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AS PRINCIPAIS MUDANÇAS DA LEI 11 638-07

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AS PRINCIPAIS MUDANÇAS DA LEI 11.638/07 E AS NORMAS 
INTERNACIONAIS DE CONTABILIDADE – UM ESTUDO DE CASO 
EM UMA SOCIEDADE ANÔNIMA 
 
RESUMO 
Em 28 de dezembro de 2007 foi promulgada a Lei 11.638 que altera e revoga os dispositivos 
da Lei 6.404/76 (Lei das Sociedades por Ações). Esta alteração da legislação societária, 
proposta pelo Projeto de Lei 3.741/00, veio com o objetivo de harmonizar as normas 
contábeis com as Normas Internacionais de Contabilidade, emitidas pelo International 
Accounting Standards Board – IASB. Fazem parte desta harmonização todas as normas 
contábeis emitidas pela Comissão de Valores Mobiliários – CVM, que tem o objetivo de 
emitir normas para as companhias abertas de acordo com os padrões internacionais. Em 
virtude da quantidade de mudanças, da complexidade das mesmas e das diversas dúvidas das 
maiorias das organizações quanto à aplicação das alterações da legislação societária, foi 
realizado um estudo de caso em uma Sociedade Anônima, onde, ao analisar suas 
demonstrações financeiras do exercício findo em 2007, buscou-se identificar as principais 
mudanças que irão ocorrer com a vigência das alterações da Lei das Sociedades por Ações. E, 
por meio desta análise foram evidenciadas diversas críticas a tal legislação. 
 
Palavras Chave: Normas Internacionais, Lei 11.638/07, Harmonização Contábil. 
 
1 INTRODUÇÃO 
As empresas brasileiras esperavam uma mudança na legislação societária há muito 
tempo, se for levando em consideração somente o tempo do Projeto de Lei n° 3.741/00, se 
passaram sete anos até a publicação da Lei 11.638 em 28 de dezembro de 2007. No entanto a 
maioria delas não vinha se preparando para tais mudanças, basta observar as demonstrações 
financeiras das mais importantes Sociedades Anônimas brasileiras para verificar que a grande 
maioria delas precisa fazer mudanças significativas em suas demonstrações. 
Sabe-se que muitas alterações só poderão ser realizadas a partir da vigência da Lei, 
porém muitas outras mudanças já poderiam fazer parte das demonstrações financeiras de 
muitas empresas, como também, o estudo por parte delas, das Normas Internacionais de 
Contabilidade. 
Após muitas especulações a CVM se pronunciou no dia 2 de maio de 2008 com a 
Instrução CVM nº 469 e dispôs sobre a aplicação da Lei 11.638/07. Com este 
pronunciamento, que sanou a dúvida de muitos, ficou mais claro a aplicação de tal legislação. 
A nova legislação trouxe mudanças marcantes. Uma delas é o § 5º do Art. 177, que 
determina que as normas expedidas pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) deverão 
ser elaboradas de acordo com os padrões internacionais de contabilidade. 
Essa determinação trazida pela Lei 11.638/07 já havia sido antecipada pela CVM em 
sua Instrução nº 457 de 13 de julho de 2007, onde a mesma regulamenta que a partir do 
exercício findo em 2010 as companhias abertas deverão apresentar suas demonstrações 
 
 
financeiras consolidadas adotando o padrão internacional do Internacional Accounting 
Standards Board (IASB). 
As determinações da nova lei societária afetam uma grande quantidade de empresas, 
se compararmos com as que eram obrigadas a seguir os preceitos da Lei 6.404/76. Isto 
decorre do fato que as sociedades de grande porte (especificadas pela Lei), mesmo as que não 
constituídas sob a forma de sociedades por ações, terão de seguir as determinações da Lei das 
S.A. Entre todas as exigências da Lei, as sociedades de grande porte terão que ter, 
obrigatoriamente, auditoria independente em suas demonstrações financeiras. 
Como sociedade de grande porte a Lei, considera “a sociedade ou conjunto de 
sociedades sobre controle comum que tiver, no exercício social anterior, ativo total superior a 
240.000.000,00 (duzentos e quarenta milhões e reais) ou receita bruta anual superior a R$ 
3000.000,00 (trezentos milhões de reais).” 
Dentre todo este emaranhado de empresas esta pesquisa delimita-se a uma Sociedade 
Anônima, holding de um grande grupo brasileiro, sendo um dos maiores conglomerados 
empresariais privados da América Latina. Segundo o Relatório Anual de 2007 do Grupo em 
questão, a holding “gerencia um portifório de negócios diversificado, sólido e equilibrado, 
que reúne mais de 50 companhias, entre controladas integrais e participações.” O Grupo 
concentra-se em três grandes áreas de negócios, a industrial, a de finanças e a de novos 
negócios. 
 Em virtude, de o Grupo pesquisado ser um Grupo de crescimento continuo, com 
investimentos em vários ramos de atividade e de seu nome ser conhecido por uma grande 
maioria de indivíduos, o presente estudo objetiva verificar as mudanças relevantes nas 
Demonstrações Financeiras findas em 2007 de entidade encontradas no Relatório Anual 2007, 
extraído do site da empresa, com relação às alterações da Lei Societária. 
 
2 METODOLOGIA 
O presente estudo caracteriza-se por uma pesquisa descritiva, que segundo Silva 
(2006, p. 59) descreve as características de determinada população ou fenômeno e assim, 
estabelece relações entre as variáveis. Quanto ao delineamento, é uma pesquisa bibliográfica e 
um estudo de caso, pois, se baseia na legislação vigente, em materiais publicados em livros, 
periódicos e na internet, se concentrado em um estudo de caso específico. 
Para Gil (1999, p. 73 apud BEUREN, 2006, p. 84) “o estudo de caso é caracterizado 
pelo estudo profundo e exaustivo de um ou de poucos objetos, de maneira a permitir 
conhecimentos amplos e detalhados do mesmo [...]”. 
Em relação às tipologias de pesquisa quanto à abordagem do problema, a pesquisa é 
qualitativa. Para Beuren (2006, p.92) “na pesquisa qualitativa concebem-se análises mais 
profundas em relação ao fenômeno que está sendo estudado”. 
 
3 LEI 11.638/07 
Para Braga e Almeida (2008), os padrões de contabilidade vigentes até então no País, 
sofreram várias modificações com a Lei 11.638/07, sendo seu objetivo a convergência aos 
pronunciamentos internacionais de contabilidade. 
 
 
Tais pronunciamentos internacionais de contabilidade são emitidos pelos IASB 
(International Accounting Standards Board), através do IFRS (International Financial 
Reporting Standards) e do IAS (International Accounting Standards). 
Estes órgãos internacionais funcionam da seguinte maneira: os primeiros 
pronunciamentos referentes às Normas Internacionais de Contabilidade são conhecidos como 
IAS, sendo compostos por 33 pronunciamentos numerados de IAS 1 a IAS 41; os IFRS são os 
pronunciamentos mais recentes, sendo 5 no total, e numerados de IFRS 1 a IFRS 5. Além 
destes existem também os IFRIC que são interpretações mais recentes. 
Os benefícios de toda essa normatização das normas brasileiras com as normas 
internacionais já são conhecidos por todos e diante deste contexto Braga e Almeida (2008) 
ressaltam que a Lei 11.638/07, ao possibilitar essa convergência internacional, irá permitir, no 
futuro, o custo reduzido e uma taxa de riscos menores para o acesso das empresas brasileiras a 
capitais externos. 
Neste contexto, inserem-se as melhores práticas de governança corporativa, 
contribuindo para uma maior transparência, aumentando sua exposição ao mercado de um 
modo geral, afirmam Braga e Almeida (2008) 
De acordo com Silva (2006) os benefícios da Governança Corporativa vão muito além 
da prestação de informações que facilitam o acompanhamento e a fiscalização dos atos da 
administração, pois mostram aos acionistas, sejam eles controladores ou investidores, que 
fornecem informações de qualidade, o que diminui a incerteza do processo de avaliação de 
risco. 
A própria Bolsa de Valores de São Paulo (BOVESPA), em 2000 criou os Níveis 
Diferenciados e o Novo Mercado de governança corporativa, relembra Silva (2006), onde o 
objetivo é fornecer um ambiente que venha a promover o interesse dos investidores e a 
valorização das companhias. 
Todas essas mudanças, quevem ocorrendo, têm um objetivo em comum, abrir as 
portas do mercado brasileiro para investidores estrangeiros, dando a eles mais segurança e 
menores riscos. Estamos entrando numa era de Globalização Contábil. 
 
3.1 PRINCIPAIS MUDANÇAS 
Primeiramente, e seguindo a ordem da legislação estudada, será verificado o Art. 176 
da Lei 6404/76, sendo este, o primeiro artigo alterado pela Lei 11.638/07. O mesmo, após 
alteração exclui a Demonstração de Origens e Aplicações de Recursos (DOAR) como uma 
demonstração financeira obrigatória ao fim de cada exercício e a substitui pela Demonstração 
do Fluxo de Caixa (DFC). Além desta substituição, torna-se obrigatória, somente para as 
companhias abertas, a elaboração da Demonstração do Valor Adicionado (DVA). 
O Art. 188 traz as especificações mínimas que deverão conter a Demonstração do 
Fluxo do Caixa e a Demonstração do Valor Adicionado. 
A DFC é uma demonstração comum no âmbito financeiro e administrativo, auxiliando 
na tomada de decisão. Iudicibus (1995, p. 603) afirma que a DFC demonstra tão-somente as 
variações ocorridas no caixa como também as ocorridas nas contas correntes bancárias. O 
Autor menciona (observe que a o ano de publicação desta edição é de 1995) que: 
“há atualmente uma tendência em alguns países de adotar-se a demonstração 
do Fluxo de Caixa em substituição a Demonstração de Origens a aplicações 
 
 
de recursos. Isto deve-se basicamente a maior facilidade de entendimento 
daquela pelos usuários, onde é visualizado de forma mais clara o fluxo dos 
recursos financeiros durante o período, apesar de a DOAR ser mais rica em 
termos de informações.” 
Com isto, observa-se que há muito tempo se esperava uma alteração da DOAR pela 
DFC, porém a nova legislação não exclui a DOAR e sim deixa de exigir a obrigatoriedade de 
sua publicação. Sendo assim, as empresas que acharem que tal demonstração fornece 
informações mais ricas pode e deve continuar elaborando-a. 
A DVA, porém, é uma demonstração mais recente, que conforme afirmam Braga e 
Almeida (2008) o surgimento dela se deu na Europa, pela influência de países como a 
Inglaterra, França e Alemanha, por parte de uma expressa recomendação da ONU. Marion 
(2008) afirma que “ao adotar a DVA o Brasil se coloca ao lado de países de primeiro mundo.” 
A Demonstração do Valor Adicionado, conforme introduzem os autores supracitados 
“evidencia o quanto de riqueza uma empresa produziu, ou seja, o quanto ela adicionou de 
valor, e de que forma essa riqueza foi distribuída (entre empregados, governo, acionistas, 
financiadores de capital etc.) e quanto ficou retido na empresa.” 
Nas Demonstrações Financeiras do Grupo em questão têm-se todas as exigidas antes 
da mudança da legislação, porém, não foram publicas no Relatório Anual 2007 nem a DFC e 
nem a DVA. No entanto, segundo afirma a CVM em comunicado ao mercado no dia 14 de 
janeiro de 2008, “as alterações introduzidas pela Lei n° 11.638, de 2007, aplicam-se às 
demonstrações financeiras elaboradas a partir do exercício social iniciado em janeiro de 
2008.” 
Quanto ao Art. 177, que segundo Braga e Almeida (2008), teve o objetivo de preservar 
a qualidade da informação contábil para utilização por parte de seus principais usuários. Os 
mesmos relembraram que o então Ministro da Fazenda, Prof. Mário Henrique Simonsen, no 
tópico 7°, do objeto de esclarecimento do Decreto-Lei n° 1.578/77, expôs que “a Lei de 
Sociedade por Ações seguiu a orientação de manter nítida separação entre escrituração 
comercial e a fiscal, [...].” 
O inciso II do referido Art. determina que toda a alteração relativa à legislação 
tributária ou alguma outra especial pode ser adotada pela companhia, desde que, quando 
houver divergências, efetuem ajustes complementares na escrituração mercantil. 
Entendesse que estes ajustes propostos pelo inciso II, são a manutenção do Livro 
LALUR, por exemplo, onde o mesmo tem o objetivo de escriturar as diferenças entre a 
escrituração comercial e a fiscal. Além de diversos outros detalhes que deverão estar contidos 
em Notas Explicativas. 
As demais alterações no Art. 177 foram os incisos 5, 6 e 7. Os mesmos, 
resumidamente, determinam: 
 Que as normas expedidas pela CVM deverão ser elaboradas em consonância com 
os padrões internacionais de contabilidade; 
 Que as companhias fechadas poderão optar por observar tais normas; e 
 Que quaisquer ajustes efetuados exclusivamente para a harmonização das normas 
contábeis não poderá ser base de incidência de impostos e contribuições e nem ter efeitos 
tributários. 
 
 
Conforme salientam Braga e Almeida (2008) o inciso 7 traz a expressão harmonização 
contábil, tal expressão refere-se ao fato das companhias cumprirem, no decorrer da sua 
escrituração mercantil com as normas contábeis emanadas pela Lei 6.404/76 e também com 
as normas edificadas pela CVM. Completando o pensamento dos autores supracitados, 
entendesse que além dessa harmonização, é necessária também uma harmonização contábil 
com as Normas Internacionais de Contabilidade, conforme prevê a própria legislação 
societária e a CVM. 
Tais mudanças, num âmbito tributário e mercantil, têm efeitos bruscos se não forem 
corretamente observadas. Empresas que queiram de alguma forma, se valer tributariamente 
com a alteração da legislação societária estarão cometendo um ato ilícito, já que está 
claramente explícita na legislação a proibição de quaisquer ajustes tributários em decorrência 
da alteração da legislação. 
 As Notas Explicativas do exercício de 2007 do Grupo trazem detalhes quando aos 
cálculos dos principais impostos. Por exemplo: o imposto de renda e a contribuição social 
diferido vêm explicados em forma de planilha comparativa, além de trazer informações de 
benefícios fiscais de Companhias do Grupo quanto ao cálculo de tais impostos. 
Outra mudança marcante foi a dos grupos de contas do Balanço Patrimonial. O Ativo 
Permanente, ficou dividido em Investimentos, Imobilizado, Intangível e Diferido; o 
Patrimônio Líquido ficou dividido em Capital Social, Reservas de Capital, Ajustes de 
Avaliação Patrimonial, Reservas de Lucros, Ações em Tesouraria e Prejuízos Acumulados. 
Tais alterações encontradas no Art. 178 modificam nitidamente a estrutura do Balanço 
Patrimonial. 
Em virtude das marcantes mudanças ocorrentes na estrutura do Balanço Patrimonial e 
da mudança na escrituração de determinados fatos, fica difícil imaginar que alguma empresa 
possa ter se adiantando em relação a tal determinação. Até porque somente em 02 de Maio de 
2008 a CVM com a Instrução n° 469 e com a Nota Explicativa de tal Instrução se pronunciou 
quanto à contabilização das mudanças na legislação societária. Até o momento surgiram 
muitas duvidas e especulações quanto a tais procedimentos. Sendo assim, as diversas 
empresas, inclusive o Grupo estudado, terão de se organizar, sem muito tempo hábil, para 
fazerem os ajustes necessários quanto a estas alterações. 
As mesmas terão que, determinar, mensurar e registrar seus ativos intangíveis; fazer os 
ajustes de avaliação patrimonial em seu patrimônio Líquido; e distribuir seus lucros 
acumulados, já que agora às empresas não poderão mais ter a conta de lucros acumulados e 
somente a conta de prejuízos acumulados. 
A entidade estuda possuía no dia 31 de dezembro de 2007, em seu Balanço 
Patrimonial consolidado o valor de 10.839.314 milhares de reais, valor este que deverá ser 
transferido para alguma reserva de lucro, ou incorporado ao seu capital social, ou até mesmo 
distribuído como dividendos, ficando a critério da entidade a destinação de tal recurso. Este 
problema, se assim poderíamos chamá-lo, não se aplicará apenas a esta entidade, mas sim a 
todas as demais que possuem valores exorbitantes em suas contas de lucros acumulados, cabe 
a elas, agora, a decisão de o que fazer com eles. 
Quanto aos Ativos Intangíveis,ainda falta muita regulamentação no que diz respeito à 
natureza destes diretos, as condições para definição dos mesmos, a explicação quando um 
ativo é identificado, os conceitos sobre benefícios futuros, o goodwill gerado internamente, 
entre outras questões ainda duvidosas afirmam Braga e Almeida (2008). Como não se tem, até 
o momento, normas claras quanto à contabilização dos mesmos, deve-se seguir a 
 
 
regulamentação das normas internacionais, neste caso, do IAS 38, que aborda as práticas 
contábeis para ativos intangíveis. 
Em relação aos ajustes de avaliação patrimonial a Lei trouxe várias mudanças, 
diversas reservas foram eliminadas, Braga e Almeida (2008, p. 52) comentam essas 
eliminações da seguinte forma: 
“a) Reserva de capital de prêmio recebido na emissão de debêntures. 
Entendemos que esse ágio na emissão do título passará a ser apropriado 
como um ganho de resultado do exercício, pro-rata temporis, pelo prazo da 
debênture, mediante utilização de taxa efetiva de juros para computar a 
despesa financeira. [...] 
b) Reservas de capital de doações e reservas de capital de subvenções 
governamentais para investimentos. Pela nova sistemática essas transações 
passarão a ser computadas como receita diretamente no resultado do 
exercício. [...] 
c) Reservas de reavaliação. Foi eliminado o procedimento de reavaliação 
espontânea dos bens do ativo imobilizado. [...] 
 Não faz parte do patrimônio do Grupo a Reserva de capital de prêmio recebido na 
emissão de debêntures, a Reserva de capital de doações e a Reserva de capital de subvenções 
governamentais para investimentos. Sendo assim, tais alterações não afetam o Grupo em 
questão até o momento. 
A Reserva de reavaliação em controladas do Grupo representa 17.047 milhares de 
reais. O Art. 4° da Instrução CVM 469, de 2 de Maio de 2008, regulamenta os procedimentos 
quanto a Reserva de reavaliação. Nele, é autorizado que os saldos das reservas de reavaliação 
constituídos até a vigência da Lei 11.638/07, poderão ser mantidos até a sua efetiva realização 
ou até serem estornados. Quanto ao estorno, às companhias abertas poderão fazê-lo até o final 
do primeiro exercício social iniciado a partir de 1° de janeiro de 2008. É importante ressaltar 
que a opção pelas alternativas previstas no Art. 4° deverá se dar até a apresentação da 2° ITR 
do exercício findo em 2008. 
Acrescentando, o Art. 4° em seu Inciso 5° regulamenta que “as companhias abertas 
deverão utilizar a mesma alternativa para as reavaliações próprias e reflexas e determinar a 
suas controladas a adoção da mesma alternativa. [...]” 
Com isso o Grupo, poderá optar por uma das duas formas previstas pela CVM e 
informá-la até a apresentação da Segunda Informação Trimestral do exercício iniciado em 
2008. Sendo que tal determinação deverá abranger todas as suas controladas. 
Porém a reavaliação do ativo imobilizado não poderá mais ser feito como antes. No 
entanto, existem muitas dúvidas quanto a isto, e como, na falta de regulamentação poderão ser 
utilizadas as Normas Internacionais de Contabilidade, a instrução a ser utilizada neste caso é o 
IAS 16. 
O Inciso 3° do Art. 182 da Lei 11.638/07 estabelece que: 
“Serão classificados como ajustes de avaliação patrimonial, enquanto não 
computadas no resultado do exercício em obediência ao regime de 
competência, as contrapartidas de aumentos ou diminuições de valor 
 
 
atribuído a elementos do ativo [...] e do passivo, em decorrência da sua 
avaliação a preço de mercado.” 
 Braga e Almeida (2008) classificam que a na conta de Ajustes de Avaliação 
Patrimonial estarão às contrapartidas dos ajustes a preço de mercado de ativos e passivos 
decorrentes das transações de reestruturações societárias, de avaliação de investimentos 
financeiros e das normas emitidas pela CVM de acordo com os padrões internacionais de 
Contabilidade. 
O Grupo estudado possui vários investimentos financeiros, isso em virtude de um dos 
principais segmentos de negócios do grupo ser do ramo financeiro. Com esta alteração o 
Grupo deve adotar os seguintes procedimentos expressos pela Instrução CVM n° 469, em seu 
Art. 8°, até que seja emitida norma específica sobre essa matéria: 
I. A quantificação do ajuste a valor presente deverá ser realizada em base 
exponencial, a partir da origem de cada transação; 
II. As reversões dos ajustes a valor presente dos ativos e dos passivos devem ser 
apropriadas como receitas ou despesas financeiras; 
III. Deverão ser detalhadas, em notas explicativas, as premissas e fundamentos que 
justificam as taxas de descontos adotadas pela administração; 
IV. Os auditores independentes deverão avaliar quanto à razoabilidade e pertinência 
as premissas e fundamentos que justificarem as estimativas contábeis relativas ao 
cálculo dos ajustes a valor presente, inclusive as taxas de descontos; 
V. Devem ser consideradas para o cálculo do ajuste a valor presente as disposições 
contidas nas Deliberações CVM n° 527, de 1° de novembro de 2007 e n° 489, de 
3 de outubro de 2005, nas operações objeto dessas deliberações. 
Em relação a Reserva de Lucros a Realizar, como explica Braga e Almeida (2008), o 
que deve ser destinado para a tal Reserva é o montante do dividendo obrigatório, calculado 
com base no estatuto da empresa ou de acordo com a lei societária, que ultrapassar a parcela 
realizada do lucro líquido do exercício. O que mudou, basicamente, foi à inclusão dos ajustes 
de ativos e passivos a valor de mercado na base de cálculos da reserva de lucros a realizar. 
A CVM, nas Notas Explicativas da Instrução n° 469, expôs a seguinte situação, quanto 
a Avaliação de Investimentos em Coligadas: 
“A Lei 11.638, de 2007, alterou o alcance da aplicação do método da 
equivalência patrimonial dos investimentos em coligadas classificadas no 
ativo permanente. Ao eliminar o conceito de relevância e ao estabelecer a 
figura da “influência significativa”, criou-se a possibilidade de alguns 
investimentos em coligadas e equiparadas passarem a ser avaliados pelo 
método da equivalência patrimonial, enquanto outros investimentos poderão 
deixar de ser avaliados por tal método.” 
 Apenas com as informações extraídas do Relatório Anual da companhia estudada, 
não tem como definir o que muda em relação à avaliação de investimentos em coligadas e 
controladas. 
Quanto a Demonstração do Resultado do exercício (DRE), a Lei Societária eliminou 
do item IV do Art. 187 “o saldo da conta de correção monetária”, não fazendo mais, este, 
parte da descriminação de tal demonstração. Deu uma nova redação ao item VI, dispondo que, 
deve conter na DRE “as participações de debêntures, de empregados e administradores, 
 
 
mesmo na forma de instrumentos financeiros, e de instituições ou fundos de assistência ou 
previdência de empregados, que não se caracterizem como despesa”. E, por último, revogou o 
§ 2°, que tratava do aumento de valor de elementos do ativo em virtude de novas avaliações, 
registrado como reserva de reavaliação. 
Outro fato importante é que a Reserva de Lucros também “ganhou” limites, não 
podendo mais seu valor ultrapassar o valor do Capital Social, afirma o Art. 199. Esta 
determinação não afeta, no momento, o grupo estudado, pois a Reserva de Lucros 
corresponde, a 8,22% do valor do Capital Social de tal entidade. 
Nos casos, em que o valor da Reserva de lucros ultrapassar o valor do Capital Social, a 
assembléia geral deliberará se aplicará o excesso no Capital Social ou no valor na distribuição 
de dividendos. 
Na transformação, incorporação, fusão e cisão a Lei trouxe algumas modificações, 
assim como, nas Reservas de incentivos ficais. Porém, o estudo de tais fatos merece uma 
pesquisa mais detalhada e específica, de entidades, que estejam passando por estes processos 
ou que possuem reservas de incentivos fiscais. Como não se tem informação quanto àtransformação, incorporação, fusão e cisão de empresas coligadas e controladas pelo Grupo, e 
que o mesmo não possui a Reserva de incentivo fiscal, tais modificações não foram estudadas. 
Como, segunda a própria legislação societária determina, deve haver uma 
harmonização contábil com as Normas Internacionais de Contabilidade, sendo assim, segue 
um quadro resumo dos principais fatos e das Normas Internacionais que o regulamentam: 
 
PRINCIPAIS FATOS NORMA INTERNACIONAL CORRESPONDENTE 
Demonstração do Fluxo do Caixa IAS 07 
Demonstração do Valor Adicionado Não é exigida 
Ativos Intangíveis IAS 38 
Arrendamento Mercantil IAS 17 
Reavaliação de Bens do Ativo Imobilizado IAS 16 
Ajustes a valor de marcado de aplicações financeiras disponíveis 
para venda 
IAS 32 e IAS 39 
Ajustes a valor de mercado de instrumentos financeiros derivados de 
proteção de fluxos de caixa 
IAS 32 e IAS 39 
Ajustes a valor de mercado de instrumentos financeiros derivados de 
proteção cambial de investimentos no exterior 
IAS 39 
Concentração de atividades empresarias IFRS 03 
Avaliações de investimentos em Coligadas e Controladas IAS 28 
Reservas de Incentivos Fiscais IAS 20 
 
3.2 PRINCIPAIS CRÍTICAS 
Braga e Almeida (2008) afirmam que as alterações conceituais propostas no texto do 
projeto inicial da referida lei não foram consideradas. Uma delas é a expressão demonstrações 
 
 
financeiras, que foi mantida, ao invés de demonstrações contábeis, que é a nomenclatura 
correta. 
Segundo Marion (2008) a DOAR é uma demonstração mais completa, em virtude da 
quantidade de informações que oferece aos usuários, porém, conceitos, como, a variação do 
ativo circulante líquido, não são assimilados pela maioria de seus usuários, com isso preferiu-
se a adoção da DFC que, conforme afirma é mais simples e intuitiva. 
Ao se referirem ao Balanço Patrimonial, Braga e Almeida (2008) foram incisivos e 
críticos, ressaltaram que a Lei manteve a classificação inadequada do patrimônio líquido 
dentro do grupo de contas do passivo, contrariando, assim, o princípio da entidade. Outra 
crítica relevante é que a Lei não segrega, no balanço patrimonial ou em nota explicativa, os 
itens decorrentes das atividades usuais da companhia. 
O Intangível, tão comentado em diversas bibliografias anteriores, passa, enfim, a fazer 
parte do patrimônio das empresas brasileiras. Agora, as mesmas poderão mensurar o valor de 
suas marcas, de seu capital intelectual entre outros ativos intangíveis e provavelmente 
imensuráveis. Quanto a mensuração dos ativos intangíveis, é aguardado por parte da CVM 
uma regulamentação mais específica. 
Braga e Almeida (2008), ressaltaram que os recursos destinados ao resgate das partes 
beneficiárias, sendo este uma reserva de capital, continuaram fazendo parte do patrimônio 
líquido, o que estaria errado, já que as partes beneficiárias resgatáveis são instrumentos 
financeiros de dívida e não de capital. 
O Intangível, tão comentado em diversas bibliografias anteriores, passa, enfim, a fazer 
parte do patrimônio das empresas brasileiras. Agora, as mesmas poderão mensurar o valor de 
suas marcas, de seu capital intelectual entre outros ativos intangíveis e provavelmente 
imensuráveis. 
Ultimamente, não se fala em outro assunto do que o tal Balanço Social, no entanto a 
Lei 11.638/07, não trás a necessidade de evidenciação de informações de natureza social, de 
que segmento de negócio que a sociedade atua, de produtividade, informações estas que 
poderia ser conhecidas por meio de notas explicativas ou quadros analíticos. Conforme 
ressaltam Braga e Almeida (2008), “essa exigência criaria a possibilidade de normatização do 
chamado Balanço Social.” 
A IAS 14 trata do relato de segmentos, no entanto, ainda não há esta exigência na Lei 
6.404/76, o que não a harmoniza com as Normas Internacionais de Contabilidade. 
A Lei poderia, ter substituído a Demonstração de Lucros e Prejuízos Acumulados 
(DLPA) pela Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido (DMPL), já que a primeira 
é claramente evidenciada dentro da DMPL. 
Com tantas alterações, esperadas e não esperadas, é evidente que a maioria das 
empresas brasileiras estão buscando a harmonização de suas demonstrações financeiras. No 
entanto, fica difícil conseguir encontrar um denominador comum, muitas dúvidas ainda 
pairam pelo ar, e precisam ser esclarecidas e normatizadas o quanto antes. 
 
 
REFERÊNCIAS 
 
 
BRAGA, Hugo Rocha; ALMEIDA, Marcelo Cavalcanti Almeida. Mudanças contábeis na 
lei societária: Lei n° 11.638, de 29-12-2007. São Paulo: Atlas, 2008. 
BEUREN, Ilse Maria (org). Como elaborar trabalhos monográficos em contabilidade: 
Teoria e prática. 3ª Ed. São Paulo: Atlas, 2003. 
BRASIL. Lei 6.404, de 15 de dezembro de 1976. Dispõe sobre as Sociedades por Ações. 
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br>. Acesso em: 15 jul 2008. 
BRASIL. Lei 11.638, de 28 de dezembro de 2007. Altera e revoga dispositivos da Lei 
6404/76, e da Lei 6.385 de 7 de dezembro de 1976, e estabelece às sociedades de grande porte 
disposições relativas à elaboração e divulgação de Demonstrações Financeiras. Disponível 
em: <http://www.planalto.gov.br>. Acesso em: 15 jul 2008. 
_____. Lei 11.638, de 28 de dezembro de 2007. Altera e revoga dispositivos da Lei 6.404 de 
15 de dezembro de 1976, e da Lei 6.385, de 7 de dezembro de 1976. E estende às sociedades 
de grande porte disposições relativas à elaboração e divulgação de demonstrações financeiras. 
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br>. Acesso em: 15 jul 2008. 
COMISSÃO DE VALRES MOBILIÁRIOS. Instrução CVM n° 457, de 13 de julho de 2007. 
Dispõe sobre a elaboração e divulgação das demonstrações financeiras consolidadas, com 
base no padrão contábil internacional emitido pelo Internacional Accounting Standards Board 
– IASB. Disponível em: <http://www.cvm.gov.br>. Acesso em: 15 jul 2008. 
_____. Deliberação CVM n° 539, de 14 de março de 2008. Aprova o Pronunciamento 
Conceitual Básico do CPC que dispõe sobre a Estrutura Conceitual para a Elaboração e 
Apresentação das Demonstrações Contábeis. Disponível em: <http://www.cvm.gov.br>. 
Acesso em: 15 jul 2008. 
_____. Instrução CVM n° 469, de 02 de maio de 2008. Dispõe sobre a aplicação da Lei 
n°11.638, de 28 de dezembro de 2007. Altera as Instruções CVM n° 247, de 27 de março de 
1996 e 331, de 4 de abril de 2000. Disponível em: <http://www.cvm.gov.br>. Acesso em: 15 
jul 2008. 
_____. Nota Explicativa à Instrução CVM n° 469, de 02 de maio de 2008. Ref. Instrução 
CVM n° 469, de 2 de maio de 2008, que dispõe sobre a aplicação da Lei n° 11.638, de 28 de 
dezembro de 2007 e altera as Instruções CVM n° 247, de 27 de março de 1996 e 331, de 4 de 
abril de 2000. Disponível em: <http://www.cvm.gov.br>. Acesso em: 15 jul 2008. 
IUDÍCIBUS, Sergio de; MARTINS, Eliseu; GELBCKE, Ernesto Rubens. Manual de 
Contabilidade das Sociedades por Ações. 4ª Ed. São Paulo: Atlas, 1995. 
MARION, José Carlos; REIS, Arnaldo; IUDICÍBUS, Sérgio. Considerações sobre as 
mudanças nas Demonstrações Financeiras – Lei 11.638/07. Disponível em: 
<http://marion.pro.br>. Acesso em: 22 abr 2008. 
SILVA, Antônio Carlos Ribeiro da Silva. Metodologia da pesquisa aplicada à 
contabilidade. 2ª Ed. São Paulo: Atlas, 2006. 
SILVA, Edson Cordeiro. Governança Corporativa nas Empresas. São Paulo: Atlas, 2006.

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