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Imposto sobre produtos industrializados

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IMPOSTO SOBRE PRODUTOS INDUSTRIALIZADOS
- Art. 153, IV, CF.
O IPI incide nas operações em que houve processo de industrialização, não incidindo, por exemplo, nas operações simplesmente comerciais em que não haja atividade de industrialização (o comerciante que vende um produto industrializado não estará sujeito ao pagamento de IPI).
A Constituição Federal traz critérios específicos a serem necessariamente observados na instituição e exigência do IPI, assim, passemos a análise detalhada do artigo 153, §3o, em seus incisos:
1) SELETIVIDADE
§ 3o O imposto previsto no inciso IV:
I - será seletivo, em função da essencialidade do produto;
A seletividade, técnica de tributação que atende ao princípio da capacidade contributiva, consiste em tributar de forma diferenciada, conforme a essencialidade do produto tributado. Não se confunde com a progressividade. Tributa de forma branda produtos de uso essencial (ex: alimentos) e tributa de forma mais rigorosa os produtos considerados supérfluos (ex: cigarro, perfumes, bebidas).
O critério de que seja supérfluo ou essencial está ligado a uma vida digna e não aos interesses pessoais de alguém.
2) NÃO CUMULATIVIDADE
O inciso II do artigo anteriormente citado, trata da não-cumulatividade:
II - será não-cumulativo, compensando-se o que for devido em cada operação com o montante cobrado nas anteriores;
Outro princípio a ser obrigatoriamente obedecido pelo IPI é o da não cumulatividade, permitindo-se a compensação do que for devido em cada operação com o montante cobrado nas anteriores.
Direito de compensar em operações futuras o tributo pago anteriormente – sistema de créditos e débitos.
Palavra-chave: compensação. 
 AFaz-se a apuração de débitos e créditos recolhida apenas a diferença.
 Crédito Débito 
 compensação
Exemplos: Alíquota de 10% (não é alíquota praticada, mas para ficar fácil o entendimento).
Cadeia cumulativa (cada etapa analisada de forma isolada); crescimento exponencial.
 R$ 10,00 R$ 20,00 R$ 50,00 - TOTAL: R$ 80,00
A B C D
 R$ 100,00 R$ 200,00 R$ 500,00
Cadeia não-cumulativa (IPI: indiretos – lei autoriza a transferência do encargo econômico financeiro para o contribuinte subsequente – a transferência é do encargo tributário, e não somente daquilo que realmente recolheu).
 
 R$ 10,00 R$ 10,00 R$ 30,00 - TOTAL: R$ 50,00
A R$ 100,00 B R$ 200,00 C R$ 500,00 D
 R$ 10,00 R$ 20,00 R$ 20,00 R$ 50,00
 A vai embutir os R$ 10,00 B vai embutir os R$ 20,00 C vai embutir os R$ 50,00
 p/ B por R$ 110,00 p/ C por R$ 220,00 p/ D por R$ 550,00
A não cumulatividade serve, então, para desonerar a produção, facilitar o consumo.
3) ENTRADAS DESONERADAS E SAÍDAS ONERADAS
Nas operações cujas entradas são desoneradas pelo IPI (isenção, não-incidência, alíquota zero), o sujeito passivo não vai escriturar qualquer crédito.
Vamos imaginar a fabricação de uma cadeira escolar cujos componentes, de forma simplificada, sejam os seguintes:
· Estrutura tubular;
· Espumados para assento e encosto;
· Tecido para revestimento;
· Apoio em madeira;
· Material de fixação.
O fabricante da cadeira resolve comprar os insumos no mercado e assim, com base nas notas fiscais recebidas, temos a seguinte escrituração:
Em síntese, os insumos custaram o valor de R$ 105,00 e, em todas as operações anteriores de produção desses insumos já foram cobrados R$ 14,00 a título de IPI.
Em virtude da norma de não cumulatividade, o fabricante, ao apurar o IPI relativo a essa cadeira devera descontar esse valor já recolhido de IPI. 
Pronta a cadeira, será ela vendida seja a seguinte escrituração:
Considerando esta única operação temos a seguinte apuração do valor devido de IPI:
Imagine, agora, que todos os insumos da cadeira sejam desonerados pelo IPI, mas a cadeira pronta seja tributada a alíquota de 10%.
Em operações como esta, o STF[footnoteRef:1] entende não ser possível qualquer creditamento, ou seja, o IPI há de incidir sobre o valor total da operação de saída sem qualquer redução. [1: RE 566.819] 
4) ENTRADAS ONERADAS E SAÍDAS DESONERADAS
Imagine que a cadeira escolar em questão tivesse sua saída desonerada pelo IPI, por exemplo, tributada a alíquota zero. Teríamos a seguinte escrituração:
Considerando esta única operação temos a seguinte apuração do valor devido de IPI:
Nas operações com entradas oneradas e saídas não oneradas pelo IPI, “O direito a manutenção e ao aproveitamento de créditos de IPI relativos a aquisições tributadas de insumos utilizados na industrialização e produtos desonerados do imposto depende de expressa previsão em lei...”.[footnoteRef:2] [2: ] 
Por sua vez, o art. 11 da lei 9.779/99 assim dispôs:
Art. 11. O saldo credor do Imposto sobre Produtos Industrializados - IPI, acumulado em cada trimestre-calendário, decorrente de aquisição de matéria-prima, produto intermediário e material de embalagem, aplicados na industrialização, inclusive de produto isento ou tributado a alíquota zero, que o contribuinte não puder compensar com o IPI devido na saída de outros produtos, poderá ser utilizado de conformidade com o disposto nos arts. 73 e 74 da Lei no 9.430, de 1996, observadas normas expedidas pela Secretaria da Receita Federal - SRF, do Ministério da Fazenda.
Em situações como essa, o crédito tomado em operações de saída não onerada (R$ 14,00) será levado a compensação em outras operações com saída tributada. Por exemplo:
Vejamos, na sequência, o inciso III:
III - não incidira sobre produtos industrializados destinados ao exterior.
Trata o inciso III de uma forma de imunidade, de maneira a não promover a “exportação” de impostos.
Imagine agora que a cadeira tenha sido exportada, ou seja, a imunidade do IPI quando da exportação.
5) BENS DE CAPITAL
E o inciso IV, ainda do mesmo artigo:
IV - terá reduzido seu impacto sobre a aquisição de bens de capital pelo contribuinte do imposto, na forma da lei.
Bens de capital: bens que servem para a produção de outros, especialmente bens de consumo, como máquinas, equipamentos, materiais de construção, instalações industriais etc.; bens de produção.
O objetivo do benefício é incentivar a aquisição de bens de capital (primordialmente as máquinas) por parte do setor industrial, principal contribuinte do imposto.
6) FATO GERADOR
Quanto aos fatos geradores do IPI, o CTN assim dispõe:
Art. 46. O imposto, de competência da União, sobre produtos industrializados tem como fato gerador:
I - o seu desembaraço aduaneiro, quando de procedência estrangeira;
II - a sua saída dos estabelecimentos a que se refere o parágrafo único do art. 51;
III - a sua arrematação, quando apreendido ou abandonado e levado a leilão.
Parágrafo único. Para os efeitos deste imposto, considera-se industrializado o produto que tenha sido submetido a qualquer operação que lhe modifique a natureza ou a finalidade, ou o aperfeiçoe para o consumo.
a. Importação (o início do desembaraço aduaneiro)
b. Saída do estabelecimento industrial ou equiparado de produto industrializado
c. Aquisição em leilão de produto abandonado ou apreendido.
Ao menos de forma aparente, o parágrafo único acima parece definir com clareza e de forma definitiva o que seja produto industrializado (produto que tenha sido submetido a qualquer operação que lhe modifique a natureza ou a finalidade, ou o aperfeiçoe para consumo).
No entanto, a legislação tributária sobre o tema, acresce algumas atividades e, ao final, por industrialização pode-se entender: a transformação, o beneficiamento, a montagem,o acondicionamento ou reacondicionamento e a renovação ou recondicionamento.
- Transformação: processo que modifica, dá nova forma e finalidade, fazendo surgir um novo produto com forma, fins e conceitos diversos.
- Beneficiamento: processo de modificação, aperfeiçoamento, embelezamento ou alteração de funcionamento de um produto já existente.
- Montagem: reunião de produtos e peças já existentes em nova sistematização, resultando em produto novo, quanto à ampliação, funcionamento ou finalidade.
- Acondicionamento ou reacondicionamento: processo de alteração da embalagem visual do produto, modificando a apresentação do produto para o consumidor. (embalar só para transporte não é industrialização).
- Renovação ou recondicionamento: é a renovação exercida em um produto usado ou inutilizado, restaurando-lhe a utilização, como se novo voltasse a ser.
7) CONTRIBUINTES
O contribuinte do IPI fica assim definido:
Art. 51. Contribuinte do imposto e:
I - o importador ou quem a lei a ele equiparar;
II - o industrial ou quem a lei a ele equiparar;
III - o comerciante de produtos sujeitos ao imposto, que os forneça aos contribuintes definidos no inciso anterior;
IV - o arrematante de produtos apreendidos ou abandonados, levados a leilão.
Paragrafo único. Para os efeitos deste imposto, considera-se contribuinte autônomo qualquer estabelecimento de importador, industrial, comerciante ou arrematante.
O IPI tem fato gerador instantâneo já que o fato gerador se considera ocorrido nas hipóteses do artigo 46 do CTN embora a legislação aplicável traga algumas ficções sobre o momento da ocorrência.
O sujeito ativo é a União e o sujeito passivo os constantes do artigo 51 do CTN.
8) BASE DE CÁLCULO
A base de cálculo está prevista no artigo 47 do CTN:
Art. 47. A base de cálculo do imposto é:
I - no caso do inciso I do artigo anterior, o preço normal, como definido no inciso II do art. 20, acrescido do montante:
a) do Imposto sobre a Importação;
b) das taxas exigidas para entrada do produto no País;
c) dos encargos cambiais efetivamente pagos pelo importador ou dele exigíveis;
II - no caso do inciso II do artigo anterior:
a) o valor da operação de que decorrer a saída da mercadoria;
b) na falta do valor a que se refere a alínea anterior, o preço corrente da mercadoria, ou sua similar, no mercado atacadista da praça do remetente;
III - no caso do inciso III do artigo anterior, o preço da arrematação.
- O lançamento do IPI se dá por homologação nos termos do artigo 20 da Lei 4.502/64.
9) IPI NA BASE DE CÁLCULO DO ICMS
O texto constitucional indica a exclusão do IPI da base de cálculo do ICMS.
§ 2º O imposto previsto no inciso II atenderá ao seguinte:
XI - não compreenderá, em sua base de cálculo, o montante do imposto sobre produtos industrializados, quando a operação, realizada entre contribuintes e relativa a produto destinado à industrialização ou à comercialização, configure fato gerador dos dois impostos;
O IPI não integrará a base de cálculo do ICMS, quando a operação (requisitos cumulativos):
a. For realizada entre contribuintes
b. For relativa a produto destinado à industrialização ou à comercialização
c. Configurar fato gerador dos dois impostos
De forma inversa, estará permitida a inclusão do IPI na base de cálculo do ICMS, nas seguintes operações:
a. Produto não destinado à industrialização ou à comercialização
b. Entre contribuinte e não contribuinte do ICMS
1º Ex: Empresa A vende produto para Empresa B (operação entre contribuintes). 
Considere:
Produto: R$ 1.000,00
ICMS: 20%
IPI: 10%
Produto: R$ 1.000,00
IPI: R$ 100,00
Total da Nota Fiscal: R$ 1.100,00
ICMS: R$ 200,00
Observa-se que o ICMS foi calculado sobre o valor do produto, e não sobre o valor da nota fiscal com o valor do IPI.
2º Ex: Empresa X vende produto para Maria (consumidora final) (operação entre contribuinte e não contribuinte)
Considere:
Produto: R$ 1.000,00
ICMS: 20%
IPI: 10%
Produto: R$ 1.000,00
IPI: R$ 100,00
Total da Nota Fiscal: R$ 1.100,00
ICMS: R$ 220,00
Observa-se que o ICMS foi calculado considerando o IPI em sua base de cálculo, uma vez que a operação foi entre contribuinte e não contribuinte.

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