Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Neurociência Fisiologia e Anatomia Funcional 1 Volte ao Sumário Navegue entre os capítulos NEUROCIÊNCIA FISIOLOGIA E ANATOMIA FUNCIONAL Neurociência Fisiologia e Anatomia Funcional 1 Volte ao Sumário Navegue entre os capítulos Motta-Teixeira, Lívia Clemente , 2020 Neurociências: Fisiologia e Anatomia Funcional - Jupiter Press - São Paulo/SP 61 páginas Palavras-chave: 1. Sistema nervoso 2. Neurofisiologia 3. Neuroanatomia 4. Neurociência e Comportamento Neurociência Fisiologia e Anatomia Funcional 2 Volte ao Sumário Navegue entre os capítulos s SUMÁRIO INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................................3 1 . FUNDAMENTOS DAS NEUROCIÊNCIAS: HISTÓRIA, EVOLUÇÃO E CONCEITOS BÁSICOS ................................................................................................................................4 2. CONCEITOS BÁSICOS DO SISTEMA NERVOSO ...................................................................8 3. NEUROTRANSMISSÃO: PROCESSOS BIOQUÍMICOS E ELÉTRICOS DA SINAPSE .......................................................................................................................................................15 4. - DESENVOLVIMENTO DO SISTEMA NERVOSO: NEUROEMBRIOLOGIA E NEUROANATOMIA ...................................................................................................................................24 5. NEUROCIÊNCIA COGNITIVA E COMPORTAMENTO HUMANO ...............................40 6. NEUROPLASTICIDADE ..........................................................................................................................44 7. BASES NEUROBIOLÓGICAS DAS PSICOPATOLOGIAS .....................................................49 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................................................................58 * * A navegação deste e-book por meio de botões interativos pode variar de funcionalidade dependendo de cada leitor de PDF. Neurociência Fisiologia e Anatomia Funcional 3 Volte ao Sumário Navegue entre os capítulos INTRODUÇÃO Uma das questões mais intrigantes da ciência atual é como nosso cérebro possibilita a nossa consciência e permite funções cognitivas como a linguagem, memória, atenção e planejamentos. Para produzir esses conhecimentos, foi necessário construir todo o entendimento acerca do sistema mais complexo do corpo: o sistema nervoso. Neste e-book, contaremos um pouco da história da Neurociência e como fomos conhecendo todo o magnífico cérebro. Existem diferentes níveis de abordagem do sistema nervoso que permitem o conhecimento dos diferentes fenômenos (comportamentais, fisiológicos e moleculares) que atuam simultaneamente. A neurociência cognitiva é a abordagem científica funcional do encéfalo que surge a partir da combinação de diferentes campos, como a neurofisiologia, neuroanatomia, neurogenética, neuropatologia, psicologia, medicina, entre outros. Assim, pensamos nesse livro como o sistema nervoso trabalha, processa e produz nossas funções cognitivas. Vamos, primeiro, explorar a história da neurociência e como esse ramo da ciência evolui. Para entendermos as funções cognitivas, temos de ter noções básicas do sistema nervoso e da sua comunicação (sinapses e neurotransmissão). Exploraremos como ocorre o seu desenvolvimento desde o embrião até a vida adulta, como as principais estruturas surgem e suas funções. Em seguida, compreenderemos a organização e como ocorrem as conexões locais necessárias para o desempenho das funções cognitivas. Abordaremos as funções executivas e a base da neurociência cognitiva. Dentre elas, abordaremos os fenômenos de neuroplasticidade envolvidos no processo de formação de memórias e das emoções. Depois de abordar as funções do sistema nervoso de maneira dinâmica e de interação constante, iremos falar sobre as alterações que levam aos transtornos mentais. Seja bem-vindo(a) ao fascinante mundo da neurociência! Neurociência Fisiologia e Anatomia Funcional 4 Volte ao Sumário Navegue entre os capítulos 1 . FUNDAMENTOS DAS NEUROCIÊNCIAS: HISTÓRIA, EVOLUÇÃO E CONCEITOS BÁSICOS As neurociências têm uma longa e fascinante história, na qual o cérebro, a medula espinal, nervos e olhos, e teorias sobre a alma e a mente têm despertado o interesse de filósofos naturalistas, médicos, pesquisadores e leigos desde os tempos antigos até o período moderno contemporâneo. Como tal, a história das neurociências incorpora amplas perspectivas da história da filosofia e teologia, da história da ciência e da medicina, histórias sociais, políticas e culturais, bem como questões continuadas de economia e benefícios de saúde para as sociedades humanas. Atualmente, conhecemos as partes do cérebro responsáveis por muitas de suas funções; podemos operar com sucesso o cérebro e usar medicamentos para tratar, com eficácia, muitos distúrbios neurológicos. Chegar a este ponto não foi fácil. Você já ouviu falar em trepanação? Em 2500 a.C. (antes de Cristo), a trepanação (abertura de orifícios do crânio) era um procedimento cirúrgico comum em diversas culturas. Possivelmente, era usado para tratar transtornos cerebrais, como a epilepsia ou por razões rituais ou espirituais. Muito provavelmente, essas trepanações eram feitas com o intuito de possibilitar a saída de maus espíritos que estariam atormentando o cérebro. Ou, que tal a frenologia, popular nos anos 1800? Os frenologistas pensavam que você poderia aprender tudo o que precisava saber sobre o caráter de alguém medindo a forma de seu crânio. Os acidentes ósseos eram relacionados com as funções cerebrais. A história da neurociência é tão antiga quanto a curiosidade do homem, e tem sua origem na grécia antiga. O grande filósofo e cientista grego Aristóteles acreditava que nossa consciência, imaginação e memória estavam enraizadas no coração humano. Era uma crença que ele compartilhava com os antigos egípcios, cujo Livro dos Mortos endossa a preservação cuidadosa do coração de uma múmia, mas recomenda escavar e descartar o cérebro. Aristóteles generalizou erradamente a noção que a sede das emoções seria o coração. Hoje, o papel supremo do coração permanece apenas como uma metáfora para nosso eu intuitivo e emocional. Há evidências, entretanto, de que pelo menos alguns egípcios sabiam da importância do cérebro. Herophilus (335-280 a.C.) e Erasistratus (335-280 a.C.) inauguraram os estudos anatômicos do cérebro, dissecando cadáveres e descrevendo a estrutura do cérebro. Nesse momento da história, as principais teorias sobre a mente e a consciência consideravam que essas eram resultados da expressão de espíritos animais atuando no cérebro. O Papiro Cirúrgico de Edwin Smith, datado em 1700 a.C., é um dos mais antigos textos médicos conhecido na Neurociência Fisiologia e Anatomia Funcional 5 Volte ao Sumário Navegue entre os capítulos história. O papiro discute o cérebro, as meninges, a medula espinhal e o líquido cefalorraquidiano. Ele contém detalhes de 48 casos médicos, incluindo sete que lidam diretamente com o cérebro, o que indica que o autor egípcio sabia que o cérebro controla os movimentos. No entanto, os casos graves de lesão cerebral são descritos no papiro como intratáveis. Percorremos um longo caminho desde o antigo Egito. A ideia do cérebro como centro das funções mentais começa a ser fortalecida com os estudos do médico romano Galeno (130-200 d.C.), um dos primeiros neuroanatomistas que descreveu os ventrículos cerebrais e acreditava que os espíritos animais estariam ali armazenados. A partir desses estudos, a teoria de que o temperamento e o caráter humanos são decorrentes de quatro “humores” (líquidos mantidos nos ventrículos do cérebro) surgiu e persistiu por mais de 1000 anos. Somente no século XVI, Andreas Vesalius (1514-1564), autor de Sobre o Funcionamento do Corpo Humano, rompe com a teoria da localizaçãoventricular dos processos mentais argumentando que outros mamíferos têm a mesma organização anatômica e não possuem as mesmas capacidades intelectuais. Contudo, ele continuou a acreditar que os ventrículos cerebrais eram um local de armazenamento dos espíritos animais, de onde eles partiam para, através dos nervos, atingir os órgãos sensoriais ou de movimento. O filósofo francês René Descartes (1649) surge com a influente ideia de que, embora o cérebro possa controlar o corpo, a mente é algo intangível, distinto do cérebro, onde residem a alma e o pensamento. Descartes escolheu o corpo pineal (glândula pineal) não propriamente como a sede da alma, mas como o local da sua atividade. A neurofisiologia de Descartes é baseada nos espíritos animais e nos poros e vias pelos quais eles fluem para exercer suas ações, um sistema hidraúlico de condução do estímulo da periferia à pineal pelos nervos, que seria um centro somático e sensorial, que mandaria o “fluido vital” para inflar músculos e gerar a resposta motora. A ideia dos “espíritos animais” permaneceu até a natureza elétrica, sendo demonstrada na condução nervosa, destacando-se, para isso, o trabalho de Luigi Galvani (1737-1798) e de Emil du Bois-Reymond (1818-1896). Du Bois-Reymond propôs que os órgãos efetuadores seriam excitados pelos nervos através de corrente elétrica, ou de substâncias químicas liberadas pelas terminações nervosas, o que deu origem à era da bioeletricidade. Quanto à importância do tecido cerebral para as funções nervosas, os conhecimentos fundamentais se desenvolveram no século XIX, com o advento de novas tecnologias e da teoria celular (i.e., todos os seres vivos são constituídos de células). O termo “neurônio”, para designar a unidade anatômica e funcional do sistema nervoso, foi cunhado em 1891 por Wilhelm von Waldeyer (1836- 1921). Somente com a descoberta das técnicas de impregnação das estruturas nervosas pela prata (método de Golgi) foi possível uma observação mais acurada, Neurociência Fisiologia e Anatomia Funcional 6 Volte ao Sumário Navegue entre os capítulos resultando nos trabalhos de Santiago Ramón y Cajal (1852-1934), que, já em 1889, argumentava que as células nervosas eram elementos isolados (acreditava-se que as células nervosas eram contínuas). Ramón y Cajal descreveu diversos tipos de neurônios em distintas regiões do sistema nervoso de humanos, mostrando que existiam variações estruturais de acordo com a função que cada um desempenhava. Ele também previu que os neurônios deveriam se comunicar por mensageiros químicos em regiões especializadas. Finalmente, veio a descoberta, por Charles Scott Sherrington (1857-1952), dos espaços existentes nas junções entre células nervosas ou entre estas e as células musculares. Sherrington chamou essas estruturas de “sinapses”. Esses achados e de outros pesquisadores como Hermann von Helmholtz estabeleceram a natureza físico-química da condução nervosa, demonstrando que essa ocorria por impulsos elétricos propagados como ondas, que mais tarde seria denominado como potencial de ação. Os frenologistas foram pioneiros em associar diferentes partes do cérebro que desempenham funções específicas. Esses estudos de localização de funções foram feitos com estudos de lesões e acidentes cerebrais. Diversos médicos e psiquiatras contribuíram para esse conhecimento ao anotar alterações comportamentais e a verificarem o local das lesões no encéfalo pós-morte, relacionando localização da lesão ao prejuízo funcional. Um desses médicos foi Pierre Paul Broca (1824-1880), que descobriu uma área no cérebro que é responsável por parte da fala e outras funções. Essa região é hoje denominada área de Broca. Danos a esta área durante um derrame podem levar à afasia de Broca, quando uma pessoa não consegue mais produzir uma fala precisa ou coerente. Korbinian Brodmann (1868-1918) descreveu um mapa de 52 áreas diferentes do cérebro e que é efetivamente utilizado. Nos dias atuais, com o desenvolvimento de novas técnicas de imagem que permitem “ver o cérebro em tempo real”, foi possível confirmar que várias áreas identificadas por Broadman correspondem a áreas funcionais. O surgimento da neurociência como uma disciplina distinta é relativamente recente. Ocorreu no início dos anos 1960, como resultado da convergência de campos mais tradicionais, como neuroanatomia, neurofisiologia, neuroquímica, psicologia comportamental, etologia, etc. Mais recentemente, o forte desenvolvimento da biologia molecular e celular, mapeamento genético e engenharia, em grande parte auxiliado por espetaculares avanços técnicos em neuroinformática, bioinformática, etc. aceleraram enormemente o conhecimento neurocientífico sobre as funções básicas e o desenvolvimento do sistema nervoso, bem como as causas de muitos distúrbios neurológicos e psiquiátricos. Como observamos, querido(a) leitor(a), o cérebro é complexo. Embora tenhamos avançado no seu conhecimento, nossa compreensão sobre como ele é e a expressão do comportamento, ainda carece de muitos estudos. Bem-vindo(a) a esse fascinante mundo do cérebro. Agora que já conhecemos Neurociência Fisiologia e Anatomia Funcional 7 Volte ao Sumário Navegue entre os capítulos um pouco da história das neurociências, vamos conhecer como o cérebro se desenvolve, suas divisões, como ele se comunica, suas funções, plasticidade e como ele está alterado em quadros patológicos. Neurociência Fisiologia e Anatomia Funcional 8 Volte ao Sumário Navegue entre os capítulos 2. CONCEITOS BÁSICOS DO SISTEMA NERVOSO O sistema nervoso é o principal sistema de controle, regulação e comunicação do corpo. É o centro de todas as atividades mentais, incluindo pensamento, aprendizado e memória. Junto com o sistema endócrino, o sistema nervoso é responsável por regular e manter a homeostase e nos permitir responder a diferentes condições/ambientes. Por meio de seus receptores, o sistema nervoso nos mantém em contato com o meio ambiente, tanto externo quanto interno, o que leva a respostas dos nossos músculos e glândulas. Anatomicamente, o sistema nervoso é dividido em duas partes: SISTEMA NERVOSO CENTRAL (SNC): composto pelo encéfalo e medula espinal; SISTEMA NERVOSO PERIFÉRICO (SNP): composto por nervos, gânglios e terminações nervosas. A DIVISÃO DO SISTEMA NERVOSO É PURAMENTE DIDÁTICA, VISTO QUE AS PARTES ES- TÃO INTIMAMENTE RELACIONADAS AO PONTO DE VISTA MORFOFISIOLÓGICO (VEREMOS ESSAS DIVISÕES E ORGANIZAÇÃO DO SISTEMA NA SEÇÃO 4). AS VÁRIAS ATIVIDADES DO SIS- TEMA NERVOSO PODEM SER AGRUPADAS COMO TRÊS FUNÇÕES GERAIS SOBREPOSTAS: • Sensorial; • Integrativa; • Motora. Milhões de receptores sensoriais detectam mudanças, chamadas estímulos, que ocorrem dentro e fora do corpo. Eles monitoram a temperatura, luz e som do ambiente externo. Dentro do corpo, no ambiente interno, os receptores detectam variações na pressão, no pH, na concentração de dióxido de carbono e nos níveis de vários eletrólitos. Todas essas informações coletadas são chamadas de entrada sensorial. A entrada sensorial é convertida em sinais elétricos chamados de potenciais de ação que são transmitidos ao cérebro. Lá, os sinais são reunidos para criar sensações, produzir pensamentos ou adicionar à memória. Nossas decisões são feitas a cada momento com base na entrada sensorial. Isso é integração. Com base na entrada e integração sensorial, o sistema nervoso responde enviando sinais aos músculos, fazendo com que se contraiam, ou às glândulas, fazendo com que produzam secreções. Os músculos e as glândulas são chamados de efetores porque causam um efeito em resposta às instruções do sistema nervoso. Esta é Neurociência Fisiologia e Anatomia Funcional 9 Volte ao Sumário Navegue entre os capítulos a saída do motor ou função motora. Essas respostas motoras podem ocorrer sob controle voluntário (consciente), que controla os movimentos musculares (ex.: movimentar o braço para acenar) ou inconsciente (autonômico),que controla o músculo cardíaco, musculatura lisa e glândulas. Ou seja, todos os nossos comportamentos, percepção e respostas fisiológicas refletem no funcionamento do nosso sistema nervoso. Vamos compreender quais são as células nervosas que produzem essas respostas e explorar com maior detalhamento como são transmitidas as informações (potencial de ação) no nosso sistema nervoso. No capítulo seguinte, iremos discutir sobre a embriologia do sistema nervoso e sua divisão baseada em critérios embriológicos, anatômicos e funcionais. Quais células compõem o nosso sistema nervoso? Embora o sistema nervoso seja muito complexo, existem apenas dois tipos básicos de células no sistema nervoso: neurônios e células neurogliais. Neurônios No cérebro humano, existem cerca de 85 a 200 bilhões de neurônios. Os neurônios são considerados como a unidade básica do sistema nervoso. Estas são as verdadeiras células condutoras do tecido nervoso, as responsáveis pela recepção e pela transmissão dos impulsos nervosos sob a forma de sinais elétricos. Entre todas as células do corpo, são as células nervosas que apresentam a maior variação de tamanho e forma. O comprimento do neurônio varia entre menos de 1 milímetro a mais de 1 metro (Exemplo: o axônio de um neurônio motor da medula espinal que inerva o músculo do pé pode ter cerca de 1 metro de comprimento). Cada neurônio tem sua própria identidade, expressa por suas interações com outros neurônios e por seus neurotransmissores; cada um também tem sua própria função, dependendo de suas propriedades intrínsecas, localização e conectividade. Eles podem ter funções receptivas, integradoras e motoras. Para compreendermos melhor as funções exercidas pelo sistema nervoso, precisamos, primeiro, conhecer a estrutura básica de um neurônio e como a informação nervosa é transmitida. Vamos, então, começar a compreender a morfologia de um neurônio. Com poucas exceções, a maioria dos neurônios consiste em três regiões distintas, conforme mostrado no diagrama: (1) O corpo celular, ou soma, pericário (centro trófico da célula); (2) Dendritos (recepção dos impulsos); (3) fibra nervosa ou axônio (transmissão dos impulsos nervosos). Vamos explorar em maiores detalhes como essas três regiões são constituídas: Neurociência Fisiologia e Anatomia Funcional 10 Volte ao Sumário Navegue entre os capítulos O corpo celular ou soma contém o núcleo e citoplasma ao seu redor (também chamado de pericário). O soma é o centro de funções metabólicas e de integração do neurônio, é rico em organelas para a síntese de proteínas, lipídeos e outras moléculas: mitocôndrias, aparelho de Golgi, lisossomos, ribossomos, livres ou associados ao retículo plasmático. Em preparações histológicas com coloração para ácidos nucléicos, os ribossomos aparecem como grandes grumos ou corpúsculos de Nissl. O soma também é local onde a informação elétrica recebida dos dendritos é reunida. Os dendritos são o local primário de recepção de informações. A maioria dos neurônios possui numerosos dendritos (árvore dendrítica), os quais aumentam consideravelmente a superfície celular, tornando possível o contato com numerosos terminais axônicos de outras células. Os dendritos podem ter espinhas dendríticas (prolongamentos) que aumentam a área de superfície sináptica. O axônio nasce do pericário em uma região sem a presença dos corpúsculos de Nissl, o cone de implantação. Seu segmento inicial é o local de geração do potencial de ação, conhecida como zona de disparo. O diâmetro dos axônios permanece constante por toda sua extensão. Os neurônios, geralmente, possuem apenas um axônio que pode ser mielinizado ou não-mielinizado (Nota: mielina é uma “capa” formada por uma membrana lipídica que recobre os axônios, promovendo isolamento elétrico e facilitando a rápida comunicação entre os neurônios). Os axônios podem se ramificar e essas ramificações são chamadas de colaterais. É nesse local que as vesículas de neurotransmissores são transportadas ativamente por um complexo sistema de proteínas (citoesqueleto), ademais, é onde o sinal elétrico resultante das aferências neuronais é conduzido.O terminal axonal é o local onde o axônio entra em contato com outros neurônios e/ou outras células e passa a informação (impulso nervoso) para eles. A região de passagem do impulso nervoso de um neurônio para a célula adjacente chama-se sinapse. Figura 1. Anatomia de uma célula nervosa. As características estruturais de um neurônio incluem o corpo celular (soma), den- dritos e axônio. Fonte: Por Quasar Jarosz em Wikipédia em inglês, CC BY-SA 3.0. https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=7616130, Adaptação Motta-Teixeira. Neurociência Fisiologia e Anatomia Funcional 11 Volte ao Sumário Navegue entre os capítulos Visto a estrutura básica dos neurônios, podemos agora classificar os neurônios quanto à forma (Figura 2): Neurônios Multipolares: vários prolongamentos (neuritos) se formam a partir do seu soma. Eles possuem vários dendritos e um axônio. A maioria dos neurônios do encéfalo e da medula espinal é deste tipo, bem como todos os neurônios motores. Bipolares: Possuem dois neuritos (um dendrito e um axônio). Esses neu- rônios são encontrados na retina, na orelha interna e na área olfatória do encéfalo. Pseudo-unipolares (Unipolar): apresentam um prolongamento único que fica próximo ao corpo celular, mas este se divide em dois, dirigindo-se a um ramo em que os dendritos projetam para a periferia. O outro ramo, dito central, vai para o sistema nervoso central. Os corpos celulares de alguns neurônios unipolares se agregam em massas de tecido nervoso chamado de gânglios, que se localizam fora do cérebro e medula espinal. Figura 2. Classificação de neurônios quanto à forma. Fonte: Por Quasar Jarosz em Wikipédia em inglês, CC BY-SA 3.0, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=7616130, Adaptação Motta-Teixeira. Como dito anteriormente, os neurônios podem possuir diferentes funções. Neurônios diferentes podem transmitir impulsos nervosos para o cérebro, para a medula espinal, transmitir impulsos de uma área do cérebro ou da medula espinal para a periferia. Com base nessas diferenças funcionais, os neurônios podem ser agrupados como: Neurônios sensoriais (neurônios aferentes): são aqueles que transmitem o impulso nervoso das partes periféricas do corpo para a medula espinal e o cérebro. Neurônios sensoriais possuem suas terminações especializadas nos seus dendritos ou têm dendritos que estão localizados próximos a células receptoras na pele ou órgãos sensoriais. São esses neurônios que transmitem a informação Neurociência Fisiologia e Anatomia Funcional 12 Volte ao Sumário Navegue entre os capítulos do meio externo e interno para o nosso cérebro. Interneurônios (também chamados de neurônios de associação): esses neurônios ficam dentro da medula espinal e do cérebro. Eles são multipolares e conectados a outros neurônios, transmitem informação de uma parte do cérebro ou medula espinal para outra. Isto é, eles podem receber diretamente impulsos sensoriais e transmiti-los para áreas cerebrais para seu processamento e interpretação. Ou podem transmitir essas informações para os neurônios motores. Neurônios motores (neurônios eferentes): são multipolares e transmitem impulsos nervosos do cérebro ou medula para os órgãos efetores. Esses neurônios controlam a contração muscular e a secreção de hormônios pelas glândulas (Ver figura 3). Figura 3. Classificação de neurônios quanto à função. Neurônios sensoriais ou aferentes levam a informação da periferia para o sistema nervoso central (SNC), os interneurônios estão dentro do SNC, e os neurônios motores ou eferentes levam a informação do SNC para o sistema nervoso periférico. Fonte: Por Quasar Jarosz em Wikipédia em inglês, CC BY-SA 3.0, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=7616130, Adaptação Motta-Teixeira. Iremos abordar como os sinais de informação são transmitidospelos neurônios, o que são sinapses e seus tipos. Agora, vamos estudar as outras células que constituem o sistema nervoso: a neuroglia! Células da Neuróglia: os neurônios constituem uma minoria das células do sistema nervoso. Excedendo-os em número de, pelo menos, 10 a 1, estão as células neurogliais, que existem no sistema nervoso de invertebrados e também de vertebrados. A neuroglia pode ser diferenciada dos neurônios pela falta de axônios e pela presença de apenas um tipo de processo. Além disso, eles não formam sinapses e mantêm a capacidade de se dividir ao longo de sua vida. Embora os neurônios e a neuróglia estejam em estreita aposição um do outro, não há especializações como as junções comunicantes entre os dois tipos. As junções Neurociência Fisiologia e Anatomia Funcional 13 Volte ao Sumário Navegue entre os capítulos gap existem entre as células neurogliais. Os principais tipos de células desta natureza são os astrócitos, oligodendrócitos, micróglias e células de Schwann. Astrócitos: são caracterizados pela presença de numerosas fibrilas em seu citoplasma. Os processos principais saem da célula em uma direção radial (daí o nome astrócito, que significa “célula em forma de estrela”), formando expansões e pés terminais nas superfícies dos capilares vasculares (esses prolongamentos transferem moléculas e íons do sangue para os neurônios). Apresentam-se sob duas formas: astrócitos protoplasmáticos, localizados na substância cinzenta; e astrócitos fibrosos localizados na substância branca. Têm como funções sustentação, participam da composição iônica e molecular do ambiente extracelular dos neurônios. Alguns astrócitos apresentam prolongamentos chamados pés vasculares, que se expandem sobre os capilares sanguíneos. Os astrócitos também têm sistemas de captação de alta afinidade para neurotransmissores, como glutamato e ácido gama-aminobutírico (GABA). Esta função é importante na modulação da transmissão sináptica. Oligodendrócitos: produzem as bainhas de mielina que servem de isolantes elétricos para os neurônios do SNC. Os oligodendrócitos têm prolongamentos que se enrolam em volta dos axônios, produzindo a bainha de mielina. Células de Schwann: as células de Schwann têm a mesma função dos oligodendrócitos, porém, localizam-se em volta do sistema nervoso periférico. Cada célula de Schwann forma uma bainha de mielina em torno de um segmento de um único axônio. Ao contrário, os oligodendrócitos têm prolongamentos por intermédio dos quais envolvem diversos axônios. Essa bainha de mielina atua como isolante elétrico e contribui para o aumento da velocidade de propagação do impulso nervoso ao longo do axônio, porém, não é contínua. Entre uma célula de Schwann e outra existe uma região de descontinuidade da bainha, denominada nódulo de Ranvier (ver imagem 4). Micróglia: células pequenas com poucos prolongamentos, presentes tanto na substância branca como na substância cinzenta. São células fagocitárias e derivam de precursores trazidos da medula óssea pelo sangue, representando o sistema mononuclear fagocitário no sistema nervoso central. São as células de defesa do nosso cérebro, que é isolado e protegido pela barreira hematoencefálica. Células ependimárias: são células epiteliais cúbicas que revestem as cavidades do cérebro e o canal central da espinal medula. Em alguns locais, as células ependimárias são ciliadas, o que facilita a movimentação cefalorraquidiana. Elas também, por parte da produção do líquor. Neurociência Fisiologia e Anatomia Funcional 14 Volte ao Sumário Navegue entre os capítulos Figura 4: Tipos de neuroglia no sistema nervoso central: Oligodendrócitos, astrócitos, micróglia, células ependimárias. Fonte: slideplayer.com Os componentes do tecido nervoso estão agrupados de várias maneiras. Os corpos celulares neuronais geralmente estão dispostos em aglomerados. Os axônios dos neurônios estão, em geral, agrupados em feixes. Além disso, áreas mais amplas de tecido nervoso estão agrupadas como substância cinzenta ou substância branca. Vamos para algumas definições: Gânglio refere-se a um grupo de corpos celulares neuronais que está localizado no sistema nervoso periférico (SNP). Os gânglios estão intimamente associados a nervos cranianos e espinais. Núcleo é um grupo de corpos celulares neuronais localizado no sistema nervoso central (SNC). Nervo é um feixe de axônios localizado no SNP. Os nervos cranianos conectam o encéfalo com a periferia, enquanto os nervos espinais conectam a medula espinal com a periferia. Trato é um feixe de axônios localizado no SNC. Os tratos conectam neurônios entre si na medula espinal e no encéfalo. Substância branca é composta, primariamente, por axônios mielinizados. A coloração esbranquiçada da mielina dá à substância branca seu nome. Substância cinzenta do sistema nervoso contém corpos celulares neuronais, dendritos, axônios não mielinizados, terminais axônicos e neuróglia. Ela parece acinzentada (e não esbranquiçada) porque os corpúsculos de Nissl são acinzentados e há pouca ou nenhuma mielina nessas áreas. Agora que já estudamos as células que compõem o sistema nervoso, vamos explorar, a seguir, como eles se comunicam, conhecer sinapses, potencial de ação e neurotransmissão. Neurociência Fisiologia e Anatomia Funcional 15 Volte ao Sumário Navegue entre os capítulos 3. NEUROTRANSMISSÃO: PROCESSOS BIOQUÍMICOS E ELÉTRICOS DA SINAPSE A junção entre dois neurônios comunicantes é chamada sinapse. Os neurônios que participam da sinapse não estão em contato direto fisicamente, existe um espaço entre eles chamado de fenda sináptica. Quando recebemos uma mensagem de alguém, a pessoa é o remetente e você é o destinatário. De maneira similar, temos o neurônio que transmite o impulso nervoso na sinapse, chamado de neurônio pré-sináptico. O neurônio que recebe a informação é chamado neurônio pós-sináptico. O processo pelo qual a mensagem passa através do botão sináptico é chamada de transmissão sináptica (ver Figura 5). Figura 5: Sinapses separam neurônios. Para que a informação seja transmitida entre neurônios, ela deve ultrapassar a fenda sináptica. A sinapse ocorre usualmente entre um axônio do neurônio pré-sináptico e o dendrito ou soma de neurônio pós-sináptico. Fonte: slideplayer.com Na figura 5, podemos observar a transmissão sináptica, a forma de comunicação do sistema nervoso que se dá através de sinais bioquímicos, os chamados neurotransmissores. A porção distal dos axônios possui um ou mais extensões chamados botões sinápticos, que contêm vesículas onde os neurotransmissores são armazenados. Quando um impulso nervoso (potencial de ação) atinge o botão sináptico, algumas das vesículas liberam neurotransmissores que se difundem pela fenda sináptica e se ligam aos receptores de neurotransmissores que estão localizados na membrana do Neurociência Fisiologia e Anatomia Funcional 16 Volte ao Sumário Navegue entre os capítulos neurônio pós-sináptico. As ações desses neurotransmissores no neurônio pós-sináptico podem ser excitatórias ou inibitórias. Vamos ver, a seguir, como esses sinais são importantes para a comunicação celular. Comunicação Neuronal Para compreendermos como os neurônios recebem e transmitem informações, precisamos entender duas propriedades fundamentais: a excitabilidade e a condutibilidade. Excitabilidade é a capacidade que permite a uma célula responder a estímulos, sejam eles internos ou externos. Ou seja, excitabilidade não é uma resposta, mas a propriedade que torna a célula apta a responder. A alteração ambiental (estímulo) pode modificar a permeabilidade iônica da membrana alterando seu potencial elétrico. A resposta emitida pelos neurônios assemelha-se a uma corrente elétrica transmitida ao longo de um fio condutor: uma vez excitados pelos estímulos, os neurônios transmitem essa onda de excitação - chamada de impulso nervoso - por toda a sua extensão em grande velocidade e em um curtoespaço de tempo. Esse fenômeno de propagação deve-se à propriedade de condutibilidade. A comunicação química entre neurônios depende da somação dos sinais recebidos pelos diversos dendritos. Chamamos essa soma desses sinais de integração neural, já que ela é a resultante de estímulos excitatórios e inibitórios de múltiplos neurônios. Dependendo da resultante, um sinal pode ser emitido pelo neurônio no ponto de emergência do axônio, chamada de zona gatilho. Esse sinal é conduzido pelo axônio até sua terminação, culminando na liberação de neurotransmissores que atuarão em outros neurônios, podendo excitá- los ou inibi-los. Como veremos agora em detalhes, a natureza desse sinal é eletroquímica, e depende da distribuição de íons (átomos ou grupo de átomos que ganham ou perdem carga resultante de perda ou ganho de elétrons) dentro e fora dos neurônios, assim como da capacidade dos neurônios de se tornarem mais ou menos permeáveis a íons específicos (KANDEL, 2014). Transporte de íons, potencial de repouso, potencial de ação A membrana neuronal é constituída de uma bicamada lipídica, impermeável a íons dissolvidos tanto no citosol como no meio extracelular. A movimentação de íons através da membrana celular acontece passivamente (sem gasto energético) por canais iônicos. Os canais iônicos são proteínas transmembrânicas, em geral, seletivas para a passagem de um único íon (de sódio, potássio, cálcio ou cloreto), mas também podendo ser permeável a uma classe de íons (cátions ou ânions). A concentração de íons não é igual nos meios extra e intracelular: enquanto a concentração de potássio e ânions orgânicos é maior dentro, a de sódio e de cloreto é maior fora da célula. Essa diferença de concentrações promove uma Neurociência Fisiologia e Anatomia Funcional 17 Volte ao Sumário Navegue entre os capítulos tendência de movimentação dos íons tanto pela ação de forças químicas como pelo gradiente elétrico, gerando um acúmulo de cargas nas proximidades da membrana a que chamamos diferença de potencial de membrana. Essa movimentação acontece por canais iônicos de repouso, que permanecem constantemente abertos (KANDEL, 2014). A movimentação passiva de íons pela membrana celular mantém a face interna da membrana ligeiramente mais negativa que a face externa, o que gera um potencial elétrico de aproximadamente -65mV. A tendência de equilíbrio de concentração dos íons pela movimentação passiva nos canais de repouso (entrada de sódio e saída de potássio) é revertida pela ação da sódio-potássio- ATPase, também conhecida como bomba de sódio-potássio. Essa proteína transmembrânica transporta ativamente íons Na+ e K+ contra seus gradientes de concentração, mantendo a diferença de potencial estável. (KANDEL, 2014). Isso é o que chamamos de potencial de repouso! Figura 6: Potencial de repouso. Fonte: Kandel (2000) Agora que já conhecemos o potencial de repouso, fica mais fácil compreender que a sinalização no sistema nervoso depende de alterações no potencial de repouso das membranas celulares. Vamos agora conhecer o potencial de ação. Para compreendermos o potencial de ação, temos de nos lembrar que ele será desencadeado pela ligação de neurotransmissores com seus receptores que são associados a canais iônicos. A atuação dos receptores nos canais iônicos pode ser direta ou indireta. O receptor pode ser parte do canal (canais ligantes dependentes ionotrópicos) ou desencadear uma série de reações celulares via mensageiros que atuam nos receptores intracelularmente (canais ligantes dependentes Neurociência Fisiologia e Anatomia Funcional 18 Volte ao Sumário Navegue entre os capítulos metabotrópicos). Nas sinapses excitatórias, a conexão do neurotransmissor com seu respectivo receptor acaba por desencadear a abertura de canais permeáveis ao Na+ e ao K+. Como as forças que atuam sobre esses íons são diferentes, observamos que há uma entrada de sódio ligeiramente maior do que saída de K+, de forma que a célula tem seu potencial de membrana aumentado (de 0,2 a 1mV). Na sinapses inibitórias, o neurotransmissor abre canais permeáveis ao íon cloreto, que entra no neurônio e desloca o potencial de membrana para mais negativo (até -70mV) (KANDEL, 2014). Essas pequenas interferências no potencial de membrana de um neurônio seriam desprezíveis se um único neurônio não recebesse contato sináptico de centenas e até milhares de outros neurônios. A somação das alterações promovidas pelas várias sinapses excitatórias e inibitórias que um neurônio recebe acontece de duas formas: espacial e temporal. Na somação espacial, várias sinapses vizinhas são ativadas simultaneamente, de forma que o resultado dos vários potenciais pós-sinápticos são somados. Na somação temporal, uma mesma sinapse é ativada várias vezes dentro de um curto intervalo de tempo, de forma que, antes que o potencial de repouso seja restabelecido, outra variação é induzida, permitindo que potenciais pós-sinápticos subsequentes sejam somados. A integração neural nada mais é, portanto, do que a variação no potencial de membrana resultante dos diversos potenciais pós-sinápticos de um neurônio em um intervalo de tempo (KANDEL, 2014). Figura 7. Somação temporal e espacial. Fonte: Kandel (2014) Agora chegamos ao potencial de ação. A variação do potencial de membrana, a partir de um limiar (em torno de -55mV), altera a conformação de canais iônicos dependentes de voltagem, permitindo a sua abertura e desencadeando o potencial de ação. Esse limiar é chamado de valor crítico ou limiar de corrente Neurociência Fisiologia e Anatomia Funcional 19 Volte ao Sumário Navegue entre os capítulos despolarizante, onde ocorre uma grande e súbita variação na voltagem, levando o potencial de membrana a tornar-se positivo (algumas dezenas de milivolts acima do zero) por mais ou menos meio milissegundo, voltando a cair para valores negativos, próximos do potencial de repouso, em seguida. Este enorme e repentino aumento no potencial de membrana é denominado potencial de ação, também chamado impulso nervoso. A existência de um limiar para a geração de um potencial de ação tem o papel de impedir que flutuações aleatórias do potencial de membrana de baixa amplitude (i.e., estimulações elétricas) produzam potenciais de ação. Esta propriedade de um potencial de ação é conhecida como lei do tudo ou nada: se um estímulo não for forte o suficiente para atingir o limiar, ele não produzirá nada; se ele for forte apenas para atingir o limiar, ou muito mais forte para superá-lo por qualquer quantidade, não importa, sempre será gerado um potencial de ação com a mesma forma e amplitude. Então, o que acontece quando um estímulo atinge esse limiar? Quando o limiar de disparo é atingido, ocorre o que chamamos de despolarização, isto é, alteração da voltagem transmembrana para valores menos negativos, o que irá aumentar a permeabilidade da membrana a um determinado íon (aumentar a probabilidade de ativar/abrir canais iônicos: condutância). Quais são os canais ativados? A despolarização da membrana ativa em canais de Na+ dependentes de voltagem permitindo o rápido influxo de Na+. Esse influxo despolariza ainda mais a membrana, levando a uma reação em cadeia na qual muitos canais de Na+ são abertos em um intervalo de tempo muito curto (em torno de 1ms), caracterizando a curva ascendente do potencial de ação. A despolarização desencadeia (de forma mais lenta) a inativação desses canais, de forma que há o seu fechamento automático após a sua abertura, e o canal só pode ser ativado novamente após um período fixo. A despolarização da membrana também ativa canais de K+ dependentes de voltagem. A cinética desses canais é mais lenta do que a dos canais de Na+, de forma que a crescente despolarização decorrente do influxo de sódio aumenta o número de canais de K+ que são abertos. Como os canais de K+ permanecem abertos enquanto a célula estiver despolarizada, o efluxo deste íon fazcom que o potencial de membrana seja progressivamente restabelecido. A cinética de fechamento dos canais de potássio é relativamente lenta (quando comparada aos canais de Na+), de forma que, mesmo após atingir o potencial de repouso, ainda há saída de potássio e a célula passa por um período de hiperpolarização (Figura 8). A movimentação dos íons através da membrana afeta a distribuição dos íons nas regiões adjacentes da membrana, de forma que há um espalhamento do potencial de ação devido à condução eletrotônica de íons no citoplasma. Nos axônios, com sua estrutura tubular, mesmo que a condução eletrotônica Neurociência Fisiologia e Anatomia Funcional 20 Volte ao Sumário Navegue entre os capítulos se propague em direção ao corpo celular, o efluxo de potássio é maior do que a corrente despolarizante, e a membrana continua o curso de repolarização pós- potencial de ação. O potencial de ação se propaga pelo axônio com velocidades variáveis dependendo do calibre do axônio e de seu isolamento elétrico. O calibre do axônio interfere na velocidade de condução da corrente no meio intracelular (eletrônica), que é diretamente proporcional ao diâmetro axonal. O isolamento elétrico depende da existência (ou não) de uma bainha de mielina e de sua espessura. Quanto maior o isolamento, mais rapidamente o sinal é conduzido (KANDEL, 2014). O sinal é conduzido, então, até a terminação axonal, que pode exibir várias ramificações. A membrana celular do botão axonal exibe especializações na região pré-sináptica, entre elas, canais de Ca++ dependentes de voltagem. A abertura desses canais é transiente (abertura seguida rapidamente do fechamento), permitindo o influxo de pequenas quantidades de Ca++. O Ca++ se liga a proteínas do citoesqueleto que movem vesículas contendo transmissores sinápticos em direção à membrana celular, onde elas se fundem liberando seu conteúdo na fenda sináptica. A cada potencial de ação, há nova liberação de neurotransmissores, permitindo um aumento na intensidade do sinal transmitido pela somação temporal (KANDEL, 2014). Figura 8. Potencial de Repouso e Ação (A) e (B) Estrutura de propagação de um potencial de ação em um axônio, da esquerda para a direita. F onte: A. Medical gallery of Blausen Medical 2014 ". WikiJournal of Medicine 1 (2). DOI:10.15347/wjm/2014.010. ISSN 2002-4436. - Own work, CC BY 3.0, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=29452220 B. (B) Adaptado de Kandel, 2014 e Tortora, 2010) Neurociência Fisiologia e Anatomia Funcional 21 Volte ao Sumário Navegue entre os capítulos Os neurotransmissores constituem um grupo variado de compostos químicos que variam de simples aminas, como a dopamina, e aminoácidos, como o g-aminobutirato (GABA), a polipeptídeos, tais como as encefalinas. Os mecanismos pelos quais eles provocam respostas nos neurônios pré-sinápticos e pós-sinápticos são tão diversos. Na tabela 1 é possível observar a origem e local de síntese de alguns neurotransmissores clássicos. Molécula transmissora Derivada de Local de síntese Acetilcolina Colina SNC, nervos parassimpáticos Serotonina 5-Hidroxitriptamina (5- HT) Triptofano SNC, células cromafins do trato digestivo, células entéricas GABA Glutamato SNC Glutamato SNC Aspartato SNC Glicina Espinha dorsal Histamina Histidina Hipotálamo Epinefrina Tirosine Medula adrenal, algumas células do SNC Norepinefrina Tirosina SNC, nervos simpáticos Dopamina Tirosina SNC Adenosina ATP SNC, nervos periféricos ATP nervos simpáticos, sensoriais e entéricos Óxido nítrico, NO Arginina SNC, trato gastrointestinal Tabela 1 Neurotransmissores. Fonte: Autoral Uma sinapse só pode funcionar efetivamente se houver alguma maneira de “desligar” o sinal depois de enviado. O término do sinal permite que a célula pós-sináptica retorne ao seu potencial normal de repouso, pronta para a chegada de novos sinais. Para o sinal terminar, a fenda sináptica deve ser “limpa de neurotransmissor”. Existem algumas maneiras diferentes de fazer isso. O neurotransmissor pode ser quebrado por uma enzima (como exemplo,a monoaminoxidase: serotonina, noradrenalina) e pode ser transportado de volta para o neurônio pré-sináptico (são os chamados transportadores de recaptação) ou pode, simplesmente, difundir-se. Em alguns casos, o neurotransmissor também pode ser “limpo” pelas células gliais próximas. Qualquer coisa que interfira nos processos que encerram o sinal sináptico pode ter efeitos fisiológicos significativos. Por exemplo, os medicamentos que interferem na recaptação do neurotransmissor serotonina no cérebro humano são usados como antidepressivos. Agora que já compreendemos o potencial de ação, podemos discutir sobre os diferentes tipos de sinapse. Sinapse química: querido leitor, até esse momento falamos das sinapses químicas, que são aquelas em que a transmissão de informação se dá através https://cerebromente.org.br/n12/fundamentos/neurotransmissores/nerves_p.html#ach https://cerebromente.org.br/n12/fundamentos/neurotransmissores/nerves_p.html#gaba https://cerebromente.org.br/n12/fundamentos/neurotransmissores/aminoacidderivatives.html#no Neurociência Fisiologia e Anatomia Funcional 22 Volte ao Sumário Navegue entre os capítulos da liberação de neurotransmissores de um neurônio e sua ligação a receptores presentes em uma célula adjacente. Um axônio pode fazer contato em qualquer lugar do segundo neurônio: nos dendritos (uma sinapse axo-dendrítica), no corpo celular (uma sinapse axo-somática) ou nos axônios (uma sinapse axo-axônica). Como vimos, os potenciais de ação são uma resposta do tipo tudo ou nada. Ou seja, ou acontece com força total ou não acontece de jeito nenhum. A sinalização sináptica, por outro lado, é muito mais flexível. Por exemplo, um neurônio emissor pode “aumentar” ou “diminuir” a quantidade de neurotransmissor que ele libera em resposta à chegada de um potencial de ação. Da mesma forma, uma célula receptora pode alterar o número de receptores que coloca em sua membrana e a rapidez com que responde à ativação desses receptores. Essas mudanças podem fortalecer ou enfraquecer a comunicação em uma sinapse particular. As células pré e pós-sinápticas podem alterar dinamicamente seu comportamento de sinalização com base em seu estado interno ou nas sugestões que recebem de outras células. Esse tipo de plasticidade, ou capacidade de mudança, torna a sinapse um local-chave para alterar a força do circuito neural e desempenha um papel no aprendizado e na memória. Além disso, diferentes células pré e pós-sinápticas produzem diferentes neurotransmissores e receptores de neurotransmissores, com diferentes interações e diferentes efeitos sobre a célula pós-sináptica. Esse tipo de modulação ocorre apenas nas sinapses químicas. Sinapses elétricas: embora as sinapses elétricas sejam menos numerosas do que as sinapses químicas, elas são encontradas em todos os sistemas nervosos e desempenham papéis importantes e únicos. O modo de neurotransmissão nas sinapses elétricas é bastante diferente daquele nas sinapses químicas. Em uma sinapse elétrica, as membranas pré-sináptica e pós-sináptica estão muito próximas e, na verdade, estão fisicamente conectadas por proteínas de canal formando junções comunicantes (gap junctions). As junções comunicantes permitem que a corrente passe diretamente de uma célula para a próxima. Além dos íons que carregam essa corrente, outras moléculas, como o ATP, podem se difundir através dos grandes poros junções comunicantes. Existem diferenças importantes entre sinapses químicas e elétricas. Como as sinapses químicas dependem da liberação de moléculas de neurotransmisores das vesículas sinápticas para transmitir seu sinal, há um atraso de, aproximadamente, um milissegundo entre o momento em que o potencial do axônio atinge o terminal pré-sináptico e quando o neurotransmissor leva à abertura dos canais de íons pós- sinápticos. Além disso, essa sinalização é unidirecional. A sinalizaçãoem sinapses elétricas, em contraste, é virtualmente instantânea (o que é importante para sinapses envolvidas em reflexos), e algumas sinapses elétricas são bidirecionais. As sinapses elétricas também são mais confiáveis, pois têm menos probabilidade de serem bloqueadas e são importantes para sincronizar a atividade elétrica de um grupo de neurônios. Por exemplo, acredita-se que as sinapses elétricas no Neurociência Fisiologia e Anatomia Funcional 23 Volte ao Sumário Navegue entre os capítulos tálamo regulem o sono de ondas lentas, e a interrupção dessas sinapses pode causar convulsões. Figura 9: As duas modalidades de transmissão sináptica. Fonte: PEREDA, Alberto E. Electrical synapses and their functional interactions with chem ical synapses. Nature Reviews Neuros- cience, v. 15, n. 4, p. 250-263, 2014. A comunicação celular no sistema nervoso está intrinsecamente associada a variações no potencial de membrana. O neurônio apresenta diversas especializações citológicas relacionadas à manutenção e variação do potencial de membrana, como receptores, canais iônicos, vesículas sinápticas (em sinapses químicas) ou junções comunicantes (nas elétricas), além da distribuição desigual de organelas na célula. As características intrínsecas morfofuncionais do neurônio por si só já permitem a integração de informação, como vimos na somação espacial e temporal de potenciais pós-sinápticos. Quando acrescentamos a esses aspectos as múltiplas variações no padrão de conexão entre os neurônios, podemos entender os princípios de organização e integração neural que são subjacentes a todos os comportamentos animais (KANDEL, 2014). Para facilitar a compreensão de como funciona o sistema nervoso, iremos abordar, no próximo capítulo, qual a sua origem e como se desenvolve. Neurociência Fisiologia e Anatomia Funcional 24 Volte ao Sumário Navegue entre os capítulos 4. - DESENVOLVIMENTO DO SISTEMA NERVOSO: NEUROEMBRIOLOGIA E NEUROANATOMIA A formação do cérebro humano, a partir de um pequeno grupo de células, é um processo extraordinário que leva muitos anos para atingir o potencial pleno em termos de habilidades sensoriais, motoras e intelectuais. Embora seu decurso não seja regular, segue uma sequência bastante previsível. As primeiras células que irão se diferenciar em células do sistema nervoso surgem no ser humano após cerca de 20 dias da origem do embrião, em um processo chamado de neurulação, evento-chave no desenvolvimento do sistema nervoso. Nesta fase, o embrião possui apenas três tipos de tecidos: ectoderme, endoderme e mesoderma. Parte da mesoderma forma um tubo localizado próximo da superfície ventral do organismo. Este tubo, chamado de notocorda, induz a ectoderma imediatamente acima a se invaginar e formar um tubo, separado do resto da ectoderma (Figura 10A). Este tubo formado de tecido ectodermal se tornará o tubo neural. Algumas células se desprendem durante a formação do tubo neural e são denominadas de cristas neurais. O sistema nervoso central (encéfalo e medula espinal) será originado do tubo neural, enquanto que o sistema nervoso periférico será formado pelas cristas neurais (Figura 10B). Figura 10: SEQ Figura\*ARABIC 10. Formação do tubo neural Fonte: (Modificado de Moraes, 2009). Logo após o tubo neural ser formado, a sua região rostral se diferencia, tornando-se maior e mais pronunciada. Essa região virá a se tornar o encéfalo, enquanto o restante será a medula espinal. O crescimento do encéfalo ocorre devido à migração e proliferação de células para esta região. As primeiras diferenciações do encéfalo, já visíveis após 25 dias no ser humano, são chamadas: as vesículas primitivas denominadas de prosencéfalo; a região mais rostral, mesencéfalo; e o romboencéfalo, contínuo à medula espinhal. O canal central do tubo neural irá se diferenciar na região encefálica, formando ventrículos e canais de comunicação dentro do encéfalo, enquanto na região da medula este não passa por grandes alterações. Neurociência Fisiologia e Anatomia Funcional 25 Volte ao Sumário Navegue entre os capítulos Com sete semanas de gestação, o prosencéfalo se diferencia em telencéfalo e diencéfalo. O telencéfalo corresponde à região do cérebro, enquanto o diencéfalo corresponde à região do tálamo e do hipotálamo. O mesencéfalo, por não passar por grandes mudanças, continua com a mesma denominação. Já o romboencéfalo se diferencia no metencéfalo e no mielencéfalo (Figura 11B,C). O metencéfalo corresponde à região da ponte e, em contato com a região dorsal desta, o cerebelo. O mielencéfalo corresponde à região do bulbo, região mais caudal do encéfalo, contínuo com a ponte e a medula espinal. O mesencéfalo, a ponte e o bulbo juntos são considerados o tronco encefálico. Este nome vem do fato destes juntos estarem no centro do encéfalo e interligarem todas as estruturas encefálicas (Figura 11C). Para relembrar: • O telencéfalo forma o cérebro e os ventrículos laterais; • O diencéfalo dá origem ao tálamo, ao hipotálamo, ao epitálamo e ao terceiro ventrículo; • O mesencéfalo forma estrutura de mesmo nome e o aqueduto do mesencéfalo; • O metencéfalo dá origem à ponte, ao cerebelo e à parte superior do quarto ventrículo; • O mielencéfalo forma o bulbo e a parte inferior do quarto ventrículo. As paredes destas regiões encefálicas dão origem ao tecido nervoso, enquanto o interior oco do tubo se transforma em ventrículos (espaços preenchidos por líquido). O tecido expandido da crista neural é importante no desenvolvimento da cabeça. A maioria das estruturas protetoras do encéfalo – isto é, a maior parte dos ossos cranianos, tecidos conjuntivos associados e meninges – é derivada deste tecido (TORTORA, 2010). A partir da 11a semana de vida, já é possível identificar no embrião as suas principais estruturas anatômicas e, com cinco meses, estas já estão com aspecto do sistema nervoso desenvolvido. O cérebro do bebê continua a se desenvolver e as fissuras (sulcos) e saliências (giros) aumentam em complexidade no nascimento. O bebê tem tantos neurônios quanto um adulto (100 bilhões). A maioria tendo sido formada até o sexto mês gestacional, embora eles ainda não estejam amadurecidos (Figura 11D). O hipocampo, por exemplo, estrutura do cérebro relacionada com a formação de memória, apenas se tornará funcional após três anos do nascimento do organismo. É por isso que possuímos memórias apenas a partir dos três anos de vida, em média. Estruturas relacionadas com a manutenção do organismo, encontrados principalmente no tronco encefálico, já são funcionais e estão com as células diferenciadas logo após o nascimento. Neurociência Fisiologia e Anatomia Funcional 26 Volte ao Sumário Navegue entre os capítulos Figura 11: Desenvolvimento das principais estruturas do encéfalo humano até o nascimento. A) feto com 3 semanas; B) com 7 semanas; C) com 11 semanas; D) no nascimento. Fonte: (Modificado de Moraes, 2009). Simultaneamente ao desenvolvimento do sistema nervoso central, ocorre o desenvolvimento do sistema nervoso periférico. Este se dá pela proliferação e migração das células das cristas neurais para diferentes regiões do organismo, formando aglomerados de neurônios e células gliais chamados de gânglios. Os neurônios destes gânglios entram em contato com neurônios medulares e inervam diferentes órgãos e tecidos do organismo. Todas as regiões descritas acima, exceto a medula espinal, encontram-se na cabeça do organismo, dentro da caixa craniana e protegidas por três envoltórios formados de tecido conjuntivo, denominados meninges, chamadas de dura- máter, aracnóide e pia-máter. Pia-Máter: localizada mais intimamente ao sistema nervoso, é impossível de ser totalmente removida sem remover consigo o próprio tecido nervoso. Essa camada é altamente vascularizada. Aracnóide: situada entre a Pia-máter e Dura-máter, é provida de trabéculas que permitem a circulação do líquido cerebrospinal. Dura-máter: trata-se do envoltório mais externo emais forte, constituída de tecido conjuntivo denso, contínuo com o periósteo dos ossos da caixa craniana. A dura-máter, que envolve a medula espinhal, é separada do periósteo das vértebras, formando-se entre os dois, o espaço perbarreinidural. Aqui é relevante destacar que o líquido cerebrospinal (LCS) é um líquido claro e incolor, formado principalmente por água, que protege o encéfalo e a medula espinal de lesões químicas e físicas. Ele também é responsável pelo transporte de pequenas quantidades de oxigênio, glicose, neuropeptídeos e outras substâncias importantes do encéfalo para os neurônios e a neuróglia. Em resumo, o LCS tem função de proteção mecânica, função homeostática (seu pH influencia a ventilação pulmonar e fluxo de sangue no encéfalo) e circulação. A região do crânio é uma das mais protegidas de todo o organismo, não possuindo articulações e possuindo pequenas fenestras apenas para a comunicação entre o encéfalo e a medula espinal, para o nervo ótico, para o bulbo olfatório, para o nervo auditório e para os nervos cranianos. A barreira hematoencefálica (BHE) é uma estrutura que impede e/ou dificulta a passagem de substâncias do sangue para o sistema nervoso central, tais como anticorpos, Neurociência Fisiologia e Anatomia Funcional 27 Volte ao Sumário Navegue entre os capítulos complemento e fatores de coagulação. A BHE é formada por células endoteliais que ficam alinhadas com os capilares, impedindo ou dificultando a passagem de substâncias do sangue para o tecido nervoso. Para contornar esta situação, as células do sistema nervoso obtêm os nutrientes da circulação através do contato dos astrócitos com os vasos sanguíneos próximos (MORAES, 2009). No que diz respeito à evolução do sistema nervoso dentre os vertebrados, ao longo da evolução, o encéfalo sofreu mudanças consideráveis. Em comparação com os sistemas nervosos primitivos de invertebrados, o encéfalo dos vertebrados é um órgão bem desenvolvido e altamente interconectado. Dentre os vertebrados, as estruturas que menos se modificaram são as encontradas no tronco encefálico, justamente devido à importância dessas para a sobrevivência do organismo. Outras estruturas já variam bastante de acordo com o estilo de vida dos animais. O cerebelo, por exemplo, é mais desenvolvido em animais que dependem de grande coordenação motora, como é o caso da maioria dos peixes, das aves e dos mamíferos. O encéfalo dos peixes varia muito devido ao grande número de gêneros de peixes existentes. De modo geral, o telencéfalo não é dividido, havendo apenas um canal, ao invés de canais laterais como a dos mamíferos. O encéfalo dos anfíbios é notavelmente não especializado. Os hemisférios cerebrais são mais separados entre si que nos peixes, de modo que quase não possuem um ventrículo comum. O corpo estriado é pequeno. Os lobos ópticos apresentam dimensões pequenas a moderadas. O cerebelo ainda é rudimentar. O encéfalo dos répteis é estreito, alongado e quase reto. Os bulbos olfativos tendem a ser menores que os dos peixes. Os tratos olfativos são longos. Os encéfalos das aves são relativamente grandes, uniformes e peculiares. Os bulbos e tratos olfativos são, de modo geral, menores do que nos outros vertebrados. O hemisfério cerebral das aves é superado em tamanho apenas pelo de alguns mamíferos, isso devido ao enorme desenvolvimento do corpo estriado com seu neocórtex. Os nervos, tratos e quiasma ópticos são grandes. Nas aves e mamíferos, o cerebelo é muito volumoso, lobulado e convoluto, formando giros e sulcos. As porções superficiais do córtex são delgadas e a substância cinzenta tornou-se externa. Nas aves, o cerebelo é maior do que nos outros vertebrados, salvo alguns mamíferos. Nos mamíferos, os bulbos e tratos olfativos variam de imensos a muito pequenos. Embora menor que nos répteis e aves, o corpo estriado é bem desenvolvido. O amplo neocórtex representa a característica dos mamíferos, dominando o encéfalo estruturalmente e funcionalmente. Estes são lisos em mamíferos pequenos e convolutos na maioria dos de grande porte. Uma nova comissura, o corpo caloso, liga os hemisférios. A cobertura dorsal do mesencéfalo, denominada teto, é o local onde encontramos em todos os vertebrados, salvo os mamíferos, o centro primário de percepção da visão. Nos mamíferos, a percepção visual é migrada, em grande Neurociência Fisiologia e Anatomia Funcional 28 Volte ao Sumário Navegue entre os capítulos parte, para o cérebro, apesar do teto do mesencéfalo ainda ser funcional na visão. Diagrama 1: Formato geral do encéfalo. Vermelho (Cerebelo). Amarelo (Lobo óptico). Laranja (Cérebro). Verde (Hipófise). Rosa (Bulbo). Cinza (Bulbo olfatório). Fonte: Modificado de Moraes (2009) Depois de compreendermos o desenvolvimento embriológico do sistema nervoso, torna-se mais fácil entender a origem das suas principais estruturas e organização. Organização funcional do sistema nervoso Como vimos anteriormente, anatomicamente, o sistema nervoso é dividido em duas partes: Sistema Nervoso Central: encéfalo (i.e., cérebro, cerebelo e o tronco encefálico) e medula espinal alojados em um estojo ósseo (crânio e coluna vertebral), que lhe oferece proteção adequada; Sistema Nervoso Periférico: gânglios e terminações nervosas. Lembrando que os nervos podem ser cranianos (ligados ao encéfalo) ou espinais (ligados à medula espinal). Os gânglios podem ser motores (autônomos) ou sensitivos (nervo espinal). As terminações nervosas podem ser motoras (placa motora) ou sensitivas (exteroceptivas, visceroceptores e proprioceptivas). Abaixo, o esquema que ilustra o SNC e o SNP sucessivamente: Neurociência Fisiologia e Anatomia Funcional 29 Volte ao Sumário Navegue entre os capítulos Esquema 1: Divisão anatômica do Sistema Nervoso Fonte: MOTTA-TEIXEIRA,2020 Do ponto de vista funcional, podemos dividir o sistema nervoso em duas partes: Parte somática: seria a parte do sistema nervoso que interage com o meio externo, ou seja, as alterações no ambiente (temperatura, intensidade de luz, som, etc.) estimulam a parte somática do SN (os sentidos somáticos, que são as sensibilidades táteis, térmicas, dolorosas e proprioceptivas; os sentidos especiais, que são a visão, audição, gustação, olfato e equilíbrio) que traduz e codifica esses sinais em potenciais de ação que são levados para os centros superiores de seu processamento (Vias aferentes). Todos esses sentidos são, de modo geral, percebidos conscientemente. Após esse processamento, essa informação é retransmitida para a periferia, influenciando órgãos-alvo e gerando ação (vias eferentes, músculos esqueléticos). Parte visceral: como o nome indica, integra as funções das diversas vísceras do corpo, ou seja, controla a homeostase do organismo. As informações que são geradas pelas vísceras são transmitidas para os centros superiores (via aferente) e, após o seu processamento, são levadas para músculos lisos, músculos estriados cardíacos ou glândulas (via eferente). Esses estímulos eferentes podem ser estimulatórios ou inibitórios e são gerados pela divisão autônoma do sistema nervoso. Neurociência Fisiologia e Anatomia Funcional 30 Volte ao Sumário Navegue entre os capítulos Esquema 2. Divisão funcional do sistema nervoso Fonte: Autoral Agora vamos explorar algumas das principais estruturas do sistema nervoso e, depois, abordaremos em detalhe o sistema nervoso autônomo. Vamos começar falando sobre o encéfalo: O telencéfalo (cérebro) é a “sede da inteligência”. Os processos biológicos pelos quais nos movemos, pensamos, percebemos, aprendemos, planejamos, lembramos, etc., são reflexões das funções cerebrais. O telencéfalo é composto por um córtex cerebral externo, uma região interna de substância branca e núcleos de substância cinzenta localizados profundamente na substância branca. Durante o desenvolvimento embrionário, quando o encéfalo cresce rapidamente, a substância cinzenta do córtex se desenvolve muito mais rápidoque a substância branca. Como consequência, o córtex se dobra sobre si mesmo, formando pregas conhecidas como giros ou circunvoluções. As fendas mais profundas entre os giros são chamadas de fissuras; as mais superficiais, de sulcos. Através de uma proeminente fenda chamada fissura longitudinal, o cérebro é dividido em duas metades chamadas hemisférios. Na base desta fissura, encontra- se um espesso feixe de axônios mielinizados, chamado corpo caloso, o qual fornece um elo de comunicação entre os hemisférios. O hemisfério esquerdo controla a metade direita do corpo e vice-versa, em razão de um cruzamento de fibras nervosas no bulbo. A camada externa do cérebro, chamada de córtex cerebral, é responsável pelo controle de diversas atividades, como o controle da movimentação do organismo, recebimento e processamento de diversos estímulos sensoriais, aprendizado e memória, entre outros. Abaixo do córtex e separado deste por uma região de matéria branca, encontramos os núcleos da base. O córtex de cada hemisfério é dividido em quatro lobos, que recebem seus nomes de acordo com os ossos que os recobrem: lobos frontal, parietal, temporal e occipital (Figura 12). Anatomicamente, o sulco central separa o lobo frontal do lobo parietal. Um giro importante, o giro pré-central – localizado imediatamente anterior ao sulco central – contém a área motora primária do córtex cerebral. Outro giro importante, o giro pós-central, o qual se situa imediatamente posterior ao Neurociência Fisiologia e Anatomia Funcional 31 Volte ao Sumário Navegue entre os capítulos sulco central, contém a área somatossensitiva primária. O sulco (fissura) cerebral lateral separa o lobo frontal do lobo temporal. O sulco parietoccipital separa o lobo parietal do lobo occipital. Uma quinta porção do telencéfalo (cérebro), a ínsula, não pode ser vista superficialmente porque se encontra dentro do sulco cerebral lateral, profundamente aos lobos parietal, frontal e temporal. É possível delimitar diversas funções corticais a lobos específicos, sendo que ambos possuem funções similares. A diferença entre os hemisférios corticais é que cada hemisfério é responsável pelo controle do lado oposto do indivíduo. Ou seja, o lado esquerdo do corpo é controlado pelo hemisfério direito. Além disso, acredita-se que possuímos um hemisfério dominante. Os hemisférios se comunicam através do corpo caloso. O lobo temporal, localizado nas partes laterais do crânio, é relacionado primariamente com o sentido de audição, possibilitando o reconhecimento de tons específicos e intensidade do som. O lobo frontal, que se localiza na frente do encéfalo, abaixo do osso frontal do crânio, é responsável pela elaboração do pensamento, planejamento, programação de necessidades individuais e emoção. O lobo parietal, localizado dorsalmente, atrás do lobo frontal, é responsável pela sensação de dor, tato, gustação, temperatura, pressão. Também está relacionado com a lógica matemática. O lobo occipital, localizado na região da nuca, é responsável pelo processamento da informação visual. Entre os hemisférios estão os ventrículos cerebrais (ventrículos laterais e terceiro ventrículo). Contamos ainda com um quarto ventrículo, localizado mais abaixo, ao nível do tronco encefálico. São reservatórios do líquido cefalorraquidiano. Estes ventrículos são contínuos e unidos com o canal central da medula espinal. Abaixo do córtex cerebral, logo após a matéria branca, encontramos os núcleos da base. Este é formado por um aglomerado de gânglios que estão relacionados, de modo geral, com o controle da movimentação estereotipada, manutenção do tônus muscular e postura. Os principais aglomerados celulares dos núcleos da base são o corpo estriado (este subdividido em núcleo caudado, putamen e globo pálido) e o núcleo subtalâmico. A degeneração dos núcleos da base pode desencadear distúrbios motores, como a doença de Huntington e o mal de Parkinson. Neurociência Fisiologia e Anatomia Funcional 32 Volte ao Sumário Navegue entre os capítulos Figura 12. Telencéfalo. Vista lateral e corte sagital do cérebro. Fonte: Freepik.com (adaptação Motta-Teixeira,2020) O diencéfalo forma o núcleo central de tecido encefálico logo acima do cerebelo (Figura 12). Ele é quase completamente circundado pelos hemisférios cerebrais e contém vários núcleos envolvidos com processamento sensitivo e motor entre os centros encefálicos superiores e inferiores. O diencéfalo se estende do tronco encefálico até o telencéfalo (cérebro) e circunda o terceiro ventrículo; ele inclui o tálamo, o hipotálamo e o epitálamo (TORTORA,2010). Logo abaixo do hipotálamo, encontramos a glândula pituitária (hipófise), importante glândula secretora de hormônios, produzidos tanto pelo hipotálamo quanto pela própria hipófise. O hipotálamo realiza diversas conexões com todo o organismo através de conexões com diversas estruturas encefálicas, a medula espinal e mesmo com órgãos periféricos através do sistema hipófise-hipotálamo, o que o torna envolvido no controle de diversas atividades. O hipotálamo controla muitas atividades corporais e é um dos principais reguladores da homeostase. Informações sensoriais, somáticas e viscerais chegam ao hipotálamo, bem como impulsos de receptores visuais, gustatórios e olfatórios. Outros receptores hipotalâmicos monitoram continuamente a pressão osmótica, a glicemia, certas concentrações hormonais e a temperatura sanguínea. Além disso, o hipotálamo faz parte da regulação dos padrões comportamentais e emocionais e também dos ritmos circadianos e níveis de consciência. O tálamo é um centro de pré-processamento e de transmissão de sinais, principalmente de informação sensorial proveniente de segmentos inferiores, da medula espinal e do bulbo, para centros superiores. Ele que mede cerca de 3 cm de comprimento e forma cerca de 80% do diencéfalo, é composto por duas massas ovais de substância cinzenta organizadas em núcleos com tratos de substância branca de permeio. O tálamo também está relacionado com outras atividades, como o controle do sono e da vigília, além de alterações no comportamento Neurociência Fisiologia e Anatomia Funcional 33 Volte ao Sumário Navegue entre os capítulos emocional que decorre, não só da própria atividade, mas também de conexões com outras estruturas neurais. O epitálamo, pequena região superior e posterior ao tálamo, é composto pela glândula pineal e pelos núcleos habenulares. A glândula pineal faz parte do sistema endócrino, pois secreta o hormônio melatonina. Como a melatonina é liberada em resposta à escuridão, ela é o sinal de noite para o organismo. Responsável pela sincronização do relógio biológico, participa do metabolismo energético, sistema imune, reprodutor, processos plásticos neurais, entre outros (Confira em Cipolla-Neto, 2018). Os núcleos habenulares estão relacionados com o olfato, especialmente com respostas emocionais a odores como o perfume da pessoa amada e os biscoitos de chocolate da mamãe assando no forno. Figura 13: Núcleos da base. Vista superior e corte coronal do cérebro. Fonte: Freepik.com (adaptação Motta-Teixeira,2020) O comportamento motivacional e o controle das emoções são realizados por diversas estruturas localizadas no telencéfalo e no diencéfalo. Essas regiões recebem o nome de sistema límbico. O sistema límbico é, por vezes, chamado de “cérebro emocional”, pois sua função primária está relacionada com uma série de emoções, tais como dor, prazer, afeto, medo e raiva. Ele também está envolvido com o olfato e com a memória. Os principais componentes do sistema límbico são: amígdala, tálamo, hipotálamo, hipocampos (embora existam outras: veja na imagem 14). Localizada no interior dos córtices temporais, a amígdala atua como, provavelmente, o principal desencadeador de toda experiência emocional, principalmente ao medo. As outras estruturas, apesar de fundamentais para o desencadeamento da resposta emocional, estariam relacionadascom a associação de memórias com emoções, como é o caso do hipocampo, ou, então, relacionadas com o desencadeamento de respostas fisiológicas, no caso do hipotálamo (Figura 14). Neurociência Fisiologia e Anatomia Funcional 34 Volte ao Sumário Navegue entre os capítulos Figura 14. Sistema límbico Fonte: Tortora (2010) Rostralmente ao diencéfalo, encontramos o tronco encefálico e, ligado a este, o cerebelo. O cerebelo está situado na fossa posterior do crânio, atrás da ponte (protuberância) cerebral e do bulbo, separado deles pelo quarto ventrículo. Apesar da única via de comunicação do cerebelo ser com a ponte, este apresenta mais semelhanças com o cérebro do que com os núcleos mais próximos deste. O cerebelo ocupa cerca de um quarto do volume craniano no homem, o que dá uma ideia de sua importância funcional. Ele consiste em uma estrutura globosa formada por uma camada externa de matéria cinzenta, chamada de córtex cerebelar. Como o cérebro, também está dividido em dois hemisférios. Porém, ao contrário dos hemisférios cerebrais, o lado esquerdo do cerebelo está relacionado com os movimentos do lado esquerdo do corpo, enquanto o lado direito, com os movimentos do lado direito do corpo. Este córtex, que também apresenta sulcos e giros, cobre um núcleo de matéria branca. Nesta matéria branca, encontram- se o núcleo fastigial, os interpostos e o núcleo denteado (Figura 15). Ele tem um importante papel na coordenação e precisão das funções motoras, bem como no aprendizado motor. Estas funções são integradas com as informações do córtex primário motor e com os núcleos da base, além de outras regiões encefálicas. Neurociência Fisiologia e Anatomia Funcional 35 Volte ao Sumário Navegue entre os capítulos Figura 15: Cerebelo e tronco encefálico Fonte:Tortora (2010) O tronco encefálico interpõe-se entre a medula espinal e o diencéfalo, situando-se ventralmente ao cerebelo. Ela é responsável por receber informações sensitivas de estruturas cranianas e controlar os músculos da cabeça, transmitir informações entre a medula espinal, o telencéfalo e o diencéfalo, e regular a atenção e vigília (função esta mediada pela formação reticular). Além destas funções, diversos núcleos localizados no mesencéfalo, ponte e bulbo são responsáveis pela manutenção da sobrevivência do organismo através da regulação e modulação de atividades fisiológicas, como exemplo, o controle da pressão arterial, o ciclo sono-vigília, consciência e controle respiratório e cardiovascular. O mesencéfalo situa-se rostralmente à ponte e controla muitas funções sensoriais e motoras, incluindo os movimentos oculares e a coordenação dos reflexos visuais e auditivos Um dos principais núcleos mesencefálicos é a substância negra. Este núcleo, assim chamado devido à sua cor, está intimamente relacionado com o controle da movimentação e a sua lesão está diretamente relacionada com o parkinsonismo. Esta relação se dá porque a substância negra é um dos grandes centros dopaminérgicos no sistema nervoso e, em pacientes com parkinsonismo, comumente se encontra baixos níveis de dopamina no sistema nervoso e com menor número de células neste núcleo. A ponte está localizado caudalmente ao mesencéfalo. Esta região é chave para a comunicação entre a medula espinal, o bulbo, o cerebelo e os centros superiores Encontramos nela o locus coeruleus, um denso aglomerado de Neurociência Fisiologia e Anatomia Funcional 36 Volte ao Sumário Navegue entre os capítulos neurônios produtores de noradrenalina. Este núcleo envia projeções para a todas as principais regiões encefálicas e da medula espinal, e está envolvido no controle de diversas atividades, dentre elas, o controle do sono e do estresse. O bulbo (ou medula oblongata) é anatomicamente e funcionalmente similar à medula espinal. Este possui diversos centros responsáveis por funções autonômicas vitais, como a digestão, a respiração e o controle da frequência cardíaca. Um núcleo bulbar que se destaca é o núcleo do trato solitário. Localizado na região dorsal, este é o primeiro centro no sistema nervoso a receber e processar informações sensoriais de diversos órgãos viscerais. Muitos dos núcleos do tronco encefálico emitem fibras nervosas que se comunicam com a periferia do organismo sem passar pela medula espinal. Esses nervos, chamados de nervos cranianos, entram em contato com o encéfalo através de uma fenestra no crânio. Em humanos, são encontrados 12 pares de nervos cranianos, numerados de I a XII, e podem ser classificados como sensoriais e motores. Fibras sensoriais trazem informações das vísceras para o encéfalo, enquanto fibras motoras transportam informação para a periferia. A medula espinal é a parte mais caudal do sistema nervoso central e, em muitos aspectos, a parte mais simples. Ela se estende da base do crânio até a primeira vértebra lombar. A medula espinal recebe informação sensorial da pele, dos músculos, do tronco, dos membros e contém neurônios motores responsáveis por ambos os movimentos voluntários e reflexos (Figura 16). Ao longo de seu comprimento, a medula espinal varia em tamanho e formato, dependendo se os nervos emergentes irão inervar os membros ou o tronco. A coluna é dividida em matéria cinzenta e matéria branca que a envolve. A matéria cinzenta, que contém diversos corpos celulares, é tipicamente dividida em cornos dorsais e ventrais (assim chamados porque a matéria cinzenta parece ter o formato da letra H em secções transversais). O corno dorsal contém uma disposição ordenada de neurônios sensoriais que recebem aferências - estímulos de outras células - da periferia, enquanto o corno ventral contém neurônios motores que inervam músculos específicos. A matéria branca é formada de tratos longitudinais de axônios mielinizados que formam vias ascendentes através da qual a informação sensória chega ao encéfalo e vias descendentes que carregam comandos motores e influências modulatórias do encéfalo. Neurociência Fisiologia e Anatomia Funcional 37 Volte ao Sumário Navegue entre os capítulos Figura 16: Medula espinal Fonte: Manual MSD Versão Saúde para a Família O sistema nervoso autônomo é a parte que está relacionada ao controle da vida vegetativa, ou seja, controla funções como a respiração, circulação do sangue, controle de temperatura e digestão. Por definição, denomina-se sistema nervoso autônomo apenas o componente eferente do sistema nervoso visceral. Ele é o principal responsável pelo controle automático do corpo frente às diversidades do ambiente, ou seja, homeostase. Apesar do nome autônomo, ele não é independente do restante do sistema nervoso. Ele é interligado com diversas partes do sistema nervoso central, principalmente com o hipotálamo. Além disso, o SNA também proporciona os ajustes neurovegetativos que dão suporte aos comportamentos motivados (comportamento defensivo, alimentar, sexual). O sistema nervoso autônomo é constituído por um conjunto de neurônios que se encontram na medula espinal e no tronco encefálico. Estes, através de gânglios periféricos, coordenam a atividade da musculatura lisa, da musculatura cardíaca e de inúmeras glândulas. O sistema nervoso autônomo inclui duas divisões clássicas: sistema nervoso simpático e sistema nervoso parassimpático. É preciso destacar que os neurônios do sistema autonômico são motores, mas, ao contrário das vias motoras que possuem apenas um neurônio entre SNC/medula ao órgão- alvo (ex.: músculo esquelético), no sistema autônomo, temos dois neurônios: neurônios pré-ganglionares, em que o corpo celular do neurônio está localizado no encéfalo ou na medula espinal, seus axônios (fibras pré-ganglionares) deixam o SNC e fazem sinapses em um ou mais neurônios em que os corpos celulares estão localizados em gânglios do SNP. A projeção desse segundo neurônio que se estende até o órgão visceral efetor, é chamado fibra pós-ganglionar. Isto é, unindo os neurônios estão as fibras: pré-ganglionares (conecta
Compartilhar