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O Behaviorismo como Filosofia da Ciência Gil Marcos- Terapias Cognitivas - Psicologia As ideias dos behavioristas radicais sobre ciência são diferentes das ideias dos primeiros behavioristas. O behaviorismo radical se conforma à tradição filosófica conhecida como pragmatismo, enquanto os primeiros behavioristas se sustentavam no realismo. Como visão de mundo, é tão difundido na civilização ocidental que muitos o aceitam sem questionamentos. Representa a ideia de que há um mundo real fora do sujeito que dá origem a nossas experiências. O mundo real parece estar de algum modo lá fora, enquanto a nossa experiência parece estar de algum modo aqui dentro. Nossas experiências são experiências do mundo real (existem à parte do mundo propriamente dito). O universo é um mecanismo compreensível. Para o realismo, um mecanismo compreensível é um mecanismo real, “fora” do sujeito, que podemos conhecer à medida que o estudamos. Sua existência “fora” do sujeito torna-o objetivo (permanece exatamente como é, independentemente de nossas concepções). Se há um universo objetivo que podemos conhecer, quando o estudamos cientificamente, descobrimos coisas sobre ele. Se descobrimos algo a respeito de como funciona o universo, podemos dizer que descobrimos a verdade a seu respeito. Pouco a pouco, descoberta por descoberta, alcançamos toda a verdade sobre o modo como o universo funciona. Para o realista, a aproximação da verdade é lenta e incerta, uma vez que não podemos estudar, de maneira direta, o mundo objetivo (temos contato direto apenas com o que nossos sentidos produzem). Bertrand Russell (1872-1970): o cientista estuda os dados sensoriais para tentar conhecer o mundo real. Os dados sensoriais são subjetivos, estão “dentro” do sujeito, mas constituem o meio de entender o mundo real, “fora” do sujeito. REALISMO O universo objetivo Descoberta e verdade Dados sensoriais e subjetividade Gil Marcos- Terapias Cognitivas - Psicologia No realismo, a explicação consiste na descoberta de como as coisas realmente são. As explicações diferem de meras descrições, que apenas detalham como nossos dados sensoriais se organizam. Quando se descobre a verdade escondida no modo de funcionamentos das coisas, os eventos que percebemos estão explicados. Explicação Contrasta com o realismo. A força da investigação científica reside não tanto na descoberta da verdade sobre a maneira como o universo objetivo funciona, mas no que ela nos permite fazer. A ciência permite dar significado a nossa experiência (torna nossa experiência compreensível). É inútil o debate sobre a existência, fora do sujeito, de um mundo real, imutável e objetivo (a concepção sobre um objeto consiste em seus efeitos práticos, nada mais). Equipara verdade com poder explicativo. Na prática, todas as teorias científicas são aproximações (nenhuma teoria é uma transcrição absoluta da realidade). Raramente, uma teoria explica todos os fatos da experiência. Uma teoria dá conta de um conjunto de fenômenos, enquanto outra lida melhor com outro conjunto (qualquer teoria pode ser útil de algum ponto de vista). As teorias científicas são uma linguagem construída pelos cientistas, uma taquigrafia conceitual que integra relatos da natureza. PRAGMATISMO “[...] qualquer idéia que nos permita navegar, por assim dizer; qualquer idéia que nos transporte com vantagem de qualquer parte de nossa experiência a qualquer outra, ligando as coisas satisfatoriamente, operando com segurança, simplificando, economizando trabalho; é verdadeira só por isso, é verdadeira nessa medida, é instrumentalmente verdadeira” (JAMES, 1974 , p. 49 apud BAUM, 2019, p. 37, grifos do autor). O pragmatismo influenciou o behaviorismo radical de modo indireto. A ciência representa o esforço de conferir sentido à experiência. A ciência se originou da necessidade que as pessoas têm de se comunicar eficientemente e economicamente umas com as outras. Ciência e Experiência Gil Marcos- Terapias Cognitivas - Psicologia A comunicação eficiente e econômica é essencial para a cultura humana, uma vez que permite uma compreensão do mundo que pode ser passada de uma geração à outra. O princípio de economia requer a invenção de conceitos que organizem a experiência em tipos ou categorias, possibilitando o uso de um termo em vez de muitas palavras. A ciência inventa conceitos que possibilitam a comunicação sobre o que se relaciona com o que no mundo e o que esperar se determinado evento acontecer (possibilita a previsão com base na experiência passada). Quando os cientistas criam termos, cada palavra contém uma história completa de expectativas e previsões. Os conceitos científicos permitem falar economicamente de expectativas e previsões, sem necessidade de longas explicações. Economia Conceitual Para o pragmatismo, devemos usar termos que relacionem um fenômeno a outro (observações, experiências). Quando conseguimos estabelecer relações, as experiências aparecem ordenadas e compreensíveis, em vez de caóticas e misteriosas. O trabalho da ciência tem início quando alguns eventos parecem enigmáticos (fora do comum). A ciência busca aspectos comuns nos fenômenos naturais (elementos constantes, apesar de toda variação aparente). A explicação científica consiste apenas na descrição de eventos em termos familiares (não tem nada a ver com a revelação de uma realidade escondida além de nossa experiência). Conflito entre subjetividade e objetividade. [página 42] A “descoberta” científica é a mesma coisa que a invenção de conceitos, portanto, a distinção entre descoberta e invenção desaparece no pragmatismo. Explicação e Descrição Referência • BAUM, William M. Compreender o behaviorismo: comportamento, cultura e evolução. Porto Alegre: Artmed, 2019.
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