Figura 3 – Exemplos de alelos homozigotos e heterozigotos Linhagens puras: São plantas que apresentam sempre as mesmas características após a autofertilização, isto é, as características não mudam ao longo das gerações. Recessividade: Quando um membro de um par de alelos não tem a habilidade de se manifestar quando o membro dominante está presente. Segregação: Separação dos cromossomos paternos e maternos um dos outros na meiose. Segregação independente: Distribuição aleatória de alelos para os gametas. 1ª Lei de Mendel: Monoibridismo Em um dos seus experimentos, Mendel cruzou plantas altas com plantas anãs, ambas puras, e observou que todos os descendentes dessa primeira geração eram altos, desaparecendo a característica baixa. As plantas cruzadas inicialmente são denominadas de parental (P) e a primeira geração, de geração F1. Mendel, então, permitiu a autofertilização dos descendentes da F1 e quando analisou a prole, agora chamada de F2, observou a presença tanto de plantas altas quanto anãs em uma proporção de 3:1 (3 plantas altas para 1 planta baixa). Mendel observou que os híbridos (F1) produzidos do primeiro cruzamento tinham a capacidade de produzir uma geração anã, embora todos fossem altos, o que permitiu deduzir que estes híbridos apresentavam um fator genético para a característica alta que dominava a expressão do fator para anã. Assim, ele denominou o fator anão como recessivo e o fator alto foi expresso como dominante, e sugeriu, também, que os fatores recessivo e dominante se separavam um do outro quando as plantas híbridas se reproduziam. Mendel obteve o mesmo resultado estudando as outras seis características das ervilhas apresentadas na Figura 1, de modo que apenas uma das duas características analisadas era expressa nos híbridos em F1 e quando os híbridos eram autofecundados produziam dois tipos de prole, cada uma semelhante a uma das plantas parentais, sempre na proporção 3:1. 11 UNIDADE Mecanismos da Herança Um segundo exemplo dos cruzamentos de Mendel pode ser observado na Figura 4. P: (parental) F1: (1ª geração) F2: (2ª geração) X Cruzamento entre ervilha verde e ervilha amarela 100% de ervilhas amarelas (auto-cruzamento) 1 ervilha verde para cada 3 amarelas Figura 4 – Exemplo representativo dos cruzamentos realizados por Mendel entre ervilhas que produziam sementes verdes e ervilhas com sementes amarelas Em conclusão, cada característica analisada por Mendel nos cruzamentos monoíbridos (experimentos em que apenas uma característica é observada) parecia ser controlada por um fator hereditário em par, hoje chamado de gene, que se apresentava sob duas formas, dominante e recessivo, chamadas de alelos. Mendel ainda sugeriu que cada uma das plantas parentais utilizadas possuía duas cópias idênticas de um gene; portanto, denominadas homozigotas. Durante a produção de gametas, essas cópias seriam separadas e na fecundação o número diploide da espécie seria restaurado no zigoto. Nesse caso, sendo os parentais homozigotos para duas características diferentes (alta e baixa ou verde e amarela), o zigoto híbrido herdaria dois alelos diferentes, um da mãe e outro do pai. Portanto, essa prole é denominada de heterozigota. Mesmo um alelo sendo dominante, o recessivo não desaparece, de modo que quando os heterozigotos são cruzados entre si há a probabilidade de dois gametas com o alelo recessivo se unirem, resultando no reaparecimento da característica recessiva. Mendel e outros pesquisadores criaram uma linguagem de termos e símbolos para facilitar a análise matemática dos cruzamentos e também permitir previsões dos resultados. Os fatores hereditários, ou seja, os genes são representados por letras, sendo a letra maiúscula representativa de um gene dominante e a letra minúscula representativa de um gene recessivo, que serve também como base para a escolha da letra denotativa do genótipo. Considerando o cruzamento entre ervilhas que produzem sementes lisas com ervilhas que produzem sementes rugosas, as ervilhas parentais utilizadas no primeiro cruzamento são homozigotas para alelos diferentes que controlam a textura da semente. A característica rugosa é recessiva; portanto, seu alelo é simbolizado pela letra r minúscula e o alelo para lisa, dominante, é simbolizado pela letra R maiúscula (Figura 5). Aletra utilizada como símbolo é representativa da característica recessiva, neste caso r de rugosa. Portanto, as ervilhas com sementes rugosas e 12 13 lisas puras são representadas por rr e RR, respectivamente. A composição alélica é denominada genótipo, enquanto a característica (alta, baixa, verde, amarela, lisa, rugosa) constitui o fenótipo. No exemplo mostrado na Figura 5, as linhagens parentais puras lisa e rugosa, RR e rr, contribuem igualmente para a sua prole F1 que apresenta um genótipo Rr, ou seja, elas são heterozigotas para o alelo que controla textura da semente (possuem um gene dominante e outro recessivo). Contudo, a prole F1 possui o mesmo fenótipo que a geração parental RR, todas lisas, pois o alelo R é dominante em relação a r. Durante a meiose, os cromossomos homólogos se separam, segregando também os alelos, de modo que essas plantas de F1 produzem dois tipos de gametas em iguais proporções, R e r. A autofecundação de F1 permite que diferentes combinações ocorram entre os gametas R e r, gerando 3 tipos de genótipos: RR, rr e Rr (Figura 5 e Tabela 1). Contudo, devido à dominância, os 3 genótipos resultam em dois fenótipos apenas: lisa (RR e Rr) e rugosa (rr) (Tabela 1). Portanto, a geração F2 possui plantas com sementes lisas e rugosas em uma proporção de 3:1. rr RR r R RrRr Rr R R r r RR rrRr Rr Geração P X Gametas Geraçãpo F1 Geraçãpo F2 Quadrado de Punnet Figura 5 – Representação simbólica do cruzamento monoíbrido entre ervilhas que produzem sementes lisas e ervilhas que produzem sementes rugosas Tabela 1. Resumo dos resultados fenotípicos e genotípicos obtidos por Mendel com o cruzamento entre ervilhas que produzem sementes lisas e ervilhas que produzem sementes rugosas. Os resultados são baseados no cruzamento apresentado no quadrado de Punnet da Figura 5 Fenótipo Genótipo Proporção genotípica Proporção fenotípica Lisa RR 1 3 Rr 2 Rugosa rr 1 1 13 UNIDADE Mecanismos da Herança Importante! Para representar os cruzamentos, utiliza-se o diagrama do quadrado de Punnet, como mostrado a seguir: Importante! Em cada quadradinho na horizontal, estão os gametas masculinos. Nestes quadradinhos estão os possíveis resultados dos cruzamentos entre os diferentes gametas dos genitores. Em cada quadrinho na vertical, estão os gametas femininos. Figura 6 Mendel realizou ainda uma autofecundação da geração F2, produzindo a geração F3. Todas as plantas com sementes rugosas produziram uma prole apenas com sementes rugosas, demonstrando que esses alelos eram homozigotos (rr). Com relação às plantas com sementes lisas, 1/3 delas produziu uma prole com apenas plantas de sementes lisas, sendo também homozigotos (RR) e os outros 2/3 produziu uma prole com plantas de sementes lisas e rugosas, sendo, portanto, heterozigotos (Rr). Como podemos perceber, dois princípios básicos regem os cruzamentos monoíbridos: • O princípio da segregação: no qual, em um gene heterozigoto, os dois alelos diferentes segregam-se um do outro durante a produção de gametas, na meiose, assim como ocorre para um gene homozigoto; • O princípio da dominância: no qual, em um heterozigoto, um alelo pode suprimir a expressão do outro. 14 15 Desse modo, a primeira Lei de Mendel, também chamada de Lei da Segregação dos fatores, pode ser enunciada da seguinte forma: “Cada caráter é determinado por um par de fatores que se segregam durante a formação de gametas, assim pai e mãe transmitem apenas um gene para seus descendentes.” 2ª Lei de Mendel: Diibridismo Além do monoibridismo, Mendel analisou, também, a transmissão combinada de duas características, realizando experimentos de diibridismo. Para isso, mais uma vez Mendel iniciou os cruzamentos com linhagens puras, ou seja, homozigotas dominantes e recessivas. Ele cruzou plantas que produziam sementes amarelas e lisas com plantas que produziam sementes verdes e rugosas. O objetivo de Mendel era saber se as duas características seriam herdadas, independentemente uma da outra. Vimos nos experimentos de monoibridismo que as características amarela e lisa são dominantes em relação às características verde e rugosa, que são recessivas; portanto, o genótipo dos parentais era VVRR e vvrr, respectivamente. Após o cruzamento, a geração F1 apresentou todas as sementes amarelas e lisas, de modo que os alelos para essas características eram então dominantes, mas possuíam um genótipo heterozigoto (VvRr). Mendel realizou a autofecundação com a geração F1 e obteve uma geração F2 com todas as possíveis classes fenotípicas: sementes amarelas e lisas, amarelas e rugosas e sementes verdes e rugosas e verdes e lisas, em uma proporção de 9:3:3:1, respectivamente. Esses resultados permitiram concluir que cada característica era controlada por um gene diferente segregando dois alelos e os genes eram herdados independentemente. A Figura 7 mostra a representação simbólica do cruzamento feito por Mendel e as respectivas proporções fenotípicas e genotípicas. Sabemos que uma planta diploide produz gametas haploides, ou seja, com apenas uma cópia de cada gene. Sendo assim, as plantas VVRR produzem gametas com apenas uma cópia do gene para cor da semente (alelo V) e uma cópia do gene para textura da semente (alelo R). O mesmo ocorre para as plantas vvrr, que possuem uma cópia do gene v e r em seus gametas. Desse modo, a fecundação desses gametas entre as plantas (VR x vr) produzirá indivíduos 100% heterozigotos em F1 (VvRr) com um fenótipo amarelo e liso, pois os genes V e R são dominantes sobre v e r. As plantas heretozigotas, por sua vez, produzem gametas com diferentes combinações entre os alelos de cada característica (VR, vr, vR e Vr), sendo sempre V e R os genes dominantes. Portanto, a autofecundação da geração F1 produz todos os fenótipos possíveis. 15 UNIDADE Mecanismos da Herança Figura 7 – Representação simbólica do cruzamento diíbrido entre ervilhas que produzem sementes lisas e amarelas e ervilhas que produzem sementes rugosas e verdes Outras combinações entre plantas com características diferentes foram realizadas por Mendel e, em todos os casos, ele observou que os genes segregavam- se independentemente, o que o levou a postular o terceiro princípio básico da Genética Mendeliana: • O princípio da segregação independente: os alelos de diferentes genes (a cópia de cada gene) segregam-se durante a formação dos gametas, independentemente uns dos outros. 16 17 Tente fazer exercícios de cruzamentos monoíbridos (por exemplo: plantas altas x plantas anãs; cobaias de pelo preto x cobaias de pelo branco – sabendo-se que a característica anã das plantas e a pelagem branca dos cobaias é recessiva) e diíbridos (por exemplo: cobaias com pelos grossos e pretos x cobaias com pelos lisos e brancos) para treinar. Lembre-se de aplicar o uso dos símbolos adequadamente. Se quiser, realize esses testes com características da sua própria família (por exemplo, cor dos olhos, textura do cabelo, cor da pele etc.) Ex pl or Heredogramas Experiências com cruzamentos genéticos dirigidos não podem ser realizadas com a espécie humana; sendo assim, a determinação do padrão de herança das características depende de um levantamento histórico das famílias em que certas características aparecem. Isso permite que um geneticista entenda se uma determinada característica é ou não hereditária. Esses estudos são feitos utilizando heredogramas. Os heredogramas são diagramas utilizados para evidenciar o grau de parentesco entre membros de uma mesma família, por meio do uso de símbolos. Nesses esquemas, os homens são representados por um quadrado e as mulheres por um círculo. A reprodução entre homens e mulheres é representada por uma linha horizontal, a prole é evidenciada a seguir, na sequência da esquerda para a direita, por ordem de nascimento (Figura 8) e as gerações são representadas ao lado, por números romanos. Indivíduo do Sexo Masculino Indivíduo do Sexo Feminino Sexo Inde�nido
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