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DESENHO URBANO CONTEMPORÂNEO NO BRASIL / VICENTE DEL RIO · WILLIAM SIEMBIEDA organizadores Capítulo 3 IA Paisagem Verticalizada de São Paulo: A Influência do Modernismo no Desenho Urbano Contemporâneo 73 ruas sombreadas e minguadas áreas particulares de ventilação, insolação e recreação. O bairro de Copacabana é um dos melhores exemplos da consolidaçllo da figura quadra-bloco no país, em que é reduzido o número de espaços livres privados frontais e a orla da praia é tratada como o grande espaço livre público. O caso de Copacabana é emblemático como modelo, mas ao mesmo tempo uma exceção, na medida em que, por lei gerada na primeira década de século XX, foram criados generosos recuos de fundo. possibilitando a existência de quintais e pátios de iluminação generosos. bem diferentes daqueles encon- trados nas demais quadras-blocos existentes no Brasil. A partir dos anos 1960 e 1970, com o aumento do controle do Estado sobre a cidade, são adotadas medidas de controle estrito de gabarito. como em Florianópolis. Santa Catarina. onde a altura foi limitada a 12 andares no centro e a quatro andares nos subúrbios; na cidade de Salvador (Bahia). em cuja orla foi adotado um gabarito escalonado. baixo, junto ao mar e ascendente para o interior. A legisla- ção urbanística de 1971 de São Paulo restringiu o coeficiente de aproveitamento na área central de 16 para quatro, igualando-o ao padrão adotado para o resto da cidade. Na Avenida Paulista, sua principal artéria de negócios, uma rigorosa legis- laçllo limitou o gabarito a 24 andares e impôs índices muito restritivos - como coeficiente de aproveitamento e taxa de ocupação -. gerando uma paisagem urbana de gabaritos modestos, bem diferente do que aconteceu na Michigan Avenue (conhecida como Magnificent Mile) em Chicago ou na Fifth Avenue em Nova York, vias que abrigam funções e simbolismo similares (Figura 3.2). Essa legislação urbanística permitiu no longo prazo, entre as décadas de 1960 e 1990, a defi- nição de um padrão nacional de verticalização que limitou, de fato, a altura da torre na cidade brasileira. Difici lmente encontram-se condições legais e econômicas para a construção de edifí- cios de mais de 30 ou 40 andares ou de prédios altos geminados, como foi comum nas cidades do Rio de Janeiro e São Paulo na primeira metade do século XX. Essa limitação é decorrente do alto custo do solo urbano das áreas potencial- mente verticalizáveis, já que o mercado imobiliá- rio tende a desenvolver tal processo em áreas já consolidadas e dotadas de infraestrutura urb_?na, substituindo o antig.~· casario por novas cons- truções, fato totalmente associado a legislações restritivas com coeficiéntes de aproveitamento·. de não mais de quatro, sendo raras as exceções . que chegam a seis e taxa-s de ocupação qüe não ultrapassam 50%. Figura 3.2 A Avenida Paulista, a via comercial mais importante de São Paulo. na qual as edificações são relativamente baixas em função das restrições de uso do solo. (Foto do autor; Projeto Quapá.) Desenho discute o do paradi política, d urbanism e cidades de vida p; Após si social e p contempc estudos e pesquisa• experiênc agrupada principa i~ Revitaliza As expE demonstr ainda cor nossas ci na maiori jamais se Osegu1 coincide< do país e econômic possíveis patrimõni No terc processo desenho lógicas te pública d; brinda co as lições futuro oti1 w 74 Desenho Urbano Contemporâneo no Brasil Apesar de ter sua implementação regulada pelo Estado, o processo de verticalização no país é controlado pela ação de agentes privados, na figura das companhias incorporadoras. Eventualmente, esse processo é gerado por ações do Estado por intermédio de organizações públicas e empresas de habitação popular, que, por sua vez, se apoiam nos serviços de companhias empreiteiras particulares para seus empreendi- mentos. O processo nacional de verticalização das cidades está condicionado, em seu desenvolvimento e localização, ao jogo dos agentes do mercado imobiliário em função das contingências do desempenho da área e de um bom retorno do investimento. Obviamente, preocupações urbanísticas não são sua prio- ridade. Esses agentes são diretamente apoiados pela ação do Estado, que, ao selecionar áreas e setores urbanos para a execução de melhorias de infraestrutura, favorece diretamente o mercado imobiliário pri- vado, como é o caso da implantação das linhas de metrõ de São Paulo, que geraram extensos corredores verticalizados ao longo de seus percursos. 1 No Rio de Janeiro, o Plano Diretor concebido por Lucio Costa para a urbanização do bairro litorâneo da Barra da Tijuca é outro exemplo da influência das ações do mercado imobiliário com controle bastante estrito por parte do Estado. Nesse caso, como suporte ao capital privado, a prefeitura construiu toda uma base de melhorias urbanas, tais como vias de acesso ao resto da cidade, avenidas internas, calçadões de praia etc., que fez com que a Barra hoje (2013) se constitua a área de maior expansão urbanístico-imo- biliária e de verticalização da capital carioca. Esse é também o caso dos grandes investimentos públicos para facilitar o turismo às praias urbanizadas do norte de Florianópolis, ou dos novos empreendimentos ao longo da BR que corta a parte continental da metrópole catarinense. Portanto, são as variações sazonais desse mercado que realmente dirigem esse processo, dependentes exclusivamente do movimento socioeconómico do pais e da cidade. Épocas de crise levam à redução de investimentos e a sua concentração em faixas de mercado mais estáveis - a produção de edifícios para camadas de renda mais alta -, enquanto investimentos em habitação para as camadas mais pobres são restritos e muitas vezes limitados a empresas e órgãos estatais - no caso os tradicionais conjuntos habitacionais. O poder aquisitivo do público consumidor - variável no tempo - , conjuntamente com a ação do Estado, por meio de suas legislações, controles e ação direta (no caso a oferta de habitações às cama- das de menor poder aquisitivo), e a ação dos incorporadores imobiliários definem genericamente a localização e a distribuição do processo de verticalização urbana. Desde os anos 1970 aos 1980, nas áreas centrais e suas periferias imediatas dotadas de uma grande infraestrutura urbana - os bairros já consolidados de classes média e alta - . constroem-se as torres isoladas e pequenos e grandes conjun- tos/condomínios de altos prédios destinados a moradia dessas faixas da população. Enquanto isso, nos subúrbios distantes e em grandes glebas, edificam-se os grandes conjuntos de prédios de apartamen- tos populares pequenos e de pouca altura, abrindo, por vezes, novas frentes de urbanização em áreas carentes de infraestrutura mínima. Ao final da primeira década do século XXI, com os pesados investimentos federais em programas de moradia como o "Minha Casa Minha Vida", a melhoria de avenidas e estradas, o aumento da mobili- dade urbana e o aumento de renda de parte da população urbana, surgem condições para novas formas de verticalização. Elas se espraiam por subúrbios e bairros distantes, possibi.litando a criação de um sem- número de novas áreas propícias à verticalização. -. ' :· .. .. • - ~ J.: - ~ ' Em 2004, o sistema metroviário, de 'São Paulo tinha três linhas em operaç~o ao longo de mais de 57 quilômetros, com 52 estações, muitas das quaís multimodais - integradas com 'estações de trem e rodoviárias intermunicipais (veja a página do governo estadual de São Paulo em www.metro.sp.gov.br). Em 2013, as linhas são cinco, sendo que as duas mais novas ainda se encontravam parcialmente prontai e o sistema metroviário ainda não está conectado totalmente com a rede ferroviária urbana, que possui um serviço inferior ao da Companhia do Metropolitano de São Paulo. ü j Capítulo 3 IA Paisagem Verticalizada de São Paulo: A Influência do Modernismo no DesenhoUrbano Contemporâneo 75 Esse é um processo em contínua evolução que altera radicalmente a configuração dos espaços e da paisagem urbana. Não é homogêneo no seu desempenho no espaço/tempo, pois está vinculado a varia- ções do mercado, que ora se mostra em retração ou em expansão. O próprio mercado imobiliário, quando da escassez das possibilidades de exploração de antigas frentes de produção, cria padrões atra- vés da mídia vendendo entornos e ambientes imaginários, status e maravilhosos sltios urbanos (inexisten- tes), buscando criar novas frentes para a produção e o consumo dos seus produtos, que podem ser áreas industriais decadentes. bairros tradicionais de classe média ou ainda em glebas vazias dentro ou fora da mancha urbana. Cria-se assim, artificialmente, uma valorização de áreas que se encontravam ainda à margem do processo de valorização/verticalização urbana. Esses novos valores, criados independentemente da qualidade ambiental, urbanística e paisagística do lugar em si, podem ser atribuidos tanto a um bairro como a uma rua ou vizinhança. A partir desses núcleos, o processo de verticalização ganha um novo foco de expansão, que pode, ou não, se consolidar. Observam-se ações extremas para valorizar esses produtos. como o caso de um empreendedor imobi- liário que patrocinou o calçamento e a arborização das vias e a pintura de muros e casario do entorno imediato do empreendimento. Essas são as principais frentes de expansão do processo de verticalização, mas não são estáveis, nem únicas, pois ele na realidade tende a se espalhar cada vez mais por todos os pontos das cidades. Em um determinado instante da evolução de um aglomerado urbano, pode estar concentrado em um ou dois locais para, logo depois, distribuir-se por novas frentes e, mais adiante, retomar a alguns dos pontos iniciais. Essa instabilidade e maleabilidade do processo no tempo trazem como característica uma certa independência em relação aos procedimentos normativos e de controle da produção do espaço e da paisagem urbana. Poucos são os casos no Brasil, como Brasília e a Barra da Tijuca. no Rio de Janeiro, em que o inves- timento empresarial segue diretrizes de verticalização radicalmente predeterminadas por um planeja- mento urbano. O Plano de Lucio Costa para a Barra, por exemplo, resultou em uma legislação rigorosa que gerou espaços nos quais qualquer um pode perceber claramente os limites das áreas verticalizadas, as diferenças das alturas máximas permitidas e os grupos de arranha-céus que configuram a paisagem (ver Figura 1.11 na Introdução). Normalmente, os mecanismos de controle existentes apenas estabelecem normas genéricas que tra- tam de um espaço informe e determinam um controle normat ivo restrito ao lote e ao edifício ou se atêm à ocupação funcional do espaço. Esse é o caso da maioria dos códigos de obra e normas de zoneamento estabelecidos. Os primeiros elaborando fundamentalmente sobre as construções, seu dimensionamento e habitabilidade, enquanto as legislações de zoneamento versam muito pouco sobre qualidade de habitabilidade e configuração do espaço urbano. Ambos desprezam as estruturas consolidadas culturalmente pela comunidade como a característica morfológica de velhos bairros e suporte físico. O processo de verticalização brasileiro está diretamente conectado à requalificação e transformação de segmentos urbanos existentes, estejam eles situados em áreas centrais ou turísticas. Nessas últimas, o edificio de apartamentos tem sido uma opção de hospedagem dos veranistas. ao mesmo tempo em que se constitui em um investimento seguro para as classes média e aita. O mercado imobiliário, nos anos 1960 a 1990, im!estiu pesa~amente em' torres d~ apartamentos nas cidades ao longo de toda a - orla brasileira, e o padrâo quadra-bloco cariocaJoi abandonad?· difundindo-se o pádr~o modernista do "prédio isolado no lote".(Figúra 3.3). ,., : - . / 1esenh1 iscute , o para• olítica, rbanisr 76 Desenho Urbano Contemporâneo no Brasil cidad'r------.~~=~7."'""'.-:::-:-:-----~--.,-.. e vida Após Jcial e ossas 1mais Figura 3.3 Verticalização e torres residenciais em Bertioga. balneário costeiro no estado de São Paulo. (Foto do autor, Pro1eto Quapá.) Novas Tipologias e o Mercado Nas grandes metrópoles brasileiras o processo é mais intenso. e é nesses mercados que são criadas e testadas novas tipologias espaciais, que pouco a pouco, quando aprovadas pelo público consumidor local. são extrapoladas para as mais diversas situações urbanas. As camadas de mais alto poder aquisitivo adquirem. então, edifícios personalizados, torres de alto luxo em condomínios verdejantes ou localizadas em lugares considerados nobres, alguns deles tornando-se verdadeiros marcos urbanos. As camadas de classe média se instalam em torres menos equipadas e com um maior número de unidades de habitação, se possivel próximo às camadas mais ricas. Na realidade, suas habitações se espalham por toda a cidade, ocupando desde os pequenos condomínios da periferia até altas torres junto áõ centro, procurando de certa forma adotar, ainda que cre um modo simplificado, os padrões de habitação das-elites. O restante . . . da população urbana e as camadas d~ menor renda ocupam pr~d ios ?e apartamentos maís rnodest0s, de construção simples e geralmente· de pouca altura. situ_êdós em'' bairros distantes ou em áreas mais antigas. Os esquemas da Figura 3:4 representam esses tipos de edifícios de apartamentos comumente encontrados na cidade brasileira. e__) I Capítulo 3 I A Paisagem Verticalizada de São Paulo: A Influência do Modernismo no Desenho Urbano Contemporâneo 77 Figura 3.4 Os tipos mais comuns de edifícios de apartamentos no Brasil: (A) pequenos apartamentos sobre pilotis; (B) edifícios com pouco afastamento; (C) edifícios de quatro pavimentos com varandas; e (D) pequenos edifícios para as classes trabalhadoras comuns. (Desenho do autor.) As exigências e as necessidades do consumidor evoluem à medida que novos produtos surgem no mercado, fazendo com que soluções aceitáveis dez anos atrás ou menos sejam inaceitáveis ou pouco vendáveis em um momento mais recente. Isso se pode constatar, por exemplo, nos novos lançamentos de prédios de apartamentos em São Paulo, que apresentam condição não exigidas há alguns anos: quase todos eles contendo, pelo menos, playground, quadra esportiva, piscina e grandes áreas de lazer. Todos, sem exceção, cercados e protegidos por muros e guaritas. Durante a década de 2000, a quadra condomínio vertical se consolida como um dos produtos mais populares do mercado, sendo centenas espalhadas por todas as partes da cidade, de bairros populares aos de maior poder aquisitivo. Suas dimensões variam de 3.000 mz a mais de 70.000 m2, ocupando extensas áreas e sua figura se tornando comum por várias cidades do país. O processo é flexível e se adapta às necessidades do momento, à disponibilidade de tecnologias e capital e, pouco a pouco, altera a configuração final dos produtos oferecidos. Na medida em que novas técnicas construtivas sao introduzidas, os edifícios sobem em altura e criam-se pressões para o aumento de índi- ces de aproveitamento do solo urbano. Diferentemente dos primeiros arranha-céus construídos em São Paulo nos anos 1920, hoje os edifícios de 20, 30 ou até mesmo 40 pavimentos sao comuns e plenamente aceitos pelos seus moradores. Em São Paulo, o processo se caracteriza pela diversidade em altura das novas torres de habitação, e a verticalização atualmente é configurada pelas alturas das novas torres de apartamentos (Figura 3.5). Esse processo de transformação urbana resulta em novas paisagens e novas formas de configuração e uso dos espaços urbanos. Em seus mecanismos específicos de assentamento e espacialização, produz um modo novo, pelo menos para a maioria da população, de encarar a habitação. Induz a formas de morar distintas, a maneiras diferenciadas e específicas no uso dos espaçoslivres urbanos, além de criar novos perfis da paisagem que substituem formas tradicionais de vida,-hábitos, vizinhanças, hierarquias espaciais e funcionais ~i.ilturalrnente arraigadas. Dentro do lote, essas ri.ovas tipologias estabelecem novas relaçf2_es com~ r'ua. O acesso.à habitaçà,2 é pri- vatizado e altamente vigtadó, apoiado no uso do elevador, 'E!' socializam-se além desse os estacionamen- tos, jardins e eventuais equipamentos de lazer, que se tornam prbpriedade de um conjunto de famílias - o condomínio. Modifícam-se relações de vizinhança - como a antiga conversa no muro e na calçada, \ ) I esenh1 iscute, :>parai )lítica, ·banisr cidadE ~vida Após : >cíal e >ntem1 ;tudos lSQUiS :periêr irupac ·incipa lVÍtali; As ex1 imons nda cc 1ssas' 1maio 1lais ~ Oseg incide •país · onôm 1ssívei trimô1 No tei 'cess• senhc (icas 1 blica nda e liçõe: :uro o- \1 78 Desenho Urbano Contemporâneo no Brasil Figura 3.5 O modelo modernista de torres residenciais que resulta da legislação edilícia urbana e das pressões do mercado imobiliário e característico de todas as cidades brasileiras. como evidencia este bairro de periferia de São Paulo. (Foto do autor, Projeto Quapá.) que é eliminada -, e a possibilidade de intervenção direta do indivíduo no espaço livre junto à habitação é drasticamente diminuída, já que ele é propriedade coletiva do condomínio. Em todos esses novos espa- ços urbanos, a forma construída resultante segue padrões rígidos, cada lote fechado em si e subdividido em áreas funcionalmente adequadas, segundo um arranjo preestabelecido. Esse arranjo se difunde de modo mais ou menos similar por todas as partes da cidade, as diferenças sempre sendo determinadas pelas possibilidades financeiras dos consumidores (moradores), produtores (incorporadoras, empreiteiras etc.) e proprietários do solo urbano. Cada cidade possui padrões próprios para o arranjo do lote verticalizado, que varia em função da maior ou menor liberalidade das posturas municipais de controle, sempre vinculadas a. l!ma intenção de qua- lidade de habitabilidade do edifício e das variações do 0ercado imobiliário local. O que se observa, na maioria das situações, é uma e)lfrapola~ão dos padrões urbanísticos das gran~es .ddades -- principal- mente São Paulo e Rio de Janeiro - e suei adoção por todo o país, óra de forma combinada ora não, em geral de um modo simplificado e pouéas vezes adaptados à,s· realidádes· locais. São comuns empreen- dimentos imobiliários cujos projetos: tanto arquitetô~icos como paisagísticos. são gerados em grandes centros como Sao Paulo e Rio de Janeiro e construídos em cidades distantes. I Capítulo 3 IA Paisagem Verticalizada de São Paulo: A Influência do Modernismo no Desenho Urbano Contemporâneo 79 São Paulo - O Referencial de Verticalização Ao contrário do Rio de Janeiro, cujo processo de verticalização nos anos 1920 sai do centro da cidade e se espalha pelos bairros ao longo da linha costeira ao sul, em São Paulo, como na maioria das gran- des cidades brasileiras, esse processo ficou restrito às áreas centrais até a década de 1940. A partir de então, surgem alguns pontos de verticalização em bairros periféricos a essa área, em segmentos habitados tradicionalmente pela elite, como na Avenida São Luis e no bairro de Higienópolis.2 Os seus padrões de assentamento do edifício residencial no lote, da criaçélO dos espaços livres junto à habitação, não eram iguais aos modelos adotados na antiga capital da nação, impregnados de padrões europeus. Diferentemente do Rio de Janeiro, em que a forma de implantação e suas volumetrias inspiravam-se na arquitetura urbana tradicional europeia, em São Paulo o arranjo espacial do lote era a torre de aparta- mentos em centro de terreno, sobre pilotis e rodeada por belos jardins tratados paisagísticamente. O novo padrão se estabelece e se expande primeiro em Higienópolis e seus arredores, nos "bairros-jardim", e nas áreas residenciais de alta renda. Depois, espalha-se para os bairros que se verticalizam principalmente em direção ao sudoeste da cidade. O processo de verticalização é inicialmente permitido em áreas restritas e ao longo das vias arteriais até que a abertura de novas frentes de ação do mercado gera a sua expansão por toda a cidade. Na medida em que amplos segmentos urbanos iam sendo renovados, antigas estru- turas e espaços edificados iam sendo substituidos, configurando novas paisagens, e caracterizavam-se e difundiam-se novos padrões e novos perfis urbanos. O resultado final é uma paisagem homogênea no seu conjunto, ainda que heterogênea na configuração particular de seus elementos (derivada de nuances de implantação, formas, volume e alturas das torres etc.). Seus espaços livres de edificação são padronizados funcional e formalmente, mas são por onde, na realidade, flui grande parte da vida urbana. São Paulo em 2012 é uma cidade de configuração morfológica até certo ponto previsível, mas que tem focos de renovação e mutação surgindo de um modo relativamente imprevisível em relação às normas e códigos, que se limitam praticamente a legislar sobre a unidade lote. Os princípios de assentamento dos volumes edificados, especialmente os prédios de apartamentos (designados como torres), são determi- nadas pelo terreno plano idealizado e seguem, não surpreendentemente, a abordagem do urbanismo modernista que responde bem às demandas do mercado. O suporte físico como estrutura base é tratado preponderantemente através das formas de parcela- mento do solo, em quadras subdivididas em lotes diversos a quadras condomínio vertical, enquanto a sua configuração morfológica - tais como rampas, aclives, planos horizontais e verticais - é considerada apenas um objeto a ser processado de modo a acomodar torres isoladas e grandes blocos de garagens subterrâneas. Como o terreno ideal adotado como padrão para a edificação vertical é sempre aquele perfeitamente plano, esse padrão é reproduzido por imposição do mercado e pelo código urbanístico por toda a cidade. No caso do lote urbano verticalizado, os espaços livres tendem a uma fragmentação física e a uma espe- cialização de uso mais ou menos sofisticada, de acordo com as disponibilidades financeiras dos usuários. Uma parcela cada vez maior da população protege-se contra a cidade, atrás de muros e dentro de con- domínios fechados, um fenômeno favorecido pelo processo de vi9~ência urbana que marca a cidade a partir da década.de 1980.3 Paralelamente, imp~lsion?dos pelo mercado -imobilí~rio e ~avorecid9.s 'Qelllegislação urb~ística, surg~em os grandes condoml,fliOS,Jechados por toáa a cidade .• ~parecendo sob o jargão~ae "conjunto residen- cial", possibilita.m o·esvaziamento funcional é''á especiali,zaç~o do espaço público: a rua transforma-se 2 Ver o texto de Bruna e Vargas (Capítulo 4) neste livro. que, em parte, aborda o bairro de Higienópolis. 3 Sobre violência e segregação espacial em São Paulo, ver Caldeira (2000). ) í ?h te ra :a, IÍSI 1d1 la is le m1 os JÍS iê1 'ª( pa llii ~XI ns cc 1S 1 li O ss :g de ís ' 1m 1ei lÔI ter 5SI 1hc st ·a • 1 e ie! 01 w 80 Desenho Urbano Contemporâneo no Brasil em espaço exclusivo para circulação. A essa internalização e fechamento dos espaços livres destinados ao lazer dos moradores de condomínios corresponde a criação da figura do "miniclube" privado. Os condomínios fechados respondem à demanda de espaços livres públicos para lazer - como as praças tradicionais ou parques - proporcionando-os no âmbito privado e sendo estes de propriedade e controle do condomínio. O novo modelo residencial recria os espaços de socialização e recreação intramuros res- tritos. Isso leva à diminuição efetiva de demanda por espaços para lazer públicos para um segmento cada vez maior da população, espaços esses que tendem a um desenho disperso, fragmentado, especializado e privatizado, já que as normalizações são genéricas e funcionais.O mercado imobiliário acaba criando, ele mesmo, os novos padrões para o desenho da paisagem urbana (Figura 3.6). O processo de verticalização do modo como está sendo dirigido em São Paulo, assim como em outras cidades, colabora e muito com a destruição do suporte físico preexistente e com a eliminação de áreas ainda cobertas por algum tipo de vegetação. A mancha de verticalização se espalha pelos mais diversos pontos, construindo-se edifícios de altura e porte similares por todos os lados: nas várzeas dos rios, nos espigões e nas meias encostas. Desde os contrafortes da Serra da Cantareira ao norte e as margens das represas ao sul, cada torre apresenta os mesmos preceitos de assentamento, quer estejam situadas em terrenos de maior ou menor declive, quer estejam em baixios. Figura 3.6 Em São Paulo, assim como na maioria das cidades brasileiras, amplos condomínios fechados verticais são uma opção residencial popular que fornecem muitas instalações dentro dos limites de seus muros. (Foto do autor, Projeto Quapá.) J ·-· Capítulo 3 IA Paisagem Verticalizada de São Paulo: A Influência do Modernismo no Desenho Urbano Contemporâneo 8 1 Articulações entre Edifícios e Espaços Livres A oposição entre os espaços livres de edificação públicos e privados (aqueles contidos dentro do lote) surgiu com a construção dos primeiros edifícios residenciais e com os primeiros arranha-céus em nossas cidades. Em uma primeira fase do processo de verticalização, nos anos de 1920 a 1950, aos espaços livres privados era dado o caráter de poço ou pátio de iluminação, para onde convergiam janelas e terra- ços. Nos edifícios mais luxuosos encontravam-se garagens cobertas, dispostas ao fundo do lote em um pátio ou quintal. O edifício ocupava todo o espaço possível, suas paredes se encontrando com as divisas do lote, formando fronteiras com os vizinhos. Cada rua ocupada por edifícios apresentava planos verticais contínuos, compostos de fachadas gemina- das sucedendo-se uma ao lado da outra por muitos quarteirões. Esse foi o padrão adotado oficialmente. favorecido pelas primeiras legislações. que configurou e direcionou os primeiros setores urbanos ocupa- dos por um processo de verticalização mais intenso. Alguns bons exemplos podem ser observados no Rio de Janeiro, em São Paulo e na maioria das cidades brasileiras, onde a verticalização ocorreu através da renovação e do adensamento de bairros residenciais da elite e das áreas centrais. No Rio de Janeiro, o processo de verticalização se expande mais cedo que nas demais cidades. iniciando- se pelo centro da cidade para. posteriormente, seguir a orla marítima e consolidar a paisagem urbana vertical. Copacabana, bairro celebrado nas décadas de 1920 a 1940, é um resultado prototípico desse processo, com suas fileiras de edifícios lado a lado que fazem as ruas parecerem cânions. Nesse caso. as desvantagens desse tipo de organização espacial são compensadas pela extensa faixa de praias próxima às habitações - um verdadeiro parque linear de areia e água - ao longo da qual flui a vida urbana e pelas extensas áreas livres intraquadras existentes em quase todo o bairro e prescritas por legislação. Em São Paulo esse processo é mais lento, e. quando se expande para os bairros periféricos à área central nas décadas de 1950 e 1960, já tem embutida uma forma alternativa de desenho para os espaços inter- nos ao lote nas novas soluções de ocupação do solo. Paulatinamente, a ideia do edifício como uma torre solitária dentro do lo te, recuada das ruas e das divisas do lote - em contraponto aos antigos padrões-. se torna a regra. Esse não é um fato isolado, pois se consolidava no país o movimento moderno na arquitetura e no urbanismo, que viria a ter, como síntese formal e ponto alto, a construção de Brasília. O ajardinamento frontal dos edifícios é um modo de tratamento do espaço livre que se origina e se con- solida nos bairros de classes alta e média-alta paulistanos a partir dos anos 1950 e 1960, espalhando-se por toda a cidade. No início do século XXI, dificilmente se encontra um edifício de apartamentos. por mais distante que esteja situado, que não apresente em sua parte frontal ao menos um modesto jardim. A consolidação desse processo é extremamente favorecida pela obrigatoriedade de recuos frontais às edificações estabelecidas pelo código de zoneamento vigente. que são prescritos para quase todas as áreas da cidade. Em conjunto com os recuos frontais também são prescritos recuos laterais e de fundo, obrigatórios em diversas áreas, consolidando de vez o padrão do edifício isolado no lote. O tamanho dos recuos da edificação e, portanto, das áreas livres varia de acordo com o lote, com a região da cidade .e com os padrões do mercado imobiliário. Poucó· a pouco e a partir de um mínimo estabelecido pela l~isl~ção, :m torno dós ·anos 1 ~7.0, juntamente_.:=om 9s jardins, .i:_assa-se a instalar · • . uma série de equipamentos de lazer ao ar livre no espaço do lote )l')'icialm~nte a'parécem os brinquedos infantis em .forma de plilyg(ounds, que se -popt.J l ari ~am',rápidarne~te, seguidos p~las p; inas . equipa- m~nto atualménte ~uáse que indispensável nqs empreehdimentos imobiliários. Segue-se uma plêiade de ou.tros ·equipamentos. como quadras poliesportivas, de tênis, pistas·de corrida, quiosques, gazebos, pérgulas, piscinas cobertas, fontes, entre outros (Figura 3.7). Cada novo item é primeiramente introdu- zido nas áreas verticalizadas destinadas às camadas sociais de maior poder aquisitivo para. logo depois, Desenho discute o do parad política, e urbanisrr e cidade! de vida p Após s social e ~ contemp estudos • pesquisa experiên· agrupad< principai Revitaliz< As exp demonst ainda co nossas c na maior jamaiss• Osegl coincide do país E econômi possívei! patrimôr No ter processe desenhe lógicas t pública e brinda o as lições futuro ot 82 Desenho Urbano Contemporâneo no Brasil - 1 - -- --.--r-i ~ .. ~ 7 I --#---~-~.- ·:· -:-/ Figura 3.7 Esquema de uma torre residencial típica no meio do lote em São Paulo, mostrando as instalações coletivas e espaços ajardinados. (Desenho do autor.) serem adotados nos novos lançamentos imobiliários em áreas com processo de verticalização que ainda se encontram em expansão. Em São Paulo. entre as décadas de 1970 e 1990, aparece e consolida-se uma nova figura urbana, o lote- quadra: grande condomínio verticalizado que ocupa, senão um quarteirão completo, pelo menos uma grande parte deste. Nele os prédios são dispostos mais livremente, sem obedecerem a padrões rígidos de paralelismo em relação às divisas do lote. Nesses condomínios - verdadeiras "superquadras" ou "uni- dades de vizinhança" no sentido modernista - existe, a priori. uma possibilidade maior de se equipar e tratar os espaços livres, como de fato acontece na maioria dos casos. Esse modelo surge pontualmente. em princípio de forma esparsa, porém atualmente espalha-se por todas as áreas de São Paulo. Normas, Códigos e Espaços em São Paulo A partir do pressuposto oficial contido na legislação de zoneamento implementada na década de 1970, o lote é a unidade mínima _de parcelamento do solo urbano. Sobre ele i ncidé~ diretamente uma grande parte das disposições legais çle ordenação do solo, ê nele todps os cuidados são dedicados a garantir a habitabilidade do edifício. CÔmo o espaÇo livre de edj_ficação t9mbém está contido ~o lotê, s~na natural se as normas também garantisseÍTT sua habitabilidade. j á (lue ctmiplementam o espaço da moradia, Entretanto, o que é garantido é á sua existência medida·ern taxas e índices de ocupação e recuos obriga- tórios, o que na. realidade direciona formas mais 6u menos padronizadas de ocupação do espaço. f .... Capítulo 3 IA Paisagem Verticalizada de São Paulo: A Influência do Modernismo no Desenho Urbano Contemporâneo 83 O código garante coeficientes mínimos de espaço não construído a cada lote - e opadrão médio é uma taxa de ocupação de 50% da área do lote. Os empreendedores podem incrementar esse índice, através de mecanismos que vinculam a taxa de ocupação menor ao aumento do coeficiente de apro- veitamento, ou seja, edif ícios mais al tos possuem mais espaços livres, que são equipados com equi- pamentos de lazer diversos. Sua qualidade para uso não encontra amparo na legislação. Tais códigos de ocupação e uso do solo derivaram do modelo modernista e do projeto de Brasília, porém não são nada além do que uma interpretação fragmentada dos edifícios da capital inseridos em superquadras envolvidas por espaços ajardinados. As torres residenciais de São Paulo e da maioria das cidades brasileiras representam uma redução desse modelo ideal adaptado ao mercado e à t rama urbana tradicional. Em função da expansão do processo de vertical ização nas cidades brasileiras após 1950, é fáci l identificar uma influência direta do modelo espacial modernista e das soluções tipológicas de Brasília em áreas vert ical izadas. A construção de Brasília promoveu o edifício isolado no lote, já em voga na época de sua construção, como um modelo ideal de desenvolvimento urbano, e influenciou todos os tipos edilícios - comerciais, industriais e residenciais. Entretanto, embora tenha sido continuamente adaptado à cidade convencional, o modelo original de BrasHia valoriza e seu projeto se coordena integralmente aos espaços que o circundam, assim como agrega valor à qualidade final da paisagem urbana, ainda que negue a cidade tradicional. O Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado do Município de São Paulo - PDDI - , implementado a partir de 1972, mostra claramente essa contradição em seu objetivo central: "criar e manter o ambiente urbano favorável ao exercício, por toda a população, das funções urbanas de habitar, de circular, de trabalhar e de cultuar o corpo e o espírito". Esse objetivo, como os que o seguem, contém colocações gerais baseadas nos princípios clássicos do urbanismo moderno. E, embora coloquem a preseNação da paisagem como um ponto deflagrador do processo, não se conceitua essa paisagem, que fica relegada a um segundo plano. Em 2012, início do século XXI, 40 anos após a implementação do PDDI, pode-se constatar o alto grau de transformação da paisagem da cidade e seu entorno e o pouco valor dado às estruturas paisagísticas preexistentes. O plano utilizava-se de dois instrumentos básicos para a sua implementação: o zoneamento de usos - utilizado pela primeira vez na cidade - e alguns índices urbanísticos que incidem diretamente sobre o lote. A ideia de espaços edificados também estava presente nessas novas normas. Em um artigo da lei que estabelecia as diretrizes de uso de solo, surge preliminarmente uma colocação sobre os espaços não edificados e como o novo zoneamento iria incidir sobre eles: "considera-se o zoneamento de uso o processo de orientação e controle, da localização, dimensionamento, intensidade e tipo de uso dos lotes e das edificações. bem como o controle das relações entre espaços edificados e não edificados" (grifo nosso) (Lei nº 7.668/1971). Esse controle de relações foi feito através de dois padrões principais de ocupação: o coeficiente de apro- veitamento do lote e a taxa de ocupação do solo, que variam conforme a zona de uso em que se situam. Esses dois índices estão atrelados à existência de uma série de recuos obrigatórios e fundamentam-se na ideia de garantir formalmente dentro de cada lote a existência de espaços livres de edificação que variam de 20% a 88% da área total do lote. Os recuos orientam e dirigem a organi:ação espacial no interior dos lotes. Como os outros índices, n~ .. t razem em si n~~huma· especi ficação qüé gara~t~ ao _esp~çõ _li~[':/Ji~do qu~lqu~~ qualidade de~habi-'· -. tabilidade. A ·pàrtir cfe: umª análise da.definição:'formal dos OQjêtivos' dos re9:!ÔS ur..Q.anos, percebe-se •• ..... - .• l' "';' / 6 claramer:ite a necessiáâde de uma caracter.izãçáo; Llrtia qualificação para os · espaços livres; independente - , ~ 1 ...... ~ , e, ~e possívél,,complementar a tais fndices: N.a legislaqáo, oi objetivos dos recuos são "garantir condições ad.équadas de aeração e iluminação'; evitar que as moradias sejam devassadas por outras, proporcionar segurança às crianças em seu local de recreio, dar espaço para a distração de pessoas mais velhas, reduzir r ü 1h1 e• ·a< a, isr d E a S! e TIJ )$ is êr 3d la lii :x~ 1$' cc s ( io ;s !gl je SI mi ei! 1ôr h w 84 Desenho Urbano Contemporâneo no Brasil riscos e incêndios. assegurar espaços para árvores, vegetação e jardins e propiciar um ambiente saudável e seguro". Sobre esses princípios se assenta a delimitação espacial do lote. A partir da promulgação da lei do zoneamento, a cidade de São Paulo foi dividida em zonas de uso - em princípio oito, chegando após uma década a 18 zonas - cada uma com características próprias e estabelecendo normas específicas para o tratamento dos lotes através dos recuos, taxas de ocupação e índices de aproveitamento. A paisagem urbana divide-se assim em dois tipos de áreas - horizontalizadas e potencialmente verticalizáveis. Áreas Horizontalizadas Compreendendo quatro tipos de zonas de uso exclusivamente residencial de baixa densidade. em que não era permitida a construção de edifícios de apartamentos, incluíam os bairros-jardim construidos no inicio do século XX, nos quais as casas são isoladas ou geminadas, os mananciais são protegidos, os lotes são ajardinados e, em geral, as ruas são arborizadas e as calçadas largas e ajardinadas. Bairros Figura 3.8 Restrições de zoneamento preservam o Jardim Europa, um dos bairros-1ardim de São Paulo, do processo de verticalizaçao que ocorreu ao seu redor. (Foto do autor, Projeto Quapá.) J desse tipo ocupam extensas porções do territó- rio metropolitano, concentrando-se nas áreas sul e oeste e na Serra da Cantareira, região de montanhas ao norte. A Figura 3.8 apresenta um dos mais famosos e consolidados bairros residen- ciais de alta renda, cercado de áreas totalmente verticalizadas. Nesse tipo também se inserem as áreas indus- triais, que ocupam extensas áreas planas ao longo dos dois principais vales e rios que estrutu- ram a cidade: Tamanduateí, Tietê e Pinheiros, em áreas cortadas por linhas férreas que conectam a cidade ao litoral e o campo. Nas zonas indus- triais, o uso residencial era praticamente inexis- tente, e os edifícios altos eram exceções nos anos 1970 e 1980. No início do século XX, muitas des- sas áreas estão em processo de esvaziamento, a legislação que antes impedia o uso residencial foi alterada e essas áreas, antes de uso exclusi- vamente industrial, passam as ser de uso misto e começam a se verticalizar. Areas Potencialmente Verticalizáveis Esse tipo correspondia ao restante do períme- tro ·urbano, abrangendo a grande maioria das zonas cujas · .características ,..de usos do solo variam desde aqµ,eles predominantemente r esi- Jr denciais de baixa ,densidade demográfica até aqueles predominantemente industriais, em que o uso residencial só era permitido com con- trole municipal. Capítulo 3 IA Paisagem Verticalizada de São Paulo: A Influência do Modernismo no Desenho Urbano Contemporâneo 85 Áreas sem Controle Direto do Gabarito das Edificações Nessas zonas era permitida a construção de torres residenciais, cuja altura está sempre condicionada à disponibilidade de terra e de mercado, e seu controle ocorre indiretamente através de taxas de ocupa- ção e índices de aproveitamento. Os recuos são valorizados, e o mercado imobiliário os sobrevaloriza, já que o modelo modernista é popular entre os consumidores. Por toda a cidade, a nova legislação de zoneamento conduz à transformação de grandes porções do espaço urbano, que acabam sofrendo renovação urbana e radicais transformações, inclusive em áreas cuja morfologia era claramente idêntica à dos "bairros-jardim".Zonas de Transição Criadas pela legislação como delimitadores formais entre as zonas ocupadas por bairros horizontais e as demais zonas, são as únicas em que, admitindo-se a verticalização, existe controle do gabari to das edifi- cações, que não podem ultrapassar 25 metros de altura, ou seja, nove andares. Constituem-se de zonas de caráter tipicamente residencial, mas admitem usos diversos como comércio, serviços e instituições. Mesmo em áreas nas quais a altura máxima das edificações não se encontra definida de forma espe- cífica, a regulamentação do processo de verticalização acontece através de um controle indireto - o coeficiente máximo de aproveitamento (área de construção sobre área do terreno), que não podia ultrapassar quatro. Consequentemente, em termos do mercado imobiliário, isso significa que, devido aos custos do solo, da construção e à capacidade do mercado consumidor, dificilmente serão construí- das torres acima de certa altura, a part ir da qual a superfície de solo necessária para edificar uma torre muito alta torna proibitivo o custo do empreendimento. Assim, observa-se uma limitação natural do gabarito dos prédios de apartamento e escritórios na cidade para cerca 30 andares, altura ultrapassada somente em situações excepcionais. Todos esses mecanismos e índices urbanos favorecem a institucionalização de um padrão edilício: a torre recuada e afastada das divisas do lote, senão a partir do nível do chão, ao menos isolada a partir do terceiro pavimento. Os prédios geminados praticamente não são mais construídos, e aqueles existentes tornam-se testemunhas dos resultados de velhas prescrições e símbolos de um passado distante. Os Cenários Criados O modelo padrão se expressa através de uma torre ou um conjunto de prédios de apartamentos - com dois, três ou mais volumes - imersos em jardins, equipados com quadras esportivas, piscinas e demais equipamentos destinados ao lazer ao ar livre, cercados e guarnecidos por muros, gradis e guaritas. Formalmente, algumas situações se destacam: • A torre afastada dos limites do lote a partir do segundo andar do. eé:J ifício, sobre um nível térreo de estacionamento qi:e cobre toda a superfície do lote; espaços livres de- lazer, serviços etc. podem estar situados sobre essa platafor.ma ou no níve~·da rua. . :. ·. .... ~ .. ~ ~ . • -.7 . -,:- - _ ... .., • · A torre isolada no lote, tqtàl~ente separada-da vizintiança p.or corre~o(es de açess_o, pátioS"e j_ardins; todas as suas•faces são páralelas aos limites do lote. · .. , :. · - "" . . ... .... • e • • Aforre isoJada no terrero. cujas fachadas não estão necessariamente dispostas em paralelo com as divisas· doJote; espaços livres e.as condições de iluminação variam conforme a situação. r ... ·. enh ute iara ica, 1nis fad1 ida >ÓS 31 e em dos 1uis :riê1 pac :ips ta li; ex1 ons 3 Cl as 1aio is! ;eg :ide IÍS ôm ívei llÔ te1 ~ss nhc IS t ca ac õe! lo· 86 Desenho Urbano Contemporâneo no Brasil Existem inúmeras outras derivações dessas três situações básicas, mas o tratamento formal do espaço residual do lote tende aos seguintes padrões: • Distribuição do espaço em corredores, por vezes extensos e sombreados. de circulação, estar e servi- ços e pátios destinados a jogos, serviços etc. • Setorização das áreas de estar e lazer. Um exemplo é o playground formalmente definido, separado do jardim frontal, da área de lazer, das quadras etc. • Máxima ocupação possível do subsolo do lote por garagens subterrãneas, que normalmente ultra- passam os limites da projeção do edifício, chegando aos seus limites laterais e posterior. As novas prescrições urbanísticas determinadas na década de 2000 passam a exigir lote a lote verticalizado a reserva de uma porcentagem de áreas permeáveis. O tratamento paisaglstico do lote verticalizado é uma regra, tanto na cidade de São Paulo como em todo o país. Como a arquitetura é, em geral, padronizada em termos de volumetria e divisões internas, o tratamento cenográfico das fachadas e paisagístico dos espaços livres torna-se um elemento de valo- rização do empreendimento imobiliário. Observa-se, então, um forte apelo ao cenário criado, sendo comuns os espaços tratados à maneira de velhos jardins neoclássicos europeus, que acompanham os estilos adotados para as fachadas, algo entre o neoclássico italiano e francês, que exerce forte apelo sobre o consumidor. Neles, pérgulas, fontes, gazebos e topiarias são dispostos ao lado de elementos atraentes como piscinas, que também seguem um estilo específico. quadras esportivas e playgrounds. São ainda comuns pórticos pós-modernos, gramados românticos e arranjos florais vagamente inspirados em prescrições inglesas. Ao mesmo tempo, são construídos espaços - como na década de 1980 quando eram comuns - seguindo um estilo tropical, com equipamentos de lazer e fontes dispostos em ambientes estruturados por vege- tação luxuriante e pisos coloridos, de desenhos ondulados ou geométricos. Dominante em São Paulo, assim como no resto do país, essa forma de tratamento paisagístico pode ser visto como uma evolução formal e conceituai dos projetos paisagisticos modernos dos anos 1960 e 1970, quando ornamentos românticos ou clássicos eram expressamente proibidos. De qualquer modo, esses exemplos não são mais do que um reflexo de um fenômeno urbano. A medida que aumentam as densidades de população e a verticalização da cidade, pouco a pouco a rua perde suas caracterlsticas de área de lazer, seus espaços passando a se destinar principalmente à circulação e ao acesso de pedestres e de veículos aos edifícios. As praças, parques e espaços livres privados nos âmbitos dos lotes ficam assim encarregados de atender a essa carência. Em São Paulo, os espaços livres públicos são poucos e mal distribuídos em relação à demanda de uso, sendo que somente alguns poucos bairros contam com um sistema adequado de espaços livres destinados à recreação. De certo modo, os espaços livres privados dos lotes verticalizados compensam essa situação, mas consubstanciam a privatização do lazer ao coletivo dos interiores das quadras, lotes e condomínios. diminuindo cada vez mais o caráter de uso múltiplo da rua e enfatizando sua condição de canal de acesso e circulação. Paisagem Verticalizada e Vetore~;de Expansão _ .. O perfil ou skyline de qualquer cidade, parcelada em zonas de uso genérico como é o caso de São Paulo, dificilmente po~erá. ser lido diretamente por intel:médio do estudo particularizado dessas zonas. Cada uma delas pode tomar uma forma - uma configuração espacial própria - em função das diversas / Capítulo 3 J A Paisagem Verticalizada de São Paulo: A Influência do Modernismo no Desenho Urbano Contemporâneo 87 tendências do desenvolvimento urbano. Na cidade de São Paulo, o simples olhar e mesmo um estudo pouco aprofundado não permitem a um observador distinguir formas diferentes de organização espacial que caracterizem zonas de uso específicas. Um padrão diferenciado torna-se claro somente quando se entra em um bairro-jardim, cuja estrutura espacial caraderiza as zonas de uso predominantemente habitacional de baixa densidade, constituídas de edificações horizontalizadas e profusamente arborizadas. Nas demais áreas, as diferenças são mais sutis e o espaço construído parece o mesmo. A diferença básica não está na estruturação espacial e sim na sua possibilidade de diversidade funcional, e, mesmo que existam variações de taxas de ocupação e coeficientes de aproveitamento, elas são pouco perceptíveis para um leigo. No conjunto de sua paisagem verticalizada, São Paulo apresenta três tipos de perfil básico: • Aqueles em que predominam as torres, correspondendo a áreas nas quais a morfologia é caracteri- zada estritamente por prédios altos. • Aqueles em que predominam casas e sobrados de um a dois pavimentos; áreas nas quais o processo de verticalização ainda é incipiente. • Perfis mistos. típicos de áreas em processode transformação, de renovação urbana. Constituindo a maioria das áreas de verticalização recente, caraderizam-se pelo alto índice de fragmentação do tecido urbano, em que estruturas de épocas diversas convivem lado a lado. Esses tipos de perfis estruturam-se a partir de algumas formas de arranjo espacial e de associação das torres: • Conjuntos habitacionais dispostos de uma maneira homogênea. Típicos dos bairros residenciais, são compostos de edifícios baixos com menos de cinco andares, com volumes similares e pequenos recuos. • Conjuntos habitacionais mistos. constituídos de torres de alturas diversas - por exemplo, quatro, oito, 12 ou mais andares. Como no tipo anterior, configuram unidades isoladas entre si e são típicas de bairros residenciais. • Edifícios altos, agrupados em conjuntos pequenos de duas, três. até quatro unidades. encontrados por toda a cidade, indistintamente, em todos os bairros. • Edifícios altos, agrupados em conjuntos grandes, de mais de cinco unidades isoladas, em geral ocu- pando uma quadra inteira. • Grandes maciços edificados, compostos de unidades isoladas, que caracterizam as áreas densamente verticalizadas da cidade, como Jardins. Moema, ltaim, Perdizes e Tatuapé. No todo urbano, as torres dispostas lado a lado por quadras contínuas formam grandes estruturas morfológicas em que o edifício - a unidade isolada - perde sua identidade em função do conjunto. Estendem-se por grandes áreas da metrópole e adquirem duas formas básicas: • Manchas verticalizadas - conjunto de quadras verticalizadas que se sucedem umas às outras em todas as direções. • Linhas verticalizadas nas quais o processo de construção das tqr:_res se dá de forma linear. em uma ou mais vias, muitas vezes ao longo d~ um espigão, definindo um eixo de ocupação. As linhas são, , entretanto, estr\ittlras instáveis, pois, à medida-Ql,Je o processcrd.e .oçupação ver-tical se consolida, tendem a consÚtuir-~e.- ~n:i -manchas ver-ticalizadâs quapdo da ·<iÕ.nstruÇão i;ten~~a d~· n9'.vas torres nas suas·vizi,ntíànç'a,s (Figura 3.9). • · ,., :. - • < ~-) enhc ute e >arac lica, inisn 1ade ·ida r )ÓS ~ ale :em~ idos ~uiSé ?riên 1pad cipai taliz ;exp ons1 a co ;as e 1aio1 liSS• segt cide aís E iômi ;ívei! môr > ten esse ~nho as ti ica e la Ct ;ões ·oot w 88 Desenho Urbano Contemporâneo no Brasil Figura 3.9 Uma faixa verticalizada em São Paulo ao longo de uma artéria principal. (Foto do autor, Projeto Quapá.) Considerações Finais Já se passaram várias décadas desde a implantaçao da legislação urbanística reguladora da verticalização paulistana em 1972, que influiu positivamente na organização espacial da cidade. Ela possibilitou a cria- ção de amplos e generosos espaços livres privados, favorecendo a instalação de equipamentos coletivos em tais espaços, garantindo recuos laterais e frontais que permitem a insolação e ventilação das unida- des residenciais e comerciais, favorecendo a criação de praças corporativas, exigindo estacionamentos e limitando o crescimento dos edifícios a alturas exageradas. Por outro lado, foi praticamente liberada a verticalização na maior parte do território urbano, indepen- dentemente da localização, da dimensão de vias de acesso ou das características de vizinhanças e do suporte físico. Permitiram-se em tais áreas a impermeabilização de mais de 80% dos lotes e a destruição de importantes características do suporte físico. A configuração morfológica dª~ áreas consolidadas apresenta uma forma bastante homogênea. E é, de fat9, o mercado imobiliário quem decide onde e quando verticalizar. Nestes anos, fõram constantes as alterações da legislação, com a abe·rtura de novas áreas para a verticalização - com gabari_tàs controlados - especialménte nas bordas· de bairros-jardim ou- áreas residenciais horizontais. · ··' Mudanças radicàis no processo de ocupação urbana~foram implementadas com a nova a legislação estabelecida na décâda de 1970, a qual substituiu os antigos padrões urbanísticos que favoreciam o crescimento em altura, não privilegiavam a criação de espaços livres para jardim, estar e lazer dentro dos I Capítulo 3 I A Paisagem Verticalizada de São Paulo: A Influência do Modernismo no Desenho Urbano Contemporâneo 89 lotes e que perduram até o início da segunda década do século XXI. A torre isolada tornou-se um novo modelo urbanístico, e o zoneamento, a ferramenta para sua implementação. Os ganhos foram sensíveis, e esse modelo foi adotado também, em geral, de um modo menos severo na grande maioria das cidades do país - no caso. com menores limitações a alturas ou com a exigência de menores recuos. Esse fato pode ser constatado nas pequenas e médias cidades dos estados do Rio Grande do Sul, São Paulo e Paraná, nas quais a proximidade dos edifícios é grande e leva a graves pro- blemas ambientais. Em cidades costeiras como Recife, capital de Pernambuco, as torres de apartamento ao longo da orla com alturas até 40 andares sombreiam a praia nos períodos da tarde. Apesar disso, o hábito da moradia em torres se tornou comum no contexto urbano brasileiro, sendo plenamente aceito pelas camadas médias e altas da sociedade e estruturando morfologicamente extensas áreas urbanas. Os mecanismos urbanísticos criados para sua regulamentação foram implementados em sua maioria durante a segunda metade do século XX, e pode-se argumentar que as torres se tornaram uma das mais duradouras e bem realizadas expressões do paradigma modernista. Como o caso de São Paulo demonstra, tais mecanismos necessitam atualmente de revisão. Embora tenham sido adequados para uma flagrante melhoria no perfil morfológico funcional e ambiental nos anos 1970, estão na década de 201 O bastante defasados em relação às atuais demandas urbanas, especialmente as ambientais. De fato, a constituição morfológica da cidade ainda é um tema pouco valorizado no Brasil e tem sido regulamentada apenas em algumas situações especiais, tais como nos Planos de Brasília e da Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, ambos empreendimentos governamentais que ocorreram em períodos de intensa centralização dos processos decisórios. Os processos de verticalização que atuam sobre as cida- des brasileiras demandam uma reavaliação de seus efeitos morfológicos e sociais, que têm sido historica- mente a segregação, a privatização excessiva do espaço público e problemas ambientais significativos. O controle do desenvolvimento urbano e da verticalização da paisagem de São Paulo é um exemplo claro dessas necessidades urgentes. ., .. - -. ' . ' .., ... ..., . ~ :.. ,~ . .... . ... ~ ( - ,- . -~ - .. -J! , ' · CAPÍTUL04 Shopping Centers e o Desenho Urbano no Brasil: Dois Estudos de Caso em São Paulo Gilda Collet Bruna e Heliana Comin Vargas Desde a inauguração do primeiro shopping center no Brasil, em 1966, esses empreendimentos tor-naram-se elemento dominante da paisagem urbana brasileira. Em seu início, foram moldados como grandes centros de varejo - normalmente com lojas-âncora - sob um teto único com estacionamento exclusivo. Atualmente, após mais de quatro décadas, já se pode fazer um balanço desse fenômeno e de seus impactos sobre o desenvolvimento e o desenho urbano. Neste capítulo, analisa-se a versão brasi- leira de shopping center tomando-se como exemplos significativos dois empreendimentos na cidade de São Paulo, implantados com uma diferença temporal de mais de 30 anos. O Shopping lguatemi (1966) e o Shopping Pátio Higienópolis (1999) são analisados sob a perspectiva de seu papel como vetores de expansão urbana e em relação à sua polarização, às mudanças de uso e ocupação do solo, à valorização do entorno, assim como aos impactos na forma e na vitalidade do espaço urbano. Mais do que o número de empreendimentos existentes, a velocidade com que os shopping centers se implantam a partir de meados da década de 1980 e o volume dos investimentos crescentemente destina- dos ao setor reforçama magnitude do fenômeno. Existem no país duas importantes associações ligadas ao setor varejista que definem esse tipo de empreendimento de modo distinto e, portanto, apresentam números diferentes.1 Segundo a Associação Brasileira de Shopping Centers (Abrasce),2 em 2012 existiam 463 shopping centers em operação no país, totalizando mais de 11,6 milhões de m2 de Área Bruta Locável (ABL), enquanto a Associação de Lojistas de Shopping Centers (Alshop)3 registrava 828. Ainda segundo a Abrasce, a grande maioria deles - cerca de 34% - localiza-se no estado de São Paulo, enquanto a cidade de São Paulo registra um total de 53 shopping centers, correspondendo a 11,5% dos shopping centers brasileiros, em 2012. Seja qual for a fonte que se considere, esses números refletem o grande impacto que esse tipo de empreendimento vem exercendo sobre o desenho urbano e a dinâmica das cidades brasileiras. No entanto, situações complexas e de forte impacto na paisagem urbana são difíceis de mensurar, em parte devido ao efeito multiplicador das transformações que produzem, cumulat ivamente, novas configurações do espaço urbano. No caso brasileiro, é possível afirmar que os shopping centers têm provocado alterações no desenho urbano do seu entorno, respondendo pela formação de novas cen- tralidades no âmbito da cidade. A grande concorrência entre eles, dl~nte de um mercado consumidor •' - ,. ".,,..·~.,.,... ~ -~ ... ~p·, ;- 1 A Abrasce é_vinculaqa a9 C~~seJh~ lnternacion.ald e_ Sh9ppi~g ·E"l?n't~rs e_-ç:o~ta apenas com sh~ppin;ce1!f§rs como membros de sua organizãção. De acordo com•sua deflnição, um shopping center é um empreendimento éom pro· prie~i:!de .. e gerenciamento centralizados. com âncoras e-lojas-satélites e"vagas de estacionamento no local. A Alshop inclui 'entre seus membros uma grande varieda~e de tipos de complexos de varejo. pois é uma associaçãóde lojistas, não importando sua estrutura administrativa. 2 Disponível em: www.abrasce.com.br. Acesso em: 2 maio 2013. 3 Disponivel em: www.alshop.com.br. Acesso em: 2 maio 2013. ~ ..... ·. a l, s j1 e n )! i~ )1 )é li 92 Desenho Urbano Contemporâneo no Brasil que vem se modificando rapidamente, tem levado a sucessivas transformações dos empreendimentos, que procuram se adaptar para atender às diversas categorias de usuários e suas novas demandas. Shopping Centers no Brasil Embora o modelo brasileiro incorpore os conceitos do varejo contemporâneo e global, ele também assume aspectos próprios adaptados às especificidades locais. A primeira diferença que surge na ver- são brasileira é decorrência do grande intervalo de tempo entre o surgimento dos shopping centers nos EUA e a primeira implantação desse formato no Brasil - o Shopping lguatemi, inaugurado em 1966. Apenas isso já faz o modelo nascer diferente, com a incorporação de uma série de inovações das gerações mais recentes dos similares americanos e da versão europeia. É interessante observar que o pioneirismo da implantação do Shopping lguatemi também responde pelas diversas reformas e ampliações às quais tem sido submetido, procurando manter o seu status como o mais rentável e sofisticado da cidade. Só recentemente ele parece ter encontrado um concorrente à altura, o Shopping Pátio Higienópolis. Nossa análise centra-se na cidade de São Paulo não apenas por causa do pioneirismo e da intensi- dade com que o fenômeno continua ali ocorrendo, mas também pela própria característica da cidade enquanto mercado consumidor, com mais de 11 milhões de habitantes, refletindo o estágio mais avan- çado do fenômeno em escala nacional. São Paulo oferece um cenário propício para o desenvolvimento do varejo, e a magnitude do comércio paulistano, que foi capaz de absorver prematuramente os mais diferentes formatos de seus diversos agentes (Vargas, 2004), permite assumir a legitimidade desse pro- cesso como balizador do desenvolvimento varejista brasileiro. Antes de comparar as características dos estudos de caso, é importante considerar a ocorrência desse fenômeno no Brasil sob uma perspectiva tipológica, locacional, arquitetõnica e da sua função urbana enquanto abastecimento da população. Tipos de Empreendimentos Embora tenha havido agrupamentos de lojas e galerias que, posteriormente. re ivindicaram o status de shopping center, os centros de compras planejados conforme são entendidos atualmente não resultaram de inovações do próprio sistema varejista, mas sim de uma auspiciosa visão dos empreen- dedores imobiliários (Garrefa, 2011 ). Segundo Gruen (1962), essa visão se inicia quando se escolhe a denominação shopping center, cuja ênfase recai sobre o consumidor e não sobre o vendedor (comer- ciante lojista), caso em que o nome mais adequado seria selling centers. Quando chega ao Brasil, o modelo americano de centro de compras é adotado e assumido como empreendimento varejista de base imobiliária. Reproduzia-se o conceito de centro de compra planejado europeu como ocorrido nas reconstruções pós-guerra e na política de cidade novas: um empreendimento imobiliário residencial que buscava a autossuficiência, a partir da criação-de centralidades intern&$ ao próprio conjunto edificado. Também é interessante observar que nos EUA, paralelamente a esse precesso, empre~ndimentos de uso misto (que combinam escritórios, hotéis, apartamentos. comércio. e lazer'),f~ram implantados-desci; a década de 1930, sendo talvez o Rockefeller Center (1934), em NÔva York, o exemplo mais emblemático. No entanto, como õ próprio nome insinua, eles não tinh'am o varejo como atividade central. Em São Paulo, um exemplo expressivo é o Conjunto Nacional na Avenida Paulista, projeto de 1955, inaugurado parcialmente em 1958 (Figura 4.1 ). r Capítulo 4 l Shopping Centers e o Desenho Urbano no Brasil: Dois Estudos de Caso em São Paulo 93 Figura 4.1 O popular Conjunto Nacional na Avenida Paulista em São Paulo. Projeto modernista de 1950, que consiste em uma torre de escritórios e outra de apartamentos sobre galeria comercial que inclui restaurantes e cinemas. (Foto de Heliana Vargas.) Inserção no Contexto Urbano Três tipos principais de shopping centers podem ser destacados em termos de sua relação com a cidade: (a) periféricos (out of town); (b) centrais (downtown); e (c) intraurbanos (inner town). No caso brasileiro, os primeiros shopping centers implantados se localizaram internamente à man- cha urbana e se constituíram na base do processo brasileiro de implantação desse empreendimento, principalmente na Região Metropolitana de São Paulo (Vargas, 2001). Embora os primeiros tenham se localizado fora do centro principal da cidade, eles não se estabeleceram em suas franjas nem muito distantes da mancha urbana ou junto às rodovias. como ocorrido nos Estados Unidos. Esse veio a ser um fenômeno mais tardio e carac- terístico das cidade médias do interior do estado de S~o Paulo. t importante lembrar que nos países em desenvolvimento como o Brasil as classes de maior renda familiar não residem nos subúrbios, que foram ocupados por grupos de menor poder aquisitivo. Apenas recentemente e em um novo tipo de ocupação das regiões suburbanas por con- domínios fechados, a população de classe média vem mudando para subúrbios, como ocorrido nos Estados Unidos. Os primeiros shopping centers localizaram-se junto a centros urbanos regionais da cidade de São Paulo, no interior da área urbanizada (como o lguatemi e o Eldorado em Pinheiros, o Center Norte em Santana. o West Plaza na Lapa, o Penha na Penha) ou nas áreas disponíveis no limite da franja urbana (como o Continental, Morumbi, lnterlagos, Aricanduva) (Vargas 1992). Os dois primeiros nessas duas categorias - lguatemi (1 966) e Continental (1975) - foram implantados como empreendimentos imo- biliários, e levou alguns anos (além de várias estratégias de negócios e de marketing) para que o paulistano consolidasse o hábito de fazer compras em shopping centers demodo a tornarem empre- endimentos de sucesso passíveis de atrair novos investimentos. O adensamento de seus entornos e a implantação de infraestrutura viária favoreceram esses centros de consumo, que se tornaram então capazes de criar as suas próprias centralidades (Vargas, 1992). Embora tivessem experimentado um lento começo, provavelmente porque as cidades não possuíam os condicionantes básicos para seu desenvolvimento, a segunda metade da década de 1980 assistiu à intensificação do ritmo de construção de shopping centers no país como um todo. a partir da cidade de São Paulo (Tabela 4.1 ). No final da déca~!3'de 1'98Q, shopping centers com características de centros regjgnais (out of town) começariam a se.r instalàdos nas cidades .do interiõr de São Pauío; junto a entroDcame.otos viários para incorporar várias cidad~s em sua área de inflv.ência e frtr~ fego intenso de êertas rodovias. Alguns exem- plos são o Centervále em São José dos Campos (1987). o ·Parque D. Pedro (2002) em Campinas e o Novo Shopping Center (1999) em Ribeirão Preto. O primeiro mencionado se instalou em uma antiga fábrica às margens da rodovia que liga S~o Paulo ao Rio de Janeiro, sendo comum a substituição de usos .. ,, . , f \) 10 1( •n e 1 ii s !r d a i2 <I s :e g IE n ~i ô s ,, ( e e 94 Desenho Urbano Contemporâneo no Brasil Tabela 4.1 Evolução do número de shopping centers - Brasil (1966-2012) Ano 1966 1971 1976 1981 1986 1991 1996 2001 2005 2010 2012 NQ de shopping centers 2 8 16 34 90 147 240 338 408 463 Fonte: Abrasce. Shopping Centers. Disponível em: www.abrasce.com.br. Acesso em: 3 maio 2013. de antigos e obsoletos edifícios industriais e de armazenagem por centros de compra. Outros, como o Galeria (1992) em Campinas, foram implantados em uma área de pastagens, mostrando que o potencial indutor da urbanização já havia sido descoberto pelos empreendedores. Busca-se criar centralidades cujo foco é o shopping center, promovendo uma valorização do entorno e, muitas vezes, dela se apropriando, seja pela compra antecipada de terrenos, seja na realização de negócios nesse mercado valorizado. Em cidades de porte médio, a implantação de shopping centers chega a provocar certo impacto nas atividades comerciais tradicionais, respondendo, em parte, pela deterioração de suas áreas centrais. Ao oferecer uma série de atividades com segurança e conforto, incluindo salas de cinema, eles tendem a ser preferidos como centros de consumo e lazer, em detrimento dos centros urbanos tradicionais. No caso dos shopping centers intraurbanos, a escolha da localização passa a ser mais em função da dis- ponibilidade de área e do preço da terra do que propriamente de sua localização estratégica em termos de área de influência - aqui definida a partir da densidade demográfica, nível de renda e acessibilidade (isócronas de tempo de viagem, de chegada e de saída). Por sua dimensão como empreendimentos imobiliários e por suas estratégias de negócios, esses estabelecimentos adquirem a capacidade de criar as suas próprias localizações privilegiadas (Vargas, 1992). Muitos desses empreendimentos já nascem casados com outros tipos de uso, como o residencial, como foi o caso dos shopping centers lguatemi e lbirapuera (1976) e, mais recentemente, com escritórios como o Shopping Villa-Lobos (2008) e o Cidade Jardim. Outros, controlados por grandes grupos do setor imobiliário, localizam-se em áreas urbanas mais periféricas e usufruem da valorização causada nas áreas do entorno, ou instalam-se em áreas em pro- cesso de mudança de usos, ocupando antigos depósitos industriais ou lojas de departamento. Uma característica que distingue os consumidores nacionais daqueles de países desenvolvidos da Europa e EUA, com uma distribuição de renda familiar mais homogênea, é a construção de shopping centers direcionados às classes de menor renda. No Brasil, esses tipos começaram a se instalar em São Paulo em 1984. Em geral, possuíam supermercados ou hipermercados como a sua grande loja-âncora, e o seu padrão arquitetônico e instalações apresentavam qualidade inferior, de modo a reduzir custos de construção e operacionais - por exemplo, utilizando-se materiais de acabamento mais baratos e nao disponibilizando ar condicionado nas áreas comuns. Nos últimos anos, os centros de São Paulo e de outras cidades brasileiras começaram a receber shop- ping centers que adotam um formato mais compacto, principalmente através da demolição de áreas já ocupadas ou da reciclagem de edifícios históricos. Esse foi o caso do Shopping Light, na área central da cidade de São Paulo, em que o antigo edifício-sede da primeira companhia de energia elétrica da cidade, tombado pelo Patrimônio Histórico,_ foi adaptado como shopping center, inaugurado-em 1999. Próximo a uma estação de metrô e de um terrniAal de ônibus urbanÔ, com urn. fluxo de pedestre nas,suas portas . de cerca de 1, 5 milhão por dia, teria tudo para dar certo (Figura 4.3). Nt> entanto, com·um pfanejameoto _,,, equivocado para um shoppiog center na área central e c:om difiçµldades .. de ·adaptação ao ediflcio tom- "" bacio, ele vem sofrendo transformações sistemáticas no conjunto de suas atividades visando atingir êxito como empreendime~to, ·! f Capítulo 4 I Shopping Centers e o Desenho Urbano no Brasil: Dois Estudos de Caso em São Paulo 95 Figura 4.2 O novo Shopping Light em São Paulo. A renovação deste edificio histórico pode contribuir para o processo de requalificação do centro. (Foto de Heliana Vargas.) Padrão Arquitetônico Embora a maioria dos shopping centers ainda esteja voltada ao usuário motorizado, com gran- des áreas para estacionamento, a sua localização integrada a estações de metrô e ônibus. em São Paulo, começa a ser uma realidade cada vez mais presente, como é o caso de dois shopping cen- ters associado um à estação Tatuapé e outro à estação Santa Cruz do metropolitano. Por outro lado, a localização mais central em áreas já consolidadas e de maior densidade, ou junto a polos geradores de fluxo - como colé- gios e universidades -, atrai um público signi- fi cativo que se desloca a pé. Esse é o caso do Shopping Pátio Higienópolis, um dos exemplos analisado adiante, que inicialmente enfrentou uma forte pressão da comunidade, contrária a sua implantação, mas que acabou se transfor- mando num atraente ponto de encontro para os moradores e usuários do bairro. Com relação ao padrão arquitetônico. uma série de classificações costuma ser estabelecida para um shopping center. descoberto ou coberto, aberto ou fechado para o exterior, com um ou mais pavimentos. Pode-se dizer que os primeiros shopping centers brasileiros nascem com o formato da terceira geração americana, fechando-se cada vez mais sobre si mesmos e ignorando completamente Figura 4.3 Shopping lguatemi, São Paulo. A fàt hada pós-modernista e o bloco de estacionamento à esquerda foram resultado das expansões. (Foto de Gilda Bruna.) f o entorno, não apenas cercados por estaciona- mentos - que aos poucos se tornam estruturas verticalizadas, ou ocupam os subsolos - mas recusando-se sequer a permitir janelas para o ambiente urbano ou oferecer qualquer vit rine ao nível da rua. Esses empreendimentos do tipo "caixote", como os chama Vargas (2000), ainda são característicos em São Paulo, mas os dois estudos de caso aqui apresentados dife- renciam-se um pouco desse grupo. O Shopping lguatemi, inicialmente, diferia desse fechamento exagerado talvez pela excelência de seu projeto em sua primeira versão, dialogando com o entorno- urbano de forma mais próxima a.os shopping ç:enter~centrais (downtown cen- -~érs) çonstruí~c?S ·Jlarâ atende!· ó· u~ário local. ... · • lnfelizf!1ent~. suas modificações posteriores acabariam torriándo-o semelhante a todos os demais "caixotes" (Figura 4.3). No caso do Pátio Higienópolis, talvez pelo fato de ter recebido pressão das associaçõesde mora- .. :enho :ute o >ara d tica, < ~nísn :Jade: 1ida r oós s ai e 1 temp idos ~uis< Hiên rpad. cipai taliz ;exp 1ons1 a co ;as e 1aio1 liS S seg1 cide aís < 1ômi :ívei: môr >ter ess1 :nhc as t ica e la e ;õe~ ·001 96 Desenho Urbano Contemporâneo no Brasil dores do bairro contra a sua construção, os empreendedores buscaram um diálogo prévio com a comuni- dade e o projeto inseriu-se mais adequadamente no entorno urbano por meio de um cuidadoso projeto paisagístico e uma maior interface entre o interior e o exterior, com bares e restaurantes voltados para a rua (Figura 4.4). Sua construção em vários níveis tirou proveito da topografia do sítio e oferece saída para duas ruas, tanto para pedestres como para veículos. Figura 4 .4 Shopping Pátio Higienópolis. Os edifícios históricos do entorno e as pressões da população residente geraram um projeto que se abre relativamente para o espaço exterior. com restaurantes e áreas com jardins. (Foto de Vicente dei Rio.) Essa característica de introspecção e fechamento dos shopping centers na cidade de São Paulo tal- vez possa ser parcialmente explicada pela pouca qualidade dos espaços públicos e pela falta de um ambiente natural convidativo. No Rio de Janeiro, em Salvador. e mesmo no interior do estado de São Paulo, para citar alguns exem- plos, os shopping centers abertos/descobertos têm surgido com mais frequência. O Shopping Downtown no Rio tenta reproduzir o espaço de uma cidade em que lojas, cinemas e serviços dispõem de variadas fachadas diferenciadas e são organizados em blocos separados por ruas de pedestres (Figura 4.5). O Aeroclube Plaza em Salvador, embora tenha passado por dificulda- des que o levaram a um plano de revitalização, é um agradável mal/ aberto/descoqêrto ~er'ltr(\do em entretenimento e buscando integraçãõ visual com a praia (Figura 4.6). O Shopping Parq.,ue'Dom Pedro em Campin.as, .importante.cidade próxima a São Paulo, um dos.maiores empreendimentos no Brasil em 2004, oferece vários ambientes par- cialmente descobertos. ) . ( .. .. ..... .. " - Figura 4:5 O Shopping Downtown, no Rio de Janeiro~ simula a ambiência de uma cidade com ~ma variedade de fachadas. passeios de pedestres ajardinados e fontes, e a maior parte de sua área de estacionamento situa-se no subsolo. (Foto de Vicente dei Rio.) \ ) Capítulo 4 l Shopping Centers e o Desenho Urbano no Brasil: Dois Estudos de Caso em São Paulo 97 Figura 4.6 O shopping a céu aberto Aeroclube Plaza Show, em Salvador, localiza-se junto à praia; seu projeto integra espaços internos e externos e tira proveito das belas vistas para o mar. (Foto de Heliana Vargas.) Evidentemente, todos são tentativas de garan- tir a atratividade dos empreendimentos através de projeto arquitetônico diferenciado, embora, isoladamente, sem ter por trás uma estrutura administrativa e de negócios bem implantada, nenhum projeto arquitetônico poderá responder pelo êxito desses empreendimentos. Funções dos Shopping Centers Inicialmente os shopping centers dedicavam-se quase que exclusivamente ao comércio varejista e a serviços ao consumidor. Logo de início, foi estabelecido o conceito de lojas-âncoras ou mag- nets (ímã, em inglês) (lojas de departamentos e supermercados) para atrair e direcionar os fluxos de clientes e aumentar o lucro de todas as lojas. Posteriormente, surgiu a necessidade de defini- ção e controle rígido da composição dos tipos de lojas (tenant-mix) baseada na ciência do varejo e do marketing desenvolvida nos Estados Unidos. Com o aumento da concorrência entre esses empreendimentos e uma maior profissionali- zação do setor, a necessidade de estudos mais aprofundados de localização, de definição das áreas de influência e uma identificação mais pre- cisa do poder de compra e hábitos de consumo da população passaram a ser consideradas em seu planejamento. Mudanças constantes também pas- saram a ser essenciais para a sobrevivência do negócio, de modo a manter o interesse constante da clientela. Essa situação tem levado à criação de inúmeras atividades que passam a funcionar como verda- deiras âncoras. tentando, muitas vezes, reproduzir de maneira controlada a própria dinâmica da cidade e a alta vitalidade de áreas de comércio urbano: o lazer, a praça de alimentação, academias de ginástica, atividades combinadas com conjuntos de escritórios, hotéis ou apartamentos, todos rodeados de verde, na forma de praças internas que os interligam aos espaços de compras, bem como o desenvolvimento de atividades comunitárias, são estratégias utilizadas para manter um diferencial de competitividade e aumentar a atratividade dos diversos centros (Vargas, 1992). Em outros shopping centers brasileiros, a estratégia é oferecer alta qualidade de produtos e serviços, através de um número limitado de lojas exclusivas, da especialização ou de motivos temáticos. Essas novas atrações também se revelam como formas de aumentar a venda por impulso, em que as pessoas compram sem perceber que estão consumindo e sem a sensação de que estão sendo induzidas ao consumo. NÕvarciente,, é preciso lembrar que as inovações são imitadas e superadas rapidamente', dificultando a m~~uténção Cla vitalidade e da rertt~bilidaélé dos diversÓs centros:""DÍante da prolifera- .··. - - . . . ) ' - ..:r ção e da competiçãp entre esses empreendin;ientos,.tais inovações são necessárias à amplia"ção do ciclo de vida do "produto'' shopping center~ É soo.essa pe1s.péctivà que a arquitetura se torn; um aspecto de fundamental importância. Os shopping cénters brasileiros têm introduzido essas ínÓvações e vêm se transformando em grandes "praças públicas" e pontos de encontro da população. Ultimamente, a disputa por consumidores, conforme aponta Garrefa (2011 ), imprime aos shopping centers a condição J mho Jte o arad ica, e nisrr !ade! da~ oÓS S 1l e 1 emp :los uisc riên pad . . ipai aliz exp >nst lCO 3S e aio1 iss eg1 ide tÍS 1 im vei nôr ter SS• 1hc IS 1 :a 3C ie! 10 98 Desenho Urbano Contemporâneo no Brasil semelhante a um produto de consumo que sai de moda e que pode ser substituído rapidamente por outro, fato esse já observado no país de origem dos shopping centers, os EUA, onde são chamados deadmalls ou greyfields, muitos tendo sido substituídos por outros tipos de desenvolvimento, como o Mizner Park em Boca Raton, Flórida, e o Santana Row em San José, Califórnia. Shopping Centers como Polos de Atração e de Indução do Crescimento Urbano No Brasil. particularmente em São Paulo, os shopping centers se inseriram no tecido urbano existente atraindo consumidores e gerando um novo padrão de ocupação. Por ocasião da implantação do Shopping lguatemi, não havia restrições urbanísticas claras para esse tipo de empreendimento, e se limitavam a recomendações de ordem construtiva do Código de Obras. Somente a partir de 1972, quando entra em vigor a legislação de uso e ocupação do solo,4 a implantação de shopping centers começa a ser objeto de análise. A partir daí, passam a ser aceitos somente em determinadas zonas, classificados como de uso comercial do tipo diversificado com mais de 250 m2 de área construída. A implantação desses megapro- jetos e os impactos ambientais urbanos por eles gerados culminaram com a criação, em São Paulo, do instrumento urbanístico RIV (Relatório de Impacto de Vizinhança), inserido no Código de Obras de 1992 (Moreira, 1997) e reforçado pelo Estatuto das Cidades (Lei Federal n° 10.257/2001 ), artigos 36, 37, 38. Esses empreendimentos têm produzido impactos no espaço urbano, reforçando alguns vetores de expansão urbana ou criando outros, adensando e alterando o uso do solo do seu entorno, congestio- nando o trânsito e interferindo na dinâmica e no desenho da paisagem urbana. Os dois estudos de caso apresentados a seguir detalham as particularidades desse processo, e suas características básicas são comparadas na Tabela
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